Melhoramento genético de melancia para resistência a vírus: Avanços e Limitações Jairo Vidal Vieira; Antonio Carlos de Ávila Embrapa Hortaliças, CP 0218, CEP 70359-970, Brasília, DF, Brasil. e-mail: [email protected] RESUMO A Embrapa Hortaliças dispõe de uma coleção de genótipos de melancia com aproximadamente 181 acessos. Estudos de diversidade genética utilizando-se dados de caracterização morfológica de 48 acessos indicam grande diversidade com a formação de 14 grupos. Quanto a avaliação da coleção de melancia para tolerância a vírus, inicialmente estabeleceu-se um procedimento metodológico específico para as condições do Distrito Federal adaptado a partir de outros existentes na literatura. Verificou-se que a ocorrência de temperaturas altas é essencial para eficiência da metodologia desenvolvida facilitando a expressão de sintomas dos principais tipos de vírus de melancia de ocorrência generalizada no Brasil e a identificação dos genótipos tolerantes. Até o momento a Embrapa Hortaliças identificou apenas um genótipo com tolerância ao vírus PRSVw, o qual está sendo utilizado como progenitor não recorrente em um programa de retrocruzamentos. A liberação de uma nova cultivar de melancia com tolerância a vírus no âmbito da Embrapa, ainda depende de avanços metodológicos e recursos humanos, físicos e financeiros para garantir a realização dos trabalhos. ABSTRACT. Watermelon breeding for viruses resistance: advances and limitations Embrapa Vegetables has a watermelon genotype collection comprising approximately 181 accesses. Genetic diversity studies using morphological data characteristics of 48 accesses indicated a great diversity, split into 14 groups. In order to evaluate the watermelon accesses for virus resistance, a methodological procedure based on the available literature data was established under The Federal District local conditions. Testing the plants under high temperatures (25 to 380C) is essential for virus replication and symptoms expression avoiding the selection of susceptible accesses as resistant to viruses. The genetic background for virus resistance is very narrow. Only one access (???) had a high resistance to Papaya ringspot virus – watermelon strain (PRSV-w) and none to Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV). For Watermelon mosaic virus (WMV), very mild symptoms were induced by the virus, which made the selection for virus resistance less accurate. Immunity was not detected for the tested viruses. The access selected as resistant to PRSV is being used as a non-recurrent parent in a backcross programme. Therefore, the release of a new watermelon variety resistant to PRSV-w by Embrapa still depends methodology improvement, human, physical and financial resources. INTRODUÇÃO A Embrapa Hortaliças dispõe de uma coleção de genótipos de melancia com aproximadamente 181 acessos. Estes foram obtidos a partir de introduções de alguns países, mediante solicitação e/ou doação de instituições/produtores no Brasil, bem como decorrentes de coleta em várias regiões do Brasil. O início das atividades de melhoramento com esta olerícola na Unidade deu-se com Vieira et al. (2001) com a caracterização de 48 acessos da coleção utilizando-se de dados de passaporte, dados de alguns caracteres morfológicos de planta e dados de caracteres relativos à resistência aos principais vírus da cultura. Adicionalmente, toda a coleção foi avaliada para as seguintes espécies de vírus: Vírus do mosaico da melancia 1 classificado pelo Comitê Internacional de taxonomia de vírus como (Papaya ringospot virus type w – PRSV-w), vírus do mosaico da melancia 2 (Watermelon mosaic virus 2 – WMV-2) e mosaico amarelo da abobrinha de moita (Zucchini yellow mosaic virus – ZYMV). Para tal, os acessos foram multiplicados via autofecundação, com o intuito de assegurar que o processo de avaliação para resistência aos vírus fosse realizado com sementes de mesma idade fisiológica. Na primeira fase do processo de avaliação (época 1 – abril/julho) foram utilizadas 45 sementes por acesso para cada espécie de vírus, a saber: PRSV-w, ZYMV e WMV2. Os acessos foram plantados em casa de vegetação distribuídos ao acaso, sem controle de temperatura ambiente, utilizando-se de vasos plásticos com capacidade de 1,5 kg com solo esterilizado e o semeio com três sementes/vaso. Os acessos de melancia foram desafiados contra as espécies supracitadas, quando as plântulas de melancia apresentavam-se com as folhas cotiledonares completamente desenvolvidas, e uma folha verdadeira. Os inóculos para cada espécie de vírus foram multiplicados em plantas de abobrinha “caserta”. Para a preparação do inóculo, utilizou-se extrato de folhas infectadas em tampão fosfato 0,01 M, pH 7,0. Nas folhas cotiledonares de cada acesso de melancia foi pulverizado Carborundum (600 mesh) e o inóculo esfregado manualmente sobre as folhas. Para cada espécie de vírus foram realizadas duas inoculações mecânicas, sendo a segunda realizada três dias após a primeira. A avaliação visual dos sintomas de cada uma das espécies de vírus foi realizada cerca de 15 dias após a última inoculação. As plantas de cada acesso, que apresentavam sintomas evidentes de suscetibilidade foram automaticamente descartadas. As assintomáticas foram submetidas ao teste ELISA para verificar a presença ou ausência de vírus e as selecionadas transplantadas e multiplicadas via autofecundação em casa-de-vegetação. Na segunda fase do processo de avaliação (época 2 - setembro/dezembro) foram utilizados apenas os acessos de melancia nos quais não se detectou a ocorrência de sintomas na época 1 empregando-se os mesmos procedimentos. Ao final do processo de identificação de genótipos resistentes a cada um dos vírus utilizados neste estudo, verificou-se que os acessos sem sintomas selecionados na época 1 (abril-julho) como resistentes, quando avaliados na época 2 (setembro-dezembro) em sua quase totalidade apresentaram sintomas evidentes de susceptibilidade aos vírus testados. Esse fato sugere que a avaliação de genótipos de melancia para resistência a vírus, visando à identificação de fontes de resistência ou de indivíduos resistentes em programas de melhoramento, deve ser executada em épocas e/ou condições de temperaturas mais elevadas (25 a 38OC), condição esta que favorece a expressão dos sintomas nos acessos avaliados. Nas condições do Distrito Federal, o processo de avaliação de genótipos resistentes tem sido executado apenas na época 2. Vale comentar que o único genótipo identificado como resistente ao PRSV-w, é de origem brasileira, com polpa branca e firme. Verificou-se ainda durante a fase de definição metodológica, que isolados de PRSVw oriundos de diferentes regiões do país a saber: São Paulo, Goiás e Pernambuco apresentavam virulências distintas quando inoculados em um mesmo genótipo de melancia. Nas condições do Distrito Federal os isolados originários do Sub-Médio São Francisco em geral foram mais virulentos comparativamente aos que fazem parte da coleção da Embrapa Hortaliças. Em face disto, foram utilizados como isolados padrão no processo de avaliação dos acessos de melancia para resistência ao PRSV. Neste contexto, pode parecer que o desenvolvimento de cultivares de melancia com resistência a viroses é um processo simples. Entretanto, a inexistência de cultivares de melancia no mercado com resistência às principais viroses da cultura sugere a ocorrência de um processo mais complexo. Apesar da definição metodológica estabelecida até o momento e dos vários trabalhos na literatura sobre o assunto citando a existência de fontes de resistência a virus em melancia, a Embrapa Hortaliças identificou na sua coleção de trabalho apenas um acesso com resistência a PRSVw. Este fato, que pode ser parcialmente atribuído ao número de acessos avaliados ou à metodologia utilizada sugere uma padronização das metodologias de avaliação. Além disso, é importante também o desenvolvimento de ferramentas auxiliares (marcadores moleculares) para seleção assistida como forma de garantir o sucesso e eficiência no processo de seleção de genótipos de melancia resistentes a vírus para as condições brasileiras. Um fato que corrobora com essa afirmação é que genótipos descritos na literatura nacional como resistentes a um ou vários vírus de cucurbitáceas, nas condições de avaliação do Distrito Federal foram todos susceptíveis. A partir de 2004, iniciou-se na Embrapa Hortaliças um processo de retrocruzamentos utilizando-se como progenitor recorrente a cultivar de melancia “Crimson Sweet” e como progenitor não recorrente o acesso CNPH 00385 resistente ao PRSV. Vale comentar que os ciclos de seleção são realizados apenas nos períodos mais quentes do ano em condições de casa de vegetação. Até o momento já foram realizados quatro ciclos de retrocruzamentos para o progenitor recorrente e o fenótipo de algumas linhas com nível de resistência satisfatório já se assemelham à variedade de melancia “Crimson Sweet”. Contudo, a liberação de novas cultivares de melancia resistentes a vírus no âmbito da Embrapa, além de avanços metodológicos ainda depende de uma série de fatores que implicam na alocação de recursos humanos, físicos e financeiros que possam garantir a disponibilização de linhagens e ou variedades para o mercado brasileiro. 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