Gestão da Qualidade para Administradores Prof Douglas C. Ferreira 7 METODOLOGIAS PARA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS 7.1 MASP: MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS O MASP é uma ferramenta da qualidade que agrega diversas outras ferramentas de análise de problemas, análise de causa e análise de soluções. O objetivo de utilizar o MASP é poder encadear ferramentas da qualidade de forma estruturada, buscando a melhoria real e a manutenção dos níveis de qualidade da empresa. Sem ter uma visão do processo de análise e solução de problemas, ao adotar uma ferramenta completa como o MASP, os passos a serem seguidos se tornam mais claros e, de certa forma, obrigatórios. Os cursos de MASP fazem com que uma pessoa leiga em qualidade, mesmo não entendendo da necessidade de analisar o problema antes das causas, irá realizar essa tarefa porque está na estrutura dessa ferramenta mais completa. Utilização do MASP ANÁLISE DAS SOLUÇÕES ANÁLISE DAS CAUSAS DEFINIÇÃO DO PROBLEMA A metodologia do MASP não é nada diferente do que já foi visto até o momento, ou seja, analisar ao problema, as causas e as soluções. No final da ferramenta, é sugerido que seja realizado um teste de hipóteses para testar a efetiva solução do problema. METODOLOGIA O QUE FAZER ESCOLHA DO PROBLEMA. DAR NOME AO PROBLEMA DEFINIÇÃO E ABRANGÊNCIA DO PROBLEMA. ESTUDAR OS DADOS HISTÓRICOS ATRAVÉS DE GRÁFICOS DE PARETO DESCOBERTA DAS CAUSAS DO PROBLEMA ATRAVÉS DE COLETA DE DADOS DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO COM AS CAUSAS MAIS PROVÁVEIS ESCOLHA DAS CAUSAS MAIS PROVÁVEIS (HIPÓTESES). BRAIN STORMMING TESTE DAS SOLUÇÕES (VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES) DESCARTAR AS HIPÓTESES IMPROVÁVEIS - 52 - Gestão da Qualidade para Administradores Prof Douglas C. Ferreira Para entender a forma de encaminhamento de análise e soluções de problemas utilizadas pelo MASP, observe o estudo de caso apresentado abaixo: ESTUDO DE CASO A Firma PROFUND LTDA é uma fundição de latão de médio porte cujos dois produtos principais são conexões de grande tamanho tipo "cotovelo", fundidos em liga especial de latão e derivações tipo "tê" fundidas em liga padrão. Há três meses a empresa aumentou sua linha de produção com a instalação de uma segunda linha de produção que passamos a denominar de linha II e foi necessário aumentar o número de turmas de revezamento de duas para três letras A, B e C. Com isso foi preciso remanejar pessoal experiente da produção (moldadores, vazadores, rebarbadores) das turmas A e B para a turma C e contratar técnicos para cargos de inspetores e chefes de turma. O processo produtivo consiste, simplificadamente, em duas linhas de produção independentes (Linha I e Linha II) composto de moldagem, vazamento, rebarbação e inspeção. Orientado pelo chefe de turma, o operador do forno (forneiro) pesa e adiciona as matérias-primas (sucata de latão e ligas). Após a fusão o vazador enche os moldes que vieram do setor de moldagem, transferindo-os para a área de resfriamento e desmoldagem. Em seguida as peças desmoldadas vão para a rebarbação e esmerilhamento. Após o esmerilhamento as peças sofrem inspeção 100%, onde são separadas as peças boas das defeituosas.Tradicionalmente registram-se três grandes famílias de defeitos: a - Trincas (fissuras, rachaduras); b - Porosidades (bolhas, vazios, poros); c - Dimensional (esmerilhamento excessivo, falta de material). As peças com os defeitos dessas três famílias, ou são refugadas (sucateadas) ou retornam à produção para serem retrabalhadas. De qualquer forma causam um aumento indesejável de custos. O PROBLEMA A produção vem atendendo o programa de produção e as vendas normalmente. Porém o setor financeiro reclamou um aumento de custos de refugos e retrabalhos a partir da entrada da nova linha em operação. Sendo assim, o Diretor Presidente, ao constatar irritado que nos últimos meses houve um aumento nos refugos e retrabalhos, ligou para o Gerente da Qualidade reclamando providências, pois o problema, segundo informações da área comercial, estava no aumento do número de peças defeituosas. O Gerente da Qualidade decidiu colher informações a partir do contato direto com diversos funcionários envolvidos com a produção. Solicitou também, levantamento de dados gerais dos últimos meses de produção e dados detalhados dos seis últimos dias recentes. Se você fosse o Gerente da Qualidade, qual o caminho que tomaria para compreender claramente a situação e tomar a melhor atitude diante da reclamação do Diretor Presidente? ENTREVISTA COM AS ÁREAS O Gerente da Qualidade organizou uma reunião com todos os elementos da Fábrica relacionados diretamente com o processo produtivo. Estavam presentes os seguintes elementos: SUPERVISOR DE MANUTENÇÃO; COORDENADOR TÉCNICO DE APOIO À PRODUÇÃO; SUPERVISOR DA PRODUÇÃO; - 53 - Gestão da Qualidade para Administradores Prof Douglas C. Ferreira SUPERVISOR DO LABORATÓRIO; TÉCNICO DE OPERAÇÃO; SUPERVISOR DA INSPEÇÃO; INSPETOR DA QUALIDADE; CHEFE DA TURMA A Nesta reunião, o Gerente da Qualidade colocou a seguinte questão: _ Recebi informações que houve aumento da quantidade de peças defeituosas nas linhas de produção, porém não se sabem os detalhes e as causas. Vocês têm alguma idéia do que poderia estar causando um aumento de defeitos? A seguir cada um dos presentes à reunião teceu comentários a respeito do questionamento colocado pelo Gerente da Qualidade. RESPOSTA DO SUPERVISOR DA MANUTENÇÃO: _ Todos sabemos que a linha de produção antiga tem produtividade mais baixa, o que dá muito mais manutenção. Na minha visão é evidente que os defeitos provém dessa linha e que a solução é o sucateamento da linha antiga e compra de uma nova. Tenho certeza que a linha está gerando o aumento de defeitos! RESPOSTA DO COORDENADOR TÉCNICO DE APOIO À PRODUÇÃO: _ Não queremos acusar ninguém mas sabe-se que a operação está enfrentando sérios problemas com o pessoal. Essa alteração das turmas com o remanejamento de pessoal gerou insatisfação geral e era de se esperar um aumento no nível de defeitos. Na verdade estou prevendo problemas com o sindicato brevemente. Como sugestão o senhor poderia fazer uma reunião com o pessoal das turmas e também com o sindicato para acalmar os ânimos. RESPOSTA DO SUPERVISOR DA PRODUÇÃO: _ É claro que o problema está na nova linha de produção, pois a manutenção ainda não domina o equipamento. Se houve aumento de peças defeituosas só pode ser por culpa dos problemas de manutenção da linha nova. Na minha visão o aumento do número de defeitos aconteceu depois da entrada em operação da linha nova. A manutenção precisa é de um puxão de orelha! RESPOSTA DO SUPERVISOR DO LABORATÓRIO: _ Já cansamos de alertar a área de compras que a matéria-prima que passou a ser adquirida (Sucata de latão) a partir do mês passado está vindo com resíduos de óleo e graxa. Talvez seja esta a causa do aumento de defeitos (porosidade). Como sempre o pessoal de compras procura preço e esquece o resto. Como o senhor tem contato com o pessoal "lá de cima", poderia dar uma força! RESPOSTA DO TÉCNICO DE OPERAÇÃO: _ Esse negócio de trabalhar no horário noturno é que está nos prejudicando. O senhor sabia que a iluminação em toda área de trabalho está péssima? Pois é, os operários reclamam que à noite o trabalho é mais difícil. Acho que isto está causando muito erro no esmerilhamento das peças e devem estar estragando muitas peças boas. As peças desviadas por problemas dimensionais só podem ter aumentado. Já falei com o inspetor de manutenção elétrica umas tantas vezes, mas até agora nada!... Mas a propósito, o senhor podia pegar esta ordem de serviço e passar para o chefe da manutenção, assim, pelo menos, já resolvia o problema de uma vez por todas!... RESPOSTA DO SUPERVISOR DA INSPEÇÃO: O problema, como sempre deve estar na liga especial para fabricação das peças tipo cotovelo. O senhor deve saber que esta liga é problemática no aspecto da porosidade e que - 54 - Gestão da Qualidade para Administradores Prof Douglas C. Ferreira qualquer variação na quantidade dos elementos de liga adicionados provoca aparecimento de bolhas e poros. Tenho quase certeza que os chefes de turma que controlam a preparação da liga estão "chutando o peso dos materiais carregados no forno". RESPOSTA DO INSPETOR DE QUALIDADE: O problema deve estar localizado na área de moldagem pois como todos sabem, é lá que está todo o segredo da coisa e os moldes são os principais causadores das trincas. Se lembrarmos que houve remanejamento de Pessoal, apesar de todas as turmas estarem com chefes experientes (exceto a turma B onde foi contratado chefe novo), foi a moldagem da turma A que recebeu os piores moldadores. Não adianta mais falar com a operação!... Era bom o senhor chamar a turma toda para dar um "aperto"!... RESPOSTA DO CHEFE DA TURMA A: Eu acho que o problema é na realidade o procedimento dos inspetores de qualidade que agora deram para descobrir "chifres em cabeça de cavalo" e estão perseguindo a turma A. Se estiver havendo aumento de defeitos deve ser porque estão exigentes demais!... Se o senhor mandar reinspecionar todas as peças produzidas verá que todos os tipos de defeitos vão diminuir em todas as peças!... Bato uma aposta nisso!... DADOS PARA ANÁLISE Baseando-se nas informações dos quadros abaixo, pode-se avaliar melhor o problema, o MASP segue a seguinte orientação: Definição do Problema (Pareto & Histograma) Análise de Causa (Diagrama de Ishikawa) Análise das Soluções (Brain Storming) Dados dos últimos 6 meses: Linha I Meses Cotovelo Produção Março Abril Maio Junho Julho 22.100 22.200 22.100 42.900 43.000 42.800 5.250 5.150 5.200 14.300 14.400 14.200 27.350 27.350 27.300 57.200 57.400 57.000 Trincas 682 680 675 1.410 1.415 1.400 Porosidade 880 885 875 2.065 2.075 2.060 Dimensão 340 335 342 652 660 650 Tê Total Refugos Fevereiro Linha II - 55 - Gestão da Qualidade para Administradores Prof Douglas C. Ferreira Dados dos últimos 6 dias: segunda-feira Horário Local Linha I Diurno Turma A Linha II Peça 7 11 4 22 Tê 150 6 6 3 15 Cotovelo 500 11 15 4 30 Tê 100 4 4 2 10 1100 28 36 13 77 500 12 24 6 42 50 2 2 1 5 300 6 14 4 24 250 1100 2200 9 29 57 10 50 86 5 16 29 24 95 172 Cotovelo Tê Noturno Turma B Linha II Cotovelo Tê TOTAL TOTAL GERAL terça-feira Horário Local Peça Linha I Diurno Turma A Linha II Noturno Turma C 10 4 21 Tê 150 6 5 2 13 Cotovelo 500 10 14 4 28 Tê 100 3 3 1 7 1100 26 32 11 69 500 11 15 5 31 50 2 2 1 5 Cotovelo Cotovelo TOTAL TOTAL GERAL Peça Linha I Diurno Turma B Linha II Linha II 7 8 3 18 8 28 54 9 34 66 2 11 22 19 73 142 Produção Trinca Porosidade Dimensão Total 350 8 16 4 28 Tê 150 7 6 2 15 Cotovelo 500 9 24 5 38 Tê 100 3 4 1 8 1100 27 50 12 89 500 10 15 6 31 50 2 2 1 5 300 6 9 4 19 250 1100 2200 8 26 53 9 35 85 3 14 26 20 75 164 Cotovelo Tê Noturno Turma C 300 250 1100 2200 Cotovelo TOTAL Linha I Total 7 Tê quarta-feira Horário Local Porosidade Dimensão 350 Tê Linha II Produção Trinca Cotovelo TOTAL Linha I Porosidade Dimensão Total 350 TOTAL Linha I Produção Trinca Cotovelo Cotovelo Tê TOTAL TOTAL GERAL - 56 - Gestão da Qualidade para Administradores Prof Douglas C. Ferreira quinta-feira Horário Local Peça Linha I Diurno Turma B Linha II Noturno Turma A 350 6 17 5 28 Tê 150 5 6 2 13 Cotovelo 500 11 23 3 37 Tê 100 4 4 1 9 1100 26 50 11 87 500 11 16 5 32 50 2 2 1 5 300 7 7 2 16 250 1100 2200 7 27 53 9 34 84 2 10 21 18 71 158 Cotovelo Tê Linha II Porosidade Dimensão Total Cotovelo TOTAL Linha I Produção Trinca Cotovelo Tê TOTAL TOTAL GERAL sexta-feira Horário Local Peça Linha I Diurno Turma C Linha II Noturno Turma A Dimensão Total 8 11 4 23 Tê 150 7 5 2 14 Cotovelo 500 10 15 5 30 Tê 100 3 4 2 9 1100 28 35 13 76 500 10 14 6 30 50 2 2 1 5 300 6 9 3 18 250 1100 2200 9 27 55 9 34 69 2 12 25 20 73 149 Cotovelo Tê Linha II Porosidade 350 TOTAL Linha I Produção Trinca Cotovelo Cotovelo Tê TOTAL TOTAL GERAL sábado Horário Local Peça Linha I Diurno Turma C Linha II Cotovelo 350 Noturno Turma B Porosidade Dimensão Total 7 11 5 23 Tê 150 6 5 3 14 500 12 15 6 33 Tê 100 3 3 2 8 1100 28 34 16 78 500 11 25 5 41 50 2 2 0 4 300 6 15 3 24 250 1100 2200 8 27 55 9 51 85 3 11 27 20 89 167 Cotovelo Tê Linha II Trinca Cotovelo TOTAL Linha I Produção Cotovelo Tê TOTAL TOTAL GERAL - 57 -