FATRORES QUE INFLUENCIAM AS DECISÕES ESTRATÉGICAS DE EQUIPES DE DIREÇÃO EM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Autoria: Sergio Ulisses Lage da Fonseca, Teodoro Malta Campos, Edmilson Lima Resumo O presente trabalho apresenta um estudo sobre os fatores que influenciam as decisões estratégicas de equipes de direção em pequenas e médias empresas (PME). A partir da revisão de literatura foram identificados cinco fatores de influência para as decisões estratégica de equipes de direção em PME: (i) estratégia, (ii) gestão estratégica, (iii) experiência pessoal (iv) fatores externos e (v) redes pessoais. Os cinco fatores foram testados segundo a abordagem da pesquisa qualitativa em duas PME. Os dados foram coletados a partir de interações que os pesquisadores tiveram ao longo de três meses com os proprietários-dirigentes de cada uma das empresas. Palavras-chave: Equipe de direção em PME; Decisões Estratégicas; Conversa Estratégica. 1 1. Introdução O processo de formação de estratégia em pequenas e médias empresas (PME) apresenta algumas características que podem ser consideradas idiossincráticas como a flexibilidade, a informalidade e a ausência de aplicação completa de planejamentos estratégicos formais. Nesse contexto emerge o foco de interesse na figura do proprietário-dirigente que é o principal tomador de decisão, o qual pode buscar informações em diversas fontes como em sua própria experiência, redes de relação e aprendizagem formal ou informal para basear suas decisões (LIBERMAN-YOCONI, HOOPER e HUTCHINGS, 2010). Esse cenário torna-se mais complexo quando na direção da PME há mais de um proprietário-dirigente, tendo-se assim o cenário de uma equipe de direção. Estudos sobre o desenvolvimento e formação de estratégias em equipes de direção em PME destacam que elementos como compartilhamento e negociação da visão tem impacto no desenvolvimento da estratégia organizacional (ROBBINS e DUNCAN, 1988). Esse compartilhamento pode ocorrer por meio de diálogos os quais podem ser considerados como conversas estratégicas, constituindo-se na troca de informações que influenciam no desenvolvimento de novas estratégias (LIMA, 2007 e 2009). Nos trabalhos bibliográficos foi localizada uma lacuna em termos do detalhamento dos fatores que influenciam para as tomadas de decisão estratégica em equipes de direção em PME e a intensidade desses fatores. Naturalmente, estes fatores fazem parte do conteúdo de assuntos que são objetos de conversas estratégicas. Buscar subsídios para preencher essa lacuna é importante, pois em razão da estreita proximidade que uma equipe de direção pode ter com os processos organizacionais, essa equipe é passível de ser influenciada por elementos oriundos do ambiente interno da empresa, como fatores originários do ambiente externo (TORRÈS, 2004; ATHANASSIOU e NIGH, 2000). Há também a relevância da experiência individual de cada integrante, pois, de acordo com a literatura que será apresentada a seguir, é comum que seus membros não possuam conhecimentos formais em processos de gestão, o que pode acarretar para uma gestão organizacional desorganizada e caótica. Em termos de estratégia isso acarreta em posturas reativas e a perda da competitividade organizacional. O que reforça a importância de estudar os elementos que influenciam nas decisões estratégicas, para verificar se as fontes utilizadas apresentam um alinhamento real com as necessidades do negócio. A pergunta de pesquisa que norteou os esforços empreendidos para o desenvolvimento do presente artigo foi a seguinte: Quais são os principais elementos que influenciam as decisões estratégicas de equipes de direção de PME? Para responder a esta questão e buscando-se contribuir para a sinalização de alguns elementos identificados como importantes na literatura, que foram testados empiricamente, procurou-se, primeiramente, conhecer os principais fatores que influenciam as decisões estratégicas dentro de equipes de direção em PME e, em seguida, classificá-los em cinco variáveis. Para a análise da influência de cada fator foram definidos três níveis de intensidade: pequeno, médio ou elevado. A pesquisa foi exploratória com base na abordagem qualitativa nos dois casos estudados. O presente artigo é composto por esta primeira seção introdutória, seguida da revisão da literatura, métodos de pesquisa, dados, análise dos dados, discussão dos resultados e considerações finais como se verá a seguir. 2. Revisão da literatura Na presente seção são apresentadas pesquisas selecionadas nos trabalhos bibliográficos consideradas oportunas para prover subsídio teórico ao presente estudo. 2 2.1. Equipes de direção e equipes de direção em PME Equipes de direção podem ser entendidas como a reunião de membros que formam um grupo de trabalho inicialmente heterogêneo, em razão de haver experiências e características individuais diversificadas como idade, tempo de empresa, tempo no mercado e nível de escolaridade. A reunião dos contextos individuais influenciam para formação da equipe, impactando nas decisões e ações empreendidas no dia a dia das rotinas organizacionais, incluindo a formação e implementação de estratégias (WIERSEMA e BANTEL, 1992). O aspecto da experiência pessoal é um ponto importante para o estudo de equipes de direção conforme explicam Athanassiou e Nigh (2000). Os autores estudaram equipes de direção de empresas multinacionais, verificando que a experiência internacional pessoal de cada membro influencia positivamente para o desempenho organizacional da equipe, em razão de ocorrer um processo de compartilhamento de conhecimentos. Dessa forma existe uma tendência de que dentro de uma equipe de direção os conhecimentos e experiências individuais se tornem um patrimônio coletivo da equipe e aumente o nível de homogeneidade. A homogeneidade pode surgir também no âmbito da visão organizacional. Isto porque o compartilhar de conhecimentos também influencia para o desenvolvimento dessa visão. De acordo com Robbins e Duncan (1988) cada integrante da equipe desenvolve uma visão pessoal a partir da interpretação do ambiente interno e externo organizacional, e o somatório das visões influencia para o desenvolvimento da visão estratégica da organização. Nesse processo é comum, conforme destacam Robbins e Duncan (1988), a predominância de uma visão pessoal em situações em que um integrante tem uma conduta impositiva diante dos demais. Por outro lado, os autores também destacam a chamada visão negociada na qual os dirigentes discutem as visões individuais, para, ulteriormente, formar uma visão da equipe a qual será a visão estratégica organizacional. Para os autores a visão negociada é considerada mais oportuna em razão de gerar maior comprometimento de toda equipe quando comparada com a visão pessoal. Ao se estudar equipes de direção em PME é possível encontrar as características apresentadas até o momento, as quais são acrescidas por algumas especificidades que as diferenciam de equipes de empresas de grande porte. A primeira refere-se ao grau de impacto das decisões e ações dentro da organização. Conforme explicam Lubatkin et al. (2006), as PME apresentam estruturas organizacionais menores, quando comparadas com as empresas de grande porte, de tal forma que torna-se corriqueiro os membros da equipe terem um forte contato com o mercado externo de atuação. Uma outra especificidade destacada por Clarysse e Moray (2004) refere-se aos conhecimentos sobre gestão. É comum os membros das equipes de direção possuírem capacidades técnicas relacionadas ao negócio, mas faltar-lhes conhecimento de gestão para conduzir a empresa. Para fazer face a essa lacuna de conhecimento Clarysse e Moray (2004) sugerem a alternativa de contratação de um executivo com experiência, mas isso normalmente não está dentro das condições financeiras das PME. Outra alternativa seria a contratação de um tutor (coach), o que permitiria que a equipe desenvolvesse as novas competências necessárias. O comportamento da equipe, destacado por Lubatkin et al. (2006), é outro aspecto de equipes de direção em PME que merece atenção. Existe uma relação positiva entre desempenho organizacional e uma orientação integrada da equipe de direção. Se os integrantes da equipe decidem em comum acordo voltarem seus esforços para atingir os objetivos organizacionais previamente traçados, havendo assim uma modelagem do comportamento individual para a orientação organizacional, essa modelagem tende a repercutir positivamente no desempenho da organização. 2.2. Estratégia e gestão estratégica em PME 3 As estratégias em PME podem ser elaboradas de maneira formal e deliberada reunindo características que remetem às noções de planejamento estratégico,com a ressalva de que em certos casos o planejamento é elaborado de maneira fragmentada e incompleta, e nem sempre é aplicado integralmente (ROBBINSON e PEARCE, 1984; SCHAPER et al., 2005). Isto porque é comum o desenvolvimento de estratégias flexíveis, de maneira emergente, que ocorrem na medida em que são experimentadas aprendizagens, as quais resultam no aumento da capacidade cognitiva do estrategista (LIMA, 2010). De acordo com Lima (2010), as chamadas correntes da visão e da aprendizagem em estratégia são aplicadas para explicar o fenômeno de formação de estratégias em PME apresentado uma complementaridade entre as duas. É neste ponto que entra a questão da conversa estratégica estudada por Lima (2007 e 2009). Por conversa estratégica, entende-se aqui uma manifestação das relações entre duas ou mais pessoas pela qual uma pode comunicar a outra suas ideias, opiniões, visão e imagens no que diz respeito a questões estratégicas de uma dada organização. Ela pode ser o meio de realização de uma simulação coletiva, mas apenas quando esta se refere a questões estratégicas. Por tornar possível, entre diferentes atores, a transmissão de elementos da subjetividade relativos a questões estratégicas, ela constitui um dos principais processos que levam ao estabelecimento dos itens de orientação estratégica (missão, visão e objetivos) que se tornam compartilhados pelos dirigentes e que eles buscam compartilhar com os demais membros da PME. O construto da conversa estratégica auxilia a dar subsídios para explicar com maior riqueza de detalhes os fenômenos de desenvolvimento de visão e aprendizagem dentro de equipes de direção em PME, isto porque nas rotinas organizacionais de uma PME há diversos fatores que influenciam para a estratégia, sendo passíveis de serem objetos de conversas estratégicas, incluindo a gestão estratégica. McCarthye e Leavy (2000) definem a gestão estratégica em PME como um processo incremental e comumente informal, que emergem diante de processos de aprendizagem ou adaptação organizacional. Nesse processo a figura do proprietário-dirigente é de suma importância, uma vez que se encontram próximos de todas as rotinas organizacionais, influenciando e interagindo diretamente (TORRÈS, 2004). Portanto, da mesma maneira que a equipe de direção influencia para o desenvolvimento das estratégias, esta também é responsável por sua implementação, e, considerando a flexibilidade e informalidade que as PME apresentam, é possível que fatos ocorridos na gestão estratégica impactem diretamente em redirecionamentos estratégicos. Nesse ponto é necessário explicar que, em termos gerais, as PME, quando comparadas com as empresas de grande porte, apresentam escassez de recursos e seus proprietários-dirigentes, em razão de estarem fortemente envolvidos nas tarefas organizacionais, não dispõem do tempo necessário para realizar reflexões sobre o processo estratégico (DEVINS et al., 2005; KELLINHER, 2006). Diante disso, autores como Mazzarol e Reboud (2009) acrescentam que os processos de estratégia e gestão estratégica em PME ocorrem de maneira caótica e informal em razão de seus proprietários-dirigentes não desenvolverem requintes de organização que possibilitem o desenvolvimento de uma gestão organizacional formal e razoavelmente estruturada. Neste ponto cabe resgatar as ideias de Clarysse e Moray (2004) sobre a falta de conhecimentos em gestão. Quando esses conhecimentos se encontram presentes, existe a tendência de que os processos organizacionais se estruturem de maneira funcional. 2.3. Principais elementos que influenciam a tomada de decisões estratégicas Segundo Liberman-Yoconi, Hooper e Hutchings (2010) a base dos elementos de influência na tomada de decisões estratégicas é a informação. A obtenção e interpretação 4 dessas informações compreendem o fator central da tomada de decisões nas PME. Daí a importância de consultar fontes de informações confiáveis que possam trazer subsídios consistentes em processos de decisão. Quanto ao tipo de informação utilizada, cabe discernir sobre o conhecimento explícito e estruturado, do tácito oriundo das experiências. Nas rotinas das PME normalmente o conhecimento tácito é mais utilizado que o conhecimento explícito. Liberman-Yoconi Hooper e Hutchings. (2010) propõem três padrões de tomada de decisão nas PME: (i) decisões intuitivas baseada em conhecimentos tácitos e experienciais; (ii) decisões racionais baseadas na reunião de informações obtidas com a experiência, nas fontes externas informais e nas relações sociais, e (iii) decisões baseadas nas redes pessoais. Diante dessas ideias é possível verificar uma miríade de fontes informacionais. Essa diversidade reforça a importância do uso do discernimento para saber escolher a fonte mais confiável e apropriada para cada situação. Nesse ponto as ideias de Reuber e Fischer (1997) são oportunas para explicar que um proprietário-dirigente de PME com experiência prévia em seu ramo de atividade é susceptível de ter um maior nível de conhecimento e habilidades sobre a forma de gerir o negócio, o que reduz a incerteza associada com a tomada de decisão. Nesse caso a experiência pode ser considerada um banco de informações que apresentam um nível de confiabilidade. Ao trazer essas ideias para o contexto de equipes de direção, Athanassiou e Nigh (2000) sugerem metaforicamente a criação de uma base de dados de informações formada por conhecimentos tácitos. Esses conhecimentos tácitos são oriundos das experiências individuais de cada integrante, conforme explicado na seção 2.1. Isto posto, explicados os principais elementos de influência, seguem os métodos de pesquisa 3. Métodos de pesquisa Na presente pesquisa procurou-se conhecer os fatores que influenciam as decisões estratégicas dentro de equipes de direção em PME, tratando-se de um estudo exploratório voltado para o levantamento de informações sobre o fenômeno estudado (SELLTIZ et al., 2004). Para tanto optou-se pela abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa possibilita elaborar descrições detalhadas dos fenômenos da realidade social possibilitando compreender profundamente o contexto estudado (VIEIRA, 2004). Entre os diferentes métodos utilizados na abordagem qualitativa, neste estudo foi utilizado o método do estudo de caso. Esta escolha alinha-se com o proposto por Yin (2005): o estudo de caso serve ao exame de acontecimentos contemporâneos e com capacidade de tratar uma variedade de evidências. Quanto aos critérios para estabelecer a amostra de pesquisa, foram utilizadas as referências empregadas pelo SEBRAE baseada em quantidade de funcionários e setores de atuação conforme apresentado abaixo: Figura 1: Classificação de porte de empresa por quantidade de funcionários Porte Setor Indústria e construção Comércio e serviços Microempresa Até 19 funcionários Até 9 funcionários Pequena empresa Entre 20 e 99 funcionários Entre 10 e 49 funcionários Média empresa Entre 100 e 499 Entre 50 e 99 funcionários 5 funcionários Grande empresa Mais de 500 funcionários Mais de 100 funcionários Fonte: SEBRAE, 2012 Quanto aos critérios adotados para caracterizar a figura de um empreendedor como gestor da empresa, empregar-se-ão as características adotadas no trabalho de Lima (2001), destacadas a seguir: (i) propriedade e gestão independente de qualquer outra empresa; (ii) administração personalizada, e (iii) atuar com uma pequena fatia do mercado. Os dados foram coletados a partir de interações que os pesquisadores autores do presente trabalho realizaram junto as duas empresas. Ocorreram encontros nos quais foi possível realizar entrevistas semiestruturadas e observação direta do ambiente de trabalho. Essas interações ocorreram ao longo de três meses possibilitando realizar um acompanhamento longitudinal. Para análise dos dados adotou-se a estratégia sugerida por Miles e Huberman (1994) de análise intracaso e intercaso. A primeira refere-se à análise de cada caso dentro de seu contexto individual. A segunda permite a comparação dos dois casos ensejando assim uma maior riqueza em termos de análise. Para apresentação dos dados adotou-se a recomendação da utilização de metamatriz por permitir uma visualização organizada dos dados. Com relação a razão social das empresas e o nome dos proprietários-dirigentes, foram utilizados nomes fictícios pois, seguindo as recomendações de Glesne (1992) relativas à ética na pesquisa, ficou acordado com os proprietários-dirigentes das duas empresas que os nomes seriam mantidos em sigilo. Quanto aos fatores de influência para as decisões estratégicas estes foram classificados em cinco variáveis como se vê abaixo. Figura 2: Principais fatores que influenciam as decisões estratégicas nas PME Fator Estratégia – A estratégia em PME por ser flexível pode influenciar na criação de novas decisões estratégicas. Gestão estratégica – A proximidade do proprietário-dirigente na gestão da empresa pode impactar em novos direcionamentos estratégicos. Experiência pessoal – O conhecimento implícito impacta nas decisões estratégicas. Fatores externos – É considerada uma fonte de informação para decisões estratégicas. Redes pessoais – Também é considerada uma fonte de informação para decisões estratégicas. Autor Devins et al., 2005; Torrès (2004) Athanassiou e Nigh (2000) Liberman-Yoconi, Hooper e Hutchings (2010) Liberman-Yoconi, Hooper e Hutchings (2010) Fonte: Elaborado pelos autores a partir da revisão da literatura. A determinação do nível de influência prendeu-se à verificação da incidência dos preceitos teóricos na prática dos proprietários-dirigentes nas tomadas de decisões estratégicas. Assim, quanto maior as evidências encontradas do impacto do fator nas decisões, maior o nível de influência. 4. Dados Neste tópico são apresentados os resultados da pesquisa obtidos por meio das entrevistas com dois dos três dirigentes da empresa. Ao final de cada apresentação há uma figura na qual consta a análise intracaso. 4.1. Análise intracaso 6 4.1.1. Silva Arames Silva Arames (nome fictício) é uma empresa que atua como distribuidora de arames utilizados na indústria de molas, guarda-chuvas, guarda-sóis, entre outras finalidades. A empresa é situada na cidade de São Paulo e possui 8 funcionários. Foi fundada em 1997. Seu quadro societário é composto por três proprietários-dirigentes, apresentados abaixo: Roberto Silva (nome fictício) é o fundador da empresa. Antes de se tornar proprietário-dirigente trabalhou durante vinte anos no mesmo setor, chegando a ser gerente comercial de uma outra empresa distribuidora de arames. Essa empresa veio a falir e alguns clientes exortavam Roberto Silva a montar sua própria empresa. O início da Silva Arames foi relativamente tranquilo por já haver uma carteira de clientes formada, além disso, as indústrias siderúrgicas fornecedoras já conheciam Roberto Silva, o qual não teve problemas para negociar prazos de pagamento. Atualmente gerencia todas as operações da empresa e dá suporte e orientações para os demais membros da equipe. Bruno Silva (nome fictício) é filho de Roberto Silva, fundou a empresa com o pai, inicialmente tinha um envolvimento grande em todas as rotinas organizacionais como o recebimento, expedição e entrega de arames. Com o passar dos anos, passou a atuar na área comercial, e atualmente possui um forte envolvimento nessa área, não podendo voltar tanto a sua atenção para os demais processos organizacionais. Roberto Silva Filho é outro filho de Roberto Silva, entrou na sociedade em 2008 quando a empresa passava por fortes dificuldades financeiras em razão de mudanças drásticas ocorridas no mercado de arame, que por volta de 2005 passou a ter um aumento de fornecedores com entrada de arame importado da China, o que acarretou na diminuição das margens de lucro, pois houve um aumento da oferta de produtos. Roberto Silva Filho é o único integrante da equipe que possui nível superior (graduação e pós-graduação em administração). Sua entrada na sociedade contribuiu para o aprimoramento dos controles internos financeiros, estoque e relações de cliente. Atualmente a empresa está buscando implementar as seguintes estratégias de diversificação: a) Certificação da empresa na norma ISO 9000, possibilitando atuar com clientes que exigem fornecedores detentores do selo; b) Abertura de uma loja virtual, isto permitirá buscar fatias de mercado nos quais a empresa ainda não atua; c) Reposicionamento da empresa dentro do segmento, com um novo logo, uniforme para os funcionários, assinatura padronizada de e-mail, objetivando transmitir uma imagem de maior profissionalismo. Quanto aos fatores que influenciam para geração das estratégias que compõem a presente análise intracaso, estes se encontram relacionados abaixo: Figura 3: Análise Intracaso dos principais fatores de influência para decisões estratégicas da Silva Arames Fator Estratégia Gestão estratégica Experiência pessoal Fatos A empresa foi criada da maneira emergente e sempre manteve esse padrão, acompanhando de maneira reativa os movimentos do mercado, assim é possível dizer que o nível de influência da estratégia para as decisões estratégicas é pequeno. Na gestão estratégica, os três proprietários-dirigentes se encontram fortemente envolvidos. A partir daí, especialmente na troca de informações com funcionários que fazem entregas em clientes que compram mercadorias de outros concorrentes, e na troca de informações com os fornecedores, surgiu a ideia de tirar a certificação da ISO 9000. Então pode-se dizer que o esse fator possui um nível de influência elevado. A experiência pessoal do fundador Roberto Silva foi crítica para a fundação da empresa, portanto esse fator é algo relevante para a empresa desde a sua fundação, incluindo para a abertura da loja virtual, pois o proprietário-dirigente Roberto Silva Filho, antes de entrar para 7 Fatores externos Redes pessoais a empresa, trabalhou com e-commerce, portanto pode-se dizer que este fator tem um nível de influência elevado. As fontes externas mais utilizadas pela empresa são conversas com concorrentes, clientes e fornecedores. Também são consultadas empresas que atuam no mesmo segmento, mas com produtos diferentes. Essas informações são angariadas pelos proprietários-dirigentes Roberto Silva e Bruno Silva, sendo estudadas e discutidas pela equipe, porém nem sempre influenciam para novas estratégias. Influenciou no caso da ISO 9000. Também, essas informações auxiliaram para a compreensão de que havia a necessidade de mudar a imagem da empresa e promover um novo posicionamento da marca, portanto seu nível de influência pode ser considerado médio. Considerando que a equipe de direção da Silva Arames é composta por um pai e dos filhos, uma análise superficial inicial poderia sinalizar para um nível de influência elevado deste fator, contudo isso fica diluído em razão dos três nutrirem redes de relacionamento comuns. Algumas redes que o proprietário-dirigente Roberto Silva Filho e Bruno Silva possuem individualmente são geradoras de novas ideias, como no caso da loja virtual, as quais são objeto de discussão entre os sócios, algo que pode durar meses, logo seu nível de influência é pequeno. Fonte: Elaborado pelos autores. A análise da figura permite visualizar que os fatores ‘experiência pessoal’ e ‘gestão estratégica’ são os que possuem o maior nível de influência. Para explicar essa descoberta o construto da conversa estratégica mostra-se relevante. Isto porque os três integrantes compartilham conhecimentos adquiridos dialogando, e desses diálogos surgiu a estratégia da obtenção da ISO 9000 juntamente com a loja virtual. Quanto aos demais fatores, percebeu-se que dentro da dinâmica da equipe há uma certa resistência. Os membros da equipe sentem-se mais a vontade em decidir a partir de fatos vivenciados e de elementos que surgem da operação. A resistência de se utilizar os outros fatores de influência como as redes sociais e fatores externos foi prejudicial para empresa em termos da perda de competitividade. Muitos clientes deixaram de comprar da Silva Arames em razão da não certificação da ISO 9000, algo que pessoas que fazem parte das redes de relações dos integrantes da equipe vinham aconselhando já há alguns anos. Isto posto, apresentado o caso e feita a análise intracaso da Silva Arames, segue o caso da Transportação. 4.1.2. Transportação A Transportação (nome fictício) é uma empresa do setor de comércio e serviços que atua no ramo de transporte de cargas secas. A empresa tem matriz na cidade de São Paulo, filiais em Pernambuco e Alagoas e possui 59 funcionários. Foi fundada em 1999. Seu quadro societário é composto por dois proprietários-dirigentes, havendo também um codirigente que exerce forte influência nas decisões estratégicas, de acordo com as explicações que seguem: André Camargo (nome fictício) é o fundador da empresa e antes de se tornar proprietário-dirigente trabalhou durante nove anos, dos 17 aos 26, na empresa fundada, em 1951, pelo pai e mais dois primos. A empresa do pai de André Camargo atua no mesmo ramo que a Transportação, o que lhe permitiu acumular uma grande experiência no ramo de transporte de carga seca. Durante este período iniciou os cursos de Publicidade e de Direito, sem concluí-los, portanto, atuava sem uma formação em gestão, mas de forma tácita. Durante este período passou por diversas áreas da empresa e nos últimos anos trabalhava na área comercial, quando surge a oportunidade de montar uma empresa própria, motivado por duas razões: insatisfação com o processo de gestão da empresa de seu pai, pois havia processos que André Camargo discordava, e um cliente que propôs contratá-lo diretamente se abrisse uma 8 empresa própria, o que ocorreu em 1999 quando tinha 27anos. Atualmente ocupa a posição de diretor geral na Transportação. José Romão (nome fictício) é primo de André Camargo, tornou-se sócio da Transportação em 2001 com 50% de participação, em paralelo manteve seu negócio original, um posto de gasolina, que abriu com a ajuda do pai, sócio do pai do André Camargo, por não querer continuar os estudos, que interrompeu após a conclusão do ensino médio. Como André Camargo também não tem formação em gestão e sempre atuou de forma intuitiva. Pouco se envolve com a área operacional e, por sua influência, abriu outros quatro novos negócios em sociedade com André Camargo, sempre dividindo metade da participação. Esses negócios paralelos não lograram sucesso, gerando atritos e as respectivas dissoluções incluindo a Transportação em 2005. Em 2010, José Romão envolveu-se em um projeto para a construção de 160 casas em uma área na região de Guarulhos e propôs uma nova sociedade para André Camargo e isso fez com que ele voltasse a ser proprietário-dirigente detendo novamente metade da Transportação. Sem um planejamento estratégico, mais uma vez a busca de expandir os negócios em atividades que não detinham experiência prévia os levou, um ano depois, a passar o projeto das casas para frente sem auferir lucro. Ainda em 2010, José Romão influenciou os integrantes da equipe de direção da Transportação na compra de 25 caminhões. André Camargo alega sempre ter sido contrário a ter grandes ativos e preferir trabalhar com agregados (terceiros), mas na avaliação de José Romão, para um salto de crescimento seria necessário investir em caminhões para reduzir a dependência dos agregados e poder atender um volume maior de clientes. Esta análise intuitiva não vingou e em agosto de 2011, sem grande reflexo no faturamento e aumento das despesas, decidiram vender todos os 25 caminhões. A venda foi concluída em janeiro de 2012 e tendo como resultado uma dívida gerada pelo resíduo entre compra versus venda. Carlos Neves (nome fictício) iniciou sua vida profissional aos 15 anos trabalhando em uma pequena transportadora cujo proprietário era seu irmão João, que, em 2001, desfez do negócio devido a dívidas, sendo a maior com combustível adquirido no posto de José Romão, com quem fez um acordo para a quitação da dívida contra a transferência de seus clientes para a Transportação, de quem se tornou funcionário. Na Transportação, João chamou o Carlos Neves para ajudá-lo informalmente, mas após alguns meses deixou a empresa. Com a saída de João, ainda em 2001, com 17 anos, Carlos Neves é contratado pela Transportação com a função de conferente. Dedicado ao trabalho, mesmo como conferente procura ajudar em todas as áreas e neste período ainda consegue concluir o ensino médio. Em 2002 passa a ser o principal auxiliar de André Camargo. Por atuar diretamente na operação do negócio sempre mantém grande contato com os clientes e influenciou e envolveu-se na implantação de sistemas informatizados e na implantação e certificação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) sob a norma ISO9001, e do Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ). Este comportamento tem levado o Carlos Neves e ser um dos principais influenciadores nas decisões estratégicas da empresa. Hoje exerce a função de gerente operacional. Embora não seja proprietário-dirigente é também codirigente. Atualmente a empresa está buscando implementar as seguintes estratégias: a) Quitar a dívida gerada pelo resíduo entre compra versus venda dos 25 caminhões nos próximos 3 anos, o que é possível com o nível de faturamento atual; b) Aumentar o faturamento dentro dos atuais clientes; c) Atuar com empresas de grande porte, geralmente multinacionais, que não tem problema de fluxo de caixa, com produtos de alto valor agregado, que necessitam de serviços que possam ser atendidos por meio de agregados, sem necessidade de aquisição de ativos (caminhões). Quanto aos fatores que influenciaram para geração das estratégias que compõem a presente análise intracaso, estes se encontram relacionados abaixo: 9 Figura 4: Análise intracaso dos fatores de influência para decisões estratégicas da Transportação Fator Estratégia Gestão estratégica Experiência pessoal Fontes externas Redes pessoais Fatos A empresa foi criada da maneira emergente e sempre manteve esse padrão, acompanhando de maneira reativa os movimentos do mercado, assim é possível dizer que o nível de influência da estratégia para as decisões estratégicas é pequeno, a equipe de direção encontra-se fortemente envolvida com as demandas cotidianas sem ter um senso de planejamento de longo prazo. André Camargo, fundador e principal proprietário-dirigente, em diversas passagens foi fortemente influenciado por José Romão e Carlos Neves também esteve muito envolvido com a operação do negócio, incluindo as decisões estratégicas. Um exemplo: observando uma dificuldade na gestão das entregas das cargas e interessado em tecnologia, durante os anos de 2004 e 2005, procurou incentivar os investimentos em informática, com destaque para a aquisição de um sistema informatizado para gestão das entregas. De acordo com Carlos Neves a utilização de um sistema leva a um melhor controle das informações sobre os veículos, motoristas e as movimentações das cargas, reduzindo o número de reclamações dos clientes e melhoria no desempenho dos serviços. E isso foi confirmando pela observação da operação e relatos dos clientes, percebe-se que a maioria das empresas do ramo ainda tem grande dificuldade no gerenciamento dos fluxos físicos e de informações das cargas, o que considero seja uma vantagem para a Transportação e reconhecida pelos clientes. Pode-se dizer que o esse fator possui um nível de influência elevado, o qual é reforçado com a postura diretiva de André Camargo que diz ser muito atento às informações trazidas por sua equipe de gerentes, sobretudo as trazidas por Carlos Neves. Durante a passagem pela empresa do pai, o André Camargo, fundador da empresa, embora não tenha assumido nenhum cargo de liderança, atuou na maioria dos setores da empresa, o que permitiu uma visão geral do negócio e revela “Como eu tinha passado por todas as áreas da empresa, eu entendia de tudo, então para mim não foi difícil abrir uma empresa. Foi até fácil.”, o que indica a influência deste fator na condução do negócio. Portanto, pode-se dizer que este fator tem um nível de influência elevado. As fontes externas mais utilizadas são os funcionários dos clientes ligados à área de transporte, como gerentes, pessoal do recebimento e da expedição, contatos realizados principalmente por Carlos Neves, que alega dedicar boa parte de seu tempo com esta atividade, procurando entender o que os clientes consideram melhorias. Este comportamento tem levado Carlos Neves a ser um dos principais influenciadores nas decisões estratégicas da empresa e foi o principal incentivador e interlocutor no processo de implantação e certificação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) sob a norma ISO9001, em abril de 2008, e do Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ) em agosto de 2008. Márcio tem maior foco na participação de associações de classe. Portanto, pode-se dizer que este fator tem um nível de influência elevado. Embora os proprietários-dirigentes sejam primos, o aprendizado com os erros cometidos gerou a percepção de que uma boa ideia não basta se a execução também não for boa. Hoje julgam que o conhecimento de como funciona o negócio é mais relevante que as opiniões pessoais. Portanto, o conflito entre o André Lopes (mais realista, racional) e José Romão (mais sonhador, intuitivo) hoje é menor, pois as informações obtidas pela observação do mercado são mais impactantes. Portanto, pode-se dizer que este fator tem um nível de influência médio. Fonte: Elaborado pelos autores O caso da Transportação evidencia uma forte influencia para os fatores ‘experiência pessoal’ e ‘gestão estratégica’. A experiência pessoal de André Camargo e Carlos Neves influencia diretamente nos direcionamentos estratégicos passando pela constituição da empresa e chegando na necessidade de implementar-se práticas de gestão da qualidade. O construto da conversa estratégia mostra-se presente nos diálogos intensos que André Lopes, Carlos Neves e time de funcionários travam diariamente, e nessas conversas são ventilados 10 elementos ligados à gestão estratégica juntamente com as informações externas da empresa, fator este que também possui um elevado nível de influência. O aumento da frota de caminhões direcionado por José Romão mostrou-se uma decisão estratégica ruim para empresa, que acabou contraindo uma dívida. E isso, evidencia o baixo nível de influência do fator ‘estratégia’ pois foi uma decisão intuitiva e não racional. Vinda de um integrante da equipe que tem um histórico de montagem de negócios que não vingaram e que não possui a mesma experiência pessoal na área de transportes que os outros dois membros. Feita a apresentação dos dois casos estudados na presente pesquisa, segue a análise intercaso. 4.2. Análise intercaso Os dois casos apresentam pontos nos quais se assemelham, havendo também aspectos singulares de cada caso, como é possível verificar nos níveis de influência dos cinco fatores estudados na presente pesquisa. Figura 5: Metamatriz de análise intercaso Fator Estratégia Gestão estratégica Experiência pessoal Informações externas Relações pessoais Silva Arames Pequeno Elevado Elevado Médio Pequeno Transportação Pequeno Elevado Elevado Elevado Médio Fonte: Elaborado pelos autores Ao analisar a figura acima o primeiro aspecto que chama a atenção refere-se ao baixo nível de influência para o fator de estratégia. As duas empresas foram criadas de maneira emergente levando mais em conta oportunidades de mercado juntamente com a experiência pessoal de seus proprietários-dirigentes. Portanto não foi possível localizar nos dados estratégias formais e deliberadas, mas sim estratégias emergentes e até intuitivas como no caso da implementação da loja virtual da Silva Arames, essa estratégia não foi submetida a nenhuma pesquisa de mercado. O mesmo vale para a questão da compra dos 25 caminhões da Transportação, decisão esta que surgiu também com base na experiência intuitiva de José Romão. Aqui pode-se dizer que os dados suportam os argumentos de Robbinson e Pearce (1984) e Schaper et al. (2005) no tocante à dificuldade que as PME apresentam para formular e implementar estratégias formais. O que reforça o desafio das PME de buscarem mecanismos, práticas e soluções que aumentem sua competitividade, acelere o seu crescimento e mitigue o risco de estagnar ou desaparecer do mercado. No fator gestão estratégica é possível visualizar a semelhança nos dois casos, pois este se mostrou elevado. O forte envolvimento dos proprietários-dirigentes das duas empresas, com exceção de José Romão, refletem as ideias de proximidade explicadas por Torrès (2004), e a partir dessas proximidades estratégias vão sendo criadas e implementadas, com base em processos de aprendizagem de tentativas e adaptações, de acordo com as ideias de McCarthye e Leavy (2000). Aqui cabe destacar a estratégia de posicionamento da Silva Arames que se viu obrigada a adaptar-se às mudanças ocorridas no mercado de arames, para tanto está buscando novos fornecedores e diversificando produtos. Por outro lado, André Camargo, após decisões que não geraram os resultados esperados, decide focar o crescimento em empresas semelhantes às que atua e crescer naquelas para as quais já presta serviços. No terceiro fator, constata-se que a experiência pessoal foi crítica para a criação das duas empresas, pois Roberto Silva e André Camargo tiveram de confiar em sua experiência pessoal 11 para desenvolver as respectivas empresas, sendo possível aqui encontrar suporte para as ideias de Reuber e Fischer (1997). Contudo, ambos não cursaram uma graduação em gestão, preferindo aprender com a experiência cotidiana (CLARYSSE e MORAY, 2004). Essa falta de conhecimento formal impactou para que a Silva Arames adotasse uma postura reativa diante do mercado, pois Roberto Silva não se via em condições de antecipar-se aos movimentos de mercado. Enquanto no caso da Transportação, o fato de André Camargo e José Romão terem aberto e fechado negócios paralelos, sinaliza uma falta de conhecimento para identificação, planejamento e implementação de estratégias. Essas duas passagens rementem as ideias de Mazzarol e Reboud (2009) sobre a gestão caótica das PME. No quarto fator das informações externas surge a primeira diferença entre os dois casos. Para a Silva Arames este fator foi considerado médio, enquanto para a Transportação elevado. Neste ponto é possível encontrar elementos que suportam as ideias de Liberman-Yoconi, Hooper e Hutchings (2010) sobre as fontes externas, especialmente na atuação de Carlos Neves ao implementar processos de qualidade. Essa decisão ocorreu em razão do monitoramente que ele e a equipe de gerentes faz dos clientes e dos concorrentes, sendo possível verificar que a gestão da qualidade, ainda que a implementação de um SGQ e sua certificação já sejam bastante comuns, o seu uso como ferramenta de gestão pode representar um diferencial competitivo. O derradeiro fator, das relações pessoais, também é diferente para os dois casos. Para a Silva Arames é pequeno e para a Transportação é médio. Isso reforça a importância dos fatores da gestão estratégica e da experiência pessoal para influenciar nas decisões estratégicas, trazendo o foco de interesse para o construto da conversa estratégica (LIMA, 2007 e 2009). Nos casos a questão da troca de informações que ocorrem por meio de conversas pode ser considerada como um aspecto marcante. Em razão das empresas não terem sistemas formais de planejamento, a conversa estratégica é o recurso aderente as características de informalidade, flexibilidade e reatividade apresentada nos dois casos. Portanto, neste ponto os dados não suportam as ideias de Lima (2009) no que se refere ao uso da conversa estratégica como meio de aprendizagem simulando possíveis situações futuras. Pelo contrário, a conversa estratégica serve como um meio para as empresas buscarem conhecer os caminhos a serem percorridos para alcançarem concorrentes que possuem um melhor posicionamento de mercado quando comparado com o posicionamento das duas empresas. Cabe destacar que nos dois casos não foi possível verificar o construto da visão negociada explicada por Robbins e Duncan (1988). No caso da Silva Arames a loja virtual pode ser considerada uma visão individual do proprietário-dirigente Roberto Silva Filho, a qual foi acolhida pelos demais proprietários-dirigentes, que adotaram a postura de aceitação, porém não houve negociação. E o mesmo raciocínio é cabível para a Transportação no caso da compra dos 25 caminhões, que pode ser considerada como uma visão individual de José Romão. 5. Considerações finais Uma parte expressiva da população e da economia está acoplada ao vigor e a atuação das PME pela reconhecida capacidade de gerarem emprego e contribuírem com a produção de bens e serviços, o que é motivo para muitos pesquisadores se entusiasmarem em envidar esforços na pesquisa de como estas organizações podem superar seus desafios e apresentarem desempenhos superiores. Ao analisar os fatores que influenciam as decisões estratégicas em PME, foi possível classificar que a gestão estratégica e a experiência pessoal apresentaram um nível de influência elevado nos dois casos estudados na presente pesquisa. A questão da proximidade dos proprietários-dirigentes dos processos de gestão, juntamente com a falta de conhecimento 12 formal sobre administração, entre os seis proprietários-dirigentes das duas empresas estudadas apenas um possui uma graduação em administração, favorece que a experiência pessoal e o aprendizado intuitivo sejam fontes de informação para o desenvolvimento de novas estratégias em PME. Porém, algo que chamou atenção ao longo da pesquisa refere-se à dificuldade de criação de uma bagagem de conhecimentos coletivos da equipe de direção, como sinaliza autores como Wiersema e Bantel (1999) e Athanassiou e Nigh (2000). Nos dois casos há passagens que mostram que os conhecimentos e visões individuais foram levados em consideração apenas sendo acatados pelos demais integrantes da equipe de direção. Surgindo aqui uma recomendação para trabalhos futuros, compreender os elementos que impedem a construção de um patrimônio coletivo, algo importante para formação de uma visão coletiva. Essa iniciativa é justificada pois, de acordo com a literatura estudada, quando há uma sinergia entre os membros da equipe, o desempenho organizacional tende a ser melhor, e a gestão da empresa torna-se mais efetiva (LUBATKIN, et al. 2006). Por fim, cabe explicar que os resultados do presente trabalho limitam-se as empresas estudadas, sendo necessários mais estudos em PME para testar os cinco fatores de influência estudados no presente artigo. Bibliografia ATHANASSIOU,N; NIGH, D. Internationalization, tacit knowledge and top managements teams of MNCs. Journal of International Business Studies, v. 31, n. 3, p. 471-487, 2000. 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