Sumário
Introdução
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Objetivos 8
Brincar, encenar, cantar e comer para celebrar 9
O negro e as relações étnico-raciais no Brasil 11
Brincar para celebrar
16
Encenar para celebrar 19
Cantar para celebrar 22
Comer para celebrar 24
Bibliografia 27
Introdução
4
Abra a roda. Deixe o griô passar.
Ele traz músicas, brincadeiras e histórias guardadas na alma. Memórias
ancestrais transmitidas e perpetuadas na festa e no compartilhamento
de experiências. Celebrar a África é valorizar uma cultura formada por
muitas culturas. Plurais, diversas, ricas e repletas de ensinamentos que
movem o grande círculo da vida. O grande mestre da tradição oral africana, o malinês Amadou Hampâté Bâ, afirmava que os griôs eram os
agentes ativos e sagrados dessas conversações, pois a sociedade africana
tradicional estava fundamentalmente baseada no diálogo entre os indivíduos e na comunicação entre comunidades ou grupos étnicos. Segundo
ele, os griôs se originam dos grupos étnicos do sul do Saara. Na tradição
oral dos grupos étnicos Bambara e Fula, na região do Mali, eles recebem
diversos nomes e funções sociais, como Dielis, que em bambara significa
sangue, uma analogia com o que circula no organismo vivo.
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Griôs são genealogistas, contadores de histórias, músicos, poetas populares e agentes de cultura. Chegam a assumir a função de noticiadores, mediadores e diplomatas. Às vezes são contratados para pesquisar e contar a história e a genealogia de famílias, de seus heróis e de
suas glórias.
Para celebrar a África e a cultura negra no Brasil escolhemos resgatar
a figura do griô e as manifestações culturais africanas que em território brasileiro ganharam cheiros, ritmos e formas únicas, revelando o
diálogo entre as diversas culturas que aqui se encontraram. Sabemos
que muitos desses encontros foram permeados de violência e preconceito, mas pretendemos celebrar os ensinamentos e o orgulho de ter
um pouco da África na alma.
Estes são alguns dos valores mais importantes para os povos africanos:
Circularidade
Oralidade
Energia Vital
(Axé)
Religiosidade
VALORES
CIVILIZATÓRIOS
AFRO-BRASILEIROS
Ludicidade
Corporeidade
Musicalidade
Cooperativismo/
Comunitarismo
Memória
Ancestralidade
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Ligação sagrada entre o ser e sua palavra. Na África tradicional
as palavras e as histórias estimulam o desenvolvimento e o aperfeiçoamento humano. Visto que a palavra é sagrada, não há espaço para a
mentira e para a calúnia.
Ancestralidade e convivência intergeracional. Os mais velhos
são o elo entre os homens e sua comunidade, entre o presente e o passado, e ajudam a refletir sobre o futuro.
Responsabilidade do ser humano em relação à vida na Terra.
A ligação com a natureza é a base de muitas culturas africanas, por isso
deve ser valorizada e preservada.
Perpetuação da memória e valorização da rede de transmissão oral. A preservação dos elementos que caracterizam a cultura de
um povo é mantida por histórias, cantos e danças, que são revividos
cotidianamente pelo grupo.
Valorização da vida e da espiritualidade. A importância desse
valor é priorizada na interligação entre brincadeiras, festas, artes, ciências, mitos e religiosidade.
Valorização das artes e dos ofícios de tradição oral. Tarefas,
saberes e técnicas necessários à perpetuação da comunidade e de sua
cultura são transmitidos de geração em geração.
Cooperativismo e importância da comunidade. O conhecimento se dá na experiência coletiva, pois é na convivência que se aprende.
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Objetivos
A escrita é uma coisa, e o saber outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem.
A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e
que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como
o baobá já existe em potencial em sua semente.
Tierno Bokar Salif (Mali), mestre da ordem muçulmana de Tijaniyya, falecido em 1940 (Hampâté Bâ, 1982).
África: celebração de sua cultura propõe, a partir de jogos e brincadeiras, da música, da dança e das práticas culturais, a valorização da
África e das contribuições que o Brasil recebeu do continente africano.
Propõe também:
• apresentar o continente africano e a cultura negra além do exotismo e dos estereótipos, mostrando a África em perspectiva positiva.
• resgatar a figura do griô e os valores civilizatórios da tradição africana,
tais como a oralidade, a memória, a ancestralidade e a circularidade.
• valorizar a presença negra no Brasil a partir do conhecimento de
sua contribuição e riquezas culturais e filosóficas.
• fomentar na escola ações de cooperativismo, tolerância e convívio
com a pluralidade e a diversidade em suas manifestações.
• ampliar o acesso a informações sobre a diversidade da nação brasileira.
• criar, a partir da celebração do dia 20 de novembro, um evento cultural
que revele à comunidade o conhecimento construído pelos alunos no
decorrer das ações do projeto. Em alguns estados, 20 de novembro é
feriado por ser o dia da Consciência Negra. Nesses casos, sugerimos que
a Celebração da África na escola ocorra em outro dia da mesma semana.
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Brincar, encenar, cantar e comer para celebrar
África: celebração de sua cultura, dividido em quatro grandes
blocos temáticos que dialogam entre si – Brincar para celebrar, Encenar para celebrar, Cantar para celebrar, Comer para celebrar –,
integra todas as faixas etárias dos alunos da escola e pode ser vivenciado a critério de cada instituição.
Depois de realizar as ações delineadas, espera-se que os alunos possam
integrar todas as experiências e vivências em um grande evento que celebre a África. Acreditamos que 20 de novembro, quando é comemorado o Dia da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares,
é uma data significativa para o encerramento das atividades. Para cada
bloco temático foram delineadas ações específicas, ficando a critério
das instituições escolher as séries que desenvolverão cada um, respeitando assim as características e os interesses da comunidade escolar.
Propostas de atividades
Brincar para celebrar
• Contação de histórias tradicionais
• Brincadeiras
• Cantos e ritmos afro-brasileiros
• Confecção de bonecos
• Jogos cooperativos
• Jogos de tabuleiro
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Encenar para celebrar
• Dramatização musical
• Encenação de lendas
• Roda do griô
• Teatro de animação
Cantar para celebrar
• Cantos de trabalho e samba de roda
• Música africana contemporânea
Comer para celebrar
• Comidas africanas
• Comidas afro-brasileiras
• Doces
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O negro e as relações
étnico-raciais no Brasil
Com frequência, a mídia aborda temas que retratam a pluralidade das
sociedades contemporâneas. Nas grandes cidades, por exemplo, diversas culturas e identidades convivem em um mesmo território. No caso
do Brasil, desde o início de sua história vemos a importância dos diversos grupos culturais na formação e na consolidação do que hoje chamamos de identidade brasileira. Entretanto, se olharmos esse trajeto
com atenção veremos que nem todos esses grupos foram valorizados e
respeitados da mesma forma. O extermínio de várias etnias indígenas,
a escravidão tanto de indígenas como de africanos, grupos que moveram a economia do país ao longo dos diversos ciclos, mostram que as
relações entre brancos, indígenas e negros foram desiguais.
Se nos ativermos especificamente ao negro na sociedade brasileira, veremos que apenas a partir do século XIX o Brasil começou a discutir
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questões relativas à forma como eram tratados os africanos que aqui
viviam e seus descendentes. O debate sobre o tráfico negreiro, o direito
à liberdade, e a autonomia da identidade negra são pontos presentes
em obras, discursos, publicações, e fomentam ações que culminariam
em 1888 na abolição da escravatura. Entretanto, depois disso uma
longa caminhada se iniciou para que pudessem ocorrer efetivamente
a inclusão e a consolidação da participação do negro como cidadão na
sociedade brasileira.
Atualmente, as discussões e mediações que têm como base a pluralidade de pertencimentos identitários são chamadas de relações étnico-raciais. Elas procuram problematizar a forma e as ideias que sustentam
tanto as práticas culturais quanto os discursos promovidos entre brancos, negros e indígenas. Criada como disciplina autônoma no século
XIX, a Biologia deu a chancela para que a palavra raça fosse utilizada
para designar uma categoria ou uma descendência. Tendo como base
fenótipos como a cor da pele e o formato do nariz e do crânio, a noção
de raça partia do pressuposto de que as diferenças humanas eram promovidas pela multiplicidade de raças, ideia posteriormente desconstruída pela ciência, que concluiu que há apenas uma: a humana.
Nas discussões dos movimentos sociais e científicos tem surgido um debate sobre a natureza dos enfoques. As ideias de raça, construídas sobre fenótipos, produziram grandes catástrofes sociais e traduziram-se
no fortalecimento de sistemas autoritários, como o nazismo alemão
(1933-1945) ou o apartheid na África do Sul (1944-1991). As teorizações sobre raça são simplificadoras da complexidade humana e social.
Assim, ao ser ressignificada a partir do termo “étnico-racial”, engloba o
conceito de etnia, que, diferentemente da ideia de raça, pensa a plura12
lidade entre os grupos a partir da cultura e não da Biologia. As diferenças étnico-raciais surgem dos processos históricos e culturais, das lutas
de classe e das particularidades de gênero.
A luta pelo reconhecimento de direitos e de cidadania dos negros norte-americanos foi o ponto de partida para a elaboração das políticas
de ações afirmativas, que são leis, que podem incidir na simples
concessão de direitos ou privilégios especiais até a concessão de formas
de autonomia política e governamental. As ações afirmativas pressupõem uma reparação histórica a grupos étnicos, de gêneros, ou socioeconomicamente desfavorecidos, de modo que medidas efetivas sejam
tomadas pelo Estado a fim de garantir a igualdade de oportunidades e
de inclusão social desses grupos.
A ação afirmativa baseia-se em dois pilares. O primeiro é que as minorias, que de acordo com as ciências sociais são os grupos historicamente perseguidos ou excluídos da sociedade, merecem uma compensação
por essa injustiça, pois ao longo da história não tiveram as mesmas
oportunidades de acesso e permanência aos bens culturais e sociais,
tais como a escola, a universidade e o mercado profissional qualificado.
O segundo é que o acesso à educação de nível superior seria uma alavanca da mobilidade social e a forma mais eficaz de acelerar a integração dos grupos marginalizados. Entretanto, nos países onde essa medida foi implementada, como Estados Unidos, Canadá e África do Sul,
o debate sobre as políticas afirmativas está ligado a fervorosos defensores e detratores. Alguns consideram que é um direito e uma necessidade, outros que não é a medida adequada para fazer justiça social.
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No Brasil, as ações afirmativas atendem ao que foi determinado pelo
Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil com o objetivo de combater o racismo, as discriminações e a xenofobia, preconceito ou aversão ao que
é diferente. Entre os acordos, está o que foi firmado na Convenção da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco) de 1960 – que teve como objetivo o combate ao preconceito
em todas as formas de ensino –, e o que foi estabelecido pela Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia
e Discriminações Correlatas, de 2001.
No Brasil, essas ações passaram a ocorrer a partir de 2003, com a adoção de cotas nas instituições de ensino superior do Estado brasileiro e
nos concursos públicos; nas políticas específicas de inserção do negro
no mercado de trabalho; nos programas especiais voltados à saúde da
população negra; nos programas específicos para ingresso na carreira
diplomática e nas ações específicas na área da cultura e da educação,
além da Lei Federal no 10.639/03, que determina a inclusão no currículo oficial da rede de ensino da obrigatoriedade da temática “História
e cultura afro-brasileira”.
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As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana (2005) afirmam que:
Para obter êxito no trabalho com a diversidade, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm que desfazer mentalidade racista e
discriminatória secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais, desalienando processos pedagógicos. (p.15)
Ao celebrar a África e a cultura negra no Brasil a partir de um enfoque
positivo, pretendemos que os alunos consigam enxergar o continente
africano além dos estereótipos e exotismos, e das notícias que teimam
em cristalizar um único ângulo da África. Assim, acreditamos cumprir
tanto as orientações da Unesco sobre a valorização da diversidade,
como as Diretrizes Curriculares propostas pela Lei no 10.639/03.
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Brincar para celebrar
Feliz é quem brinca e se diverte brincando.
Brincar, jogar, cantar e dançar não são passatempos, mas ações fundamentais para a construção de conhecimentos sobre o mundo. Brincando, as pessoas aprendem a conviver e a conhecer-se. A brincadeira
pode ser um espaço privilegiado de interação e confronto com diferentes pontos de vista.
Nessa experiência, principalmente as crianças tentam resolver a contradição entre a liberdade de brincar no nível simbólico e as regras que
lhes são impostas, assim como compreender o limite entre a realidade
ou as regras dos próprios jogos. É, portanto, brincando que as crianças
podem propor desafios e questões que sobrepõem o comportamento
diário, levantando hipóteses para compreender os problemas que lhes
são propostos pelas pessoas e pela realidade com a qual interagem.
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As brincadeiras marcam a infância e permanecem na memória. Quem
não se lembra das cantigas, dos jogos e das risadas desse período?
E quem se esquece dos parceiros de brincadeiras e de aventuras?
Feliz é quem brinca e se diverte brincando. É o afeto que move a engrenagem do faz de conta.
Será que no continente africano se brinca da mesma maneira que no
Brasil? Eles possuem os mesmos brinquedos e suportes? Ouvem as
mesmas histórias? Cantam e dançam com gestos e ritmos similares aos
que vemos no Brasil?
Embora a brincadeira seja uma atividade livre e espontânea, ela não é
natural, mas uma criação cultural. Dependendo do significado atribuído a uma conduta em determinada cultura, por exemplo, ela pode ou
não ser considerada um jogo.
Ao apresentar brincadeiras e jogos africanos, resgatamos elementos
fundamentais das culturas tradicionais da África e da cultura afro-brasileira, como memória, ancestralidade, corporeidade e oralidade. Afinal, na África tradicional se celebra brincando. O lúdico está presente
em todos os momentos do cotidiano e busca sempre celebrar a vida.
O continente africano é rico em culturas e diversidade. Pretendemos
que brincando, jogando, dançando, cantando e tocando, os alunos possam experimentar o que é vivenciado na África como as ressignificadas
no Brasil.
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Friedmann (1996, p. 123) afirma que em “nossa sociedade, há uma cultura de muitos brinquedos e de poucas brincadeiras, muita tecnologia
e pouco artesanato, muita impessoalidade e pouco respeito à individualidade, muita solidão e pouca troca entre as pessoas”. Portanto, ao
resgatar a ludicidade africana não estamos apenas celebrando a África,
mas também a infância.
Propostas de atividades
• Contação de histórias tradicionais
• Brincadeiras
• Cantos e ritmos afro-brasileiros
• Confecção de bonecos
• Jogos cooperativos
• Jogos de tabuleiro
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Encenar para celebrar
A palavra como perpetuação da memória.
Amadou Hampâté Bâ, especialista em transmissão oral e sociedades
tradicionais africanas, disse em uma de suas últimas entrevistas uma
frase que se eternizou: “Na África, quando um ancião morre, é como
se uma biblioteca se incendiasse”. Além de bela, a frase revela alguns
elementos indissociáveis das culturas africanas das savanas: a importância da oralidade como perpetuação da memória, o respeito aos
mais velhos e a sabedoria construída pela experiência e pelo poder
de dar vida às palavras, conferindo-lhes cheiros, cor e som. Escutar
uma história da tradição africana é se deliciar com uma sequência de
imagens e poesias.
Os contos e os mitos africanos refletem as crenças, os costumes e o cotidiano dos diversos povos, enriquecendo e consolidando a experiência
de estar junto, de compartilhar e de aprender. Por serem transmitidos
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por meio da oralidade e não por meio de textos escritos, possuem organicidade e movimento, sua essência permanece mas seus elementos
podem apresentar modificações para agregar lições ou reflexões necessárias à comunidade. Sabendo disso, o griô utiliza toda a sua experiência para divertir ao mesmo tempo que instrui o público que ouve suas
histórias.
Ao sentar debaixo do baobá, o griô acolhe as crianças e os adultos em
círculo, e a partir de uma pergunta qualquer, que pode ser a respeito do
tempo, das perdas ou do funcionamento das coisas, escolhe uma história que dialoga com a questão levantada e que ajuda o grupo a refletir
sobre ela. Música, movimento e ritmo fazem as palavras se tornarem
bailarinas e tocarem o coração.
Tudo pode ser explicado em uma boa história. A própria árvore sagrada
do baobá, símbolo da ancestralidade por viver milhares de anos, possui
uma lenda que explica suas formas diferenciadas. Os bosquímanos, povos que vivem em Botsuana, contam que Deus deu a todos os animais
uma semente para plantar. Depois de todos os animais, Deus chamou
a hiena, que naquele momento estava furiosa por achar que tinha sido
preterida. Por estar com raiva, ao receber de Deus uma semente de
baobá, resolveu plantá-la de cabeça para baixo. Segundo os bosquímanos, é por isso que essa árvore cresceu com um tronco grosso e com
galhos que parecem raízes, parecendo uma árvore de ponta-cabeça.
Encenar as histórias africanas é mais do que propor simples dramatizações: é celebrar a África a partir do encantamento que as palavras
proporcionam. Ao nos apropriarmos das narrativas e dos conhecimen-
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tos africanos, enriquecemos não apenas a compreensão sobre a diversidade do continente, mas o olhar sobre nós mesmos. É abrindo-nos
ao novo que nos lançamos a outros diálogos e possibilidades. Experimentando e apreciando diversas possibilidades de narração, os alunos
podem aperfeiçoar a capacidade de escuta e de criação e exercitar o
trabalho coletivo e uma convivência permeada por respeito e afeto.
Indicamos na Plataforma UNO alguns vídeos com o contador de histórias Odé Amorim. Na África, um griô nasce griô. Há a especificidade de
passar essa tradição de pai para filho. Porém, no Brasil, a influência do
griô africano aparece em muitas realidades diferentes e se encontra com
muitas outras tradições de outros povos e culturas. Por isso, Odé Amorim conta as histórias para os alunos vestido como um personagem griô.
Propostas de atividades
• Dramatização musical
• Encenação de lendas
• Roda do griô
• Teatro de animação
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Cantar para celebrar
Ao cantar, celebramos a africanidade que há em nós.
A cultura é um conjunto de significados partilhados e construídos pelo
indivíduo para explicar o mundo; uma forma de expressão e de tradução da realidade que se faz simbolicamente. A cultura nunca é estática,
está sempre em movimento e em construção. É ela que dá pertencimento e identidade aos povos. No caso da África e das tradições culturais afro-brasileiras, a música é um elemento centralizador de histórias
e de afetos, e expressa o modo de se situar no mundo.
Nos rituais influenciados pela cultura africana, a aproximação com
o sagrado se faz presente também na batida de tambores, nas palmas e no canto.
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No continente africano a música e o canto estão presentes em todos os
espaços e celebrações, e o próprio griô faz de sua história uma longa
canção ritmada e pulsante. Os tambores e o ritmo das palavras facilitam a memória e a preservação do que se ouve.
No Brasil, os africanos ressignificaram suas tradições e colaboraram
para a criação de um mosaico cultural no qual a música ocupa lugar
privilegiado. Na Bahia, se dá nos cantos de trabalho, que são construções coletivas de trabalhadores relacionados a determinado ofício. O
samba de roda e a chula, característicos do Recôncavo, são manifestações que ultrapassam a dimensão musical ao sinalizar aspectos sociais
e culturais permeados de história e ancestralidade. Ao entrar na roda
e girar as saias, ou ao perpetuar um movimento no espaço, as pessoas
resgatam a memória e a experiência coletiva que celebra o orgulho de
pertencer a determinada comunidade.
Ao cantar, celebramos a África e a cultura negra no Brasil e conhecemos um pouco da africanidade que há em nós. Mas reconhecemos
também a nova África que há hoje no Brasil, representada pelos imigrantes de diversos países do continente que ganham espaço nas grandes cidades brasileiras e trazem novos temperos, sons e ritmos. Assim,
o poder da música possibilita resgatar o passado, compreender o presente e vislumbrar o futuro.
Propostas de atividades
• Cantos de trabalho e samba de roda
• Música africana contemporânea
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Comer para celebrar
Comida não se explica, se experimenta!
O que faz de um evento uma grande celebração? A presença de amigos,
familiares e de boa música podem ser elementos fundamentais, mas
toda grande festa tem também deliciosas comidas. Pratos marcantes
e saboreados com alegria e apetite. É só lembrarmos de datas e festas
que imediatamente somos transportados a um universo de sabores,
cheiros e aromas.
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A comida é um dos elementos principais que caracterizam as culturas.
Ao pensar na Itália, na França ou no Japão, imediatamente somos invadidos pela lembrança de pratos deliciosos. No caso da África, nossa
memória passa pela cozinha baiana. Um universo mítico e saboroso
eternizado pelas obras de Jorge Amado, pelos terreiros de candomblé
e pelos tabuleiros das baianas. Em cada prato, uma história. Em cada
história, são revividas memórias e tradições.
No continente africano, a comida é um elemento sagrado e imprescindível a qualquer celebração. É na experiência do coletivo que os pratos
recebem seu toque final. Comer não é simplesmente degustar um prato, é festejar o que se come.
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De acordo com as tradições herdadas da África, os ingredientes, os
temperos e a forma de preparar um alimento revelam um rico universo
de símbolos, imagens, histórias e aprendizados. Para essas tradições,
o açúcar, o dendê, o coco e a pimenta não alimentam apenas o corpo,
mas a alma, que, enriquecida, engrandece a criação e a vida. Preparar
um prato é um ofício sagrado e coletivo, uma celebração do poder de
transformar a natureza e a humanidade.
Propostas de atividades
• Comidas africanas
• Comidas afro-brasileiras
• Doces
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Bibliografia
Livros
A Cor da Cultura – Saberes e Fazeres – Modos de Ver. Coordenação
do projeto: Ana Paula Brandão. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006.
A Cor da Cultura – Saberes e Fazeres – Modos de Sentir. Coordenação do projeto: Ana Paula Brandão. Rio de Janeiro: Fundação Roberto
Marinho, 2006.
A Cor da Cultura – Saberes e Fazeres – Modos de Interagir. Coordenação do projeto: Ana Paula Brandão. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006.
APPIAH, Kwame A. Na casa de meu pai. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
ASSELINEAU, Michel; BÉREL, Eugéne; TRÂN QUANG, Hai. Music of
the world (com três CDs). Paris: J. M. Fuzeau, 1994.
BÂ, Amadou Hampâté. Confrontações culturais (entrevista concedida
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BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil – propostas para
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Nova York: Grosset & Dun-lap, 1951.
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(com três CDs e um CD-ROM). Florença: Amharsi Edizioni Multimediali, 1997.
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______ (Org.). À mesa com Carybé – o encantamento dos sabores e
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______ . Dendê – símbolo e sabor da Bahia. São Paulo: Senac São
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LOPES, Ana Mônica; ARNAUT, Luiz. História da África – uma introdução. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Crisálida, 2008.
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PAREJO, Enny. Escuta musical — uma estratégia transdisciplinar
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ROMERO, Silvio. Cantos populares do Brasil. São Paulo: Itatiaia, 1986.
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SODRÉ, Lilian Abreu. Música africana na sala de aula – cantando,
tocando e dançando nossas raízes negras. São Paulo: Duna Dueto,
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Paulo: AAPG, 2010.
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VIEIRA, Luandino (Org.). Contos africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009. (Coleção Para Gostar de Ler.)
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AWPM, 2003. (Com CD.)
29
LivroS QUE INSPIRARAM OS CONTOS DO PROJETO
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______ . O segredo das tranças e outras histórias africanas. São Paulo: Scipione, 2008.
______ . A tatuagem. São Paulo, Gaivota, 2012.
BRENMAN, Ilan; VILELA, Fernando. Contador de histórias de bolso:
África. São Paulo: Moderna, 2008.
BENNETT, William J. O livro das virtudes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
HOLANDA, Arlene. Nina África. São Paulo: Elementar, 2009.
MARTINS, Adilson; HEES, Luciana Justiniani. “Erinlé, o caçador” e
outros contos africanos. Rio de Janeiro: Pallas, 2008.
SEEGER, Pete. Abiyoyo. Nova York: Simon & Schuster, 2001.
DVDs
ANTUNES, Carlinhos; WERNECK, Márcio. Sete dias em Burkina. São
Paulo: SescTV, 2007.
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BERTAZZO, Ivaldo. Milágrimas. São Paulo: Sesc, 2005.
DIAS, Paulo Anderson Fernandes. São Paulo corpo e alma. São Paulo:
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GALUP, Bénédicte; OCELOT, Michel. Kiriku e a feiticeira. França: Europa Filmes, 1998.
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2005.
RHODEN, Cacau. Tarja branca. São Paulo: Maria Farinha Filmes,
2014.
WAINER, João. Mart’nália em África ao vivo. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2010.
sites
www.pordentrodaafrica.com
http://pretaportefilmes.com.br
www.afreaka.com.br
http://ireticulturanegra.blogspot.com.br
www.ancestralidadeafricana.org.br
www.museuafrobrasil.org.br
31
Diretoria de Conteúdo: Beatriz Elias (diretora); Ana Paula Castellani,
Inês Mendonça, M. Estela Heider Cavalheiro e
Vinícius Moisés (gerentes de projeto)
Back office : Natália Carvalho e Tamires Frota
Edição de conteúdo: Aline Souza, Ana Paula Figueiredo, Cecilia Skaf, Edinaldo Andrade,
Fabio Rondinelli Roquetti, Flávia Leal, Gabriel Kolyniak, Ligia Cantarelli,
Lívio Augusto D’Ottaviantonio, Luci Kasai, Luísa da Rocha Barros,
Marco Antônio C. Fioravante, Mariana Zafalon e Reginaldo Dias
Design : João Ricardo Lagazzi Rodrigues
Iconografia: Rafael Galvão (coordenador ); Tiemy Hasimoto e Walkyria Arruda
Preparação, revisão e checagem: Marise Leal (coordenadora); André Annes Araujo, Carolina Vicente,
Érika Finati, Flávio Mendes, Graziela Marcolin, Nilce Xavier,
Renata Holdack e Rinaldo Milesi
Produção: Raquel Bortoletto (coordenadora de produção) e
Cristiano Galan (coordenador de projetos digitais)
Plataforma digital: Natasha Bin (gestora de conteúdo) e Ingo Aleksander Vollbrecht (programador )
Publicação: Guilherme José Ferreira (coordenador); Adailton Brito, Camila Pinto de Castro,
Caroline Almeida, Celson Scotton, Danilo Pereira, Felipe Lamas,
Marina C. Nievas, Tomás de Aquino e Vicente Valenti Junior
nestE PROJETO
Coordenação:
Flávia Leal
Elaboração:
Edson Ikê, Flávio Assis e Francione Oliveira Carvalho
Autoria deste texto: Francione Oliveira Carvalho
Identidade visual e ilustrações: Edson Ikê
Todos os direitos reservados.
SANTILLANA
Rua Padre Adelino, 758 – Belenzinho
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Brincar, encenar, cantar e comer para celebrar