UFJF – MÓDULO II DO PISM – TRIÊNIO 2012-2014 – REFERÊNCIA DE CORREÇÃO DA PROVA DE LITERATURAS PARA O DESENVOLVIMENTO E A RESPOSTA DAS QUESTÕES, SÓ SERÁ ADMITIDO USAR CANETA ESFEROGRÁFICA AZUL OU PRETA Texto I O trovador Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras... As primaveras de sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal... Intermitentemente... Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo Cantabona! Cantabona! Dlorom... Sou um tupi tangendo um alaúde! ANDRADE, Mário. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.p. 83. Questão 1 – Explique o sentido do verso “Sou um tupi tangendo um alaúde!”. (Limite sua resposta ao espaço abaixo). O alaúde, instrumento tipicamente europeu, está associado à figura do indígena, o que objetiva a construção de uma brasilidade. O verso reflete o movimento antropofágico, o qual absorve e filtra a cultura estrangeira e a une à brasileira. 1 UFJF – MÓDULO II DO PISM – TRIÊNIO 2012-2014 – REFERÊNCIA DE CORREÇÃO DA PROVA DE LITERATURAS PARA O DESENVOLVIMENTO E A RESPOSTA DAS QUESTÕES, SÓ SERÁ ADMITIDO USAR CANETA ESFEROGRÁFICA AZUL OU PRETA Texto II Vou-me Embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. p. 222. (ortografia atualizada) 2 UFJF – MÓDULO II DO PISM – TRIÊNIO 2012-2014 – REFERÊNCIA DE CORREÇÃO DA PROVA DE LITERATURAS PARA O DESENVOLVIMENTO E A RESPOSTA DAS QUESTÕES, SÓ SERÁ ADMITIDO USAR CANETA ESFEROGRÁFICA AZUL OU PRETA TEXTO III Mãos Dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. ANDRADE. Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. p. 80. Questão 2 – Com base na leitura comparativa dos textos II e III, responda aos itens a e b, a seguir: a) Explique como cada um dos textos responde ao escapismo e à fuga da realidade típicos do ideal romântico. (Limite sua resposta ao espaço abaixo). No texto II, o eu-lírico renega a realidade presente e idealiza o lugar ideal (Pasárgada) para viver. Nesse poema, Manuel Bandeira se vale do recurso da paródia para ironizar certas características da poesia romântica, como, por exemplo, a idealização da mulher ou o sentimento nacionalista. No texto III, Drummond nos apresenta um sujeito poético que critica o fazer literário em torno de uma realidade que não a atual. Valoriza-se a união, a solidariedade e o tempo presente. b) Identifique o que diferencia o ponto de vista do eu-lírico em “Pasárgada” (Texto II) e em “Mãos dadas” (Texto III). (Limite sua resposta ao espaço abaixo). Em “Pasárgada”, o eu-lírico manifesta desejo de ir para um lugar ideal, construído em sua mente, de modo a escapar dos problemas da realidade. Ele é individualista, contraditório e irônico, uma oposição ao eu-lírico de “Mãos dadas”, que se preocupa e quer ficar próximo aos seus semelhantes. No poema de Drummond, o eulírico acredita na função social da poesia. 3