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Cássia Schroeder Buitoni
Mayumi Watanabe Souza Lima:
a construção do espaço para a educação
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA A
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PARA OBTENÇÃO DO
TITULO DE MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PROJETO, ESPAÇO E CULTURA
ORIENTADORA: PROFA. DRA. VERA MARIA PALLAMIN
SÃO PAULO
2009
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
email: [email protected]
B932e Buitoni, Cássia Schroeder
Mayumi Watanabe Souza Lima: a construção do
espaço para a educação / Cássia Schroeder Buitoni.
--São Paulo, 2009.
226 p. : 194 il.
Dissertação (Mestrado – Área de Concentração:
Projeto, Espaço e Cultura) – FAUUSP.
Orientadora: Vera Maria Pallamin
1.Escolas(Arquitetura) 2.Crianças 3.Equipamento urbano
4.Espaço escolar – Produção – Uso 5.Participação
6.Lima, Mayumi Watanabe Souza I.Título
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CDU 727.1
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos os que contribuíram para a realização
desta pesquisa:
• Vera, minha orientadora.
• Dulcília e Ademir – meus pais, por tudo.
• Mariana Viégas, minha sócia no escritório, pelo apoio e amizade.
• Ana Cláudia Castilho Barone, pelos comentários precisos desde o
início do trabalho.
• Mário de Souza Lima, pela preservação da memória.
• Professores Celso Lamparelli e Reginaldo Ronconi, pela grande
contribuição na banca de qualificação.
• Professor Celso de Rui Beisiegel, arquitetas Odete Tomchinsky e
Vera Pastorello, à pedagoga Marta Grosbaum e ao arquiteto Sérgio
Ferro, pela atenção, pelos depoimentos e pelo empréstimo de
documentos de seus acervos particulares.
• Catarina Bessel, pelo auxílio na diagramação, e Jenny Laguna, pela
tradução do resumo.
• Professores e funcionários da FAUUSP.
• Andreza e equipe da Proart, pela atenção.
• Equipe do Centro Sérgio Buarque de Holanda, pela recepção
atenciosa e pelo auxílio à consulta do acervo, em especial a Carlos,
Gláucia, Leo, Aline e Patrícia.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
ABSTRACT
The central theme of this document is the work of the brazilian archi-
education of professionals at architectural institutions); the academic
tect Mayumi Watanabe de Souza Lima (1934-1994), with an emphasis
research and in the elaboration of her thought on the production and
in the discussion surrounding educational spaces.
usage of spaces based on everyday project experience. Her ideas on
As an architect with a career aimed at planning, designing and
the relationship between children, space and education are described
constructing public facilities for the education of children and youth,
in two pilot experiences: the enlargement of the João Kopke school
she acted on a variety of public institutions (local, state and federal)
expansion (São Paulo, 1976-78) and the construction of two public
and developed specific procedures, where the users and their particular
schools with the active participation of the population (Jardim Fortaleza
way of using the space were the central focus of the architectural de-
and Bairro da Varginha, São Paulo, 1983-84) and in two reflective books:
sign. Constantly reflecting on projects, Mayumi defended the concep-
Espaços educativos, uso e construção (1986) and A cidade e a criança (1989).
tualization and usage of a school space with an educational emphasis.
Additionally, this work examines Cedec’s achievements (Centro de
In her activities, she sought to teach school users to critically “interpret
Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários), which Mayumi direc-
the space”: understand how the space was built, how it reflected the
ted and coordinated during Luiza Erundina’s mayorship of the city of São
structure of society, to understand oneself as an individual in the world,
Paulo (1989-1992). Cedec developed research about the production
to see oneself as capable of transforming the space and of building
of urban equipment, and ran a factory of pre-fabricated ferrocement
again. Her objective was to shape citizens with critical consciences
equipments such as trash cans, bus shelters, banks and components
able to actively participate in the construction of democracy.
for the construction of buildings such as schools, childcare and social
The starting point was the evaluation of the material uncovered at
centers. Mayumi’s work on citizenship development at Cedec was
the architect’s collection (currently found at the Centro de Memória Sérgio
unprecedented. Amongst other activities, it included the spread of
Buarque de Holanda, at the Fundação Perseu Abramo, São Paulo) and the inter-
information to the population through the use of educational folders
viewing of the architect’s work colleagues. The documents that were
and meetings with the communities where the constructions would
selected (texts, photographs, articles, manuscripts, projects, technical
take place.
illustrations, reports and other documents) were annexed to this in the
form of digital files stored on dvd.
The essay examines the architect’s professional path, attempting
Key words: Mayumi Watanabe Souza Lima; planning; architecture and education;
to understand: her origins and education, her field of action (in the
public facilities; educational facilities – usage and production; participation and
production of facilities for education at public institutions and in the
citizenship; architectural education; Cedec.
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
RESUMO
O tema desta pesquisa é a obra da arquiteta Mayumi Watanabe de Souza
(em órgãos públicos na produção de equipamentos para a educação
Lima (1934-1994), com enfoque em sua discussão sobre a construção
e em escolas de arquitetura na formação de profissionais); a pesquisa
dos espaços para a educação.
acadêmica e a elaboração de seu pensamento sobre a produção e o
Arquiteta com carreira dedicada ao planejamento, projeto e
uso dos espaços a partir da prática cotidiana de projeto. Suas idéias
construção de equipamentos públicos para a educação de crianças e
sobre a relação da criança com o espaço e a educação são ilustradas em
de jovens, atuou em diversos órgãos públicos (municipais, estaduais e
duas experiências piloto: a ampliação da escola João Kopke (São Paulo,
federais) e desenvolveu abordagens específicas de atuação, onde o foco
1976-78) e a construção de duas escolas públicas com a participação da
de projeto era o usuário e sua maneira particular de apropriar-se do
população (Jardim Fortaleza e Bairro da Varginha, São Paulo, 1983-84)
espaço. Em trabalho de reflexão constante sobre a prática de projeto,
e nos dois livros de reflexão: Espaços educativos, uso e construção (1986) e A
Mayumi defendia a concepção e o uso do espaço de uma escola com um
cidade e a criança (1989).
caráter educativo. Em suas atividades, buscava ensinar os usuários das
Examina-se ainda a atuação do Cedec – Centro de Desenvolvimento
escolas a “ler o espaço” de maneira crítica: compreender como aquele
de Equipamentos Urbanos e Comunitários, dirigido e coordenado
espaço foi construído, como ele reflete a organização da sociedade,
por Mayumi durante a gestão de Luiza Erundina na Prefeitura de São
perceber-se como sujeito no mundo, saber-se capaz de transformar o
Paulo (1989-1992). Além de desenvolver pesquisas sobre a produção
espaço e de construir o novo. Seu objetivo era a formação de cidadãos
de equipamentos urbanos, o Cedec incluía uma fábrica de elementos
com consciência crítica para a participação ativa na construção do
pré-fabricados de argamassa armada que produziu equipamentos como
espaço da democracia.
lixeiras, abrigos de ônibus, bancos e componentes para a construção
O ponto de partida foi o levantamento do material existente no
de edifícios como escolas, creches e centros de convivências. Mayumi
acervo da arquiteta (que atualmente encontra-se no Centro de Memória
realizou no Cedec um trabalho inédito de formação para a cidadania
Sérgio Buarque de Holanda, na Fundação Perseu Abramo, São Paulo)
que incluía, dentre outras atividades, divulgação de informações para a
e a realização de entrevistas com colegas de trabalho da arquiteta. Os
população através de folders explicativos e reuniões com as comunida-
documentos selecionados no acervo (textos, fotos, publicações, manus-
des onde as obras seriam realizadas.
critos, projetos, desenhos técnicos, relatórios e outros) foram anexados
ao trabalho na forma de arquivos digitais gravados em dvd.
A dissertação examina a trajetória profissional da arquiteta, buscando compreender: suas origens e formação; o campo de atuação
Palavras chave: Mayumi Watanabe Souza Lima; planejamento, arquitetura e
educação; equipamentos públicos; espaços educativos – uso e produção; participação
e cidadania; ensino de arquitetura; Cedec.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
SUMÁRIO
11
APRESENTAÇÃO
69
CAPÍTULO 3: CEDEC – A CONSTRUÇÃO DO EQUIPAMENTO
PÚBLICO COMO CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA
17
CAPÍTULO 1: TRAJETÓRIA EM CONSTRUÇÃO
70
CONTEXTO
18ORIGENS
74O CEDEC
19
FORMAÇÃO
76
20
BRASÍLIA E A CONSTRUÇÃO DO NOVO PAÍS
79DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
24
PLANEJAMENTO E PROJETO
80O DESENHO DOS EQUIPAMENTOS URBANOS COLETIVOS
26
PROJETOS PARTICIPATIVOS
84O PROJETO DAS ESCOLAS EM ARGAMASSA ARMADA
LELÉ E A ARGAMASSA ARMADA
27ENSINO DE ARQUITETURA: A FUNÇÃO SOCIAL DO ARQUITETO
86
PRODUÇÃO DO CEDEC: PROGRAMAS
28
FAU SANTOS, 1970-71
87
COMUNICAÇÃO COM A POPULAÇÃO USUÁRIA
31
FAU SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, 1972-74
90IDENTIFICAÇÃO DO EQUIPAMENTO PÚBLICO COM OS USUÁRIOS
33
EESC-USP, 1987-1993
92
34
PESQUISA ACADÊMICA
93ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DA FÁBRICA
40
CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS
96REALIZAÇÕES
PARTICIPAÇÃO E MANUTENÇÃO
100 CONTINUIDADE
43
CAPÍTULO 2: REFLEXÃO E PRÁTICA SOBRE A RELAÇÃO
100REGISTRO DOS PROJETOS REALIZADOS
CRIANÇA-ESPAÇO
45EEPG JOÃO KOPKE (1976-78)
55
129 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BAIRRO DA VARGINHA E JARDIM FORTALEZA:
DUAS EXPERIÊNCIAS DE CONSTRUÇÃO COM A
135 BIBLIOGRAFIA
PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO (1983-84)
ANEXOS
58ESPAÇOS EDUCATIVOS – USO E CONSTRUÇÃO (1986)
141
64A CIDADE E A CRIANÇA (1989)
141ANEXO 1: MAYUMI WATANABE SOUZA LIMA – CURRÍCULO
159ANEXO 2: CEDEC – MATERIAL DE COMUNICAÇÃO
217ANEXO 3: ACERVOS DIGITALIZADOS
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
10
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
APRESENTAÇÃO
A intenção inicial que me motivou a realizar esta pesquisa de mestrado
é de toda a população? Uma resposta comum seria de que “o bairro é
foi desenvolver uma reflexão sobre o uso dos espaços nas escolas pú-
muito pobre e as pessoas não têm educação”. Mas não é este o lugar
blicas. Essa questão me acompanha há algum tempo.
onde deveriam ser educadas?
Em meu trabalho final de graduação , fiz um estudo dos espaços
Na época do trabalho de gradução os textos de Mayumi Watanabe
de três escolas públicas no Jardim Pantanal – bairro periférico de baixa
Souza Lima (1934-1994) já publicados sobre a criança e o uso do es-
renda na zona leste de São Paulo. O que mais me chamou a atenção nos
paço foram muito importantes para analisar o espaço dessas escolas e
três casos era a forma como os espaços eram utilizados por alunos e
elaborar possibilidades de intervenção. Ela denunciava como o espaço
professores. Todas as escolas possuíam muitas grades – nos corredores,
pode ser um instrumento de dominação e controle pela maneira como
nas áreas de acesso, no pátio, nas janelas. Na lógica de funcionamento
é organizado e utilizado – o que era muito evidente no caso das escolas
dessas escolas, as grades servem para separar a circulação de pais, de
no Jardim Pantanal. Defendia a criação de espaços que suportassem
alunos e de professores, isolando os espaços que não devem ser aces-
a intervenção das crianças, incentivando a sua participação ativa na
sados por uns ou por outros. Ao invés de fazer um convite à entrada
apropriação do equipamento público. Atenta à qualidade necessária a
da população, a escola se isola da cidade por muros altos. O espaço das
um espaço educativo, Mayumi preocupava-se, por exemplo, com os
crianças dentro de cada escola era sempre restrito e claramente delimi-
símbolos gráficos que colocava na porta da sala de aula de uma escola.
tado – por grades. Vários espaços externos encontravam-se “abandona-
Através de um material gráfico ela criava um canal de comunicação
dos”, sem uso e sem possibilidade de acesso. Em todas elas, sinais de
com os alunos. Ao mesmo tempo, através de um procedimento di-
depredação por toda parte: vidros quebrados, paredes pichadas, portas
dático, ela educava as crianças. É um processo de mão dupla: através
sem maçanetas, carteiras e cadeiras em péssimo estado, sanitários sem
do espaço ela educava as crianças e através da educação ela revelava o
torneiras, buracos no piso, falta de lâmpadas etc. O edifício que foi
espaço. Essa precisão no tratamento do detalhe que influi na qualidade
construído para educar crianças se assemelhava mais a uma prisão. As
de um espaço contribui para a formação de um olhar atento na análise
quadras esportivas eram praticamente “invadidas” pelos meninos do
do espaço projetado.
bairro, apesar da existência de campinhos de futebol na região. Um dos
motivos alegados para tantas grades era evitar o contato dos alunos com
os “invasores”. Como é possível ensinar o que é liberdade e democracia
num ambiente como esse? Por que esses espaços são ocupados dessa
maneira? Por que tão pouco respeito pelo equipamento público, que
Desenvolvido em 2000 na FAUUSP sob orientação da professora Vera Maria Pallamin.
12
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Mayumi publicou dois livros: Espaços Educativos, uso e construção (Brasília, MEC/CEDATE, 1986)
e A Cidade e a Criança (São Paulo, Nobel, 1989). O primeiro é fruto de uma pesquisa sobre o
uso dos espaços das escolas públicas, contratada pelo governo federal em 1985. O segundo
reúne reflexões da arquiteta sobre a relação da criança com o espaço, a partir de suas
experiências de projeto, observações de atividades das crianças nas escolas e de leituras de
diversos teóricos, como Piaget, Bronovski, Sommer, etc.
Conforme depoimento de Ana Cláudia Barone à autora em 10/02/2009.
Já formada, no trabalho cotidiano do escritório com minhas sócias,
participaram da fundação do PT – reuniu em 2004 o acervo deixado
tive oportunidade de fazer projetos de reforma, ampliação e de restauro
pelos pais e doou-o para a Fundação. O acervo inclui livros, fotos,
de edifícios escolares para a FDE – Fundação para o Desenvolvimento
textos, revistas, filmes, cartas, manuscritos, documentos, projetos etc.,
da Educação. Nas visitas às escolas públicas onde seriam realizados os
guardados em caixas arquivo. O material ainda não foi catalogado,
projetos, nos deparávamos com as mesmas questões de uso dos espaços,
organizado ou processado. Uma etapa importante deste trabalho foi a
depredação, presença de grades... É difícil projetar nessas condições,
pesquisa documental do acervo para levantar as informações relativas à
agravadas ainda pelas normas e padrões construtivos estabelecidos e
questão do uso do espaço. Os documentos selecionados foram digitali-
pelas restrições de prazo e de orçamento para a execução das obras.
zados e organizados com o objetivo subsidiar a pesquisa e contribuir
Por mais que o projeto crie espaços agradáveis e estimulantes, sabemos
para tornar pública a obra da arquiteta. Essa coleta de dados primários
que professores, alunos e funcionários têm seus hábitos de uso dos
forneceu as bases para o desenvolvimento da pesquisa. Foram ainda
espaços profundamente enraizados. A mudança de postura em relação
realizadas entrevistas para complementar as informações do Acervo.
aos espaços educativos exige muito mais do que um projeto com boas
Sérgio Souza Lima, preocupado com o registro do trabalho da
intenções. Nesse sentido, o trabalho de Mayumi aponta possibilidades
esposa e companheira de atuação profissional e política, organizou em
de reflexão para uma atuação mais crítica e transformadora. Logo, um
1995 a publicação póstuma de uma coletânea de textos escritos por
caminho que se mostrou oportuno para uma pesquisa sobre o uso dos
Mayumi. O livro abrange um período de produção que vai da disserta-
espaços nas escolas públicas foi o de retomar o pensamento e a obra
ção de mestrado (defendida na Universidade de Brasília em 1965) até
da arquiteta.
os textos produzidos para o projeto de educação ambiental ligado à
Ao decidir pesquisar o trabalho de Mayumi, descobri que seu
despoluição do Rio Tietê (1994). A seleção de textos é uma amostra da
acervo completo encontrava-se disponível no Centro de Memória
vasta produção teórica da arquiteta – dentre textos preparados para se-
Sérgio Buarque de Holanda, na Fundação Perseu Abramo, em São
minários e palestras, memoriais de apresentação de projetos e pesquisa
Paulo. O Projeto Memória & História foi criado pela Fundação em 1997 com
acadêmica – que se encontra sob a guarda do Centro Sérgio Buarque
o objetivo de “estimular a pesquisa acadêmica sobre a história social
de Holanda.
bra­sileira e contribuir para recuperar a documentação produzida pelo
Partido dos Trabalhadores, por militantes, lideranças e dirigentes partidários e pelos movimentos sociais a ele relacionados.” Mário Souza
Lima, filho do casal de arquitetos – Mayumi e Sérgio Souza Lima, que
Conforme consultado em www.fpa.org.br em 15/02/2009.
A pesquisa no acervo do Centro Sérgio Buarque de Holanda produziu um conjunto
de documentos digitalizados que inclui todos os textos citados na dissertação e pode ser
consultado no dvd anexo no final deste trabalho.
Foram entrevistados no segundo semestre de 2008: Mário Souza Lima (filho da arquiteta), a pedagoga Marta Grosbaum e as arquitetas Vera Pastorello e Odete Tomchinsky,
colaboradoras de Mayumi por mais de 20 anos.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
13
Inicialmente tratei de reconstituir a trajetória profissional da arquiteta, o que revelou algumas facetas até então desconhecidas. Mayumi
quem... No trabalho da arquiteta, a reflexão sobre o uso do espaço é
inseparável da questão da produção do mesmo.
exerceu atividades de planejamento e projeto de equipamentos para a
Mayumi não estava sozinha – ela fez parte de uma geração que
educação em diversos órgãos públicos, municipais, estaduais e federais.
repensou a atuação profissional do arquiteto a partir de uma crítica ao
Paralelamente, envolveu-se com a atividade de ensino de arquitetura.
modo de produção capitalista. Um dos representantes mais conhecidos
A carreira docente a princípio não teria interesse especial para esta
desta geração é o arquiteto Sérgio Ferro, que publicou vários textos
pesquisa, que enfoca na questão do uso dos espaços para a educação de
e faz parte do “grupo” que se convencionou chamar de Arquitetura
crianças. No entanto, o estudo um pouco mais aprofundado das ques-
Nova. Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre, Flávio Império, Mayumi e Sérgio
tões de ensino de arquitetura revelou muitos aspectos da construção da
Souza Lima freqüentavam um grupo de estudos marxistas e eram filia-
postura crítica de projeto da arquiteta. A atividade docente de Mayumi
dos ao Partido Comunista.
estava diretamente ligada ao seu questionamento político e às suas
Ao terminar o curso de arquitetura na FAUUSP, no início da
atividades nos órgãos públicos. Os exercícios propostos para os estu-
década de 1960, esses cinco arquitetos envolveram-se com o ensino
dantes de arquitetura eram em sua maioria projetos de equipamentos
de arquitetura – Mayumi e Sérgio na recém-criada Universidade de
públicos, abrindo a discussão para a questão política do planejamento
Brasília e os demais na própria FAUUSP. Configurou-se um grupo
urbano e da oferta de serviços públicos de qualidade à população de
com interesses comuns – a preocupação com a formação do arquiteto
baixa renda, privada do direito à cidade. Os programas das disciplinas
para uma atuação consciente na transformação das condições sociais,
foram incluídos nesta pesquisa, por serem manifestos da postura de
políticas e econômicas do país.
atuação da arquiteta.
No contexto do processo de industrialização acelerada, incentivada
Sua atuação profissional possui um sentido amplo de formação,
pelo governo federal desde a década de 1930, intensifica-se a migração
em todos os níveis. Mayumi trabalhava o aspecto global da formação
da população do campo para os grandes centros urbanos, gerando imen-
como ferramenta de transformação para a emancipação de todos os
so contingente de mão de obra barata para trabalhar nas indústrias e na
envolvidos – estudantes de arquitetura, técnicos a serviço do Estado,
construção da nova capital do país e de grandes obras de infra-estrutura
operários da construção, professores, crianças...
e equipamentos públicos. Com a afirmação da cultura nacional através
A questão da formação é fundamental e está articulada à reflexão
da música, das artes plásticas e do cinema gera-se uma espécie de “caldo
sobre a produção e o uso dos espaços educativos. A análise que Mayumi
de cultura” que forma os intelectuais voltados para uma reflexão sobre
fez dos espaços parte invariavelmente da crítica à forma como esses
as questões de desenvolvimento, atentos às condições da nova classe
espaços são produzidos – onde estão localizados, como são projeta-
proletária urbana – habitante da periferia das grandes cidades, privada
dos, como é feito o programa, como são construídos, por quem, para
do acesso aos direitos básicos de saúde, educação, moradia e transporte.
14
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Esse grupo de arquitetos acreditava que o país caminhava para
A dissertação foi estruturada em três capítulos.
o socialismo e estava empenhado em propor formas de atuação que
O primeiro capítulo apresenta um breve histórico da carreira da
contribuíssem para a construção dessa nova sociedade. A ditadura mi-
arquiteta, buscando compreender suas origens, o seu campo de atua-
litar instaurada em 1964 acabou com essas esperanças. Alguns partiram
ção e a elaboração de seu discurso sobre a construção do espaço para a
para a luta armada. Mayumi persistiu buscando maneiras de continuar
educação. É possível perceber como as questões relativas à produção e
trabalhando com esse sentido de formação. Ela escolheu a carreira
ao uso dos espaços são desenvolvidas nas diferentes atividades – ensino
“anônima” dentro dos órgãos públicos como forma de atuar na cons-
de arquitetura, pesquisa acadêmica, atuação em órgãos públicos, pla-
trução de uma nova sociedade. Em todas as instituições públicas em
nejamento e projeto de redes escolares públicas.
que trabalhou, buscava sempre oportunidades de transformar a ordem
O segundo capítulo destaca quatro momentos em que a arquiteta
vigente para a conquista da participação da população nos processos de
pôde trabalhar com alguma liberdade as questões relativas ao uso e à
decisão – transformar essas instituições por dentro com um sentido de
apropriação dos espaços pelas crianças, elaborando importante reflexão
democratização. Batalhava ainda pelo direito de toda a população aos
a partir de sua prática profissional. Relata as experiências de projeto,
serviços públicos de qualidade. Era uma revolucionária paciente.
realizadas no âmbito da Conesp, com a participação do usuário: a
Com a abertura política a partir do final da década de 1970, as
ampliação da escola João Kopke com atividades lúdicas envolvendo os
oportunidades de atuação com esse sentido revolucionário que Mayumi
alunos (São Paulo, 1976-78) e a construção de duas escolas com a par-
tinha se ampliam. Mas é somente no início da década de 1990, durante
ticipação da população na gestão da obra (Jardim Fortaleza e Bairro da
a primeira gestão petista na prefeitura da cidade de São Paulo, que ela
Varginha, São Paulo, 1983-84). A partir dessas experiências práticas e de
conseguirá o espaço durante tanto tempo batalhado para experimentar
suas leituras teóricas, Mayumi publicou dois livros com suas observa-
com mais liberdade a aplicação dos princípios que sempre defendeu ao
ções: Espaços educativos – uso e construção (1986) e A cidade e a criança (1989).
longo de toda a carreira.
O terceiro capítulo é dedicado ao CEDEC – Centro de
Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários, proje-
O título propositalmente ambíguo desta dissertação – “a constru-
to coordenado por Mayumi durante a gestão de Luiza Erundina na
ção do espaço para a educação” – remete a dois aspectos fundamentais
Prefeitura de São Paulo (1989-1992). As atividades do CEDEC abran-
da obra de Mayumi: a reflexão sobre a construção (obra) do espaço
giam pesquisa de materiais e de sistemas construtivos; treinamento e
físico da cidade e a construção de “espaços” onde seja possível essa
formação de pessoal; produção de elementos pré-fabricados de arga-
reflexão (no sentido de criação de oportunidades, abertura para a
massa armada; planejamento, projeto e execução de obras. A fábrica
realização de experiências).
de elementos de argamassa armada produziu equipamentos como
lixeiras, bancos e componentes para a construção de edifícios como
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
15
escolas, creches e centros de convivência. Mayumi desenvolveu no
Cedec um trabalho inédito de formação para a cidadania que incluía,
dentre outras atividades, divulgação de informações para a população
através de folders explicativos e reuniões com as comunidades onde as
obras seriam realizadas.
Este trabalho de mestrado tem um caráter de apresentação da obra
de Mayumi Watanabe Souza Lima. A aproximação inicial das questões
colocadas pela arquiteta, somada à existência dos inúmeros documentos
de seu acervo, aponta diversos projetos de pesquisa possíveis: o ensino
crítico de arquitetura; a ação do Estado na construção de equipamentos
públicos e a atuação do arquiteto dentro dos órgãos públicos; a importância do planejamento para a qualidade do equipamento público;
a participação da população na construção da cidade; a importância do
Cedec em seu contexto político, etc. A retomada de suas idéias – ainda
muito atuais – abre um campo de reflexão sobre o sentido da atuação
das novas gerações de arquitetos frente às condições da sociedade global
capitalista. Espero que este trabalho possa oferecer uma contribuição
para novas leituras do trabalho de Mayumi e para a reflexão sobre novas
formas de encarar, nos dias de hoje, os desafios que ela propôs.
Além do material já digitalizado para esta pesquisa e do acervo que se encontra na
Fundação Perseu Abramo, outra fonte documental importante para futuras pesquisas é o
arquivo da FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação, que abriga todos os
documentos da antiga Conesp, onde Mayumi trabalhou por muitos anos. Provavelmente
os relatórios de projetos, bem como as propostas para políticas de construção que Mayumi
elaborou como Superintendente de Planejamento encontram-se arquivados na FDE. Seria
possível ainda buscar outros documentos importantes nos acervos do Premen, da Emurb e
de órgãos públicos em que Mayumi trabalhou – mas é necessário localizar estes acervos (se
é que eles foram preservados). Um trabalho a ser realizado por futuros pesquisadores...
16
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CAPÍTULO 1
TRAJETÓRIA EM CONSTRUÇÃO
Quem foi Mayumi Watanabe Souza Lima (1934-1994)?
ORIGENS
Arquiteta com carreira dedicada ao projeto e planejamento de espaços
para a educação de crianças e jovens, Mayumi desenvolveu abordagens
Mayumi Watanabe nasceu em 5 de dezembro de 1934 em Tóquio,
específicas de atuação, tendo realizado algumas experiências onde o
no Japão. Seu pai, Minoru Watanabe, era jornalista e sua mãe, Yuri,
foco de projeto era o usuário e sua maneira de apropriar-se do espaço.
trabalhava no teatro pertencente ao Grupo de Arte Proletária. Ambos
O ponto de partida para compreender sua trajetória profissional
participavam de organizações culturais de esquerda em Tóquio. Minoru
foi o currículo organizado pela própria arquiteta em 1993, incluído
escrevia na revista marxista “Bandeira Vermelha”. Chegou a ser preso
no livro Arquitetura e Educação. A lista de atividades desenvolvidas ao
em 1930 por um mês. Por causa da perseguição do governo aos inte-
longo da carreira é imensa. Definimos para esta pesquisa três eixos
lectuais marxistas no país, Minoru e Yuri Watanabe decidiram migrar
principais de atuação: ensino de arquitetura, atividades de projeto e
com as filhas pequenas, Sayumi e Mayumi, para o Brasil.
de planejamento para a construção de equipamentos públicos (em
Embarcaram em março de 1938 no La Plata Maru, último navio
sua maioria, equipamentos para a educação de crianças e jovens) e
que partiu do Japão para a América do Sul. Durante a viagem, a mãe
produção teórica. Conforme veremos mais adiante, as atividades de
de Mayumi dava aulas de corte e costura para os viajantes do navio.
ensino, de projeto e de reflexão eram muito ligadas entre si. Prática e
Minoru, que além de jornalista era também caricaturista, produziu
teoria eram indissociáveis na sua atuação profissional.
mais tarde uma série de aquarelas relatando a viagem e os primeiros
É importante notar que a maior parte das atividades de projeto e
anos da família no Brasil.
planejamento foi desenvolvida em cargos técnico-administrativos em ór-
Ao chegar, a família viveu em fazendas em Lins e Guaratinguetá,
gãos públicos, ou em consultorias contratadas por estes mesmos órgãos.
até março de 1940, quando se mudou para São Paulo. As escolas que
Além de discutir a maneira como os espaços para a educação eram pro-
Mayumi e sua irmã mais velha, Sayumi, freqüentaram no interior fica-
jetados pelos técnicos e utilizados pela população, Mayumi questionava
vam distantes de sua casa, sendo longo o percurso diário de caminhada
também a forma como o Estado atuava na produção desses espaços.
para poder estudar. Os colegas arquitetos relacionam esse fato da in-
É fundamental entender o discurso da arquiteta em seu contexto
histórico, visto que Mayumi sempre atuou posicionando-se claramente
fância de Mayumi a sua preocupação com a localização e acessibilidade
das escolas em seu trabalho de planejamento da rede escolar.
frente à realidade política, econômica e social do país.
LIMA, Sérgio Souza (org.). Arquitetura e Educação, Editora Nobel, São Paulo, 1995, pp.244259. O documento original do currículo encontra-se no acervo da arquiteta no Centro de
Memória Sérgio Buarque de Holanda, Fundação Perseu Abramo, São Paulo, SP – Acervo
Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 37. Ver anexo 1, pp.143-157.
18
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Algumas das aquarelas foram publicadas no livro organizado por Sérgio Souza Lima,
Mayumi Watanabe de Souza Lima – arquitetura e educação, pp.24-30. São Paulo, Studio Nobel, 1995.
Conforme comentário da arq. Odete Tomchinsky em entrevista à autora, em
20/10/2008.
Durante a II Guerra Mundial o Brasil rompeu relações com o
cultura e da história do Japão para ilustrar diferenças de comporta-
Japão, tornando a vida dos imigrantes japoneses mais difícil no país.
mento entre diferentes civilizações em diferentes períodos da história.
Já não havia correio e os periódicos japoneses não chegavam ao Brasil.
Tratava de explicitar a diversidade cultural dos próprios alunos para
Os imigrantes japoneses ficaram isolados de seu país de origem. E,
criar uma relação de respeito com as origens de cada um.
ao mesmo tempo, é discriminado no novo país por ser estrangeiro e
oriundo de um país inimigo de guerra.
Yuri faleceu em março de 1945, pouco tempo antes do fim da
FORMAÇÃO
guerra, após alguns anos adoentada. Minoru casou-se novamente em
1951 com Saki, dona de uma pensão em São Paulo. Mayumi, que sem-
Em 1956, Mayumi iniciou o curso de arquitetura na FAUUSP (Faculdade
pre fora boa aluna na escola, dava aulas de reforço para as crianças da
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) e naturali-
pensão. Desde pequena já demonstrava aptidão e gosto pela atividade
zou-se brasileira.
de ensino.
Foi diretora de publicações do GFAU (Grêmio da Faculdade de
A origem japonesa é um traço muito marcante na formação de
Arquitetura e Urbanismo), responsável pela publicação do jornal
Mayumi . Assim como o pai, Mayumi gostava de desenhar e utilizava o
“Estudos”, de 1956 a 1957. O jornal publicava em português textos tra-
desenho como um instrumento para a comunicação. Tinha ainda um
duzidos de revistas estrangeiras de arquitetura, trazendo para o âmbito
grande apreço pelas atividades manuais, pelo ato do fazer que encerra
da Universidade as discussões internacionais das idéias de importantes
em si um ato de re-criação do mundo. A observação dos detalhes e dos
arquitetos e intelectuais. Freqüentou na mesma época o curso de
fenômenos da natureza leva ao aprendizado – a natureza aparece como
extensão universitária “Introdução às Ciências Sociais” na Escola de
algo que educa. Essa idéia é muito clara no trabalho de Mayumi, que
Sociologia e Política de São Paulo.
utilizava em suas aulas de tecnologia para estudantes de arquitetura
Na faculdade, Mayumi conheceu o estudante de arquitetura Sérgio
muitos exemplos de estruturas orgânicas naturais. Nas atividades lú-
Souza Lima, com quem se casou em 16 de dezembro de 1961 (um
dico-educativas com crianças utilizava personagens do mundo animal
ano após o fim do curso de arquitetura), no Pavilhão Japonês (Parque
como metáfora para as relações entre os seres humanos.Veremos ainda
do Ibirapuera). Foram grandes companheiros durante toda a vida,
que em suas atividades com crianças Mayumi utilizava exemplos da
na atuação profissional, na vida acadêmica e na militância política de
Conforme informações no livro organizado por Sérgio Souza Lima Mayumi Watanabe de Souza
Lima – arquitetura e educação, pp.13-30. São Paulo, Studio Nobel, 1995.
A Biblioteca da FAUUSP possui apenas o exemplar do número 2 de Estudos, que contém
dois textos: “Os valores espirituais da arquitetura moderna”, de Bruno Zevi e “Plano para
um ensino de arquitetura”, de Walter Gropius. Para o número 3 anunciava-se a publicação
de textos de Max Bill, Mies van der Rohe, Alvar Aalto, Oliver Hill e Gino Severini.
Conforme depoimento de Mário Souza Lima à autora, em 20/10/2008.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
19
esquerda. Colaborando com Sérgio, executou diversos projetos de ar-
BRASÍLIA E A CONSTRUÇÃO DO NOVO PAÍS
quitetura, como escolas públicas, residências e mesmo o detalhamento
e coordenação das obras do MASP para a arquiteta Lina Bo Bardi.
A lei que criou a UnB (Universidade de Brasília) foi sancionada
Mayumi foi estagiária de agosto de 1958 a maio de 1960 no escritó-
em 15 de dezembro de 1961, pelo presidente João Goulart. O Plano
rio de Vilanova Artigas (1915-1985), e de novembro de 1959 a julho de
Orientador da universidade foi elaborado pelo educador Anísio
1961 no escritório de Joaquim Guedes e Lina Bo Bardi, onde trabalhava
Teixeira (1900-1971)e pelo antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997).
também, no mesmo período, o arquiteto e cenógrafo Flávio Império
Na primeira reunião do conselho diretor, Darcy Ribeiro foi eleito pre-
(1935-1985), então estudante. Artigas na época era o grande “mestre”
sidente do colegiado e reitor da nova universidade.
daquela geração, um dos professores mais admirado pelos estudantes,
As atividades foram iniciadas com a implantação de três “cursos-
uma referência da chamada “Escola Paulista”. Artigas construía casas,
tronco” que constituíram o embrião da UnB: direito, economia e
escolas e outros equipamentos públicos em todo o país. A partir de
administração; arquitetura e urbanismo; e letras brasileiras (abrangen-
1957 coordenou, juntamente com Rino Levi (1901-1965), a comissão
do literatura e jornalismo). As primeiras aulas foram ministradas em
responsável pela elaboração da Reforma Curricular, que estabeleceu o
um dos prédios da Esplanada dos Ministérios, enquanto se iniciava o
novo currículo do curso de arquitetura da FAUUSP a partir de 1962. Foi
projeto e a construção da sede da universidade.
o grande mentor dessa geração formada no início dos anos 1960. Por
Darcy convocou grandes cientistas e intelectuais brasileiros para
indicação de Artigas, em 1962 Mayumi e Sérgio Souza Lima vão para
montar a universidade. O propósito era montar um novo modelo de
Brasília cursar mestrado na UnB (Universidade de Brasília).
ensino, que partisse da reflexão sobre a situação de subdesenvolvimento do país para propor uma transformação da realidade nacional, como
aponta Paulo Freire:
Essa forma de pensar o Brasil como sujeito que levava a uma necessária integração com a realidade nacional, vai caracterizar a ação
da Universidade de Brasília que, fugindo obviamente à importação
de modelos alienados, busca um saber autêntico, por isso comprometido. Sua preocupação não era, assim, a de formar bacharéis ver-
Segundo o filho, a paixão pela discussão política e a luta por uma sociedade melhor
eram pontos fortes de união do casal. [Mário Souza Lima em depoimento à autora,
13/10/2008.]
Souza Lima, Mayumi Watanabe. Aspectos da habitação urbana – dissertação de mestrado, p.61.
Brasília, UnB, 1965. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 16.
20
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
bosos, nem a de formar técnicos tecnicistas. Inserindo-se cada vez
mais na realidade nacional, sua preocupação era contribuir para a
RIBEIRO, Darcy. Plano Orientador da Universidade de Brasília. Brasília, UnB, 1962.
transformação da realidade, à base de uma verdadeira compreensão
e João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé (1932-), dentre outros. Eram
de seu processo.10
os mesmos arquitetos que haviam participado da construção da
nova capital e que, ao mesmo tempo em que davam aulas no curso
A estrutura do curso de arquitetura partia do modelo de um Instituto
de arquitetura, faziam no Ceplan (Centro de Planejamento da UnB)
Central de Artes (ICA) com ciclo básico de 2 anos, seguido por ciclo
os trabalhos de projeto e de construção da sede da universidade. “Era
profissionalizante de especialização: arquitetura ou artes plásticas, co-
uma escola em construção, no meio de universidade em construção,
municações, teatro, cinema, etc. Ou seja, a escola de arquitetura era um
no meio de uma cidade em construção”12 – enquanto se construía o
departamento dentro do ICA, denominado “Arquitetura e Artesanato”.
espaço físico da UnB, encontrava-se também em elaboração a estrutura
Era uma Universidade que nascia da idéia de cultura e de conhecimen-
do que deveria ser o ensino universitário no país.
to coletivo:
Podemos destacar duas particularidades do ensino de arquitetura
(...) essa Universidade parte da idéia de Universidade, da idéia de
em Brasília. A primeira é que Niemeyer enfatizava a importância da
cultura, do conhecimento, da tecnologia, da produção do saber en-
construção no ensino. Estudar a história da arquitetura significava estu-
quanto um todo. O curso de arquitetura também tem essa totalidade.
dar como se construíram os edifícios – por exemplo como os egípcios
Ao contrário, a Faculdade de Arquitetura, aqui em São Paulo, como
construíram as pirâmides. Muitas das aulas eram dadas no canteiro
aliás, todas as outras faculdade, surgem como escolas, mais ou me-
de obras da universidade para que os alunos conhecessem todos os
nos isoladas, agregadas a uma coisa que se chama universidade. Na
métodos construtivos empregados.
verdade, essa unidade não existe: há o curso disso, o curso daquilo
A segunda refere-se ao destaque dado ao ensino de Urbanismo
(...). É outro o ponto de partida da Universidade de Brasília. (...) a
(que na FAUUSP só começava a partir do quarto ano) – desde o
segmentação ocorre depois da unidade existente. A origem do curso
primeiro ano os estudos estavam voltados para a compreensão da
vem como um todo, então é discutido que parcelamento se dará.
formação das cidades. Na época Brasília “era o que havia de mais
11
avançado em termos de urbanismo”, então partia-se da discussão
O departamento de arquitetura tinha como professores Lucio Costa
levantada pela construção da própria cidade como referência para o
(1902-1998), Oscar Niemeyer (1908-), Edgar Graeff (1921-1990)
ensino. Uma das disciplinas era “Cidade e Cultura”, que tratava da
história social desde a tendência associativa do homem primitivo até
10 FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 2008, p.107.
11 Depoimento de Mayumi Souza Lima a Gelson Pinto in PINTO, Gelson Almeida. A prática
do projeto no ensino de arquitetura: investigação sobre algumas experiências. Dissertação de Mestrado. São
Carlos, EESC-USP, 1989, vol.2, p.163)
12 A frase foi encontrada no material do acervo em meio a anotações de Mayumi (pela
caligrafia provavelmente é de sua autoria) sobre o ensino de arquitetura no Brasil. Foi
reproduzida aqui por sintetizar muito bem o que era o clima da época.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
21
as discussões da Carta de Atenas, passando pelo projeto de Brasília. Era
nos países do leste europeu (Polônia, Tchecoslováquia, Alemanha
fundamental fazer com que o aluno tivesse uma compreensão crítica
Oriental e União Soviética). Foi montada em Brasília uma fábrica de
da realidade, que ele compreendesse o contexto onde se o projeto do
pré-moldados para a construção dos projetos do Ceplan. Mayumi e
arquiteto estava inserido .
Sérgio trabalharam com Lelé no Ceplan, onde projetaram e constru-
13
Mayumi aprofundou seus estudos em Sociologia e Urbanismo,
cursando disciplinas na UnB com os professores Perseu Abramo e
íram com elementos pré-fabricados uma Unidade de Vizinhança para
10.000 habitantes, a Unidade de São Miguel, em Brasília.
Nelson Werneck Sodré. Iniciou sua carreira docente como professora
O mesmo projeto da Unidade de Vizinhança de São Miguel será
assistente no curso de arquitetura da UnB de 1963 a 1965, nas discipli-
o tema escolhido por Mayumi para seu mestrado em arquitetura,
nas de Física aplicada às construções, Teoria da Arquitetura, Técnica da
sob orientação do Lelé. A dissertação defendida em 1965, intitulada
Edificação, Iluminação e Instalações Elétricas.
“Aspectos da habitação urbana – projeto de habitação para a unidade
O referido Ceplan, no planejamento e construção das instalações
de vizinhança São Miguel”, discutia as questões de desenvolvimento
da universidade, tornou-se um importante laboratório , onde os ar-
nacional e o significado do projeto de Brasília como resposta aos pro-
quitetos puderam iniciar as experiências de pré-fabricação. O Ceplan
blemas habitacionais urbanos e de infra-estrutura.
14
era coordenado por Oscar Niemeyer, que defendia a pré-fabricação
Em 1963, Mayumi foi a Havana, Cuba, para o VII Congresso
de elementos pesados para eliminar componentes de pequeno porte
Internacional de Arquitetos (UIA), sobre Arquitetura nos países sub-
que demandassem mais trabalho durante a montagem. O projeto do
desenvolvidos, como membro da comissão julgadora do Simpósio de
Instituto Central de Ciências (ICC) da UnB – que mais tarde ficou
Ensino de Arquitetura. Provavelmente teve oportunidade de conhecer
conhecido como “Minhocão” – foi construído nesses moldes.
as políticas públicas para a educação (era notável a influência das
O diretor executivo do Ceplan era o arquiteto Lelé, que foi res-
experiências cubanas entre os educadores brasileiros). Em Cuba a
ponsável pelo projeto e pela construção de muitos dos edifícios na
alfabetização da população adulta fez parte do processo de revolução
primeira fase de implantação da UnB. Lelé nessa época foi enviado em
– a guerrilha já se preocupava com a alfabetização e a conscientização,
viagem de estudos para visitar as fábricas de elementos pré-fabricados
com o objetivo de integrar a população no processo revolucionário.
Após a revolução (1959), 1961 é declarado o “Ano da Educação” em
13 Conforme depoimento de Mayumi Souza Lima a Gelson Pinto in PINTO, Gelson
Almeida. A prática do projeto no ensino de arquitetura: investigação sobre algumas experiências. Dissertação de
Mestrado. São Carlos, EESC-USP, 1989, vol.2, pp.148-151.
14 Para saber mais sobre a importância do Ceplan no histórico da industrialização da construção no Brasil, consultar KOURY, Ana Paula. Arquitetura Construtiva – Proposições para a produção
material da arquitetura contemporânea no Brasil. Tese de Doutorado. São Paulo, FAUUSP, 2005.
22
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Cuba. São criadas “brigadas” de alfabetização com voluntários que
seguiam um “manual” (“Alfabeticemos”) de caráter prescritivo, com
apoio da cartilha “Venceremos”. A cartilha era baseada em imagens
acompanhadas de frases. O manual situa e problematiza os temas para
o professor trabalhar em aula. Os temas tinham a ver com o cotidiano
dos estudantes, como por exemplo: “La cooperativa pesquera ayuda
uma surpresa. (...) Pelo menos para nós, recém-formados, jovens,
al pescador. El pescador ya no es explorado. El pescador ahora vive
com toda vida pela frente, o golpe foi uma tremenda surpresa.16
mejor.” Em 1958, 33% da população cubana era analfabeta. Em 1959,
iniciam-se as primeiras experiências de alfabetização. No final do “Ano
Em abril de 1964, após o golpe militar, alguns professores foram presos
da Educação”,100% da população adulta estava alfabetizada. A dele-
sob acusação de subversão da ordem vigente. Iniciou-se a perseguição
gação brasileira que foi para o Congresso da UIA incluía mais de 100
política na Universidade: a sede foi invadida por tropas militares e re-
arquitetos. As políticas sociais e a Reforma Urbana promovidas após a
vistada à procura de material subversivo. O então reitor Anísio Teixeira
revolução em Cuba (1959) são referências e temas de debate para os
foi substituído por Zeferino Vaz, interventor nomeado pelos militares.
arquitetos do mundo todo.
Zeferino era amigo de Darcy Ribeiro e tentou seguir o projeto original
15
No mesmo ano de 1963, foi realizado em São Paulo e no Rio de
da universidade, porém não aceitava a pressão do governo para demitir
Janeiro o 1º Seminário de Habitação e Reforma Urbana. No contexto
professores e pediu demissão. Zeferino transferiu-se para Campinas,
das Reformas de Base propostas pelo Presidente João Goulart, era
onde como reitor coordenou a fundação da Unicamp.
importante para os arquitetos definir o que seria a Reforma Urbana.
O governo continuou a pressão sobre o novo interventor nomeado,
A inexistência de propriedade do solo em Brasília e a construção de
o filósofo da USP Laerte Ramos de Carvalho. Os professores reunidos e
conjuntos habitacionais coletivo sem unidades de vizinhança era um
assinam um documento comprometendo-se a pedir demissão coletiva
modelo a ser reproduzido, com tendências socializantes.
caso houvesse demissão de um professor. Em outubro de 1965, após
Os intelectuais brasileiros preparavam-se para as transformações
o afastamento de 15 professores por ordem do novo Reitor, mais de
do país e acreditavam que se caminhava para uma sociedade socialista,
200 professores pediram demissão de seus cargos em solidariedade aos
como aponta Sérgio Souza Lima:
colegas, esvaziando a universidade.
Com esse processo, nós estávamos querendo levar para as cidades
Sérgio e Mayumi retornaram a São Paulo.
brasileiras, para o conjunto das cidades brasileiras, através de um
processo de Reforma Urbana, as mesmas condições que tinham
possibilitado Brasília, ou seja, o domínio sobre o uso do solo. É claro que a tendência era socializada, mas o processo todo dava nisso.
Era devagar, pois não se acreditava em resistências. O golpe de 64 é
15 Fonte: anotações de seminário da disciplina “Educação e Sociedade no Brasil
Contemporâneo”, prof. Celso de Rui Beisiegel, FEUSP, outubro de 2007.
16 Depoimento de Sérgio Souza Lima a Gelson Pinto in PINTO, Gelson Almeida. A prática
do projeto no ensino de arquitetura: investigação sobre algumas experiências. Dissertação de Mestrado. São
Carlos, EESC-USP, 1989, vol.2, pp.152-153
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
23
PLANEJAMENTO E PROJETO
Organização da Consultoria de Arquitetos e Engenharia do Premen
(Programa de Expansão e Melhoria do Ensino), ligado ao governo fe-
De volta a São Paulo em 1965, Mayumi trabalhou na diretoria de
deral. Desenvolveu programas e projetos para todo o Brasil e participou
planejamento do FECE (Fundo Estadual de Construções Escolares).
da criação do Cebrace (Centro Brasileiro de Construções Escolares),
Desenvolveu estudos para metodologia de cadastro da rede física de
com o qual colaborou ativamente de 1975 a 1979 na elaboração de
escolas no estado de São Paulo; programas-modelo para projetos de
metodologias de planejamento de rede e edifícios escolares.
arquitetura destinados ao ensino fundamental e estudos sobre os sistemas construtivos regionais no estado.
Nota-se que essas atividades ligadas aos órgãos públicos, responsáveis pela produção de equipamentos escolares, estavam sempre
Deste momento em diante, a maioria de suas atividades profis-
ligadas à elaboração de metodologias e abrangiam todas as etapas do
sionais estiveram ligadas ao planejamento e projeto de espaços para
planejamento. E Mayumi insistia muito na clareza dos métodos de tra-
a educação de crianças e jovens, tendo atuado como consultora de
balho. Na elaboração de manuais de metodologia de planejamento de
diversos órgãos e programas públicos para a educação .
rede física escolar, criticava a distribuição dos equipamentos públicos
17
De 1968 a 1970 atuou no Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas
no território – em geral um resultado de poder político em lugar do
de Administração Municipal, fundação ligada à Secretaria do Interior
processo de planejamento baseado em diagnósticos e estudos criterio-
do Estado de São Paulo). Elaborou roteiro para o planejamento educa-
sos sobre as demandas de cada local. Defendia a reserva de terrenos
cional e o cadastro de informações dos municípios paulistas. A partir de
para os equipamentos públicos como uma prerrogativa do Estado para
1969, participou de uma cooperativa de arquitetos, a EDAP (Educação,
a garantia da qualidade e localização adequada desses equipamentos.
Assessoria e Planejamento). Com os colegas Celso Lamparelli e Maria
Criticava as leis existentes, que não incluíam exigências mínimas de
Alice Pompéia Gonzaga, também integrantes da cooperativa, publicou
qualidade dos terrenos a serem doados pelas empresas imobiliárias
um texto sobre a situação das escolas no estado de São Paulo num
quando da criação de novos loteamentos.
18
suplemento do jornal Folha de São Paulo.
De 1970 a 1975, Mayumi foi Superintendente de Arquitetura e
Em relação ao sistema de cadastro de informações que subsidiariam a elaboração de planos, ela questionava: que tipo de informações
deveriam ser cadastradas, por quem, com que finalidade. Para ela era
17 Não cabe aqui listar todos os projetos que a arquiteta elaborou nesse sentido, apenas
citaremos alguns órgãos onde trabalhou por mais tempo. A lista completa dos trabalhos
desenvolvidos encontra-se no seu currículo, em anexo a este trabalho, pp.143-157.
18 “Condições das instalações escolares”, em suplemento especial “Investimento nas novas
gerações”, Folha de São Paulo, 1970. Fonte: Acervo Prof. Celso Lamparelli. Ver arquivo
anexo.
24
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
fundamental estabelecer procedimentos que gerassem dados quantitativos e qualitativos que refletissem de maneira fiel e abrangente as condições de projeto. E que esses procedimentos estivessem em constante
avaliação, permitissem mudanças para melhorar o próprio sistema de
coleta de dados.
Na elaboração de modelos para o projeto de escolas públicas, que
estabeleciam padrões de materiais e acabamentos a serem utilizados
estabelecer variáveis intervenientes no sistema-objeto de nosso
exame.19
nessas obras, uma das principais questões da arquiteta era a crítica aos
sistemas de avaliação de custos da construção, sempre baseados em
Como se pode notar, sua preocupação com a qualidade dos equipa-
números esvaziados, sem levar em conta a qualidade ou a durabilidade
mentos públicos abrangia várias dimensões de projeto, desde a correta
dos equipamentos públicos produzidos. A comparação entre materiais
distribuição dos equipamentos no território até a questão do desenho
priorizava sempre o de preço (absoluto) mais “barato” na hora da com-
do mobiliário. Inconformada com a má qualidade do desenho das
pra, sem avaliar outros componentes do custo real do material como
carteiras e cadeiras utilizadas nas escolas públicas – muito pesadas,
os gastos com a manutenção posterior, com a reposição de elementos
pouco ergonômicas e que não permitiam movimentação na sala de
quebrados pela pouca resistência, com a instalação, etc.
aula – Mayumi envolveu-se na realização do Concurso Nacional de
Além disso, preocupava-se com a cristalização de modelos que
Mobiliário Escolar, em 1968, para a escolha de novo mobiliário para as
acarretassem na repetição de projetos padronizados para esses equipa-
escolas públicas do estado de São Paulo. O vencedor foi o designer Karl-
mentos. Defendia que deveriam existir projetos adequados à variedade
Heinz Bergmüller, da ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) do
de situações existentes no estado de São Paulo, com suas diferenças
Rio de Janeiro. Por ocasião do concurso, Mayumi conheceu a pedagoga
geográficas, culturais, sociais e econômicas entre as várias regiões:
Marta Grosbaum e convidou-a para trabalhar no FECE, como consultora na avaliação dos projetos de arquitetura de escolas. Marta participava
Um padrão corresponde sempre a um modelo teórico que serve
das reuniões com os arquitetos contratados para executar os projetos
como termo de comparação entre uma dada realidade e uma outra
e opinava sobre as soluções espaciais propostas do ponto de vista pe-
que, por exemplo, se pretende implantar.
dagógico. Mayumi preocupava-se com a formação multidisciplinar da
Trata-se de um dado sempre relativo aos elementos de confronto e
equipe de projeto, onde todos pudessem aportar contribuições para
em função das hipóteses e dos objetivos adotados “a priori”.
a construção de espaços adequados às propostas educativas 20. Marta
Apesar do seu caráter transitório, um padrão corre o risco de se
colaborou em diversos trabalhos de Mayumi.
tornar permanente e, muitas vezes, obstáculos para mudanças
A experiência de trabalho nos órgãos e programas públicos citados
porque, ao se transformar em instrumento normativo e institucio-
colocou-a em contato com diversas limitações da burocracia existente
nalizado, permanece fiel às hipóteses iniciais e não à realidade que
se modifica.
Daí, o extremo cuidado com que falamos em definição de padrões
19 LIMA, Mayumi W. Souza. Estudo de Padrões de Equipamentos para o Município de São Paulo – Relatório
final. Manuscrito, c.1975. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 45.
e mais do que fornecer valores e dados definitivos, preferimos
20 Conforme depoimento de Marta Grosbaum à autora, em 21/10/2008, São Paulo.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
25
dentro da estrutura da administração pública. Mayumi buscou alterna-
antigo para a construção do novo edifício da escola. A proposta era
tivas que rompessem a ordem vigente para a criação de novas posturas
em primeiro lugar conhecer as crianças e suas famílias para depois
de atuação na máquina governamental. Muitos dos problemas que ela
desenvolver atividades onde os alunos pudessem entender o processo
apontava na elaboração das políticas de construção de equipamentos
de reforma da escola.
públicos persistem ainda hoje. Uma releitura atenta das propostas
Durante a gestão de Franco Montoro (1983-1986) no governo
feitas por Mayumi para o planejamento da rede física poderia fornecer
do Estado de São Paulo, Mayumi desenvolveu, também no âmbito da
subsídios para o debate de novas metodologias a partir do contexto
Conesp, uma experiência de construção de escolas com a participação
atual de projeto.
da comunidade local na gestão da obra. Mayumi era Superintendente
de Planejamento e estava elaborando a nova política de construções
escolares21 da Conesp. Dentre as diretrizes, ela propunha a pesquisa
PROJETOS PARTICIPATIVOS
de alternativas para a construção de edifícios escolares, apresentando
como possibilidade a auto-construção pela população. Não se tratava
Nos diversos órgãos públicos em que trabalhou com atividades de
de um sistema de mutirão voluntário e sim de uma gestão da obra
planejamento da rede e projeto do edifício escolar, Mayumi sempre
pela associação de moradores do bairro, com assessoria dos técnicos
buscou a construção de alternativas mais democráticas de atuação para
da Conesp e contratação da mão de obra de acordo com os valores de
poder público. Em algumas ocasiões, propôs e conseguiu convencer
mercado e a legislação trabalhista vigente.
seus superiores a autorizar a realização de experiências piloto de pro-
No capítulo 2 apresentamos o relato dessas experiências de parti-
jeto com a participação da população usuária. Essas experiências foram
cipação e a reflexão posterior que a arquiteta elaborou no livro A cidade
descritas em seu livro A cidade e a criança, de 1988, e apresentadas em
e a criança.
diversos seminários sobre infância e educação.
A relação com o usuário do espaço era uma questão muito cara
para Mayumi.
A primeira experiência que realizou foi na Conesp (Companhia
de Construções Escolares do Estado de São Paulo),durante a reforma
e ampliação da EEPG João Kopke (1976-1978), que funcionava em um
casarão antigo no Bom Retiro, em São Paulo. Ela convocou uma equipe
multidisciplinar para realizar atividades lúdicas com os alunos de 7
a 11 anos, durante os meses que antecediam a demolição do casarão
26
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
21 Ver documento “Algumas reflexões sobre construções escolares”, elaborado pela
Superintendência de Planejamento da Conesp em setembro de 1983. Fonte: Acervo Mayumi
Watanabe Souza Lima.
ENSINO DE ARQUITETURA: A FUNÇÃO SOCIAL DO ARQUITETO
que supririam o excedente da demanda. Isso gerou uma proliferação
descontrolada de novas instituições de ensino superior em todo o país,
Mayumi iniciou sua carreira docente na Universidade de Brasília, em
tendo como conseqüência a queda da qualidade do ensino. No estado
1963. Como já vimos anteriormente, era um momento de entusiasmo
de São Paulo abrem-se novas escolas particulares em Santos, São José
e de otimismo com o governo de João Goulart, em que se acreditava na
dos Campos, Guarulhos, Campinas, Taubaté e Mogi das Cruzes.
construção de uma nova sociedade rumo ao socialismo. A UnB estava
em processo de formação, portanto discutia-se a metodologia e os ob-
Em 1968, a FAUUSP realizou um Fórum de Ensino, com amplas
jetivos do ensino superior no Brasil e do ensino de arquitetura em si. O
discussões a respeito da função social do arquiteto. No fórum ficou evi-
estudo da atividade docente de Mayumi é fundamental para entender a
dente a polarização entre dois “grupos” principais – o famoso “racha”
elaboração de sua postura crítica de projeto, porque as questões que ela
entre o mestre Vilanova Artigas e seus “pupilos” Sérgio Ferro (1938-),
enfrentava no ensino estavam diretamente vinculadas ao contexto social,
Rodrigo Lefèvre (1938-1984) e Flávio Império (1935-1985) – o grupo
político e econômico do país e à sua atuação profissional. A universidade
que mais tarde ficou conhecido como Arquitetura Nova. Por um lado,
apresenta-se como um espaço de reflexão sobre a atuação profissional
Artigas defendia a atuação através do desenho – o projeto como pro-
do arquiteto, onde se oferece a oportunidade de troca de experiências e
pulsor da revolução técnica no país, enquanto o grupo da Arquitetura
de elaboração de práticas alternativas de ensino e de projeto.
Nova elaborava a crítica ao desenho como forma de exploração do
Podemos distinguir três momentos distintos de sua carreira
docente. O primeiro, recém formada, como professora assistente em
trabalhador no canteiro de obras e propunha uma atuação mais ligada à
realidade das classes populares, como explicita Ana Paula Koury:
Brasília. O segundo momento, na década de 1970, durante a ditadura
Se para Artigas a elaboração de um projeto cultural autônomo
militar, quando os colegas tentavam elaborar formas de resistência e
passava pela superação do subdesenvolvimento com a adoção de
muitos (inclusive ela) foram presos. Finalmente, em meados da década
um projeto de modernização técnica baseado nos países ricos, para
de 1980, na abertura política do país, quando se buscava construir a
a Arquitetura Nova tal superação dependia da elaboração de um
nova sociedade democrática.
modelo tecnológico baseado no emprego intensivo de mão de obra
e de menores investimentos em mecanização da produção, ou seja,
No final da década de 1960, em resposta aos movimentos que pressionavam por aumento na oferta de vagas no ensino superior, o governo
um processo a ser realizado com os recursos possíveis e com os
limites existentes no contexto efetivo do país.22
militar faz uma Reforma Universitária. Sem expandir a rede pública,
propõe otimizar a estrutura existente com a ampliação do número de
vagas. Além disso, cria as condições para a abertura de escolas privadas
22 KOURY, Ana Paula. Grupo Arquitetura Nova: Flávio Império, Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro. São Paulo,
Romano Guerra Editora/Edusp, 2003, p.56.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
27
Para os alunos, a discussão era percebida apenas no plano da arquitetura.
a ausência de revestimentos, evidencia estrutural, tubulações apa-
No entanto, todos esses arquitetos faziam parte do Partido Comunista,
rentes, etc). Os alunos deveriam compreender facilmente todos
onde ao mesmo tempo ocorria outro “racha” – contrariando as di-
os componentes arquiteturais, seus “porquês”, seus “como”. 24
retrizes do partido, que não concordava com a luta armada, Carlos
Marighela criara a ALN (Aliança Libertadora Nacional). A discussão no
teóricas, foram objeto de longos e convergentes debates com ela.
FAU SANTOS, 1970-71
Em Santos, Mayumi,Sérgio Souza Lima e Rodrigo Lefèvre davam aulas
pelo Departamento de Tecnologia. Sérgio Ferro dava aulas de História e
Teoria. Em 1970, fizeram uma experiência inovadora com os alunos do
primeiro ano, enviando-os para estudar as favelas da região, numa ação
entre várias disciplinas. Em tecnologia, discutia-se as técnicas empregadas para a população na auto-construção. Em desenho industrial, projetavam objetos para o uso dessa classe popular. Em projeto, propunham
soluções para o bairro estudado. No conjunto, a experiência gerou uma
reflexão importante sobre a atuação do arquiteto junto às classes populares. O sociólogo Francisco de Oliveira também era professor em Santos
e aponta a pesquisa sobre habitação popular como ponto fundante para
sua crítica sobre a industrialização e o aumento mais-valia do custo de
reprodução da força de trabalho através da auto-construção25. A maior
parte das habitações pesquisadas era própria, construída em mutirões
nos finais de semana, quando os proprietários chamavam os amigos e
juntos iam fazendo a casa aos poucos. Em suas palavras:
Em particular sobre a função formadora e pedagógica da arquite-
Caiu a ficha. Crítica à razão dualista partiu dessa constatação. (...) a in-
tura. Sob esse aspecto insistia muito sobre a clareza construtiva, a
dustrialização estava se fazendo, com base na autoconstrução, como
presença evidente de todas as equipes de produção (por exemplo,
um modo de rebaixar o custo de reprodução da força de trabalho.
plano profissional radicaliza-se no plano político e Sérgio e Rodrigo
decidem tentar a solução das armas contra a ditadura.
Importa aqui assinalar que o grupo da Arquitetura Nova representa uma geração que se dedicou ao estudo das condições de vida das
classes populares, no intuito de oferecer soluções para a transformação
da realidade política, social e econômica do país. Mayumi e Sérgio
Souza Lima foram contemporâneos desse grupo durante a graduação
e tornaram-se grandes amigos, trabalhando juntos na estruturação do
curso de arquitetura das Faculdades de Santos em 1970 e de São José
dos Campos em 1972. Era um grupo de pessoas com formação marxista e uma opção política comum, o que propiciava um debate conjunto
sobre a atuação do arquiteto e sua importância na construção de uma
nova sociedade brasileira. Como relembra Sérgio Ferro:
Fizemos projeto de algumas escolas em São Paulo através da
Mayumi, quando ela trabalhava não me lembro mais em qual administração publica23. Nossos projetos, portanto nossas propostas
23 No período de 1965 a 1969, quando Mayumi trabalhava no FECE (Fundo Estadual de
Construções Escolares). N.A.
28
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
24 Depoimento de Sérgio Ferro à autora, por email, de 01/04/2009.
25 OLIVEIRA, Francisco de. Crítica à razão dualista/O ornitorrinco. São Paulo, Boitempo, 2003.
Eu diria que a industrialização brasileira foi sustentada por duas
(Sergio, Mayumi, Rodrigo e eu) os outros tiveram que se afastar ou
vertentes. A primeira foi a vertente estatal, pela qual o Estado
por as barbas de molho.27
transferia renda de certos setores e subsidiava a implantação industrial. E a segunda eram os recursos da própria classe trabalhadora,
Sérgio Souza Lima havia entrado para a luta armada junto com Sérgio
que autoconstruía sua habitação e com isso rebaixava o custo da
Ferro e Rodrigo. Os três foram presos no final de 1970, acusados de en-
produção.
volvimento na explosão de uma bomba em frente à embaixada norte-
26
americana. Ficaram por um ano no Presídio Tiradentes, em 1971, junto
Naquele momento, estavam preocupados em revelar aos alunos as
com os arquitetos Júlio Barone e Carlos Henrique Heck (que também
condições de vida das classes populares, estudar os problemas da auto-
era professor em Santos) – onde eram conhecidos como “grupo dos
construção e orientá-los para uma atuação engajada. O relato de Sérgio
arquitetos”, tendo montado um ateliê de desenho para os presos28.
Ferro reforça o caráter inédito da experiência:
Mayumi também foi presa e torturada por um mês no mesmo
Nossa atuação em Santos foi bastante inovadora. Basicamente aplica-
período. Tinha dois filhos pequenos, Mario (1968) e Silvio (1967), que
mos as propostas que haviam sido derrotadas no Fórum da FAUUSP
ficaram com os avós. Mayumi não gostava de falar sobre o assunto e,
em 68. Propúnhamos um ensino ancorado em questões atuais de
apesar de sua postura contra o regime, não concordava com a opção
uma arquitetura socialmente engajada. Tomamos, por exemplo,
pela luta armada. Foi presa provavelmente para pressionar o marido e
uma favela próxima como objeto de estudo de todas as matérias
os colegas de faculdade, mas não entregou ninguém. Naquele momen-
do 1° ano. Sergio e Mayumi eram professores de Estrutura, e todos
to, a sociedade brasileira ignorava a existência de presos políticos e do
os conceitos básicos dessa matéria surgiam e eram desenvolvidos a
uso da tortura pelos militares. Mayumi denunciou à família de Sérgio
partir do estudo das casas da favela. A introdução à teoria da arqui-
que o marido estava sendo torturado. A família demorou a buscar ajuda
tetura partia de uma análise socioeconômica da favela, de enquetes
para tirá-lo da prisão (foi preciso que Mayumi mostrasse as próprias
sociológicas precisas, de suas condições de produção e da forma
marcas de tortura para que eles acreditassem29).
resultante, etc. Enfim, todas as matérias tomavam como suporte
Mayumi continuou dando aulas no início de 1971, com os colegas
uma realidade presente, e construíam seus conceitos a partir dela,
na prisão. Sentia a necessidade de manter a discussão sobre a atuação
inclusive, evidentemente, o projeto. Infelizmente, a experiência
durou apenas 1 ano - com a prisão de boa parte dos professores
26 OLIVEIRA, Francisco. “O vício da virtude – autoconstrução e acumulação capitalista no
Brasil” in Revista Novos Estudos, n.74, março 2006.
27 Depoimento de Sérgio Ferro à autora, por email, de 01/04/2009.
28 Conforme SISTER, Sérgio. “Cultura: Fazendo Arte na cadeia”, artigo da Revista Teoria e
Debate n.27, 12/2004, consultado em www.fpa.org.br.
29 Conforme depoimento de Mário Souza Lima à autora, em 20/10/2008.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
29
engajada do arquiteto frente aos problemas políticos e sociais que o
acabou desistindo e voltando para o Brasil. Ainda segundo Mário32,
país enfrentava:
Sérgio estava insatisfeito com o trabalho porque discordava um pouco
Eu diria que em Santos, com o período político de uma crise,
da arquitetura que Niemeyer estava fazendo na Argélia, pois era um
inclusive da esquerda, a gente à procura de uma saída para a vida
país atrasado e tudo tinha que ser importado da França, com custo
pessoal, para a vida profissional, para a vida nacional: mas, afinal,
muito elevado, não compatível com o nível de pobreza da população.
vamos ficar fazendo o quê? Então, se de um lado ainda havia arqui-
Essa crítica é comum ao grupo na época – eles defendiam a adequação
tetos que ficavam discutindo forma com o aluno, para nós parecia
das técnicas ao nível de desenvolvimento da sociedade, com vistas a um
algo absolutamente impossível de ficar fazendo. Eu não podia ficar
processo de modernização que não fosse imposto de cima para baixo.
discutindo a casa do burguês, dizendo se o concreto vai ser aparente
A opinião de Rodrigo Lefèvre sobre o desenho de Joaquim Cardozo
ou não, quando se tinha aquela situação no país.30
para a ferragem das cúpulas de Brasília tem esse mesmo sentido:
Se voltarmos para aquele desenho, ele é um desenho muito bonito,
Ela achava “um absurdo continuar a fazer projeto de arquitetura como
que está ligado à própria forma daquelas meias laranjas que tem lá
se nada tivesse mudado no país” e batalhava pela politização da ação do
no Congresso Nacional. Mas se nós tentarmos imaginar um operário
arquiteto, no sentido de compreender a realidade brasileira como cam-
colocando aqueles ferros, um ao lado do outro, um dentro do outro,
po de atuação. Daí a importância de se colocar os alunos em contato
tentando amarrar um ferrinho no outro, pegando aqueles vergalhões
com a realidade da favela desde o primeiro ano de formação.
de uma polegada, de uma polegada e meia, tentando encaixar dentro
31
Após sair da prisão, sem emprego e impedido de dar aulas, Sérgio
de outros ferros que já estavam montados... e depois de toda a fer-
Souza Lima exila-se voluntariamente na Argélia. A convite de Oscar
ragem montada, o pedreiro tem que trazer o concreto para cima, e
Niemeyer, foi trabalhar na construção da Universidade de Constantine,
começar a jogar o concreto ali, dentro daquela trama de ferro, mais
em 1973. Por conta da tortura, Sérgio sofreu perda da funcionalidade
fechada que uma peneira dessas de cozinha, e tendo que jogar o
dos rins e teve a saúde debilitada para o resto da vida. Mário Souza Lima
concreto lá dentro e socar o concreto... Se você olha isso pensando no
comenta que o pai pediu visto para se exilar na França, não conseguiu,
processo de produção, em como realmente o operário vai trabalhar
depois chegou a cogitar levar Mayumi e os filhos para a Argélia, mas
para conseguir fazer aquilo, você começa a pensar que talvez existam
algumas coisas na nossa arquitetura que são “fogo”.33
30 Depoimento de Mayumi Souza Lima a Gerson Pinto em PINTO, Gerson Almeida. A prática
do projeto no ensino da arquitetura: investigação sobre algumas experiências, São Paulo 1958/85. Dissertação
de Mestrado. EESC-USP, 1989, vol.2, pp.181.
31 Idem, pp.179-180.
30
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
32 Em depoimento à autora em 13/10/2008.
33 Depoimento de Rodrigo Lefèvre a Renato de Andrade Maia em 1974, consultada em
www.vitruvius.com.br/entrevista/lefevre/lefevre.asp, em outubro de 2008.
FAU SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, 1972-74
Aberta em 1970, a Faculdade de Arquitetura de São José dos Campos
passou por diversas modificações em sua estrutura. Boa parte dos
professores vinha da FAU Santos: Jean Claude Bernadet, Chico de
Oliveira, Mayumi Souza Lima e Rodrigo Lefèvre. Inicialmente foi
adotado o funcionamento no modelo de ateliês integrados, visando
à formação de um Instituto de Projeto e Comunicação (IPC) que teria
3 departamentos: Som e imagem; Projeto de Edificações, Desenho de
Objeto e Urbanismo; História e Tecnologia. O modelo do IPC partia da
experiência da UnB, conforme relata Mayumi:
mestre os alunos desenvolvem um projeto de pesquisa sobre um tema
Pensávamos um pouco no modelo de Instituto de Arte e Arquitetura,
propor, e não um treinamento específico e limitado a uma atuação
porque o Paulo Bastos estava vindo da experiência de Brasília. Assim,
profissional por condicionamento prático, empírico, ao sabor das
ele propõe para a Fundação que, ao invés de ser só Arquitetura,
circunstâncias, alheio à realidade política, social e econômica.35
comum sob orientação interdisciplinar:
Ao contrário de modelos anteriores, o sistema de UID não estabelece um modelo acabado de profissional a ser formado pela escola. A
ênfase é dada ao processo de formação do indivíduo, e não somente
na aprendizagem para uma atuação profissional futura após a conclusão do curso. Pretende-se que os participantes (estudantes e professores) desenvolvam a capacidade de selecionar as informações,
analisá-las criticamente e identificar os meios e os momentos das
soluções mais adequadas para a transformação desejada. Pensar para
fosse Arte e Arquitetura, e aí entram cinema, comunicação. (...) É
uma idéia que procura recompor, a partir de uma Faculdade, a con-
O projeto era conceituado de forma mais ampla, partindo de um tema
cepção da futura universidade que haveria no Vale do Paraíba. Veja
(eg. A Universidade Brasileira) e não de um objeto (eg. posto de ga-
que interessante, é a retomada da idéia da Universidade de Brasília,
solina, logotipo de supermercado). Iniciava-se com a problematização
de trás para frente, pois, enquanto a Universidade de Brasília parte
do tema de trabalho e a eleição de metodologias, para então passar ao
da idéia de Universidade para chegar à Faculdade, em São José se
equacionamento da solução (que poderia utilizar ou não a linguagem
parte da Faculdade para montar uma Universidade.
do desenho). Após a apresentação das propostas, ocorria uma avaliação
34
crítica da provável solução, quanto a sua utilização, suas implicações fíNo início de 1973, é formada uma Comissão de Reestruturação da
Proposta Básica do IPC, que em setembro propõe o sistema das UIDs
(Unidade Interdepartamental de Ensino e Pesquisa), onde em cada se-
34 Depoimento de Mayumi Souza Lima a Gerson Pinto em PINTO, Gerson Almeida. A prática
do projeto no ensino da arquitetura: investigação sobre algumas experiências, São Paulo 1958/85. Dissertação
de Mestrado. EESC-USP, 1989, vol.2, p.180.
35 “Prática-investigação: um processo de trabalho em São José dos Campos”. IX Congresso
Brasileiro de Arquitetos. Grupo 4: formação do arquiteto, 1976, p.17. Fonte: Acervo Mayumi
Watanabe Souza Lima, caixa 12. O documento digitalizado encontra-se no dvd anexo a este
trabalho.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
31
sicas, sociais, econômicas e políticas.36 Ou seja, a importância era dada
o urbano como o lugar disso. Então, o urbano era um elemento
ao processo de elaboração da solução e não ao projeto em si. A ênfase
importante da formação capitalista.
continuava sendo dada à temática de interesse das camadas populares.
(...) O pessoal do [padre] Lebret mexia com favela, a Igreja mexia
Incluía-se na proposta de ensino a prestação de serviços à população.
com favela, cuidar desse negócio de pobre era com a Igreja, e nós
Até então a preocupação com a temática social não era tão pre-
dizíamos que pobre não era revolucionário, pobre-coitado tem que
sente no ensino de arquitetura, e muitas vezes existia uma ironia em
sobreviver; e o pessoal da Igreja trabalhava com os pobres. Então
relação a esse grupo engajado: “Fomos muito combatidos, e se dizia
isso nos opunha ao pessoal católico. 39
que éramos a favor da ‘arquitetura da miséria’ porque fomos falar de
favela.”37 A posição do PC era a possibilidade revolucionária estava nos
No final de 1974, a mantenedora da universidade demitiu o diretor
setores organizados, nos sindicatos dos operários das indústrias. Não se
e grande parte do corpo docente, instaurando um curso seriado nos
enxergava a favela como ambiente propício à organização da popula-
modos tradicionais. Mayumi afastou-se definitivamente, por não con-
ção. Os arquitetos começam a trabalhar com habitação popular, entram
cordar com os rumos tomados. A faculdade foi fechada em 1976 e os
em contato com os movimentos organizados por moradia e começam
alunos do curso foram transferidos para a faculdade Brás Cubas, em
a perceber seu conteúdo revolucionário. Em 1973, Sérgio Souza Lima
Mogi das Cruzes. O processo de transformação do currículo da escola
38
faz para os alunos de São José a tradução de um texto do Jean Lojkine
encontra-se registrado em documento40 apresentado no IX Congresso
sobre a urbanização, que coloca o urbano como o espaço da reprodu-
Brasileiro de Arquitetos em 1976 e constitui importante contribuição
ção da força de trabalho no capitalismo:
para a discussão sobre o ensino de arquitetura.
O que aparece de interessante naquele artigo é a idéia do urbano.
Há duas coisas: a primeira, a importância da reprodução da força
de trabalho, essa expressão “reprodução da força de trabalho”, e
36 “Prática-investigação: um processo de trabalho em São José dos Campos”. IX Congresso
Brasileiro de Arquitetos. Grupo 4: formação do arquiteto.1976, p.15. Fonte: Acervo Mayumi
Watanabe Souza Lima.
37 Depoimento de Mayumi Souza Lima a Gerson Pinto em PINTO, Gerson Almeida. A prática
do projeto no ensino da arquitetura: investigação sobre algumas experiências, São Paulo 1958/85. Dissertação
de Mestrado. EESC-USP, 1989, vol.2, p.181.
39 Depoimento de Sérgio Souza Lima a Gerson Pinto em PINTO, Gerson Almeida. A prática
do projeto no ensino da arquitetura: investigação sobre algumas experiências, São Paulo 1958/85. Dissertação
de Mestrado. EESC-USP, 1989, vol.2, pp.176-177. Até então quem se ocupava da população
marginalizada nas favelas eram os movimentos vinculados à Igreja Católica, naturalmente
oposta aos marxistas ateus. N.A.
38 LOJKINE, Jean. “Contribuição para uma teoria da urbanização capitalista”, originalmente publicado em Cahiers Internationaux de Sociologie, vol. LII, 1972, pp.123-146. Acervo Mayumi
Watanabe Souza Lima. A tradução encontra-se digitalizada no dvd anexo.
40 “Prática-investigação: um processo de trabalho em São José dos Campos”. IX Congresso
Brasileiro de Arquitetos. Grupo 4: formação do arquiteto.1976. Fonte: Acervo Mayumi
Watanabe Souza Lima.
32
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
EESC-USP, 1987-1993
Em 1987, Mayumi e Sérgio mudaram-se para São Carlos e voltaram a dar
aulas na Universidade, no Departamento de Arquitetura e Planejamento
da Escola de Engenharia de São Carlos. Sérgio tinha a saúde debilitada
nesse momento, fruto da tortura sofrida na década de 1970.41 Mayumi
foi professora e coordenadora da área de Projeto de 1987 a 1988 e
atuou como professora até 1993.
Ao dar aulas para a turma de primeiro ano do curso de arquitetura
na Faculdade de São Carlos, por exemplo, Mayumi percebeu que os
alunos não tinham domínio do desenho. Ora, não é possível ensinar
projeto para alguém que não sabe desenhar. O desenho é a escrita do
arquiteto, é sua forma de comunicação. Então decidiu dar aulas de
desenho para aquela turma e, ao final, os alunos haviam aprendido a
observar o espaço em que viviam, desenhar e comunicar idéias através
do desenho42.
Os programas de suas disciplinas constituem importante fonte de
pesquisa. Toda a postura crítica da arquiteta transparecia claramente nas
propostas dos exercícios de projeto para os alunos a cada semestre. Em
geral os temas propostos eram os de edifícios e/ou equipamentos públicos, onde se discutia a relação entre Arquitetura, Estado e população
usuária:
da população e dos grupos de interesse organizados, como as corporações e as empresas.
Enquanto equipamento prestador de serviços, sua localização,
número, programa funcional e dimensionamento refletem o tipo
de organização da sociedade, a interpretação que o Estado – através
dele, as classes dominantes – tem sobre necessidades e prioridades de uma cidade e sua população. Ao se situar em determinado
território e de forma específica, ele sempre – e obrigatoriamente
– intervém no espaço urbano (ou rural) alterando, não apenas o
objetivo-fim do serviço, mas a configuração geral da área, proporcional ou acima do seu raio de ação, em função do movimento da
demanda e do abastecimento necessário para seu funcionamento.
É um elemento físico e espacial que não pode ser limitado à sua
unidade porque se relaciona com os outros elementos, quase sempre articulados numa rede.43
Como material de apoio às suas disciplinas de projeto, Mayumi publicou em 1992 a apostila Arquitetura e Equipamentos Sociais. Trata-se de um
estudo sobre o significado dos “equipamentos sociais coletivos”, que
traça um histórico dos equipamentos para saúde e educação desde as
transformações ocorridas a partir do século XVII nas sociedades oci-
O tema do edifício público coloca em questão o espaço destinado
dentais. A apostila tem 60 páginas ilustradas com exemplos históricos
ao consumo coletivo, construído pela ação deliberada do Estado e,
e atuais, discutindo o processo de projetar equipamentos públicos e as
por isso mesmo, destinado a satisfazer a necessidades heterogêneas
responsabilidades nele implicadas:
41 Conforme depoimento de Mário Souza Lima à autora em 20/10/2008, Mayumi mudase para São Carlos também para estar mais próxima e poder cuidar da saúde do marido.
42 Conforme depoimento de Mário Souza Lima à autora em 20/10/2008.
43 SOUZA LIMA, Mayumi W. e SCHIEL, Kristian. Disciplina Projeto V – SAP 335. Plano de Curso
– 1º. semestre 1989. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 40. Documento digitalizado em dvd anexo a este trabalho.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
33
Mas se a obra de arquitetura indica a existência de uma ação criativa
Os programas das disciplinas e a apostila publicada refletem a experi-
individual, essa criação resulta de um processo coletivo de produção
ência profissional da arquiteta e revelam sua preocupação em formar
do conhecimento e de produção da própria obra. O que há de indi-
jovens profissionais conscientes de sua responsabilidade social, que se
vidual é a forma peculiar com que determinada pessoa organizou,
dedicassem a construir edifícios de qualidade sempre respeitando a
articulou ou estruturou os elementos conhecidos. Enfim, a obra de
população usuária.
arquitetura é uma produção coletiva, porque cultural.
(...)
O desconhecimento de materiais, de tecnologias, de processos
PESQUISA ACADÊMICA
produtivos, de formas concretas de realização ou a ignorância de
variáveis de natureza política, cultural ou social levam ao equívoco
Em sua atuação profissional, Mayumi sempre misturou teoria e prática,
de confundir arquitetura com desenho e o espaço como sucessão
numa atividade constante de pesquisa e reflexão sobre o trabalho. Em
de fachadas ou de simples composição plástica.
dois momentos realizou trabalhos teóricos dentro da Universidade,
Esta confusão é tanto mais grave quanto mais coletiva for a desti-
formalizando a reflexão sobre os projetos realizados.
nação do espaço projetado. O projeto de equipamentos coletivos,
De 1963 a 1965, Mayumi fez o Mestrado na Universidade de
públicos ou privados, é sempre um projeto comprometido: a forma
Brasília, sob a orientação do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. O
que se dá implica tanto nas referências que oferece à cidade e à sua
tema da dissertação era a produção de habitações coletivas no Brasil e
população, quanto a gama de materiais de que poderá lançar mão
tratava da reflexão sobre o projeto da Unidade de Vizinhança de São
e acaba por determinar quem terá condições de realizar, quem e
Miguel45, em Brasília, projeto de Mayumi em colaboração com Sérgio
quantos poderão usufruir ou ainda como e onde poderá existir.
Souza Lima.
Nada é abstrato, neutro ou indiferente no ato de produção da
A dissertação foi dividida em três partes. Na primeira parte,
arquitetura dos equipamentos coletivos. Nele, o traço nunca é um
Mayumi apresentava as origens do problema habitacional urbano, a
risco: é um material, é uma dimensão, é um custo, é uma resposta a
partir de autores como Lewis Munford, Max Weber, Karl Marx, Nelson
demandas que são concretas em um tempo histórico.
44
44 LIMA, Mayumi W. Souza. Arquitetura e Equipamentos Sociais. São Carlos: EESC-USP, 1992.
pp.57-58. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 01. Documento digitalizado
em dvd anexo a este trabalho.
34
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
45 Algumas imagens do projeto e da obra, bem como trechos da dissertação, foram publicados no livro Arquitetura e Educação, opus cit., pp.39-47. Os dois volumes existentes no acervo
da arquiteta foram digitalizados e os arquivos encontram-se em dvd anexo a este trabalho.
Werneck Sodré, Friederich Engels, Walter Gropius e Le Corbusier46. Na
rias entre habitação, trabalho e serviço e equipamentos urbanos;
segunda, a mesma discussão sobre as origens do problema habitacional
d. que torna-se imprescindível a adoção de medidas que cerceiem a
urbano era deslocada para o contexto brasileiro, apresentando contri-
especulação imobiliária, regulando a inversão privada nesse setor.47
buições dos arquitetos em Congressos e Seminários. No final deste
capítulo, Mayumi fez uma declaração de princípios sobre a questão da
Na terceira parte foi examinado o caso da construção da Unidade de
habitação:
Vizinhança de São Miguel, projeto feito por Mayumi em parceria com
No que se refere ao planejamento urbano e regional, cabe lembrar
Sérgio Souza Lima para o Ceplan, utilizando elementos pré-moldados
as conclusões a que chegaram os arquitetos brasileiros, por ocasião
– daí a orientação de Lelé, que desde o início da construção de Brasília
do 1º. Seminário de Habitação e Reforma Urbana, realizado em
vinha trabalhando com a racionalização das obras e participou das pri-
1963, no Rio e em São Paulo:
meiras experiências de pré-fabricação na cidade. Brasília era examinada
a. que o problema da habitação é de responsabilidade do Estado,
como fruto de um processo de expansão industrial, ligada à ampliação
e sua intervenção deve ser no sentido de formular o problema em
do mercado interno, mais intenso no período de 1955 a 1960, quando
sua totalidade; disciplinar as atividades no campo da habitação;
o país intensificou seu desenvolvimento capitalista e começou a romper
estimular todas as iniciativas que procuram sua solução, e suprir
a velha estrutura agrária. Mayumi ressaltava a importância didática da
diretamente as deficiências que se manifestam;
construção de Brasília, cujo “plano possibilita aplicar, pela primeira vez
b. que esta política deve materializar-se mediante planos nacionais,
no Brasil, em grande escala o conceito correto de habitação coletiva,
territoriais e de habitação, com o objetivo de corrigir as deficiên-
tão deturpada pela especulação imobiliária”.48 No início, foram utiliza-
cias quantitativas das moradias e serviços sociais, integrando-os em
dos métodos construtivos tradicionais por causa da rede de transportes
uma planificação global em diferentes níveis (nacional, regional,
deficiente. No entanto, já nos canteiros de obra, Lelé preocupou-se em
estadual e municipal);
estudar e racionalizar as construções provisórias em madeira para os
c. que todo plano de habitação deve estabelecer metas através de
acampamentos e barracões.49
critérios objetivos que levem em consideração as relações necessá-
46 MUNFORD, Lewis. La cultura delle cittá. Milano, Ed. Di Comunitá, 1954; WEBER, Max.
Historia econômica general. Mexico, Fondo de Cultura Económinca, 1961; MARX, Karl. Obras
escolhidas. Rio de Janeiro, Ed. Vitória, 1961; SODRÉ, Nelson W. História da burguesia nacional. Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964; ENGELS, F. Contribuição ao problema da habitação. Rio de
Janeiro, Ed. Vitória, 1961; GROPIUS, W. Alcances de la arquitectura integral. Buenos Aires, La Isla,
1957; LECOBUSIER.Carta de Atenas. São Paulo, GFAU, 1950.
Em função da escala das obras e do prazo disponível, criaram-se
47 LIMA, Mayumi W. de Souza. Aspectos da habitação urbana – projeto de habitação para a unidade de
vizinhança de São Miguel. Dissertação de Mestrado. Brasília, Faculdade de Arquitetura da UnB,
1965, p.29.
48 Idem, p.45.
49 EKERMAN, Sergio Kopinski. “Um quebra-cabeça chamado Lelé”, consultado em http://
www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq064/arq064_03.asp em 10/04/2008.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
35
condições para a experimentação de novas técnicas, e em 1959 foi cons-
a produção de equipamentos públicos para a educação, no contexto da
truído o Terminal Rodoviário de Brasília com os primeiros elementos
abertura política após anos de ditadura militar. O plano de pesquisa
pré-moldados. Segundo Mayumi, foi com a Fundação da Universidade
apresentado em 1986 aponta como objetivo “Analisar as condições em
de Brasília e a criação do Ceplan que se ampliaram as experiências de
que ocorre o processo de produção e consumo dos espaços escolares
industrialização da construção.
no Estado e examinar as possibilidades de sua transformação em ins-
50
O projeto da Unidade de Vizinhança de São Miguel partiu de um
trumento de educação popular.”51 Os exemplos escolhidos para estudo
convênio entre a UnB, o Ministério das Relações Exteriores e a prefei-
de caso foram o projeto de ampliação da EEPG João Kopke (1976-78)
tura do Distrito Federal para a construção de habitações para os funcio-
e a experiência de construção das escolas no Bairro da Varginha e no
nários destes órgãos (uma população estimada de 10.000 habitantes)
Jardim Fortaleza, na periferia de São Paulo, com a participação da
nas superquadras 107, 108, 307 e 308 da Asa Norte Residencial, o que
população (1983-84) – dois casos de estudos piloto desenvolvidos
possibilitaria a transferência do Itamaraty e das delegações estrangeiras
no âmbito da Conesp sob coordenação da própria Mayumi. Em 19
para a nova capital. A construção do conjunto foi realizada com pré-
de janeiro de 1989 apresentou a qualificação para sua tese, intitulada
fabricados produzidos na fábrica do Ceplan.
“Estado e movimentos populares na construção do prédio escolar: con-
O projeto possibilitou o planejamento global de toda a área de
fronto ou colaboração?”52, tendo sido aprovada com A (excelente). Em
vizinhança, incluindo urbanização (arq. Fernando Lopes Burmeister),
seguida teve que afastar-se da Universidade para dedicar-se ao trabalho
paisagismo (arq. Afonso Leiva Galvis), escolas (arq. Geraldo José de
na Prefeitura de São Paulo, durante a gestão Erundina (1989-1992),
Santana), habitações (arqs. Mayumi Souza Lima e Sérgio Souza Lima) e
nunca tendo concluído a tese de doutorado (o que, segundo o filho
unidades complementares.
Mário, era motivo de constrangimento para ela53).
A estrutura do texto preparado para a qualificação tem cinco
Em 1984, Mayumi iniciou o curso de doutorado em História e Filosofia
partes: introdução; quadro político de 1976 a 1986; conflitos, ideologia
da Educação, na Faculdade de Educação, sob orientação de Celso de Rui
e participação; Estado e movimentos populares na construção escolar;
Beisiegel, pesquisador da história das políticas públicas de educação
críticas preliminares ao processo desencadeado.
no Brasil. Novamente, o tema de pesquisa tem a ver com a sua atuação
profissional. Se no mestrado a discussão era em torno das questões de
urbanismo e da pré-fabricação, no doutorado o interesse se desloca para
50 LIMA, Mayumi W. Souza. Aspectos da habitação urbana – dissertação de mestrado, p.48.
Brasília, UnB, 1965. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 16.
36
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
51 LIMA, Mayumi W. Souza. “Plano de pesquisa”, 1986. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe
Souza Lima, caixa 40.
52 Parte do texto da qualificação foi publicada no livro Arquitetura e Educação, opus cit., pp.75107. O volume doado pelo prof. Celso de Rui Beisiegel foi digitalizado e encontra-se em
dvd anexo a este trabalho.
53 Conforme depoimento de Mário Souza Lima à autora, em 20/10/2008.
Na introdução, discorre sobre as condições de vida urbana das
unido na oposição à ditadura. Partindo das definições de democracia
camadas populares, privadas dos seus direitos básicos e denuncia o
discutidas por autores como Francisco Weffort, Norberto Bobbio e
papel do Estado na manutenção da situação de espoliação, explicando
Giovanni Sartori55, Mayumi defende a democracia participativa como
a origem do título da tese:
forma possível de transformação social, em complemento à represen-
Nesse quadro de exploração/espoliação, o Estado teria um papel
tação por meio do voto:
múltiplo e fundamental para a manutenção do status quo. De um lado,
A participação exclusivamente nos períodos eleitorais, especial-
ele produz diretamente parte dessas condições de espoliação, atra-
mente quando esta é condicionada por uma forma de coação que
vés das políticas de investimento público e seu direcionamento; de
obriga a participação de todos, com a punição à ausência na eleição,
outro, na reprodução e divulgação da ideologia dominante, através
serve para legitimar as desigualdades e reforçar o poder dos grupos
de seus aparelhos que penetram na vida cotidiana dos indivíduos.
tradicionais hegemônicos.
Mas, o Estado constituiria também a instância privilegiada de pres-
(...) a questão da participação por meio de representação ou de
são e de negociação das camadas populares. É nele, ou melhor, em
participação direta deixa de ter sentido de alternativas excludentes,
pessoas que representam conjunturalmente o poder do Estado, que
mas de um sistema de participação política integral, que decorre
as camadas populares identificam a possibilidade de ver atendidas
da luta por uma democracia de sociedade e que por isso mesmo
suas reivindicações ou, em outros momento, seu principal opositor.
encontra um ‘continuum’ de formas de participação, desde as ins-
Esta relação ambígua de confronto e colaboração fica bastante clara
tâncias mais puras de democracia direta, às de democracia indireta
na luta pelo direito à educação, concretizada nas reivindicações por
ou da democracia representativa. 56
construção de escolas.54
Ainda dentro do quadro político do período, Mayumi analisa o discurNo segundo capítulo, analisa o período definido para estudo – de 1976
so da democracia participativa no plano de governo do PMDB e critica
a 1986, quando acontece a abertura política no país e se discute o en-
sua aplicação na prática:
caminhamento do processo de democratização política e social. Nesse
A manipulação das informações continua a ser instrumento cada
processo, inicialmente não havia consenso sobre as condições ideais
vez mais importante no aparelho do Estado, associado este a
de construção da democracia entre os diferentes grupos que haviam se
55 WEFFORT, F. Por que Democracia? Ed. Brasiliense, S.Paulo, 1984; BOBBIO, N. O futuro da Democracia.
Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1986; SARTORI, G. De la Democracie. Armand’Collin, Paris, 1973.
54 LIMA, Mayumi Watanabe Souza. Estado e movimentos populares na construção do prédio escolar:
confronto ou colaboração? Texto para exame geral de qualificação para doutorado na FEUSP, São
Paulo, 1988, p.1. Fonte: Acervo Celso Beisiegel.
56 LIMA, Mayumi Watanabe Souza. Estado e movimentos populares na construção do prédio escolar:
confronto ou colaboração? Texto para exame geral de qualificação para doutorado na FEUSP, São
Paulo, 1988, pp.18-20.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
37
grupos escolhidos pelo poder como ‘representantes legítimos’
A partir da análise de Celso de Rui Beisiegel da pressão dos movimen-
juridicamente instituídos como as lideranças mais cooperativas de
tos populares por educação, examina a atuação do Estado no processo
sociedades amigos de bairros ou eleitos, como vereadores, depu-
de expansão dos serviços educativos da rede pública para as classes
tados e prefeitos do mesmo partido que, embora não estivessem
populares, apontando a conseqüente redução da qualidade dos edifí-
comprometidos com os movimentos populares de reivindicação
cios construído:
são chamados pelo governo para se tornarem os ‘anunciadores do
À escola que servia para os futuros dirigentes, o prédio correspon-
benefício do Estado’.
dia oferecendo-lhes não apenas biblioteca, auditório ou laboratório.
Nesse processo, a participação popular é estimulada ou no mínimo
Oferecia-lhes muito mais: a expressão da “superioridade” do
aceita, para canalizar as insatisfações, até traduzi-la numa solicitação
segmento social ao qual pertencia a criança, valorizando aqueles
ao governo.
elementos visuais que ressaltavam a escola, no confronto com os
A partir desse momento, a relação Estado x setores populares re-
demais edifícios.
torna à relação de dependência, onde as decisões são de exclusiva
A escala, os volumes, os materiais, tudo concorria para identificar a
competência (no sentido jurídico de quem tem o ‘direito de’) do
escola com a cultura das elites.
Governo e o “participante” transformado em “solicitante” aguarda
Ao se popularizar, ou melhor dizendo, quando os setores dirigentes,
a aprovação benevolente dos dirigentes.
situados no aparelho do Estado, cedem às pressões das reivindica-
Essa situação de retorno a formas antigas de participação política
ções populares e das necessidades do crescimento econômico, as
são justificadas, através da questão de representação e eleição.57
escolas sofrem uma mudança qualitativa, justificada teoricamente,
tanto pela ótica da pedagogia, quanto pela ótica da psicologia social
No terceiro capítulo, parte para a análise do campo ideológico dos
como de “adequação aos valores populares”.59
prédios escolares:
O prédio escolar se confunde com o próprio serviço escolar e com
Em seguida contrapõe a justificativa de adequação aos valores popula-
o direito à educação. Embora colocado no rol dos itens secundários
res à real razão da simplificação e da baixa qualidade das construções
dos programas educativos, é o prédio da escola que estabelece con-
escolares destinadas às classes populares – a redução de custos:
cretamente os limites e as características do atendimento. E é ainda
Ou seja, a simplicidade das soluções não foi buscada para identifi-
esse objeto concreto que a população identifica e dá significado.58
car-se à simplicidade dos usuários, nem se deu oportunidade a que
se recriassem elementos caros ao imaginário daquela população. A
57 Idem, p.38.
58 LIMA, Mayumi W. Souza. Arquitetura e Educação. Opus cit., p.75.
38
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
59 Idem, p.78.
simplicidade transformou-se na padronização e primariação [sim-
De 1989 a 1990, Mayumi orienta quatro alunos de iniciação científica
plificação] dos espaços, interpretadas as necessidades educativas das
na universidade de São Carlos para a pesquisa intitulada “Arquitetura
camadas populares, segundo a visão reducionista e hierárquica das
dos espaços destinados à educação das crianças e dos jovens em São
camadas dominantes. Não se mudavam conceitos de espaços edu-
Paulo”, financiada pelo Cnpq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
cativos e sua apropriação ou adequação segundo as necessidades
Científico e Tecnológico). A pesquisa pretendia:
e características concretas de uma população. Homogeneizava-se
como ‘clientela carente’ e, como tal, as escolas sofreram cortes nos
ambientes, nas instalações e nos materiais.
60
• pesquisar e identificar as carências dos espaços destinados ao uso
coletivo das crianças;
• propor e testar elementos projetuais, com ênfase naqueles elementos lúdicos e visuais que interferem nos espaços destinados
O texto passa a discutir a maneira como são interpretadas as neces-
à educação.61
sidades das camadas populares e como são produzidos os espaços
para a educação a partir desta interpretação, analisando as políticas
As pesquisas dos alunos estavam vinculadas a uma pesquisa maior,
públicas e a organização administrativa dos órgãos responsáveis pelo
envolvendo a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Edu­
planejamento da rede física e pela construção de edifícios escolares
cação62) e com financiamento do BID (Banco Interamericano de
– primeiramente o FECE (Fundo Estadual de Construções Escolares)
Desenvolvimento), para a elaboração de um diagnóstico das carências
e, a partir de 1976, a CONESP (Companhia de Construções Escolares
dos espaços das escolas públicas no estado de São Paulo. A partir do
do Estado de São Paulo). São apresentadas e analisadas diversas meto-
diagnóstico, propunha-se chegar à elaboração de recomendações para
dologias de planejamento da rede física propostas ao longo do século
futuros projetos escolas, tendo em vista a melhoria qualitativa desses
XX, discutindo-se a possibilidade de participação da população usuária
espaços. O enunciado dos objetivos da pesquisa reflete claramente a
nesse processo.
postura crítica de projeto da arquiteta:
Quando da qualificação, o capítulo final que relataria as experiências de construção de escolas com a participação da população na
gestão da obra não havia sido escrito.
60 Idem, p.80.
61 LIMA, Mayumi W. Souza. “Relatório Pesquisa 1º Semestre 1989 – Arquitetura dos Espaços
destinados à Educação de crianças e de jovens da rede escolar de São Paulo”. Fonte: Acervo
Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 24.
62 A FDE é uma fundação de direito privado vinculada à Secretaria da Educação do Estado
de São Paulo. Foi criada em 1987 em substituição à Conesp e incorporou além das funções
de construção e manutenção da rede física de escola, fornecimento de mobiliário e de material pedagógico para as escolas, definição e aplicação de políticas educacionais, formação
permanente dos professores, pesquisa técnica, etc. Para mais informações consultar www.
fde.sp.gov.br.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
39
Nesse sentido, o prédio escolar tem de refletir a preocupação do
deficiências nos espaços existentes para criar diretrizes para os futuros
educador e as necessidades das populações usuárias específicas que,
projetos, num processo de auto-avaliação da própria produção e de
desde 1983 vem se corporificando na ênfase dada pela Secretaria da
seus métodos.
Educação às primeiras séries do 1º grau, sob a forma do projeto Ciclo
Além das atividades de pesquisa acadêmica e de consultoria para os
Básico e complementado na fase seguinte pela Jornada Cíclica.
órgãos públicos, por sua vasta experiência Mayumi era freqüentemente
Essas medidas trazem necessariamente no seu bojo algo mais do
convidada para palestras em seminários sobre a infância, a educação e
que a mera expansão do período de permanência da criança na
os espaços públicos para a criança na cidade. Produziu e publicou di-
escola com a presença do professor. Significa sobretudo a aceitação
versos textos sobre o assunto.64 Defendia a importância da experiência
oficial da existência de condições sociais, econômicas e culturais
de percepção do espaço e das atividades de brincar na elaboração do
precárias de parcelas consideráveis da população, que exigem
conhecimento da criança, o que implicava a necessidade de construção
tratamento especial sem os quais a universalização do direito à
de espaços orientados e adequados para a formação, de acordo com
educação não passa de um engodo. Significa ainda que, em virtude
a faixa etária. O capítulo 2 apresenta algumas das idéias da arquiteta
desse reconhecimento institucional abre-se campo para aqueles
sobre a relação da criança com o espaço.
educadores e comunidades que pretendam desenvolver metodologias mais adaptadas a sua realidade para melhor desempenho da
atividade educativa.
CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS
A arquitetura escolar terá de responder à nova conjuntura, refletindo sobre as conveniências e os limites tanto de padronização
Mayumi e Sérgio sempre estiveram envolvidos em movimentos de es-
quanto da originalidade, tendo em vista as variáveis que interferem
querda e eram filiados ao Partido Comunista. Desde a ida a Brasília, em
no problema da expansão e melhoria da rede de ensino público em
sua postura de atuação o casal demonstrava um grande compromisso
São Paulo.
com o a transformação da realidade social do país através do fazer
63
profissional. Nesse sentido, participaram da fundação do Partido dos
A pesquisa coloca em questão a padronização de materiais, de pro-
Trabalhadores (PT) em 1980, juntamente com outros intelectuais que
gramas e de projeto utilizada na FDE (e que vigora até hoje). É uma
defendiam a democracia direta e a formação da população de baixa
iniciativa importante deste órgão, na medida em que visa identificar
renda para a participação na vida política do país.
63 “Relatório n.1 – fevereiro/março 1989”. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima,
caixa 24.
64 Os textos existentes no acervo da arquiteta, na Fundação Perseu Abramo, foram digitalizados e os arquivos encontram-se em dvd anexo a este trabalho.
40
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Quando Luiza Erundina assumiu a Prefeitura de São Paulo, em
Criança66, na Favela Nova República, em São Paulo. O projeto foi feito
1989, Mayumi foi convidada para dirigir a Edif (Departamento de
por uma equipe multidisciplinar, com sociólogos e pedagogos envolvi-
Edificações da Secretaria de Serviços e Obras da Prefeitura de São
dos, e previa um centro de convivência para as crianças da favela, com
Paulo). Ao chegar ao poder, o PT precisou operar a máquina do estado
espaços para diversas atividades lúdicas e de formação – creche, área
e para isso convocou intelectuais e técnicos de destaque em suas res-
de exposições, brinquedoteca, equipamentos esportivos. Destaca-se a
pectivas áreas. Paulo Freire assumiu a Secretaria da Educação, Marilena
proposta de um espaço destinado ao convívio entre as crianças e os
Chauí a Secretaria da Cultura, Paul Singer a Secretaria do Planejamento
idosos da comunidade da favela, como incentivo a um processo de
e Ermínia Maricato a Secretaria da Habitação, dentre outros. Trabalhar
recuperação da cultura dessa população.
na administração municipal neste momento, mais do que uma opção
No ano seguinte assumiu a criação da fábrica de elementos
pessoal, era um compromisso ideológico de participar da construção
de argamassa pré-moldada da prefeitura – o Cedec (Centro de
de uma alternativa petista de governo.65 Desde a criação do partido, a
Desenvolvimento de Equipamentos Coletivos, 1990-1992), coordenan-
questão da democracia direta – com a participação da população nas
do sua organização e implantação e estabelecendo todas as diretrizes
decisões sobre a cidade – era muito cara ao governo petista.
de funcionamento. Pela importância do Cedec e pela maneira ímpar
Na direção da Edif, Mayumi elaborou o esboço de uma nova
política de construção e de manutenção dos equipamentos sociais. Ela
com que Mayumi coordenou suas atividades, dedicamos o capítulo 3
a este projeto.
criticava a má qualidade dos equipamentos oferecidos à população
Em 1993, após o término da gestão de Luisa Erundina na Prefeitura,
periférica e propunha que fosse criado um setor de pesquisa dentro
o Cedec foi fechado. Mayumi diminuiu o ritmo intenso de trabalho
da Edif, que pudesse testar e avaliar tecnologias e materiais destinados
que vinha levando nos quatro anos de administração petista e dedicou-
ao uso nos equipamentos públicos. Propunha ainda que se implantasse
se novamente a dar aulas em São Carlos e a trabalhar em projetos de
um processo mais organizado de planejamento das obras públicas e
consultoria.
que houvesse programas arquitetônicos e normas de referência para
Um exemplo é o projeto de educação ambiental (1993), vinculado
a elaboração desses projetos, em função das pesquisas realizadas. Isso
à despoluição do Rio Tietê, para o governo do Estado de São Paulo67. O
envolveria a realização de programas de formação para os técnicos da
projeto envolvia um trabalho educativo em todas as escolas próximas ao
Edif. Um dos projetos interessantes que ela fez na época foi o do Espaço
66 No livro Arquitetura e Educação, pp.177-185, encontram-se publicados alguns textos de
apresentação do projeto. A prefeitura também promoveu uma publicação do projeto: Espaço
Criança.São Paulo, PMSP, 1990, que pode ser consultada no dvd anexo.
65 Conforme depoimentos de Mário Souza Lima, Reginaldo Ronconi e Vera Pastorello à
autora em São Paulo, ao longo deste trabalho.
67 Os textos relativos ao projeto de educação ambiental foram publicados no livro Arquitetura
e Educação, op.cit., pp. 213-236.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
41
Tietê e seus afluentes, com o objetivo de conscientizar os alunos dessas
escolas sobre a importância das obras de tratamento dos rios. Os alunos
seriam então agentes de disseminação das idéias de educação ambiental
e das ações de preservação nos bairros onde residiam. O projeto previa
ainda um curso de formação para os trabalhadores das obras nos rios,
para que estes estivessem conscientes de seu papel na sociedade e pudessem explicar o projeto à população vizinha ou mesmo aos grupos de
estudantes e de curiosos que fossem visitar as obras.
Mayumi faleceu em 23 de outubro de 1994, aos 59 anos de idade,
em decorrência de um atropelamento ao atravessar a Avenida Rebouças,
em São Paulo. Após a morte, seu marido Sérgio organizou a publicação do livro Arquitetura e Educação, uma seleção de textos e projetos da
arquiteta. O estudo e a divulgação da produção de Mayumi como um
todo pode ser uma contribuição importante para o debate atual sobre
a atuação do arquiteto.
42
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CAPÍTULO 2
REFLEXÃO E PRÁTICA SOBRE A RELAÇÃO CRIANÇA-ESPAÇO
Em duas ocasiões, como Superintendente de Planejamento da Conesp,
com crianças eram na realidade experimentos de percepção do es-
Mayumi pôde realizar experiências piloto com a participação da po-
paço, oportunidades em que Mayumi testava na prática sua reflexão
pulação usuária das escolas (o caso da reforma da escola João Kopke,
sobre uma pedagogia do espaço. Como poderemos ver adiante, nessas
em 1976-78, e o caso da construção das escolas no Jardim Fortaleza e
experiências Mayumi criticava a passividade do processo educativo
no Bairro da Varginha, em 1983-84). A partir dessas experiências e de
tradicional e defendia de uma nova concepção pedagógica onde o
outras observações realizadas em paralelo, a arquiteta publicou dois
aluno participasse ativamente na elaboração do próprio conhecimento.
livros (Espaços Educativos: uso e construção, 1986, e A cidade e a criança, 1989)
Em outras palavras, ela criticava a concepção tradicional da educação
com suas reflexões sobre a construção e o uso dos espaços educativos
como mera transmissão de conhecimento, que cria indivíduos passivos
para crianças.
e reprodutores da ordem vigente, e defendia uma educação criadora,
Antes de relatar as experiências e as reflexões da arquiteta, convém
apresentar o que ela entende por espaço educativo:
onde o conhecimento é elaborado de maneira coletiva através do fazer
conjunto de educadores e educandos. Essa crítica das concepções de
Todo o espaço que possibilite e estimule positivamente o
educação está diretamente vinculada à difusão das idéias do educador
desenvolvimento e as experiências do viver, do conviver,
Paulo Freire a partir da década de 1960, quando foram publicados seus
do pensar e do agir conseqüente, é um espaço educativo.
dois livros mais famosos. Mayumi transpõe para o espaço a concepção
Portanto, qualquer espaço pode se tornar um espaço educativo,
da construção do conhecimento a partir da consciência do real. Enquanto
desde que um grupo de pessoas dele se aproprie, dando-lhe este
Paulo Freire alfabetiza a partir do diálogo e da reflexão sobre situações
caráter positivo, tirando-lhe o caráter negativo da passividade e
da vida cotidiana dos participantes do processo, Mayumi propõe um
transformando-o num instrumento ativo e dinâmico da ação dos
ensino a partir da observação e da vivência do espaço cotidiano:
seus participantes, mesmo que seja para usá-lo como exemplo
crítico de uma realidade que deveria ser outra.
Na sua concepção, o espaço não É educativo – ele se TORNA educativo
a partir da apropriação pelos usuários. Por isso a questão do uso dos
espaços é tão trabalhada em sua obra. Todas as atividades realizadas
Texto “Algumas reflexões sobre construções escolares”, documento interno da Superinten­
dência de Planejamento da Conesp, setembro de 1983, pp.2-3. Grifos do próprio texto.
Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, caixa 24.
44
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Paulo Freire publicou seu livro Educação como prática da liberdade em 1967 no Chile, quando
estava exilado. O livro relata sua experiência de alfabetização de adultos a partir da utilização
de “palavras geradoras” nos Círculos de Cultura no início da década de 1960 – o que mais
tarde ficou conhecido como método Paulo Freire. A alfabetização implicava numa discussão
sobre a problemática envolvida nas palavras geradoras, cuidadosamente selecionadas para
cada grupo específico, num processo de tomada de consciência do indivíduo sobre seu
contexto social, cultural e político. Com a conscientização buscava-se formar sujeitos
ativos capazes de participar da sociedade com liberdade. Em 1970 Freire publica Pedagogia
do Oprimido, o livro que lança a definição de “educação bancária” – a concepção tradicional
de educação onde o professor (detentor do saber) “deposita” o conhecimento na cabeça
do aluno, entendido como uma espécie de recipiente vazio a ser preenchido. Os dois livros
tiveram ampla divulgação no Brasil e são referências mundiais de educação.
Espaços para a educação são as cidades, as praças, as ruas como hoje
EEPG JOÃO KOPKE
elas existem; são as construções que nos cercam; são os bairros periféricos que crescem em torno das grandes cidades; são os volumes
De 1976 a 1978, Mayumi foi Superintendente de Planejamento na
e as cores, os materiais naturais e produzidos....; são, enfim, cheios
Conesp (Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo).
e vazios dentro dos quais as nossas experiências se processam. São
O governador era Paulo Egydio Martins e a Superintendência cons-
educativos, na medida em que refletem e representam a realidade
truía escolas num ritmo “desenfreado”, algo como 2000 salas de aula
brasileira, com sua cultura, seu nível tecnológico, suas condições de
por ano. Nesse período, Mayumi encontra tempo para desenvolver
clima, a estrutura sócio-econômica de sociedade; são educativos,
atividades lúdicas com os alunos da EEPG João Kopke, em São Paulo,
porque através deles pode-se descobrir, com os participantes, como
paralelamente ao processo de ampliação da escola. Em meio ao fazer
e porque são e como são. E, finalmente, são educativos, se através
“mecânico” da reprodução de projetos em larga escala, ela busca uma
das ações sobre esses espaços, os participantes puderem apropriar-se
alternativa que possa ser transformada em exemplo para as futuras
dos mesmos, criando-lhes novas formas de uso, encontrando novas
intervenções. Foi sua primeira iniciativa de construção com a partici-
formas de relacionamento entre eles.
pação dos usuários.
Em 1976, com a transferência da EEPG Caetano de Campos da
Praça da República para o bairro da Aclimação, os alunos que eram
moradores do centro foram transferidos para a escola mais próxima,
no caso a EEPG João Kopke, no Bom Retiro, próxima à rodoviária e
à Estação Julio Prestes. Surgiu então a necessidade de ampliar a capacidade da escola para receber os novos alunos. A EEPG João Kopke
funcionava desde 1930 num casarão antigo, construído em 1890, que
havia sido moradia de uma baronesa do café. Na época o estado do
edifício era tão precário, devido à falta de manutenção, que era neces-
Texto “Espaços educativos” apresentado por Mayumi Souza Lima no I Seminário de
Educação pela Arte, Rio de Janeiro, 1977. O trecho encontra-se citado no documento
“Algumas reflexões sobre construções escolares”, Superintendência de Planejamento da
Conesp, setembro de 1983, p.27. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
Segundo depoimentos das arquitetas Vera Pastorello e Odete Tomchinsky, que conheceram Mayumi quando começaram a trabalhar na Conesp, nesse período. A partir de então
trabalharão juntas em muitas ocasiões, inclusive na implantação do Cedec em São Paulo
(1990-1992).
Conforme depoimento de Vera Pastorello à autora em 16/10/2008.
Escola Estadual de Primeiro Grau.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
45
sário substituí-lo. Previa-se a demolição do casarão e a construção de
dos demais (contra a postura de impor decisões, de cima para baixo).
um novo edifício, sem interrupção das aulas por não haver outro local
Compartilhava o respeito pelo trabalhador da construção, que não só
para funcionar como escola enquanto durassem as obras.
executa o projeto – é um artesão e também tem experiência, pensa e
Mayumi, como Superintendente de Planejamento, solicita auto-
faz junto com todos os técnicos formados na universidade.
rização para realizar um estudo piloto envolvendo os alunos, tendo
A direção da escola organizou um grupo de alunos10 que par-
por objetivo “estabelecer uma metodologia que assegurasse a efetiva
ticipou de reuniões quinzenais com a equipe da Conesp onde eram
participação dos usuários na definição de suas necessidades.” A abor-
realizadas atividades que objetivavam “a percepção por parte dos
dagem buscava amenizar os efeitos do processo de obras e incentivar
usuários do espaço físico da escola e da sala de aula, suas funções
uma melhor apropriação do equipamento público pelos usuários,
convencionais e suas possibilidades de alteração; percepção do espaço
minimizando os problemas de manutenção decorrentes de vandalismo
cultural, social e econômico refletido no espaço físico.”11 A idéia é que
e outras formas de agressão ao edifício escolar.
esses representantes transmitissem aos colegas informações sobre as
Montou-se uma equipe interdisciplinar (arquiteto, socióloga,
atividades desenvolvidas, como “agentes multiplicadores”. Além disso,
jornalista, educadora) externa à Conesp, para realizar atividades lúdi-
havia no pátio um painel com fotos das atividades e uma urna para
cas (relacionadas à obra do novo edifício, à percepção do espaço da
sugestões, críticas e comentários para uso de todos os alunos. No início
escola e de seu entorno, sua relação com a cidade) com as crianças.
do processo, os alunos utilizavam as urnas para desabafo e agressões
Ao iniciar um novo projeto, Mayumi preocupava-se em montar uma
gratuitas, inclusive com uso de palavrões. Após quatro meses de tra-
equipe coerente com os objetivos. Preocupava-se com o envolvimento
balho da equipe da Conesp na escola, praticamente desapareceu o uso
dos integrantes e com a compreensão correta dos objetivos de projeto,
de palavrões nas mensagens, que passaram a ter um tom de carência,
fazendo um trabalho educativo com a equipe, através de uma dinâmica
pedindo atenção para os problemas de cada um dos alunos e de sua
de leituras para discussão e reflexão conjunta. Buscava conscientizar os
relação com o espaço da escola e do bairro.
profissionais sobre como trabalhar em de forma integrada, incentivando
a participação e o envolvimento dos colegas na avaliação dos processos
e nas decisões sobre os caminhos a seguir, e a respeitar o conhecimento
Conforme comentários dos colegas de trabalho, Vera Pastorello, Odete Tomchinsky e
Reginaldo Ronconi, em depoimentos à autora, 2008.
Idéia que nasce com Paulo Freire, na sua defesa do “saber-feito” (o conhecimento gerado
pela experiência de vida da população) e da construção de um saber coletivo. Sérgio Ferro
defende essa idéia no canteiro de obras em seu livro O canteiro e o desenho.
LIMA, Mayumi W. Souza. “Estudo do espaço escolar”, trabalho apresentado na 32ª.
Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Rio de Janeiro,
1980. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
46
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
10 Um representante de cada classe, de 1ª a 8ª série. A escola tinha 5 turmas de cada série,
portanto o grupo possuía 40 alunos. Nos anexos pode ser consultada a lista de alunos.
11 Idem.
As atividades lúdicas realizadas com esse grupo de alunos aconteciam na sala de aula e envolviam projeção de slides, encenação de
peças de época representando os antigos barões do café que moravam
na região, desenho, música, etc. Inicialmente as crianças tiveram dificuldade em participar e interagir com a equipe dentro da sala de aula.
Foi preciso tampar as carteiras e cadeiras com jornais, descaracterizando
o espaço de aula, para que as crianças pudessem se sentir mais livres,
sem o “peso” da disciplina ligada à sala de aula. (ver fotos ao lado)
Os professores foram convidados a participar dessas atividades, mas
acabaram não se envolvendo por falta de interesse no projeto, alegando
falta de tempo livre e inexistência de remuneração pelo que seriam
“horas extras” de trabalho.
Foi colocada no saguão da escola uma maquete do novo prédio
para que os alunos soubessem o que ia ser construído. Ao lado da maquete, Mayumi instalou um aquário de água salgada com alguns bernardos-eremitas (foto ao lado). O bernardo-eremita é um invertebrado
que vive alojado em conchas vazias para não ser devorado por peixes.
Para continuar crescendo, o bernardo-eremita precisa mudar para uma
concha maior. No caso, o bernardo-eremita tornou-se um símbolo de
quem se arrisca e muda para poder sobreviver e crescer, uma metáfora
para a mudança de prédio da escola. Notamos aqui a já citada influência
Página do relatório “Estudo do espaço escolar” (CONESP, c.1976) . Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
da cultura japonesa no aprendizado através da observação da natureza.
Entre as atividades lúdicas realizadas, havia brincadeiras de fingir-se
animais ou povos de outras épocas e culturas (por exemplo, os barões
do café ou gueixas japonesas). Mayumi usava essas figuras animais ou
históricas para que as crianças pudessem perceber as diferenças culturais ou refletir sobre o comportamento e as relações de poder entre as
pessoas, passando a entender o seu próprio espaço de maneira crítica.
Fotos da maquete e do aquário com o bernardo-eremita. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
47
Páginas do relatório “Estudo do espaço escolar” (CONESP, c.1976), com as atividades realizadas em sala de aula com os alunos da EEPG João Kopke. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
48
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Páginas do relatório “Estudo do espaço escolar” (CONESP, c.1976), com as atividades realizadas em sala de aula com os alunos.Nas fotos à esquerda, vê-se Mayumi. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
49
Ao comparar o edifício antigo com o novo em construção, a equipe da Conesp almejava que os alunos percebessem as diferenças entre
materiais e técnicas e seu significado – como cada edifício representava
um momento social, histórico e cultural. Tratava-se também de trabalhar
a destruição simbólica do casarão antigo, fazendo-os perceber que a toda
construção está ligada uma destruição. E que essa destruição é consciente
e planejada, na qual se escolhe o que preservar e o que destruir.
Além das atividades em sala de aula, foram realizadas e visitas às
casas onde os alunos moravam e entrevistas com suas famílias. Através
de fotos aéreas do bairro, podiam identificar suas casas, o percurso
para chegar à escola e pontos de referência. Com câmeras emprestadas,
as crianças puderam fotografar e documentar locais de seu convívio
diário. A equipe entrou em contato com a realidade dos usuários do
futuro edifício: eram moradores de cortiços ou apartamentos pequenos, sem espaços para brincar/estudar, sendo o espaço da escola sua
única alternativa. Tal constatação sensibilizou a direção da Conesp, que
permitiu a criação de um espaço de lazer na nova escola para uso fora
do horário de aulas.
Propõe-se então, além da construção de um projeto de escola nos
padrões da Conesp, o acréscimo de uma área para as crianças, junto à
quadra esportiva: o grêmio (espaço com mesa para jogos e pequena
arena para apresentações artísticas), cujo programa foi definido em
conjunto com os alunos. Foram escolhidos elementos do casarão antigo
para serem preservados em sua construção: colunas de ferro fundido,
domo de cristal, lustre de bronze, como forma de manter a memória
da antiga escola (ver fotos p.52).
O uso do espaço do grêmio seria administrado pelos próprios
alunos. Cada série tinha um representante, que possuía a chave.
50
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Fotos de registro das visitas às casas dos alunos e fotos do entorno da escola, tiradas pelos próprios
alunos (c.1976). Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
Imagens do casarão antigo, sede da EEPG João Kopke.
Fonte: relatório “estudo do espaço escolar” (Conesp, c.1976).
Acervo Mayumi Souza Lima, caixa 40.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
51
Inicialmente a equipe da Conesp desenvolveu atividades para estimular
antes naquela escola. Foi preciso romper a disciplina e a ordem da
o uso e a apropriação do espaço. Apesar de todo o processo de incen-
sala de aula (representadas pelas carteiras em organizadas em fila) com
tivar os alunos a participar e compreender o seu espaço na escola e
jogos e brincadeiras para que a crianças fossem capazes de interagir. As
dele apropriar-se, em pouco tempo o grêmio foi tomado dos alunos
atividades de reconhecimento do espaço da escola e do bairro onde as
pela diretoria da escola e transformado em depósito, e foram instaladas
crianças viviam tinham como objetivo compreender a maneira como
grades no pátio. A proposta de gestão do espaço – com eleições livres
essas crianças se situam e se apropriam (ou não) do espaço. A partir
para escolha dos representantes de cada classe e autonomia para os
dessa compreensão, é possível interagir com as crianças para que elas
alunos no uso do espaço – não se enquadrava muito bem no clima dis-
possam perceber e desenvolver novas formas de uso do espaço. Eram
ciplinar no contexto da ditadura militar. Mayumi entende o resultado
atividades de formação de uma consciência espacial para as crianças.
final como “caso exemplar da dominação opressiva – e possivelmente
Com a falta de envolvimento do corpo docente da escola – mais
inconsciente – dos adultos sobre as crianças das escolas públicas.”12
voltado para o sistema tradicional de ensino de mão única onde as
Em 1980, a equipe da Conesp retornou à escola para acompanhar
crianças apenas recebem passivamente o conhecimento – a criação de
o uso do espaço de conviência construído pelos alunos, que havia
um espaço de liberdade para as crianças dentro da escola acabou sendo
sido transformado em depósito. Foi organizado um dia de eventos no
frustrada13. As atividades lúdicas desenvolvidas não foram suficientes
grêmio, com encenação de peça criada pelos próprios alunos e apre-
para mobilizar os alunos a lutarem por seu espaço.
sentação musical. Um grupo de alunos fantasiados percorreu a escola
para convidar os demais a assistir as apresentações (ver fotos p.54).
Mesmo assim, na visita posterior da equipe o espaço do grêmio havia
voltado a ser transformado em depósito.
A equipe buscou com esse processo primeiramente conhecer
os usuários daquela escola. Mayumi criticava o sistema de projetos
padronizados adotado pela Conesp, que supunha uma população
homogênea, e defendia o estudo caso a caso. A iniciativa de Mayumi
face a essa situação delicada da obra a ser realizada durante o período
de aulas possibilitou a realização desse estudo piloto. Para aproximar-se
das crianças foi preciso construir um espaço de diálogo que não existia
12 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, p.78.
52
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
13 Adriana Sousa considera que a falta de envolvimento dos professores no processo pode
ter sido o principal motivo do “fracasso” do estabelecimento de um espaço de uso dos
alunos. Sua análise pode ser consultada no relatório de iniciação científica: SOUSA, Adriana
Ferreira. Arquitetura, projeto participativo e educação infantil na produção de Mayumi Watanabe de Souza Lima.
FAUUSP, 2007.
Fotos das obras de construção do novo edifício da EEPG João Kopke. Observa-se a coexistência com o casarão antigo em processo de demolição. Nas fotos ao alto, vê-se o grêmio em construção. Ao centro, o
acesso dos alunos às salas de aula do antigo casarão durante o período de obras. Abaixo, vista geral do novo edifício. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
53
Fotos dasatividades realizadas para a utilização do grêmio com os alunos em 1980: passeio pela escola convidando todos para as apresentações, de música e de teatro. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
54
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
BAIRRO DA VARGINHA E JARDIM FORTALEZA:
DUAS EXPERIÊNCIAS DE CONSTRUÇÃO COM A
PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO
semanais aos domingos com a comunidade envolvida no processo,
para discutir a forma de trabalho. A equipe reunia-se também com os
trabalhadores no canteiro de obras, para discutir direitos trabalhistas,
materiais e técnicas, o tratamento entre eles, etc.
De 1983 a 1984, Mayumi voltou a trabalhar como Superintendente de
Foram desenvolvidas ainda atividades lúdicas envolvendo as crian-
Planejamento da Conesp. Desenvolveu o programa pioneiro de assesso-
ças, futuras usuárias da escola: desenho, colagem, projeção de filmes,
ria aos movimentos populares na gestão da construção de escolas, que
passeios de reconhecimento do bairro, etc. Todas as atividades desenvol-
fez parte de sua pesquisa de doutorado.
vidas pela equipe eram um esforço para que as crianças e a comunidade
Esses projetos acontecem no momento de abertura política do
se conscientizassem e se apropriassem do equipamento escolar:
país, com a idéia de construção da nova democracia. O governador
Enquanto tentávamos nos entender com os adultos, desenvolvíamos
Franco Montoro tinha como diretrizes de governo: a democratização
com as crianças atividades com o intuito de fazê-las repensar os
da administração, a descentralização dos processos decisórios e a par-
espaços por elas ocupados, como e porque eles são organizados,
ticipação da população.
como é possível alterá‑los. Permeando tudo isto estava a tentativa de
Mayumi propõe a implantação de uma política alternativa de
colocá-las como sujeitos de sua realidade, capazes de transformá-la
descentralização para a construção de escolas com a participação da
a partir do seu entendimento, através de sua ação e na direção da
população na gestão da obra. Nesse intento, são selecionados quatro
satisfação de suas necessidades. Para isto utilizávamos atividades de
movimentos de associações de bairro que reivindicavam a construção
desenho, pintura e colagem, onde as crianças reproduziam a sua
de escolas em sua região para a realização da experiência piloto: Bairro
casa, o bairro, o surgimento da nova escola, etc., onde foi possível
da Varginha, Jardim Fortaleza, bairro Divinéia e Jardim Ikeda14. A Conesp
perceber a falta de liberdade de criação em que vivem.15
seria encarregada do projeto, fornecimento de materiais, assessoria
técnica e pagamento da mão de obra. A Sociedade Amigos do Bairro
O processo16 encontrou algumas dificuldades e diversos âmbitos. Nas
(SAB) seria responsável pela seleção dos trabalhadores, divulgação do
comunidades de bairro, havia conflitos de poder das lideranças locais
processo para a comunidade e administração da obra.
A equipe da Conesp envolveu-se em diversas atividades com a
população local, desde o início do projeto, com a escolha dos terrenos
para a construção, até a entrega da obra. Eram realizadas reuniões
14 Apenas as duas primeiras obras puderam ser finalizadas.
15 CONESP. EEPG Bairro da Varginha – Relatório de avaliação sobre a sua execução, 1984, pp.18-19. Fonte:
Acervo Mayumi W. Souza Lima, caixa 33.
16 Para a descrição detalhada do processo, conferir os relatórios da Conesp existentes no
Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima, digitalizados no dvd anexo. Veja-se também a análise
no relatório final de iniciação científica da estudante Adriana Ferreira Sousa: Arquitetura, projeto
participativo e educação infantil na produção de Mayumi Watanabe de Souza Lima. FAUUSP, 2007.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
55
entre si e em relação aos técnicos da Conesp, que enfrentavam ainda
dificuldade de comunicação direta com a população, acostumada a ser
tratada de forma paternalista. Havia entraves políticos e burocráticos
dentro da própria Conesp e divergência de postura entre os membros
da equipe. No entanto, foi um aprendizado importante para toda a
equipe envolvida e para a população local, que se fortaleceu enquanto
grupo mobilizado.
A maneira como foi conduzida a experiência de participação da
população na obra se assemelha à idéia do canteiro de obras como local
de formação de cidadãos, defendida por Rodrigo Lefèvre em sua dissertação Projeto de um acampamento de obra: uma Utopia17. Rodrigo visualizava
o canteiro como um local de aprendizado para todos os trabalhadores
envolvidos – um local de troca entre trabalhadores e técnicos formados
pela universidade, democratização do conhecimento e de transformação das relações de produção18. Ele propunha a organização de um canteiro de obra num sistema onde os trabalhadores, oriundos das classes
populares, fizessem a autogestão e a autoconstrução de suas casas,
como base de um processo de formação e aprendizado de atividades
profissionais ligadas à construção. Como já vimos, Rodrigo e Mayumi
eram contemporâneos na FAUUSP e foram colegas na reformulação dos
cursos de arquitetura em Santos e São José dos Campos. Partilhavam as
mesmas reflexões e faziam parte de uma geração comprometida com
a reflexão da função do arquiteto e com a busca constante de soluções
para a melhoria das condições de vida das classes de baixa renda.
17 LEFÈVRE, Rodrigo Brotero. Projeto de um acampamento de obra: uma utopia. Dissertação de
Mestrado. São Paulo, FAUUSP, 1981.
18 ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova. São Paulo, Editora 34, 2002, p.132.
56
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Fotos da escola no Jardim Fortaleza, 1984.
Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
Fotos da obra da escola no Bairro da Varginha, 1984. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
57
ESPAÇOS EDUCATIVOS – USO E CONSTRUÇÃO
de espaços escolares para futuros projetos e/ou transformação de
espaços existentes.
O CEDATE – Centro de Desenvolvimento e Apoio Técnico à Educação
No texto de apresentação do projeto, Mayumi partia do contexto
– foi criado em meados de 1981 como um órgão de pesquisa vincu-
mais global para entender o edifício escolar. Contextualizava a vida na
lado ao MEC – Ministério da Educação e Cultura. Fruto da fusão da
sociedade de consumo, onde o mercado produtor de bens de consumo
Coordenadoria de Desenvolvimento das Instalações do Ensino Superior
e os meios de comunicação de massa possuem técnicas de manipula-
(PREMESU) e do Centro Brasileiro de Construções Escolares (CEBRACE),
ção da vontade coletiva, estimulando o consumo passivo e reprimindo
incorporou ainda o Programa de Expansão e Melhoria do Ensino
o pensar próprio, individual. No Brasil, a situação era agravada pela
(PREMEN). Sua finalidade era a produção de conhecimento ligado à
precariedade das instalações e do funcionamento da escola pública e
construção e manutenção da infra-estrutura física de equipamentos de
das condições de vida das crianças das classes populares, frequenta-
educação, cultura e esportes – planejamento da rede de equipamentos,
doras essas escolas. Partindo deste existente precário, a proposta era
padronização de especificações técnicas para os edifícios, pesquisa de
investigar possibilidades de alterar a condição de pobreza do espaço
materiais e técnicas construtivas e diretrizes de projeto.
existente, com intervenções de baixo custo19.
Mayumi já havia trabalhado anteriormente em projetos para o
Mayumi criticava a padronização de programas, dimensões e ma-
PREMEN, tendo colaborado na criação do CEBRACE. Em 1985, foi con-
teriais para a construção de edifícios escolares. De norte a sul do país,
tratada para pesquisar elementos espaciais adequados às crianças das
as crianças são muito diferentes entre si e convivem com realidades
escolas públicas de 1º grau, com o objetivo de produzir recomendações
muito distintas. Na periferia de São Paulo, no caso das duas escolas
de projeto para arquitetos e sugestões de uso dos espaços escolares
observadas, o entorno era indefinido, com casas nas cores dos blocos
existentes para professores.
de alvenaria, sem nomes nas ruas, com poucas referências espaciais
Mayumi determinou como universo de pesquisa as escolas recém-
importantes. A escola – elemento tão importante para a comunidade
construídas com a participação da população no Bairro da Varginha e
– apresentava-se isolada por muros, sem oferecer à criança estímulos
no Jardim Fortaleza, por serem duas escolas em que já havia estabeleci-
de cores fortes ou algum outro aspecto mais acolhedor. A pesquisa
do um contato próximo com os usuários.
apontava a necessidade de se conhecer como as escolas são pensadas,
A pesquisa previa três etapas: 1.observação do cotidiano da escola
construídas e usadas pela população para que se pudesse repensar as
e seu funcionamento; 2. projeto e produção de material pedagógico
em conjunto com professores e alunos e testes de uso dos materiais
produzidos; 3. construção de elementos-suporte para as atividades
pedagógicas em sala de aula, observação de uso, avaliação e proposta
58
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
19 Tendo em vista que os argumentos estatais contra a implementação de projetos de
modernização dos espaços escolares em geral apóiam na falta de verbas para financiar esses
projetos [n.a.].
diretrizes de projeto. Os espaços educativos devem oferecer aos usuá­
O produto final da pesquisa para o CEDATE é a publicação do livro
rios estímulos para a sua apropriação e uso criativo. Assim sendo, a
Espaços Educativos, Uso e construção21. O livro é direcionado aos professores
proposta era introduzir no espaço da escola elementos que estimulas-
da rede pública e traz sugestões de atividades de percepção e transfor-
sem a curiosidade da criança:
mação do espaço a serem desenvolvidas em sala de aula.
A sugestão é muito simples: com relação a espaços o que importa
O texto de introdução do livro é uma espécie de manifesto so-
é criar elementos que possam ser recriados – pela imaginação
bre o uso do espaço das escolas públicas, convocando os professores
– ou construídos realmente pelas crianças; com relação a objetos,
a assumirem seu papel na transformação da concepção de espaço na
com maior razão, justifica-se o cuidado de oferecer-lhes material
sociedade:
e elementos que permitam a experiência positiva da destruição/
Elas [as sugestões de atividades] partem do pressuposto de que todo
construção, da negação do óbvio e proposta do inesperado.
espaço produzido pelo homem interfere no processo educativo de
Serão educativos na medida em que possibilitar o contacto, a per-
quem o produz e de quem o consome, de forma negativa ou posi-
cepção do material, do tempo e estimular a relação da criança com
tiva. Isto é, o espaço produzido nunca é indiferente na medida em
o mundo.
que condiciona nossos gestos diários, habitua nossa visão, estimula
O projeto do espaço educativo para criança é portanto um projeto
elementos simbólicos, estabelece pontos de referência. Será positivo
necessariamente inacabado – intencionalmente incompleto – isto
se aquele que produz e aquele que usa, perceber o seu significado
é, o projeto se completa somente com e pela ação da criança; isto
e puder participar de sua transformação/construção, situar-se
não significa falta de projeto ou de proposta do educador ou do
nesse espaço e usá-lo como instrumento de sua ação intencional.
arquiteto, mas uma intenção claramente contida no projeto de fazer
Será negativo se o produtor não tiver consciência do seu trabalho
da criança o elemento ativo de construção do espaço. Esta criança,
parcelado e se o usuário, quase sempre insatisfeito da precariedade
porém, não será de novo a abstração padronizada, criança na cabeça
que o espaço da escola oferece, permanecer passivo, confundido
de quem projeta ou educa, mas cada criança real que pertence a um
entre móveis e utensílios que o acaso ou decisões misteriosas das
determinado grupo social, mora em determinado local e condição.
autoridades lhes colocou em contato.
O espaço deverá permitir, portanto, a interpretação variada que
O professor é principal agente na determinação do sentido
cada criança dará. (...)
positivo ou negativo que se dá ao uso dos espaços escolares,
20
20 LIMA, Mayumi W. Souza. “Espaço para a Educação Pré-escolar”. Texto preparado para o
Seminário do CEDATE/MEC, Brasília, outubro de 1985. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima,
caixa 24.
21 Brasília, MEC/CEDATE, 1988. Coordenação: Mayumi Souza Lima. Equipe responsável:
Mayumi W. de Souza Lima e Tereza Beatriz Herling (arquitetas), Irineu M. Sugahra e
Massako M. Kohl (fotos e desenhos).
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
59
Reprodução de página do livro Espaços Educativos: uso e construção, com a crítica à organização da sala de aula em fileiras. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
Fotos das salas de aula da escola Jardim Fortaleza, onde foram realizadas as experiências para o projeto do CEDATE. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
60
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
embora não seja ele(a) o responsável por sua produção inicial.
Somente ele(a) pode desvelar esses espaços, analisá-los, transformá-los em instrumento de trabalho dos seus alunos e, se
possível, elementos lúdicos e educativos para adultos e crianças
da comunidade.22
Sem nomear explicitamente Paulo Freire, o texto opõe as duas concepções
de educação definidas pelo educador: a educação de mão única – onde o
professor apenas transmite valores e conhecimentos para alunos passivos
– e a educação integral, crítica e criativa – onde cada participante seja
ao mesmo tempo educador e educando, num processo de crescimento
e construção coletiva do conhecimento. Surge a crítica à organização
tradicional das salas de aula com as carteiras enfileiradas que refletem
a pedagogia da mera transmissão de conhecimento – o professor como
orador e os alunos como platéia (ver página ao lado). Esta não precisa
necessariamente ser a única configuração adotada para a sala de aula. O
livro recomenda que as crianças sejam apresentadas ao edifício da escola
e aos seus funcionários, numa atividade de reconhecimento do território
Página do livro Espaços Educativos: uso e construção, com propostas de uso das portas como suporte
para aplicação de elementos de comunicação. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
para que a criança se sinta segura em seu novo espaço.
São sugeridas diversas intervenções no espaço da sala de aula e da
escola, como podemos observar nas imagens a seguir.
22 LIMA, Mayumi W. Souza. Espaços educativos: uso e construção. Brasília, MEC/CEDATE,
1988, pp.9-10.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
61
Páginas do livro Espaços Educativos: uso e construção, com propostas: o uso do batente da porta como escala (à esq.) e a criação de suportes para pendurar materiais educativos (dir.).
Fotos das atividades realizadas com os alunos da escola Jardim Fortaleza, para o projeto do CEDATE. Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
62
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Fotos das atividades realizadas com os alunos da escola Jardim Fortaleza, para o projeto do CEDATE. (Nas fotos ao alto aparece Mayumi com as crianças). Fonte: Acervo Mayumi Watanabe Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
63
A CIDADE E A CRIANÇA
de espaços – causado pela redução cultural dos programas, pela redução de áreas, pela má qualidade dos materiais utilizados. No caso de
No livro A cidade e a criança, publicado em 1989, Mayumi reuniu suas
edifícios destinados ao uso de crianças, Mayumi destaca a observação
observações ao longo de anos de trabalho planejando ou projetando
de como esses espaços são construídos para o controle:
espaços para uso de crianças. Como havia acabado de fazer a qualifi-
Foi nesse observar assistemático, num compromisso descompro-
cação para o doutorado em Filosofia da Educação, estava impregnada
missado, que a nossa atenção foi chamada pela forma como o
por todas as leituras que havia feito. O livro anunciava logo no início a
poder, primeiro da sociedade de classes, segundo, das instituições
questão frequente em sua atuação como arquiteta, que seria discutida
representativas dessa sociedade e, terceiro, dos adultos em geral, se
ao longo do texto:
apodera do espaço da criança e o transforma num instrumento de
De alguma maneira, a questão do espaço sempre esteve presente
dominação.
em nossas atividades. Não tanto o espaço enquanto resultado da
A organização e a distribuição dos espaços, a limitação dos movi-
concepção de um arquiteto, mas antes a forma como é organizado,
mentos, a nebulosidade das informações visuais e até mesmo a falta
distribuído e direcionado pelos que detêm o poder e como esse
de conforto ambiental estavam e estão voltadas para a produção de
espaço é apropriado ou não por aqueles a quem se destinaria.
adultos domesticados, obedientes e disciplinados – se possível lim-
23
pos –, destituídos de vontade própria e temerosos de indagações.
A primeira referência teórica apresentada no livro é a questão da
Nesse processo, somos todos co-responsáveis. Há, em todos os
tirania do desenho sobre o usuário, descrita por Robert Sommer .
lugares, como que a obsessão do controle que perpassa todos os
Mayumi observa que a tirania do desenho só ocorre plenamente sobre
nossos comportamentos adultos em relação à criança; precisamos
os usuários coletivizados, que não têm voz nem vontade próprias.
sentir-nos donos da situação, ter presente todas as alternativas que
A interpretação que os detentores do poder social fazem do desejo
a criança poderá escolher, porque só assim nos sentiremos seguros.
e das necessidades do usuário coletivizado determina os programas
A liberdade da criança é a nossa insegurança, enquanto educadores,
dos edifícios construídos para essa mesma população usuária – cole-
pais ou simples adultos e, em nome da criança, buscamos a nossa
tivizada, abstrata, anônima. No esforço de reduzir gastos, os edifícios
tranqüilidade, impondo-lhes até os caminhos da imaginação.25
24
produzidos pelo poder público acabam sofrendo um empobrecimento
Mayumi contrapõe dois tipos distintos de uso do espaço. Primeiramente,
23 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, p.9.
24 SOMMER, Robert. O papel do arquiteto – a conscientização do design. São Paulo, Ed. Brasiliense,
1979.
64
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
o espaço como elemento ativo de condicionamento da criança para
25 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, pp.10-11.
a constituição do futuro adulto passivo, conforme padrão desejado
enquanto elemento neutro organizado ou construído por peças
pela sociedade de consumo. Nas escolas públicas, Mayumi observou o
ou componentes materiais, é um ente que, apesar de sua concre-
comportamento autoritário e repressivo dos adultos na organização e
tude, paradoxalmente, só existe na abstração, quando ele passa
uso dos espaços destinados às crianças, produto do condicionamento
a ser um objeto-mercadoria ou um objeto-estudo. Em qualquer
social a que estamos todos submetidos, como por exemplo no caso do
outra situação, o espaço organizado ou construído é mediado,
uso do espaço do grêmio na EEPG João Kopke.
qualificado, completado ou alterado pela relação que nele estabe-
A segunda forma seria a do espaço como um instrumento para a
lece o indivíduo consigo próprio ou com outros indivíduos.26
formação de adultos criativos e inteligentes, como um laboratório onde
as crianças tenham liberdade para experimentar e criar, apropriando-se
Ao contrário da abstração do mundo adulto, as crianças percebem o
do espaço e transformando-o.
espaço sempre como ambiente relacionado às suas sensações: espaço-
Não há espaço vazio, nem de matéria nem de significado; nem
alegria, espaço-medo, espaço-proteção – ou seja, os espaços onde elas
há espaço imutável. Nada é mais dinâmico do que o espaço
podem experimentar a liberdade ou a opressão.
porque ele vai sendo construído e destruído permanentemente,
Em suas experiências Mayumi procurava observar a forma como
seja pelo homem, seja pelas forças da natureza.
as crianças podem se apropriar criativamente do espaço sem a “repres-
Também nada existe nem se articula fora dele. Justamente porque
são” promovida pelo adulto, com a intenção de oferecer alternativas
ninguém escapa à inevitabilidade de viver e de se relacionar com
de uso para os espaços das escolas públicas. Era importante também
pessoas e objetos num espaço material e concreto, carregado de
desvelar os motivos pelos quais os espaços são produzidos e utilizados,
significado, é que o espaço se mascara na rotina familiar e passa
mostrar porque as escolas públicas possuem as características físicas de
desapercebido da maioria das pessoas.
descuido e depredação que possuem.
É no espaço físico que a criança estabelece a relação com o
Na sociedade moderna, existe a perda do poder patriarcal sobre
mundo e com as pessoas; e ao fazê-lo esse espaço material se
os filhos – é o Estado quem passa a decidir qual o tipo de educação
qualifica. (...)
apropriado para a criança, em função dos interesses do capitalismo,
O espaço material é, pois, um pano de fundo, a moldura, sobre
com o objetivo de produzir cidadãos disciplinados, obedientes e
o qual as sensações se revelam e produzem marcas profundas
produtivos para o sistema. Ao pais resta o “dever” de formar os filhos
que permanecem, mesmo quando as pessoas deixam de ser
conforme o padrão estabelecido e esperado, reproduzindo o sistema
crianças. É através dessa qualificação que o espaço físico adquire
de dominação em que foram criados. Dessa maneira, o espaço físico é
uma nova condição: a de ambiente.
Parece-nos importante insistir em que espaço, entendido apenas
26 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, pp.13-14.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
65
tratado como instrumento de poder, concebido de forma a perpetuar
tório em contraposição à natureza, mas o retrato de uma sociedade
a dominação vigente.
que considera a criança parte da sucata industrial que se aproveita
Os espaços definidos pelo poder são, de alguma maneira,
ou não na produção futura, desde que ela não se oxide enquanto
estabelecidos em função da preservação e fortalecimento
cresce. Se isso acontecer, ela deixa de ser criança e passa à categoria
desse mesmo poder e, portanto, voltados para o controle e a
de menor, objeto mais insignificante do que a criança.
distribuição desigual de direitos e poderes, através da ilusão da
Criança dos bairros de periferia, candidata permanente à condição
superioridade de alguns, naturalmente colocados em confronto
de menor, recebe professor, escola e merenda de acordo com a
com a inferioridade dos demais.
distribuição desigual dos direitos na sociedade. (...)
27
O espaço escolar não poderia ser outro: desinteressante, frio, padro-
No livro são descritos vários exemplos do uso do espaço como instru-
nizado e padronizador, na forma e na organização as salas, fechando
mento de poder. Cita o caso dos campos de concentração nazistas, onde
as crianças para o mundo, policiando-as, disciplinando-as.29
a organização do espaço visava a quebra da autonomia do indivíduo, a
“transformação do sujeito em objeto”. Usa também exemplos registra-
Analisa a organização da sala de aula, com a disposição das carteiras em
dos na literatura, como as descrições de Dostoievski da relação de poder
fila, voltadas para o único centro de poder – o professor. As carteiras
entre pais e filhos no espaço doméstico, e exemplos de outras culturas: o
utilizadas nas escolas até metade do século XX eram as do tipo “pé
funcionamento da sociedade de castas na Índia, a postura de reverência
de ferro”, pesadas, que impossibilitavam o movimento, reforçando o
na rua à passagem do Imperador no Japão até o início do século XX.
domínio sobre o corpo da criança como parte da estratégia de controle
Passa então a examinar a história dos edifícios escolares no Brasil,
do pensamento. A própria Mayumi envolveu-se, conforme já descrito
demonstrando como a escola, ao popularizar-se na metade do século
no capítulo 1, na realização de um concurso nacional de projeto para o
XX, sofreu uma conseqüente redução de qualidade :
redesenho do mobiliário das escolas públicas. Mayumi descreve ainda
28
Se antes as escolas ocupavam os terrenos mais visíveis e altos, passa-
casos onde as janelas das classes haviam sido parcialmente vedadas para
ram a se instalar nas sobras dos loteamentos, naqueles terrenos que
evitar que as crianças distraíssem sua atenção com o mundo exterior;
a obrigação legal, formal, incluía em seu índice de áreas destinadas
ou a solicitação de portas com visores para as salas de aula – onde
a equipamentos públicos. Praças e escolas tornaram-se cada vez
a simples possibilidade de ser observada faria com que a criança se
menos o símbolo de apropriação e presença do homem no terri-
comportasse (idéia do panóptico de Foucault30).
27 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, p.37.
29 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, p.38.
28 Tema também estudado em seu doutorado.
30 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1977, pp.173-199.
66
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Ainda que as propostas pedagógicas evoluam, es escolas continuam
exemplo. No entanto, existe nas escolas o conceito de “limpeza” – as
sendo construídas a partir de concepções conservadoras de educação.
marcas da passagem das crianças não devem aparecer. Muitas vezes, em
Mayumi observou que os próprios professores sentem-se inseguros em
vez de permitir aos alunos que pintem os muros, a direção contrata um
experimentar organizações mais flexíveis do espaço da sala de aula. Ao
adulto para produzir – de forma organizada e no lugar das crianças – a
lidar com as crianças, a disciplina e a ordem aparecem como referência
pintura da escola. E o adulto pinta aquele muro com flores e árvores
para o uso do espaço, a alegria e a brincadeira não fazem parte da idéia
imitando o modo como a criança desenha – além de ocupar o espaço
de aprendizado. Permanece a concepção da educação de mão única,
da criação da criança, em vez de criar algo dele mesmo, o adulto ape-
onde apenas o professor tem a ensinar:
nas reproduz a idéia do que ele acha que seria o desenho da criança.
A relação que se espera estabelecer no interior dos espaços
Da mesma forma, muitos brinquedos produzidos para recreação não
escolares não é uma relação entre iguais, no sentido de que
deixam espaço para a fantasia da criança – o adulto se adianta à sua
todos os envolvidos tenham lugar para opinar, para questionar,
imaginação. Perde-se a oportunidade de que as crianças possam inter-
para descobrir, para aprender. Todo o esquema espacial reflete a
vir no espaço a escola de forma criativa, como propõe Mayumi:
relação de autoridade e de disciplina.
31
É preciso, pois, deixar o espaço suficientemente pensado para estimular a curiosidade e a imaginação da criança, mas incompleto o
Questiona: como é possível ensinar hábitos de higiene para as crianças se
bastante para que ela se aproprie e transforme esse espaço através
a escola não está equipada para tal? É preciso ter lavatórios próximos às
de sua própria ação.32
áreas de comida para poder ensiná-la a lavar as mãos antes de comer; é
preciso ter funcionários responsáveis pela limpeza da escola e material de
No capítulo final, sobre a criança e a cidade, retoma a história da in-
limpeza para que esses funcionários possam trabalhar. Além disso, seria
dustrialização33 para demonstrar como a criança perdeu seu espaço nas
desejável que as crianças fossem envolvidas na limpeza da escola, com o
grandes cidades. Até o século XVIII, a rua era o local da vida cotidiana
propósito de acabar com o preconceito em relação ao trabalho braçal.
de adultos e de crianças. As casas eram pequenas, apenas lugar de
O espaço físico da sala de aula não é pensado para a apropriação
dormir/comer, não um local de permanência. Na rua aconteciam as
dos alunos. A começar pelo uso compartilhado onde várias turmas
festas populares, os encontros e as trocas (o comércio), uma espécie de
utilizam a mesma sala ao longo do dia. A apropriação supõe a ocupação e a alteração do espaço, além da possibilidade de deixar marcas
– cartazes, desenhos ou outros materiais pendurados nas paredes, por
31 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, p.58.
32 Idem, p.72.
33 O texto baseia-se em FARGE, Arlete. “Vivre dans la rue”, Conferência Informations sociales
transmises par les objects, Helsinki, 1976; e ÁRIES, Philippe. “La vie ancienne et l’urbanité de
l’enfance”. Revista Architecture d’Aujourd’hui, n.20.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
67
extensão da casa, onde as crianças podiam brincar. Aos poucos, com a
As crianças dos bairros periféricos brincavam muito na rua e
industrialização, surge a polícia metropolitana, responsável pela ordem
possuíam um bom domínio do território, identificando pontos de re-
urbana. As festas são proibidas, evita-se tumultos e promove-se o deco-
ferência e caminhos percorridos no bairro. No entanto, nesses bairros
ro. A rua passa a ter a função predominante de circulação e as crianças
não existiam números de casas ou nome de ruas – a criança apesar de
passam a ser confinadas em espaços fechados – a casa, a escola, o asilo,
bem orientada no espaço não estava familiarizada com os símbolos da
as fábricas onde passam a trabalhar. Perde-se o convívio natural entre
escrita e abstrações com os quais a escola trabalha.
adultos e crianças no espaço urbano.
A conclusão ao final do livro era de que “a escola é o único espaço
Em São Paulo, Mayumi relata suas observações sobre as brincadei-
que as cidades paulistas oferecem universalmente como possibilidade
ras de crianças de diferentes locais – favelas, cortiços, apartamentos na
dos espaços públicos e populares – domínio das atividades lúdicas
região central, casas em bairros periféricos.
(jogos e brinquedos) – que as crianças e jovens perderam na cidade
As crianças moradoras de favelas não tinham espaço para brincar
capitalista e industrial.”34 Razão pela qual a arquiteta sempre defendeu
dentro de casa, por isso utilizam a área da favela e das ruas do entorno
em seu trabalho o tratamento adequado e a criação de novos espaços
como território para suas brincadeiras. Essas crianças apresentavam um
para a criança na cidade.
domínio “considerável” sobre o espaço e muitas vezes construíam seus
próprios brinquedos ou mesmo ambientes de jogo delimitados por
madeira, papelão ou outros materiais. No entanto, como as passagens
da favela eram estreitas, muitas vezes de topografia íngreme, e havia
poucas áreas livres onde essas crianças pudessem participar de atividades coletivas.
As crianças moradoras de cortiço tinham espaços de uso próprio – brincavam na calçada em frente ou no corredor de acesso aos
cômodos de moradia. Não havia lugar para guardar brinquedos ou
outros objetos – como havia pouco espaço, as mães guardavam apenas
o mínimo necessário.
Já as crianças moradoras de apartamento nas áreas centrais eram
as “mais prejudicadas” – passavam o dia brincando dentro do próprio
apartamento, proibidas de descer à rua ou às praças próximas e muitas
vezes mesmo ao pátio do edifício, por motivo de segurança.
68
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
34 LIMA, Mayumi W. Souza. A cidade e a criança. São Paulo, Nobel, 1989, p.101.
CAPÍTULO 3
CEDEC – A CONSTRUÇÃO DO EQUIPAMENTO
PÚBLICO COMO CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA
O Cedec (Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e
CONTEXTO
Comunitários) foi criado em 1990, durante a gestão de Luíza Erundina
na Prefeitura de São Paulo (1989-1992), como um setor de pesquisa e
Em janeiro de 1989, Luiza Erundina assumiu a Prefeitura da cidade de
de produção industrial de equipamentos dentro da estrutura da Emurb
São Paulo, a primeira grande conquista do Partido dos Trabalhadores
(Empresa Municipal de Urbanização), com ação complementar ao
numa eleição direta para cargos executivos. Grandes intelectuais
departamento de Edificações (Edif) da Secretaria de Obras e Serviços
da esquerda ligados ao partido e comprometidos com as lutas dos
(SSO). Suas atividades abrangiam pesquisa de materiais e de sistemas
movimentos populares por moradia, educação, transporte e saúde
construtivos; treinamento e formação de pessoal; planejamento, projeto
assumiram os principais cargos do governo. Várias experiências que já
e execução de obras. Foi montada uma fábrica de elementos constru-
vinham sendo elaboradas foram viabilizadas na nova gestão. No setor
tivos em sistema pré-moldado de argamassa armada para a produção
de habitação, a Prefeitura implantou programas inovadores, como o de
de equipamentos públicos (escolas, creches, postos de saúde etc.) e de
construção de habitação popular por meio de mutirões autogeridos e o
mobiliário urbano, a partir da experiência acumulada pelos engenhei-
de renovação de cortiços na área central da cidade.
ros da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) e pelo arquiteto
Erundina construíra sua liderança política a partir do trabalho com
João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé. A arquiteta Mayumi Watanabe
os movimentos populares reivindicatórios da periferia da cidade e, sob
Souza Lima coordenou a implantação da fábrica e dirigiu o Cedec,
o slogan de “São Paulo para todos”, propõe-se a ampliar o acesso de
imprimindo uma orientação diferenciada na organização da estrutura
todos os cidadãos aos serviços públicos de qualidade (educação, saúde,
funcional e no relacionamento com os envolvidos no processo – desde
transporte); garantir o direito à moradia e incentivar e abrir canais para
a formação dos operários e técnicos que trabalhavam na fábrica até
a participação nas discussões sobre o espaço urbano e sobre o uso do
a relação com a população usuária dos equipamentos. Buscava cons-
orçamento público – ou seja, propõe-se a trabalhar na construção de
cientizar a população sobre a importância do equipamento público
uma democracia participativa, conforme aponta Paul Singer:
de qualidade e da participação ativa dos usuários em sua preservação.
Se houve alguma diretriz fundamental que, por assim dizer,
As realizações no Cedec são uma síntese do tratamento que Mayumi
marcou o governo de Luiza Erundina, esta foi a da democratização
acreditava que deveriam ter as obras públicas.
do Estado, a de inaugurar um estilo de governar que instaurasse um
relacionamento completamente diferente entre prefeitura e munícipes. Tradicionalmente, este relacionamento fora marcado pelo ­
O economista Paul Singer foi Secretário de Planejamento durante a gestão petista.
70
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
autoritarismo dos governantes e pela submissão dos cidadãos, sempre
exemplo a argamassa armada, já utilizada em projetos em Salvador e no
no papel de solicitantes de despachos, concessões, empregos etc.
Rio de Janeiro pelo o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé.
No primeiro semestre de governo, foram discutidas simultanea-
Incentivar a participação da população nas decisões políticas supunha
mente duas propostas neste sentido. Por um lado, a Emurb sugeria
a divulgação de informações sobre a gestão pública para que as pes-
que fosse implantada uma grande fábrica central, sob o comando do
soas pudessem acompanhar a sua execução, o que mobilizou todas
próprio arquiteto Lelé. A segunda proposta partiu de uma articula-
as secretarias a trabalharem na produção de planos de atuação, o que
ção entre secretarias (Secretaria da Habitação – Sehab, Secretaria das
caracterizava
Administrações Regionais – SAR e Edif/Secretaria de Serviços e Obras
(...) um estilo de governo: sempre que possível, a ação administra-
– SSP), que sugeria uma unidade central de produção de protótipos
tiva seria planejada de antemão, com a definição de metas e prazos,
e pesquisa tecnológica, articulada a unidades de pequeno porte ins-
e os planos seriam divulgados, para poderem ser acompanhados
taladas em cada uma das Administrações Regionais, para atender as
pelos interessados e depois cobrados. Ao fim de cada plano, o
demandas específicas locais. Em junho de 1989 as duas propostas foram
governo faria uma avaliação de quanto do planejado se cumprira
condensadas na criação de uma unidade central, sob a administração
e divulgaria uma prestação de contas. Este estilo correspondia uma
da Emurb – o Cedec (Centro de Desenvolvimento de Equipamentos
prioridade fundamental da prefeita e de sua equipe: a transparência.
Urbanos e Comunitários).
O cidadão comum tinha que ser informado sobre o que o governo
se propunha a fazer e depois do que fora logrado.
Lelé foi então convidado oficialmente para montar em São Paulo
a fábrica de componentes de argamassa armada nos moldes de suas
experiências anteriores, mas declinou do convite por estar envolvido
Desde a elaboração do programa de governo de Luiza Erundina já existia
no projeto de construção dos Ciacs para o governo federal. No entanto,
a discussão sobre o espaço urbano, buscando identificar alternativas para
participou como consultor do projeto de instalação da fábrica em
garantir a qualidade e ao mesmo tempo reduzir o custo das obras de
São Paulo e doou à cidade os desenhos técnicos dos componentes e
melhoria da cidade. Surge a idéia da instalação de uma unidade de desen-
respectivas fôrmas desenvolvidos na FAEC – Fábrica de Equipamentos
volvimento e pesquisa para a construção de edifícios e de equipamentos
Comunitários, criada por ele em Salvador em 1986.
urbanos com processos e materiais diferentes e econômicos, como por
Mayumi assumiu em 1990 a direção do Cedec e a implantação
da fábrica de componentes de argamassa armada. Mayumi à época era
SINGER, Paul. Um governo de esquerda para todos: Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo. São Paulo,
Editora Brasiliense, 1996, p.239.
Idem, p.40.
CEDEC/EMURB. Atividades desenvolvidas: 1990/92. São Paulo, dezembro 1992, p.7. Fonte:
Acervo Odete Tomchinsky.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
71
diretora da Edif – Departamento de Edificações da Secretaria Municipal
– ao estabelecimento de programas arquitetônicos e normas para
de Serviços e Obras, setor de projetos responsável pelas obras execu-
a elaboração de projetos e de execução de serviço, compatíveis
tadas pela Prefeitura de São Paulo. Como veremos adiante, muitas de
com o quadro social, financeiro e tecnológico do município;
suas propostas para o funcionamento da Edif serão incorporadas ao
– ao desenvolvimento do quadro de pessoal técnico e operacional
programa do Cedec. O Plano de metas para o ano de 1990 elaborado
e da estrutura organizativa para melhorar a qualidade da ação
pela Edif para a Sempla (Secretaria de Planejamento) – dentro do pres-
municipal em projeto, orçamento e execução de serviços e obras,
suposto de repensar a forma de atuação do poder público – discutia a
bem como para instrumentar os servidores para o desempenho
forma de produção dos equipamentos públicos na cidade e propunha
seguro da fiscalização de serviços e obras contratadas;
como diretrizes de atuação:
a. privilegiar os programas de recuperação dos equipamentos
existentes aos de construção de novos;
b. atuar diretamente no processo de produção dos equipamentos
de modo a assegurar padrões de qualidade, de custo e de prazo,
– à implantação do sistema de desenvolvimento e de produção de
componentes da construção municipal, através do núcleo central
e das unidades regionais;
– ao desenvolvimento do sistema de manutenção preventiva e
corretiva com atendimento central, regional e local.
comprometidos com a melhoria das condições de vida da população trabalhadora;
Verifica-se nessas diretrizes e metas a proposta de reestruturação da
c. estimular e desenvolver, no processo de recuperação e de cons-
atuação da Edif como um todo, em função das diretrizes políticas do
trução de equipamentos sociais, urbanos, as oportunidades de
governo petista de privilegiar os investimentos nos equipamentos
ampliar a participação popular, a organização dos trabalhadores,
públicos de qualidade para a população de baixa renda e de incentivar
a melhoria das condições de trabalho e a descentralização articu-
a participação da população na tomada de decisões. A questão da quali-
lada do poder decisório.
dade envolvia, além da construção de equipamentos públicos sob uma
nova perspectiva de funcionamento, a manutenção e melhoria dos ser-
Em função dessas diretrizes, resultam metas destinadas:
viços já existentes – um programa sem visibilidade e impacto que pu-
– à pesquisa, acompanhamento e avaliação de tecnologias e ma-
desse funcionar em termos de propaganda política, mas atento às reais
teriais mais apropriados para o uso público intensivo e de acordo
necessidades da população. Além das atribuições de projeto, orçamento
com o perfil da população usuária;
– à implantação de um processo de planejamento que organize e
racionalize as ações e aplicações de recursos, articuladas às condições de demanda;
72
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Construção e manutenção de equipamentos sociais”, pp.3-4, documento interno
elaborado pela Edif (provavelmente por sua diretora, Mayumi Souza Lima) no final de 1989
para a Sempla, contendo o planejamento, as metas de atuação e a proposta de orçamento da
unidade para o ano de 1990. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima, caixa 24.
e execução de obras, o departamento passaria a desenvolver pesquisas
Administração Regional era justificada pela grande demanda de obras.
de técnicas e de materiais adequados às obras públicas, normatização
Dessa maneira a Prefeitura poderia gerenciar os custos e prazos dessa
de programas arquitetônicos, planos de manutenção da rede de equi-
produção, garantindo a qualidade das obras. As Administrações Regionais
pamentos municipais e a implantação de processo de planejamento
teriam mais independência na programação e execução de suas ativida-
de obras (o que demandava a criação de um cadastro atualizado de
des e o valor das obras não estaria sujeito ao superfaturamento.
todos os edifícios municipais contendo sua situação de manutenção).
As diretrizes das ações do Cedec devem ser entendidas no contexto
Além disso, o documento defendia a criação das unidades regionais
da gestão petista, num momento de abertura política recente do país
de produção de componentes para obras de urbanização, tais como
e de um esforço de construção de uma democracia participativa. Na
guias e bocas de lobo, de acordo com a política de descentralização da
época da criação do Cedec, o Secretário de Educação do Município era
administração e fortalecimento das Administrações Regionais:
Paulo Freire. Freire, que não esteve envolvido diretamente nas obras do
Ao propor a fábrica de componentes, em fase de organização na
Cedec; mas alguns membros de sua equipe participaram na definição
Emurb, como núcleo central do sistema, defendeu-se a implan-
dos programas para a construção de escolas. No entanto, sabe-se que
tação de outras usinas que atendessem às diretrizes da presente
Mayumi estudou os textos de Paulo Freire em suas pesquisas sobre es-
Administração, no sentido de assegurar soluções construtivas mais
paços para educação. É evidente a coincidência de intenções expressas
adequadas à variedade das demandas do município. Esta variedade,
nas diretrizes do Cedec e na descrição de “educador progressista”, nas
fruto das priorizações estabelecidas no planejamento descentralizado
palavras de Paulo Freire:
e com participação popular, está a exigir do depto. Edif uma resposta
(...) significa, por exemplo, trabalhar lucidamente em favor da
técnica e administrativa que agilize o atendimento, naqueles casos
escola pública, em favor da melhoria de seus padrões de ensino,
mais urgentes, através do fornecimento de componentes destinados
em defesa da dignidade dos docentes, de sua formação permanente.
à substituição ou à recuperação de equipamentos urbanos.
Significa lutar pela educação popular, pela participação crescente
das classes populares nos conselhos de comunidade, de bairro, de
Mayumi preocupava-se com a autonomia do órgão público em relação
escola. Significa incentivar a mobilização e a organização não apenas
à ação das construtoras, contratadas em longos processos de licitação.
de sua própria categoria mas dos trabalhadores em geral como con-
A implantação de unidades de produção de componentes para cada
dição fundamental de luta democrática com vistas à transformação
necessária e urgente da sociedade brasileira.
SINGER, Paul. Um governo de esquerda para todos: Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo. São Paulo,
Editora Brasiliense, 1996, p.30.
Idem, pp.12-13.
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 2006, p.50.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
73
Em ambos os discursos está explícita a luta por escola pública popular e
O CEDEC
democrática, ou seja, uma escola de qualidade para todos, com uma
gestão popular participativa. Paulo Freire enunciou esse modelo polí-
O Cedec foi criado com o objetivo de pesquisar soluções projetuais e
tico-pedagógico de escola pública popular no documento “Aos que fazem a
construtivas para melhorar a qualidade dos equipamentos públicos na
Educação conosco em São Paulo”:
cidade. Suas atividades abrangiam: a pesquisa de materiais e de sistemas
Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, pos-
construtivos industrializáveis; o treinamento e a formação de quadros
tulados, receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para partici-
técnicos e operacionais; o planejamento, projeto, fiscalização e execu-
par coletivamente da construção de um saber, que vai além do saber
ção de obras; a elaboração de programas arquitetônicos e diretrizes de
de pura experiência feito, que leve em conta suas necessidades e
projeto dos equipamentos públicos; produção de material informativo;
o torne instrumento de luta, possibilitando-lhe transformar-se em
assessoria técnica e a orientação aos grupos envolvidos na construção
sujeito de sua própria história. A participação popular na criação
dos equipamentos.
da cultura e da educação rompe com a tradição de que só a elite
O foco de atuação era a construção de equipamentos públicos
é competente e sabe quais são as necessidades e interesses de toda
de pequeno porte e de componentes para a urbanização de favelas
a sociedade. A escola deve ser também um centro irradiador da
– demandas sempre crescentes e em volume elevado que deveriam ser
cultura popular, à disposição da comunidade, não para consumi-la,
atendidas a curto prazo. Daí o uso de processos industriais de cons-
mas para recriá-la. A escola é também um espaço de organização
trução, sob controle do governo, o que permitiria maior economia,
política das classes populares. A escola como um espaço de ensino-
controle da qualidade, rapidez na construção e autonomia em relação
aprendizagem será então um centro de debates de idéias, soluções,
às grandes empreiteiras, que tradicionalmente investem apenas em pes-
reflexões, onde a organização popular vai sistematizando sua pró-
quisa técnica de grandes obras viárias e de infra-estrutura. A qualidade
pria experiência. O filho do trabalhador deve encontrar nessa escola
das obras era defendida como direito dos cidadãos a viverem bem em
os meios de auto-emancipação intelectual independentemente dos
sua cidade. Nessa perspectiva, os projetos eram pensados em função da
valores da classe dominante. A escola não é só um espaço físico. É
qualidade final do espaço construído, seu tempo de execução e dura-
um clima de trabalho, uma postura, um modo de ser.
bilidade, reduzindo os custos da obra e os gastos com a manutenção
posterior do equipamento em uso.
FREIRE, Paulo. “Aos que fazem a Educação conosco em São Paulo”, texto originalmente
publicado no Diário Oficial do Município de São Paulo, 01/02/1989; apud FREIRE, Paulo.
A Educação na Cidade. São Paulo, Cortez Editora, 2006, p.16. Sobre as diretrizes da política
municipal de educação,ver também o folder da Secretaria de Educação no anexo 2,
pp.160-161.
74
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
A fábrica de componentes pré-moldados de argamassa armada
estruturou-se a partir do projeto fornecido pelo Lelé, com assessoria
da equipe da Escola de Engenharia de São Carlos. Os arquitetos Vera
Pastorello e Paulo Eduardo Fonseca Campos foram para Salvador conhe-
cer a fábrica. Lelé forneceu não apenas o projeto de instalação da fábri-
operacional para assegurar a qualidade da ação municipal em
ca, mas também toda a listagem (com quantidades e especificações) de
planejamento, projeto, orçamento e execução de serviços e obras,
equipamentos e materiais necessários ao seu funcionamento, o que pos-
bem como a instrumentação dos funcionários para o desempe-
sibilitou que os processos de licitação ocorressem concomitantemente à
nho seguro da fiscalização de serviços e obras contratadas;
construção da fábrica, sem atrasos para o início da produção .
10
A fábrica foi inaugurada em junho de 1990 em terreno da Prefeitura
no bairro do Canindé e iniciou sua produção com componentes de
f. A interligação profunda entre construção e manutenção, priorizando a implantação da política e da estruturação de manutenção
preventiva sobre as obras novas;
canalização de córregos. A fábrica consolidada produziu lixeiras, ban-
g. O desenvolvimento técnico, político e social dos trabalhadores
cos, abrigos de ônibus, brinquedos para playgrounds e componentes para
da construção civil envolvidos na execução das obras municipais
construção de edifícios de escolas, creches e centros de convivência.
de equipamentos sociais, buscando estimular a organização e a
As atividades do Cedec tinham os seguintes objetivos:
participação consciente de todos no avanço político da sociedade
a. Pesquisa de soluções técnicas e estéticas de melhor qualidade e de
maior adequação às condições específicas das demandas sociais
em São Paulo, mais apropriadas para o uso público específico;
b. Realizar ações de natureza técnico-produtiva articuladas às de na-
civil;
h. O desenvolvimento de processos e elaboração de materiais auxiliares, informativos, para estímulo à participação consciente de
usuários e trabalhadores dos equipamentos sociais.11
tureza educativa e ambiental, buscando conscientizar e envolver a
população na construção de um novo espaço público urbano;
Para o desenvolvimento desses objetivos, a estrutura interna do Cedec
c. O desenvolvimento contínuo e sistemático de novos padrões
foi organizada em quatro departamentos principais. O Departamento
referenciais de qualidade e de custos das obras públicas, de modo
de Desenvolvimento Tecnológico era responsável pela pesquisa de
a permitir o controle de tempo de execução e de custos reais,
materiais, pelo detalhamento das peças e pelo desenvolvimento da
com a diminuição dos custos indiretos e a obtenção de padrões
produção do sistema construtivo. Lelé veio algumas vezes acompanhar
de referência para a contratação de terceiros, quando necessário;
o processo, auxiliou a equipe na definição da modulação, apontou
d. O estabelecimento de programas arquitetônicos e normas para
detalhes que haviam dado errado nas experiências anteriores e como
elaboração de projetos e de serviços, compatíveis com o quadro
melhorar. Na pesquisa dos materiais e processos produtivos, era
social, financeiro e tecnológico do Município;
e. O desenvolvimento contínuo do quadro de pessoal técnico e
10 Conforme depoimento da arq. Vera Pastorello à autora em 16/10/2008.
11 “Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários – atividades
desenvolvidas 1990/92”, documento publicado pelo Cedec/Emurb em dezembro de 1992,
pp.5-7. Fonte: Acervo Odete Tomchinsky.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
75
­avaliada a qualidade dos resultados e realizado um estudo econômico.
LELÉ E A ARGAMASSA ARMADA
O departamento era responsável também pelo treinamento técnico.
O Departamento de Planejamento trabalhava junto às Secretarias
O arquiteto Lelé, consultor do projeto, é uma figura importante da
(Saúde, Educação, Bem Estar) na realização de estudos das demandas e
introdução da tecnologia da argamassa armada no Brasil. Conhecia
do programa de atendimento. Selecionava o terreno para a implantação
Mayumi desde a época da Universidade de Brasília, quando trabalha-
da obra e fazia o projeto, que incluía o orçamento e a quantificação de
ram juntos no Ceplan e davam aulas na faculdade de arquitetura. Lelé
materiais e componentes. Produzia ainda cadernos de cada equipamen-
foi o orientador de Mayumi no Mestrado (1963-65). Suas experiências
to (escola, posto de saúde, velório,...) com a definição do programa
com a pré-fabricação na construção iniciaram-se nas obras de Brasília,
arquitetônico e das diretrizes de projeto.
no final da década de 1950. Reproduzimos aqui o depoimento de Lelé
O Departamento de Produção era responsável por todas as atividades da fábrica: execução de componentes e de protótipos; manutenção
de fôrmas e equipamentos; treinamento dos operários.
sobre sua experiência. Ainda que um pouco longo, situa muito bem
todas as origens e personagens envolvidos na aplicação da técnica:
Houve uma grande contribuição minha na área da argamassa ar-
O Departamento de Montagem e Manutenção supervisionava
mada, pesquisei muito. Os primeiros relatos sobre ela remontam
a execução das obras no local, orientando as equipes de montagem.
ao final dos anos 1840, quando um engenheiro francês chamado
Desenvolvia também um trabalho de acompanhamento do uso do
Lambot começa a fazer pesquisas com a argamassa armada para
edifício após a entrega da obra, para realizar a substituição de peças
construir embarcações. Desde que o concreto surgiu, a argamassa
defeituosas, detectar eventuais problemas do sistema construtivo e
veio paralelamente, porque usa os mesmos ingredientes. Só que
propor soluções.
em vez de usar uma armação específica como o concreto, usa uma
armação difusa, que torna o material mais homogêneo.
(...) Mais tarde, na década de 1940, um engenheiro italiano que
trabalho também como arquiteto, Pier Luigi Nervi, volta a fazer
pesquisas com a argamassa armada – Lina Bo Bardi trabalhou com
o Nervi, até me deu uns documentos originais dele.
Nervi retomou essa tecnologia e fez muitas coisas, não especificamente na área industrial, mas muitos prédios em que utilizou a
argamassa armada. E o engenheiro alemão que trabalhou com ele
nesse período e depois se ajustou a uma feição mais industrial veio
para a Universidade de São Carlos e trouxe essa ­tecnologia pra cá.
76
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Frederick Schiel, se chamava. O filho dele, Kristian, foi meu aluno,
mado com o processo de argamassa armada que quando começou
estudante de arquitetura [na UnB], começou a trabalhar comigo
a abertura política e nosso amigo Vander Almada foi eleito prefeito
na construção do Hospital de Taguatinga [1968], e me falou dessas
de uma cidade do interior de Goiás, Abadiânia, resolvi embarcar na
experiências. Outra coincidência
aventura. Ele reuniu várias pessoas de outras áreas, médicos, educa-
A obra de Nervi já era muito conhecida na faculdade. Falava-se em
dores. Queríamos fazer uma experiência-modelo em Abadiânia, no
ferro-cimento, a quantidade de malha de aço era maior, a argamassa
meio do mato. (...)
era mais forte. O que chamamos de argamassa hoje é diferente,
Construí uma fabriqueta em Abadiânia, bem improvisada. Primeiro
um produto que decorre daquele, mas não exatamente igual. Fui
fizemos pontes, depois escolas, vários equipamentos para uso rural.
conhecer o trabalho do Schiel e fiz algumas experiências lá mesmo
Foi nesse período que Leonel Brizola ganhou a eleição para gover-
em Brasília com o auxílio dele em 1972, na sede da Planalto de
nador do Rio de Janeiro pela primeira vez, e seu vice, meu amigo
Automóveis, uma revendedora de veículos. Os sheds do prédio são
Darcy Ribeiro, me chamou para trabalhar com eles.(...)
de argamassa, uma experiência pequena, até bastante artesanal.
Existiam dois projetos paralelos. O Ciep (Centro Integrado de
Na primeira vez que vim trabalhar em Salvador com projetos ur-
Educação Pública) era um conceito que Darcy tinha criado, da
banos, em 1979, tínhamos de equacionar o transporte, distribuir
criança em tempo integral na escola. Uma parte dos Cieps era feita
o material para as áreas mais pobres.(...) Tínhamos que construir
pelas empresas construtoras, foi o Oscar quem projetou. Eu atuava
escadas drenantes naquelas comunidades para fazer a água escorrer
a seu lado, mas quem fez foi ele. Nossa fábrica produzia escolas
na época das chuvas, em condições absolutamente precárias. E o
isoladas, sobretudo nas favelas, onde não havia condições de se
caminhão não chegava lá.
instalar os Cieps, que exigiam um terreno maior. Algumas tinham
Imaginei que a solução seria desenvolver uma tecnologia indus-
o mesmo tamanho dos Cieps, mas em geral eram menorzinhas. E
trializada em argamassa armada, fazendo peças menores e mais
funcionavam da mesma forma. Chegamos a fazer 200 escolas na
leves, o que facilitaria o transporte. Kristian Schiel veio para a Bahia
fábrica. Também fizemos outras coisas, como postos de saúde,
trabalhar comigo, e trouxemos também o pai dele para desenvolver
equipamentos comunitários. Isso foi até o Brizola sair e Darcy não
conosco a melhoria do saneamento básico. (...) Infelizmente, Mário
ganhar a eleição de 1986 para substituí-lo.
Kertész, que era prefeito nomeado, brigou com o governador
Mário Kertész acabou ganhando em Salvador para a prefeitu-
Antonio Carlos Magalhães, foi demitido, e tivemos de sair. A expe-
ra no ano seguinte, e deu a idéia de se criar a Faec (Fábrica de
riência ficou na metade do caminho, mas chegamos a fazer muitos
Equipamentos Comunitários) aqui. Houve uma espécie de interesse
quilômetros de drenagem que estão aí até hoje.
generalizado no Brasil, na década de 1980, pela tecnologia do pré-
Na época em que fui demitido da prefeitura, estava tão entusias-
fabricado. (...)
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
77
Depois que saí da Faec e antes que Brizola voltasse ao governo, Darcy
provavelmente a idéia contribuiu para a elaboração das diretrizes mais
tornou-se Secretário de Educação de Minas Gerais, e me levou pra
amplas de atuação do Cedec:
lá. Fiz todos os projetos, hospitais, postos de saúde, mas ele brigou
A proposta da Faec (Fábrica de Equipamentos Comunitários) que
com o governador Newton Cardoso, e a experiência durou pouco.
idealizamos em 1985, em Salvador, era atuar em todos os níveis,
Nisso o Brizola ganha, em 1990, e o Darcy volta para o Rio como
com vários tipos de ação, não só intelectual. Quando se trata de um
secretário de programas especiais. Foi a época do governo de
esgoto, da construção de um prédio, também se está fazendo cultu-
Fernando Collor. Brizola pegou esses projetos do Darcy e foi levar
ra. A rigor, a cultura é inerente a todos esses aspectos da vida urbana
para o Collor, sem me falar nada. E eu me vi envolvido de repente
– essa era (e é) a concepção de Roberto Pinho, de Gilberto Gil e do
nessa confusão dos Ciacs (Centros Integrados de Apoio à Criança).
jornalista João Santana, então secretários do governo municipal. Ou
Nem sabia o que estava acontecendo e fui chamado a Brasília para
seja: tratar todas as reformas planejadas como expressão cultural.
fazer, para montar os Ciacs.
A Faec era um projeto muito ambicioso, uma fábrica de cidades,
Desde o início, sabia que não ia dar certo, o interesse do governo
conforme a concepção de Mário [Kertész, prefeito de Salvador na
era outro. Havia toda a corrupção de Paulo César Farias, o PC,
época] e Roberto. (...)
que levou a o impeachment, em 1992. A idéia dos Ciacs era boa,
O que pretendíamos era montar um grande laboratório para ree-
mas a administração era ruim. E tinha uma compromisso muito
xaminar, recolocar todos os problemas urbanos que envolvem uma
grande com as empresas de construção, elas queriam ganhar muito
cidade da dimensão da capital baiana. Salvador era o protótipo de
dinheiro, todo o sistema havia sido montado para isso. Tive que me
atuação, mas não queria dizer que a idéia ia ficar só nela. Afinal, o
demitir, largar logo. Mesmo assim, fizemos dois protótipos, um no
nome do projeto era fábrica de cidades.
Rio e outro em Brasília. Depois fizeram outros, tínhamos criado em
Quando se examina uma cidade, há desde as coisas mais simples,
todos os Estados, desde o Amazonas, tudo adaptado a cada clima.
infra-estrutura, esgoto, até as mais complexas, que têm de ser revis-
Mas esculhambaram tudo, não sobrou nada do projeto original.
tas. Ver quais as alternativas, porque os problemas vão se repetindo.
12
A tendência do conservadorismo, quando está ligado à estrutura
É importante lembrar os princípios envolvidos na criação da Faec em
capitalista, é de nenhuma empresa fazer uma pesquisa se não der
Salvador (1986-88), que almejavam a criação de um laboratório de
lucro pra ela. Fazem pesquisa com remédio, coisas espaciais, mas
estudos urbanos. A experiência foi realizada pouco antes do Cedec e
com a cidade nunca fazem pesquisas porque não há dinheiro. E
a iniciativa privada não vai botar dinheiro pra depois perder. Se o
12 LIMA, João Filgueiras. O que é ser arquiteto: memórias profissionais de Lelé (João Filgueiras Lima) em
depoimento a Cynara Menezes. Rio de Janeiro, Record, 2004, pp.55-59.
78
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
poder público não fizer pesquisas com a cidade, quem vai?
(...) A Faec foi uma experiência frustrante.
Tudo poderia ter melhorado em Salvador se a Faec tivesse funciona-
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
do: saneamento básico, educação, saúde, transporte público. Cultura
é mesmo a soma da melhoria dessas coisas todas. Nosso projeto era
A partir da experiência acumulada pelo arquiteto Lelé na implantação
mesmo cultural, para ver a cidade de uma forma diferente, torná-la
das fábricas anteriores, com o auxílio dos engenheiros de São Carlos,
um pouco mais amena. Tinha programas de contenção de encostas
os técnicos que trabalhavam no setor de tecnologia do Cedec puderam
para evitar desabamentos, um problema recorrente na época das
testar e introduzir algumas inovações no processo de fabricação das
chuvas. Havia o interesse de rever até a tipologia da habitação, mas aí
peças. Um exemplo é o uso de fibras de polipropileno complementan-
a coisa fica difícil até pela falta de poder aquisitivo da população.
do as telas metálicas eletrosoldadas estruturais de cada componente,
13
alternativa mais barata e que proporcionava resistência equivalente.
Foram testados diferentes de tipos de aditivos plastificantes na misLelé alertou a equipe do Cedec sobre sua frustração com a interrupção
tura da argamassa utilizada em divisórias e telhas, para definir um
de seus projetos em decorrência de motivos políticos a cada mudança
desempenho mais satisfatório. Também foram avaliados os agentes
de governo, incentivando a buscar a criação de mecanismos que pu-
desmoldantes utilizados nas fôrmas e testados novos métodos de cura
dessem garantir a continuidade do projeto.
das peças com vapor, no intuito de reduzir o tempo de produção e
melhorar a qualidade das peças.14
Após o primeiro ano de funcionamento, foi proposta a ampliação
da fábrica com alterações em seu layout de produção a partir da experiência acumulada e das inovações introduzidas.
Mayumi foi a Osaka, no Japão, como palestrante na Expo Osaka
90. Conheceu o sistema de reciclagem de entulho implantado naquela
cidade e propôs implantar em São Paulo a mesma técnica. O entulho recolhido pela Prefeitura, em vez de ocupar os aterros sanitários
destinados ao lixo comum, seria triturado e reaproveitado na fábrica
do Cedec para a fabricação de blocos de piso e vedação. A reciclagem
13 LIMA, João Filgueiras. O que é ser arquiteto: memórias profissionais de Lelé (João Filgueiras Lima) em
depoimento a Cynara Menezes. Rio de Janeiro, Record, 2004, pp.79-81.
14 O documento “Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários
– atividades desenvolvidas 1990/92”, publicado pelo Cedec/Emurb em dezembro de
1992, contém o relato do desenvolvimento tecnológico, pp.26-28. Fonte: Acervo Odete
Tomchinsky.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
79
no entanto permaneceu apenas na fase experimental, com a fabrica-
O DESENHO DOS EQUIPAMENTOS URBANOS COLETIVOS
ção de 4.000 blocos para piso. Mas é notável a intenção de resolver a
questão da reciclagem de entulho naquela época. Com a proximidade
A maior parte dos desenhos dos equipamentos urbanos produzidos
da ECO 92, a discussão sobre o meio ambiente ia criando importân-
pelo Cedec foi desenvolvida pelo arquiteto João Filgueiras Lima em
cia. O aumento da produção de lixo tornava preocupante a questão
suas experiências nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador e posterior-
do espaço necessário para os aterros sanitários na cidade. Na gestão
mente adaptados às condições e demandas locais para serem produzi-
Erundina inicia-se a coleta seletiva de lixo, com incentivo para a cria-
dos em São Paulo. As imagens a seguir mostram a origem do desenho
ção de cooperativas de reciclagem. O problema do entulho ainda não
de algumas peças.
foi solucionado – paga-se até hoje às empresas de caçambas para levar
A equipe de arquitetos do Cedec desenvolveu o desenho de novos
o entulho resultante de obras na cidade para locais de despejo, sem
equipamentos, como por exemplo as lixeiras coloridas para coleta sele-
que seja dada uma destinação adequada a essa imensa quantidade de
tiva de lixo e os brinquedos instalados em praças e escolas municipais.
material desperdiçado.
lixeiras e bebedor projetados pelo Cedec (Fonte: LIMA, M., 1995)
80
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
componentes para abrigos de ônibus
componentes para canalização de córregos
abrigos produzidos na fábrica do Rio de Janeiro em 1985. (Fonte: LATORRACA,1999)
peças produzidas pela Renurb em Salvador, 1980. (Fonte: LATORRACA, 1999)
componente abrigo de ônibus fabricado no CEDEC, usado em
composição para formar cobertura de entrada nas escolas de
argamassa armada. (Fonte: LIMA, M., 1995)
obra de canalização de córrego realizada pelo CEDEC em São Paulo. (Fonte: Acervo Reginaldo Ronconi)
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
81
detalhe do encaixe viga-pilar no projeto de Abadiânia
(Fonte: LIMA, JF, 1984)
escola transitória em argamassa armada, Abadiânia, Goiás, 1986, arq. Lelé e eng. Frederico Schiel (Fonte: LATORRACA, 1999)
sequência de montagem do sistema construtivo da escola Abadiânia(Fonte: LIMA, JF, 1984)
82
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
fábrica de escolas, Rio de Janeiro, 1984-87, arq. Lelé (Fonte: LATORRACA, 1999)
detalhes da cobertura da escola Abadiânia(Fonte: LIMA, JF, 1984)
sequência de montagem do sistema construtivo da escola Abadiânia(Fonte: LIMA, JF, 1984)
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
83
O PROJETO DAS ESCOLAS EM ARGAMASSA ARMADA15
Foram finalizadas sete escolas (5 EMEIs e 2 EMPGs16) na fábrica do
Cedec. Os componentes da estrutura, painéis de vedação e cobertura
eram de argamassa armada e os caixilhos de aço. O projeto parte do
sistema construtivo desenvolvido por Lelé e Frederico Schiel para
as escolas transitórias (protótipo de Abadiânia, GO, 1983) e depois
aperfeiçoado nas escolas produzidas no Rio de Janeiro de 1984 a 1987
(ver imagens pp. 82-83). Em São Paulo, o projeto foi pensado como
um sistema construtivo aberto, permitindo variações nos edifícios de
acordo com o programa e a situação específica do terreno disponível
(ver projetos pp101-110). Propunha-se ainda a composição do sistema com outros materiais, adequados a cada uso, como por exemplo
os caixilhos metálicos modulados e produzidos em série. A principal
alteração formal do projeto original das escolas de argamassa armada
em São Paulo refere-se à criação de pátios internos ajardinados.
A implantação dos equipamentos externos, como playground, quadra de esportes, vestiários e anfiteatros era feita de forma a possibilitar
o uso pela comunidade, independentemente do edifício das salas de
aula. A área externa era organizada ao longo de um caminho, elemento
lúdico e de exploração pedagógica, percorrendo diversos ambientes,
como “cidades” do imaginário infantil, com brinquedos alternativos
criados a partir da composição de elementos de argamassa armada
desenhados pela equipe do Cedec.
15 Uma análise interessante do espaço destas escolas pode ser encontrada em MACHADO,
Tatiana. Ambiente escolar infantil. Dissertação de Mestrado. São Paulo, FAUUSP, 2008.
16 EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil, para crianças até 6 anos de idade) e EMPG
(Escola Municipal de Primeiro Grau, de 1ª a 4ª série)
84
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
[página ao lado e esta] imagens dos equipamentos projetados para as áreas externas das escolas (EMEIs e EMEFs) do Cedec. Destacam-se os teatros ao ar livre; os caminhos com a criação de diferentes relevos no
piso; os brinquedos compostos por uma família de peças de argamassa armada desenhada pela equipe do Cedec; a utilização de materiais de construção (tubos, corpos de prova) para a criação de brinquedos; o uso
das cores primárias. Fontes: Acervo Mayumi W. Souza Lima, Acervo Reginaldo Ronconi.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
85
PRODUÇÃO DO CEDEC: PROGRAMAS
o funcionamento do posto que acabou gerando uma nova proposta de
atendimento à população – ao elaborar o programa, repensava-se o ser-
Os diferentes programas (escolas, centro comunitários, velórios, etc.)
viço público de maneira global. A princípio não era uma meta, mas na
eram cuidadosamente estudados. Para cada tipologia havia um caderno
conjuntura política havia um sentido de revisão da atuação profissional
de especificações de ambientes, dimensões, materiais, mobiliário,
no âmbito público que acabou por “contagiar” muitos técnicos.18
ventilação e iluminação, etc. – as diretrizes para o projeto de arquitetura, com o objetivo de normatizar características que garantissem a
qualidade dos equipamentos construídos. Esses cadernos eram desenvolvidos em conjunto com os técnicos (pedagogos, médicos, etc.) das
secretarias responsáveis. Partia-se da premissa de que a qualidade do
espaço e sua manutenção interferem na qualidade de vida da população
usuária, portanto:
Isso significa uma nova postura de projeto e de manutenção, porque
significa uma mudança radical de enfoque dos investimentos municipais: o ponto de partida será o usuário e o ponto de chegada, a
melhoria da qualidade do ambiente que a ele é oferecido. Por isso,
uma creche ou escola não é mais uma construção de baixo custo a
ser inaugurada. Ela é a arquitetura de um lugar destinado às crianças, e portanto, necessariamente alegre, clara, com áreas projetadas
para as necessidades específicas das crianças.17
A qualidade do equipamento era pensada a partir do usuário, defendiase a adequação dos programas em função das necessidades específicas
de cada grupo. No caso do projeto de um posto de atendimento de saúde, os médicos do serviço municipal foram consultados para ajudar na
elaboração do programa arquitetônico. Iniciou-se uma discussão sobre
17 LIMA, Mayumi Watanabe Souza. Arquitetura e Educação. São Paulo, Nobel, 1995, p.138.
86
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
18 Conforme depoimento do prof. Reginaldo Ronconi à autora em fevereiro de 2009.
COMUNICAÇÃO COM A POPULAÇÃO USUÁRIA
com a população e com os trabalhadores envolvidos na execução de
obras públicas. Buscava-se romper os vícios do clientelismo na oferta
A partir de sua experiência de trabalho, a arquiteta Mayumi Souza Lima
de equipamentos públicos, tais como a passividade e a baixa exigência
imprimiu diretrizes bastante peculiares ao funcionamento do Cedec.
qualitativa da população em relação aos serviços oferecidos, seu dis-
Mayumi defendia em seus projetos a participação dos usuários (alunos,
tanciamento das decisões sobre a cidade e sua indiferença em relação
professores, pais, funcionários) e a conscientização dos construtores
à depredação dos edifícios públicos. Além de fornecer o equipamento,
para a importância do serviço prestado à população na produção dos
havia o propósito de incentivar a gestão democrática do espaço urbano,
equipamentos públicos. As atividades do Cedec estavam ligadas às dire-
envolvendo a população nos processos de decisões:
trizes políticas do PT adotadas na Administração Municipal, conforme
Assegurar o direito da população aos serviços públicos básicos
explicita a própria arquiteta:
significa, no campo que diz respeito à produção dos equipamentos
A realização dos objetivos não pode ser desligada das diretrizes po-
urbanos, garantir: a participação crescente dos usuários nas deci-
líticas do PT, no que se refere à criação de condições para facilitar a
sões de planejamento, cujo embrião se encontra nos NPR (Núcleos
organização dos trabalhadores, a participação popular, a garantia de
Regionais de Planejamento); a qualidade dos espaços, ambientes e
condições favoráveis de trabalho e a descentralização do poder deci-
instalações oferecidos; a oferta de informações claras e objetivas.20
sório. Todas elas, no entanto, têm como objetivos finais a melhoria
qualitativa do ambiente urbano destinado à população trabalhadora
Antes do início de cada obra, eram distribuídos folhetos para a co-
e a diminuição de custos e prazos na produção e manutenção de
munidade local, apresentando a equipe de trabalho e convidando a
equipamentos urbanos [...]
população para a reunião de apresentação do projeto, com o objetivo
Entende-se que os interesses públicos no desenvolvimento de uma
de informá-la sobre a obra e buscar seu envolvimento no processo
nova prática social que construa a cidadania e que identifique o
de construção do edifício. Mayumi ia pessoalmente nessas reuniões
morador com a sua cidade estão acima dos interesses do poder
para conversar com a comunidade, em geral acompanhada por algum
temporário.
membro da equipe. Ao apresentar o projeto, discorria sobre a qualida-
19
de do equipamento a ser construído, buscando a conscientização da
As atividades do Cedec eram orientadas com o propósito de alterar as
população da necessidade de se exigir obras de qualidade do poder
relações tradicionalmente autoritárias e paternalistas do poder público
público, e entender que o equipamento público deve ser preservado,
enquanto serviço de uso coletivo a que todos têm direito. A oferta de
19 LIMA, Mayumi Souza. “A cidade e os equipamentos urbanos”. In: Arquitetura e Educação.
São Paulo, Editora Nobel, 1995, p.115.
20 CEDEC. Caderno 7: Casa da Cultura – programa arquitetônico preliminar. São Paulo, 1990, p.3.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
87
informações precisas visava subsidiar a formação de cidadãos com voz
ativa no processo de construção da cidade.
A reunião21 começava com a discussão sobre os conceitos de periferização, exploração imobiliária, espoliação urbana – para fazer a
comunidade entender sua situação histórica na cidade – e em seguida
apresentava o CEDEC e como com seu trabalho eles pretendiam mudar
essas condições. Era apresentado o projeto do equipamento comunitário
(escola, creche, canalização do córrego, posto de saúde etc.) para que
a comunidade soubesse o que seria feito no bairro. Ela se preocupava
em dizer para as pessoas que “a escola é de vocês, dos seus filhos, vocês
têm que acompanhar o processo. A escola não pertence ao diretor, ela
é da comunidade e todos devem zelar por ela.” Desejava que as pessoas
se apropriassem do equipamento. As reuniões terminavam sempre com
o agendamento de um próximo encontro – Mayumi queria estabelecer
o compromisso com a população, que eles soubessem que ela não
desapareceria como a maioria dos políticos populistas costuma fazer.
Convidava a população a acompanhar e “fiscalizar” as obras.
No final do processo, ao entregar o equipamento à população,
eram distribuídos folhetos apresentando o novo edifício e pedindo à
população que zelasse por esse espaço coletivo conquistado. Todos os
folhetos eram elaborados em linguagem acessível à população, de forma simples e convidativa, com desenhos e chamadas instigantes como
“Não fiquem por fora!” ou “Entre: a casa é sua”.
Anotação de Mayumi Souza Lima sobre pauta a ser tratada nas reuniões com os
moradores dos bairros Jardim Robru e Jardim Sinhá. Fonte: Acervo Marta Grosbaum.
88
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
21 O conteúdo das reuniões foi descrito aqui a partir do relato de Marta Grosbaum à
autora em 21/10/2009. Marta fazia parte da equipe do Cedec e acompanhava a Mayumi em
muitas dessas reuniões.
Folders de comunicação com os moradores dos bairros onde eram realizadas as obras do Cedec. Fonte: Acervo Mayumi Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
89
IDENTIFICAÇÃO DO EQUIPAMENTO PÚBLICO COM OS USUÁRIOS
A comunicação visual das escolas22 reforçava o partido de identificação
do usuário com o equipamento público: a logomarca de cada escola
era concebida com a função de resgatar a origem do nome do bairro.
No Jardim Curuçá, cujo nome significa cruz em guarani, o logotipo foi
desenhado a partir de diferentes formas de cruz ao longo da história
(egípcia, celta, latina).
Foram produzidos folhetos explicativos para cada escola construída23, contando a origem do nome do bairro e relacionando o desenho
dologotipo da escola a esse nome para que todos soubessem seu significado. Os folhetos frisavam ainda a idéia de que a escola é um espaço
para o conhecimento, por isso deve ser bem cuidada e preservada.
A comunicação visual era pensada em função da faixa etária das
crianças, com cores fortes e alegres, de modo que elas pudessem facilmente reconhecer e se apropriar do espaço escolar. Na parede ao
lado de cada sala de aula, eram pintados números grandes em cores
primárias. Mayumi preocupava-se com a falta de familiaridade das
logotipo da escola Jardim Robru e aplicação. Fontes: Acervo MWSL, Acervo Reginaldo Ronconi.
crianças com informações escritas na paisagem dos bairros periféricos
– onde algumas vezes não havia nem mesmo placas com nome de ruas
ou números nas casas.
O logotipo das escolas era aplicado na caixa d’água, local de grande visibilidade, para identificar a escola no bairro. Foram reproduzidos
também nos painéis de argamassa para aplicação nos espaços internos
das escolas. Na EMEI Jardim Robru (ver fotos ao lado), por exemplo,
22 O projeto de comunicação visual das escolas do Cedec é de Francisco Homem de Mello.
23 Ver reprodução no anexo 3, pp.166-173.
aplicação da comunicação visual na área de refeitório. Fonte: Acervo Reginaldo Ronconi.
90
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
folder da escola Jardim Sinhá, apresentando as origens do nome do bairro e do desenho da marca da escola. Fonte: Acervo MWSL.
logotipos. Fonte: Acervo MWSL.
aplicação da comunicação visual nas salas de aula e logotipo da EMEI Nova Curuçá na caixa d’água da escola. Fonte: Acervo Reginaldo Ronconi.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
91
o símbolo é o desenho de dois meninos, em homenagem aos irmãos
PARTICIPAÇÃO E MANUTENÇÃO
Roberto e Bruno, que deram nome ao bairro. O cuidado no tratamento das informações no espaço demonstrava uma atitude política de
Para as escolas construídas em argamassa armada, foi produzido o
democratização:
“Manual do usuário”, uma iniacitiva inédita. Apresentava o sistema
A mudança na estrutura de poder exige que as informações escritas,
construtivo do edifício e dava orientações gerais sobre a manutenção
orais e visuais sejam produzidas, tratadas e apresentadas de modo
da estrutura, das instalações hidráulicas e elétricas, das áreas externas,
a se tornar uma arma e um instrumento de liberação política das
incentivando os usuários a preservar o equipamento público:
camadas populares.
A escola é de todos e por isso, todos são responsáveis pela escola.
24
É importante que se desenvolva na escola um trabalho pedagógico
O objetivo era buscar a identificação do projeto com os usuários, o
de conscientização de toda a comunidade escolar (professores,
bairro, sua história e o meio ambiente:
alunos, pessoal operacional e pais de alunos) visando ao seu envol-
Os espaços produzidos têm, portanto, a intenção de estimular, de
vimento direto com a conservação do prédio.26
convidar, de provocar o uso inventivo. E tudo terá de ser simples,
para que a criança que vai à escola, os pais que se reúnem ou os
O Manual sugere ainda que o professor utilize o edifício de maneira
trabalhadores que os constroem possam compreender, contribuir e
didática, retomando as propostas do livro Espaços educativos – uso e produção
apropriar-se do espaço.
(LIMA, M. 1986):
25
A confrontação da criança com o prédio escolar abre possibilidades
A falta de identificação dos usuários com o equipamento público acar-
da apreensão de um conjunto de informações sobre os processos
reta muitas vezes em depredação por parte dos próprios usuários. É
de transformação da natureza, sobre a ecologia e sobre o trabalho
preciso que as pessoas se apropriem dos espaços, tenham o sentido de
do homem.
que o equipamento público lhes pertence.
O professor pode, então, ampliar o interesse dos alunos para os
processos de produção, tipo de material, suas regiões de origem,
bem como as implicações sócio-econômicas de todas as fases de
produção dos componentes até o produto final.27
24 CEDEC. Caderno 7: Casa da Cultura – programa arquitetônico preliminar. São Paulo, 1990, p.6.
25 LIMA, Mayumi Watanabe Souza. “Projeto e produção industrial: Cedec/Emurb” in
“Emurb (1989-1992): Política e obras fortalecem cidadania”. Separata da Revista Projeto n.
157, São Paulo, 1992.
92
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
26 CEDEC/EMURB. Escolas – Manual do usuário, p.12. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
Ver anexo 3. Foi uma iniciativa inédita dentro do poder público.
27 Idem, p.8.
ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DA FÁBRICA
A preocupação em melhorar as condições de trabalho abrangia a
realização de estudos do esquema de produção da fábrica, resultando,
Além das funções de pesquisa de materiais e sistemas construtivos e de
por exemplo, na criação de um sistema de rolamentos pendurados
fábrica de componentes em argamassa armada, Mayumi imprimiu ao
onde as ferramentas eram transportadas para reduzir o esforço do
Cedec o caráter de centro de formação de cidadãos. Os operários eram
operário. O próprio esquema de produção da fábrica seguia o mesmo
funcionários contratados da Emurb (180 funcionários permanentes,
partido do Lelé de uma automatização reduzida no sentido de privi-
concursados e treinados em serviço) e temporários (funcionários
legiar o emprego:
contratados por licitação, com incentivo às cooperativas de traba-
Quando nós pensamos no uso da argamassa para construir, pen-
lhadores). O treinamento envolvia, além da fabricação, manuseio e
samos também numa tecnologia que empregasse gente, porque o
montagem dos componentes pré-moldados, a orientação para o rela-
desemprego é um dos grandes problemas do Brasil. Não podíamos
cionamento dos trabalhadores com a população, como representantes
inventar uma tecnologia industrializada que significasse a perda de
e prestadores de um serviço público, conscientizando-os de seu papel
empregos na construção civil, que continua a ser o que mantém
na construção da cidade. A equipe de montagem dos componentes
muitas famílias comendo, sobrevivendo. Tínhamos de inventar uma
industrializados no local das obras limitava-se a um pequeno quadro
tecnologia que continuasse a empregar gente. O nível de automa-
formado para orientar os trabalhadores da região, estimulando sempre
ção nessas fábricas todas que foram feitas para os Cieps, no Rio de
que possível os grupos cooperativos organizados que atuam através da
Janeiro, era baixo – no CTRS do Sarah é maior. O peso das peças
contratação de serviços. Buscava-se assim gerar empregos na própria
era diminuído para permitir que dois homens as carregassem. Tudo
região, aproveitando a oportunidade para contribuir para a formação
isso para manter a mão-de-obra, havia um sistema híbrido, de usar
de mão de obra especializada. Os funcionários possuíam uniforme
a industrialização sem abrir mão dos operários. A idéia das fábricas
com a identificação do Cedec e eram instruídos a usar equipamentos
não era só fazer uma coisa mais barata, era dar ocupação, manter as
de proteção (EPIs), como luvas, capacetes, sapatos fechados, óculos.
pessoas empregadas.29
A preocupação com o uso de EPIs chegou a ser ridicularizada – no
caso de canalização de córregos, em que se pretendia o uso de botas,
Mayumi implantou um programa de alfabetização para os funcionários
macacão impermeável e máscaras para respirar, dizia-se que o Mayumi
que quisessem aprender a ler. As aulas eram dadas após o horário de
queria “colocar marcianos nos córregos”.
trabalho pela pedagoga Marta Grosbaum.
28 Conforme relato do professor Reginaldo Ronconi.
29 LIMA, João Filgueiras. O que é ser arquiteto: memórias profissionais de Lelé (João Filgueiras Lima) em
depoimento a Cynara Menezes. Rio de Janeiro, Record, 2004, p.113.
28
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
93
Marta e Mayumi editaram durante o período de funcionamento
da fábrica um jornal-mural de formação política para os trabalhadores,
nos moldes dos periódicos japoneses produzidos para serem afixados
nos muros e postes nas ruas, os da-dzi-bau. O jornal era afixado no
mural da fábrica às segundas e quintas-feiras. Mayumi elaborou um
roteiro definindo o conteúdo de cada edição e Marta redigia o jornal,
utilizando figuras recortadas ou mesmo ilustrações produzidas por
Mayumi. O da-dzi-bau30 contava uma história crítica da sociedade em
capítulos. A organização da narrativa do jornal parte de uma leitura de
O Capital, de Karl Marx. No início, havia o homem primitivo lutando
pela sobrevivência. Depois, surge o trabalho que transforma a natureza
e posteriormente a divisão do trabalho e a exploração do homem pelo
homem. Explica ainda o processo de industrialização e passa a abordar
os problemas da urbanização, discutindo as questões da cidade de São
Paulo e conscientizando o trabalhador da fábrica sobre a importância
de seu papel na construção de uma cidade melhor. A abordagem parte
do geral (a história do homem) para o local (a atuação do Cedec). O
objetivo era a formação crítica dos trabalhadores e sua conscientização
social, política, econômica, ética e profissional. Com o jornal, Mayumi
pretendia fazer um trabalho de conscientização política dos funcionários, fazê-los entender seu papel e sua importância para a sociedade
como construtores de equipamentos comunitários. É um exemplo de
como Mayumi achava que deveria ser a atuação profissional dos técnicos, colaborando para a formação de cidadãos conscientes e capazes de
participar da construção da nova sociedade democrática.
trabalhadores do CEDEC (Fonte: Acervo Reginaldo Ronconi)
30 Ver reprodução do conjunto completo de originais do jornal no anexo 2, pp.188-216.
94
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
exemplares do “da-dzi-bau”, jornal para o mural dos trabalhadores da fábrica do CEDEC (Fonte: Acervo Marta Grosbaum)
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
95
REALIZAÇÕES
Mesmo com a conjuntura favorável do PT no governo, existiam muitas
dificuldades, especialmente em relação às limitações da máquina burocrática na pouca agilidade em liberar verbas programadas ou realizar de
licitações. Problemas que muitas vezes atrapalhavam o funcionamento
da fábrica, chegando a atrasar a produção. Era difícil a resolução de
imprevistos como, por exemplo, viabilizar a compra de dinamite para
implodir pedras encontradas no fundo de um córrego para não ter que
paralisar a obra de canalização.31 Também havia discordâncias dentro da
Emurb quanto aos projetos em si.
Em uma ocasião houve uma reunião sobre o fechamento da escola
de Parelheiros, que foi construída simultaneamente com o terminal de
ônibus vizinho. Para a Emurb deveria ser construído um muro alto para
isolar a escola da circulação de passageiros no terminal. Mayumi, por
sua vez, defendeu um fechamento de gradil metálico que garantisse a
transparência da escola [ver fotos as lado] e foi “massacrada” na reunião. Ela argumentava que “ao desenhar o contorno da escola, no fundo
a gente está desenhando o contorno da sociedade. A construção de um
muro de alvenaria com 2 metros de altura parte do pressuposto que
a sociedade é irrecuperável e violenta por si só. O gradil transparente
denota a fé numa sociedade passível de transformação.” 32 Existia uma
vontade política muito grande da prefeita Erundina, que “bancou” a
idéia Cedec e apoiou muito a Mayumi nesses casos, mantendo a opção
pelo gradil transparente.
exemplar do “da-dzi-bau”, jornal para o mural dos trabalhadores da fábrica do CEDEC
(Fonte: Acervo Marta Grosbaum)
96
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
31 Conforme depoimento de Vera Pastorello à autora em 15/10/2008.
32 Conforme depoimento de Reginaldo Ronconi na banca de qualificação em julho 2009.
Um exemplo da postura ética de Mayumi no trato da coisa pública
é o caso da construção de uma das escolas, em que a construtora entregou a medição da cubagem de movimento de terra apenas no final da
obra. O volume cobrado era absurdo, pois tratava-se de terreno quase
plano. A equipe do Cedec protestou e propôs rasgar o piso da escola já
pronta para medir (com trena) a altura do aterro e calcular o volume
correto [ver fotos p.97], que evidentemente era muito menor. Mayumi
apóia a proposta e a entrega da obra foi adiada em uma semana. Mas
conseguiu-se que o valor do pagamento fosse corrigido.33
A arquiteta Vera Pastorello relata34 que o objetivo de Mayumi com
a fábrica era construir espaços adequados e com boa qualidade, a
preços menores que os praticados pelo governo e pelas empresas privadas, para atender à população necessitada e provar que a construção
para a população de baixa renda pode ter qualidade, mesmo a custos
baixos. Em trabalho conjunto com a Edif, conseguiram estabelecer
um referencial de custos para possibilitar comparação com os preços
oferecidos pela iniciativa privada. Lutava para incluir na composição
dos preços dos materiais a relação de durabilidade: o uso de materiais
baratos não significa custo baixo, pois muitas vezes exige gastos maiores com reposição e manutenção. A grande “mágoa” é que, devido ao
curto período de funcionamento da fábrica, o investimento inicial em
maquinário embutido no custo não pôde ser diluído, e o Cedec não
chegou a atingir custos menores que a iniciativa privada, em termos
numéricos absolutos. No entanto, se levarmos em conta a durabilidade
desses equipamentos, talvez a conta hoje fosse diferente. No caso dos
33 Conforme depoimento de Reginaldo Ronconi na banca de qualificação em julho 2009.
34 Conforme depoimento à autora em 15/10/2008.
[no alto] medições para cáculo correto do volume de movimento de terra em escola
[embaixo] escolas com fechamento transparente (Fonte: Acervo Reginaldo Ronconi)
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
97
abrigos para paradas de ônibus, atualmente os implantados no Largo
uma ­cobertura de telhas onduladas de fibrocimento sobre a cobertura
Paissandu, no centro de São Paulo, encontram-se em bom estado de
existente (telhas de argamassa armada). O motivo alegado era a infil-
conservação – inteiros após 17 anos de uso, apenas sujos (o que é
tração de água na cobertura, através da juntas entre as telhas, mas na
facilmente resolvido por lavagem ou pintura).
realidade o principal problema enfrentado por essas escolas referia-se
Nessa batalha pela redução dos custos da construção de escolas,
furtos realizados pela invasão através dos vãos de iluminação zenital na
Mayumi envolvia até os operários da fábrica, mostrando no jornal da-dzi-
cobertura, que foram fechados, prejudicando a ventilação e a ilumi-
bau (p.96) como todas as ações dos operários (cuidado na desfôrma das
nação das salas de aula. Os espaços sob os beirais, que originalmente
peças, na montagem e no transporte, no reaproveitamento de materiais)
configuravam uma circulação avarandada, e os jardins internos foram
poderiam contribuir para a melhoria da qualidade das obras e redução
fechados com grades, deixando a escola com aparência de prisão.
dos gastos com reposição e perdas de peças por ruptura acidental.
As sete escolas receberam nomes novos, como por exemplo: EMEI
Os edifícios das sete escolas municipais construídas pelo Cedec
Severino do Ramo (EMEI Jardim Robru), EMEI Dr. Fausto Ribeiro da
continuam em uso ainda, com alguns problemas de manutenção, em
Silva Filho (EMEI Vila Nova Curuçá) ou EMEI Juca Rocha (EMEI Nova
parte devido à falta de informações específicas sobre o sistema constru-
Parelheiros), rompendo-se o vínculo inicial criado entre a logomarca
tivo e das plantas originais contemplando as instalações (hidráulicas,
da escola e a identidade do bairro.
elétricas, etc.). Existia um manual do usuário preparado pelo Cedec
Utilizando o mesmo sistema construtivo das escolas, foram cons-
exatamente com essa finalidade, e fazia parte das atribuições do centro
truídos dois centros de educação para o trânsito (CETET), na Barra
de pesquisa o acompanhamento dos edifícios construídos para manu-
Funda e no Tatuapé. Os dois edifícios encontram-se em pleno uso e
tenção e avaliação do desempenho das peças fabricadas em argamassa. A
em bom estado de conservação. Também neste caso foi acrescentada
extinção do Cedec colabora para a deterioração dos edifícios, à medida
uma cobertura sobre as telhas de argamassa armada, provavelmente
que não existe um departamento municipal destinado exclusivamente
por problemas de conforto térmico e de infiltração.
à pesquisa de materiais e ao planejamento da manutenção periódica
das obras públicas.
A seguir, a título de registro, apresentamos a listagem das obras exe-
Em duas escolas de ensino fundamental examinadas em dis-
cutadas pelo Cedec de 1990 a 199236. As fichas de cada projeto, com
sertação sobre avaliação pós-ocupação35, verificou-se a instalação de
informações, desenhos dos projetos e fotos das obras executadas,
encontram-se nas páginas finais deste capítulo.
35 FERREIRA, Maria Cristina Domingues Lopez. Avaliação pós-ocupação (APO): Escolas de Ensino
Fundamental em argamassa armada – cidade de São Paulo e sua região metropolitana. Dissertação de mestrado. FAUUSP, São Paulo, 2005.
98
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
36 Fonte: CEDEC/EMURB. Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários – atividades
desenvolvidas 1990/92. Relatório, dezembro 1992.
Cedec – Projetos e Implantação de Obras (1990-92)
A. Canalização
Espaço Vivencial de Trânsito (CET)
1. Favela Mirangoaba (extensão: 300ml)
2. Favela Rubilene (extensão: 330ml)
3. Favela Esperantinópolis (extensão: 600ml)
1. CETEC Leste
2. CETEC Oeste
Lazer
B. Equipamentos comunitários
Secretaria da Educação (SME)
1. EMEI Nova Parelheiros
2. EMEI Vila Nova Curuçá
3. EMEI Jd. Robru
4. EMEI jd, Joamar
5. EMPG Jd. Sinhá
6. EMPG Jd. São Francisco
7. EMPG Jd. Ingá (projeto)
8. EMPG Vila Guilherme (projeto)
9. EMPG Vila Prudente (projeto)
10. EMPG Cidade Kemel (projeto)
Projeto e execução de Playgrounds em Centros
Esportivos (SEME) – obras concluídas
1. CEE Aurélio Campos/Região Norte
2. Mini balneário Garcia D’Ávila/Região Norte
3. CEE Brigadeiro Eduardo Gomes/Região Norte
4. Balneário Mário Moraes/Região Oeste
5. Balneário José Ermírio de Moraes/Região Leste
6. CEE Cidade Tiradentes/Região Leste
Outros
7. Praça Nova Parelheiros
8. Playground Parque D. Pedro
C. Mobiliário Urbano
SECRETARIA DO Bem Estar Social (SEBES)
1. Casa de Convivência/Homens de Rua
2. Creche Gleba do Pêssego
3. Creche Vila Guilhermina
1. Lixeiras: instalação de 200 unidades em 92
2. Abrigos de ônibus: instalação de 120 unidades
em 92
3. Terminais de transporte (CMTC): instalação de
14 mini terminais em execução
SECRETARIA DA Saúde (SMS)
1. PAM Seckler
2. UBS Três Corações/Santo amaro
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
99
CONTINUIDADE
REGISTRO DOS PROJETOS REALIZADOS
O arquiteto Lelé já havia alertado a equipe sobre a questão da conti-
Apresentamos a seguir a ficha técnica dos projetos realizados pelo Depar­
nuidade do projeto – como sempre acontece quando há mudança de
tamento de Planejamento e Programação do Cedec, de 1990 a 1992.
governo, as novas diretrizes políticas poderiam alterar os rumos das
É interessane notar os diversos arranjos permitidos pela flexibilidade
ações desenvolvidas, o que de fato aconteceu. Nesse caso, o prefeito
da modulação do sistema construtivo com componentes de argamassa
seguinte – Paulo Maluf – determinou o encerramento das atividades do
armada. Era possível construir, com o mesmo kit de peças, edifícios
Cedec, desprezando a importante experiência acumulada e os índices
bem diferentes entre si. Uma das diretrizes do Cedec era justamente a
de produção alcançados nesse curto período de dois anos e meio. A
elaboração de projetos específicos para cada situação, como se poderá
fábrica foi fechada com grande quantidade de componentes em esto-
verificar adiante.
que37, e nunca mais voltou a funcionar. Foi uma grande decepção para
As fichas foram elaboradas a partir de um relatório interno do Cedec, do
todos os integrantes da equipe do Cedec, que haviam se empenhado
período final de funcionamento da fábrica, em que algumas obras ainda
com muita dedicação viabilizar o projeto. Além disso, o novo Prefeito
se encontravam em execução. Com o fechamento da fábrica, alguns dos
instaura processos contra esses mesmos técnicos, numa espécie de per-
projetos não chegaram a ser construídos.
seguição política a quem havia trabalhado na administração anterior,
com o intuito de desmoralizar as ações do governo petista38.
A descontinuidade dos programas de obras públicas entre os diferentes governos contribui para a piora da qualidade dos equipamentos
Fonte dos dados técnicos e dos desenhos:
• Relatório interno do Departamento de Planejamento e Programação, Cedec/Emurb,
São Paulo, 1992. (Acervo Odete Tomchinsky)
oferecidos à população. Com a criação do Cedec, buscava-se instituir um
departamento permanente, dentro da Emurb, responsável pela pesquisa
Fontes das fotos:
contínua e pela produção de alternativas construtivas, suprindo uma
• LIMA, Mayumi Watanabe de Souza. Arquitetura e Educação. São Paulo, Nobel, 1995;
demanda que permanece órfã, sendo atendida por programas sem ga-
• Acervo Reginaldo Ronconi..
rantias de continuidade ou de boa manutenção, a médio e longo prazo.
37 O arquiteto Reginaldo Ronconi relata que havia 9 escolas prontas para montagem. A
fábrica tinha na época capacidade para produzir 8 escolas/mês. Seu fechamento nessas
condições foi uma “violência” ao patrimônio público.
38 Conforme depoimento de Mário Souza Lima à autora em 20/10/2008.
100
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
EMEI NOVA PARELHEIROS
capacidade: 8 salas/1280 alunos em 4 turnos
área construída: 1240m²
área terreno: 2890m²
local: Rua Gentil Shunk Roschel s/n°
obra concluída/execução CEDEC
1 acesso principal 2 sala de aula 3 páteo/refeitório 4 sanitários 5 cozinha 6 despensa 7 manutenção 8 área de serviço
9 secretaria/recepção 10 sala professores/coord. pedagógica/diretoria 11 jardim 12 playground 13 estacionamento 14 caixa d’água
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
101
EMEI JARDIM ROBRU
capacidade: 8 salas/1280 alunos em 4 turnos
área construída: 1380m²
área terreno: 4800m²
local: Rua Francisco Monteiro Tavares n° 100
obra concluída/execução CEDEC
1 acesso principal 2 sala de aula 3 diretoria 4 coordenação 5 sala professores/secretaria 6 cozinha 7 despensa 8 almoxarifado 9 sanitários
10 manutenção 11 páteo/refeitório 12 caixa d’água 13 playground 14 área de serviço 15 acesso lateral 16 estacionamento
102
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
EMEI JARDIM JOAMAR
capacidade: 8 salas/1280 alunos em 4 turnos
área construída: 1250m²
área terreno: 5730m²
local: Rua Canto do Engenho n° 260
previsão de conclusão: jan/93 - execução CEDEC
1 acesso principal 2 sala de aula 3 diretoria 4 coordenação 5 sala professores/secretaria 6 cozinha 7 despensa 8 alomoxarifado 9 sanitários 10 manutenção 11 páteo/refeitório 12 playgorund 13 área de serviço
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
103
EMEI SAVOY CITY
área construída = 1209m2
área do terreno = 2934m2
1 acesso principal 2 sala de aula 3 sanitários 4 diretoria 5 coordenação 6 sala professores 7 secretaria 8 cozinha 9 despensa
10 refeitório 11 galpão 12 acesso 2° pavimento 13 almoxarifado 14 área de serviço 15 caixa d’água 16 playground
104
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
EMEI VILA NOVA CURUÇÁ
capacidade: 8 salas/1280 alunos em 4 turnos
área construída: 1270m²
área terreno: 6970m²
local: Rua Alexandre Dias Nogueira n° 100
obra concluída/execução CEDEC
1 acesso principal 2 sala de aula 3 páteo 4 refeitório 5 sanitários 6 cozinha 7 sala professores/coord. pedagógica/secretaria
8 almoxarifado 9 diretoria 10 despensa 11 manutenção 12 área de serviço 13 caixa d’água 14 playground
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
105
EMPG ALTOS DE VILA PRUDENTE
capacidade: 12 salas/1920 alunos em 4 turnos
área construída: 2250m² (2 pavimentos)
área terreno: 6304m²
local: Rua Carla Petrela s/ n°
projeto em elaboração/CEDEC
1 acesso principal/abrigo 2 sala de aula 3 sanitários 4 cozinha 5 despensa 6 refeitório
7 depósito/manutenção 8 sala uso múltiplo 9 galpão 10 grêmio 11 diretoria 12 coordenação
13 sala professores 14 secretaria 15 almoxarifado 16 dep. educação física 17 biblioteca 18 quadra
106
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
EMPG JARDIM SINHÁ
capacidade: 12 salas/1920 alunos em 4 turnos
área construída: 2300m²
área terreno: 4270m²
local: Rua Paris n° 52
obra concluída/execução CEDEC
1 acesso principal/abrigo 2 sala de aula 3 sala multi-uso 4 sala de leitura 5 sala de informática 6 grêmio 7 diretoria 8 coord. pedagógica 9 sala de professores
10 cozinha 11 despensa/depósito 12 sala ed. física 13 sanitários 14 refeitório 15 páteo 16 jardim 17 caixa d’água 18 quadra
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
107
EMPG JARDIM INGÁ / SÃO ROQUE
capacidade: 10 salas/1600 alunos em 4 turnos
área construída: 1810m²
área terreno: 19350m²
local: Rua Catarinenses s/ n°
projeto concluído/obra sem previsão de início
1 acesso principal 2 sala de aula 3 sanitários 4 páteo 5 cozinha 6 despensa 7 biblioteca 8 diretoria 9 coord. pedagógico 10 sala de professores
11 secretaria 12 almoxarifado 13 manutenção 14 mat. educação física 15 caixa d’água 16 jardim 17 arquibancada 18 quadra 19 palco 20 estacionamento
108
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
EMPG JARDIM SÃO FRANCISCO
capacidade: 12 salas/1920 alunos em 4 turnos
área construída: 2400m²
área terreno: 7930m²
local: COHAB Setor 1A – Rua 5
obra iniciada/execução terceiros: fiscalização CEDE
1 acesso principal 2 sala de aula 3 sala multi-uso 4 sala de leitura 5 sala de informática 6 grêmio 7 sanitários 8 circulação 9 jardim 10 páteo
11 refeitório 12 cozinha 13 despensa 14 diretoria 15 secretaria 16 sala de professores 17 coord. pedagógica 18 almoxarifado 19 sala de educação
física 20 depósito 21 acesso de funcionários 22 caixa d’água 23 quadra
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
109
EMPG VILA GUILHERME
capacidade: 12 salas/1920 alunos em 4 turnos
área construída: 2300m²
área terreno: 7770m²
local: Travessa Simis s/ n°
projeto concluído/obra sem previsão de início
1 acesso principal 2 sala de aula 3 sala multi-uso 4 sala de leitura 5 sala de informática 6 grêmio 7 sanitários 8 páteo 9 cozinha 10 refeitório 11 despensa
12 depósito 13 sala de educação física 14 secretaria 15 sala de professores 16 diretoria 17 almoxarifado 18 coord. pedagógico 19 quadra
110
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CRECHE GLEBA DO PÊSSEGO
capacidade: 130 crianças
área construída: 830m²
área terreno: 2890m²
local: Rua 1 com Av. 12
obra em andamento/execução CEDEC
1 acesso principal 2 berçario 3 sala de atividades 4 galpão/refeitório 5 secretaria 6 diretoria 7 cozinha 8 lactário 9 despensa 10 lavanderia
11 zeladoria 12 sanitários 13 almoxarifado 14 depósito 15 caixa d’água 16 playground 17 área de serviço
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
111
CRECHE VILA GUILHERMINA
capacidade: 130 crianças
área construída: 830m²
área terreno: 2790m²
local: Rua Lino Cunha s/ n°
obra iniciada/execução terceiros: fiscalização CEDEC
1 acesso principal 2 berçário 3 sala de atividades 4 sanitários 5 secretaria 6 diretoria 7 galpão/refeitório
8 cozinha 9 lactário 10 despensa 11 lavanderia 12 depósito 13 zelador 14 almoxarifado 15 playground
16 caixa d’água 17 área de serviço
112
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
ESPAÇO VIVENCIAL DE TRÂNSITO - CETET LESTE
área construída: 645m²
área terreno: 5900m²
local: Rua Vilela n° 573
obra concluída/execução CEDEC
1 acesso principal 2 guarita 3 secretaria 4 coord. 5 sanitários 6 copa 7 almoxarifado 8 reunião 9 monitores 10 micro 11 jogos 12 projeção 13 cantina 14 auditório 15 manutenção 16 garagem 17 pista 18 abrigo
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
113
ESPAÇO VIVENCIAL DE TRÂNSITO - CETET OESTE
área construída: 1050m²
área terreno: 8600m²
local: Av. Marquês de São Vicente n° 2154
obra concluída/execução CEDEC2
1 acesso principal 2 auditório 3 monitores 4 coordenadores 5 secretaria 6 analista 7 reuniões 8 cantina 9 jogos 10 ambulatório
11 administração 12 sanitários 13 projeção 14 garagem 15 manutenção 16 almoxarifado 17 limpeza 18 vigilância 19 pista 20 guarita
114
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CASA DA TERCEIRA IDADE
área construída = 225m2
área do terreno = 1220m2
1 acesso principal 2 sala de múltiplo uso 3 sanitários 4 sala/cozinha 5 dormitório 6 área de serviço 7 caixa d’água
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
115
CASA DA CULTURA
área construída = 1445m2
área do terreno = 3790m2
1 acesso principal 2 sotão 3 palco 4 oficina 5 cursos 6 depósito 7 sanitários 8 recepção 9 setor técnico
10 setor administrativo 11 copa/cozinha 12 serviço 13 almoxarifado 14 manutenção 15 lanchonete/cozinha/dispensa 16 artes plásticas 17 acesso 2º pavimento 18 sala de vídeo 19 leitura informal 20 depósito
21 sacada 22 praça 23 caixa d’água 24 abrigo de ônibus
116
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CASA DE CONVIVÊNCIA HOMENS DA RUA
área construída: 345m²
área terreno: 445m²
local: Av. Alcântara Machado com Rua Placidina s/ n°
obra concluída/execução CEDEC
1 acesso principal 2 dormitórios 3 reuniões/cursos 4 administração 5 sanitários
6 guarda-volume 7 cozinha 8 refeitório/galpão 9 área serviços 10 circulação
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
117
HOSPITAL DIA VILA PRUDENTE
área construída = 966m2
área do terreno = 1920m2
1 acesso principal 2 hall 3 secretaria 4 diretoria 5 almoxarifado/arquivos 6 reunião 7 sanitários 8 depósito 9 farmácia 10 cozinha 11 despensa
12 lavanderia 13 uso-múltiplo 14 galpão 15 refeitório 16 biblioteca 17 consultório 18 enfermaria 19 sala/grupo 20 caixa d’água 21 jardim 22 praça
118
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
POSTO DE ATENDIMENTO MÉDICO PAM SECKLER
área construída (ampliação): 203m²
área terreno: 1075m²
local: Rua Carlos Mauro n° 150
obra em andamento/execução CEDEC
1 acesso principal 2 sala de espera 3 dentista 4 curativo 5 medicação 6 coleta 7 UVE 8 fono
9 expediente 2 10 psicólogo 11 sala de reunião 12 sanitários 13 caixa d’água/oxigênio
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
119
UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE TRÊS CORAÇÕES
área construída: 900m²
área terreno: 1440m²
local: Rua General José de Oliveira Ramos
obra em licitação/fiscalização CEDEC
1 acesso principal 2 espera 3 recepção/matrícula 4 odontologia 5 serviço social 6 educação em saúde 7 consultório pediatria 8 consultório 9 coleta papanicolau
10 consultório ginecologia obstetrícia 11 inalação 12 posto enfermaria 13 T.R.O. 14 vacinação 15 coleta 16 atendimento emergência 17 curativos emergência 18 medicação
19 curativos sépticos 20 expurgo 21 esterilização 22 consultório psicologia 23 sanitários 24 circulação 25 reuniões 26 expediente 27 chefia 28 arquivo 29 distribuição medicamento
30 depósito medicamentos 31 N.E.P.I. 32 depósito administração 33 estar 34 copa/refeitório 35 distribuição materiais/almoxarifado 36 zeladoria 37 área serviço 38 caixa d’água
120
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
PLAYGROUND MINI BALNEÁRIO GARCIA D’ÁVILA
área playground = 405m2
1 acesso principal 2 praça 3 trepa-trepa 4 túnel com trepa-trepa 5 escada-árvore 6 palco 7 painel lúdico 8 banco 9 caminho
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
121
PLAYGROUND BALNEÁRIO MÁRIO MORAES
área playground = 580m2
1 acesso principal 2 praça 3 trepa-trepa 4 tanque de areia 5 caminho 6 escada-árvore 7 túnel com trepa-trepa 8 piso cimentado 9 “chuveirão” 10 labirinto
122
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
PLAYGROUND C.E.E. AURÉLIO CAMPOS
área playground = 670m2
1 acesso principal 2 praça 3 trepa-trepa 4 tanque de areia 5 caminho 6 escada-árvore 7 túnel com trepa-trepa 8 piso cimentado 9 labirinto 10 cavalinho
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
123
PLAYGROUND C.E.E. JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES
área playground = 634m2
1 acesso principal 2 praça 3 trepa-trepa 4 tanque de areia 5 brinquedo existente 6 caminho 7 túnel com trepa-trepa 8 cavalinho 9 painel lúdico
10 labirinto 11 taturama 12 palco 13 medidor elétrico existente 14 banco 15 piscina existente
124
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
PLAYGROUND CIDADE TIRADENTES
área playground = 990m2
1 acesso principal 2 praça 3 trepa-trepa 4 tanque de areia 5 caminho 6 escada-árvore 7 túnel com trepa-trepa
8 piso cimentado 9 labirinto 10 cavalinho
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
125
PLAYGROUND CEL. BRIG. EDUARDO GOMES
área playground = 650m2
1 acesso principal 2 praça/escada 3 caminho 4 tanque de areia 5 escorregador de concreto 6 corda de nylon 7 quadra existente
8 cavalinho 9 “chuveirão” 10 túnel com trpa-trepa 11 banco 12 arquibancada existente
126
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
TERMINAL DE ÔNIBUS PARELHEIROS
área construída = 88m2
área do terreno = 1500m2 (praça)
1 abrigo de ônibus 2 sanitários 3 guichê 4 caixa d’água 5 bancos 6 praça
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
127
128
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
130
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Se fosse possível resumir em algumas palavras a obra da arquiteta
real e dentro dos mecanismos existentes que ela apontava possibilida-
Mayumi Watanabe Souza Lima, diria que toda sua vida foi orientada
des de atuação e de mudança.
em um sentido de formação da consciência crítica para a participação
na construção do espaço da democracia.
Não é mera coincidência o fato de ter optado por trabalhar com
planejamento em órgãos públicos e com atividades de ensino em
Todas as atividades envolviam a formação das pessoas – o desen-
faculdades de arquitetura e instituições de formação profissional. Ela
volvimento de uma consciência crítica da realidade social, econômica
via nessas atividades a oportunidade de transformação. Através da cons-
e política do país; o perceber-se em relação ao espaço e em relação aos
trução do equipamento público, a criação de serviços voltados para a
demais; a consciência de que é possível transformar o espaço dessa rea-
formação dos cidadãos emancipados. Através do ensino, a formação de
lidade. A formação da consciência crítica fornece instrumentos para que
profissionais conscientes de sua responsabilidade social e comprometi-
as pessoas possam participar ativamente na construção dos espaços da
dos com a atuação para a mudança da sociedade.
cidade e nas discussões democráticas sobre os rumos desta construção.
A forma de atuação de Mayumi é uma espécie de transposição do
O ponto de partida é sempre a análise crítica do contexto his-
método de alfabetização de Paulo Freire para a construção: enquan-
tórico, social, político e econômico. Vivemos numa sociedade de
to ele alfabetiza a população a partir da leitura do mundo, Mayumi
consumo, baseada no modo de produção capitalista, onde a disciplina
ensina a pessoa a ler o espaço ao seu redor, desvelar e problematizar
e a alienação (que têm como conseqüência – e objetivo – a passividade
as relações dos indivíduos entre si e com o espaço, para então poder
dos indivíduos) são instrumentos de manutenção da ordem vigente.
transformá-lo. A construção de um objeto ou de um espaço constitui
No Brasil, o desenvolvimento foi baseado na exploração do trabalho
uma das experiências primeiras e mais completas do ser humano,
de um contingente marginalizado de mão de obra barata. A partir dos
porque o faz senhor do ato de produzir o novo, capaz de transformar
anos 1960, essa população será o foco de atenção da obra da arquiteta.
o mundo que o cerca. Mayumi revela a importância de se perceber/
Ao longo de sua carreira, ela se preocupou em entender as carências e
compreender o espaço:
necessidades populares e, a partir disso, batalhar pela oferta de serviços
“O espaço é elemento cheio de significado, que reflete sempre a
públicos para a transformação das condições de vida dessa população.
história e a cultura de um povo; que revela, no seu uso e na sua
Mayumi acreditava numa evolução da sociedade em direção a uma de-
disposição, a relação efetiva que está estabelecida entre pessoas
mocracia com fundamentos socialistas. Não só acreditava nisso como
utopia de um futuro distante, mas trabalhava com muito empenho de
maneira a criar os instrumentos de transformação dessa sociedade no
presente. Era visionária e ao mesmo tempo possuía sentido prático de
transformação de seu entorno cotidiano. É a partir dessa consciência do
Conforme depoimento de Mario Souza Lima à autora em 20/10/2008,
o casal Souza Lima tinha um certo “preconceito” contra o trabalho do arquiteto em seu
escritório particular – não era coerente com a postura política deles trabalhar “fazendo o
projeto da casa burguesa”. A questão deles era a construção para as classes populares.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
131
que nele convivem. Enfim, o espaço é um espelho no qual se faz a
única”, onde o professor coloca-se como único orador e os alunos
leitura de uma sociedade, seus valores, seu sistema social e político,
disciplinados apenas assistem ao que o professor fala. Assim sendo,
seu desenvolvimento tecnológico.”
a qualidade do espaço é entendida não apenas por sua característica
física mas também pela maneira como é utilizado. Então, a atividade de
Nesse sentido, a atuação do arquiteto ao projetar um espaço nunca
projeto reveste-se de uma responsabilidade importante em termos de
é neutra. Mayumi possuía uma atuação comprometida com o real,
oferecer diversas possibilidades de apropriação por parte dos usuários.
onde compreender as contradições existentes na produção e no uso
E por isso mesmo Mayumi também se preocupava com a formação
dos espaços é condição para o projeto – que por sua vez será sempre
das pessoas que ocupariam esses espaços, desenvolvendo diversos tipos
um reflexo das condições culturais como um todo (sociais, políticas,
de atividades, antes, durante e depois da construção, para incentivar
econômicas).
o uso e a apropriação do espaço de forma criativa. Criar espaços que
Quando Mayumi falava em espaço, não estava se referindo apenas
propiciem determinadas experiências de apropriação/destruição e
a uma sala com suas quatro paredes. A idéia de espaço incluía também
transformação/criação é uma busca constante e coerente do trabalho
a forma como ele era ocupado. Ao defender a qualidade do equipa-
de Mayumi.
mento público, ela não tratava o espaço construído como determinante
Anos após a queda da ditadura, ainda não fomos capazes de
para a qualidade das atividades a serem desenvolvidas ali, mas entendia
educar cidadãos conscientes capazes de participar na construção de
que a qualidade do espaço poderia influir positiva ou negativamente
uma nova sociedade. Muitos equipamentos públicos continuam
nessas atividades. Podemos imaginar o caso de uma sala de aula: se
sendo construídos sob critérios meramente quantitativos, onde o
for um ambiente escuro e sem ventilação, certamente vai atrapalhar
importante é construir mais metros quadrados a um menor preço,
o desenvolvimento de atividades de ensino. Por outro lado, uma sala
sem preocupar-se com a qualidade real do espaço para a sociedade.
bem iluminada, com janelas generosas, pode ser mais agradável. Se
Todo o questionamento da arquiteta em relação ao projeto de escolas
essa sala tiver abertura direta para a área externa, pode propiciar a
e outros equipamentos públicos válido para os dias de hoje. Nesse
realização de atividades didáticas ao ar livre, o que seria uma inovação
sentido, o estudo de sua obra é fundamental para se repensar a atuação
em relação às salas de aula comuns. No entanto, se essa mesma sala
do arquiteto na construção de espaços para a educação e de espaço
agradável for ocupada por carteiras enfileiradas, seu caráter inovador se
para a reflexão sobre a construção.
perde e ela refletirá apenas a concepção tradicional de “ensino de mão
LIMA, Mayumi W. Souza. Espaços Educativos: uso e construção. Brasília, MEC/CEDATE, 1986,
p.11.
132
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
NOTA: É importante retomar algumas características do presente
trabalho, que teve como ponto de partida a pesquisa documental do
acervo e a realização de entrevistas e, como um dos objetivos, resgatar
a trajetória da arquiteta. Ao longo de um ano de consultas ao acervo no
Centro Sérgio Buarque de Holanda, na Fundação Perseu Abramo, São
Paulo, foram selecionados e digitalizados inúmeros documentos, como
subsídio ao trabalho. O produto da pesquisa documental foi organizado e reunido em DVD contendo mais de 300 arquivos de textos,
fotos, relatórios, manuscritos, projetos, periódicos, cartas, entre outros
documentos. O DVD é uma contribuição para futuros pesquisadores,
na reflexão ligada à construção, à educação e à administração pública,
e para a divulgação da obra da arquiteta.
Ver anexo 3.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
133
134
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
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140
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Documentos consultados
Foram consultados documentos originais pertencentes ao acervo da arquiteta Mayumi Souza Lima, no Centro de Memória Sérgio Buarque de Holanda
da Fundação Perseu Abramo (FPA), São Paulo.Todos os documentos citados
neste trabalho encontram-se no conjunto dos arquivos digitais no dvd anexo,
produto desta consulta.
ANEXO 1
MAYUMI WATANABE SOUZA LIMA – CURRÍCULO
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
142
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
143
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
144
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
145
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
146
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
147
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
148
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
149
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
150
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
151
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
152
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
153
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
154
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
155
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
156
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
157
“Curriculum Vitae”, 1993. Fonte: Acervo Mayumi W. Souza Lima.
158
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
ANEXO 2
CEDEC – MATERIAL DE COMUNICAÇÃO
Folder “Cosntruindo a Educação Pública Popular”
Secretaria da Educação, PMSP, 1991
Fonte: Acervo MWSL
160
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “Cosntruindo a Educação Pública Popular”
Secretaria da Educação, PMSP, 1991
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
161
Folder “São Paulo melhor: a contribuição do CEDEC”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1990-92
Fonte: Acervo MWSL
162
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “São Paulo melhor: a contribuição do CEDEC”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1990-92
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
163
Folder “Estranhos seres invadem o
nosso bairro...”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1990-92
Fonte: Acervo MWSL
Folder “Não fiquem por fora...”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1990-92
Fonte: Acervo MWSL
164
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “Entre: a casa é sua!”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1990-92
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
165
Folder “EMPG Jardim Sinhá”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1992
Fonte: Acervo MWSL
166
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “EMPG Jardim Sinhá” (verso)
Cedec/Emurb, São Paulo, 1992
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
167
Folder “EMPG Jardim Robru”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1991
Fonte: Acervo MWSL
168
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “EMPG Jardim Robru” (verso)
Cedec/Emurb, São Paulo, 1991
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
169
Folder “EMEI Nova Curuçá”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1991
Fonte: Acervo MWSL
170
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “EMEI Nova Curuçá” (verso)
Cedec/Emurb, São Paulo, 1991
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
171
Folder “EMEI Nova Parelheiros”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1991
Fonte: Acervo MWSL
172
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Folder “EMEI Nova Parelheiros” (verso)
Cedec/Emurb, São Paulo, 1991
Fonte: Acervo MWSL
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
173
Folder “Você se educa...”
Cedec/Emurb, São Paulo, 1990-92
Fonte: Acervo Odete Tomchinsky
174
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Roteiro para o jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
175
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
176
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
177
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
178
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
179
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
180
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
181
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
182
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
183
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
184
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
185
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
186
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
187
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
188
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
189
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
190
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
191
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
192
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
193
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
194
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
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Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
196
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
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Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
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CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
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Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
200
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
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Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
202
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
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Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
204
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
205
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
206
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
207
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
208
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
209
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
210
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
211
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
212
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
213
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
214
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
Jornal interno da fábrica do Cedec, destinado à formação política dos operários. Acervo Marta Grosbaum.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
215
Recado de Mayumi para Marta Gorsbaum, sobre a continuação da
estória do Jornal interno da fábrica do Cedec. Acervo MWSL.
216
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
ANEXO 3
ACERVOS DIGITALIZADOS
contendo os arquivos digitalizados dos acervos:
• Mayumi e Sérgio Souza Lima (Centro Sérgio Buarque de Holanda, Fundação Perseu Abramo, São Paulo)
• Marta Grosbaum, São Paulo.
• Odete Tomchinsky, São Paulo.
dvd
218
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
CONTEÚDO DO DVD
Ao longo de um ano de visitas à Fundação Perseu Abramo
para consulta do Acervo de Mayumi Watabanbe Souza Lima
(MWSL), digitalizamos (por scanner ou fotografia) mais
de 300 documentos, dentre textos, manuscritos, apostilas,
fotografias, relatórios, projetos, etc. Esses arquivos foram
organizados por temas e, sempre que possível, em ordem
cronológica. Com este levantamento esperamos contribuir
para o trabalho de futuros pesquisadores da obra da arquiteta.
Foram incorporados alguns documentos (textos, anotações,
desenhos técnicos) relativos ao período do Cedec, pertencentes aos acervos pessoais da arquiteta Odete Tomchinsky e
da pedagoga Marta Grosbaum, colaboradoras de projetos de
Mayumi,que gentilmente cederam o material.
A seguir, apresentamos a listagem das pastas e arquivos
incluídos no DVD, com a descrição do respectivo conteúdo.
Por se tratar de lista extensa, muitos nomes estão abreviados.
OBS: Para facilitar a localização do doumento no acervo físico,
os arquivos foram nomeados com o prefixo do número da
caixa em que se encontram guardados.
01_FORMAÇÃO
01.1_1962-65_MESTRADO unb
cx16_MWSL_mestrado-vol1.pdf; cx16_MWSL_mestrado-vol2.pdf
LIMA, MWS. Aspectos da habitação urbana: projeto de habitação coletiva
para a unidade de vizinhança São Miguel. Dissertação de mestrado.
Brasília, Faculdade de Arquitetura da UnB, 1965, vols. 1 e 2
cx24_planopesq_mwsl_FE_doutorado.pdf
cx38_MWSL_PG_txt_goldberg_ms_analise.pdf
LIMA, MWS. “Construção escolar: um instrumento político
e pedagógico de alienação e desalienação”. Proposta
preliminar de pesquisa apresentada à FEUSP, dez1983.
LIMA, MWS. Manuscrito sobre o documento “Da escola
reflexo de uma sociedade”, ca.1984
cx24_txt_mwsl_organizestadoconstrescolas.pdf
LIBÂNIO, Anamaria VA. “Participação comunitária e programas públicos no Brasil”, in: Cad. Pesq., n.48. S Paulo, 1984
folha de organização do estado para a construção de escolas
sobre o caso de Fortaleza (Guarulhos) e de Varginha
cx38_MWSL_PG_txt_participcomunitariabrasil.pdf
cx40_MWSL_planopesquisa_prodespacoseducativos.pdf
cx26_mwsl_pg_relatoriopesq_1988.pdf
folha do plano de pesquisa de doutorado
Relatório de atividades desenvolvidas no período de 1984 a
1988, relacionados a pós-graduação e ao tema da pesquisa
cx51_MWSL_livroAE_txt_escolaconquistapop.pdf
cx31_mwsl_pg_trabalhodisciplina_fls863.pdf
LIMA, MWS. Liberdade e igualdade: problemas de teoria política contemporânea. Trabalho de doutorado. FEUSP, 1988
LIMA, MWS. texto “A escola como conquista popular e como
instrumento de legitimação dos setores dirigentes”
cx7_FFLCH_bibliografia.jpg
bibliografia de curso da FFLCHUSP
cx31_txt_movpopularesurbanos_edisonnunes_greyscale.pdf
NUNES, Edson; JACOBI, Pedro. “Movimentos populares
urbanos, poder local e conquista da democracia”
cx37_FEUSP_ata_qualificacao_MWSL.pdf
FEUSP. Ata do “Exame geral de qualificação - nível de
doutorado”, 1989
cx38_MWSL_PG_analisetxt_beisiegel.pdf
LIMA, MWS. Análise dos textos “Educação e sociedade no
Brasil após 1930” e “Ensino público e educação popular”
de Celso de Rui Beisiegel, ca.1983
02_docência
02.1_avulsos
cx01_ABEA_txt_MWSL_universidade.pdf
ABEA. Caderno 4:demandas internas. lixo. cidade moradia. paisagem urbana.
informática.exercício profissional . Cadernos ABEA
cx01_unb_aulamaior_teoriaarqtt_jan1964.pdf
Esquema de aula maior da disciplina Teoria da Arquitetura II
cx38_MWSL_PG_analisetxt_paiva_bruneau.pdf
cx01_unb_relatorio_2sem_1963.pdf
LIMA, MWS. Sobre os textos “Educação de adultos e educação
popular” de Vanilda Pereira Paiva e “Igreja e educação
popular” de Thomas C. Bruneau, s/d
cx04_MWSL_txt_analiseprojetoedificio.pdf
cx38_MWSL_PG_analisetxt_paulofreire.pdf
LIMA, MWS. Relatório da disciplina Teoria da Arquitetura II
LIMA, MWS. Análise de projeto de edificações. Tema para o Simpósio
de engenharia Civil da UFSCAR, ca.1987
LIMA, MWS. Sobre os textos “Educação como prática da liberdade” e “Pedagogia do oprimido” de Paulo Freire, s/d
cx06_MWSL_ms_projeto.jpg
cx38_MWSL_PG_FE_historicoescolar.pdf
cx09_MWSL_ms_palestrafauusp_1993.pdf
histórico escolar do programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade de S Paulo, ca.1988
LIMA, MWS. Manuscrito de itens e temas a tratar em palestra
dada na FAUUSP, ca.1993
cx38_MWSL_PG_programa_sociologiaeduc_1984.pdf
cx11_rinolevi_txt_ensinoarqtt.pdf
cx03_FE_qualificacao_celso.pdf
calendário do primeiro semestre e programação da disciplina
de Sociologia da Educação, ca.1984
comentário de Celso Beisiegel sobre o texto da qualificação
cx38_MWSL_PG_trabalho_prof.josealvaromoises.pdf
LEVI, Rino. “O ensino da arquitetura”. Conferência realizada
na Universdade Mackenzie a convite do grêmio da
Faculdade de Arquitetura. S Paulo, 1956
ssl_cx59_unb_mwsl_justificativa_mestrado.pdf
LIMA, MWS. “Justificação” – projeto de mestrado,Brasília,
1962. Acervo SSL, caixa 59
01.2_1984-88_doutorado_FEUSP
cx06_FFLCH_programa_disciplina_guilhon.jpg
FFLCH. Programa da disciplina “Estado e classes sociais no
Brasil Contemporâneo”, curso de pós-graduação em ciências políticas, prof. José Augusto Guilhon de Albuquerque
cx11_mariliasposito_txt_participacaopopular.pdf
SPOSITO, Marilia Pontes. “Redefinindo a participação popular
na escola”, in Cadernos do CEDI, n.19. S Paulo, CEDI, 1989
LIMA, MWS. Manuscrito sobre a complexidade do projeto
LIMA, MWS. A transição política: condição de possibilidade ou bloqueio à
democratização. Disciplina prof. José Álvaro Moisés. 1988
cx21_UNB_resumoaula_1963.pdf
cx38_MWSL_PG_trabalho_profaMVitoriaBenevides_1987.pdf
cx32_mwsl_txt_30reuniaosbpc_ideologiadaarqtt.pdf
LIMA, MWS. Participação e democracia educacional: o discurso e os limites
da prática no planejamento e execução das construções escolares. Tema
de trabalho de doutorado. FEUSP, 1987
LIMA, MWS. Ideologia e produção de arquitetura brasileira. A formação do
arquiteto, ensino de arquitetura e mercado de trabalho. Simpósio SBPC
da 30a Reunião Anual. S Paulo, 1978
resumo de aula sobre “Teoria da arquitetura”
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
219
cx34_txts_mwsl_arq_ciduniversitaria.pdf
LIMA, MWS. Manuscrito de tópicos para palestra no Simpósio
de Engenharia Civil na UFSCAR, ca.1987
cx46_MWSL_ms_simposio_13111987.pdf
LIMA, MWS. O profissional arquiteto e a organização de espaço nas cidades
universitárias.
uma reflexão necessária” para o departamento de projeto
da EESC. São Carlos, 1989
cx43_joakopke_folhasatividades.pdf
folhas de atividades para os alunos da eepg joão kopke (orig.)
cx41_txt_MWSL_producaoequipamentocoletivos.pdf
cx43_joakopke_jornal alunos.pdf
LIMA, MWS. Texto base da palestra sobre o tema “Produção
de equipamentos coletivos” da EESC. São Carlos, 1989
jornal dos alunos do João Kopke “Novo J.K.” Ano I
cx43_joakopke_lista alunos.pdf
lista dos alunos da EEPG João Kopke
MWSL_cx21_quadro_deptoprojeto_01.jpg
02.3_São José dos Campos [FAUSJC, 1972-74]
cx43_joakopke_MWSL_ms_levantamento.pdf
anotações no quadro do departamento de projeto da FAU
cx01_FAUSJ_introdarqtt_programacurso.pdf
LIMA, MWS. Manuscrito de levantamento de ambientes sobre
a escola João Kopke, ca.1978
MWSL_ms_tecnologiaformacaoarqt.pdf
LIMA, MWS. Manuscrito sobre o conhecimento da ciência e
da tecnologia do arquiteto
LIMA, MWS. Programação para a discplina “Introdução à
arquitetura”
FAUSJ_MWSL_txt_estruturacao_1972.pdf
cx44_sbpc_32reuniao_txt_mwsl_estudoespacoescolar_joaokopke.pdf
“Anotações para discussão” – Representação do Departamento
de Tecnologia à Comissão de Estruturação da FAUSJC
LIMA, MWS. Manuscrito da 32a reunião sobre o estudo do
espaço escolar
cx04_txt_reformauniversitaria.pdf
cx46_joakopke_projeto.pdf
Relatório do grupo de trabalho transcrito do relatório do
M.E.C. para a FAUSJC
LIMA, MWS. Manuscrito sobre a “Integração clientela da EEPG
João Kopke no problema de construção do prédio novo”
cx07_FAUSJ_encontro_faus_1972.pdf
pasta entrevistas_desenhos_alunos
ementa da disciplina de projeto Projeto V SAP 335, 1989
documento final conclusivo do Primeiro Encontro Regional de
Escolas de Arquitetura - Região Sul - São José dos Campos
relatórios de visitas, fotos daas residêcias e desenhos dos
alunos da EEPG João Kopke
cx01_USPSC_SAP335_programa_1987.pdf
cx12_IXcongressobrasileirodearq.pdf
propostas para o curso de Projeto V SAP 335, 1987
FAUSJC. Prática - Investigação: um processo de trabalho de São José dos
Campos. IX Congresso Brasileiro de Arquitetos. São José dos
Campos, 1976
ssl_cx52_txt_mwsl_30sbpc_1978_ideologiaarqtt
LIMA, MWS. “A formação do arquiteto, ensino de arquitetura
e mercado de trabalho”, texto 30ª Reunião anual SBPC,
S Paulo, 1978
02.2_São Carlos [EESC-USP, 1987-1993]
cx01_USPSC_SAP335_programa.pdf
cx01_USPSC_SAP335_programa_1989.pdf
programa do curso de Projeto V SAP 335,1987
cx01_USPSC_SAP617_anotações_1993.pdf
LIMA, MWS. Manuscrito com anotações e programação da
discplina Projeto III SAP 617 , 1993
03_projetos
LIMA, MWS. Anotações para a elaboração de um possível
programa de pesquisa no departamento de arquitetura e
planejamento - EESC/USP.
03.1_1976-8_joaokopke
cx06_USPSC_SAP376_programa_1990.pdf
cx43_conesp_joaokopke_decretos_GESP.pdf
cx38_FAUSC_projetoVI_programa_1990.pdf
LIMA, MWS. Exercício “espaço para habitação provisório de
crianças alienígenas” para disciplina Projeto VI,1990
cx40_EESC_projetoV_edifpublico_programa.pdf
LIMA, MWS. Aula sobre edifício público e programação para a
discplina “Projeto V”, 1987
cx40_txt_MWSL_producaoequipamentoscoletivos.pdf
LIMA, MWS. texto “Produção de equipamentos coletivos:
220
CÁSSIA SCHROEDER BUITONI
cx20_relat_tereza_pedreirareago.pdf
HERLING, Tereza Beatriz Ribeiro. Relatório apresentado à
ATPGE Secretaria de Estado da Educação sobre a “EEPG
Pedreira Reago: o espaço escolar e seu funcionamento
cotidiano”. S Paulo, ca.1985
cx20_relat_tereza_varginha.pdf
cx03_USPSC_MWSL_programapesquisa.pdf
programa da discplina “Tecnologia I - SAP 376”, 1990
03.2_1983-83_varginha_jdfortaleza
cx40_relatorio_joaokopke.pdf
relatório “Estudo do espaço escolar: pré teste EEPG João Kopke”
decretos processo CONESP EEPG João Kopke
cx43_conesp_joaokopke_levantamento_ms.pdf
LIMA, MWS. manuscrito de levantamento de ambientes da
EEPG João Kopke
cx43_conesp_joaokopke_programa.pdf
LIMA, MWS. Programa arquitetônico da Superintendência de
Planejamento CONESP, ca.1978
cx43_conesp_joaokopke_relatorio_2afase.pdf
Relatório da CONESP da 2a fase da experiência na João Kopke
HERLING, Tereza Beatriz Ribeiro. Relatório apresentado à
ATPCE Secretaria de Estado da Educação sobre a “EEPG
da Varginha: o espaço escolar e seu funcionamento
cotidiano”. S Paulo, ca.1985
cx20_relat_varginha.pdf
LIMA, MWS. Relatório sobre a EEPG Pedreira Raego e a EEPG
Varginha
cx22_relatoriopesq_terezaherling.pdf
HERLING, Tereza Beatriz Ribeiro. Relatório de pesquisa
“Estudo da apropriação do espaço escolar pelos seus
usuários”. S Paulo, ca.1985
cx24_txt_mwsl_roteiroavaliacaoconstresc.pdf
roteiro de avaliação dos processos de construção escolar com
a participação da população
cx35_conesp_varginha.pdf
03.3_1989_1992_EDIF/CEDEC/EMURB
cx28_mwsl_txt_cedec_spaulo.pdf
relatório CONESP de avaliação sobre a execução da EEPG
bairro da Varginha. S Paulo, 1984
clipping_cx15_jornalpaulista_230590_01.jpg
CEDEC. Texto “Escolas - Manual do Usuário”
“Uma solução japonesa para o lixo de S Paulo”. Jornal Paulista,
S Paulo, 23/05/1990, capa
cx35_cedec_escolas_manual_usuario.pdf
relatório CONESP sobre a experiência de autoconstrução do
Jardim Fortaleza. S Paulo, 1986
cx06_emurb_atareuniao_030590.pdf
cx35_CEDEC_folder_arvores.pdf
EMURB. Ata da reunião sobre “projeto Santa Tereza/FO”
CEDEC/EMURB. Folder sobre os cuidados com árvores
cx35_jdfortaleza_txt2.pdf
cx09_MWSL_croquis_creche.pdf
cx35_CEDEC_folder_corrego.pdf
relatório CONESP sobre a experiência de autoconstrução do
Jardim Fortaleza. S Paulo, 1986
LIMA, MWS. Croquis para creche
CEDEC/EMURB. Folder córrego Rubilene
cx39_conesp_jdfortaleza_relacaoslides.pdf
cx12_MWSL_publicacao_espacaocrianca.pdf
cx35_CEDEC_folder_eivoce.pdf
LIMA, MWS. Publicação para Espaço Criança, EMURB, PMSP,1990
CEDEC/EMURB. Folder “Ei Você”
cx12_MWSL_publicacao_revistaconstrucao.pdf
cx35_CEDEC_folder_emei_curuca.pdf
CEDEC/EMURB. Folder EMEI Curuça
LIMA, MWS. Relatórios manuscritos da CONESP
LIMA, MWS. “A contribuição do CEDEC/EMURB à cidade”.
Revista Construção
cx39_conesp_varginha_relacaoslides.pdf
cx15_emurb_carta-hospitaldia.pdf
CEDEC/EMURB. Folder EMEI Jardim Robru
Manuscrito com a relação de slides do Jardim Varginha
LIMA, MWS. Carta à secretaria municipal de higiene e saúde.
cx40_conesp_roteiro_avaliacao_participacao.pdf
cx35_CEDEC_folder_emei_jdsinha.pdf
cx16_MWSL_carta_cursoconstr_jovens_1992.pdf
CEDEC/EMURB. Folder EMEI Jardim Sinhá
roteiro da CONESP de avaliação de processos de construção
escolar com a participação da população.
LIMA, MWS. Carta ao Curso de Edificação para Jovens,1992
cx35_CEDEC_folder_emei_parelheiros.pdf
cx40_jdfortaleza_relatorio_conesp_1984.pdf
cx16_MWSL_cursoconstr_jovens_1992.pdf
CEDEC/EMURB. Folder EMPG Nova Parelheiros
relatório CONESP sobre o Jd. Fortaleza/Guarulhos, ca.1984
LIMA, MWS. Manuscrito com observações e sugestões para o
Curso de Edificação para Jovens, 1992
cx35_CEDEC_folder_empg_jdrobru.pdf
cx40_reuniao_autoconstrucao_varignha_divineia_fortaleza.pdf
cx21_CEDEC_folder_spmelhor.pdf
relatório de reunião “reunião sobre 3 experiências de
autoconstrução: Varginha, Divinéia e Fortaleza”
cx35_CEDEC_folder_estranhos_seres.pdf
CEDEC/EMURB. Folder “S Paulo melhor: a contribuição do Cedec”
CEDEC/EMURB. Folder Estranhos Seres
cx40_varginha_estoria.pdf
cx23_24_folder_PMSP_educacao.jpg
cx35_CEDEC_folder_inaugura_escola.pdf
PMSP. Folder “Construindo a Educação Pública Popular”
CEDEC/EMURB. Folder Inauguração escola “Entre: a casa é sua!”
cx23_24_PMSP_folder_acasacai.pdf
cx35_CEDEC_folder_naofiquefora.pdf
PMSP. Folder “Se você não cuida a casa cai...”
CEDEC/EMURB. Folder “não fique de fora”
cx23_24_PMSP_folder_encontrojovens_vm.pdf
cx35_cuadernodesarollolocal_gestaoerundina.pdf
folha “proposta de programação de atividades” de Varginha
PMSP, SURBES/VM. Folder “Da cidade que temos à cidade que
queremos”
texto “Erundina a la Alcadia”, Cuaderno de Desarollo Local
cx40_varginha_roteiroentrevista_adultos.pdf
cx24_edif_contrucaoequipamentososciais_txt.pdf
roteiro de entrevista com os adultos para “experiência de
auto-construção em Varginha”
EDIF. Texto “Reconstruindo a escola”
EDIF. Proposta do Orçamento Programa para 1989 Planejamento/Metas e campo de atuação da unidade
cx35_MWSL_ms_alfabetizacao.pdf
cx40_varginha_txt_solucoesalternativasredefisica.pdf
cx24_edif_folder_acasacai
folha “soluções alternativas para a rede física - auto-construção no bairro de Varginha”
EDIF. Folder “A casa cai”, sobre manutenção de escolas
cx42_CEDEC_componentes_equipamentosurbanos.pdf
cx52_conesp_processos_autoconstrucao.pdf
cx26_prop_SMC_PMSP_erundina.pdf
CEDEC/EMURB. Componentes e montagem do sistema construtivo dos
equipamentos urbanos. Caderno CEDEC/EMURB. S Paulo
SMC, PMSP. “Proposta da SMC para o PLano de Governo
durante o Biênio 1991-1992”
cx46_PMSP_folder_encontrojovens_1992.pdf
cx28_cedec_relatorioatividade_1991.pdf
cx50_cedec_catalogopecas.pdf
cx35_jdfortaleza_txt1.pdf
Manuscrito com a relação de slides do Jardim Fortaleza
cx39_conesp_relatorio_ms1.pdf (até ms4)
texto “Estória da escola de Varginha”
cx40_varginha_mapa.pdf
mapa localização de Varginha
cx40_varginha_proposta_atividades.pdf
relatório da CONESP de resolução de diretoria sobre a celebração de convênio com entidades Comunitárias, ca.1983
cx52_shoppingnews_03061984_varginha_01.jpg
CEDEC/EMURB. Relatório de atividades, ca.1991
“Varginha não tinha nada. Mas os moradores se organizaram
e...”, in: Shopping News - City News, S Paulo, 03/06/1984, p.2
cx28_mwsl_cedec_colegiostarita.pdf
MWSL_cx9_croquis_jdfortaleza.jpg
cx28_mwsl_txt_cedec.pdf
LIMA, MWS. Croquis do Jardim Fortaleza
LIMA, MWS. Pauta da reunião no Colégio Santa Rita,1990
LIMA, MWS. “S Paulo: velhos problemas, novas soluções”
cx35_CEDEC_folder_emei_jdrobru.pdf
CEDEC/EMURB. Folder EMPG Jardim Robru
cx35_edif_reconstruindoescola.pdf
LIMA, MWS. Manuscrito sobre alfabetização
PMSP. Folder Encontro dos Jovens
CEDEC/EMURB. Catálogo de peças
cx51_CEDEC_caderno1.pdf
CEDEC/EMURB. Apresentação, Objetivos,Tecnologia. Caderno CEDEC
vol.1. S Paulo,1991
CEDEC/EMURB. Texto “Equipamentos urbanos e comunitários”
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
221
cx51_CEDEC_caderno2.pdf
cx45_SEBES_equipsocial_projeto_padroesequipamentos.pdf
CEDEC/EMURB. Canalização de córregos. Caderno CEDEC vol.2.
S Paulo,1991
SEBES. Manuscrito do projeto “Padrões de equipamentos
sociais”. S Paulo,1974
cx8_mwsl_cedec_artigorevconstrucao.pdf
cx45_SEBES_equipsocial_protocolo_pedropaulo.pdf
04.3_1977_planej rede sjosecampos
LIMA, MWS. Artigo para Revista Construção.
Protocolo de Pedro Paulo de Melo Saraiva à SEBES. S Paulo, 1974
EMURB_txt_apresenta_cedec.pdf
cx46_SEBES_padraoequipamentos.pdf
cx21_MWSL_estudo_saojose_atendimentoescolar.pdf
CEDEC/EMURB. Texto de apresentação do CEDEC/EMURB.
SEBES. Manuscrito do projeto “Padrões de equipamentos
sociais”. S Paulo,1974
PMSP_folder_2anosgoverno_1991.pdf
PMSP. Folder “2 anos de governo”
construções escolares de pré-escolar e 1° grau. Caderno do Estado de
S Paulo. S Paulo, CONESP, 1976
LIMA, MWS. Manuscrito de estudo atendimento escolar da
população de São José dos Campos. S Paulo, 1977
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06.5. catalogação de documentos e comprovantes de
currículo Da pasta 15
cx38_diederich_27maneirasfugirproblemaeducac.pdf
FPA_MWSL_pasta 15.xls
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PREMEN. documento n°11 do encontro nacional de instalações escolares, ca.1973
DIEDERICH, Paulo B. 27 maneiras de fugir dos problemas da educação
texto “A escola: ruim com ela, pior sem ela”
07_referencias
folhetim_emiliaviotti.pdf
[Alguns textos de interesse que estavam nas caixas em meio
aos projetos e anotações de Mayumi foram digitalizados. Com
esse material tem-se uma pequena idéia do referencial teórico
da arquiteta]
txt_caminhosalternateducpublica.pdf
07.1_textos do acervo
cx01_USPSC_txt_castells_spaceandsociety.pdf
“The new historical relationship between space and society”,
in: A cross-cultural theory of urban social change
cx04_txt_joaohojkine_urbanista.pdf
LOJKINE, Jean. “Contribuição para uma teoria da urbanização
capitalista”. Cahiers Internationaux de Sociologie, vol.LII, 1972,
págs. 123-146
cx06_txt_jamespetras.pdf
PETRAS, James. As transformações mundiais: crise e desafio para a
esquerda. New York, 1992
cx07_txt_flaviovillaca_terraurbana.pdf
VILLAÇA, Flávio. A questão da terra urbana. Manuscrito.
cx10_ref_txt_philosophyofplay.pdf
SCHILLER, Friedrich. “The philosophy of play”, s/d
COSTA, Emilia Viotti. “Liberalismo brasileiro, uma ideologia
de tantas caras”. Folhetim, n. 423. S Paulo, 24/02/1985,
págs. 6-9
“Caminhos e alternativas para a valorização da escola
pública”. S Paulo, 1991
07.2_catalogação de livros do acervo
MWSL_livros acervo.doc [catalogação de todos os livros
encontrados no acervo MWSL na Fundação]
ACERVOS PESSOAIS
Incorporamos ao DVD os acervos de duas colaboradoras
de Mayumi: a pedagoga Marta Grosbaum e a arquiteta
Odete Tomchinsky. Estes acervos contém documentos
originais do período do Cedec, dentre os quais destacam-se
anotações pessoais, o jornal mural produzido por Mayumi
e Marta para os operários da fábrica, os folders das escolas
e os cadernos de números 3 e 4 do Cedec, sobre escolas e
equipamentos coletivos.
cx19_revistaande_txt_beisiegel_ensinocomum.pdf
BEISIEGEL, Celso de Rui. Relações entre a quantidade e a qualidade no
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PARA A EDUCAÇÃO
225
Livros Grátis
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Mayumi Watanabe Souza Lima: a construção do espaço da educação