REBECA DE SOUZA LEÃO ALBUQUERQUE PROCESSO LEGISLATIVO E TOMADA DE DECISÕES: A ELITE PARLAMENTAR DA CÂMARA DOS DEPUTADOS (1998-2008) Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação do Cefor como parte das exigências do curso de Especialização em Processo Legislativo Brasília 2009 1 1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título: Processo Legislativo e Tomada de Decisões: a Elite Parlamentar da Câmara dos Deputados (1998-2008). Autor: Rebeca de Souza Leão Albuquerque Instituição: Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados. Data: 12 de abril de 2009. Orientador: Resumo: A elite do poder é composta de homens cuja posição os diferencia dos demais homens comuns, principalmente quanto à capacidade de influenciar grandes decisões. À luz da teoria das elites, que considera os cargos institucionais fundamentais para o político exercer o poder, o objetivo do projeto é descobrir a importância dos cargos de líderes e vice-líderes partidários, presidentes e vice-presidentes de Comissões e membros da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, para o parlamentar fazer parte da elite do Congresso Nacional. O problema do projeto é entender quais são as características que os deputados apresentam para se configurarem como elite. O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP- lançou em 2008 a sua 15a. edição de “Os Cabeças do Congresso”, uma publicação que se tornou referência entre os parlamentares, estudiosos e autoridades do Poder Executivo. A pesquisa utilizará como fonte primária os elementos trazidos pelas publicações do DIAP dos anos de 1998 a 2008 e pretende acrescentar conhecimentos referentes às estruturas de poder do Congresso Nacional ao sistematizar os dados coletados desse período de dez anos, apresentado um cenário analítico para a Câmara dos Deputados. 2. APRESENTAÇÃO Este projeto é fruto do interesse em compreender o processo legislativo sob uma ótica ampliada. Descobrir o que está por trás dos procedimentos legislativos. A boa compreensão dos conceitos envolvidos é o caminho que leva ao bom entendimento de qualquer área do saber. Neste estudo, não é diferente, sendo mister compreender acuradamente o processo legislativo. Torna-se, portanto, imprescindível conceber a distinção entre “procedimento legislativo” e “processo legislativo” que na linguagem comum “designam igualmente e de forma genérica as vicissitudes da produção das leis” (OLIVETTI, 2004). O procedimento legislativo, por vezes chamado rito, é, de maneira objetiva, o modo de se realizar a elaboração das normas e “diz respeito ao andamento da matéria nas Casas Legislativas […, sendo] na prática [o que] se chama ‘tramitação do projeto’”. (SILVA, 2008). Já o processo legislativo, sob a ótica sociológica, pode ser interpretado como o conjunto de fatores reais que impulsionam os legisladores. O Processo legislativo é a técnica a serviço de concepções políticas (Horta, 2003), ou seja, é mais amplo do que apenas as regras procedimentais, sendo composto de inúmeros fatores políticos que o fazem existir e ser legitimado pela sociedade. A motivação para a elaboração desse projeto de pesquisa surgiu pela minha vivência profissional na Câmara dos Deputados nos últimos três anos como bacharel em Ciência Política. A curiosidade em estudar quem mais influencia as decisões da Câmara 2 dos Deputados foi impulsionada pela leitura das publicações anuais do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) - “Os Cabeças do Congresso Nacional” - e pelo estudo das Teorias das Elites e da formação política do Brasil. Pretende-se portanto, fazer uma análise que seja de importância para quem se interessa pelo estudo da política brasileira, em especial do Poder Legislativo, a fim de trazer mais luz ao debate sobre quem são os parlamentares mais influentes do Congresso Nacional e como eles influenciam as principais decisões do processo legislativo. 3. PROBLEMA Em que medida os cargos de líderes e vice-líderes partidários, presidentes e vicepresidentes de Comissões e membros da Mesa Diretora são de relevância para o processo legislativo e de tomada de decisões na Câmara dos Deputados? Quais são os meios de legitimação política dos principais influenciadores das decisões do Parlamento? O que fazem deles influentes? Qual é a real força que os cargos da Mesa Diretora dão aos parlamentares? E os de lideranças partidárias? E as presidências de Comissões? Há poder sem a barganha desses cargos institucionais? Quais as características dos parlamentares influentes que não são investidos nesses cargos: saber especializado, carisma, confiança dos pares? Para tentar responder essas perguntas, a pesquisa terá como base a seleção anual dos parlamentares mais influentes do Congresso Nacional feita pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), trabalho que se tornou referência entre os parlamentares, autoridades do Poder Executivo, dirigentes partidários, sindicais e empresariais, estudiosos e demais interessados no processo decisório do Poder Legislativo. O DIAP identifica, desde a eleição, quem são os parlamentares eleitos, quais são seus redutos eleitorais, quem os financia, e elabora um perfil político. Identificam o que pensam os parlamentares sobre os principais temas que serão objetos de debate e deliberação durante a legislatura e mapeam os principais atores do processo legislativo, identificando os cem parlamentares mais influentes do Congresso. A metodologia para a identificação considera as habilidades para elaborar, interpretar, debater ou dominar regras do processo decisório, bem como manipular recursos de poder, de tal modo que suas preferências prevaleçam no conflito político. As publicações partem da premissa de que a disputa política é assimétrica, sendo alguns atores mais poderosos que outros. De acordo com as publicações do DIAP, no Parlamento, assim como na sociedade, há os que lideram – geralmente em menor número – e os liderados, em maior número. Essa concepção perfeitamente se adéqua às teorias políticas dos autores Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto, Robert Michels e Wright Mills, os “teóricos das elites”. O DIAP constatou ao longo de suas publicações que as posições ocupadas, como as presidências das Casas Legislativas, das Comissões, lideranças e vice-lideranças partidárias, relatorias de importantes matérias, e a reputação entre os pares são fundamentais para o ingresso no grupo da elite. No entanto, ainda segundo o DIAP, ocupar essas posições não basta para ser classificado como “Cabeça”. O parlamentar deve ter habilidades que comprovadamente influencie o processo legislativo, seja na bancada de seu partido, nas votações das Comissões, no Plenário ou nas decisões de bastidores. O trabalho do DIAP analisa quantitativa e qualitativamente a atuação dos parlamentares cujas preferências afetam a disposição de agir de outros e assim influenciam as decisões no processo legislativo. 3 4. OBJETIVOS O objetivo do projeto é analisar qual a importância dos cargos institucionais da Câmara dos Deputados para os processos decisórios do Poder Legislativo brasileiro. Ao sistematizar as informações das publicações “Os Cabeças do Congresso”, de 1998 a 2008, à luz da Teoria das Elites, a pesquisa deverá responder a pergunta de quais são os principais fatores que levam os deputados a se tornarem “elite” no Congresso Nacional, para poder então conferir qual é a importância dos cargos institucionais da Câmara para as importantes disputas do processo legislativo. Os objetivos específicos são: - descobrir quais são os principais fatores que levam os parlamentares a influenciar as decisões do processo legislativo; - descobrir qual a importância dos cargos institucionais da Câmara dos Deputados nos processos decisórios; - identificar o índice de renovação dos “cabeças” ao longo das publicações da década de 1998 a 2008; - identificar o índice de reincidência dos “cabeças” ao longo das publicações da década de 1998 a 2008; - relacionar os dados do DIAP com a teoria das elites. 5. JUSTIFICATIVA Muito se estuda sobre o Congresso Nacional brasileiro. Existem estudos sobre a evolução democrática da representação parlamentar, sobre os perfis dos parlamentares, sobre as regras do processo legislativo e sobre os processos decisórios. O DIAP coleta dados sobre os parlamentares mais influentes e edita publicações anuais com uma análise panorâmica do perfil do Congresso em cada sessão legislativa. Mas este projeto pretende acrescentar conhecimentos referentes às estruturas de poder do Congresso Nacional ao relacionar os dados empíricos com as teorias das elites e com as teorias democráticas de enfoques institucionais. Além disso, a pesquisa irá sistematizar os dados coletados ao longo de dez anos pelo DIAP e apresentará um cenário analítico para a Câmara dos Deputados. O projeto pretende ser útil para quem se interessa pela política brasileira. Trata-se de pretender contribuir com a academia e também com aqueles que trabalham e estudam o processo legislativo no Brasil. 6. REVISÃO DA LITERATURA Os principais conceitos a serem utilizados nesta pesquisa são os da teoria das elites e os conceitos de instituições democráticas. Os teóricos das elites refutam qualquer possibilidade de democracia como governo do povo, sendo os ideais democráticos elementos fundamentais para a legitimação de novas minorias. Autores das novas democracias enfocam as instituições poliárquicas como fundamentais para a consolidação da democracia. Enfatizam, sem ignorar os avanços das renovações no poder, as instituições e as regras do jogo como fundamentais para o fortalecimento das próprias instituições democráticas. 4 Gaetano Mosca estudou teoria segundo a qual, em todas as sociedades, das mais primitivas às mais desenvolvidas, existem duas classes de pessoas: a dos governantes e a dos governados. “O que Aristóteles chamava de democracia era simplesmente uma aristocracia com maior participação. O próprio Aristóteles pôde observar que em todo Estado grego, quer aristocrático, quer democrático, existia sempre uma pessoa, ou mais de uma, que possuía influência preponderante”. (MOSCA, 1966, p. 51). Observou em toda elite a existência de duas tendências opostas, a aristocrática, que bloqueia o acesso de baixo, e a democrática, que permite o acesso, sendo que a longo do prazo há prevalência da democrática, havendo modificação na elite. Na avaliação do autor, a tendência democrática é essencial para o progresso das sociedades pois previne a classe dirigente da exaustão. Mosca salientou a organização como fator fundamental para o exercício do poder: “O domínio de uma minoria organizada [...] sobre a maioria desorganizada, é inevitável na realidade. O poder de qualquer minoria é irresistível ao se dirigir contra cada um dos membros da maioria tomado isoladamente, o qual se vê sozinho face à totalidade da minoria organizada. Ao mesmo tempo, a minoria é organizada exatamente por ser uma minoria [...]. Segue-se daí que quanto maior a comunidade política, tanto menor será a proporção da minoria governante em relação à maioria governada, e tanto mais difícil será para a maioria organizar-se em relação à minoria”. (MOSCA, 1966, p. 54). Além disso, a minoria também se destaca por possuir algum tributo, alguma qualidade altamente valorizada em termos sociais. Ainda que, dos pais fundadores, tenha sido Mosca o primeiro a ter suas análises publicadas, é a Pareto que se atribui a afirmação sociológica do termo “elite”. (Grynszpan, 1996, p. 36). Para Pareto, no livro Tratado de Sociologia Geral, cuja primeira edição é de 1916, há em todas as áreas de ação humana indivíduos que se destacam dos demais por seus dons, por suas qualidades superiores. Eles compõem uma minoria distinta do restante da população, configurando uma elite. Para Pareto, os homens são desiguais em todo campo de atividade e se dispõem em vários níveis. Os que ocupam o nível superior são a elite. As elites formam as aristocracias que, por sua vez, circulam no poder. “As aristocracias não duram. Quaisquer que sejam as ocasiões é incontestável que depois de certo tempo desaparecem. A história é um cemitério de aristocracias [...]. Não é somente em número que certas aristocracias decaem, mas também em qualidade, no sentido de que nelas diminui a energia e se modificam as proporções dos resíduos que lhes foram úteis para apoderarse do poder e conservá-lo [...]. A classe governante se restaura não só em número [...] mas em qualidade pelas famílias que vêm das classes inferiores [...].” (PARETO, 1984, p. 81). As diversas classes de elite se intercambiam e atingem um equilíbrio, sendo essas classes políticas, econômicas e intelectuais. É a circulação das elites que assegura o equilíbrio e a longevidade do corpo social. Segundo Pareto, quando a circulação cessa, ou se torna muito lenta, observa-se uma degeneração da elite: ela passa a concentrar elementos de qualidade inferior, ao mesmo tempo que, abaixo dela, acumulam-se indivíduos de traço superior. “Agrade ou não a certos teóricos, é fato que a sociedade humana não é homogênea, que os homens são diferentes física, moral, intelectualmente; [...] as classes sociais não estão inteiramente separadas, mesmo nos países onde existem castas, e que as nações civilizadas modernas promovem intensa circulação entre as várias classes. [...] Além disso, considera-se como se entrelaçam os vários grupos da população. Quem passa de um grupo para outro, leva para lá geralmente certas inclinações, certos sentimentos, certas atitudes que adquiriu no grupo de onde veio, e é preciso levar em conta esta circunstância”. (PARETO, 1984, p. 75-78). Michels também elegeu a democracia como seu principal objeto de preocupação em Sociologia dos partidos políticos , livro cuja primeira edição data de 1911. Assim como Mosca, deu à “organização” relevância teórica. “[...] a organização é a fonte de 5 onde nasce a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os que delegam. Quem diz organização, diz oligarquia”. (MICHELS, 1982, p. 238). Intitulado pai da “Lei de ferro da oligarquia”, sua questão inicial ao estudar as grandes agremiações de esquerda européias era a de como a democracia podia ser exercida no interior dos partidos políticos, visto que neles se operava concentração de poderes, cristalização de líderes, uma oligarquização. O ideal participativo da democracia havia se tornado inviável diante da complexificação das sociedades. Michels justificou sua avaliação a partir do que chamou de patologia das massas que, ao anular as individualidades, tornavam-se facilmente influenciáveis por oradores competentes e incapazes de, por si mesmas, tomarem decisões importantes, sendo necessário a existência de chefes, de líderes a quem delegar tais funções. (GRYNSZPAN, 1966, p. 38). A representação dos interesses, para Michels, por meio das organizações partidárias, geram representantes que passam a permanecer em seus cargos por longuíssimos períodos, fugindo do controle da massa, que passa a ser direcionada não mais para os seus interesses, mas para os dos representantes, que deixam de servir o povo para se tornarem “seus patrões”. “Uma vez eleitos, os delegados passavam a permanecer em seus cargos por longuíssimos períodos, o que viviam mesmo como um verdadeiro direito moral conquistado. Percebendo suas posições como um direito, os chefes tendiam, por extensão, a interceder em sua sucessão, reservando-as a seus herdeiros. Nesse sentido, o que se notava era a prevalência de práticas como a do nepotismo, do favorecimento e da cooptação, e não a do mérito, da concorrência, da eleição”. (MICHELS, 1982, p. 66-67). Há questões e problemáticas que são comuns aos três autores e bastante características do contexto social, político e intelectual da virada do século XIX, quando no mundo se desagregava uma antiga ordem, em que se rompiam os laços tradicionais de dominação e emergiam regimes democráticos, de ampliação da participação política e de surgimento de nova forma de legitimação política: o voto. Norberto Bobbio chegou a afirmar que foi nos Estados Unidos que a teoria das elites alcançou sua cidadania na Ciência Política (Bobbio, 1991, p. 387). A Elite do Poder foi o livro que mais diretamente ficou associado à imagem de Mills, impondo-o à tradição da teoria das elites. Essa elite, segundo Mills, postada no topo das principais hierarquias e instituições da sociedade americana, tomava por si mesma as grandes decisões. Seu poder, assim como sua celebridade e riqueza, resultava de sua posição à frente das hierarquias e instituições, ou, mais especificamente, do Estado, das empresas e das Forças Armadas. (MILLS, 1962, p. 13-14). Para Mills, o poder, entendido como a faculdade de tomar grandes decisões, para ser estudado implica na investigação dos processos de tomada de decisão e, da mesma forma, dos tomadores de decisão, as elites. A elite para Mills é composta pelos homens que transcendem o ambiente do homem comum e ocupam posições estratégicas na estrutura sociais, concentrando poder, riqueza e celebridade. Diferentes elites são ligadas por razões sociais, familiares e econômicas, tendendo a concentrar os instrumentos de poder. São constituídas pelos setores dominantes da economia, das forças armadas e da política. “Na cúpula de cada um desses três domínios ampliados e centralizados surgiram as altas rodas que constituem as elites econômica, política e militar. [...]. As altas rodas nesses postos de comando e em torno deles são freqüentemente consideradas em termos daquilo que seus membros possuem: têm uma parte maior que a dos outros nas coisas e experiência mais altamente valorizadas. Desse ponto de vista, a elite é simplesmente o grupo que tem o máximo que se pode ter, inclusive, de modo geral, dinheiro, poder e prestígio [...]. Mas a 6 elite não é simplesmente constituída dos que têm o máximo, pois não o poderiam ter se não fosse pela sua posição nas grandes instituições, que são as bases necessárias do poder, da riqueza, e do prestígio, e ao mesmo tempo constituem os meios principais do exercício do poder, de adquirir e conservar riqueza, e de desfrutar vantagens do prestígio”. (MILLS, 1975, p. 18). Para ter poder de fato, segundo Mills, é indispensável que se ocupe cargos nas instituições. Os altos políticos e autoridades do governo controlam o poder institucional, sendo que somente através das instituições o poder será mais ou menos contínuo e importante. Mills, portanto, acrescentou algo muito importante a teoria das elites, que foi a conceituação da importância das instituições para o exercício do poder, sendo a elite aquela que ocupa os postos de comando dentro de uma instituição. “Dentro de cada uma das ordens institucionais mais poderosas da sociedade moderna, há uma gradação de poder”. (MILLS, 1975, p. 28). Ao estudar o Congresso dos Estados Unidos, Mills afirma que “[...] os presidentes das principais comissões são a elite dos membros do Congresso. Em suas mãos estão os poderes-chaves de legislar como de investigar. [...]. O poder político ampliou-se e passou a ser mais decisivo, mas não o poder do político profissional no Congresso. A força considerável que continua nas mãos de alguns congressistas é hoje dividida com alguns outros atores políticos: há o controle da legislação, centralizado nos presidentes de comissões [...]” (Mills, 1975, p. 304-306). O autor traz ainda uma análise sobre o poder que os chefes dos departamentos administrativos do Congresso dos Estados Unidos vão ganhando ao longo do tempo, significando o fortalecimento da burocracia como centro de poder. Mas conclui no sentido de que se deve estudar a elite moderna de forma complexa e relativizada, pois são diversas as variáveis que a compõe. “Assim como não podemos basear a noção da elite do poder exclusivamente na mecânica institucional que levou à sua formação, também não podemos baseá-la apenas na origem e carreira dos que a compõem [...].” (MILLS, 1975, p. 332). É nessa perspectiva de estudar o que compõe a elite e como ela atua frente as mais importantes decisões políticas que a pesquisa se dará. Essas orientações teóricas servirão de ponto de partida para a pesquisa, que verificará o comportamento da elite parlamentar na Câmara dos Deputados. Parte-se da hipótese de que essa elite existe, identificada pelo DIAP como “cabeças do Congresso”. Esta pesquisa buscará identificar como se comportaram as elites durante os anos de 1998 a 2008 na Câmara dos Deputados, quais são os elementos que as compõe e o que as sustentam no poder. Não deixará de ser considerada e estudada a história e a peculiaridade da política brasileira. A conquista da democracia no Brasil e os avanços democráticos, a partir da Constituição de 1988. 7. METODOLOGIA Será uma pesquisa que utilizará como fonte primária os elementos trazidos pelas publicações do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), dos anos de 1998 a 2008. Primeiramente será feita uma revisão bibliográfica das teorias das elites de Mosca, Pareto, Michels, Mills e das interpretações democráticas de Dahl, Schumpeter, O'donnel. Além de revisitar outros autores, como Max Weber e Raymundo Faoro e contemporâneos da Ciência Política, como Lúcia Avelar, Marcelo Lacombe, David Fleisher, Fernando Sabóia. Será criada uma planilha no Excel que disponibilizará, por ano, os nomes dos 7 deputados constantes das publicações do DIAP. Nas colunas, serão criadas classificações como Mesa Diretora, Liderança, Vice-liderança, Presidência de Comissão e Presidência da cúpula partidária. As demais colunas serão compostas pelas classificações do próprio DIAP, que são: profissão, número de mandatos, número de vezes “Cabeça”, debatedor, articulador, formulador, formador de opinião, negociador. O objetivo é fazer uma tabulação que mostre, dentre os parlamentares de maior número de vezes “Cabeça”, quais são os principais elementos que os caracterizam e saber se há relação entre eles. Será feita uma pesquisa, na Secretaria-Geral da Mesa e na Biblioteca da Câmara dos Deputados, de dados oficiais que contenham a movimentação parlamentar no período estudado nos seguintes cargos da instituição: lideranças e vice-lideranças partidárias, presidência e vice-presidência de Comissões, cargos da Mesa Diretora, presidência de partidos políticos. Não serão considerados, para fim dessa pesquisa, os cargos ocupados fora da Câmara dos Deputados, como por exemplo, a presidência de sindicatos ou cargos no Poder Executivo. Como exceção será considerada as presidências nacionais dos partidos com representação no parlamento. Pretende-se ainda calcular as taxas percentuais de renovação e reincidência dos classificados “Cabeças” ao longo dos anos para saber se há renovação na Câmara dos Deputados ou se o poder está concentrado nas mãos de grupos restritos. 8. CRONOGRAMA Abril/09 Maio/09 Revisão Bibliográfica X X Plotagem de dados no Excel X Cruzamento dos dados: identificação dos elementos Junho/09 Julho/09 X X x X Cálculo das taxas de renovação x Redação do texto x Agosto/09 Setembro/09 X x x 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AVELAR, L. e CINTRA, A.Sistema político brasileiro: uma introdução. 2ª ed. São Paulo: Unesp, 2007. 494 p. Bobbio, Norberto. Teoria das Elites. IN: Matteucci, N. e PASQUINO, G. Dicionário de Política. 3ª ed. Brasília: UnB, 1991. DAHL, Robert. Poliarquia. São Paulo: Edusp, 1995. ____________Who Governs? Democracy and Power in na American City. New Haven: Yale University Press, 1964. OS “CABEÇAS” DO CONGRESSO. Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Brasília: DIAP. Volumes dos anos 1998 a 2008. FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 10ª ed. São 8 Paulo: Globo, 2000. FIGUEIREDO, A. Executivo e Legislativo na Nova Constitucional. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. GRYNSZPAN, M. 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