MESTRADO EM PROCESSOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E BIOLÓGICA INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE COIMBRA INSTITUTO POLITÉCNICO DE COIMBRA Monitorização do Sistema HACCP e Controlo Estatístico do Peso de Produtos da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre, Lda Autor Ana Cristina de Sousa Leite * Orientador Doutor Belmiro Duarte Instituto Superior de Engenharia de Coimbra Orientadora Engenheira Elisabete Costa Fábrica de Pastelaria S.Silvestre Coimbra, Dezembro 2011 * [email protected] Agradecimentos Gostaria de agradecer o apoio prestado por todos os elementos que de forma directa ou indirecta colaboraram na realização deste relatório de estágio, dando especial ênfase: Aos meus pais, namorado, avó e irmão pela confiança, coragem, carinho, compreensão, disponibilidade e paciência que tiveram comigo. Ao Doutor Belmiro Duarte pelo incentivo, confiança, orientação, motivação e oportunidade de realização deste trabalho. À Engenheira Elisabete Costa pela orientação, generosidade, confiança, motivação, amizade, disponibilidade demonstrada durante todo o período de estágio e ainda, pela oportunidade de realizar um trabalho útil para a empresa e a confiança na elaboração. Aos colaboradores de Fábrica de Pastelaria S.Silvestre e em especial ao chefe de produção Nuno Franscisco por todas as explicações, demonstrações, disponibilidade e ajuda incansável para a realização do trabalho. À Fábrica de Pastelaria S.Silvestre por me ter acolhido com tanto carinho e pelo fornecimento de toda informação necessária para a realização deste trabalho. Aos meus amigos que me deram alento para progredir, me ajudaram no esclarecimento de dúvidas e por me apoiaram em todas as circunstâncias. A regra de ouro da conduta é a tolerância mútua, porque nunca pensamos todos da mesma forma e sempre veremos só uma parte da verdade sob diferentes ângulos. Ghandi Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre RESUMO Resumo O plano curricular do Mestrado em Processos Químicos e Biológicos leccionado no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra integra um estágio de carácter profissionalizante. No âmbito desta unidade curricular o estágio foi efectuado no Departamento de Qualidade da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, no intervalo de tempo de 3 de Dezembro de 2010 a 26 de Julho de 2011. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre situada na Lousã, tem vindo a desenvolver a sua actividade industrial na produção de pão e produtos de pastelaria.. O principal objectivo deste estágio foi a monitorização do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo, aqui designado segundo a designação em inglês como Hazard Analysis and Critical Control Points – HACCP e requisitos da norma NP EN ISO 9001:2008 na sede da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Ao longo do estágio foram acompanhados os diversos processos e procedimentos produtivos de padaria e pastelaria, desde a concepção dos produtos até à sua distribuição, higienização de áreas e equipamentos e manutenção. Foram também acompanhados os modelos e critérios da qualidade da empresa tendo em conta as ferramentas e norma implementada. Como critério de qualidade pretendeu-se, ainda, averiguar se os produtos confeccionados na empresa se apresentam controlados a nível de peso, foi então necessário proceder a um estudo de controlo de pesos dos produtos cujo objectivo final seria a implementação de controlo estatístico do processo através de cartas de controlo de variáveis. Neste âmbito procedeu-se ainda uma estimativa de custos associados ao não controlo dos pesos dos produtos. Como conclusão, averiguou-se que existem melhorias a introduzir para maior e mais eficiente cumprimento dos critérios do sistema de gestão da qualidade. No estudo relativamente ao controlo estatístico dos pesos dos produtos constatou-se que alguns produtos denotam variabilidade significativa, acarretando custos relevantes para a empresa, nomeadamente custos associados à imagem comercial da empresa, no entanto o processo mantêm-se sob controlo. Palavras – chave: Segurança alimentar; Sistema de gestão de qualidade; HACCP; NP EN ISO 9001:2008; Controlo Estatístico do Processo; Cartas de controlo de variáveis para padrão desconhecido. Ana Cristina de Sousa Leite i Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ABSTRACT Abstract The syllabus of the Master in Chemical and Biological Processes taught at the Instituto Superior de Engenharia de Coimbra includes a vocational stage. The main work comprised in the stage was conducted at the Department of Quality of Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, between 3th December 2010 to 26th July 2011. Fábrica de Pastelaria S.Silvestre is a confectionery factory located in Lousã and has been developing its industrial activity in the production of bread, cakes, biscuits and cakes. The main goal of the stage was to contribute for monitoring the Hazard Analysis and Critical Control Points – HACCP, and the requirements of NP EN ISO 9001:2008 at the headquarters of the Confectionery Factory. Throughout the stage several processes were accompanied and procedures for bakery and pastry production, from product design to their distribution, cleaning of areas and equipment and equipment maintenance. The Quality Management system was also analysed and particulary the quality control function taking into account models and the company's quality account the standard tools and NP EN ISO 9001:2008 were implemented. As a quality requirement, was intended to determine whether the products manufactured at the company controlled at relatively to the weight. Based on the analysis it was necessary to carry out a study to reach the weight control of products based on the implementation of statistical process control, especially control charts for variables. In this context I also derived to an estimate of costs associated with failing to control the weights of the products. To summarise, it was found that there are improvements to be made larger and more efficient to meet the requirement of quality. In the statistical control of the weights of the products it was found that some products denote large variability in weight resulting in significant costs to the company, but does allow to keep them under control. Keywords: Food security, Quality Management System, HACCP, NP EN ISO 9001:2008, Statistical Process Control, Control charts for variables and unknown pattern. Ana Cristina de Sousa Leite ii Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ÍNDICE Índice de Conteúdos Capítulo 1 1 Introdução......................................................................................................................................................................... 1 1.1 Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ................................................................................ 2 1.1.1 Serviços/Clientes .................................................................................................. 3 1.1.2 Recursos ............................................................................................................... 3 1.1.3 Estrutura organizacional ....................................................................................... 3 1.1.4 Lay-out da unidade de produção .......................................................................... 4 1.1.5 A Qualidade na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre................................................. 8 Capítulo 2 2 Segurança Alimentar ..................................................................................................................................................... 10 2.1 Principais agentes prejudiciais à saúde ...................................................................... 11 2.1.1 Microrganismos toxicogénicos e patogénicos .................................................... 11 2.1.2 Nutrição deficiente ............................................................................................. 13 2.1.3 Contaminação ambiental .................................................................................... 13 2.1.4 Resíduos de pesticidas ........................................................................................ 13 2.1.5 Aditivos alimentares ........................................................................................... 13 2.2 Tipos de perigos associados à produção de alimentos ............................................... 14 2.2.1 2.3 Avaliação de perigos .......................................................................................... 15 Doenças transmitidas por alimentos .......................................................................... 18 2.3.1 Condições para a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos ................. 18 2.3.2 Classificação das doenças transmitidas por alimentos ....................................... 19 2.4 Legislação referente a Higiene e Segurança Alimentar ............................................. 20 2.5 Qualidade e Segurança Alimentar ............................................................................. 22 Capítulo 3 3 O Sistema de Gestão de Qualidade na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, Lda ............................................................ 24 3.1 Sistema de Gestão de Qualidade ................................................................................ 25 3.2 A Norma NP EN ISO 9001:2008 ............................................................................... 26 3.2.1 Manual de Qualidade da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre - NP EN ISO 9001:2008 .......................................................................................................................... 30 3.2.1.1 Sistema de Gestão da Qualidade (Requisito 4 de NP EN ISO 9001:2008). .. 30 3.2.1.2 Responsabilidade da Gestão (requisito 5 de NP EN ISO 9001:2008) ........... 36 3.2.1.3 Gestão de Recursos (requisito 6 de NP EN ISO 9001:2008) ......................... 37 Ana Cristina de Sousa Leite iii Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ÍNDICE 3.2.1.4 Realização do produto (requisito 7 de NP EN ISO 9001:2008) ..................... 38 3.2.1.5 Medição, Análise e Melhoria (requisito 8 de NP EN ISO 9001:2008)........... 40 3.2.2 3.3 Ligação entre SGQ e HACCP............................................................................. 42 Trabalho realizado no âmbito de melhoria de SGQ ................................................... 43 Capítulo 4 4 Hazard Analysis and Critical Control Points............................................................................................................... 46 4.1 Pré-Requisitos do plano de HACCP .......................................................................... 46 4.1.1 Requisitos gerais das instalações de fabrico ....................................................... 48 4.1.2 Requisitos gerais dos equipamentos e utensílios utilizados no fabrico .............. 48 4.1.3 Requisitos gerais das viaturas de transporte de mercadoria ............................... 48 4.1.4 Higiene das instalações, equipamentos, utensílios e viaturas de transporte ....... 49 4.1.5 Higiene e saúde do pessoal de produção ............................................................ 49 4.1.6 Controlo de pragas .............................................................................................. 50 4.1.7 Controlo de resíduos alimentares ....................................................................... 51 4.1.8 Controlo analítico – análises microbiológicas de matérias primas, água de abastecimento, superfícies de trabalho e produto final; ..................................................... 51 4.1.9 Manutenção preventiva dos equipamentos ......................................................... 51 4.1.10 Rastreabilidade dos géneros alimentícios ........................................................... 51 4.1.11 Qualificação dos fornecedores de matéria primas/ material de embalagem ...... 52 4.2 Plano de HACCP ....................................................................................................... 53 4.2.1 Princípios e Passos do Sistema de HACCP ........................................................ 53 4.2.2 Plano de HACCP da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre .................................... 54 4.2.3 Fluxogramas e etapas do processo da empresa .................................................. 55 4.2.4 Análise de perigos .............................................................................................. 60 4.2.5 Identificação dos pontos críticos de controlo (PCC) e Revisão dos perigos identificados ....................................................................................................................... 61 4.2.6 Estabelecimento de limites críticos de controlo para cada PCC ........................ 64 4.2.7 Estabelecimento de sistema de monitorização para cada PCC .......................... 64 4.2.8 Estabelecimento de acções correctivas ............................................................... 64 4.2.9 Estabelecimento de procedimentos de verificação ............................................. 64 4.2.10 Estabelecimento de controlo de documentos e dados ........................................ 65 4.3 Trabalho realizado no âmbito de HACCP no decorrer do estágio ............................. 65 Ana Cristina de Sousa Leite iv Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ÍNDICE Capítulo 5 5 Controlo Estatístico do Processo ................................................................................................................................... 68 5.1 Origem do CEP .......................................................................................................... 68 5.2 Implementação de CEP ............................................................................................. 69 5.2.1 Causas de variabilidade ...................................................................................... 70 5.2.2 Cartas de Controlo .............................................................................................. 70 5.3 Aplicações de CEP na Indústria alimentar ................................................................ 72 5.4 Caso de estudo: Controlo do peso dos produtos de Fábrica de Pastelaria S. Silvestre74 5.4.1 Dados recolhidos em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre .................................... 75 5.4.1.1 Normalidade dos dados ................................................................................... 76 5.4.1.2 Aleatoriedade dos dados ................................................................................. 76 5.4.2 Limites de Controlo ............................................................................................ 77 5.4.3 Cartas de controlo dos pesos de Croissant Brioche - Fase I .............................. 78 5.4.4 Aplicacação das cartas de controlo dos pesos de Croissant Brioche – Fase II .. 85 5.4.5 Custos associados a não qualidade ao nível do peso de produtos...................... 88 5.4.5.1 5.4.6 Função perda para o controlo do peso de Croissant Brioche ......................... 90 Propostas de trabalhos futuros ............................................................................ 92 Capítulo 6 6 Conclusões....................................................................................................................................................................... 94 7 Referências bibliográficas .............................................................................................................................................. 96 8 ANEXOS ........................................................................................................................................................................... I Ana Cristina de Sousa Leite v Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ÍNDICE DE TABELAS Índice de Tabelas Tabela 2-1 – Principais microrganismos toxicogénicos e patogénicos em alimentos (Araújo, 1999). ........................................................................................................................................ 12 Tabela 2-2 – Exemplos de perigos associados aos vários níveis de severidade (Antunes & Baptista, 2005). ......................................................................................................................... 16 Tabela 2-3 – Critérios para a avaliação de perigos (adaptado (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003)) ....................................................................................................................................... 17 Tabela 2-4 - Matriz de avaliação de perigos (Baptista & et al, 2003). ..................................... 17 Tabela 3-1 – Interacção entre processos da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (adaptado de Costa (2011)). ........................................................................................................................... 34 Tabela 5-1 – Valores de significância (p) para os testes de K-S, Lilliefors e de aleatoriedade para os dados recolhidos dos tipos de produtos em estudo, sendo N – Não e S – Sim. ........... 77 Tabela 5-2 – Expressões que permitem determinar os limites de controlo de cartas de controlo de média e amplitude e padrão desconhecido (Mitra, 2008). .................................................. 78 Tabela 5-3 – Valores dos limites de controlo (inferior e superior) e da linha central das cartas de controlo de média e de amplitude dos Croissants Brioche no estado cru e cozido. ............ 79 Tabela 5-4 – Valores das especificações mínimas, medianas e máximas de Croissant Brioche cru e cozido para a carta de controlo de média . .................................................................... 79 Tabela 5-5 - Percentagens de valores dos pesos dos Croissant Brioche crus e cozidos, da fase I, que estão dentro dos limites de controlo e as percentagens das amostras que se encontram na gama das especificações pretendidas, assim como as que não estão. .................................. 82 Tabela 5-6 - Percentagens de valores dos pesos dos Croissants Brioche crus e cozidos, fase II, que estão dentro dos limites de controlo e as percentagens das amostras que se encontram na gama das especificações pretendidas, assim como as que não estão........................................ 87 Tabela 8-1 – Exemplo de Plano de higienização de uma área ....................................................I Tabela 8-2 – Perigos associados a cada etapa do processo, especificação do perigo, nível de aceitação, a causa e medidas preventivas. ............................................................................. VIII Tabela 8-3 – Grau de significância dos diferentes perigos associados às etapas da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Sendo S – significativo e NS – não significativo. .............................. XIV Tabela 8-4 – Identificação de pontos críticos e pontos críticos de controlo, com recurso à árvore de decisão, para cada perigo identificado nas diversas áreas da empresa. ................. XVI Tabela 8-5 – Medida, parâmetros e limites de controlo para os seis PCC’s e parâmetros de monitorização, registo e acções correctivas. ...................................................................... XXIII Tabela 8-6 – Tabela de constantes utilizadas na determinação dos limites de controlo das diferentes cartas de controlo possíveis (Pires, 2007) ........................................................... XXX Ana Cristina de Sousa Leite vi Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ÍNDICE DE FIGURAS Índice de Figuras Figura 1-1 – Organograma da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (adaptado deCosta (2011)). .. 3 Figura 1-2 - Lay-out da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre......................................................... 5 Figura 3-1 – Representação esquemática da metodologia PDCA (adaptado de (APCER, 2010)). ...................................................................................................................................... 28 Figura 3-2 – Estrutura da documentação de uma organização (adaptadoPires (2007)). .......... 29 Figura 3-3 – Mapa de Processos de SGQ (adaptado de Costa (2011))..................................... 32 Figura 3-4 – Diagrama representativo da hierarquia dos três níveis de documentos (adaptado de Costa (2011)). ...................................................................................................................... 35 Figura 4-1 – Diferenciação de perigos não significativos e significativos, e decisão sobre o respectivo controlo, através de pré-requisitos ou do plano HACCP (adaptado de Declan (2002)). ..................................................................................................................................... 47 Figura 4-2 – Fluxograma genérico de padaria (Costa, 2009). .................................................. 56 Figura 4-3 – Fluxograma genérico de pastelaria (Costa, 2009). .............................................. 57 Figura 4-4 - Árvore de Decisão para a identificação de PCC (adaptado de Notermans,(1995). .................................................................................................................................................. 62 Figura 5-1 – Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cru e padrão desconhecido (fase I). ................................................................................................... 80 Figura 5-2 - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cru e padrão desconhecido (fase I). ................................................................................................... 80 Figura 5-3 – Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cozido e padrão desconhecido (fase I). ................................................................................................... 81 Figura 5-4 - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cozido e padrão desconhecido (fase I). ................................................................................................ 81 Figura 5-5 – Procedimento de actuação aquando a detecção de um ponto fora de controlo.... 84 Figura 5-6 – Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cru (fase II). ............................................................................................................................................. 85 Figura 5-7 - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cru (fase II). .................................................................................................................................... 86 Figura 5-8 - Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cozido (fase II). .................................................................................................................................... 86 Figura 5-9 - - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cozido (fase II). ......................................................................................................................... 87 Ana Cristina de Sousa Leite vii Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ÍNDICE DE FIGURAS Figura 5-10 – Função Perda do processo produtivo de Croissant Brioche da empresa Fábrica de Pastelaria S. Silvestre. ......................................................................................................... 91 Figura 5-11 – Representação gráfica da perda instantânea relativa a cada amostra recolhida na fase II. ....................................................................................................................................... 92 Figura 8-1 – Carta de controlo de média de Pão Bico cru elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. ....................................................................................................................... XXVIII Figura 8-2 – Carta de controlo de amplitude de Pão Bico cru elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. ...................................................................................................... XXVIII Figura 8-3 - Carta de controlo de média de Pão Bico cozido elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. ......................................................................................................... XXIX Figura 8-4 - Carta de controlo de amplitude de Pão Bico cozido elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. ......................................................................................................... XXIX Ana Cristina de Sousa Leite viii Monitorização de HACCP e CEP em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre ABREVIATURAS E SIGLAS Abreviaturas e Siglas C – Conforme CEP – Controlo Estatístico do Processo COQ – Custos totais operacionais de qualidade FAO – Food and Agricultural Organization of the United Nations FDA – Food and Drug Administration G – Severidade HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points ISO – Internacional Organization for Standardization IT – Instrução de trabalho LC – Linha Central LIC – Limite Inferior de Controlo LSC – Limite Superior de Controlo MQ – Manual da Qualidade NC – Não Conforme NP – Norma Portuguesa NS – Não Significativo OMS – Organização Mundial de Saúde PC – Ponto Crítico PCC – Ponto Crítico de Controlo R – Risco S – Significância / Significativo SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade Ana Cristina de Sousa Leite ix Introdução CAPÍTULO 1 1 Introdução Na actualidade, o consumidor pretende usufruir do seu direito à segurança estando inerente a protecção eficaz e garantias contra produtos, processos de produção e serviços que, quando utilizados em situações normais e previsíveis, não representem qualquer perigo para a sua saúde e segurança (Pierson & et al, 1995). Esta perspectiva evidencia-se, sobretudo, no sector alimentar, pelo que, para as empresas desta área se torna indispensável adoptar medidas específicas que visem a satisfação e confiança do consumidor, permitindo assim, a sua presença no mercado. A adopção destas medidas específicas resulta não só das imposições dos mercados, mas sobretudo das cadeias de distribuição alimentar que têm incrementado mudanças significativas, tais como, a exigência de certificação por referenciais ou normas por parte dos seus fornecedores. Os empresários do sector alimentar já consideram imprescindível o desenvolvimento de metodologias que respondam às exigências dos consumidores, tanto a nível de qualidade como, de segurança alimentar, sendo a confiança do consumidor na entidade conseguida com a certificação de qualidade e segurança alimentar do produto ou serviço (Trienekens & Zuurbier, 2007). O presente relatório resulta de um período de estágio onde foi possível averiguar a eficácia dos sistemas e ferramentas implementadas na empresa do sector alimentar que pretendem atender às exigências do consumidor e, por consequência, do mercado. A empresa em questão dedica-se à produção e distribuição de produtos de padaria e pastelaria, sendo o seu maior volume de negócio associado a grandes superfícies de venda ao público, apresentando exigências contratuais relativamente aos produtos. O principal objectivo deste estágio foi a monitorização do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo, Hazard Analysis and Critical Control Points – HACCP e de alguns requisitos da norma NP EN ISO 9001:2008 na sede da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Como critério de qualidade pretendeu-se, ainda, averiguar se os produtos confeccionados na empresa se apresentam controlados a nível de peso. Com base nos resultados foi então necessário proceder ao controlo estatístico dos pesos de alguns produtos de pastelaria e de padaria através de cartas de controlo.Este tipo de ferramenta foi desenhada e associado a ela definiram-se os procedimentos de actuação e análise de causas. A organização deste relatório de estágio reparte-se em: Introdução onde se apresenta a empresa onde o estágio foi realizado - Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, descrevendo o seu histórico, localização, organização, serviços, recursos, lay-out e certificação; Segurança Alimentar indicando os principais agentes para obtenção de produto não seguro, os tipos de perigos para a saúde pública, as possíveis doenças transmitidas por produtos não seguros, a legislação aplicável à segurança alimentar para protecção do consumidor final e, por fim, se integram os conceitos de qualidade e segurança alimentar; Ana Cristina de Sousa Leite 1 Introdução CAPÍTULO 1 Sistema de Gestão da Qualidade da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre enquadrando a norma NP EN ISO 9001:2008 e explicita-se o Manual da Qualidade aplicado na empresa; HACCP onde se analisam os pré-requistos e o plano de HACCP implementado na empresa; Controlo Estatístico do Processo explicitando-se os conceitos teórios, os resultados obtidos tratados estatisticamente dando especial atenção a cartas de controlo de variáveis (média e amplitude) e uma estimativa de custos associados ao não controlo dos pesos dos produtos com recurso à função perda de Taguchi. Ao longo do relatório indica-se a experiência adquirida e as tarefas realizadas atendendo aos diversos objectivos pretendidos. 1.1 Fábrica de Pastelaria S.Silvestre Nesta secção apresenta-se, de forma sucinta, a unidade da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre onde decorreu o estágio. O objectivo é traçar uma linha de conhecimento que facilite o entendimento de capítulos subsequentes. Em 1983, Amílcar e Madalena Duarte, um casal lousanense e ex-emigrante na Alemanha, dedicaram-se à exploração de um estabelecimento comercial designado por “Pastelaria Royal”, onde confeccionavam produtos de padaria e pastelaria. No entanto, conscientes das potencialidades da doçaria tradicional, nomeadamente da zona da Lousã, decidiram focar-se na fabricação deste tipo de produtos. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre foi, assim, constituída em 1990 por este casal de ex-emigrantes. Esta empresa dedica-se, ainda hoje, à produção e distribuição de produtos de padaria e pastelaria. Em 1991/1992 investiu, com o apoio dos fundos comunitários, na secção produtiva e na remodelação física da empresa. O resultado relativamente a esta opção foi o aumento da área de produção de 50 m 2 para 400 m2, ficando a linha de produção com a mais recente tecnologia do sector. Em consequência obtiveram-se claros ganhos ao nível da produtividade, ao nível de processo produtivo e especialização de mão-de-obra. Paralelamente, criou-se um novo estabelecimento de venda e remodelou-se por completo o estabelecimento já existente. O objectivo deste investimento foi essencial para dar seguimento à estratégia de maximizar a performance tendo em conta os critérios Preço,Qualidade e Serviço. Ao longo dos anos a empresa foi contratualizando com novos clientes que exigiam maior e melhor quantidade e qualidade dos produtos. Naturalmente que as novas instalações permitiram ir de encontro às expectativas de clientes e de colaboradores. A actual Fábrica de Pastelaria S.Silvestre foi construída, em 2002 na zona industrial de Alto Padrão na Lousã com um capital social de 50 000€ e possui uma área total de 1600 m2. Esta empresa é constituída por uma fábrica mãe onde se realiza a produção de padaria e pastelaria, por três postos de venda e um restaurante de cozinha rápida designado de Foodstore situados no concelho da Lousã. No total a empresa emprega cerca de 58 pessoas. Ana Cristina de Sousa Leite 2 Introdução 1.1.1 CAPÍTULO 1 Serviços/Clientes Para além de venda directa ao balcão, a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre aposta na distribuição, fornecendo diversos estabelecimentos do comércio local, grandes superfícies, escolas e algumas empresas da região. Assim, o mercado – alvo é o mercado interno da Lousã e concelhos limítrofes. O sucesso da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre deve-se, em grande parte, ao produto de qualidade fornecido e a um serviço personalizado de atendimento ao cliente, sendo estas as características que destacam esta empresa face aos seus concorrentes do sector (Campos & Costa, 2011). 1.1.2 Recursos A estratégia da empresa baseia-se na modernização da unidade fabril, apoiada por quadros superiores com o objectivo de elevar o grau de qualidade dos produtos e serviços fornecidos. O crescimento e desenvolvimento da empresa têm sido conseguidos através de investimento em equipamento produtivo, de reforço do quadro de colaboradores e na formação dos mesmos (Campos & Costa, 2011). 1.1.3 Estrutura organizacional A estrutura organizacional da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre apresenta-se na Figura 1-1, sendo clara a configuração vertical da organização das responsabilidades. Gerência (Madalena Duarte) Representante da Gerência ( Dr. Luís Campos) Departamento de Recursos Humanos (Dr. ª Helena Francisco) Departamento de Produção Departamento Financeiro Departamento da Qualidade (Nuno Francisco) (Dr. Luís Campos) (Engª Elisabete Costa) Chefe de Padaria Chefe de Pastelaria Distribuição Manutenção (Francisco Esteves) (Nuno Francisco) (Carlos Bernardo) (Carlos Varela) Amassador/Forneiro Oficiais Ajudante Ajudante Aprendiz Aprendiz Equipa de Limpeza Figura 1-1 – Organograma da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (adaptado deCosta (2011)). Ana Cristina de Sousa Leite 3 Introdução 1.1.4 CAPÍTULO 1 Lay-out da unidade de produção As instalações da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (sede) estão divididas em várias secções (ver Figura 1-2) com o intuito de não ocorrerem contaminações cruzadas dos produtos. As diferentes secções são: armazém de matéria primas, padaria, pastelaria, câmaras de refrigeração e congelação, tratamentos térmicos, sala de acabamentos, lavagem, expedição e gabinete de facturação, sanitários/balneários, armazenamento de produtos de limpeza, refeitório e, por fim, escritórios. Ana Cristina de Sousa Leite 4 Introdução CAPÍTULO 1 LEGENDA: 1- Armazém de embalagens 2- Gabinete de facturação 3- Cais de expedição 4- Expedição 5- Sala de Acabamentos 6- Tratamentos térmicos 7- Produção: Padaria 8- Produção: Pastelaria 9- Bar 10- WC’s 11 A e B- Salas de Lavagem e armazenamento de utensílios 12- Cais de recepção de matérias – primas refrigeradas 13- Área de câmaras de refrigeração ou congelação 14- Sala de máquinas 15- Armazém de bebidas 16- Cais de recepção 17- Armazém de matérias – primas e embalagens 18- Balneários 19- Refeitório 20- Posto Médico 21- Armazém de produtos de limpeza 22- Área de Manutenção 23- Sala de reuniões 24- Departamentos de Contabilidade e Qualidade 25- Escritório da Gerência C.M.- Câmara de Matérias – primas C.S.-A.- Câmara de Produto SemiAcabado S.E. - Sala de “embalagem” C.A.- Câmara de Produto Acabado C.Past.- Câmara de Pastelaria C.F.C.- Câmara de fermentação Controlada C.P.- Câmara de Padaria Túnel – Túnel de congelação Figura 1-2 - Lay-out da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Ana Cristina de Sousa Leite 5 Introdução CAPÍTULO 1 A seguir apresenta-se uma breve descrição do lay-out da fábrica a qual tem por objectivo contextualizar secções posteriores deste trabalho. No cais do armazém de matéria primas são recepcionados os diversos produtos necessários à elaboração dos produtos de padaria e pastelaria. Neste, são armazenados produtos que não precisem de ser refrigerados, por exemplo farinha, enlatados e açúcar. O colaborador que recepciona os produtos deve ter em conta os diferentes parâmetros descritos para os aceitar ou rejeitar (ver secção 4.2.3). Quando todos os parâmetros estão em conformidade aceita-se o produto, procede-se à etiquetagem interna após entrada dos mesmos no sistema informático, e por fim procede-se ao armazenamento no local correcto. Esta é a primeira etapa de rastreabilidade das matérias (ver secção 4.1.10). Caso o produto a recepcionar não esteja em conformidade com as especificações pré-estabelecidas não é aceite pelo colaborador e será devolvido ao fornecedor. Quando os colaboradores necessitarem de qualquer produto de armazém têm de efectuar o registo no sistema informático dando continuidade à função de rastreabilidade. Ainda nesta secção, os colaboradores têm de respeitar as regras de FIFO (first in first out), ou seja, o primeiro produto a chegar é o primeiro a gastar e ainda FEFO (first expired first out), o primeiro produto a perder a validade é o primeiro a gastar. Na secção de padaria realizam-se algumas etapas dos procedimentos de elaboração dos diversos tipos de pão, ou seja, pesagem de matéria prima, homogeneização das massas, distribuição uniforme da massa, a atribuição da forma específica do pão em elaboração e o acondicionamento das unidades em tabuleiros ou telas. As restantes etapas do procedimento de elaboração de produto envolvem diferentes tipos de conservação ou ainda a cozedura e o posterior acondicionamento do produto (ver Figura 4-2). Na secção de pastelaria realizam-se algumas etapas dos procedimentos de elaboração da vasta gama de produtos de pastelaria, tanto pertencente ao grupo dos salgados como ao dos doces. As etapas descritas para a elaboração de pastelaria são semelhantes às de padaria, no entanto deve-se atender à maior complexidade de elaboração dos pastéis (ver Figura 4-3). Após elaboração do produto e de acondicionamento em tabuleiros estão são identificados com um kanban1 que permite, através de computador, aceder ao histórico deste produto. Este aspecto será salientado com mais ênfase na secção 3.2.1.4. Na área das câmaras de refrigeração e de congelação existem sete diferentes câmaras: três câmaras de refrigeração (de matérias primas, de produtos de padaria, de produtos de pastelaria), duas câmaras de congelação (de produto acabado e de produto semi-acabado), um túnel de congelação e uma câmara de fermentação controlada. Nas câmaras de refrigeração de padaria e pastelaria colocam-se todos os produtos de padaria e pastelaria, respectivamente, em cru e ainda produtos prontos a consumir, separados fisicamente. Estes produtos prontos a 1 Kanbans são cartões em polietileno onde consta um código de barras único, o número do kanban, o nome da empresa. Estes cartões por terem códigos de barra podem ser lidos através de um dispositivo de luz infravermelha. Os dados lidos por este dispositivo são registados na aplicação no computador. Através deste procedimento é possível associar os códigos dos kanbans a produtos elaborados que já têm o seu histórico, matéria prima entre outros, registados na aplicação SIM!PAN. Ana Cristina de Sousa Leite 6 Introdução CAPÍTULO 1 consumir, como é o caso de alguns pastéis e de bolos de aniversário necessitam de ser conservados no frio por um curto intervalo de tempo e estão separados fisicamente dos restantes para não ocorrerem contaminações cruzadas. Na câmara de refrigeração de matérias primas armazenam-se todos os produtos necessários à confecção e que necessitem de ser refrigerados. Aqui também se respeitam os critérios citados em 4.2.3, salientado a importância do parâmetro de verificação da temperatura do veículo de transporte. Para garantir que não há desenvolvimento de microrganismos aquando o processo de congelação, deve-se ter em conta que ele deve ser o mais curto possível. Para tal, recorre-se ao túnel de congelação que num intervalo de tempo bastante pequeno congela o produto garantindo que no seu interior a temperatura seja de 18˚C. A temperatura no interior do túnel varia entre -35 ˚C e -40˚C. Após congelação prévia no túnel os produtos são encaminhados para as diferentes câmaras de congelação. Nas câmaras de congelação de produtos acabados armazenam-se os produtos já cozidos com ou sem recheios que estejam prontos para venda ou com determinados acabamentos por fazer. Na câmara de produtos semi-acabados encontram-se os produtos em cru, só em massa, mas também os recheados que ainda necessitam de fermentação e cozedura. Estas câmaras de congelação devem garantir que a temperatura no centro do produto se mantém nos -18˚C, pelo que a temperatura da câmara não deve variar para além da gama -18˚C a -21˚C. A câmara de fermentação controlada designa-se desta maneira porque está programada para emitir calor a determinadas horas e refrigerar as restantes. O objectivo desta câmara é levedar a massa dos diferentes produtos à hora desejada para de seguida serem cozidos. A temperatura de refrigeração varia entre 2 e 4˚C e a temperatura de levedação atinge os 42˚C, sendo esta a temperatura óptima de levedação. Um pormenor da máxima importância é o facto de existirem refrigeradores nos corredores onde se encontram estas câmaras para que a diferença de temperatura entre o corredor e as câmaras de refrigeração e de congelação não seja tão abrupta quando se abrem as portas. Na área de tratamentos térmicos procedem-se às cozeduras dos produtos. Existem dois fornos de lares de três andares, dois fornos eléctricos de 3 e 4 patamares, respectivamente, um forno rotativo, duas fritadeiras e um fogão. Nesta secção procede-se à cozedura de todos os produtos de padaria e pastelaria, seja através do forno ou pela fritadeira. O fogão é o meio que se utiliza para sintetisar alguns cremes, caldas e recheios. Na sala de acabamentos, como o próprio nome indica, realizam-se os acabamentos (decorações, recheios) de certos pastéis, montam-se e decoram-se bolos, reservam-se os pastéis que estejam prontos para consumo e procede-se à divisão de produtos para os diferentes clientes, em determinados casos. Esta sala tem de ter as portas fechadas e ser refrigerada a uma temperatura de 14˚C para que não haja desenvolvimento de microrganismos. Aqui, o colaborador tem de usar obrigatoriamente luvas e máscara para além da farda usual. Ana Cristina de Sousa Leite 7 Introdução CAPÍTULO 1 A área de lavagem é constituída por duas salas, numa delas estão todos os recipientes e equipamentos lavados necessários à produção. Na outra sala encontra-se um túnel de lavagem, uma máquina de lavar louça e uma banca com duas pias, onde se procede à lavagem de recipientes e equipamentos. Esta sala encontra-se perto do cais de expedição de produtos para que o produto sujo proveniente do cliente não entre em contacto com os restantes produtos evitando, desta forma, contaminações cruzadas. Pelo mesmo motivo, a sala de lavagem também se encontra afastada das zonas de produção, acabamento, tratamentos térmicos e conservação (câmaras de refrigeração e armazém). Na secção de expedição encontram-se duas máquinas embaladoras e uma balança calibrada que permite, para além de pesar, retirar etiquetas de identificação que serão colocadas no produto acabado e embalado. Na expedição também se procede à divisão para cabazes, sacos plásticos ou caixas de papel dos produtos para os diferentes clientes e ainda se embalam alguns produtos de acordo com as especificações do cliente. Esta secção tem ligação directa para o cais de expedição, promovendo, assim, a entrada dos produtos directamente para as carrinhas de transporte refrigeradas e devidamente higienizadas. No gabinete de facturação, os distribuidores procedem à facturação ou preenchimento das guias de transporte dos produtos antes de seguirem viagem. Existem áreas estritamente dedicadas aos colaboradores como os sanitários e balneários onde se procede à mudança de roupa e ainda, a área de refeitório onde os colaboradores fazem as suas refeições. A área de armazenagem de produtos de limpeza e desinfecção encontra-se num compartimento separado e identificado, sendo proibida a presença de qualquer produto alimentar. Na secção de escritórios existe uma sala de reuniões, um gabinete da gerência e um outro alocado ao Departamento de Contabilidade e ao Departamento da Qualidade. 1.1.5 A Qualidade na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre tem evoluído significativamente na área de Qualidade e variabilidade dos seus produtos o que vai ao encontro das expectativas do cliente e da sua satisfação e está em consonância com a Política de melhoria contínua do SGQ implementado. O avanço em termos de Qualidade foi devido à implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade seguindo os requisitos estipulados pela norma ISO 9001:2000 substituída pela ISO 9001:2008 e enquadra, ainda, a ferramenta HACCP – Hazards Analysis and Critical Control Points (Análise de perigos e controlo de pontos críticos). Esta implementação exigiu alterações físicas da empresa mas, sobretudo, alterações dos comportamentos dos colaboradores a nível de condutas de higiene e boas práticas de fabrico no sector alimentar. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre elaborou o seu próprio Plano de HACCP aplicando os sete diferentes requisitos nas diversas secções da empresa e, ainda, o Manual da Qualidade tendo em conta a NP EN ISO 9001:2008. Ana Cristina de Sousa Leite 8 Introdução CAPÍTULO 1 Atendendo que a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre se dedica à produção e distribuição de produtos alimentares, esta tem presentes as regras de higiene, boas práticas de fabrico e atende a um Sistema de Gestão da Qualidade para garantir aos seus clientes a segurança alimentar dos seus produtos. Ana Cristina de Sousa Leite 9 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 2 Segurança Alimentar A grande preocupação do consumidor é evitar alimentos que não sejam seguros para a saúde humana. Contudo, se se tiver em conta o estado sanitário dos alimentos e os cuidados e cautelas que se praticam actualmente aquando o seu fabrico quando comparados com os de há décadas atrás, esta preocupação aparece como um paradoxo. A segurança alimentar emerge actualmente como uma das principais preocupações da indústria alimentar. Ela surge tendo em conta diversos factores, tanto económicos como socioculturais, que determinam alterações nos hábitos alimentares da população, tendo os conceitos e as formas de alimentação evoluído, moldando, assim, o desenvolvimento da sociedade (Antunes & Baptista, 2005). Entre os factores de mudança mais relevantes no quadro das transformações de hábitos alimentares, que a população procura, tanto na forma como no tipo de alimentos, incluem-se: O crescimento da população residente em meios urbanos; A distância e consequente tempo médio de deslocação entre a residência e o local de trabalho ou a escola; O aumento da percentagem de mulheres no mercado de trabalho; O aumento do poder de compra; As preocupações dietéticas (Cribb, 2011). Estas modificações que ocorrem maioritariamente nos últimos anos, contribuíram para a dispersão de perigos que comprometem seriamente a saúde dos consumidores. Para precaver estes riscos exige-se uma aposta sólida e persistente em políticas de prevenção de perigos e de confecção de produto seguro (CFIA, 2010). Tradicionalmente a avaliação da qualidade de um produto da indústria alimentar era feita no fim da linha de produção. Aqui, quando era detectado algum erro este ou era ignorado ou o produto era rejeitado. No entanto, nenhuma das situações é satisfatória uma vez que se traduz em perda de qualidade e segurança do produto, acarretando, inerentemente, perdas económicas e sociais, como por exemplo, perda de cliente. Actualmente para “construir” garantia de qualidade na indústria alimentar devem-se implementar sistemas de prevenção que permitam identificar e corrigir atempadamente as situações de risco de contaminação do produto. Assim, a implementação de sistemas que tenham por objectivo a segurança alimentar, como por exemplo, o sistema de HACCP (Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos), passa a ser uma exigência para todos os actores do sector alimentar, para além de um conjunto de Boas Práticas de Higiene e as Boas Práticas de Fabrico (ver 4.1) (FIPA, 2002). Uma empresa que pretenda implementar um sistema de prevenção deste tipo tem de ter o conhecimento completo das potenciais fontes de contaminação do produto na sua linha de produção, na distribuição e higienização de áreas e equipamentos que entrem em contacto com ele. Após a identificação destas fontes torna-se essencial eliminá-las ou minimizá-las de Ana Cristina de Sousa Leite 10 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 modo a não comprometer a segurança e ainda, estabelecer medidas preventivas e um método de verificação para que esta fonte não volte a surgir. 2.1 Principais agentes prejudiciais à saúde Os alimentos têm como principal função o fornecimento de princípios nutritivos essenciais ao organismo e à sua sobrevivência. No entanto, por agentes diversos, podem ocorrer contaminações que não são perceptíveis pelos sentidos (como por exemplo: visão e gosto). Estas substâncias contaminadas ingeridas podem causar efeitos nefastos para a saúde. Tendo em conta esta situação, a Food and Drug Admistration (FDA) enumerou por ordem decrescente, os principais agentes prejudiciais à saúde através dos alimentos (Foster, 1982): 1. Microrganismos toxicogénicos e patogénicos; 2. Nutrição deficiente; 3. Contaminação ambiental; 4. Produtos tóxicos naturais dos alimentos; 5. Resíduos de pesticidas; 6. Aditivos alimentares De seguida é analisado, sumariamente, o nível de perigosidade de cada um destes agentes. 2.1.1 Microrganismos toxicogénicos e patogénicos Os microrganismos, como qualquer ser vivo, necessitam de um conjunto de factores intrínsecos e extrínsecos para se expandir, que variam consoante o seu tipo, sejam eles bolores, leveduras, bactérias ou vírus. Estes determinantes são específicos para cada classe, género, espécie ou estirpe e assumem-se como fulcral a forma como eles obtêm energia para a manutenção da vida e a reprodução. A temperatura, o pH, a presença ou ausência de oxigénio, a presença ou ausência de nutrientes e a existência de substâncias inibidoras são exemplos de variáveis de acção relevante na vida dos microrganismos (May, 2005). Os microrganismos responsáveis por intoxicações alimentares são patogénicos. Uma parte destes segrega toxinas nos alimentos antes de serem ingeridos. A outra parte produz toxinas no interior do organismo onde chegaram por ingestão de alimento (Araújo, 1999). As bactérias sãoestatisticamente os microrganismos que provocam maior número de intoxicações alimentares (Figueiredo J. , 2008). Quando as condições do meio não são favoráveis para o desenvolvimento destas bactérias elas concentram o material genético, reduzem o tamanho e sintetisam uma membrana com várias camadas que lhes confere resistência a agentes físicos e químicos permitindo manterem-se viáveis ao longo de vários anos. Quando as condições do meio (nutrientes, humidade e temperatura) forem favoráveis ou Ana Cristina de Sousa Leite 11 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 óptimas para o seu desenvolvimento estas voltam à forma vegetativa e proliferam (May, 2005). Os fungos, como qualquer bolor, também são microrganismos que se desenvolvem nos alimentos em condições favoráveis. Tal como as bactérias os fungos têm um conjunto de factores específicos que permitem o seu desenvolvimento e proliferação. Em condições específicas de humidade e temperatura produzem aflatoxinas (B1, B2, M1 e M2), as quais são tóxicas para os seres humanos. No entanto, apresentam menor risco para a saúde do Homem quando comparados com outros microrganismos (Rosete, 2009). Os vírus são microrganismos menos conhecidos, no entanto também potenciam intoxicações alimentares. O tamanho dos vírus é bastante inferior ao das bactérias, no entanto os seus efeitos no organismo podem ser mais significativos provocando mutações de células (Rosete, 2009). Os principais microrganismos responsáveis por intoxicações alimentares apresentam-se na Tabela 2-1. Tabela 2-1 – Principais microrganismos toxicogénicos e patogénicos em alimentos (Araújo, 1999). Tipo de Microrganismos Designação de Microrganismos Onde se pode encontrar Staphylococcus aureus Carne picada, produtos de pastelaria como os cremes, maionese, ovoprodutos, gelados e produtos à base de leite. Salmonella; Campylobacter jejuni Clostridium botulinum Bactéria Bacillus cereus Shigella Yersinia enterocolitica Listeria monocytogenes Escherichia coli Aspergillus flavus Fungo Penicillium citricum, P. viridicatum Bolores Carne de frango e peru e ovos Diversos tipos de conservas como sardinhas enlatadas, exceptuam-se marmelada e compotas. Leite em cru, carnes verdes, derivados de carne, especiarias e aditivos alimentares. Bivalves, marisco, frango, frutos, hortaliças e saladas. Bolos, carnes (frango, cordeiro e porco) em vácuo, pescado, vegetais e leite. Carnes, água e vegetais, sobretudo em hortaliça murcha ou em decomposição. Essencialmente em águas contaminadas Milho e trigo entre outros grãos de cereais. Presuntos de fabrico caseiro e em enchidos. Frutos, legumes, sementes e enchidos. Polivirus Adenovírus Vírus Enterovírus Moluscos bivalves (ostras, amêijoa); água poluída. Rotavírus Norwalk Ana Cristina de Sousa Leite 12 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 O facto do manuseamento dos alimentos não ser realizado nas condições de higiene e de acondicionamento específicas para a sua confecção, pode permitir o desenvolvimento de microrganismos como os que se citaram. 2.1.2 Nutrição deficiente Um indivíduo pode ser considerado como mal nutrido se tiver um tipo de alimentação com deficiência ou excesso de nutrientes. A nutrição por alimentação excessiva decorre, essencialmente, no consumo de grandes quantidades de açúcares, gorduras, hidratos de carbono saturados e, consequentemente excesso de calorias (Araújo, 1999). Assim, as indústrias alimentares procuram satisfazer as necessidades dos consumidores oferecendo mais informação sobre o produto e, deste modo, o cliente poderá saber a quantidade calórica e a composição do produto que vai consumir (Barendsz, 1998). 2.1.3 Contaminação ambiental A contaminação ambiental surge através de compostos ou elementos que contaminam os alimentos nas etapas de produção, transformação, distribuição e armazenamento. Estes compostos podem ser substâncias naturais tóxicas que não fazem parte da constituição do produto ou substâncias sintetisadas ou, ainda, substâncias estranhas que se produzam aquando a transformação, distribuição ou armazenamento (Araújo, 1999). 2.1.4 Resíduos de pesticidas Atendendo à situação ambiental actual, o uso de pesticidas torna-se imperativo na produção, armazenamento e transporte de muitos alimentos de natureza vegetal. Através destes evitamse perdas elevadas de material, reduzindo-se significativamente os custos e aumenta-se o prazo de validade potenciando a distribuição para maior número de países sem perda de qualidade do produto. Os pesticidas englobam um conjunto de compostos agrupados em função dos seres vivos para os quais têm uma eficiente função tóxica sendo elas insecticida, herbicida, fungicida, acaricida, molusquicida e radonticida. Estes são muitas vezes adicionados às colheitas ainda na terra, contaminando o meio ambiente e a cadeia alimentar, provocando subsequentemente poluição de todo o ecossistema. Se a higienização dos produtos provenientes da terra não for a mais adequada, pode ocorrer que permaneçam resíduos de pesticidas e ao serem ingeridos podem provocar problemas de saúde (Figueiredo J. , 2008). 2.1.5 Aditivos alimentares Quando se fala em aditivos alimentares englobam-se todas as substâncias que são adicionadas a alimentos para lhes conferir determinadas características. Exemplos de aditivos alimentares são os corantes, conservantes, antioxidantes, emulsionantes, espessantes, gelificantes, enzimas, entre outros. Os problemas associados à utilização de aditivos alimentares são vários e têm sido objecto de estudo e reflexão por parte da comunidade científica. A legislação relativamente a estes aditivos é cada vez mais restrita e pretende-se que seja global. A toxicidade destas Ana Cristina de Sousa Leite 13 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 substâncias pode ser eliminada pelo organismo muito lentamente. No entanto, quando ingeridas frequentemente, mesmo em pequenas doses, podem levar à acumulação no organismo, elevando o nível de toxicidade (Trienekens & Zuurbier, 2007). Sabe-se que certas substâncias utilizadas como aditivos alimentares são inócuas no organismo. No entanto existem outras que por si só são tóxicas. Como a maior parte destas substâncias são ingeridas em conjunto, determinar o seu grau exacto de toxicidade é complexo. Assim, a utilização destas substâncias é regulamentada internacionalmente pela FAO/OMS (Organização Mundial de Saúde) para que possa haver um controlo severo (Araújo, 1999). 2.2 Tipos de perigos associados à produção de alimentos Geralmente numa empresa deve-se ter em conta a análise de perigos, sendo necessário identificá-los e averiguar se a sua eliminação ou redução a níveis aceitáveis é indispensável à produção de um alimento seguro, tendo em conta a sua natureza (Poças & Moreira, 2003). Assim, para a identificação dos perigos, quer seja do tipo biológico, químico ou físico, é necessário conhecer todas as características do produto, dos ingredientes e das etapas do processo de produção que podem influenciar essas mesmas características. Torna-se essencial conhecer as possíveis interacções entre os vários ingredientes e o fluxograma do processo de produção para proceder a medidas preventivas para o caso de haver risco (Foster, 1982). A análise de perigos é feita tendo em consideração vários factores, como por exemplo: A probabilidade de surgirem os perigos (riscos) e a gravidade dos seus efeitos prejudiciais para a saúde (severidade); A avaliação qualitativa e/ou quantitativa da presença dos perigos; A sobrevivência ou proliferação de microrganismos envolvidos; A produção ou persistência de toxinas, substâncias químicas ou agentes físicos nos alimentos; As condições que possam originar os factores anteriores (Costa, 2009). Por perigo entende-se tudo aquilo que pode estar presente num alimento, de forma natural ou não, e que pode afectar a saúde do consumidor causando-lhe lesões ou doenças (Rosete, 2009). Os perigos podem ser classificados quanto ao seu grau de risco. Assim, um perigo pode ser de baixo, médio ou elevado risco. Os perigos de baixo risco são aqueles que têm menor probabilidade de ocorrer, os de médio risco têm probabilidade mediana de ocorrência e os de elevado risco têm probabilidade de ocorrer frequentemente. Nenhum destes perigos deve ser menosprezado. A classificação dos perigos também pode ser levada a cabo com base na origem destes. Quanto à origem os perigos classificam-se, assim, por: perigos biológicos, perigos químicos e perigos físicos. Ana Cristina de Sousa Leite 14 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 Os perigos biológicos são aqueles cuja origem é um organismo vivo. Exemplos de perigos biológicos são os microrganismos citados anteriormente (Tabela 2-1), sendo estes, bactérias, fungos e vírus. Os perigos biológicos designados de microrganismos representam a fracção mais significativa dos perigos a considerar num plano de segurança alimentar, sendo a sua avaliação muito complexa. Os perigos químicos são aqueles que têm por base um componente químico. Exemplos deste tipo de perigo são os resíduos de pesticidas, aditivos alimentares, resíduos de produtos de limpeza e metais pesados. Os perigos físicos são aqueles que resultam da deposição de partículas sólidas nos produtos, como por exemplo, pedaços de madeira, vidro, plástico ou ainda, cabelos ou pêlos, espinhas ou ossos (Antunes & Baptista, 2005). 2.2.1 Avaliação de perigos A avaliação de perigos é determinada através do grau de significância dado pela equação: (2-1) P or Risco ( ) entende-se a probabilidade de ocorrer um perigo. Já Severidade (G) designa a magnitude de um perigo ou grau das consequências que podem ocorrer, ou seja, a gravidade do perigo. Através destes dois factores é possível determinar a Significância ) do perigo (WHO & FAO, 2002). A avaliação do risco é, por norma, qualitativa sendo vulgarmente obtida pela combinação de experiência, dados epidemiológicos e informação bibliográfica específica. Os dados epidemiológicos são uma ferramenta importante para a avaliação de riscos por enumerarem e classificarem os produtos potencialmente perigosos à saúde do consumidor. Para realizar uma avaliação do risco, devem considerar-se os seguintes critérios: Revisão das reclamações de clientes; Devolução de lotes ou carregamentos; Resultados de análises laboratoriais; Dados de programas de monitorização de agentes de doenças transmitidas por alimentos; Informação da ocorrência de enfermidades em animais ou outros factores que possam afectar a saúde humana (Barendsz, 1998). Ainda assim, risco é também função da probabilidade de um perigo ocorrer num processo e afectar a segurança do alimento. Esta avaliação pressupõe uma análise estatística. No entanto, apesar de existirem dados sobre a avaliação quantitativa do risco de alguns perigos químicos e biológicos, a sua determinação numérica nem sempre é simples. Tendo em conta esta dificuldade foram estabelecidos níveis para a probabilidade, sendo que os Ana Cristina de Sousa Leite 15 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 respectivos limites deverão ter uma quantificação associada um exemplo é o número de ocorrências por ano obtidos com base nas ocorrências ou histórico da organização (Baptista & et al, 2003). É de salientar que nem todos os microrganismos são classificados da mesma maneira quando se avalia a sua potencialidade para provocar doenças. Este potencial ou tipo de perigo que um microrganismo representa varia desde “nenhum” a “muito grave”. Atendendo à severidade, os perigos que causam mazelas podem ser classificados em alto (risco de vida), moderado (grave ou crónico) e baixo (moderado ou leve). Exemplos de perigos biológicos, químicos e físicos para os diferentes níveis de severidade estão listados na Tabela 2-2. Tabela 2-2 – Exemplos de perigos associados aos vários níveis de severidade (Antunes & Baptista, 2005). Classificação Exemplos Biológico: toxina de Clostridium botulinum, Salmonella Typi, S. Paratyphi A e B, Shigella dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Vibrio vulnificus, Brucella melitensis, Clostridium perfringens tipo C, vírus da hepatite A e E, Listeria moncyrogenes, Escherichia coli O157:H7, Trichinella spiralis, Taenia solium Severidade Alta Químico: contaminação directa de alimentos por substâncias químicas proibidas ou determinados metais, como mercúrio, ou aditivos químicos que podem causar danos a grupos de consumidores mais sensíveis. Físico: objectos estranhos e fragmentos não desejados que podem causar lesão ou dano ao consumidor, como pedras, vidros, agulhas, metais e objectos cortantes ou perfurantes, constituindo um risco à vida do consumidor. Severidade moderada Biológico: outras Escherichia coli enteropatogénicas, Salmonella spp., Shigella spp., Streptococcus β- hemolítico, Vibrio parahaemolyticus, Listeria monocytogenes, Streptococcus pyogenes, rotavírus, vírus Norwalk, Entamoeba histolytica, Diphyllobothrium latum, Cryptosporidium parvum. Biológico: Bacillus cereus, Clostridium perfringens tipo A, Campylobacter jejuni, Yersinia enterocolítica, toxina do Staphylococcus aureus, a maioria dos parasitas. Severidade baixa Químico: substâncias químicas permitidas em alimentos em alimentos que podem causar reacções moderadas, como sonolência ou alergias transitórias. A Tabela 2-3 apresenta os critérios para a avaliação de perigos permitindo avaliar quais os perigos que podem ser considerados mais importantes ou significativos no processo produtivo. Ana Cristina de Sousa Leite 16 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 Tabela 2-3 – Critérios para a avaliação de perigos (adaptado (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003)) Risco baixo = 10 (Pouco frequente) .R (Risco) Risco médio = 100 (Pode acontecer) Risco alto = 1000 (Frequente) Severidade baixa = 10 (Não resulta de um produto não seguro) G (Severidade) Severidade média = 100 (Pode resultar num produto não seguro) S (Significância) = Severidade alta = 1000 (Conduz a um produto não seguro) Significância baixa ≤ 1000 (Não considerado para avaliação de perigo) Significância média = 10000 (Considerado para avaliação de perigo) RxG Significância alta ≥ 100000 (Considerado para avaliação de perigo) A matriz de avaliação dos perigos permite atender às diferentes situações possíveis de Risco e Severidade (Tabela 2-4). Tabela 2-4 - Matriz de avaliação de perigos (Baptista & et al, 2003). Alto Risco (1000) Alto Risco (1000) Alto Risco (1000) Média Severidade (100) Alta Severidade (1000) R x G = 100000 R x G = 1000000 SIGNIFICÂNCIA ALTA SIGNIFICÂNCIA ALTA Médio Risco (100) Médio Risco (100) Média Severidade (100) Alta Severidade (1000) R x G = 10000 R x G = 100000 SIGNIFICÂNCIA MÉDIA SIGNIFICÂNCIA ALTA Baixo Risco (10) Baixo Risco (10) Média Severidade (100) Alta Severidade (1000) R x G = 1000 R x G = 10000 SIGNIFICÂNCIA BAIXA SIGNIFICÂNCIA BAIXA SIGNIFICÂNCIA MÉDIA Baixa Severidade Média Severidade Alta Severidade Baixa Severidade (10) Alto Risco R x G = 10000 SIGNIFICÂNCIA MÉDIA Médio Risco (100) Baixa Severidade (10) R x G = 1000 Médio Risco SIGNIFICÂNCIA BAIXA Baixo Risco (10) Baixa Severidade (10) R x G = 100 Baixo Risco A avaliação de perigos nas diferentes áreas da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre apresenta-se em maior detalhe nos AnexoVI e AnexoVII. Ana Cristina de Sousa Leite 17 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 Como é óbvio, o consumidor pretende que os produtos alimentares se apresentem seguros, ou seja, estejam isentos de microrganismos patogénicos, de resíduos de produtos químicos, de ingredientes novos dos quais desconhece as consequências da sua ingestão ou de qualquer outro tipo de contaminante. No entanto, o risco zero não existe apesar de todos os esforços e precauções sugeridas pela FAO/OMS (Food and Agricultural Organization of the United Nations/Organização Mundial de Saúde) e implementadas na cadeia alimentar, mas também tendo em conta a aplicação das normas ISO (International Standardization Organization) e do protocolo HACCP . 2.3 Doenças transmitidas por alimentos Segundo o CDC - Center for Disease Control (Centro para Controlo de Doenças) define-se doença transmitida por alimentos, um incidente em que pelos menos duas pessoas apresentem os mesmos sintomas após ingestão do mesmo alimento caso as análises epidemiológicas apontem o alimento como a origem da doença. É, no entanto, possível que, face à gravidade de um agente, como por exemplo a ocorrência de botulismo ou envenenamento químico, um único caso possa ser suficiente para desencadear acções (Antunes & Baptista, 2005). 2.3.1 Condições para a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos Estas doenças causadas por alimentos são um problema comum na sociedade e são parcialmente responsáveis por uma diminuição da produtividade económica. A maioria das doenças alimentares são causadas por agentes biológicos. No entanto, um alimento pode causar doenças por diferentes motivos: Existência na sua constituição de microrganismos patogénicos, que pela sua proliferação, pela produção de toxinas ou pela continuidade de ambas, podem ocasionar quadros clínicos de doença; Possuírem substâncias químicas presentes na sua composição; Terem sido contaminados, acidentalmente, com alguma substância tóxica; Terem sido adicionadas substâncias para modificar alguma das suas características, que possam tornar-se nocivos para o ser humano; Terem sido inadvertidamente introduzidos objectos estranhos que possam causar lesões ao consumidor (Poças & Moreira, 2003). Salienta-se que numa doença transmitida por alimentos através da acção de agentes biológicos, o microorganismo patogénico ou a sua toxina têm de estar presentes no alimento. No entanto, esta não é a única condição para que um indivíduo sofra uma intoxicação, é igualmente necessário que: O microrganismo patogénico se encontre em quantidade suficiente para causar uma infecção ou para produzir toxinas; Ana Cristina de Sousa Leite 18 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 O alimento seja capaz de sustentar o crescimento dos microrganismos patogénicos; O alimento permaneça na zona de perigo de temperatura por tempo suficiente para que o microrganismo se multiplique e/ou produza a toxina. O indivíduo ingira uma quantidade suficiente do alimento de modo a ultrapassar o seu limite de susceptibilidade (dose infectante). A susceptibilidade, referida no último ponto da lista anterior, pode variar significativamente de indivíduo para indivíduo. Por exemplo, pessoas com sistema imunitário deficiente (crianças, idosos, pessoas que sofrem de desnutrição, etc.) serão infectados por uma dose infectante menor quando comparadas com outras pessoas consideradas saudáveis (Cribb, 2011). 2.3.2 Classificação das doenças transmitidas por alimentos As doenças transmitidas por alimentos são classificadas em infecções, intoxicações ou infecções mediadas por toxina, dependendo do modo de actuação do agente causador da doença no tracto intestinal. Infecção transmitida por alimentos é uma doença que resulta da ingestão de alimentos que contenham microrganismos vivos prejudiciais à saúde, como por exemplo, Salmonella, Shigella, Bacillus cereus, vírus da hepatite A entre outros (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003). As intoxicações podem ser causadas por toxinas que estejam presentes no alimento ingerido, mesmo que os microrganismos que lhe deram origem tenham sido eliminados. Por norma estas toxinas não possuem odor ou sabor, não sendo detectáveis organolepticamente a sua presença nos alimentos. Este é o caso, por exemplo, das toxinas produzidas por Clostridium botulinum, a enterotoxina de Staphylococcus e as micotoxinas (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003). As causas mais relevantes de intoxicações alimentares estão associadas a: Consumo de alimentos crus (carne, peixe, marisco, leite); Manipulação de alimentos por operadores que não respeitem as regras de higiene ou que estejam infectados; Lavagem insuficiente dos alimentos; Higienização insuficiente dos utensílios; Armazenamento prolongado dos alimentos; Reaquecimento insuficiente de alimentos cozidos; Contaminação cruzada entre alimentos crus e cozinhados; Desrespeito pela cadeia de frio, as falhas de controlo dos alimentos na câmara de refrigeração (por exemplo: temperatura, inexistência de termómetro no interior da Ana Cristina de Sousa Leite 19 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 câmara de frio, desrespeito pela data limite de consumo, localização por tipo de alimento); Utilização de alimentos contaminados, entre outros (Paraíso, 2005). Quanto às infecções mediadas por toxinas, a produção da toxina ocorre após a ingestão do alimento, quando este possui uma determinada quantidade de microrganismos patogénicos, capazes de produzir toxinas quando ingeridos. Entre os microrganismos que podem ocasionar este tipo de situações incluem-se o Vibrio cholerae e o Clostridium perfiringen (Antunes & Baptista, 2005). Exemplos de doenças mediadas pela ingestão de alimentos contaminados por agentes patogénicos ou por substâncias tóxicas são por exemplo doenças gastrointestinais agudas de aparecimento brusco e evolução rápida. Estas manifestam-se algumas horas após a ingestão dos alimentos contaminados e pode durar até sete dias. Os sintomas mais frequentes são dor abdominal, diarreia, vómitos e nalguns casos febre e dores de cabeça (May, 2005). 2.4 Legislação referente a Higiene e Segurança Alimentar A preocupação com a aplicação de regras que protejam os consumidores de potenciais doenças associadas aos alimentos não é actual. Historicamente há registos que denotam preocupações com as normas alimentares. Foi ao longo do século XIX que surgiram as primeiras leis alimentares gerais e foram estabelecidos sistemas básicos de controlo alimentar. No início do século XX, as associações ligadas ao comércio de alimentos começaram a tentar facilitar as trocas de bens sugerindo a harmonização de normas. Apenas em 1963 se gerou um corpo intergovernamental (comissão), que após reformulações das normas, elaborou o Codex Alimentarius (WHO & FAO, 2002; WHO & FAO, 2002). O Codex Alimentarius é um programa misto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) que estabelece normas de segurança dos alimentos que servem de referência ao comércio internacional dos géneros alimentícios (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003). Este documento já sofreu algumas alterações tendo, a última versão sido apresentada em 2003. O Codex Alimentarius é, de facto, um documento reconhecido internacionalmente e uma referência base na legislação europeia em Higiene e Segurança Alimentar (Potes, 2005). Na Europa, no ano de 2000, a segurança alimentar foi analisada no Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos e transposto para o Regulamento (CE) nº 178/2002 2, que propôs a criação de uma Autoridade Europeia de Segurança Alimentar – European Food Safety Agency (EFSA) - responsável pela elaboração de pareceres científicos no âmbito da segurança alimentar, e que mais tarde estabeleceu a metodologia de uma política integrada de Segurança Alimentar (Potes, 2005). 2 Regulamento (CE) n° 178/2002 do Parlamento Europeu e da Comissao da Uniao Europeia, de 28 de Janeiro de 2002 Ana Cristina de Sousa Leite 20 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 A União Europeia (UE), no decorrer do ano 2004, procedeu à harmonização das normas gerais de higiene aplicadas aos géneros alimentícios com o intuito de reforçar a protecção da saúde humana e aumentar o grau de confiança dos consumidores. A legislação referente a aspectos de Higiene e Segurança Alimentar é vasta, no entanto salienta-se os Regulamentos nº 853/20043, nº854/20044 e nº 852/20045 do Parlamento Europeu. Para tomar o controlo da qualidade alimentar mais eficiente foram publicados os Regulamentos nº 853/2004, nº 854/2004 e o nº 852/2004 com o objectivo de uniformizar a legislação sobre a segurança e a qualidade dos alimentos na Europa. O Regulamento nº 853/2004 estabelece regras gerais de higiene dos géneros alimentícios de origem animal e o Regulamento nº854/2004 estabelece regras específicas de execução dos controlos oficiais de produtos de origem animal destinados ao consumo humano (PECUE, 2004). O Regulamento (CE) nº 852/2004 do Parlamento Europeu de 29 de Abril de 2004 estabelece as regras gerais destinadas aos colaboradores das empresas do sector alimentar no que se refere à higiene da produção e expedição dos géneros alimentícios. Este refere, ainda, a implementação de programas de Segurança Alimentar baseados nos princípios de HACCP. Certas empresas poderão ainda adoptar um Sistema de Gestão da Qualidade, SGQ, com o intuito de melhorar a eficácia das acções/processos da empresa. Este é estruturado em conformidade com a norma NP EN ISO 9001:2008 (CT80(APQ), 2008). A sua implementação não tem carácter obrigatório, sendo a sua adopção uma decisão estratégica da empresa. A adopção de um SGQ não invalida a ferramenta HACCP, pelo contrário, ambos se complementam quando devidamente implementados na empresa facilitando o controlo de qualidade e de segurança dos alimentos produzidos (Barendsz, 1998). A obrigatoriedade legal da existência de um sistema HACCP (Regulamento (CE) nº 852/2004) assim como da existência de mecanismos que assegurem a rastreabilidade (Regulamento (CE) nº 178/2002), mas ainda, as vantagens e necessidades de implementação de outros referenciais normativos associados às actividades do sector alimentar (Qualidade, Ambiente e Segurança no Trabalho) levaram ao desenvolvimento de um Sistema de Gestão de Segurança Alimentar (Paiva & Meneses, 2007). Este Sistema de Gestão de Segurança Alimentar é descrito através de requisitos da Norma NP EN ISO 22000:2005. Esta Norma apresenta uma abordagem perfeitamente alinhada com outros referenciais de gestão, que permite dar resposta às obrigações em termos de Segurança Alimentar aplicáveis às organizações que se encontram na cadeia alimentar ou que lhe dão suporte (Blanc, 2006). Na elaboração deste referencial foram definidos quatro elementos-chave que irão estar presentes 3 Regulamento (CE) n° 853/2004 do Parlamento Europeu e da Comissao da Uniao Europeia, de 29 de Abril de 2004 4 Regulamento (CE) n° 854/2004 do Parlamento Europeu e da Comissao da Uniao Europeia, de 29 de Abril de 2004 5 Regulamento (CE) n° 852/2004 do Parlamento Europeu e da Comissao da Uniao Europeia, de 29 de Abril de 2004 Ana Cristina de Sousa Leite 21 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 ao longo dos vários requisitos e que permitem uma boa interligação com outros elos da cadeia alimentar: Comunicação interactiva; A gestão do Sistema; Os programas pré – requisito; Os princípios de HACCP (CEN, 2005). Esta Norma é mais uma solução de certificação das empresas do sector alimentar para garantir a segurança dos produtos produzidos com maior rigor e tendo em conta toda a cadeia alimentar associada. Tal como outras normas ISO, também esta foi elaborada no sentido de poder ser auditável, sendo necessária a existência de registos e documentos que permitam a avaliação da conformidade dos requisitos do Sistema de Segurança Alimentar (Paiva & Meneses, 2007). Esta norma aponta-se como a evolução natural a seguir pelas empresas que pretendem garantir, com maior eficiência, o Sistema de Segurança Alimentar implementado, uma vez que pode ser auditável (Blanc, 2006). A título de comparação, estima-se que cerca de 90 a 95 % das intoxicações alimentares são devidas aos alimentos preparados em casa, restaurantes, lares, cantinas e que apenas 5 a 10% dos casos correspondam a produtos alimentares provenientes da indústria (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003). Assim, confirma-se que a legislação imposta para o manuseamento, conservação, acondicionamento e confecção de produtos seguros está a ser cumprida pela indústria e é eficaz. 2.5 Qualidade e Segurança Alimentar Qualidade e Segurança Alimentar apresentam-se muitas vezes como conceitos similares ou mesmo equivalentes, no entanto, apesar de intimimamente ligados, diferem entre si (Barendsz, 1998). Por segurança alimentar entende-se, vulgarmente, a inocuidade dos alimentos. Qualidade atende a este facto, mas também a um conjunto de requisitos mais lato. Assim, Qualidade é um conjunto de atributos de um alimento que o tornam preferido aquando da escolha por parte do consumidor. Estes atributos integram naturalmente a exigência de inocuidade ou segurança do alimento mas também satisfação relativa ao sabor, responder às qualidades nutricionais, à embalagem, à conservação, aparência entre outros critérios de satisfação dos consumidores (Araújo, 1999) Neste quadro, é fundamental promover a Qualidade, para que a oferta do mercado corresponda ao que mais preferem os consumidores sem, no entanto, confundir estes dois conceitos. É de salientar que o verdadeiro desafio que se coloca a todos nós, quer sejamos consumidores ou produtores é a procura incessante de uma qualidade cada vez maior e melhor (FIPA, 2002). Um produto seguro pode não ter qualidade, no entanto um produto de qualidade tem de ser seguro (Pinheiro, Baptista, & Alves, 2003). Assim, a segurança alimentar tem de abranger Ana Cristina de Sousa Leite 22 Segurança Alimentar CAPÍTULO 2 toda a cadeia alimentar, desde a produção de alimentos para os animais até ao consumidor final. Para tal, distinguem-se dois importantes instrumentos: o princípio da precaução e o sistema de alerta rápido responsável pela difusão de informação sobre riscos de origem alimentar que podem ameaçar os consumidores e sobre as medidas destinadas a minimizá-los ou mesmo, eliminá-los. Estes dois instrumentos são constituintes da ferramenta HACCP que permite garantir a qualidade dos alimentos (Boran, 2010). A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre como qualquer empresa do sector alimentar atende à segurança alimentar dos seus produtos. Para promovê-la a empresa implementou e mantém um conjunto de Boas Práticas de Higiene e Boas Práticas de Fabrico,e ainda, ferramentas como HACCP, as quais são integradas na Norma NP ISO 9001:2008, garantindo ainda o controlo de qualidade dos seus produtos. Note-se que a integração se faz ao nível de variados sub-processos do Sistema da Qualidade, entre os quais, o Controlo do Processo, o tratamento de não conformidades, a Estrutura Organizacional definida para a função Qualidade, etc. Em capítulos subsequentes discutir-se-á mais detalhadamente o Sistema de Controlo da Qualidade, o Sistema de Garantia da Segurança Alimentar e o padrão de ligação entre ambos. Ana Cristina de Sousa Leite 23 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 3 O Sistema de Gestão de Qualidade na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, Lda Por Qualidade entende-se o grau de satisfação dos requisitos específicos relativos a um conjunto de características inerentes ao produto ou serviço. O termo Qualidade pode ser utilizado com adjectivos tais como, medíocre, bom e excelente (Pires, 2007). Este conceito é relativo uma vez que depende da percepção de cada indivíduo, ou seja, é subjectivo. Os consumidores percepcionam qualidade como sendo um conjunto de características técnicas e/ou funcionais. Por exemplo, a assistência técnica, a aparência estética, a segurança de consumo, o preço, o custo do ciclo de vida. Têm, por outro lado, como determinante a garantia de qualidade que um determinado serviço ou produto pode oferecer (Capricho & Lopes , 2007). Para assegurar os objectivos de qualidade de um produto ou serviço as organizações implementam Sistemas de Gestão de Qualidade (SGQ), os quais enquadram subsistemas de controlo e monitorização, de garantia e de gestão propriamente dita. Estes sistemas por sua vez, e em determinados sectores industriais, estão intimamente ligados a outros, particularmente orientados para práticas específicas. Este é o caso típico da indústria alimentar onde um Sistema de Higiene e Segurança Alimentar imposto pela regulamentação vigente e em conformidade com as normas estipuladas pelo Codex Alimentarius é criado paralela e integradamente com o SGQ. Note-se que, de modo a garantir a melhoria da performance de ambos e a redução de custos das práticas requeridas por referenciais de melhoria contínua recomenda-se a sua integração (Pires, 2007). É, assim, comum que ambos os sistemas se integram, com o SGQ oferecendo uma base conceptual de ataque a problemas genéricos da produção e o Sistema de Segurança Alimentar uma disciplina cumulativa orientada para os requisitos do cliente em termos de segurança alimentar (Barendsz, 1998). A ferramenta de Higiene e Segurança Alimentar que se integra com o SGQ é Hazard Analysis and Critical Control Points - HACCP. Esta ferramenta pretende, essencialmente, identificar, quantificar e controlar todos os perigos associados à segurança alimentar do produto ou serviço que a organização presta. Esta ferramenta descreve-se em termos latos, no Regulamento nº 852/2004 o qual é obrigatório para todas as organizações da área alimentar. Para aplicação deve-se atender a um conjuto de Boas Práticas de Fabrico (BPF), Boas Práticas de Higiene (BPH) para além da Análise de perigos e controlo de pontos críticos (HACCP) completada com procedimentos de controlo e validação. HACCP e o seu enquadramento no SGQ da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre discutem-se com mais detalhe no capítulo que se segue. Na secção actual é dado espaço à análise da arquitectura do SGQ. Serão particularmente relevantes, neste enquadramento as funções determinantes ao nível da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre e vulgarmente objecto de melhoria durante o estágio. Ana Cristina de Sousa Leite 24 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre 3.1 CAPÍTULO 3 Sistema de Gestão de Qualidade Ao conjunto de medidas aplicadas pela empresa que dão confiança aos clientes e colaboradores que um nível aceitável de qualidade está a ser alcançado ao mínimo custo designa-se por Sistema de Gestão da Qualidade (Pearson & et al, 1968). Um Sistema de Gestão da Qualidade é um subsistema de gestão, consumindo recursos e atribuindo responsabilidades. Os objectivos de implementação de um sistema destes são: i. Definir uma abordagem sistemática às actividades que afectam a qualidade (concepção, assistência pós venda, etc.); ii. Privilegiar as actividades de prevenção e não confiar unicamente na inspecção, evidenciando assim que a qualidade está a ser alcançada (Duarte, 2011). Para haver gestão da qualidade é necessário atender às suas especificações: Qualidade da concepção; Qualidade de fabrico/prestação de serviço; Qualidade na utilização; Qualidade relacional (Pires, 2007; Karipidis & et al, 2008). Por qualidade da concepção designa-se uma medida relativa à forma como o projecto do produto incorpora as necessidades do consumidor (funcionais, técnicos). Qualidade de fabrico ou prestação de serviço é a forma como o produto ou serviço satisfaz as especificações. Qualidade na utilização designa a capacidade do produto/serviço desempenhar a tarefa que se espera dele. Qualidade relacional é a medida de eficácia dos contactos com o cliente. Após a interiorização e implementação destas medidas, a empresa considera-se capaz de oferecer qualidade nos seus produtos e serviços. Contudo, a maior parte das empresas fornecem produtos com baixa qualidade, pois não preenchem as expectativas e necessidades dos consumidores, ainda que todas pretendem a qualidade total (Duarte, 2011). Assim, para garantir a qualidade de produtos ou serviços é necessário promover um sistema que assegure a confiança nos fornecedores e no qual o cliente também se sinta seguro. É particularmente relevante medir a eficácia do sistema com base na percepção do cliente e, desta forma, enquadrá-lo como actor do SGQ (Juran & Gryna, 1991). Uma vez que o SGQ envolve a definição de um quadro de monitorização da performance, este está facilmente enquadrado no âmbito das ferramentas de Gestão disponíveis por parte das organizações em geral. Ora neste contexto, é por demais evidente a necessidade de uma forte actividade de monitorização, mas também da produção de modo a que o desiderato do sistema esteja a ser obtido. A garantia assume-se como aspecto fulcral aqui, uma vez que ela formaliza essa evidência, estando naturalmente integrada no sistema de gestão e estratégia de negócio (Pires, 2007). Tendo como finalidade satisfazer com maior eficácia as necessidades dos seus clientes relativamente aos seus produtos e serviços a Fábrica de Pastelaria S. Silvestre decidiu Ana Cristina de Sousa Leite 25 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 certificá-los implementando a norma NP EN ISO 9001:2000, entretanto substituída pela NP EN ISO 9001:2008. A edição de 2008 da NP EN ISO 9001 não introduziu, retirou ou alterou os requisitos definidos na edição de 2000, tendo apenas introduzido clarificações. É de salientar que após tomar conhecimento das clarificações introduzidas, identificou-se eventuais diferenças de interpretação, avaliando-se o impacto dessas diferenças na aplicação da Norma e introduzindo correcções quando necessário. 3.2 A Norma NP EN ISO 9001:2008 Conhecer as necessidades e expectativas dos clientes e fornecer, de modo sistemático e consistente, serviços que vão ao encontro das suas expectativas é a base fundamental da sustentabilidade das organizações e o objectivo da NP EN ISO 9001:2008. Este conjunto de ferramentas dota as organizações de um sistema de gestão passível de ser avaliado de modo independente, obtendo a confiança nas suas práticas de gestão e o reconhecimento global (APCER, 2010). A NP EN ISO 9001:2008 centra-se na implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade. Esta implementação deve decorrer de uma decisão estratégica da organização em que o envolvimento e o compromisso da gestão de topo no sistema são fundamentais. A concepção e implementação de SGQ são influenciadas pelo ambiente, necessidades variáveis, objectivos particulares, bem como pelos produtos que fornece, processos utilizados, dimensão e estrutura da organização. Este processo pode ser lento mas origina valor acrescentado para a organização. A dinâmica de melhoria contínua introduzida na Norma tem por objectivo dotar as organizações da capacidade de incrementar continuamente a eficácia do sistema (Pires, 2007). Pretende-se, ainda, que a NP EN ISO 9001:2008 seja compatível com outros referenciais de gestão, tais como a NP EN ISO 14001:2004 para a gestão ambiental e a Norma OHSAS 18001:2007 para sistemas de higiene e segurança no trabalho, sendo altamente recomendável e comummente usado. Assim, a integração e alinhamento destes diferentes sistemas numa organização é possível, sendo claramente benéfico. Quando existem pelo menos dois sistemas de gestão implementados estes devem estar integrados, de forma a possibilitar ganhos de eficácia e flexibilidade de todos os sistemas (APCER, 2010). A NP EN ISO 9001:2008 encontra-se suportada nos oito princípios da gestão da qualidade. Estes oito princípios foram desenvolvidos e acordados pela International Organization for Standardization (ISO) em meados dos anos 90, reflectindo o senso comum e o pensamento de muitos dos maiores especialistas mundiais da qualidade. Estes princípios resumem-se a: Focalização no cliente: as organizações dependem dos seus clientes e, consequentemente, deverão compreender as suas necessidades, actuais e futuras, satisfazer os seus requisitos e esforçar-se por exceder as suas expectativas. Ana Cristina de Sousa Leite 26 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Liderança: os líderes estabelecem unidade no propósito e na orientação da organização. Deverão criar e manter o ambiente interno que permita o pleno envolvimento das pessoas para se atingirem os objectivos da organização. Envolvimento das pessoas: as pessoas, em todos os níveis, são a essência de uma organização e o seu pleno envolvimento permite que as suas aptidões sejam utilizadas em benefício da organização. Abordagem por processos: um resultado desejado é atingido de forma mais eficiente quando as actividades e os recursos associados são geridos como um processo. Abordagem da gestão como um sistema: identificar, compreender e gerir processos inter-relacionados como um sistema, contribui para que a organização atinja os seus objectivos com eficácia e eficiência. Melhoria Contínua: a melhoria contínua do desempenho global de uma organização deverá ser um objectivo permanente dessa organização. Abordagem à tomada de decisão baseada em factos: as decisões eficazes são baseadas na análise de dados e de informações concretas. Relações mutuamente benéficas com fornecedores: uma organização e os seus fornecedores são interdependentes e uma relação de benefício mútuo potencia a aptidão de ambas as partes para criar valor (APCER, 2010). Ao interpretar a Norma, seja com o objectivo de desenvolver um Sistema de Gestão da Qualidade, ou com o fim de o auditar, estes princípios devem estar sempre presentes. A implementação de um SGQ pode ter origem em dois motivos distintos e primordiais: Decisão da gestão da organização (em que se incluem a procura de um melhor desempenho, minimização ou eliminação das consequências das falhas, entre outros). Imposição dos clientes, ou outras partes interessadas (Fey & Gogue, 1983). Para a implementação de um SGQ a organização deve gerir os seus processos utilizando a metodologia PLAN-DO-CHECK-ACT (PDCA), ou seja, planear – executar – verificar – actuar, de forma a obter os resultados desejados ou “produtos conformes”. Na Figura 3-1 representa-se um esquema exemplificativo da metodologia PDCA, sendo evidente o seu carácter acíclico associado ao objectivo de melhoria contínua (Barendsz, 1998). Ana Cristina de Sousa Leite 27 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Figura 3-1 – Representação esquemática da metodologia PDCA (adaptado de (APCER, 2010)). A metodologia PDCA é importante no sentido de: Definir as necessidades de competência – PLANEAR; Assegurar que os colaboradores têm as competências necessárias, através de recrutamento, formação ou outras acções – EXECUTAR; Analisar se existem indicações de problemas que possam ser atribuídos a questões de competência, os quais podem ser identificados em auditorias internas, na análise de Não conformidades e nas reclamações de clientes, entre outras – VERIFICAR; Implementar medidas para garantir que as competências necessárias são definidas e atingidas. Tal pode implicar um aumento da exigência dos requisitos de competência, fornecer formação, afectação de colaboradores a outras funções, simplificar processos, entre outras – ACTUAR (Barendsz, 1998). A documentação é sempre necessária no âmbito do SGQ, nomeadamente a nível de procedimentos, impressos e especificações. No entanto, o SGQ deve estar focalizado nos processos e resultados e não nos documentos. Estes são, apenas um meio para atingir aos resultados, ou seja, para demonstrar a capacidade de fornecer de modo consistente produtos e serviço que cumprem os requisitos. Para evidenciar que os resultados desejados estão a ser atingidos são necessários registos, como por exemplo, de temperatura, relatórios de análises microbiológicas, relatórios de auditorias, entre outras (APCER, 2010). A organização deve definir a estrutura da documentação usada no Sistema de Gestão da Qualidade e em todas as actividades associadas. Esta deve ser lógica, com conteúdos e linguagem indicados e assegurar coerência. Ou seja, não devem existir sobreposições ou lacunas nos conteúdos (Capricho & Lopes , 2007). A Figura 3-2 descreve uma estrutura de documentação para o SGQ de uma organização genérica. É evidente o carácter hierárquico onde se sequenciam diferentes níveis de Ana Cristina de Sousa Leite 28 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 responsabilidade e autoriedade. É também, clara a abordagem sistémica que permite ir dos desígnios estratégicos da organização até às actividades de actuação e monitorização concretas. Figura 3-2 – Estrutura da documentação de uma organização (adaptadoPires (2007)). No sentido de facilitar e uniformizar a preparação dos documentos é aconselhável que a organização crie regras apropriadas para o efeito. Assim, o âmbito do SGQ deve definir-se em função da natureza dos produtos da organização e dos seus processos de realização, do resultado da avaliação de risco, das considerações comerciais e dos requisitos dos clientes. Ou seja, todos os aspectos relativos aos critérios da qualidade devem ser descritos no Manual da Qualidade da organização (Capricho & Lopes , 2007). O Manual da Qualidade, MQ é definido pela NP EN ISO 9001:2008 como “um documento que especifica o SGQ de uma organização”. Este documento de nível superior descreve os elementos principais do Sistema de Gestão da Qualidade e a sua interacção e explica como a organização aborda os requisitos da norma definindo o campo de aplicação. Torna-se uma peça chave de comunicação sobre o SGQ, tanto ao nível interno da organização, como para partes externas interessadas ou outras partes a que a organização entenda por bem apresentá-lo. O campo de aplicação é definido no Manual da Qualidade, descrevendo os produtos e serviços fornecidos pela organização cujo SGQ se aplica. Este campo constará no certificado de conformidade, no caso da organização certificar o seu SGQ e será objecto de avaliação e validação no decurso da auditoria (Fey & Gogue, 1983). O MQ deve estar organizado de uma maneira lógica sendo constituído por uma parte onde se explicitam as secções introdutórias e uma segunda parte contendo todos os procedimentos do sistema. As secções introdutórias podem, ainda, incluir promulgação, instruções para os utilizadores, referências, definições, organização do manual (partes, secções, etc.), apresentação da empresa, descrição de produtos ou serviços, entre outros. Ana Cristina de Sousa Leite 29 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Após as secções introdutórias, o MQ deve estar dividido em capítulos um por cada requisito da norma NP EN ISO 9001:2008 facilitando assim, a comunicação entre organização e auditores externos ou outros elementos. A norma segue uma sequência de oito capítulos distintos: 1. Objectivo e campo de aplicação; 2. Referência normativa; 3. Termos e definições; 4. Sistema de Gestão da Qualidade; 5. Responsabilidade de gestão; 6. Gestão de recursos; 7. Realização do produto; 8. Medição, análise e melhoria. 3.2.1 Manual de Qualidade da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre - NP EN ISO 9001:2008 O Manual da Qualidade que descreve o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, implementado de acordo com a norma NP EN ISO 9001:2008 aplica-se a todos os seus colaboradores no planeamento, execução e verificação da realização do produto. No Manual da Qualidade estão definidos os requisitos do SGQ, a estrutura organizacional, a descrição e interacção dos processos incluídos no SGQ e referência aos procedimentos documentados estabelecidos. Assim, o MQ da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre segue a arquitectura acima listada (secção3.2). De seguida será apresentada uma breve análise da formalização deste documento. Este MQ é mantido actualizado de forma a traduzir as práticas adoptadas garantindo a qualidade do produto e a satisfação do cliente (Campos & Costa, 2011). As etapas de Apresentação da empresa e Organização já foram referidas muito sucintamente no Capítulo 1 Na Apresentação da empresa identifica-se a denominação social, a constituição (capital social, licença sanitária para funcionamento, número de registo veterinário), a forma jurídica, actividade da empresa, localização e contactos. Pretende-se, ainda uma descrição sucinta da evolução da empresa, mercado – alvo e recursos (secção 1.1). Por Organização pretende-se evidenciar o organograma da empresa e remete-se a descrição das funções e responsabilidades dos colaboradores da organização para o Manual de Funções. 3.2.1.1 Sistema de Gestão da Qualidade (Requisito 4 de NP EN ISO 9001:2008). Como requisitos gerais (requisito 4.1 de NP EN ISO 9001:2008) a organização deve estabelecer, documentar, implementar e manter um SGQ e melhorar continuamente a sua eficácia de acordo com os requisitos da norma. A NP EN ISO 9001:2008 diz que “A organização deve: Ana Cristina de Sousa Leite 30 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 a) Determinar os processos necessários para o sistema de gestão da qualidade e para a sua aplicação em toda a organização; b) Determinar a sequência e interacção para assegurar que tanto a operação como o controlo destes processos são eficazes; c) Assegurar a disponibilidade de recursos e de informação necessários para suportar a operação e a monitorização destes processos; d) Monitorizar, medir onde aplicável e analisar estes processos; e) Implementar acções necessárias para atingir os resultados planeados e a melhoria contínua destes processos.” Assim, como requisitos gerais existem os processos que são necessários à implementação do SGQ e que se encontram identificados no Mapa de Processos da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, o qual define também a sequência e interacção entre eles. Estes processos identificados são: - Gestão de Encomendas; - Compras; - Concepção e Desenvolvimento; - Produção e Fornecimento do Produto; - Gestão de Recursos; - Gestão do Sistema de Gestão da Qualidade; - Gestão da Informação; - Medição e Monitorização. Os critérios e métodos necessários à definição, implementação, funcionamento e controlo/monitorização destes processos estão definidos no sistema documental em procedimentos, instruções de trabalho, planos de controlo e modelos. Os recursos necessários à implementação e manutenção do SGQ são disponibilizados de acordo com as necessidades e após aprovação da Gerência. A identificação e caracterização de processos definem para cada um deles as entradas, saídas, processo de interacção e responsáveis (Campos & Costa, 2011). A interacção de processos de SGQ encontra-se evidenciada no mapa de processos do SGQ. Este mapa é esquematizado na Figura 3-3 que evidencia a sua integração. Ana Cristina de Sousa Leite 31 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Figura 3-3 – Mapa de Processos de SGQ (adaptado de Costa (2011)). Os processos do Sistema de Gestão da Qualidade iniciam-se com o pedido do Cliente (Processo: Gestão de Encomendas). Após recepção do pedido do cliente podem desencadearse os seguintes processos: Compras, Produção e Fornecimento do Produto, Gestão de Recursos e Concepção e Desenvolvimento. Com estes processos é possível atender a todos os dados necessários à identificação dos requisitos, alocação de recursos humanos, materiais, equipamentos e meios técnicos necessários à realização do produto e estabelecer os contactos necessários com o cliente para esclarecimento de quaisquer dúvidas existentes. A Concepção e Desenvolvimento de produtos pode ocorrer a partir de um pedido de cliente ou surgir por iniciativa interna. A interacção entre o processo de Gestão de Encomendas e Compras surge sempre que for identificada uma necessidade no âmbito da aquisição de meios de apoio à realização e/ou alocação de recursos materiais e/ou subcontratados. Os processos Gestão de Recursos, Medição e Monitorização e Gestão da Informação são considerados processos de apoio que funcionam com base na informação e necessidades dos restantes, introduzindo melhoria no sistema e satisfazendo as necessidades deles. A Medição e Monitorização avalia o grau de satisfação do cliente actuando desta forma no processo de Gestão de Encomendas e Produção e Fornecimento do Produto como fonte de informação para melhorar as metodologias adoptadas. Ana Cristina de Sousa Leite 32 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 A Gestão do SGQ contempla toda a parte de análise de dados/necessidades dos restantes processos e introduz melhoria no sistema através do estabelecimento de estratégias de melhoria e satisfação das necessidades dos restantes processos. A interacção entre os processos da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre está descrita na Tabela 3-1. Ana Cristina de Sousa Leite 33 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Tabela 3-1 – Interacção entre processos da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (adaptado de Costa (2011)). Processo/sub-processo Compras Concepção e Desenvolvimento Produção e Fornecimento do Produto Gestão de Encomendas Pastelaria Compras - Concepção e Desenvolvimento Distribuição Gestão de SGQ Gestão da Informação Medição e Monitorização X X X X Manutenção e Higienização X - X X X X X X X X X X - X X X X X X X X Pastelaria X - X X X X X Padaria X X X X X X Distribuição X - X X X X Manutenção e Higienização X X X X - X X X X X X X X X - X X X X - X X - X Gestão de Encomendas Produção e Distribuiçã o do Produto Padaria Gestão de Recursos Gestão de Recursos X X X Gestão de SGQ Gestão da Informação Medição e Monitorização Ana Cristina de Sousa Leite - X X X X X X X X X X X X X X X X X - 34 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Como Requisitos da documentação, requisito 4.2 de NP EN ISO 9001:2008, esta mesma norma cita: “A documentação do sistema de gestão da qualidade deve incluir: a) Declarações documentadas quanto à política da qualidade e aos objectivos da qualidade; b) um manual da qualidade; c) procedimentos documentados e registos, determinados pela organização como necessários para assegurar o planeamento, a operação e o controlo eficazes dos seus processos.” O SGQ da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre assenta numa estrutura documental com três níveis: estratégico, organizacional e operacional, segundo a hierarquia indicada na Figura 3-4. Figura 3-4 – Diagrama representativo da hierarquia dos três níveis de documentos (adaptado de Costa (2011)). Quando se fala de nível estratégico referem-se as indicações gerais da organização tanto a nível funcional como estrutural. Estas indicações servem de referência ao SGQ, tendo como suporte o Manual da Qualidade, os objectivos, a política da qualidade, a identificação dos processos, dos responsáveis da sequência produtiva e interacção entre eles. O nível organizacional descreve de forma integrada as disposições necessárias para cumprir os requisitos, sendo estas oficializadas nos procedimentos da qualidade, no manual de funções e no plano de HACCP, o qual se orienta para a função de garantia de Segurança Alimentar. Ana Cristina de Sousa Leite 35 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 No nível operacional, utilizam-se as instruções de trabalho (IT), fluxogramas que sintetizam e sistematizam sequencialmente as etapas necessárias para a execução de determinada tarefa, e como auxiliares no desenvolvimento de determinada acção utilizam-se impressos, documentos externos, normas, entre outros (Campos & Costa, 2011). Assim, o Manual da Qualidade (requisito 4.2.2 de NP EN ISO 9001:2008) tem por principal objectivo ser o documento de referência do Sistema de Gestão da Qualidade uma vez que define: Política da Qualidade; Os procedimentos de definição e revisão do Sistema propriamente dito, sobretudo a sua organização, meios e funcionamento; Responsabilidades dos departamentos e as suas interligações; Procedimentos que permitam à Fábrica de Pastelaria S.Silvestre evidenciar a garantia de qualidade dos seus produtos (Campos & Costa, 2011). O Manual da Qualidade tem ainda por funções servir de documento de referência a todos os colaboradores da empresa em matéria de qualidade e permite ter uma visão global do funcionamento da empresa. Como Requisito de documentação tem-se ainda o Controlo dos documentos e Controlo dos registos, sendo estes, respectivamente, os requisitos 4.2.3 e 4.2.4 de NP EN ISO 9001:2008 (APCER, 2010). No Controlo dos documentos pretende-se definir os mecanismos da distribuição e divulgação dos documentos da organização tentando garantir a sua acessibilidade, legibilidade, aptidão ao uso a que se destina e utilização das versões dos documentos actualizadas. Outro aspecto a controlar é a gestão do MQ, quer a sua elaboração, verificação, aprovação pela gerência, promulgação (incluindo as edições), revisão e distribuição interna na organização ou para entidades externas. Por Controlo dos registos pretende-se proporcionar a evidência da conformidade de produtos e serviços através de registos efectuados e do manuseamento eficaz do SGQ. Os registos são identificados, mantidos e acondicionados de forma a garantir a legibilidade e acessibilidade durante um período de tempo definido (Capricho & Lopes , 2007). 3.2.1.2 Responsabilidade da Gestão (requisito 5 de NP EN ISO 9001:2008) “A gestão de topo deve proporcionar evidências do seu comprometimento no desenvolvimento e implementação do sistema de gestão da qualidade e na melhoria contínua da sua eficáci.”,segundo NP EN ISO 9001:2008. A Gestão deve comunicar à organização a importância de satisfazer os requisitos dos clientes, dar o seu parecer na política da qualidade, assegurar o cumprimento dos objectivos da qualidade, garantir a disponibilidade dos recursos, focalizar-se nas necessidades e expectativas dos clientes, atender ao planeamento da Gestão da Qualidade (Longo, 1996). Ana Cristina de Sousa Leite 36 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 Para assegurar que as necessidades e expectativas do cliente são determinadas com a intenção de atingir a sua satisfação, para tal são enviados questionários de avaliação de satisfação de forma a identificar os requisitos explícitos e implícitos, que posteriormente são convertidos em especificações para a realização do produto (Barendsz, 1998). O planeamento da Gestão da Qualidade é realizado para atender aos objectivos específicos da qualidade definindo-se a sequência e timing das acções necessárias. Quanto ao requisito 5.5 de NP EN ISO 9001:2008 Responsabilidade, Autoridade e Comunicação, pretende-se que a gestão de topo evidencie as responsabilidades e a autoridade definida para cada cargo, as comunique à organização e ainda, que assegure o estabelecimento de processos de comunicação apropriados para que a informação seja transmitida com segurança (APCER, 2010). O requisito 5.6 de NP EN ISO 9001:2008 pretende a Revisão pela gestão do SGQ, sendo este processo um mecanismo de melhoria contínua, uma vez que assegura que este se mantém apropriado, adequado e eficaz. Assim, em intervalos de tempo planeados, a revisão de SGQ deve incluir a avaliação de oportunidades de melhoria e as necessidades de alterações ao Sistema de Gestão da Qualidade, incluindo a política e os objectivos da qualidade, integrando no Sistema conhecimento extraído (CT80(APQ), 2008). 3.2.1.3 Gestão de Recursos (requisito 6 de NP EN ISO 9001:2008) Pretende-se, neste requisito, assegurar os recursos necessários para garantir que o SGQ atinja os seus objectivos e que as necessidades dos clientes sejam satisfeitas. Os recursos aqui envolvidos podem incluir recursos humanos, tecnologia/equipamento e recursos financeiros associados, não só à gestão dos processos de realização de produto, mas também à auditoria interna, à acção correctiva, à revisão do sistema, entre outros (CT80(APQ), 2008). O requisito relativo a Recursos Humanos tem por função assegurar as competências das pessoas que realizam trabalho que podem afectar a qualidade do produto. Assim, é importante que a organização determine a competência necessária para os colaboradores e que avalie continuamente se as competências são asseguradas, providenciando formação ou outras acções eficazes para garanti-la (APCER, 2010). Na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre efectua-se a qualificação dos colaboradores tendo em conta dois factores distintos: Cada função tem a sua descrição das actividades exercidas, os requisitos mínimos e requisitos complementares, que correspondem aos critérios a serem cumpridos. No verso do documento o colaborador enumera as actividades para as quais se sente apto a desempenhar e rubrica responsabilizando-se pela realização das mesmas. O responsável pelo departamento determina se o colaborador é capaz de cumprir integralmente as actividades sem ajuda rubricando o documento no campo responsável pelo departamento (Campos & Costa, 2011). Ana Cristina de Sousa Leite 37 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 A empresa proporciona, ainda, várias formações aos colaboradores com o intuito de aumentar ou reforçar as suas competências, garantir que os objectivos da qualidade são compreendidos por todos e que o trabalho em equipa permite atingi-los. A organização deve, ainda, garantir que há uma infra-estrutura (sistema de instalações, equipamentos e serviços necessários para o funcionamento) adequada para atingir a conformidade do produto. Neste quadro a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre desenvolveu um plano de manutenção dos equipamentos com o intuito de melhorar o seu funcionamento. Outro factor relevante é o ambiente de trabalho que pode afectar a qualidade do produto, portanto a organização deverá definir os parâmetros apropriados para o seu controlo. 3.2.1.4 Realização do produto (requisito 7 de NP EN ISO 9001:2008) O objectivo de requisito 7 de NP EN ISO 9001:2008 é garantir que os processos associados à realização do produto são planeados e desenvolvidos, identificando os que lhe estão associados, necessários para processar produto conforme, de modo consistente. Assim, são definidos critérios para operar e planear cada um dos processos do SGQ (CT80(APQ), 2008). Com o objectivo de satisfazer os requisitos dos clientes relativamente a produto ou serviço tem de se ter em consideração os Processos relacionados com o cliente, requisito 7.2 de NP EN ISO 9001:2008. É essencial que a organização compreenda claramente os requisitos do produto que fornece, resolvendo quaisquer ambiguidades ou conflitos que impeçam o comprometimento em fornecer o produto. Para tal, devem existir mecanismos de comunicação eficazes com os clientes em todas as fases de produção e fornecimento do produto (Capricho & Lopes , 2007). O requisito 7.3 de NP EN ISO 9001:2008 trata da concepção e desenvolvimento de um produto a ser fornecido, quando as necessidades e expectativas dos clientes são definidas com base no desempenho ou funcionalidade esperada, e precisam de ser traduzidas num conjunto de características do produto que são realizadas pela organização. Assim, na fase de Concepção e desenvolvimento de produtos tem de se analisar e identificar todos os requisitos (do mercado, do produto, legais e regulamentares) para a sua elaboração e averiguar se durante o processo foram respeitados todos os critérios que permitem a sua obtenção (Longo, 1996). Ainda no âmbito da Realização de produto existe a etapa de Compras (requisito 7.4 de NP EN ISO 9001:2008). Nesta pretende-se assegurar que o produto comprado está conforme com os requisitos de compra especificados e que os fornecedores são seleccionados e avaliados de acordo com a sua aptidão para fornecer produto conforme. Assim, torna-se importante comunicar ao fornecedor o se pretende comprar e ainda, verificar se o produto recebido está conforme o pedido. A relação de fornecedor – organização deve ser de confiança (APCER, 2010). Ana Cristina de Sousa Leite 38 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre procede a uma avaliação contínua dos seus fornecedores qualificando-os. Nesta, toda a informação relativa à avaliação do fornecimento recepcionado fica registada no sistema informático (software SIM!PAN). No requisito 7.5 da NP EN ISO 9001:2008 referente a Produção e Fornecimento do Serviço pretende-se que os processos e operações sejam efectuados de forma controlada garantindo, assim, que a empresa tem capacidades de gerir os parâmetros dos processos e concretizar produtos conformes (Campos & Costa, 2011). Para a Validação dos Processos de Produção e de fornecimento do serviço (requisito 7.5.2 de NP EN ISO 9001:2008) deve-se determinar qual o resultado planeado que não pode ser verificado através de monitorização ou medição subsequente e assegurar que os processos são válidos e atingem resultados. A estes processos atribui-se a designação de “processos especiais”. Na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre existe apenas um processo deste género sendo ele a Higienização de equipamentos e instalações, o qual é validado pelo acompanhamento do sistema de HACCP. Salienta-se, novamente, a importância do papel da ferramenta HACCP. Pretende-se ainda garantir a identificação do produto, seus constituintes e/ou lote de produção e o seu estado de verificação, bem como os critérios a utilizar e a extensão em que os produtos e processos devem garantir a rastreabilidade pelo requisito 7.5.3 de NP EN ISO 9001:2008 referente a Identificação e rastreabilidade. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre realiza a identificação dos seus produtos e do seu estado de conformidade, sendo esta identificação assegurada desde a recepção da matéria – prima até ao produto final pelo software SIM!PAN. Aquando a recepção do produto são introduzidos os dados na aplicação e imprimida uma etiqueta de identificação interna que é colada na embalagem. Quando o produto já foi elaborado mas ainda se encontra em cru e acondicionado em tabuleiros, são atribuídos por tabuleiro kanbans6 identificativos por código de barras, que se introduzem no sistema informático (Campos & Costa, 2011). Por Propriedade do cliente (requisito 7.5.4 de NP EN ISO 9001:2008) pretende-se que ocorra protecção de elementos da propriedade do cliente quando estes são disponibilizados para incorporação no produto. Assim, a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre compromete-se a cuidar da propriedade do cliente (ex: fotografia ou desenho) e constitui uma Não conformidade no caso de perda, dano ou outra situação de uso inapropriado, não desprezando o contacto com o cliente em questão (Barendsz, 1998). O requisito 7.5.5 de NP EN ISO 9001:2008 referente a Preservação do produto pretende garantir a conformidade do produto em todas as fases dos processos desde o 6 kanbans são cartões em polietileno onde consta um código de barras único, o número do kanban, o nome da empresa. Estes cartões por terem códigos de barra podem ser lidos através de um dispositivo de luz infravermelha. Os dados lidos por este dispositivo são registados na aplicação no computador. Através deste procedimento é possível associar os códigos dos kanbans a produtos elaborados que já têm o seu histórico, matéria prima entre outros, registados na aplicação SIM!PAN. Ana Cristina de Sousa Leite 39 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 processamento interno até à entrega e ainda, por um período subsequente de tempo acordado (por exemplo, o prazo de validade). O último requisito deste capítulo é relativo ao Controlo dos Equipamentos de Monitorização e de Medição (requisito 7.6 de NP EN ISO 9001:2008) e tem o intuito de averiguar que qualquer equipamento usado para a monitorização ou medição da conformidade do produto está apto a fornecer resultados válidos (APCER, 2010). 3.2.1.5 Medição, Análise e Melhoria (requisito 8 de NP EN ISO 9001:2008) Neste oitavo e último requisito da NP EN ISO 9001:2008 solicita-se que se assegure o planeamento e implementação dos processos de monitorização, medição, análise e melhoria. Na Fábrica de Pastelaria S .Silvestre implementou-se processos de monitorização, medição e análise usando a documentação suporte de “Acompanhamento de Objectivos da Qualidade e Processo” para demonstrar a conformidade do serviço e do SGQ. Assim, para a Monitorização e Medição tem de se ter em consideração quatro diferentes requisitos: a) Satisfação do Cliente; b) Auditoria Interna; c) Monitorização e Medição dos Processos; d) Monitorização e Medição dos Produtos. Na Satisfação do Cliente pretende-se que a organização monitorize toda a informação relativa à percepção do cliente quanto ao cumprimento dos seus requisitos. A Fábrica de Pastelaria S. Silvestre sustenta a monitorização da informação relacionada com a satisfação e/ou insatisfação dos seus clientes através de uma análise de indicadores de reclamações, volume de vendas e fidelização. Envia, também, um questionário através do Departamento da Qualidade para uma amostra de clientes activos e para os clientes que tenham efectuado reclamações no decurso do ano anterior. Os resultados relativos a este questionário são, posteriormente, analisados na reunião de revisãodo SGQ (Campos & Costa, 2011). Com a Auditoria Interna pretende-se que ocorra o planeamento e execução de forma sistemática de auditorias internas para averiguar se o SGQ cumpre os requisitos por ela especificados e se estes se encontram em conformidade com os requisitos da norma de referência (Capricho & Lopes , 2007). A Monitorização e Medição dos Processos é levada a cabo para assegurar que os processos de realização do produto estão aptos a produzir em conformidade e que os outros processos do SGQ demonstram capacidade contínua para atingir os resultados planeados. Na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre esta etapa é realizada tendo por base a análise trimestral de indicadores como forma de os medir e monitorizar assegurando, assim, o cumprimento dos requisitos do cliente, conformidade do sistema da qualidade e melhoria contínua. A Monitorização e Medição dos Produtos é o processo que permite garantir, de forma sistemática,ao cliente que o produto cumpre todos os requisitos durante a realização e, Ana Cristina de Sousa Leite 40 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 sobretudo, antes da entrega ou fornecimento. Nesta âmbito, a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre tem definidas tabelas de monitorização e instruções de trabalho, em etapas apropriadas do processo de realização do produto, actividades de monitorização e medição das características do produto. Para além desse, disponibiliza-se aos colaboradores a formação, informação e os recursos necessários para executar o produto e realizar as actividades de monitorização e medição requeridas (APCER, 2010). Outro requisito da norma de referência é o Controlo do Produto Não Conforme, que visa certificar que em todas as fases de processo de realização são tomadas acções para que o produto não conforme não siga o processo normal nem possa ser inadvertidamente fornecido ao cliente (CT80(APQ), 2008). O tratamento do produto não conforme definido pela Fábrica de Pastelaria S.Silvestre tem por objectivo impedir que este seja fornecido ou utilizado, tendo a metodologia utilizada por base procedimentos da qualidade dos quais se referem a identificação, a documentação, a análise, a decisão e a documentação. No requisito 8.4.referente a Análise de dados pretende-se que a organização transforme os dados em informação apropriada à tomada de decisão, identificação de tendências e oportunidades de melhoria. Numa perspectiva de análise da eficácia do SGQ, a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre faz-se o acompanhamento dos objectivos da qualidade e processos contendo informação sobre Indicadores de Qualidade, de Processo, Reclamações, Inquéritos aos Clientes, Avaliação de Fornecedores e Não conformidades. Os dados compilados são, de seguida, analisados na reunião de revisão do SGQ e como resultado desta análise são estabelecidas acções preventivas (Campos & Costa, 2011; Cima, 2006). Como oportunidades de Melhoria (requisito 8.5 de NP EN ISO 9001:2008) tem-se os requisitos de Melhoria Contínua, Acções Correctivas e Acções Preventivas. No requisito associado a Melhoria Contínua pretende-se promover uma filosofia de melhoria contínua dentro da organização e aumentar a sua capacidade para cumprir os requisitos (Rezaei & et al, 2011). Na Fábrica de Pastelaria S. Silvestre assegura-se este requisito através da Política da Qualidade, dos Objectivos da Qualidade, da análise dos resultados das Auditorias, da análise dos resultados das Acções Correctivas e Preventivas, e da análise de Indicadores e para Revisão de SGQ (Capricho & Lopes , 2007). Através de Acções Correctivas a organização analisa as causas das Não conformidades ocorridas e toma acções para evitar a sua repetição. Por norma, estas acções são controladas e geridas a partir do tratamento de Não conformidades e/ou relatório de acção correctiva. As Acções Preventivas são postas em prática pela organização quando se aplicam metodologias adequadas à identificação de potenciais Não conformidades e desencadeiam-se acções que evitem a ocorrência das mesmas. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre identifica as acções preventivas apropriadas para eliminar as causas de potenciais Não conformidades e prevenir a sua ocorrência utilizando um procedimento que define os requisitos que as permitem identificar, bem como as suas causas, determinar e suportar a implementação de acções preventivas e analisar os seus resultados e determinar a sua eficácia. Ana Cristina de Sousa Leite 41 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 O Manual da Qualidade é um documento da empresa que todos os elementos devem conhecer e interiorizar para que os requistos aqui descritos sejam os validados quotidianamente. A sensibilização e responsabilização dos colaboradores tem sido uma constante na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre com o intuito de melhorar os procedimentos e serviços prestados promovendo a melhoria contínua. No seguimento de melhoria contínua, a empresa tem utilizados alguns métodos mais criteriosos da norma NP EN ISO 22 000 que se dedica inteiramente a processos do sector alimentar e complementa, em alguns aspectos, a NP EN ISO 9001:2008. No entanto a empresa ainda não a implementou por completo. A certificação da empresa tendo em conta a norma NP EN ISO 22 000 é um objectivo que se pretende atingir, tendo sido tomadas algumas atitudes nesse sentido. A elaboração de um manual adoptado a processos e serviços da empresa e uma acção de formação para alguns dos colaboradores foram efectuados no sentido de dar a conhecer esta norma aos colaboradores e perceber se a sua implementação na empresa constitui um passo decisivo na sua estratégia. No entanto, factores económicos, entre outros impedem a empresa de avançar para mais uma certificação no sector alimentar, neste momento. Uma ferramenta que é utilizada na empresa, e que merece ser realçada neste relatório por ser um objectivo específico do estágio, é Hazard Analysis and Control Critical Points – HACCP, ou seja, Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos, esta ferramenta enquadrase no Sistema de Gestão da Qualidade da empresa. 3.2.2 Ligação entre SGQ e HACCP O Sistema de Gestão da Qualidade surge como estratégia da empresa com o intuito de transmitir o máximo de confiança sobre produtos e seviços aos clientes. Já o HACCP uma ferramenta descrita no pacote legislativo Regulamento nº 852/2004, Regulamento nº 853/2004 e Regulamento nº 854/2004 elaborado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, o que a torna uma medida obrigatória por lei (Surak, 2009). A ferramenta HACCP, sucintamente, é um conjunto de medidas de identificação, verificação e controlo que permite, através de conhecimento pormenorizado do processo de fabrico, identificar os perigos associados às diferentes etapas do processo, classificá-los, preveni-los, minimizá-los e eliminá-los quando possível (FAO, Food Quality and Safety Systems (HACCP)- A Training Manual on Food Hygiene and the Hazard Analysis and Critical Control PointSystem, 1998). No capítulo que se segue (Capítulo 4) dá-se especial ênfase à ferramenta HACCP e ao plano de HACCP na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Por esta breve e resumida definição de HACCP conseguimos decifrar que esta ferramenta se enquadra plenamente num SGQ, uma vez, que tem como objectivo a produção de segurança para o consumidor e a evidência de que ela é alcançada. Ora, como já se referiu o consumidor actual preocupa-se significativamente com segurança alimentar transformando-a numa exigência social. Assim, as empresas que queiram produzir com qualidade devem constitui este facto como um elemento importante de qualidade do produto (Figueiredo & Neto, 2001). Ana Cristina de Sousa Leite 42 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 HACCP é uma exigência legislativa que se integra num SGQ a nível organizacional (ver Figura 3-4), uma vez que é neste patamar que se incluem todos os procedimentos da qualidade e manuais de funções, ou seja, toda a documentação que, de forma integrada, permite designar quais os métodos e disposições são utilizados para que o produto seja elaborado em conformidade e cumpra os requisitos de qualidade (Cima, 2006). 3.3 Trabalho realizado no âmbito de melhoria de SGQ No âmbito deste estágio existe um objectivo geral que se prende com a aquisição de competências e experiência na área de qualidade e segurança alimentar através da norma NP EN ISO 9001:2008 no sector alimentar e a ferramenta HACCP. Após a compreensão do que se pretende com um alimento seguro e um alimento com qualidade descritos no segundo capítulo deste relatório, ocorre a necessidade de proceder à sua integração no sistema de gestão e produção da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Numa fase inicial a consulta do Manual de Qualidade, do Plano de HACCP e do Código de Boas Práticas de Higiene e de Fabrico é imprescindível para compreender quais os requisitos e aspectos aos quais se deve dar atenção para que o processo produtivo consiga manter um produto seguro e de qualidade. No entanto, só depois de conhecer os diversos processos da empresa é que se consegue compreender a transposição para os modelos da gestão documental do SGQ. Em relação ao SGQ o trabalho desenvolvido baseia-se, essencialmente, em aspectos de melhoria referentes ao requisito 8 de NP EN ISO 9001:2008, Medição, Monitorização e Melhoria. Uma boa relação cliente-Fábrica de Pastelaria S.Silvestre é um critério que o Responsável de Gestão primordia, assim como a relação dos colaboradores e dos fornecedores face à empresa. Assim, para averiguar o grau de satisfação dos clientes e dos colaboradores foram elaborados questionários de satisfação distintos. A minha função foi essencialmente, distribuir, recolher os questionários dos clientes e dos colaboradores e tratá-los estatisticamente averiguando no final o grau de satisfação de ambos. No entanto, através destes questionários também foi possível determinar os aspecto a melhorar sob o ponto de vista dos colaboradores e dos clientes e, ainda, recolher algumas sugestões. A minha aprendizagem nesta etapa não foi uma questão de manipular dados para obtenção de resposta à questão inicial sobre satisfação. A real aprendizagem desta etapa foi o grau de importância que os colaboradores lhe atribuem por ser uma hipótese de exprimir a sua ideia e opinião mas também, o facto de conseguir retirar de um único questionário, com perguntas tão usuais, dados que possamos utilizar no quotidiano da empresa e que promovem melhoria contínua. Para determinar se o SGQ está conforme com os requisitos desta norma internacional e com os requisitos estabelecidos pela organização e se está implementado e mantido com eficácia é necessário realizar auditorias internas. O processo de auditoria interna elaborado não se assemelha a uma auditoria intensa a todos os requisitos da qualidade. Trata-se de uma auditoria com suporte num Check-list onde existem todos os parâmetros a controlar das Ana Cristina de Sousa Leite 43 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 diferentes áreas de produção em que se deve classificar como conforme ou não conforme. No caso de não conforme, lista-se o motivo ou a infracção, institui-se a acção correctiva, acordase um prazo para esta ser corrigida e por fim, terminado o prazo, averigua-se se esta se mantém ou foi resolvida. É um processo aparentemente simples, mas envolve o conhecimento correcto dos requisitos da qualidade e como deveriam estar correctamente implementados, muita atenção na observação, consciencialização na atribuição de Não conformidade, a prescição correcta, clara e explícita da acção correctiva e acompanhamento eficaz para que não se volte a repetir. Estas auditorias internas elaboradas são essenciais numa empresa porque é através desta que se descobrem ou se determinam erros e lacunas que podem levar à produção de produto não seguro. No entanto, também existe nestas auditorias uma acção preventiva associada que pode ser fulcral na elaboração de produto seguro, entre outros. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre é também auditada por outras duas diferentes formas. A primeira auditoria é realizada por um auditor externo escolhido pela própria empresa e são explorados minuciosamente todos os requisitos da norma NP EN ISO 9001:2008 e a legislação aplicável ao sector alimentar e designa-se de auditoria interna controlada; a segunda é uma auditoria externa que é realizada por um auditor da entidade certificadora. No período de estágio tive o privilégio de assistir às duas auditorias por parte dos diferentes auditores, averiguei os diferentes graus de significância para a empresa, uma vez que, na segunda estava em causa a renovação do certificado de qualidade que já se torna imprescindível. Esta experiência tornou-se um marco importante para a minha compreensão da importância da documentação e qual o propósito de determinados procedimentos. Na auditoria externa consegui fazer o paralelismo entre a experiência que tinha adquirido, os conceitos que tinha aprendido e sentir que a realização de todo o trabalho não tinha sido em vão, mas sim algo que é de facto importante para a empresa e consegui sentir-me realizada como colaborador da empresa. No seguimento das auditorias houve necessidade de realizar uma reunião com todos os colaboradores para expor se todos os objectivos da qualidade tinham sido atingidos e caso não o sejam a explicação das razões, os resultados dos questionários de satisfação dos clientes e dos colaboradores, os resultados das Não conformidades da auditoria externa, entre outros requisitos da qualidade, e a obtenção de feedback dos colaboradores. Esta reunião é sempre importante para colaboradores e entidade empregadora porque existe uma troca de informação e opinião que gera oportunidades de melhoria. Outro aspecto que também ajudou na interacção com os colaboradores da empresa foi no momento em que os ajudei a preencher os seus Curriculum vitae que eram importantes para diversos sectores da empresa como a parte de Recursos Humanos, mas também para as Acções de Formação. Tendo em conta o requisito Monitorização e Medição do produto surgiu a necessidade de controlar os pesos de certos produtos, salientando aqui os produtos mais vendidos. A maior parte dos colaboradores no processo de fabrico não considera que o peso do produto é um critério de exigência legislativa e/ou exigência contratual com o cliente, logo, não se sente responsabilizado. O que se pretende com este estudo é evidenciar a variabilidade do peso dos Ana Cristina de Sousa Leite 44 SGQ aplicado em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre CAPÍTULO 3 produtos produzidos, determinar os custos dela para a empresa e sensibilizar o colaborador para este aspecto. Este estudo apresenta-se detalhadamente no quinto capítulo deste relatório. Como a maioria dos colaboradores não dominava a importância deste estudo para a empresa, no inicio aquando das pesagens, não tomavam cuidado ao peso do produto e não davam importância às amostras que eram pesadas, mas quando surgiram os primeiros dados o chefe de produção consultou-os e realmente averiguou a discrepância que ocorria no processo produtivo. Note-se que, nesta fase todo o trabalho se orientou para a caracterização do padrão do processo e para a demonstração das causas especiais de variabilidade a ele inerentes, as quais manifestamente requerem amostragem e pesagem de modo aleatório. Por acompanhamento de controlo de peso de produtos deu-se a necessidade de análise de dados que conseguiu gerar informações importantes quantos aos produtos elaborados e permite desencadear uma série de sugestões e ideias para melhoria contínua de processos e produtos. Quanto aos restantes requisitos da norma realizei actividades de menor importância, como no requisito de Concepção e Desenvolvimento (7.3. de NP EN ISO 9001:2008) em que procedi ao preenchimento do modelo adequado de todos os produtos que eram novos na empresa. Em Requisitos da documentação (4.2 de NP EN ISO 9001:2008) procedi ao controlo de registos (temperaturas, higienização, manutenção), alterei estruturas de alguns modelos (manutenção de equipamentos, auditoria interna). Outra tarefa foi a avaliação das acções de formação (6.2.2 de NP EN ISO 9001:2008) que tinham sido ministradas durante o ano 2010. Todo o processo de atribuição de critérios de avaliação para as diferentes acções, a correcção de testes de avaliação somativa, avaliações por observação de comportamentos correctos aprendidos, entre outros aspectos ministrados em formação, foram elaborados. Posteriormente foi efectuado um tratamento dos dados recolhidos com o objectivo de averiguar se as formações foram eficazes, cumprindo assim mais um critério de qualidade. A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre como qualquer outra empresa necessita de estar actualizada quanto à legislação nacional e internacional que é alterada ao longo do tempo. Neste sentido uma tarefa que também me foi atribuída foi a actualização da lista de legislação relevante para este sector industrial e comunicação das alterações. Esta aprendizagem foi da máxima importância para a consciencialização da variabilidade de legislação aplicável ao sector alimentar e da importância das actualizações com o objectivo de cumprimento imediato da mesma. Ana Cristina de Sousa Leite 45 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 4 Hazard Analysis and Critical Control Points A ferramenta de Hazard Analysis and Critical Control Points - HACCP baseia-se na identificação dos perigos relacionados com a segurança alimentar para o consumidor que podem ocorrer ao longo da cadeia de transformação de produtos alimentares, na avaliação desses perigos e no estabelecimento de processos de controlo, para os perigos considerados significativos por forma a garantir a segurança dos alimentos. HACCP trata-se, assim, de um sistema preventivo de controlo alimentar cujo objectivo é garantir a segurança dos alimentos e a sua salubridade ao longo do processamento (Figueiredo & Neto, 2001). O sistema de HACCP não deve ser entendido meramente como um facilitador do cumprimento de requisitos legais, mas sobretudo como uma ferramenta de gestão de segurança alimentar à disposição das empresas e que possui um conjunto de benefícios associados. Dentro destes é possível salientar: O aumento da segurança do consumidor, decorrente da abordagem sistemática de identificação e análise de perigos que conduz à minimização da probabilidade de ocorrência de situações que possam pôr em causa a segurança do consumidor aquando do consumo de produtos que são processados pelo estabelecimento; O reforço da qualidade, na medida em que na restauração como na área alimentar em geral não se pode dissociar qualidade dos aspectos higieno-sanitários e de segurança alimentar associados aos produtos; A redução de custos operacionais, diminuindo a necessidade de destruição ou de reprocessamento do produto final por razões de segurança; O reforço da imagem do estabelecimento junto dos clientes, na medida em que esta metodologia transmite uma maior confiança ao consumidor relativamente à segurança alimentar dos produtos postos à sua disposição; A evidência de documentos relativos ao controlo dos processos no que se refere à segurança, permitindo demonstrar o cumprimento das especificações, bem como códigos de boas práticas e/ou legislação que do mesmo modo facilita a rastreabilidade no caso de ocorrência de um surto de intoxicação alimentar (ASQ & et al, 2002). No entanto, pode ocorrer dificuldades na implementação sendo necessário recorrer a acessorias externas (Azanza & et al, 2005). A implementação deste Sistema numa empresa ou organização que colha, armazene, transforme, produza ou distribua produtos alimentares, constitui uma condição obrigatória para que se possa proceder a um processo de Certificação de Qualidade segundo a Norma NP EN ISO 9001:2008 (Cima, 2006). 4.1 Pré-Requisitos do plano de HACCP Antes de implementar o sistema de HACCP numa linha de produção alimentar devem estar implementadas e estabelecidas medidas básicas de higiene e de fabrico para que o sistema se Ana Cristina de Sousa Leite 46 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 centre unicamente em etapas ou procedimentos que são críticos para a segurança dos alimentos. Todas estas medidas são designadas por pré–requisitos de HACCP e estão descritas na legislação comunitária (Vanne & et al, 1996). As Boas Práticas de Fabrico (BPF) e as Boas Práticas de Higiene (BPH) assim como o controlo microbiológico dos produtos, constituem um passo importante, pois representam prérequisitos a validar. As BPF têm em conta princípios definidos como procedimentos e os meios necessários para garantir um ambiente adequado à produção com qualidade razoável. Já as BPH ditam as medidas básicas de higiene que as empresas do sector devem seguir (Notermans, 1995). Os pré-requisitos fornecem as bases para uma efectiva aplicação de HACCP, pelo que devem ser operacionalizados previamente. Por norma, os pré-requisitos devem controlar os perigos associados a todas as áreas da empresa (serviços, pessoal, instalações e equipamentos), já o sistema HACCP deverá controlar os perigos associados directamente ao processo, ou seja, às etapas pelas quais os alimentos passam (desde a zona de confecção à de armazenamento ou distribuição) que revelem um grau de risco significativo (Araújo, 1999). Para decidir se o perigo para a segurança alimentar deve ser regido pelos pré-requisitos de HACCP ou pela própria ferramenta, deve seguir-se a hierarquia exemplificada na Figura 4-1. Perigos para a Segurança Alimentar Associados com etapas do processo Associados com a envolvente à unidade de produção Avaliação de risco HACCP Pré - requisitos Figura 4-1 – Diferenciação de perigos não significativos e significativos, e decisão sobre o respectivo controlo, através de prérequisitos ou do plano HACCP (adaptado de Declan (2002)). Os pré-requisitos mais frequentes a validar na área alimentar são: Requisitos gerais das instalações de fabrico; Requisitos gerais dos equipamentos e utensílios utilizados no fabrico; Ana Cristina de Sousa Leite 47 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Requisitos gerais das viaturas de transporte de mercadoria; Higiene das instalações, equipamentos, utensílios e viaturas de transporte; Higiene e saúde do pessoal de produção; Controlo de pragas; Controlo de resíduos alimentares; Controlo analítico – análises microbiológicas de matérias–primas, água de abastecimento, superfícies de trabalho e produto final; Manutenção preventiva dos equipamentos; Rastreabilidade dos géneros alimentícios; Qualificação dos fornecedores de matéria primas/ material de embalagem (ACIP, 2005). 4.1.1 Requisitos gerais das instalações de fabrico Este pré-requisito pretende definir os requisitos das instalações de forma a estas serem adequadas ao fim a que se destinam a estarem em boas condições de conservação e a assegurar os requisitos higieno-sanitários. Exemplo destes requisitos são o material de construção de pavimentos, tectos, portas e janelas, as áreas de laboração, o lay-out adequado dos equipamentos que permite assegurar a marcha em frente do produto. Por marcha em frente entende-se uma sequência produtiva em que não ocorrem retrocessos evitando assim a contaminação cruzada dos géneros alimentícios durante as diversas operações de fabrico (Araújo, 1999). 4.1.2 Requisitos gerais dos equipamentos e utensílios utilizados no fabrico Todos os equipamentos e utensílios no fabrico de produtos alimentares devem respeitar um conjunto de requisitos ao nível de desenho higiénico, tendo como principal objectivo reduzir ao mínimo qualquer risco de contaminação dos alimentos. Assim, os equipamentos devem ser concebidos no sentido de assegurar a ausência de contaminações por parte das partículas metálicas, resíduos de pintura, entre outros, permitirem uma limpeza adequada e serem termoresistentes (Baptista & et al, 2003). 4.1.3 Requisitos gerais das viaturas de transporte de mercadoria O transporte de géneros alimentícios (matérias – primas ou produto acabado) é considerada uma etapa fulcral de todo o processo de fabrico. Os veículos que transportem produtos que necessitem de temperaturas de refrigeração devem estar equipados com sistemas de frio, de modo a permitir que as temperaturas sejam controladas. Os produtos não devem assentar directamente no chão, devendo usar-se para o efeito estrados de material facilmente lavável. O veículo e os equipamentos aí presentes devem ser higienizados conveniente e frequentemente (Baptista & et al, 2003). Ana Cristina de Sousa Leite 48 Sistema HACCP 4.1.4 CAPÍTULO 4 Higiene das instalações, equipamentos, utensílios e viaturas de transporte Com o intuito de reduzir as contaminações físicas, químicas e microbiológicas dos produtos alimentares devem-se usar procedimentos de higienização eficazes. Assim, torna-se importante elaborar planos de higiene que deverão contemplar todas as práticas de higiene aplicados às instalações de fabrico, superfícies de trabalho, equipamentos e utensílios. Salienta-se ainda que para além da limpeza física deve-se proceder, de seguida à desinfecção (Costa, 2009). Limpeza física consiste na eliminação de partículas, restos de alimentos e resíduos. No entanto, nem sempre a limpeza física é suficiente e a permanência de microrganismos pode subsistir. Daí ser necessário desinfectar todos os equipamentos. Após as operações de higienização citadas é importante efectuar-se uma inspecção visual às instalações, considerada fundamental para comprovar a realização dos procedimentos definidos no plano de higiene. A título de exemplo é indicado em AnexoII um plano de higienização da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (FIPA, 2002). 4.1.5 Higiene e saúde do pessoal de produção O colaborador de uma indústria alimentar deve alinhar um conjunto de hábitos higiénicos diários elementares e eliminar ou corrigir alguns gestos pessoais do quotidiano. Assim, atitudes ou gestos como coçar a cabeça, limpar o nariz, esfregar os olhos são intoleráveis para estes manipuladores de alimentos, pois as mãos são um bom meio de contaminação. O colaborador deve, ainda, ter especial cuidado e controlar-se quando tem ataques de tosse ou espirros inesperados. Quando tal acontece, o colaborador deve colocar um lenço, de preferência descartável, sobre a boca e nariz e voltar a cabeça para que o ar expelido não afecte os alimentos. Assim, a higiene de quem manipula alimentos é extremamente importante para evitar as doenças transmissíveis pelos alimentos (Rosete, 2009). O colaborador também deve evitar ou mesmo renunciar a fumar devido aos microrganismos que podem ficar na sua saliva e lábios, mastigar pastilhas elásticas, comer ou beber no local de trabalho. Um outro factor reprimível é o simples gesto de molhar a ponta do dedo para passar as páginas de um livro ou de pegar numa folha de papel, sobretudo quando esta folha se destina a envolver alimentos (Saraiva & Baptista, 2003). Antes de iniciar a sua actividade o colaborador deve submeter-se a um exame médico e deve estar sob vigilância médica permanentemente, não podendo ser portador de doenças infecto-contagiosas como hepatite, gastrite ou tuberculose. Para se manter saudável é necessário conservar o corpo limpo, adquirir bons hábitos de higiene e manter uma atitude mental sã (ACIP, 2005). É de extrema importância que o manipulador de alimentos saiba que existem determinadas doenças que podem ser transmitidas através dos alimentos contaminados, como por exemplo intoxicações alimentares. Assim, o colaborador deve adquirir ou interiorizar hábitos e comportamentos de segurança higieno – sanitárias no tratamento de alimentos (USDA, 1999). Relativamente à higiene pessoal no local de trabalho os colaboradores devem lavar frequente e convenientemente as mãos, proteger as feridas e cortes com pensos apropriados e Ana Cristina de Sousa Leite 49 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 à prova de água, e luvas e, ainda, manter as unhas limpas e curtas, não envernizadas ou de gel e não usar adornos (relógio, anéis, fios, etc). Para uma lavagem eficiente das mãos o colaborador deve molhar bem as mãos com água, usar uma dose de sabonete germicida, esfregar as mãos, unhas e antebraços durante 20 a 30 segundos (com a ajuda de uma escova, limpar por baixo e à volta das unhas), enxaguar as mãos e antebraços com bastante água corrente e secar as mãos e braços com toalhetes de papel descartáveis (Rosete, 2009). Relativamente ao vestuário de trabalho este deve ser usado apenas no próprio local de trabalho e não fora das instalações. A roupa pessoal dever ser deixada no vestiário e nunca no local de preparação de alimentos. O cacifo deve ser dividido em dois compartimentos para que o manipulador utilize individualmente uma divisão para a roupa pessoal e a outra para a roupa de trabalho, evitando a contaminação desta (Rosete, 2009). O vestuário deve ser de preferência de cor clara, confeccionada com tecidos que facilitem a sua lavagem e desinfecção e cómodo para que o trabalhador se movimente bem nas diferentes tarefas. Os colaboradores da produção da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre seguem as premissas básicas atrás descritas. Assim, possuem farda de cor branca constituída por protecção de corpo (calças, t-shirt ou camisola, avental ou bata, manguitos em poliuretano quando necessário), calçado (sapatos ou socas confortáveis e antiderrapantes), protecção de cabeça (touca descartável ou em tecido) e, quando necessário, luvas (para manipular objectos quentes e descartáveis de látex para proceder à decoração de bolos, por exemplo) e máscara ( (FAO, 2002; ACIP, 2005). Um exemplo de cartaz apelativo para as condutas de higiene e boas práticas no sector alimentar encontra-se no AnexoII. 4.1.6 Controlo de pragas O controlo de pragas tem por objectivo principal prevenir a disseminação de doenças, evitar a contaminação dos alimentos e garantir a segurança do pessoal e dos consumidores. O controlo de pragas pode ser feito a dois níveis: i. Com objectivos preventivos; ii. Com objectivos de destrutição (Figueiredo & Neto, 2001). O controlo preventivo visa assegurar a ausência de pragas nas áreas de produção, armazenamento, através do cumprimento de certos procedimentos, como sejam portas de acesso ao exterior providas de mola de retorno e a existência de insectocutores junto das aberturas para o exterior. O controlo destrutivo elimina de imediato, a presa que penetrar na estação de isco. Tem de se ter em consideração que as estações de isco deverão estar devidamente identificadas, sinalizadas, numeradas e adaptadas para os tipos de pragas a combater, antídoto e número de telefone do Centro Anti-venenos (ACIP, 2005). Ana Cristina de Sousa Leite 50 Sistema HACCP 4.1.7 CAPÍTULO 4 Controlo de resíduos alimentares Os resíduos alimentares ou outros, não devem ser acumulados em locais onde são manipulados alimentos, devendo ser depositados em contentores próprios que possam ser fechados. Durante o processamento de alimentos devem ser removidos e recolhidos os diferentes tipos de resíduos. Para o efeito, deverão existir vários contentores estrategicamente colocados na unidade, devidamente identificados, para acondicionar diferentes tipos de lixos (cascas de ovos, resíduos alimentares, resíduos líquidos, cartão, vidro e plástico) (FIPA, 2002). 4.1.8 Controlo analítico – análises microbiológicas de abastecimento, superfícies de trabalho e produto final; matérias primas, água de O controlo analítico tem como objectivo avaliar os níveis de contaminação das matérias– primas, dos produtos e da água usada no fabrico bem como validar os planos de higienização. A empresa deve definir uma periocidade para o controlo analítico a efectuar a superfícies de trabalho e manipuladores, água de abastecimento, matéria primas e produto final. Os critérios de validação devem estar definidos, para que após a recepção dos boletins analíticos, o responsável pela qualidade os analise e verifique se existe algum desvio ao estabelecido. Caso se verifique um desvio devem ser determinadas as causas e proceder-se a medidas correctivas de modo a combater esta situação (May, 2005). Um exemplo de relatório de resultados de análises microbiológicas de produtos de pastelaria (pirâmide) é apresentado em AnexoIII. 4.1.9 Manutenção preventiva dos equipamentos As empresas devem ter um programa de manutenção preventiva eficaz para garantir que os equipamentos sejam mantidos em boas condições de trabalho. Deve-se elaborar um plano de manutenção onde constem todos os equipamentos da empresa que necessitem de manutenção periódica, os procedimentos e a frequência de manutenção, o pessoal responsável e subsequentemente proceder aos registos das operações de manutenção efectuadas. Todo o equipamento de monitorização, inspecção, medição e ensaio deve ser calibrado regularmente (Notermans, 1995). No AnexoIV apresenta-se um exemplo de um modelo de registo de manutenção elaborada para um determinado equipamento. 4.1.10 Rastreabilidade dos géneros alimentícios A rastreabilidade deve ser assegurada a montante (origem das matérias primas) e a jusante (destino de produtos finais), permitindo seguir o rasto de géneros alimentícios. Torna-se, assim, indispensável que os empresários do sector alimentar garantam o desenvolvimento de procedimentos adequados para retirar do mercado os géneros alimentícios susceptíveis de constituir um risco grave para a saúde dos consumidores. Ana Cristina de Sousa Leite 51 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Para assegurar a rastreabilidade deste tipo de produtos, sugere-se que os produtos fabricados sejam marcados com um número de lote para que se possa conhecer a origem das matérias primas a partir das quais foram elaborados. Sugere-se ainda, que deverá existir um registo de saída do produto onde conste o destino final do mesmo (Rosete, 2009). Este procedimento é levado a cabo na Fábrica de Pastelaria S.Silvetre. Inicia-se na recepção de matéria primas, em que a identificação do produto é introduzida no sistema informático. Por identificação do produto entende-se o seu nome, o nome do fornecedor assim como o lote fornecido por este, a data de recepção e a de validade. Quando se pretende iniciar a produção de um determinado produto é necessário ter em conta diversos passos para manter a rastreabilidade do produto o mais acessível possível. Esses passos são: 1. Na secção de produção abrir ordem de produção do produto pretendido, na aplicação informática. Através desta, tem-se acesso automático às quantidades de matérias primas necessárias; 2. No armazém de matérias primas dar “baixa” no sistema informático dos produtos necessários à confecção; 3. Após a elaboração do produto (pode ser no estado cru ou cozido) e acondicionado em tabuleiros, é-lhe atribuído um kanban identificativo que vai estar associado a todo o histórico anterior. O produto segue para refrigeração; 4. Quando o produto é necessário para venda, a data e o número do kanban são registados manualmente num modelo próprio; 5. Por fim, a rastreabilidade é realizada através da facturação. Ou seja, pela data dos registos na produção e pela factura do cliente, averigua-se qual o produto que foi atribuído ao cliente (Costa, 2009). Através deste método é-se capaz de identificar e solucionar o problema com maior facilidade, interpelar os responsáveis, conseguir responder e esclarecer o cliente que elaborou a reclamação e limitar os lotes onde potenciais problemas ocorrem. A rastreabilidade é realizada através deste método menos convencional uma vez que funcionamento da aplicação informática da empresa se encontra incompleto. 4.1.11 Qualificação dos fornecedores de matéria primas/ material de embalagem Atendendo a que se pretende garantir a qualidade do produto final deve garantir-se a qualidade das matérias primas, pois os produtos finais dependem delas. Assim, deve-se proceder a um método de avaliação e selecção de fornecedores tendo em conta factores como sejam o fornecedor ter um licenciamento das instalações com sistema de segurança alimentar implementado e um controlo de qualidade efectuado aos produtos, de modo a poderem providenciar garantias de qualidade (Figueiredo J. , 2008). Ana Cristina de Sousa Leite 52 Sistema HACCP 4.2 CAPÍTULO 4 Plano de HACCP HACCP é uma abordagem sistemática direccionada a perigos biológicos, químicos e físicos, em vez de inspecção e testes em produtos finais. E, por isso, um sistema preventivo através do qual, pela identificação de potenciais riscos, são estabelecidas medidas que possibilitem reduzir a probabilidade de ocorrências que possam pôr em causa a segurança dos produtos e consequentemente dos consumidores (Baptista & et al, 2003). 4.2.1 Princípios e Passos do Sistema de HACCP Como metodologia do sistema HACCP estipulam-se um conjunto de sete princípios fundamentais para a implementação prática desta ferramenta, sendo eles: Princípio 1: Efectuar uma análise dos perigos. Preparar um Fluxograma com todas as etapas do processo. Identificar e listar perigos potenciais e especificar medidas preventivas para controlo deles. Princípio 2: Identificar os Pontos Críticos de Controlo (PCC). Princípio 3: Estabelecer os limites críticos que devem ser respeitados para garantir que cada PCC está sob controlo. Princípio 4: Estabelecer um sistema de monitorização e controlo dos PCCs através de observações e/ou testes periódicos programados. Princípio 5: Estabelecer as acções correctivas a serem tomadas quando o sistema indicar que um PCC está fora de controlo. Princípio 6: Estabelecer os procedimentos de verificação relativos a estes princípios e à sua aplicação. Princípio 7: Estabelecer a documentação e registo de todos os procedimentos. ( (Araújo, 1999; FAOUE, 1998). No entanto, na prática, para a implementação de um sistema de HACCP segue-se uma metodologia que se baseia em doze passos sequenciais, nos quais se incluem os sete princípios já apresentados. Os restantes cinco são designados passos preliminares, que correspondem à estruturação da equipa que vai desenvolver o estudo e planeamento do HACCP e à recolha de informação de suporte relevante para realização da análise de perigos. Aqui o destaque é a descrição dos produtos; a identificação do uso pretendido; a construção do fluxograma e a sua confirmação no terreno (Araújo, 1999). Assim, os doze passos da metodologia de implementação de um sistema de HACCP são: I. Constituição da equipa de HACCP; II. Descrição do produto; III. Identificação do uso pretendido; IV. Construção do fluxograma; V. Confirmação do fluxograma no terreno; Ana Cristina de Sousa Leite 53 Sistema HACCP VI. CAPÍTULO 4 Identificação e análise de perigos, análise e identificação de medidas preventivas para controlo dos perigos identificados (Princípio 1); VII. Determinação dos pontos críticos de controlo (Princípio 2); VIII. Estabelecimento dos limites críticos de controlo para cada PCC (Princípio 3); IX. Estabelecimento do sistema de monitorização para cada PCC (Princípio 4); X. Estabelecimento de acções correctivas (Princípio 5); XI. Estabelecimento de procedimentos de verificação (Princípio 6); XII. Estabelecimento de controlo de documentos e dados (Princípio 7) (Figueiredo & Neto, 2001). 4.2.2 Plano de HACCP da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre No plano de HACCP da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre estão descritos os diversos passos da metodologia tendo em conta as diversas áreas e procedimentos usados. No passo I descreve-se a constituição de uma equipa multi-disciplinar que realizou o estudo e planeamento do HACCP. Esta equipa é constituída por pessoas com responsabilidade em várias áreas da empresa (aprovisionamento, confecção, distribuição), com conhecimento e experiência na empresa relativamente a produtos e processos e que, simultaneamente, seja relevante para o estudo de HACCP. Assim, na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre a equipa de HACCP é constituída por um elemento da gerência (Doutor Luís Campos), a Directora da Qualidade (Engenheira Elisabete Costa), o Chefe de produção/Chefe de Pastelaria (Nuno Francisco), Chefe de Padaria (Francisco Esteves), Chefe de Distribuição (Carlos Bernardo) e uma colaboradora de equipa de limpeza (ver o organograma da Figura 1-1). No passo II - Descrição do produto pretende-se que todos os produtos elaborados na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, tanto de padaria, como de pastelaria, tenham ficha técnica onde se explicitem os constituintes, as especificações microbiológicas, as características físicas e químicas do produto, a apresentação e embalagem, a rotulagem, o tipo de distribuição e transporte, qual a conservação adequada e data de validade, o mercado alvo e ainda o consumidor alvo. Ainda neste passo, se descreve as matérias primas quanto ao tipo, materiais de embalagem, método de transporte, de conservação e embalagem; percentagem a incorporar no produto final; origem (fornecedor); características físico-químicas (por exemplo: pH, temperatura de conservação); características microbiológicas; condições de conservação; condições de preparação/processamento antes de utilização. Para ter acesso a este tipo de informação solicita-se a ficha técnica dos produtos aos respectivos fornecedores (Costa, 2009). No 0 apresentam-se dois exemplos de Fichas técnicas de produtos alimentares. O primeiro exemplo é de um produto de panificação o Pão Bico, o segundo exemplo é referente a um produto de pastelaria, Croissant Brioche. No passo III - Identificação do uso pretendido a equipa de HACCP deve reflectir nas condições de utilização do produto por parte do consumidor. No caso da Fábrica de Ana Cristina de Sousa Leite 54 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Pastelaria S.Silvestre, o uso pretendido é simples, uma vez que se pretende o consumo por parte de clientes dos produtos elaborados. Na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre a equipa de HACCP procedeu ao estudo de HACCP (passo IV a X) e de seguida elaborou o Plano de HACCP onde se explicitam: os fluxogramas e as etapas do processo (passo IV e V); os critérios para a análise de perigos (passo VI, Princípio 1); a identificação de perigos (físico, químico ou biológico) e determinação de níveis de aceitação indicando as possíveis causas e medidas correctivas imediatas (passo VI, Princípio 1); a avaliação de perigos atendendo ao nível de risco, severidade e significância (passo VI, Princípio 1); a identificação dos pontos críticos de controlo, PCC, com a justificação da categorização como resposta às diversas perguntas da árvore de decisão (passo VII Princípio 2 e passo VII ,Princípio 3); Revisão dos perigos identificados; Medidas de controlo (passo IX, Princípio 4); Acções Correctivas (passo X, Princípio 5); Procedimentos de verificação (passo XI, Princípio 6); Controlo de documentos e dados (passo XII, Princípio 7) (Costa, 2009). 4.2.3 Fluxogramas e etapas do processo da empresa Num fluxograma pretende-se integrar de forma lógica todas as etapas do processo produtivo e a interacção entre essas etapas. A construção dos fluxogramas (passo IV) deverá ter em consideração: A sequência de todos os passos do processo de fabrico; As fases em que ocorrem entradas de matérias primas e produtos intermédios; As fases onde ocorre reprocessamento ou reciclagem de matérias primas/produtos; As fases onde produto intermédios, sub-produtos ou resíduos são removidos (Antunes & Baptista, 2005). Assim, de seguida são apresentados os principais processos produtivos da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre. A Figura 4-2 apresenta o fluxograma genérico de padaria, já a Figura 4-3 concretiza o fluxograma genérico de pastelaria. Estes fluxogramas por serem genéricos englobam todas as etapas de confecção e conservação de todos os produtos produzidos em cada uma das áreas citadas. Ana Cristina de Sousa Leite 55 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Figura 4-2 – Fluxograma genérico de padaria (Costa, 2009). Ana Cristina de Sousa Leite 56 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Figura 4-3 – Fluxograma genérico de pastelaria (Costa, 2009). Ana Cristina de Sousa Leite 57 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Ambos os fluxogramas se iniciam com a Recepção do material de embalagem ou matérias primas (1). A recepção destes (exemplo: bebidas, enlatados, farinha, açúcar, entre outros) é efectuada no armazém de matéria primas e de embalagens, respectivamente. Aqui, é importante referir que existem dois armazéns de: i. material de embalagem; ii. matérias primas. A Recepção do material de embalagem (etapa 2) é efectuada em dois armazéns distintos: i. materiais de cartão e caixas e pratos para bolos, são armazenados no armazém de embalagens contíguo à expedição; ii. restantes embalagens ficam no armazém junto ao de matérias primas. A Recepção de matéria prima (etapa 3) atendendo às suas necessidades de temperatura e perecibilidade é recepcionada no armazém de matéria primas e no cais do corredor das câmaras, que permitem a recepção de produtos não perecíveis e não requerem condições especiais de temperatura. Para a aceitação do produto proveniente do fornecedor a embalagem não deve estar: Aberta; Com buracos/rasgões; Suja; Amolgada (no caso de caixas ou latas, por exemplo); O lote e a data de validade devem coincidir com as das embalagens e da factura. As matérias primas perecíveis e com necessidades especiais de temperatura são recepcionadas no cais do corredor das câmaras, sendo depois conduzidas às câmaras de congelação de produto semi-acabado e câmara de refrigeração de matéria primas No armazém de matérias primas que suportam a temperatura ambiente (etapa 4) são depostas todas as matéria primas que não necessitam de refrigeração. No caso de necessitarem de serem refrigeradas, etapa 5, as matérias primas são colocadas na câmara de matérias primas a uma temperatura entre 2 e 4 ˚C. Aqui respeitam-se os mesmos critérios de aceitação de produtos proveniente do fornecedor que no armazém anteriormente citado. No entanto, tem de se ter em atenção parâmetros adicionais tais como a temperatura e o estado de higienização do veículo de transporte Na preparação, Pesagem e mistura de ingredientes (etapas 6, 7 e 8) são seleccionados os ingredientes necessários, é feita a sua pesagem de acordo com a receita estabelecida e é efectuada a sua mistura no recipiente onde será efectuada a amassadura. O processo de Amassadura das massas (etapa 9) ocorre no recipiente onde foi efectuada a mistura de ingredientes. Na amassadura de massas de padaria são ocasionalmente Ana Cristina de Sousa Leite 58 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 incorporadas massas velhas/isco provenientes do excedente de massas armazenadas na câmara de refrigeração de padaria. Na etapa de corte, pesagem e Moldagem/enformagem (etapa 10) é efectuado o corte das massas, a sua pesagem e enformagem de acordo com o produto final pretendido. As massas previamente cortadas, pesadas e moldadas ou enformadas são colocadas em tabuleiros, carregadores de telas ou formas (etapa 11) nas quais irão sofrer tratamento térmico ou são o meio que as conduzem até ao tratamento térmico Os produtos são sujeitos ao processo de Congelação (etapa 12), no túnel de congelação. Para cada produto existe um tempo de congelação definido, atendendo à sua composição e tamanho. A Descongelação de um produto intermédio (PI) (etapa 13) ocorre em câmara de refrigeração ou em câmara de fermentação, entre 2 e 4˚C ou 5 e 6˚C, respectivamente. O processo de Fermentação/Levedação (etapa 14) é efectuado nas câmaras de fermentação e levedação durante um período de tempo e temperatura pré-definidos. Os produtos conservados em refrigeração são, nesta fase, sujeitos ao processo de Cozedura ou fritura (etapa 15). Para cada produto está estabelecido um binómio tempo/temperatura de tratamento. O Arrefecimento (etapa 16) dos produtos após cozedura ou fritura ocorre à temperatura ambiente nos mesmos recipientes que servem de transporte ou que os encaminham para fases posteriores O processo de Desenformagem (etapa 17) ocorre após o arrefecimento dos produtos e é efectuado na zona de tratamentos térmicos. A fase de Acondicionamento ou embalagem (etapa 18) tem lugar na sala de acabamentos ou na sala de expedição, atendendo à natureza do produto. O acondicionamento dos produtos pode ser feito em caixas de cartão, tabuleiros de PVC ou ,ainda, embalagem individual. O processo de Expedição (etapa 19) e Distribuição (etapa 20) consiste no transporte do produto desde a unidade produtora ao local de venda, ao cliente. Nesta etapa são utilizados diversos veículos, dos quais alguns são refrigerados. Após a fermentação os produtos de pastelaria continuam na câmara de fermentação controlada, contudo, conservados à temperatura de refrigeração (etapa 21). Os produtos de padaria são conservados na câmara refrigerada de padaria, entre 5 e 6˚C, ao mesmo tempo que sofrem um processo lento de levedação. As matérias primas que necessitam de temperaturas na gama de congelação são armazenadas na câmara de conservação de congelados (matéria prima e produto intermédio), a temperaturas inferiores a -18˚C (etapa 22). A Preparação dos recheios (etapa 23) pode ser efectuada em locais como a pastelaria e área de tratamentos térmicos. A maioria dos recheios utilizados sofre pouca transformação Ana Cristina de Sousa Leite 59 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 na Fábrica de Pastelaria S. Silvestre, sendo comprados como preparados que necessitam apenas de ser batidos (ex. chantilly) O Acabamento/recheio (etapa 24) é maioritariamente efectuado na sala de acabamentos, podendo também ocorrer na área de tratamentos térmicos. Nesta etapa são colocados os recheios e/ou decoração nos produtos. O produto acabado, isto é, após cozedura e recheio é armazenado na câmara de refrigeração de pastelaria, na gama 2 a 4˚C (etapa 25). Para garantir que não há desenvolvimento de microrganismos aquando o processo de congelação deve-se reduzir a duração deste passo. Assim, recorre-se ao túnel de congelação que num intervalo de tempo bastante pequeno congela o produto, garantindo que no seu interior a temperatura é de -18˚C, sendo a temperatura dentro do túnel de cerca de -35 ˚C a -40˚C. Após congelação prévia no túnel os produtos são encaminhados para as diferentes câmaras de congelação. O produto cozido e recheado é armazenado na câmara de produto acabado a temperaturas iguais ou inferiores a -18˚C (etapa 26). A descongelação ocorre lenta e gradualmente, com o intuito de garantir a qualidade do produto final. O produto acabado congelado necessário é sujeito a descongelação. Esta é efectuada em câmara de refrigeração uma temperatura de 2 a 4˚C (Etapa 27) (Costa, 2009). Atendendo a que a empresa funciona com stocks, o circuito normal do produto iniciase pela colocação cru e acabado de fazer no túnel de congelação, transferindo-se depois para a câmara de produto semi-acabado. Quando se pretende descongelar transfere-se para a câmara de refrigeração (de padaria ou pastelaria) segue para a câmara de fermentação controlada para levedar e, por fim, sofre cozedura. No caso de massas designadas por batidos, ou seja, massa de bolos como pão-de-ló, após a sua elaboração procede-se, inicialmente à cozedura e, por vezes recheia-se. Depois vai ao túnel de congelação, câmara de produto acabado e quando necessário descongela-se reservando-se na câmara de refrigeração (pastelaria). Depois efectuam-se os acabamentos finais e o produto é enviado para o cliente. No passo VI Confirmação do fluxograma no terreno pretende-se que a equipa de HACCP verifique, nas instalações onde ocorrem os processos, o fluxograma elaborado acompanhando o desenrolar das actividades ao longo do dia de modo a assegurar que os processos são efectivamente elaborados como descrito no fluxograma. 4.2.4 Análise de perigos Para a análise de perigos pressupõem-se a identificação dos potenciais perigos associados a todas as etapas do processo, desde a matéria prima até ao consumidor final. Inerente a esta análise de perigos está a avaliação do risco em função da probabilidade de ocorrência e da severidade do perigo identificado, bem como a análise de eventuais medidas preventivas estabelecidas para seu controlo. Com o intuito de determinar a significância dos mesmos. Apenas os perigos considerados significativos são incluidos na Árvore de Decisão para Ana Cristina de Sousa Leite 60 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 identificação de pontos críticos de controlo. (USDA, 1999). Esta etapa constitui o passo VII e/ou o Princípio 1 de HACCP (Baptista & et al, 2003). A eliminação ou redução a níveis aceitáveis destes perigos é essencial para a produção de um alimento seguro. A identificação dos perigos segue os critérios citados anteriormente (secção 2.2). Após a sua identificação e atendendo ao conhecimento das suas fontes normais e dos pontos de contaminação é possível decidir as respectivas medidas preventivas e de controlo. A avaliação dos perigos é efectuada a cada etapa do fluxograma para determinar que riscos lhe estão associados e tomar as medidas preventivas na etapa correcta. A classificação destes perigos tem em conta os critérios de análise de perigos listados na subsecção 2.2.1. A bases para a identificação de perigos e a determinação dos níveis de aceitação encontram-se tabelados no AnexoVI e a significância dos perigos nas diferentes etapas dos processos da empresa constam no AnexoVII. É de salientar que toda esta descrição dos fluxogramas teve por base o Plano de HACCP elaborado pela Engenheira Elisabete Costa e por observações directas ao longo do acompanhamento dos processos produtivos. 4.2.5 Identificação dos pontos críticos de controlo (PCC) e Revisão dos perigos identificados Após a identificação dos perigos procede-se à determinação dos pontos críticos de controlo atendendo à Árvore de Decisão, constituindo isto o passo VII e/ou Princípio 2 do Plano HACCP. Por Ponto Crítico de Controlo entende-se um ponto ou procedimento onde a perda de controlo pode resultar num inaceitável risco para a saúde (Notermans, 1995). Assim, é importante identificar os pontos do processo nos quais o controlo é crítico. Não existe um limite para o número de PCC, pois tal depende do processo e do tipo de produto. De acordo com as Boas Práticas de Fabrico é necessário, antes de tudo, aplicar todas as medidas preventivas (Araújo, 1999). A Árvore de Decisão é um protocolo constituído por uma sequência de questões estruturadas aplicada a cada etapa do processo, que permite determinar se um dado ponto de controlo, constitui um PCC. Apenas os perigos considerados significativos são incluidos na Árvore de Decisão para identificação de pontos críticos de controlo. A Figura 4-4 apresenta a Árvore de Decisão e de seguida a interpretação da mesma. Ana Cristina de Sousa Leite 61 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Árvore de Decisão Pergunta 1 Existem medidas preventivas nesta etapa posteriores para o perigo identificado? NÃO O controlo nesta etapa é necessário para a segurança? SIM Modificar a etapa do processo ou produto SIM NÃO Não é PCC Pergunta 2 Esta etapa elimina o perigo ou reduz a sua probabilidade de ocorrência para u nível aceitável? SIM NÃO PCC Pergunta 3 Pode ocorrer contaminação ou o perigo pode aumentar para um nível inaceitável? NÃO SIM Não é PCC Pergunta 4 Alguma etapa posterior poderá eliminar o perigo ou reduzir a sua probabilidade de ocorrência para um nível aceitável? SIM NÃO Não é PCC PCC Figura 4-4 - Árvore de Decisão para a identificação de PCC (adaptado de Notermans,(1995). A árvore de decisão do processo consiste numa série sistemática de quatro perguntas elaboradas para avaliar objectivamente se é necessário um PCC para controlar o perigo identificado numa operação específica do processo. Pergunta 1: Existem medidas preventivas nesta etapa ou em etapas posteriores para o perigo identificado? Ana Cristina de Sousa Leite 62 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Esta pergunta deve ser interpretada como se se questionasse um operador sobre a necessidade de usar uma medida preventiva para esta operação na etapa para controlar o perigo identificado. As medidas preventivas podem incluir, por exemplo, o controlo da temperatura, o exame visual ou o uso de um detector de metal. Se a resposta for afirmativa, descrevem-se as medidas de controlo que o operador poderia usar e segue-se para a Pergunta 2 da árvore de decisão. Se for negativa, ou seja, se não existe uma medida preventiva, indicase que o perigo identificado será controlado antes ou depois do processo de fabrico (fora da área do controlo do operador). A alternativa é modificar-se a operação, o processo ou o produto, de modo a que exista uma medida preventiva (Nations, 1998). Pergunta 2: Esta etapa elimina o perigo ou reduz a sua probabilidade de ocorrência para um nível aceitável? Os níveis de aceitação são definidos dentro dos objectivos globais ao identificar o PCC do plano HACCP. Se o processo ou operação for projectado com o propósito específico de eliminar a possível ocorrência do perigo ou reduzi-lo a um nível aceitável responde-se "sim". Se a etapa não for especificamente projectada, responde-se "não" e passa-se à próxima pergunta. A pergunta 2 só se aplica a operações de processamento. Para os produtos recebidos responde-se "não" e prossegue-se para a Pergunta 3 (Costa, 2009). Pergunta 3: Pode ocorrer contaminação ou o perigo pode aumentar para um nível inaceitável? O que se pretende com esta pergunta é averiguar se o perigo tem impacto na inocuidade do produto, com base no risco (probabilidade) e na severidade inerentes. A resposta a esta questão é um julgamento que envolve a análise de risco, que deve estar baseada em toda a informação recolhida. Quando se responde deve justificar-se a resposta para referência futura. Este facto é especialmente útil quando se lidam com alguns perigos que podem ser controversos. Se a pesquisa nos arquivos de reclamação da empresa ou se a literatura científica sugerir que a contaminação com o perigo identificado pode aumentar até um nível inaceitável e resultar num perigo para a saúde a resposta é "sim" e passa-se para a próxima pergunta da árvore de decisão. Se a contaminação não representar uma ameaça significativa para a saúde do ser humano ou não houver possibilidade de esta ocorrer, responde-se "não" (não é um PCC) e passa-se para o próximo perigo significativo identificado no processo (Nations, 1998). Pergunta 4: Alguma etapa posterior poderá eliminar o perigo ou reduzir a sua probabilidade de ocorrência para um nível aceitável? O objectivo desta pergunta é identificar os perigos que representam uma ameaça à saúde humana ou que poderiam aumentar até um nível inaceitável e que serão controlados por uma operação subsequente no processo. Ana Cristina de Sousa Leite 63 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 Caso não haja uma operação subsequente no processo para controlar o perigo respondese "não" e esta etapa do processo torna-se um PCC e deve ser identificada como tal. Havendo alguma operação posterior no processo que eliminará o perigo identificado ou o reduzirá a um nível aceitável responde-se "sim". Esta etapa não assume, então, o estatuto de PCC. Porém, é necessário identificar as etapas subsequentes que controlam o perigo, passando então ao próximo perigo identificado (Nations, 1998). No 0 apresenta-se a identificação de todos os pontos críticos (PC) e pontos críticos de controlo (PCC) nas diversas etapas do fluxograma da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. 4.2.6 Estabelecimento de limites críticos de controlo para cada PCC Após a identificação dos pontos críticos de controlo no processo produtivo é necessário estabelecer os limites críticos preenchendo, assim, os requisitos do passo VIII. Por limites críticos de controlo entende-se o intervalo de valores (por exemplo, temperatura) ou critério no qual o produto permanece seguro, ou seja, não sofre deterioração. A atribuição destes valores ou critérios tem uma base científica e/ou legal. Por exemplo, no caso de processamento térmico, os limites críticos devem ter uma base científica e os parâmetros a medir devem permitir demonstrar que o PCC está sob controlo. Em certos casos esta etapa não é simples de validar, sobretudo no caso de dados subjectivos, tais como a inspecção visual. Nestes casos os limites críticos devem conter especificações bem claras, assim como exemplos do que é considerado inaceitável (CFIA, 2010). 4.2.7 Estabelecimento de sistema de monitorização para cada PCC Tendo definido os limites de controlo é necessário estabelecer um sistema de monitorização para cada um dos PCC, esta etapa constitui o Princípio 4 ou ainda o passo IX de implementação do sistema de HACCP. A monitorização é uma sequência planeada de observações que permitem verificar se um PC se encontra sob controlo, produzindo registos precisos para uso futuro na verificação do sistema (Declan, 2006). Neste sistema de monitorização devem-se ter em atenção critérios como o modo de proceder para efectuar a monitorização, a frequência e o responsável por ela. Após a monitorização do PCC tendo em conta os limites críticos de controlo deve-se proceder ao registo que evidencia a realização da tarefa. 4.2.8 Estabelecimento de acções correctivas As acções correctivas (passo X, Princípio 5) são procedimentos que permitem dar resposta a possíveis desvios dos limites críticos de controlo. Estas acções correctivas devem estar previamente definidas e adequadas a cada PCC. 4.2.9 Estabelecimento de procedimentos de verificação No sentido de averiguar se o sistema descrito no plano HACCP está devidamente implementado e é eficaz torna-se necessário verificá-lo (passo XI, Princípio 6) através de auditorias internas e externas, efectuar revisões do sistema de registos, dos critérios de desempenho, entre outros (Notermans, 1995). Ana Cristina de Sousa Leite 64 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 4.2.10 Estabelecimento de controlo de documentos e dados Para implementar um plano HACCP é necessário gerir toda a documentação para não ocorrerem falhas ou perdas de informação. Assim, dentro na organização devem ser encontrados os colaboradores capazes de atender a qualquer princípio descrito pelo sistema de HACCP (Costa, 2009). Por exemplo, a colaboradora Leonor é responsável de proceder aos registos de temperaturas das câmaras de refrigeração e congelação e verificar se estes se enquadram no intervalo dos limites críticos de controlo dos PCC em questão. 4.3 Trabalho realizado no âmbito de HACCP no decorrer do estágio Um dos objectivos destee estágio consistia na integração na estrutura que suporta a implementação do HACCP. Para tal enquadramento, foram adquiridos os conceitos teóricos sobre as Boas Práticas de Higiene, Bons Práticas de Fabrico, os diferentes pré-requisitos da empresa e ainda a aplicação da metodologia de HACCP através dos sucessivos passos e princípios. Após aquisição destes conceitos foram averiguados se a sua implementação e manutenção está a ser conseguida. Após o período de adaptação e de compreensão de todos os procedimentos e dos diferentes documentos associados ao protocolo foi efectuado um acompanhamento do processo de higienização dos equipamentos, das instalações da empresa e viaturas de distribuição, do processo de recolha de amostras para controlo microbiológico e dos registos de PCC. Os processos de manutenção preventiva de equipamentos, controlo de resíduos alimentares, rastreabilidade de géneros alimentares e estabelecimento de acções correctivas foram igualmente acompanhados ainda que com menor intensidade, por já se encontram em fase optimizada. O trabalho elaborado referente a Higienização dos equipamentos, das instalações e viaturas de distribuição foi, essencialmente,de controlo de registos diários, verificação de higienização de decisão sobre Não conformidade nos aspectos não higienizados ou incorrectamente higienizados e de alerta e sensibilização dos colaboradores para a elaboração correcta das suas tarefas neste processo. O trabalho relativo às Não conformidades não se limitou à sua detecção, realizou-se ainda, semanalmente, a contabilização de Não conformidades por colaborador de higienização, introduzindo-as num ficheiro com o intuito de posteriormente se proceder ao tratamento estatístico. Esta contabilização prende-se com o facto de existir distribuição de prémios com base na performance dos colaboradores tendo em conta dois factores: i. Produtividade (medida associadamente ao nível de Não conformidade); ii. Pontualidade e assiduidade. Neste período de tempo, os planos de higienização da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre foram revistos e alterados no campo de Sector nas diversas áreas e ainda se procedeu a uma actualização dos diferentes tipos de produtos utilizados dependente do tipo de material a Ana Cristina de Sousa Leite 65 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 higienizar. O objectivo desta tarefa foi actualizar, completar e clarificar os planos de higienização sendo, de seguida, dessiminados pela organização. Aquando a visita do colaborador da empresa ControlVet para recolha de amostras de produtos, água ou de superfícies, procedia ao acompanhamento da amostragem depois de previamente escolhidos os pontos de recolha..O acesso aos resultados das análises das amostras complementaram esta aprendizagem, uma vez que indicam valores ou intervalo de valores de referência que estão legislados. Relativamente aos resultados das análises de amostras de produtos, água ou superfícies verificou-se ser, de facto, uma ferramenta muito importante na monitorização de perigos biológicos associados ao processo de fabrico. Se após análise se obtiverem resultados que estejam não conformes com a legislação, desencadeia-se um processo de investigação de causas possíveis e após a sua identificação procede-se à eliminação do perigo associado, no intervalo de tempo mais curto possível. A determinação da causa do problema está directamente ligada ao conhecimento pormenorizado de todos os processos da empresa, desde a entrega da matéria prima até à colocação de produto na embalagem. Esta investigação é sempre benéfica para estimular a melhoria de processos, para alertar para matéria prima aceite e não conforme, para a aplicação de conservantes nos produtos, entre outros. A monitorização e verificação dos registos de PCC torna-se uma tarefa importante para averiguar se existem alterações significativas nas temperaturas dos equipamentos a eles associados, evitando assim, perda de produto por deteriorização, o que acarreta custos significativos. Assim, os colaboradores de pastelaria estão encarregues de registar os valores dos pontos críticos de controlo de temperatura dos equipamentos de frio e da temperatura no centro do produto após cozedura, enquanto eu realizava sistematicamente o óleo-teste para averiguação da condição do óleo das fritadeiras. A verificação dos registos e dos valores de PCC tornou-se um objectivo, não para controlo directo de colaboradores, mas para reforçar o controlo dos PCC. A realização de óleo-teste, teste colorimétrico, era super-visionada pelo Chefe de Produção e Directora da Qualidade com o intuito de não existirem falsos verdadeiros ou equívocos. Esta tarefa é de grande importância quando se atende aos principais objectivos do plano HACCP: análise de perigos e de pontos críticos de controlo. A manutenção preventiva é um processo da empresa que é susceptível de melhoria e que apresenta uma taxa de insatisfação considerável por parte dos colaboradores da empresa. Assim, sendo um dos objectivos deste estágio a monitorização do plano HACCP da empresa, ocorreu a necessidade de maior dedicação e rigor nesta área. Para este processo foi elaborado um modelo de manutenção preventiva global (ver AnexoIV), um plano de manutenção de equipamentos anual, reformuladas as funções do técnico de manutenção e este foi acompanhado ao longo do período de estágio. Ocorrendo, ocasionalmente, reuniões com o técnico da manutenção, Directora da Qualidade, Chefe de Produção e Responsável de Gestão com o intuito de resolução rápida e eficaz de pontos essenciais na manutenção, mas, sobretudo, de reparação urgente de equipamentos e remodelação da área de manutenção. No final de período de estágio averiguaram-se melhorias nesta área, no entanto, existe ainda trabalho extensivo por realizar, e potenciais melhorias a integrar. Ana Cristina de Sousa Leite 66 Sistema HACCP CAPÍTULO 4 O Controlo de resíduos alimentares concentrou-se na verificação da diposição correcta dos diversos tipos de resíduos provenientes da empresa. O processo de separação de lixo já era um comportamento habitual na empresa. No entanto, é sempre necessário incentivar, informar e sensibilizar os colaboradores para a separação e deposição dos diferentes tipos de resíduos nos locais adequados. Para tal, foi realizada uma sensibilização para o processo de separação dos resíduos salientando o processo de reciclagem e informando que tipos de resíduos se colocam nos diferentes ecopontos. Para esta sensibilização foi elaborada uma sessão de cerca de 40 minutos, na qual ocorreu a projecção de diapositivos interactivos e vídeos apelativos, mas ainda um cartaz (ver AnexoX), que posteriormente foi afixado na zona de convívio dos colaboradores, bem como folhetos distribuídos individualmente. O conteúdo desta acção aponta os diferentes tipos de resíduos sólidos provenientes da empresa, os tipos de tratamentos possíveis (características, vantagens e desvantagens), explicita o processo de reciclagem, os diferentes tipos de ecopontos e resíduos que aí se depositam, lista as boas práticas e um comportamento ambientalista em sintonia e por fim, apela a responsabilidade de todos para o cuidado com o meio ambiente. A rastreabilidade de géneros alimentares é um processo complexo e que exige rigor ao longo de todo o ciclo produtivo, desde a recepção da matéria prima à distribuição do produto final. Assim, no processo de recepção do produto é essencial a etiquetagem interna com os dados de lote e datas de recepção e validade correctos, no processo produtivo deve atribuir-se os kanbans identificativos a todos os produtos elaborados. Após cozedura do produto é necessário proceder à anotação, no documento correcto,dos números dos Kanbans dos produtos cozidos que seguiram para o cliente. Estas diferentes etapas são supervisionadas pelo chefe de produção. No entanto, aquando de auditorias internas, quando solicitada pelo chefe de produção ou por iniciativa própria de controlo averiguava estas situações. Este controlo é da máxima importância para averiguar a origem de eventuais problemas no produto final. Um exemplo prático observado foi uma situação em que o fornecedor de farinhas não deu o devido descanço à farinha após produção enviando-a para a Fábrica de Pastelaria S. Silvestre com todos os critérios de aceitação válidos excepto o referido, que não é directamente observável nem indicado na factura. Após elaboração e cozedura do pão averiguou-se que este originava maior quantidade de migalhas, o que originou reclamações por parte do cliente. Assim, sabendo quando é que os clientes compraram o pão e os lotes dos ingredientes utilizados averiguou-se facilmente que a origem do problema era a farinha. O fornecedor teve de tratar a reclamação e corrigir o erro. O estabelecimento de acções correctivas surge aquando a verificação de um problema dos colaboradores, ao nível dos PCC, nos produtos ou, ainda, aquando de uma reclamação do cliente. As acções correctivas são expostas aos responsáveis pela secção e é estabelecido um prazo de resolução desse problema. A minha actividade neste quadro foi meramente de acompanhamento da resolução destas acções e de indicação de sugestões. Ana Cristina de Sousa Leite 67 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 5 Controlo Estatístico do Processo Monitorização, Análise e Melhoria é o oitavo e último requisto da NP EN ISO 9001:2008 e tem por finalidade assegurar o planeamento e implementação dos processos de monitorização, medição, análise e melhoria. De forma generalizada, este requisito tem por objectivo a qualidade da conformidade do produto perante as diversas características e exigências ou preferências do consumidor (CT80(APQ), 2008). Para atingir eficazmente este requisito da norma, a empresa deve planear o modo como monitoriza, mede, analisa e melhora os seus processos e consequentemente os seus produtos. Para tal, a empresa deve determinar a necessidade da utilização de métodos apropriados como, por exemplo, as técnicas estatísticas. Estes métodos podem ser: Análise Modal de Falhas e Efeitos - AMFE; Controlo Estatístico do Processo - CEP; Aceitação por amostragem; Ferramentas gráficas tais como histogramas, diagramas de Pareto, diagramas de dispersão, diagramas de causa e efeito, entre outros (van Harten & et al, 2000). No contexto de qualidade de conformidade do produto, o tipo de metodologia mais adequada a adoptar é o controlo estatístico da qualidade (Juran & Gryna, 1991). O CEP permite monitorizar o estado do processo à custa da monitotização da qualidade do produto. Este paradigma permite detectar a ocorrência de causas especiais de variabilidade, que após investigação deverão ser controladas à custa de actuações. O CEP é simultaneamente uma ferramenta de detecção de alterações processuais, mas também de integração de conhecimento no sistema (Duarte, 2011). Salienta-se que CEP é aplicável em duas situações distintas: na primeira o controlo ocorre ao longo do processo produtivo e na segunda o controlo é efectuado ao nível do produto final. No entanto, torna-se mais vantajoso para a empresa um controlo durante o processo produtivo uma vez que reduz significativamente os custos de produção e minimiza perdas de qualidade (Mitra, 2008). 5.1 Origem do CEP Nos Estados Unidos da América, na década de 1930, Walter Shewhart começou a colocar em prática, nos processos fabris, alguns conceitos básicos de Estatística e Metodologia Científica, sendo, assim, o pioneiro na área de Controlo Estatístico de Processos (CEP). Walter Shewhart teve a percepção que qualidade e variabilidade eram conceitos antagónicos, ou seja, quando a qualidade é o parâmetro pretendido, se a variabilidade estiver descontrolada cria, assim, irreprodutibilidade e actuações diferentes para causas iguais. De facto W. Shewhart percebeu que medindo, analisando e monitorizando, através de aplicações de Estatística, a variabilidade de produtos se poderia chegar a melhores níveis de qualidade à custa de uma política de pesquisa de causas e actuações articuladas, que mais tarde seriam integradas no sistema. Ao atingir-se melhores níveis de qualidade reduzir-se-ia a variabilidade do processo e do produto e aumentar-se-ia a exactidão para alcançar metas e objectivos (Ramalho, 2009). Ana Cristina de Sousa Leite 68 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 W. Shewhart definiu que a Metodologia Científica neste problema seria separada em quatro fases distintas: 1. Identificação de pontos críticos na linha de produção e a escolha da ferramenta adequada e mais relevante para aplicar no ponto crítico; 2. Aplicação da ferramenta na linha de produção, com o processo a ser monitorizado com base numa característica do produto; 3. Análise dos dados; 4. Reacção do responsável para melhorar o processo (Samohyl, 2004). Actualmente são poucas as empresas que não aplicam pelo menos uma ferramenta simples de CEP para a melhoria contínua dos seus processos industriais. Assim sendo é importante definir este termo e atender às principais garantias que este pode oferecer a uma empresa. O Controlo Estatístico do Processo pode ser descrito como uma ferramenta de monitorização e controlo online (tempo real) da qualidade. Através do controlo por amostragem de características pré-determinadas do produto em estudo, o CEP possibilita a detecção de causas especiais de varaiabilidade do processo, que possam prejudicar a qualidade final do produto (Mitra, 2008). Assim, o CEP, é um conjunto de técnicas que visam garantir que: Os produtos, com as características da qualidade pretendidas, estão a ser produzidos em processos que têm capacidade suficiente para as garantir sistematicamente; Os processos estejam a ser monitorizados de modo a assegurar que os requisitos de qualidade estão a ser conseguidas a 100%; Se alguma causa de variação anormal surgir, ela será identificada e caracterizada e serão tomadas, atempadamente, medidas que reponham o processo nas condições normais de operação, ainda sem se ter produzido fora das especificações (Pires, 2007; Wilcok, 2011). 5.2 Implementação de CEP Tendo em conta a definição e os objectivos de CEP a implementação desta metodologia numa empresa requer que esta esteja ciente dos principais critérios para a selecção de processos para controlo estatístico, que são os seguintes: Consistência estratégica: Os processos relacionados com os objectivos de negócio deverão atender às necessidades dos seus clientes. Os processos de suporte e as métricas do processo que contribuem para melhor alcançar os objectivos da organização deverão estar integrados com a estratégia da organização. Importância técnica: Se o cliente vai dar importância à introdução desta nova ferramenta de controlo de qualidade. Um outro aspecto é se o investimento vai ser importante para a funcionalidade do processo já existente. Ana Cristina de Sousa Leite 69 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Disfunção: Identificação dos processos dentro da empresa que são mais variáveis. Importância estatística: Verificar a veracidade e a identificação das métricas. Atender à estabilidade, validade, normalização e consistência de dados que já existiam na empresa ou então, proceder à recolha de dados para análise. Ter em conta a capacidade, o sincronismo e a dependência do processo (Brault & et al, 2005). 5.2.1 Causas de variabilidade O processo de produção tem que ser, acima de tudo, estável, reprodutível e capaz de operar com uma amplitude muito baixa e à volta do valor objectivo que permite obter a característica pretendida. CEP online é uma ferramenta fundamental para se obter uma boa estabilidade do processo e aumentar a capacidade por redução da variabilidade (Mitra, 2008). Assim, previnese a ocorrência de Não conformidade nos produtos finais ou acabados. Na sua origem o CEP permite uma estratégia preventiva de controlo de qualidade em detrimento de uma estratégia de inspecção e detecção de erros após a sua ocorrência (Brault & et al, 2005). No entanto, podem ocorrer perturbações no processo que podem ser causadas por diversos factores, como por exemplo, a mudança de um operador, a falha de energia eléctrica, entre outras. Assim, torna-se essencial conhecer as causas de variabilidade. As causas de variabilidade podem ser divididas em três diferentes grupos: causas especiais, causas estruturais e causas comuns (Samohyl, 2004). Causa especial é assinalável, imprevisível e, normalmente única ou ocasional. No entanto é suficiente para produzir perturbações fortes no processo. A eliminação destas causas, por vezes, não é feita na sua totalidade. Porém, a sua influência no processo tem de ser reduzida e elas devem ser categorizadas para tratamentos reprodutíveis. Exemplos deste tipo de causas são o impacto da trovoada no sistema eléctrico, um funcionário intoxicado, uma substância estranha na matéria prima, entre outros. À semelhança da causa especial, a causa estrutural também é eliminável ou pelo menos a sua influência pode ser reduzida, mas a diferença é que esta ocorre frequentemente. Causa comum é relativamente insignificante mas ocorre muito frequentemente e em grande número. Para diminuir este número de causas comuns é necessário investir em novos equipamentos, melhor matéria prima, formação dos colaboradores, entre outras (Samohyl, 2004). Com as ferramentas de CEP detectam-se fundamentalmente causas especiais e variabilidade. As cartas de controlo são utilizadas na detecção de alterações únicas de uma ou várias características do produto ou de um processo, ou seja, detecção da presença de causas especiais na linha de produção (Longo, 1996). 5.2.2 Cartas de Controlo As cartas de controlo permitem controlar um processo produtivo através da recolha sucessiva de amostras do produto e da confrontação da informação obtida a partir dessas amostras com Ana Cristina de Sousa Leite 70 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 uma distribuição de referência, que define estatisticamente o comportamento padrão do processo (isento de causas especiais de variabilidade). Ou seja, as cartas de controlo permitem a monitorização da qualidade do produto e consequentemente do estado (estável ou não estável) do processo.Esta detecção está directamente associada à ocorrência de causas especiais de variabilidade que afectam o processo (Longo, 1996). Apesar de esta ferramenta ser uma parte importante em CEP, ela só oferece o paradigma técnico. Outra parte de CEP, e não menos importante, é a atitude de todos os indivíduos envolvidos na organização e que trabalhem para uma melhoria contínua da qualidade e da produtividade (Mitra, 2008). Estas cartas de controlo são gráficos que apresentam no eixo das ordenadas os valores das características da qualidade medidas durante e ao longo do tempo, e no eixo das abcissas os tempos nos quais as medições foram efectuadas (Montgomery, 2007). Note-se que, assumindo que o processo é observado instantaneamente, uma observação é algo completamente aleatório. No entanto, grupos de itens formando amostras denotam um carácter previsível. No caso de serem calculadas estatísticas referentes a momentos da distribuição, elas reproduzem a um nível aceitável e com alguma certeza a dinâmica do processo e a ocorrência de alterações devidas a causas especiais de variabilidade. É vulgar o tamanho das amostras ser perqueno (3, 5 ou 7) (Juran & Gryna, 1991), designando-se por tamanho de subgrupo. Naturalmente o incremento do tamanho do subgrupo leva a uma maior precisão e rapidez de detecção de causas especiais de variabilidade, mas tem contra ele inegáveis custos de operação (Duarte, 2011). É de salientar que a decisão quanto à ocorrência de variações assinaláveis no processo enfrenta dois tipos de erro estatístico distintos: i. Erro tipo I (designado por α); ii. Erro tipo II (designado por β). O primeiro está associado à ocorrência de pontos considerados decorrentes de processos instáveis sem que haja variação assinalável, e o segundo à ocorrência de pontos que apontam para a inexistência de alterações, ainda que hajam causas de variabilidade relevantes (Mitra, 2008). As características de qualidade podem ser classificadas como variáveis ou atributos. Por variáveis entende-se todas as características mensuráveis e que possam ser expressas numericamente por comparação contra escalas físicas. Atributos são características que se podem classificar como conformes ou não-conformes com determinadas especificações e que podem estar associados a designações como não defeituoso ou defeituoso, por exemplo (Pires, 2007). Dependendo do tipo de característica de qualidade em estudo existem cartas de controlo adaptadas. As cartas de controlo mais comuns pertencem a dois grandes grupos: cartas para variáveis e cartas para atributos. As cartas de controlo para variáveis incluem cartas para medidas individuais, cartas para a dispersão e cartas para a monitorização da tendência central. A maior parte das utilizações implica o uso conjugado de uma carta de tendência Ana Cristina de Sousa Leite 71 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 central (média, moda, mediana) e de uma carta de controlo de dispersão (amplitude, variância, desvio padrão). As utilizações podem igualmente dividi-las em cartas de padrão conhecido e cartas de padrão desconhecido. Dentro das cartas por variáveis podem-se considerar: Cartas para médias e amplitudes ), Cartas para médias e desvio padrão ( ̅ ) e cartas para valores individuais (ex: amplitude móvel). Existem ainda outras cartas de controlo para variáveis que têm em conta a memória do processo, como por exemplo, cartas CUSUM e EWMA (Pires, 2007). (̅ Dos diversos tipos de cartas, as cartas de controlo de amplitude ( ) e de média ( ̅ ) são as mais utilizadas por serem fáceis de preparar e interpretar. As cartas de média visam controlar o primeiro momento da distribuição do produto. As cartas de amplitude permitem monitorizar a variabilidade e detectar eventual estratificação mascarada pela média. Note-se que, sob o ponto de vista da qualidade do produto, ambas as métricas são igualmente importantes – a média como quantificação da capacidade do processo e a amplitude como quantificação da dispersão e da sua reprodutibilidade (Duarte, 2011). Para estabelecer a distribuição da referência ou: i. Assume-se que a varibilidade é conhecida ou imposta à partida, donde resultam cartas de padrão conhecido; ii. A variabilidade é desconhecida e uma aproximação é determinada à custa de uma janela temporal de operação do processo, julgada como boa para representar o comportamento dinâmico deste. Neste último caso, as cartas designam-se como sendo de padrão desconhecido, e trata-se da situação objecto de estudo na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre (Duarte, 2011; Pires, 2007). Para a definição da distribuição padrão para vários pressupostos devem ser garantidos: A distribuição teórica dos dados recolhidos deve ser normal quando se trata de cartas de controlo de variáveis, e Binomial ou de Poisson para cartas de controlo de atributos; Os dados referentes ao processo devem denotar aleatoriedade e não evidenciar comportamentos auto-regressivos associados; A recolha das amostras ser possível, a característica a monitorizar ser reprodutivelmente mensurável e os respectivos resultados serem conhecidos, por quem tenha de monitorizar e tomar acções de correcção sobre os processos a tempo de estas serem úteis (Pires, 2007). 5.3 Aplicações de CEP na Indústria alimentar As principais áreas da indústria bioalimentar distribuem-se em três grandes sectores: Agricultura e Pescas (sector primário), Transformações dos alimentos, bebidas e tabaco (sector secundário) e a distribuição (sector terciário). O sector da distribuição alimentar compreende o grande e pequeno comércio (Brault & et al, 2005). As aplicações de CEP na indústria estão largamente disseminadas. Mesmo no sector alimentar existem múltiplos casos Ana Cristina de Sousa Leite 72 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 reportados de aplicações de cartas de controlo ao controlo de processos. Sem ter preocupações de ser exaustivo, a seguir analisam-se alguns que se julgam paradigmáticos da metodologia aplicada. Grigg et al (1998) refere a aplicação prática de CEP ao controlo do processo de embalagem de peixe. Neste trabalho, os autores descrevem sucintamente os conceitos de CEP, os custos associados ao processo, a legislação aplicável no Reino Unido, calculam as características do processo após recolha de dados, constroem uma carta de controlo de variáveis (média), comentam os resultados obtidos e quais os benefícios do sistema implementado. Srikaeo (2004) por sua vez, refere uma aplicação à caracterização do processo de cozedura de uns biscoitos utilizando ferramentas de CEP. Neste trabalho foram usadas cartas de controlo de média e amplitude para variáveis, bem como a monitorização da capacidade processual. Itzés (1998) refere uma aplicação na indústria de lacticínios sujeita a diferentes fontes de variabilidade. Neste trabalho referem-se alguns conceitos introdutórios de CEP e os métodos utilizados para a diferenciação do tipo de carta mais adequada. A escolha fulcral consiste uma carta de percentagem de matéria seca em função de oito diferentes compostos que lhe permite tirar conclusões sobre o componente mais relevante e que deve ser sujeito a controlo. Hayes (1997) reporta uma aplicação de CEP integrada no protocolo de HACCP, com o intuito de controlar dados referentes à higienização de pontos de controlo. No trabalho em causa descreve-se a utilização de uma técnica de bioluminescência para testar a presença de microrganismos em tempo real, tarefa que contribuiria para o avanço em análises feitas em HACCP e ainda, como se utilizaram conjugadamente cartas CUSUM e Cartas de valores individuais. Melo & Lima (2004) aplicaram cartas de controlo de média à linha de produção de gelado napolitano com o propósito de monitorizar o peso de embalagens de 2 litros. Cima (2006) usa os princípios de CEP integrado no paradigma PDCA para controlar várias etapas do processo de abate e industrialização de produção avícola. Neste contexto foram utilizadas cartas de média e desvio-padrão para a análise semanal; carta individual de média móvel para o caso de estudo diário e uma carta EWMA para controlo ponderado outra CUSUM para o controlo dos indicadores de capacidade e performance. Outro exemplo, ainda, é referido por Scaratti & Silva (2010), os quais usaram CEP para o controlo do peso da embalgem de farinha de soja micronizada. A ferramenta implementada tem por objectivo reduzir as perdas de produto em virtude do excesso ensacado nas embalagens à custa de cartas de controlo de média individual e amplitude média. Este estudo teve sucesso uma vez que permite reduzir significativamente os custos devido à redução do peso médio de 25,04 kg para 25,00 kg. Atendendo à pesquisa elaborada e aos diferentes exemplos de aplicações de CEP na indústria alimentar pode-se concluir que o tipo de cartas mais frequentes nesta área são as Ana Cristina de Sousa Leite 73 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 cartas de variáveis de média para o controlo da tendência central e de amplitude ou desvio padrão para o controlo da dispersão. Conclui-se ainda que o Controlo Estatístico do Processo é um passo cada vez mais significativo e alvo de estudo para a melhoria da qualidade do produto o que vai incutir maior satisfação do cliente. O uso deste tipo de técnica permite, a longo prazo, uma redução importante dos custos sendo que os que mais se destacam são os custos associados a produtos não conformes, aspecto que os directores financeiros apreciam e valorizam (Burr, 2005). As variadas aplicações de CEP na indústria alimentar, como em qualquer outra, acarretam custos que podem ser significativos na fase inicial de implementação. No entanto, após implementação e estabilização do processo reduzem significativamente os custos de produção e permitem uma clara integração em requisitos de utilização de Gestão de programas de qualidade segundo os princípios do paradigma 6-Sigma. CEP oferece uma base para melhoria a longo prazo, uma perspectiva de actuação desencadeada pela monitorização e análise de causas de variabilidade (Burr, 2005). Na fase inicial, os custos podem ser, sobretudo, de aquisição de material informático de suporte a CEP ou recrutamento de colaboradores com especialização nesta área. Após implementação e estabilização do processo produtivo, os produtos defeituosos ou que não cumpram os critérios de qualidade são minimizados. Com esta alteração reduz-se, significativamente os custos de não conformidade (Mitra, 2008). 5.4 Caso de estudo: Controlo do peso dos produtos de Fábrica de Pastelaria S. Silvestre A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre, tal como qualquer empresa, pretende produzir em conformidade com as características pretendidas e por consequência, obter maior grau de satisfação do cliente. No entanto, por observação directa de alguns elementos de chefia da empresa e por reclamações dos clientes, averiguou-se que os pesos de alguns produtos oscilavam significativamente. Tendo em conta o critério de melhoria contínua, e em resposta às reclamações dos clientes, ponderou-se a implementação de controlo dos pesos de alguns produtos. Este controlo seria feito tendo por base as ferramentas de Controlo Estatístico do Processo, concretamente, as cartas de controlo. Note-se que a implementação de técnicas estatísticas de controlo não sendo um requisito obrigatório da NP EN ISO 9001:2008 é aqui visto como uma ferramenta de monitorização e redução de variabilidade, apontando à satisfação do cliente. Pelos dois motivos referidos é obviamente uma metodologia que permite pensar em ganhos económicos e impacto ao nível de imagem comercial (Longo, 1996; Trienekens & Zuurbier, 2007). Uma vez que a característica da qualidade controlada é o peso dos produtos, esta enquadra-se no grupo das variáveis, uma vez que é mensurável. Assim, todos os procedimentos adoptados têm por base as aplicações de cartas de controlo de variáveis. Outro aspecto a considerar é o padrão do processo, como não existe histórico válido de dados de Ana Cristina de Sousa Leite 74 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 pesos de produtos nem requisito imposto pelo cliente, o padrão do processo terá de ser obtido a partir de uma janela temporal onde dados aleatórios são obtidos. A etapa que se segue é decidir quais os produtos a controlar. Esta tarefa foi decidida com base num critério - os produtos mais vendidos. Decidiu-se estabelecer controlo para o Pão Bico (produto de padaria) e o Croissant Brioche (produto de pastelaria). Com o intuito de definir o conjunto de dados que serviu para caracterizar a distribuição de referência do processo procedeu-se à pesagem aleatória de itens ao longo de um período de tempo definido. As pesagens foram efectuadas num balança certificada pelo Ministério da Economia, de marca BIZERBA, tendo por identificação interna o código EMM 33, a qual se situa numa banca na área de expedição e tem precisão de 0,002 kg. 5.4.1 Dados recolhidos em Fábrica de Pastelaria S.Silvestre A utilização de subgrupos de amostras é um aspecto importante no uso de cartas de controlo uma vez que interfere na determinação dos limites de controlo. O uso de subgrupos pequenos (3, 5 ou 7 elementos) é aconselhado nos processos de fabrico no sector alimentar (Burr, 2005). Assim, se uma mudança no processo causa uma perda elevada em relação ao custo da inspecção é benéfico utilizar subgrupos maiores pois vão pemitir detectar e localizar mais rapidamente o erro, limitando, desta forma, os custos associados à perda. Com base neste princípio, apesar de ser aconselhável um tamanho de subgrupo elevado, optou-se por tamanho um subgrupo de apenas 2, por forma a tornar mais expedita a utilização da ferramenta. A justificação prende-se com os custos de produção e de medição associados. À medida que se aumenta o tamanho do subgrupo, diminui os valores das constantes (ver Tabela 5-2 e de seguida ), logo os limites de controlo inferior e superior vão se aproximar mais dos valores medianos da média e de amplitude. Este factor é benéfico a nível de exigência de controlo de uma variável conseguindo-se maior: rapidez de detecção logo menor tempo requerido pela etapa de amostragem e pesagem; fiabilidade dos dados e projecção dos dados em informação o mais correcta e próxima da realidade. No entanto, estes factores acarretam um controlo mais severo que constituirá um aumento dos custos de produção para combater as não conformidades associadas e diminuir as causas de variabilidade. É de salientar que no sentido de minimizar os custos de amostragem ainda se perspectivou o uso de cartas de controlo individuais usando estimativas de desvio-padrão baseadas na amplitude. Contudo, volta a ressaltar-se a importância de controlar a variabilidade deste processo. Ora, alguns autores têm vindo a referir que a carta de amplitude ̅ ) (usada conjugadamente com a de média móvel )) tem um valor adicional de monitorização pouco elevado (Alwan, 1999). As razões disto prendem-se com o facto da variabilidade ser calculada com base no comportamento do processo em instantes temporais distintos e revelar pouca dinâmica da variabilidade do processo. Ana Cristina de Sousa Leite 75 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Nesta linha de raciocínio, optou-se por utilizar o tamanho de subgrupo mais reduzido, dois elementos, para conseguir colmatar os dois últimos factores apontados sem deixar de prosseguir o controlo dos pesos dos produtos. Após a primeira recolha de dados analisou-se se os dados verificavam as condições requeridas pela implementação de CEP. Isto é, denotavam um processo que se comportava de acordo com uma distribuição normal e se havia aleatoriedade, relevante para a construção de um padrão útil para a detecção de causas especiais de variabilidade do processo. 5.4.1.1 Normalidade dos dados Para testar a distribuição normal dos dados recolhidos foi utilizado o programa informático STATISTICA, usando os testes de K-S e de Lilliefors. O teste de Kolmogorov-Smirnov é um teste não-paramétrico, vulgarmente conhecido por K-S, apresenta grandes vantagens face a outros testes, nomedamente o . Este teste é usado para amostras aleatórias extraídas de populações contínuas (Fonseca, 2001). Fundamentalmente, o teste K-S diz respeito à qualidade do ajustamento entre uma distribuição observada e uma distribuição teórica contínua, completamente especificada (Mello, 1997). O teste de Lilliefors é uma variante do teste de K-S usado para a verificação de normalidade dos dados. A principal diferença entre os dois testes é que o de K-S testa a normalidade a partir de média e desvio fornecidos enquanto o de Lilliefors utiliza a média e o desvio padrão calculados no próprio conjunto de dados (Fonseca, 2001). 5.4.1.2 Aleatoriedade dos dados A aleatoriedade dos dados torna-se um pré-requisto associado à normalidade, uma vez que o teste de K-S é usado em amostras aleatórias. A aleatoriedade das amostras recolhidas foi testada através de um algoritmo desenvolvido em MatLab. Sucintamente, o teste de aleatoriedade usado classifica cada uma das amostras como sendo uma variável dicotómica do tipo 0 ou 1, se ela está acima ou abaixo da média; de seguida calcula o número de 0, número de 1 e o número de sequência; por fim compara o número de sequências com os valores críticos tabelados de uma dada distribuição de referência para um nível de significância de 95% . Na Tabela 5-1 apresentam-se os resultados dos testes de Aleatoriedade e de Normalidade tendo em conta todas as amostras recolhidas. Ana Cristina de Sousa Leite 76 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Tabela 5-1 – Valores de significância (p) para os testes de K-S, Lilliefors e de aleatoriedade para os dados recolhidos dos tipos de produtos em estudo, sendo N – Não e S – Sim. Normalidade Produto Aleatoriedade Número de amostras K-S Lilliefors p p p Pão Bico cru 106 0,011 N 0,001 N 0,427 S Pão Bico cozido 106 0,010 N 0,001 N 0,025 N Croissant Brioche cru 105 0,609 S 0,184 S 0,890 S Croissant Brioche cozido 62 0,394 S 0,054 S 0,191 S Por análise da Tabela 5-1 verifica-se que o produto Croissant Brioche (cru e cozido) tem um comportamento aleatório e apresenta uma distribuição normal. No caso do produto Pão Bico (cru e cozido) não existe normalidade nem aleatoriedade, exceptuando o Pão Bico cru. Este resultado leva a pensar que o processo referente à produção de Pão Bico não é normal, não cumprindo, os requisitos de utilização de cartas de Shewhart. Naturalmente que CEP poderia ser usado, recorrendo a metodologias de mudança de variável vulgarmente usada em processos não normais (Burr, 2005). Inicialmente pretendia-se uma ferramenta simples e intuitiva, no entanto tal não é garantido pela estratégia de mudança de variável, assim, foram apenas definidas cartas de controlo para o Croissant Brioche. Note-se que a não verificação de aleatoriedade se deve, sobretudo, à imprecisão que a balança acarreta. Esta precisão da balança, por ser algo elevada, vai ser cada vez mais significativa à medida que os pesos dos produtos diminuem. Ou seja, os Pães Bico são os produtos mais leves que se pesaram e não apresentam aleatoriedade. Já os Croissants Brioche têm um peso mais elevado são aleatórios e seguem uma distribuição normal. 5.4.2 Limites de Controlo Os limites de controlo permitem assinalar a ocorrência de causas especiais de variabilidade. De facto, ao comparar-se o comportamento instantâneo do processo monitorizado à custa de uma amostra, testa-se graficamente a hipótese estatística de haver variações relativamente à distribuição de referência, previamente determinada. Várias regras de detecção são vulgarmente usadas (Juran & Gryna, 1991). Todas elas definem valores de α e β para o teste de hipóteses levado a cabo. No entanto, a mais comum das regras assume que o valor de α é 0,0027 e que, por isso, os limites de controlo se encontram distantes da linha central, correspondente à métrica quantificativa do primeiro momento, três desvios padrão (Mendenhall & Sincich, 1992). Esta regra, vulgarmente conhecida como a regra de detecção estipula que o processo sofreu alterações se um ponto estiver fora da faixa compreendida entre o limite inferior de controlo (LIC) e o limite superior de controlo (LSC). Note-se que, Ana Cristina de Sousa Leite 77 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 assim as cartas implementadas assumem uma perspectiva 6 Sigma, onde o espaço entre os limites de controlo corresponde a seis desvios padrão do processo quando está em modo estável. A determinação dos limites de controlo está intimamente ligada ao tamanho do subgrupo Tabela 8-6 (Pires, 2007).Assim, a Tabela 5-2 apresenta as expressões que permitem obter os valores dos limites de controlo para as cartas de controlo para variáveis de padrão desconhecido tendo em conta a média, ̅ ou a amplitude, . Tabela 5-2 – Expressões que permitem determinar os limites de controlo de cartas de controlo de média e amplitude e padrão desconhecido (Mitra, 2008). VARIÁVEIS Média, ̅ Tipo de carta Limites de controlo Padrão desconhecido Superior ̿ ̅ Amplitude, Inferior Superior ̅ ̅ ̿ Inferior ̅ A média das médias das amostras é dada definida por ̿ , ̅ é a média das amplitudes das amostras e são constantes tabeladas (Tabela 8-6) (Mitra, 2008). Para o presente caso de estudo em, toma o valor de 1,880, o valor de 3,267 e é 0,000 (zero). Os valores de ̿ e ̅ são obtidos através dos valores recolhidos para amostragem no período em que se constitui o padrão. Após isso sintozinam-se as cartas. No caso das cartas de controlo de média ( ̅ ), os pontos fora de controlo são a evidência de uma mudança geral que afecta todos os elementos depois da primeira amostra fora dos limites. Assim, para descobrir qual a variável do processo que falhou e provocou este descontrolo tem de se estudar todo o processo de recolha de amostras, as operações do processo e a experiência dos colaboradores da empresa. As causas mais usuais são aspectos como a mudança de matéria prima, de colaboradores, novas calibrações de equipamentos, ferramentas, temperaturas (Juran & Gryna, 1991). No caso das cartas de controlo de amplitude ( ), os pontos fora de controlo são uma evidência que a uniformidade do processo se alterou. Aqui as causas comuns são essencialmente a mudança de colaboradores, o aumento de variabilidade da matéria prima ou uma mudança repentina no equipamento. No caso de aumento súbito verificado na amplitude está relacionado com um incidente no equipamento que impede o controlo dos produtos (Juran & Gryna, 1991). 5.4.3 Cartas de controlo dos pesos de Croissant Brioche - Fase I Da sintonização das cartas resultaram os limites de controlo, no caso de Croissant Brioche os valores correspondentes aos limites de controlo apresentam-se na Tabela 5-3. Ana Cristina de Sousa Leite 78 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Tabela 5-3 – Valores dos limites de controlo (inferior e superior) e da linha central das cartas de controlo de média e de amplitude dos Croissants Brioche no estado cru e cozido. Produto Carta de controlo de média Carta de controlo de amplitude Croissant Brioche cru Croissant Brioche cozido LIC (g) 88,007 82,348 LC (g) 104,946 99,849 LSC (g) 121,885 117,350 LIC (g) 0,000 0,000 LC (g) 9,010 9,309 LSC (g) 29,436 30,413 Nas cartas de controlo também estão representadas as especificações mínimas, medianas e máximas de peso do produto pretendidas pelo cliente ou por exigência legal e que se aplicam na Fábrica de Pastelaria S. Silvestre. Na Tabela 5-4 apresentam-se as especificações de peso de Croissant Brioche no estado cru e cozido para a carta de controlo de média. Para a carta de controlo de amplitude não se aponta nenhuma especificação de peso, uma vez, que não existem dados que comprovem a amplitude pretendida para um subgrupo de dois elementos. Tabela 5-4 – Valores das especificações mínimas, medianas e máximas de Croissant Brioche cru e cozido para a carta de controlo de média ̅ ). Croissant Brioche cru Croissant Brioche cozido Especificação mínima (g) 95 85 Especificação mediana (g) 100 90 Especificação máxima (g) 105 95 Produto Carta de média A Figura 5-1 representa a carta de controlo de média e a Figura 5-2 a carta de controlo de amplitude para os pesos dos Croissants Brioche cru para a primeira fase de CEP. Ana Cristina de Sousa Leite 79 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Peso médio de Croissant cru (g) 130 125 120 115 110 105 100 95 90 85 80 0 20 40 60 80 100 Amostra Dados recolhidos LC LIC LSC Especificação máxima Especificação mínima Figura 5-1 – Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cru e padrão desconhecido (fase I). Amplitude média do Croissant cru (g) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 20 40 60 80 100 Amostra Dados recolhidos LC LIC LSC Figura 5-2 - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cru e padrão desconhecido (fase I). A Figura 5-3 apresenta a carta de controlo de média para os Croissants Brioche cozidos, enquanto a Figura 5-4 a carta de controlo de amplitude para os pesos para a fase I de CEP. Ana Cristina de Sousa Leite 80 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Peso médio de Croissant cozido (g) 120 115 110 105 100 95 90 85 80 75 0 10 Dados recolhidos 20 LC LIC 30 Amostra LSC 40 50 Especificação máxima 60 Especificação mínima Figura 5-3 – Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cozido e padrão desconhecido (fase I). Amplitude média do Croissant cozido (g) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 10 20 30 40 50 60 Amostra Dados recolhidos LC LIC LSC Figura 5-4 - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cozido e padrão desconhecido (fase I). As Figuras 5-3 e 5-4 demonstram que todas as amostras se encontram dentro dos limites de controlo, logo o processo encontra-se em modo estável e é normal, conforme demonstrado pelo teste de normalidade dos dados (Tabela 5-1). Destas cartas de controlo é ainda possível obter valores de percentagens que nos possam ajudar a averiguar quais as percentagens de produto que se encontram dentro da gama de especificação pretendida pela legislação ou por exigências contratuais para com o cliente. Na Tabela 5-5 são apresentadas as percentagens de Ana Cristina de Sousa Leite 81 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 produtos que se encontram dentro do intervalo de especificações pretendido assim como as que se encontram fora de especificação. Tabela 5-5 - Percentagens de valores dos pesos dos Croissant Brioche crus e cozidos, da fase I, que estão dentro dos limites de controlo e as percentagens das amostras que se encontram na gama das especificações pretendidas, assim como as que não estão. Cartas de controlo de média Cartas de controlo de amplitude Produto de Pastelaria Croissant cru Croissant cozido Número de Amostras 92 52 Dentro dos limites de controlo 100,00% 100,00% Acima de Especificação máxima 52,75% 77,36% Dentro de especificação 42,85% 22,64% Abaixo de especificação mínima 4,40% 0,00% 100,00% 100,00% Dentro dos limites de controlo Pela Tabela 5-5 pode averiguar-se, pelos valores calculados a partir das cartas de controlo de média, que os produtos que seguem para o cliente, ou seja, os que se encontram no estado de cozido estão sob controlo estatístico a 100%. Algo que é também evidente é que apesar dos dados apontarem para um processo estável neste período, verifica-se que as especificações não são completamente satisfeitas acarretando possíveis reclamações por parte do cliente. No entanto, deve ter-se em conta que este é o passo inicial do estabelecimento de CEP e, portanto, há aspectos a melhorar indubitavelmente. Na Tabela 5-5 observa-se igualmente que, para as cartas de controlo de média, os valores fora de especificação apresentam-se, sobretudo, acima da especificação máxima. Ou seja, há uma tendência para realizar Croissant Brioche com peso a mais. Pelas cartas de controlo de amplitude verifica-se que não existem dados que ultrapassam o limite superior de controlo. É de salientar que a amplitude máxima no caso de Croissant Brioche cru é de 29,436 g e que a de Croissant Brioche cozido é de 30,413 g e, relembrando que o peso médio de um Croissant Brioche cru é de 100 g e que no estado cozido é de 90 g é possível averiguar que a variabilidade máxima do peso do produto face ao seu peso médio é significativa. Mais uma vez se verifica a necessidade de proceder à implementação de CEP no processo produtivo da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre com o objectivo final de reduzir a variabilidade das amostras. No entanto, apesar de controlado o processo está sujeito a causas comuns de variabilidade que não são directamente observáveis através da carta de controlo uma vez que todas as amostras foram submetidas às mesmas causas. No caso concreto da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre as possíveis causas comuns que poderão fazer variar os valores das amostras são devidos à falta de sensibilidade dos colaboradores da empresa, diferenças de matéria prima, manutenção preventiva deficiente, o que acarreta a não calibração frequente e correcta dos equipamentos. Ana Cristina de Sousa Leite 82 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Após observação directa e colocação de questões, foram averiguadas as causas de variabilidade e em consequência foram realizadas acções de sensibilização para com o chefe de produção, numa etapa inicial, e depois a todos os colaboradores com o intuito de minimizar as causas e os custos de não controlo dos produtos mais vendidos da Fábrica de Pastelaria S. Silvestre. Uma medida a curto prazo que foi tomada, após as sensibilizações, foi o uso de uma balança digital, junto da linha de produção de Croissant, com o intuito de disponibilizar meios para que os colaboradores possam averiguar se o produto elaborado se encontra dentro das especificações. A apresentação de dados concretos sobre os pesos dos produtos elaborados também foi de especial importância para a consciencialização dos colaboradores da empresa. Este estudo revelou-se importante para os colaboradores e gerência de Fábrica de Pastelaria S. Silvestre uma vez que, com dados concretos, foi possível uma consciencialização da realidade por todos evidenciada, mas não quantificada. A mudança é sempre um passo difícil de encarar numa indústria, mas com esta abordagem específica e tão real para com o processo produtivo, creio que os colaboradores aceitarão medidas e procedimentos para a implementação de CEP no processo produtivo, dando-lhes uma garantia de resposta para com reclamações do cliente e uma homogeneização do peso, e consequentemente dimensões dos produtos, credibilizando, desta forma, ainda mais os produtos de Fábrica de Pastelaria S. Silvestre. Como é evidente do anel de melhoria de Juran, o CEP só é eficaz se o ciclo retroactivo for fechado. Isto é, CEP implica que haja actuação e em primeira instância detecção da causa de variabilidade que poderá levar a instabilidade do processo assinalado pela carta. Para fechar esta malha é necessário um procedimento de actuação, o qual é apresentado na Figura 5-5. Note-se que este procedimento não foi ainda implementado e integrado no Manual da Qualida da empresa, mas será de grande relevância para sistematizar as actuações. Ana Cristina de Sousa Leite 83 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Figura 5-5 – Procedimento de actuação aquando a detecção de um ponto fora de controlo. O procedimento desenvolvido, apesar de simplista, está directamente orientado para o tratamento das que, historicamente, são consideradas as mais frequentes das causas especiais de variabilidade. Note-se que ele enquadra, igualmente, algumas das linhas de orientação decorrentes da implementação do HACCP. Ana Cristina de Sousa Leite 84 Controlo Estatístico do Processo 5.4.4 CAPÍTULO 5 Aplicacação das cartas de controlo dos pesos de Croissant Brioche – Fase II Após a construção do padrão do processo, a sintonização da carta e a definição do procedimento de actuação capaz de investigar as causas assinaladas e promover actuações para a sua cessação, a carta é testada contra uma nova amostra de dados recolhida entre 6 e 29 de Junho de 2011. A este procedimento designa-se, vulgarmente, por utilização das cartas de controlo na fase II. O objectivo aqui é apenas demonstrar como a carta atrás sintonizada poderia ser usada para a monitorização quotidiana. Nas FigurasFigura 5-6 eFigura 5-7 apresentam-se as cartas de controlo de média e amplitude dos Croissants Brioche crus. Já nas FigurasFigura 5-8 Figura 5-9 apresentam-se as cartas de controlo de média e amplitude dos Croissants Brioche cozidos. Peso médio de Croissant cru (g) 130 125 120 115 110 105 100 95 90 85 80 0 10 Dados recolhidos 20 LC LIC 30 Amostra LSC 40 Especificação máxima 50 60 Especificação mínima Figura 5-6 – Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cru (fase II). Ana Cristina de Sousa Leite 85 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Amplitude média do Croissant cru (g) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 10 20 30 Amostra Dados recolhidos LC 40 50 LIC 60 LSC Figura 5-7 - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cru (fase II). Peso médio de Croissant cozido (g) 130 120 110 100 90 80 70 0 Dados recolhidos 20 40 LC LIC 60 Amostra LSC 80 Especificação máxima 100 Especificação mínima Figura 5-8 - Carta de controlo de média de peso das amostras de Croissant Brioche cozido (fase II). Ana Cristina de Sousa Leite 86 Amplitude média do Croissant cozido (g) Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 35 30 25 20 15 10 5 0 0 20 40 60 80 100 Amostra Dados recolhidos LC LIC LSC Figura 5-9 - - Carta de controlo de amplitude de peso das amostras de Croissant Brioche cozido (fase II). As Figuras 5-6, 5-7, 5-8 e 5-9 demonstram que todas as amostras de Croissant Brioche cru e cozido, recolhidas na fase II, se encontram dentro dos limites de controlo, logo o processo encontra-se em modo estável e os dados recolhidos enquadram-se nos limites de controlo da carta de controlo estabelecida. Destas cartas de controlo é novamente possível obter valores de percentagens que nos possam ajudar a averiguar quais são os produtos que se encontram dentro do intervalo de especificações pretendido e as que se encontram fora de especificação (Tabela 5-6). Tabela 5-6 - Percentagens de valores dos pesos dos Croissants Brioche crus e cozidos, fase II, que estão dentro dos limites de controlo e as percentagens das amostras que se encontram na gama das especificações pretendidas, assim como as que não estão. Produto de Pastelaria Croissant cru Croissant cozido Número de Amostras 103 59 100,00% 100,00% Acima de Especificação máxima 6,45% 31,10% Dentro de especificação 75,81% 59,22% Abaixo de especificação mínima 17,74% 9,71% Dentro dos limites de controlo 100,00% 100,00% Dentro dos limites de controlo Cartas de controlo de média Cartas de controlo de amplitude Ana Cristina de Sousa Leite 87 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 A primeria conclusão aponta para que o processo esteja sob controlo, quando se analisam os dados da fase II (de 6 a 29 de Junho 2011) verifica-se ainda que ocorreu um decréscimo acentuado da média dos pesos do produto. Comparando os valores tem-se que, o Croissant Brioche cru passou de uma percentagem de dados dentro das especificações de 42,85% para 75,81%, diminuindo drasticamente os valores superiores à especificação máxima (de 52,75% para 6,45%). No entanto aumentou de 4,40% para 17,74% o número de Croissant Brioche de peso inferior à especificação inferior, sendo, assim, necessário agir de modo a controlar esta variação. O Croissant Brioche cozido também sofreu alterações significativas, mas que vão ao encontro das conclusões retiradas para o Croissant Brioche cru. Esta diferença de performance dos dados usados nas duas cartas teve um conjunto de causas distintas, das quais se destaca a sensibilização dos colaboradores para elaboração do produto com o peso próximo da gama das especificações mínimas, a utilização de uma balança na linha de produção de Croissant Brioche para pesar os produtos. 5.4.5 Custos associados a não qualidade ao nível do peso de produtos Pelo ponto de vista do consumidor, após aquisição, o valor monetário de um produto ou serviço representa uma perda directa que vai reduzir o seu rendimento disponível. Se este produto ou serviço não atingir as expectativas de utilidade para as quais foi adquirido, tendo em conta as características de qualidade, o consumidor vai submeter-se a uma perda adicional durante a utilização (Rooney & Rogerson, 1992). Assim, os consumidores consideram que a aquisição de um produto de qualidade inferior conduzirá a perdas mais elevadas. No sector alimentar, os produtos se não forem sujeitos a critérios de qualidade definidos, podem emergir questões relacionadas com a segurança alimentar dos consumidores. Neste caso não estão apenas envolvidos custos relacionados com a falta de utilidade dos produtos, mas, sobretudo, com a saúde e o bem estar do consumidor. No caso vertente, no entanto, condiciona-se o custo da não qualidade à não satisfação das especificações. Ou seja, à incapacidade de satisfazer os requisitos do cliente. Neste contexto, analisou-se os custos da não qualidade associados ao peso dos Croissant Brioche cozidos expedidos. No caso de uma empresa de qualidade insatisfatória, as características ao nível dos processos, dos recursos humanos, dos equipamentos e infraestruturas originam perdas significativas. Neste caso existe uma poupança obtida pelo baixo investimento em sectores chave do processo, como sejam a qualificação da mão-de-obra, a formação, equipamentos, manutenção, entre outros, que se traduz num aumento de custos de não conformidade. Assim, do ponto de vista empresarial, o baixo investimento em qualidade origina custos e perdas elevadas devido à má qualidade de produtos e serviços (Rooney & Rogerson, 1992). Por outro lado, numa empresa com uma política de qualidade activa, o investimento utilizado na sua implementação (melhores equipamentos, melhor gestão dos recursos, mão-de-obra qualificada, formação, entre outros) será compensado através da diminuição dos custos associados a fenómenos de não qualidade e de falha interna (Robles, 1996). Ana Cristina de Sousa Leite 88 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Desta forma, o objectivo do controlo de custo deveria ser o de reduzir o valor global referente a todos os processos de produção do produto final (Akhyar & et al, 2008). Os constituintes básicos do custo de produção são a matéria prima, a energia, a mão de obra, as despesas provenientes da produção de elementos defeituosos, os recursos utilizados em elementos defeituosos, os resíduos que resultam da produção, entre outros (Rooney & Rogerson, 1992). A existência de custos relacionados com a não qualidade resulta sistematicamente num aumento relativamente relevante nos custos operacionais, que condiciona, por sua vez, o apuramento dos custos totais (Robles, 1996). Os custos totais operacionais da qualidade (COQ) resultam não só dos recursos financeiros relacionados de forma directa e positiva com a função qualidade, mas, sobretudo, com custos que decorram de falhas desta função. A função qualidade de uma empresa pode-se definir como um conjunto de actividades que atravessa todas as áreas e departamentos e que zela pelo controlo, gestão e garantia de Qualidade. Assim, os COQ são o somatório dos recursos utilizados de forma directa e positiva pela função da qualidade e o sobrecusto consequente da não qualidade, ou seja, o somatório de: Custos de falhas internas, definido como os custos gerados quando um determinado processo produz um produto defeituoso detectado internamente. Por exemplo, custos associados a perdas, paragens, falhas, reinspecção, reanálises, detecção de defeitos, testes adicionais, reparação de peças defeituosas e tempo gasto na análise de falhas; Custos de falhas externas, definidos como os custos gerados quando um determinado processo produz um produto defeituoso sendo o defeito detectado externamente. Por exemplo, custos inerentes a problemas de imagem comercial, perdas para a concorrência, de recall e de assistência técnica; Custos de prevenção, definidos como os custos resultantes das acções realizadas de forma a prevenir defeitos. Por exemplo, custos de formação, supervisão e manutenção preventiva, custos necessários para ter um Sistema de Gestão da Qualidade e não ocorrência de falhas; Custos de avaliação, definidos como os custos resultantes das acções de avaliação dos danos e remoção dos bens defeituosos do processo. Por exemplo, custos de inspecção, execução de ensaios, com a estrutura de avaliação, com determinação de padrões e análises de conformidade (Delgado, 1996). Os responsáveis das empresas devem ter consciência de todas as oportunidades para a redução de custos de produção e melhoria da qualidade. O uso de ténicas com fundamentação na estatística nas fases de desenvolvimento e processamento do produto final, principalmente na fase de projecto, permite o controlo de custos de produção e qualidade. Uma das estratégias mais simplistas de avaliação do custo da não qualidade é o paradigma da função perda de Taguchi (Petenate, 2001). Note-se que esta estratégia pertence à categoria dos métodos que, em Qualidade, se classificam como offline, por serem de utilização exterior à linha de produção. Esta metodologia pode ser usada desde a fase de concepção do produto. Tem por objectivo geral o cálculo da perda económica de não produzir em conformidade e Ana Cristina de Sousa Leite 89 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 assim permite minimizar a variabilidade do produto, o que pode conduzir à identificação dos meios que lhe podem conferir robustez durante o processo produtivo perante fontes de variação a que é submetido (Castro, 2000). No contexto do caso de estudo apresentado na secção 5.4 pretende-se determinar os custos associados ao não controlo do processo produtivo do Croissant Brioche. A Função Perda, proposta por Taguchi, é uma função de custo associada ao desvio da idealidade ou do valor–alvo estimado (especificação média) para o produto. Este custo é proporcional ao quadrado do referido desvio podendo ser expressa por: ) ) (5-1) ) a função perda, em unidades monetárias; o valor da qualidade obtida; sendo é uma constante de perda associada a não se produzir com a qualidade alvo e o valor alvo. 5.4.5.1 Função perda para o controlo do peso de Croissant Brioche No caso de estudo de controlo estatístico de peso de Croissant Brioche produzido na Fábrica de Pastelaria S. Silvestre desenvolveu-se a função perda do produto no estado de cozido. Para a empresa a perda que interessa calcular é aquela que está associada ao que é distribuído para o cliente, o que limita a análise de Croissant Brioche cozido. A análise da equação (5-1) permite verificar que a perda ocorre pelo facto de se falhar a qualidade alvo ( = 90 g). Esta equação descreve bem o custo da não conformidade de quando a qualidade ( ) é superior à especificação média ( ), e está intrinsecamente associada à perda decorrente da matéria prima usada e do trabalho adicional (Taguchi & et al, 1989). No entanto não parece uma boa descrição para o custo da não conformidade quando .Deste modo, foi configurada uma função perda estruturada em três ramos: ) ) (5-2) { ) O segundo ramo destina-se a modelisar a perda quando o nível de qualidade é tão baixo que desencadeia reclamações, as quais requerem acções de melhoria. O terceiro ramo descreve a função perda numa pequena região abaixo da especificação média, mas que, historicamente, não leva a desencadeamento de reclamações. Pode atribuir-se esta perda a um impacto da imagem do produto no cliente, sendo aqui representada por uma função linear que ligue os pontos referentes a (especificação mínima) e O valor de foi calculado com base no custo de tratamento de uma não conformidade, estimado pela empresa em 5€. Assumindo que a função perda foi calculada com base num Ana Cristina de Sousa Leite 90 Controlo Estatístico do Processo domínio de CAPÍTULO 5 definido como sendo [82,348; 117,350], obtido a partir dos dados recolhidos da amostragem. O valor da perda por unidade de peso foi estimado com base nos custos da matéria prima e do trabalho, tendo o valor de = 3,85 x 10-5 €/kg2. Relembrando que o o valor de , correspondente ao valor alvo, foi considerado como sendo 90 g, a especificação média definida para este produto. A função perda aqui desenvolvida é unicamente dependente do peso médio, não considerando a variabilidade. Assumindo que uma fracção de não conformidade (pontos abaixo da especificação mínima) nos dados recolhidos é de 9,71 % (cartas de controlo - fase II) e que dessas aproximadamente 10 % são potencialmente alvo de reclamação, o valor de é de 0,048€. O valor de foi determinado graficamente pela intersecção entre as equações que traduzem as perdas acima de e abaixo da especificação mínima ( ), tendo o valor de 85g. Assim, a função perda para o controlo do peso de Croissant Brioche cozido é da pela equação: ) ) (5-3) ) { ) vs A Figura 5-10 representa a Função Perda ( na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. ) dos Croissant Brioche elaborados 2,00E-02 Perda (€/unidade) y = 4E-05x2 - 0,0069x + 0,31 1,50E-02 1,00E-02 5,00E-03 y = -0,001x + 0,0864 0,00E+00 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 Peso (g) Figura 5-10 – Função Perda do processo produtivo de Croissant Brioche da empresa Fábrica de Pastelaria S. Silvestre. Através da Figura 5-10 averigua-se que os Croissants com peso inferior ao peso pretendido ou valor alvo (90g) representam uma perda significativa para a empresa. A esta Ana Cristina de Sousa Leite 91 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 perda correspondem os custos classificados associados a problemas de imagem comercial. Pela Figura 5-10 verifica-se ainda que uma perda importante da empresa começa quando os pesos dos produtos são superiores a cerca de 100 g. Neste caso, a correspondência desta perda é de custos de avaliação e, por consequência, custos de falhas internas em que não há controlo rígido de conformidade do produto nem avaliação rigorosa de processos levando, por sua vez, a custos de reinspecção, manutenção e, sobretudo, tempo gasto na análise de falhas. Através da Figura 5-10 averigua-se, por outro lado que o processo produtivo de Croissant Brioche apresenta oscilações de perda monetária devido às variações de peso de produtos significativas. Considera-se que, apesar de este estudo representar uma estimativa, as perdas de imagem poderão ser mais importantes quando comparadas com os custos de produção. Construiu-se, ainda, um gráfico de Perda (€/unidade) vs. Tempo com o intuito de averiguar a perda instântanea relativamente a cada amostra recolhida na fase II, representado na Figura 5-11. 1,80E-02 1,60E-02 Perda (€/unidade) 1,40E-02 1,20E-02 1,00E-02 8,00E-03 6,00E-03 4,00E-03 2,00E-03 0,00E+00 0 20 40 60 Tempo 80 100 Figura 5-11 – Representação gráfica da perda instantânea relativa a cada amostra recolhida na fase II. 5.4.6 Propostas de trabalhos futuros Num trabalho futuro na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre proponho que se feche o anel de Controlo Estatístico do Processo na linha de produção de padaria e na de pastelaria com o intuito de ter o peso sob controlo e dentro das exigências legais ou contratuais. Isto implica a aprovação e implementação de um procedimento similar ao da Figura 5-5. Outro aspecto a salientar é a realização diária e, se possível, em tempo real da amostragem. Ana Cristina de Sousa Leite 92 Controlo Estatístico do Processo CAPÍTULO 5 Para conseguir atingir os pré-requisitos da utilização das cartas de controlo, nomeadamente a aleatoriedade, sugiro a utilização de uma balança mais apropriada à dimensão das amostras e com maior precisão. Uma sugestão final seria o desencadeamento de um estudo de reprodutibilidade e repetibilidade que permita caracterizar a certeza da medida. Ana Cristina de Sousa Leite 93 Conclusões 6 Conclusões A realização deste estágio permitiu a aquisição de conhecimento na área de qualidade no sector alimentar e na implementação e monitorização do plano de HACCP, assim como a utilização da ferramenta estatística de Controlo Estatístico do Processo. A monitorização do plano HACCP e dos critérios de NP EN ISO 9001:2008 foi, inicialmente, alvo de compreensão e de aprendizagem do enquadramento dos requistos e passos na empresa e nos seus processos. Após conhecimento de práticas tornou-se simples o desempenhar das tarefas propostas e já citadas nas secções 3.3 e 4.3. Os procedimentos na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre apresentam-se bem encadeados e conseguem corresponder às necessidades processuais. Alguns modelos foram sujeitos a ligeiras alterações com o intuito de melhorar a comunicação e distribuição de informação. No entanto, existem ainda pré-requistos do plano de HACCP que vão ao encontro da norma NP EN ISO 9001:2008 que apresentam algumas lacunas. Por outro lado, a área de manutenção funciona de forma deficiente uma vez que, neste momento, apenas se efectuam os serviços mínimos de manutenção e essencialmente se procede a reparações de equipamentos. Outro aspecto a considerar são as falhas do sistema informático Sim!Pan que não permite uma rastreabilidade eficiente e exacta do produto que é fornecido ao cliente, uma vez que abrange uma gama muito alargada de produtos, sendo impossível garantir a informação sobre determinados lotes, implicando perda de informação. E consequentemente em caso de necessidade de realização de recall, terá de ser recolhida uma maior gama de produto. A nível do sistema informático também se poderia colmatar algumas falhas de introdução dos dados no sistema por parte dos colaboradores de modo a retratarem convenientemente a realidade. O sistema de avaliação, inspecção e controlo dos processos e serviços deveria ser um pouco mais rígido com o objectivo final de obtenção de um produto seguro, de qualidade para proporcionar a angariação de mais clientes. Conclui-se, então, que este objectivo foi cumprido parcialmente uma vez que, apesar de ter ocorrido a monitorização e controlo dos requisitos esta não foi suficiente para colmatar estas falhas. Apesar de, actualmente o departamento da qualidade em conjunto com a gerência da empresa terem tomado algumas medidas de sensibilização para com os colaboradores. Tendo em conta o critério da qualidade foi desenvolvido um procedimento de controlo estatístico com o intuito de controlar o produto em cru (no passo do processo produtivo) e o produto final (cozido). Este estudo envolveu a amostragem de um conjunto que permitissem definir um padrão do processo onde unicamente estivessem presentes causas especiais de variabilidade. Este conjunto de dados foi analisado quanto à sua normalidade e aleatoriedade, por forma a validarem-se as condições de padronização de um processo com base numa janela de dados. Posteriormente, foi sintonizada a carta e foi desenvolvido um procedimento de actuação para o caso de causas especiais de variabilidade serem detectadas. Através deste estudo concluiu-se que os dados obtidos de Pão Bico não apresentam os pré-requisitos para poder prosseguir o estudo e implementar CEP com recurso a cartas de controlo de média e amplitude. Ao invés destes, os de Croissant Brioche permitiram a Ana Cristina de Sousa Leite 94 Conclusões construção de cartas de controlo. A informação obtida através desta foi da máxima importância uma vez que se conseguiu apurar que o processo se encontra sob controlo. Tendo em conta as especificações legais ou contratuais averigua-se que 52,75% das amostras cruas e 77,36% das amostras cozidas se encontram fora dos limites de especificação. Foram, ainda averiguadas as causas especiais para a eventualidade do processo ficar fora de controlo e para tal, foram realizadas sensibilizações para com os colaboradores para, a curto prazo, minimizar as causas comuns. Em virtude de CEP procedeu-se à fase seguinte onde se testaram as cartas de controlo anteriormente estabelecidas para averiguar o comportamento dos dados. Assim, conclui-se que o processo se mantém estável, mas que ocorreu um decréscimo acentuado do peso dos produtos para valores mais próximos da linha central, ou seja, os dados estão mais uniformes. Numa fase subsequente a carta atrás sintonizada foi usada para avaliar o estado de controlo do produto num período diferente. Verificou-se que a variabilidade se reduziu e que o produto se encontra em média mais próximo da especificação média. Isto abre desde já a possibilidade de rever a carta e os procedimentos por forma a apertar os limites de controlo, e naturalmente seguir a trajectória da melhoria contínua. Outro factor que se estudou foi os custos associados à não conformidade tendo-se averiguado que os custos de imagem, nomeadamente decorrendo de reclamações, são mais significativos que os de produção de Croissants Brioche. Neste contexto foi definida uma função perda que configura o custo de não conformidade. Esta estrutura analítica, de base Taguchiana, apresenta-se como uma função de três ramos, cada um deles associados a diferentes tipos de impactos da não conformidade. Apesar do seu carácter empírico ela poderá vir a ser útil à gestão para instantaneamente ter uma noção da sua performance. Pessoalmente, considero que novas medidas de controlo como é o caso de CEP devem ser implementadas na empresa para aumentar o sucesso no processamento de produto seguro e de qualidade, mas também para a empresa minimizar os seus custos de produção e de imagem com uma política de qualidade activa e enquadrada no paradigma de melhoria contínua. Ana Cristina de Sousa Leite 95 7 Referências bibliográficas ACIP. (2005). Código de Boas Práticas e de Higiene e Fabrico - Sector da Panificação e Pastelaria. Coimbra: Associação de Comércio e da Indústria de Panificação. Akhyar, G., & et al. (2008). Application of Taguchi Method in the Optimization of Turning Parameters. International Journal of Science Engineering and Technology, 60-66. Alwan, L. (1999). Statistical Process Analysis (2ª ed.). US: McGraw-Hill. Antunes, C., & Baptista, P. (2005). Higiene e Segurança Alimentar na Restauração- Volume II-Avançado. Guimarães: Forvisão-Consultadoria em Formação Integrada, S.A. APCER. (2010). Guia interpretativo de NP EN ISO 9001:2008. Leça da Palmeira. Araújo. (1999). Segurança alimentar, Os perigos para a saúde através dos alimentos. Meribérica/Liber. ASQ, & et al. (2002). The Quality Auditor's HACCP Handbook. Milwaukee: American Security for Quality Press. Azanza, P., & et al. (2005). 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Understanding The Codex Alimentarius. Rome: World Health Organization ;Food and Agriculture Organization of the United Nations. Wilcok, A. (2011). Effective Implementation of Food Safety Iniciatives: Manager's Food Safety Coordinators and Production Worker's perspectives. Elsevier, 27 a33. Ana Cristina de Sousa Leite 99 Anexos 8 ANEXOS AnexoI. Planos de Higienização A Fábrica de Pastelaria S.Silvestre apresenta 12 planos de higienização correspondente a cada área da empresa, no entanto, expõem-se um único plano de higienização como exemplo. O plano de higienização da Tabela 8-1 é referente à área de produção de Pastelaria. Tabela 8-1 – Exemplo de Plano de higienização de uma área Sector PAVIMENTO RALOS / CALHAS CARRO DETERGENTES BATEDEIRAS AMASSADEIRAS DIVISORA LAMINADORAS BANCAS PRATELEIRAS LAVATÓRIOS SUPORTE PAPEL SABONETEIRA RECIPIENTE LIXO BALANÇAS MÁQUINA CORTAR MASSA LINHA DE CORTE REFRIGERADOR PORTAS Produto Sani-Mousse GEL/ Basoneige/ Cleanmousse/ Alcamousse/ Suma Chlorsan/ Cloro DX Tempo de contacto Dose 2%-4% 10 Minutos Descrição Puro ou diluído S20/Alcosan Puro Ana Cristina de Sousa Leite - Registo Colaboradores do Sector Registo de Operações de higienização Aplicação do detergente desinfectante com máquina de projecção de espuma no pavimento e esfregar com escova Esfregar o carro de suporte de detergente com esfregão Enxaguar com água limpa Eliminar o excesso de água com rodo para a calha Esfregar a calha com escovilhão, remover resíduos dos ralos para o lixo e esfregar do mesmo modo os ralos, grelha e tampa, e enxaguar; voltar a repor no local Aplicação do detergente desengordurante com esfregão ou esponja e esfregar Enxaguar com água limpa com a ajuda de um pano limpo, as vezes necessárias até remover todo o detergente e sujidade Secar com pano seco e limpo ou papel absorvente Aplicação do desinfectante por pulverização EGI Lava louça manual Responsável Nota: as placas de PVC das bancas devem ser retiradas para higienizar na parte inferior pelo menos uma vez por semana Atenção: - as balanças e outras máquinas devem ser higienizadas com o máximo cuidado evitando água na parte electrónica e para as telas de tecido; - aos produtos alimentares e documentação, não colocar água sobre estes; - as gavetas e cubas devem ser bem secas antes de se lhe colocar quaisquer produto alimentar, utensílio ou documentação no seu interior. I Anexos Sector Produto Dose Tempo de contacto Descrição Responsável Registo PESADORA MECÂNICA ARMÁRIOS GAVETAS MOINHO DE AÇÚCAR MOINHO 1 MOINHO 2 CUBAS PRENSA ARMÁRIO FOLHAS DE REGISTO TECTOS PAREDES JANELAS/PATAMAR Sani-Mousse GEL/ Basoneige/ Cleanmousse/ Alcamousse/ Suma Chlorsan/ Cloro DX Ana Cristina de Sousa Leite 2%-4% 10 Minutos Colocar directamente do vasilhame o detergente num balde Aplicação do detergente com a ajuda de um esfregão e esfregar com bastante pressão de modo a branquear o máximo possível Enxaguar com água limpa as vezes necessárias com ajuda de um pano limpo e secar II Anexos AnexoII. Condutas de higiene e Boas Práticas no Sector Alimentar Condutas de Higiene e Boas Práticas no Sector Alimentar 1. VESTUÁRIO DE TRABALHO Dependendo das funções que desempenham os trabalhadores devem usar uma farda própria para assegurar a correcta protecção. A farda deve apresentar-se sempre em bom estado de higiene e conservação, esta deve ser usada exclusivamente nas instalações da fábrica. Protecção de Corpo de cor clara, de preferência, sem bolsos e sem botões (bata, t-shirt ou túnica, calça e/ou avental lavável); Protecção da cabeça (touca de tecido que cubra todo o cabelo, incluindo a franja); Calçado apropriado (socas, sapatos); Máscara naso-bucal (Zona de preparação, acabamentos e embalamento); Luvas (luvas de segurança específica para fornos e luvas descartáveis para manipulação de produto como por exemplo, na zona de acabamentos). 2. HIGIENE PESSOAL As pessoas que manuseiam os alimentos devem manter um padrão elevado de limpeza pessoal, estas devem usar vestuário de trabalho apropriado como citado anteriormente. Os cortes e as feridas devem ser cobertos por pensos apropriados à prova de água. O pessoal deverá sempre lavar as mãos quando a limpeza pessoal possa afectar a segurança dos alimentos, por exemplo: No início das actividades de manuseamento de alimentos; Imediatamente após utilização dos sanitários; Após manuseamento de alimentos crus ou qualquer material contaminado, uma vez que existe risco de contaminação. MANTER UNHAS CORTADAS E SEM VERNIZ! 3. COMPORTAMENTO PESSOAL As pessoas envolvidas em actividades de manuseamento de alimentos devem comportamentos que possam resultar na contaminação dos alimentos como por exemplo: evitar Fumar, Cuspir, Mascar ou comer, Espirrar ou tossir sobre alimentos. ADEREÇOS PESSOAIS como jóias relógios, alfinetes ou outros itens não devem ser usados ou trazidos para as áreas de manuseamento de alimentos pois constituem um perigo para a segurança dos alimentos. NÃO COLOCAR MAQUILHAGEM! Ana Cristina de Sousa Leite III Anexos AnexoIII. Exemplo de relatório de análises de produtos alimentares (pirâmide) do laboratório ControlVet. Ana Cristina de Sousa Leite IV Anexos AnexoIV. Modelo exemplificativo para registo de preventiva efectuado num determinado equipamento. Manutenção MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS Logotipo da empresa Equipamento Designação Código Localização MANUTENÇÃO Realização Sim Não Data Descrição Próxima verificação Responsável Verificação Lubrificação de peças Limpeza Geral Pintura Substituição de peças Ana Cristina de Sousa Leite V Anexos AnexoV. Fichas técnicas de produtos alimentares Uma vez que a Fábrica de Pastelaria S.Silvestre confecciona produtos alimentares de panificação e pastelaria, aquando a realização da ficha técnica ocorre a necessidade de especificar a composição de cada produto que elabora. Assim, apresentam-se dois exemplos de ficha técnica de produtos alimentares, sendo um da área de panificação (Pão Bico) e o outro da de pastelaria (Croissant Brioche). Ficha técnica de produtos de panificação – Pão Bico Anexo V.I. FICHA TÉCNICA DO PRODUTO FICHA TÉCNICA DO PRODUTO FÁBRICA PASTELARIA S. SILVESTRE, Lda Zona Industrial Alto do Padrão Lt39 FÁBRICA PASTELARIA S. SILVESTRE, Lda 3200-133 LOUSÃ – PORTUGAL Zona Industrial Alto do Padrão Lt39 Tel: 239990950/59 Fax: 239990955 3200-133 LOUSÃ – PORTUGAL Email: [email protected] www.saosilvestre.pt Tel: 239990950/59 Fax: 239990955 NIF: 502336978 Email: [email protected] www.saosilvestre.pt NIF: 502336978 Bicos Cod. Produto: PADAR 001 Bicos Cod. Produto: PADAR 001 INGREDIENTES FOTO Farinha de trigo tipo 65, água, fermento (levedura e estabilizante:E415), sal, açúcar, melhorantes (farinha de trigo, regulador de acidez (E471), emulsionante (E472e, E471) agente de tratamento da farinha: ácido ascórbico e enzimas,dextrose, produtos lácteos, antiaglomerante E170, amido de trigo, regulador de acidez (E261i)) ESPECIFICAÇÕES MICROBIOLÓGICAS CARACTERISTICAS DO PRODUTO Microrganismo Critério Microbiológico Contagem de microrganismos a 30 ºC =<1*10 5 /g Contagem de Bacillus cereus =<1*10 2 /g Produto Fresco Produto Refrigerado APRESENTAÇÃO E EMBALAGEM O produto é acondicionado em tabuleiros de plástico Produto Peso Unitário (gr) Unidades por Caixa Peso por Caixa (gr) Bico Cozido 45 100 4,500 Bico Refrigerado 45 20 900 Caixas/Palete Total Caixas/Palete Dimensões Caixa (cm) Altura Base C L Embalagem Primária Tipo de Material Tabuleiro Plástico A Dimensões Palete (cm) C L A Embalagem Secundária Tipo de Material ROTULAGEM DISTRIBUIÇÃO E TRANSPORTE Veículos Adequados CONSERVAÇÃO E VALIDADE Conservação Local fresco Validade 48 horas MERCADO ALVO CONSUMIDOR ALVO Pastelarias, Padarias, Terminais de Cozedura Toda a população em geral excepto os intolerantes a glúten, produtos lácteos Ana Cristina de Sousa Leite VI Anexos Ficha técnica de um produto de pastelaria – Croissant Anexo V.II. Brioche FICHA TÉCNICA DO PRODUTO FICHA TÉCNICA DO PRODUTO FÁBRICA PASTELARIA S. SILVESTRE, Lda Zona Industrial Alto do Padrão Lt39 FÁBRICA PASTELARIA S. SILVESTRE, Lda 3200-133 LOUSÃ – PORTUGAL Zona Industrial Alto do Padrão Lt39 Tel: 239990950/59 239990955 3200-133 LOUSÃ –Fax: PORTUGAL Email: [email protected] www.saosilvestre.pt Tel: 239990950/59 Fax: 239990955 NIF: 502336978 Email: [email protected] www.saosilvestre.pt NIF: 502336978 Croissant Croissant Cod. Produto: PAST0001 Cod. Produto: PAST0001 INGREDIENTES FOTO Farinha de trigo 55, açúcar, ovos, água, margarina vegetal (óleos e gorduras parcialmente hidrogenados, água, sal, emulsionantes (E471, lecitina de soja), conservante: E202, regulador de acidez (E330), corantes: E160a, E160b, E100, aromatizantes), fermento, melhorante (farinha de trigo, emulsionante:E481, E471, corante: E102;E110, regulador de acidez: E170, enzimas, agente de tratamento da farinha: E300, espessante (E412), aromas), sal. ESPECIFICAÇÕES MICROBIOLÓGICAS CARACTERISTICAS DO PRODUTO Microrganismo Critério Microbiológico Pesquisa de Salmonela spp. Produto Fresco Negativo em 25 g 2 Contagem de Bolores e Leveduras =< 5*10 /g Contagem de bactérias sulfito redutoras - Produto Ultracongelado 3 Contagem de bactérias coliformes =<1*10 /g Contagem de E. Coli =<1*10 /g Contagem de microrganismos a 30 ºC =<1*10 5 /g Contagem de Staphylococcus coagulase =< 1*10 2 /g 1 Pesquisa de Listéria monocytogenes Negativo em 25 g APRESENTAÇÃO E EMBALAGEM O produto é acondicionado em covete ,tabuleiros de plástico ou caixa de cartolina Produto Caixas/Palete Altura Peso Unitário (gr) Unidades por Caixa Peso por Caixa (gr) 90±5 3 270 ±5 Total Caixas/Palete Dimensões Caixa (cm) Base C L Embalagem Primária Tipo de Material Covete de plástico e filme plástico A Dimensões Palete (cm) C L A Embalagem Secundária Tipo de Material Cartão Canelado ou tabuleiro de PVC ROTULAGEM DISTRIBUIÇÃO E TRANSPORTE Veículos isotérmicos CONSERVAÇÃO E VALIDADE Conservação Local seco e fresco Validade 15 dias MERCADO ALVO CONSUMIDOR ALVO Pastelarias, escolas, restaurantes, supermercados Consumidor em geral execpto os intolerantes a glúten, soja, produtos lácteos, ovos Ana Cristina de Sousa Leite VII Anexos AnexoVI. Identificação de perigos e a determinação dos níveis de aceitação. Tabela 8-2 – Perigos associados a cada etapa do processo, especificação do perigo, nível de aceitação, a causa e medidas preventivas. Etapa Perigo Biológico Recepção do material de embalagem (1) Armazenagem do material de embalagem (2) Nível de aceitação Descrição Fungos Ausência Medidas preventivas Armazenagem incorrecta Deficientes práticas de fabrico do fornecedor Transporte efectuado em condições higiénicas inadequadas Requisição dos certificados de conformidade das embalagens ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Armazenagem incorrecta Deficientes práticas de fabrico do fornecedor Transporte efectuado em condições higiénicas inadequadas Armazenagem incorrecta Deficientes práticas de fabrico do fornecedor Transporte efectuado em condições higiénicas inadequadas Armazenagem incorrecta Incorrecta vedação do armazém Controlo de pragas ineficaz Requisição dos certificados de conformidade das embalagens ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Físico Poeiras Ausência Químico Materiais tóxicos Ausência Biológico Fungos Pragas Físico Poeiras Matéria fecal de roedores Ausência Armazenagem/Manuseamento incorrecto Deficiente limpeza do armazém Controlo de pragas ineficaz Químico Matéria fecal de roedores Ausência Incorrecta vedação do armazém Controlo de pragas ineficaz Deficiente limpeza do armazém Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo Cumprimento do plano de higienização e registo Recepção de matéria primas já contaminadas do fornecedor Proliferação microbiológica durante o transporte por tempo e temperaturas inadequadas Exposição prolongada das matéria primas a Requisição da ficha técnica/certificado de análise ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Inspecção visual do material de acondicionamento das matéria primas Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo Ausência (Anexo A, Tabela A) Recepção de matéria primas (3) Causa Biológico Pragas Ana Cristina de Sousa Leite Ausência Requisição dos certificados de conformidade das embalagens ao fornecedor Vedação eficaz do armazém de embalagens Controlo de pragas eficaz e controlado por técnico externo Cumprimento das boas práticas armazenagem Sensibilização dos operadores Cumprimento do Código de Boas Práticas Cumprimento das Boas Práticas de Armazenagem Cumprimento do Plano de Higienização e registo Controlo de pragas eficaz e controlado por técnico externo VIII Anexos Etapa Perigo Nível de aceitação Descrição Causa Medidas preventivas temperaturas inadequadas no corredor do cais Controlo de pragas ineficaz Físico Materiais estranhos Ausência Químico Materiais tóxicos Ausência (Anexo A, Tabela A) Biológico Armazenagem temperatura ambiente (4) Preparação ingredientes Pesagem Mistura ingredientes de (6), (7), de (8), Requisição da ficha técnica/certificado de análise ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Inspecção visual do material de acondicionamento das matéria primas Deficiente higienização do armazém Controlo de pragas ineficaz Armazenagem incorrecta Cumprimento do plano de higienização e registo Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo Cumprimento das boas práticas de armazenagem Requisição da ficha técnica/certificado de análise ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Pragas Ausência Físico Materiais estranhos Matéria fecal de roedores Ausência Deficientes práticas de armazenagem Deficiente higienização do armazém Controlo de pragas ineficaz Cumprimento das boas práticas de armazenagem Cumprimento do plano de higienização e registo Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo Químico Matéria fecal de roedores Ausência Incorrecta vedação do armazém Controlo de pragas ineficaz Deficiente higienização do armazém Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo Cumprimento do plano de higienização Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação dos produtos Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Cumprimento das boas práticas de armazenagem Exposição prolongada a temperaturas elevadas Contaminações cruzadas Práticas de fabrico incorrectas Práticas de higiene incorrectas Controlo de pragas ineficaz Boas práticas de fabrico e manipulação Boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo à Armazenagem à temperatura de refrigeração (5) Deficientes práticas de fabrico do fornecedor Contaminação durante o transporte Utilização de material de condicionamento em mau estado de conservação Deficientes práticas de armazenagem ou fabrico do fornecedor Transporte efectuado em condições inadequadas Biológico (Anexo A, Tabela A) (Anexo A, Tabela A) Biológico Ana Cristina de Sousa Leite Pragas Ausência IX Anexos Etapa Perigo Amassadura (9), Corte, Moldagem/Enfor magem (10), Tender em carregadores de telas, tabuleiros ou formas (11) Físico Químico Congelação (12) Biológico Descongelação (13) Biológico Nível de aceitação Descrição Materiais estranhos (material da embalagem, PVC, parafusos) Resíduos de detergentes/des infectantes Materiais tóxicos Causa Ausência Deficientes práticas de fabrico do fornecedor Desprendimento de materiais dos equipamentos Práticas de fabrico incorrectas Práticas de higiene incorrectas Manutenção preventiva dos equipamentos Boas práticas de fabrico e manipulação Boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Ausência Deficientes práticas de higienização Absorção de produtos químicos tóxicos quando acondicionados em recipientes não próprios Cumprimento do plano de higienização e registo Utilização obrigatória de recipientes próprios para contacto com alimentos (Anexo A, Tabela A) Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação de produtos congelados Deficientes práticas de manipulação (Anexo A, Tabela A) Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação de produtos congelados Deficientes práticas de manipulação Levedação/ Fermentação (14) Biológico (Anexo A, Tabela A) Avaria do sistema de refrigeração Levedação/Fermentação por período de tempo excessivo Deficientes práticas de manipulação Deficiente higienização das câmaras de levedação Tratamento térmico (15) (cozedura Biológico (Anexo A, Tabela A) Ineficiência na destruição da carga microbiológica Contaminações cruzadas e Ana Cristina de Sousa Leite Medidas preventivas Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Boas práticas de manipulação Cumprimento do binómio tempo/temperatura no túnel Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Boas práticas de manipulação Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Cumprimento do binómio tempo/temperatura de levedação Boas práticas de manipulação Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Cumprimento do binómio tempo/temperatura estipulado Boas práticas de fabrico e manipulação X Anexos Etapa Perigo Nível de aceitação Descrição Causa Medidas preventivas fritura) Tratamento térmico (15) (cozedura fritura) e Arrefecimento (16) Desenformagem (17), Acabamento/Rech eio (24) Químico Ausência Formação de compostos indesejáveis por oxidação dos óleos de fritura ou abuso do binómio tempo/temperatura na cozedura Contaminações cruzadas Práticas de fabrico incorrectas Práticas de manipulação incorrectas Práticas de higiene incorrectas Contaminações cruzadas Práticas de fabrico incorrectas Práticas de manipulação incorrectas Práticas de higiene incorrectas Práticas de fabrico incorrectas Práticas de manipulação incorrectas Práticas de higiene incorrectas Desprendimento de materiais dos equipamentos Cumprimento do binómio tempo/temperatura estipulado. Análises regulares ao óleo das fritadeiras. Cumprimento das boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento das boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Biológico (Anexo A, Tabela A) Biológico (Anexo A, Tabela A) Físico Materiais estranhos Ausência Químico Resíduos de detergentes/des infectantes Ausência Deficiente higienização das formas Cumprimento do plano de higienização e registo Físico Materiais estranhos Ausência Práticas de manipulação incorrectas Desprendimento de materiais dos equipamentos Cumprimento das boas práticas de manipulação Manutenção preventiva dos equipamentos Químico Resíduos de detergentes/des infectantes Ausência Deficientes práticas de higienização Cumprimento do plano de higienização e registo Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação de produtos refrigerados Deficientes práticas de manipulação Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Expedição (19), Distribuição (20) Refrigeração (21) Compostos indesejáveis Biológico Ana Cristina de Sousa Leite (Anexo A, Tabela A) Cumprimento das boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento das boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Cumprimento das boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento das boas práticas de higiene XI Anexos Etapa Perigo Nível de aceitação Descrição Causa Medidas preventivas Boas práticas de manipulação Químico Armazenagem em câmara de congelação de produto intermédio (22) Preparação recheios (23) de Armazenagem em câmara de refrigeração (25) Resíduos de detergentes/des infectantes Deficientes práticas de higienização Cumprimento do plano de higienização e registo (Anexo A, Tabela A) Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação de produtos refrigerados Deficientes práticas de manipulação Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Boas práticas de manipulação Biológico (Anexo A, Tabela A) Exposição prolongada a temperaturas elevadas Contaminações cruzadas Práticas de fabrico incorrectas Práticas de higiene incorrectas Cumprimento do binómio tempo/temperatura necessitem tratamento térmico) Boas práticas de fabrico e manipulação Boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Físico Materiais estranhos Ausência Práticas de fabrico incorrectas Práticas de higiene incorrectas Desprendimento de materiais dos equipamentos Cumprimento das boas práticas de fabrico Cumprimento das boas práticas de higiene Manutenção preventiva dos equipamentos Cumprimento do plano de higienização e registo Químico Resíduos de detergentes/des infectantes Materiais tóxicos Ausência Deficientes práticas de higienização Absorção de produtos químicos tóxicos quando acondicionados em recipientes não próprios Cumprimento do plano de higienização e registo Utilização obrigatória de recipientes próprios para contacto com alimentos (Anexo Tabela A) Avaria sistema refrigeração Deficiente higienização câmaras conservação Biológico Biológico Ana Cristina de Sousa Leite A, Ausência do de das de de (receios que Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Boas práticas de manipulação XII Anexos Etapa Perigo Químico Armazenagem em câmara de congelação de produto acabado (26) Descongelação de produto acabado (27) Biológico Biológico Ana Cristina de Sousa Leite Descrição Resíduos de detergentes/des infectantes Nível de aceitação produtos refrigerados Deficientes práticas de manipulação Ausência Causa Deficientes práticas de higienização (Anexo A, Tabela A) Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação de produtos refrigerados Deficientes práticas de manipulação (Anexo A, Tabela A) Avaria do sistema de refrigeração Deficiente higienização das câmaras de conservação de produtos refrigerados Deficientes práticas de manipulação Medidas preventivas Cumprimento do plano de higienização e registo Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Boas práticas de manipulação Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos operadores Boas práticas de manipulação XIII Anexos AnexoVII. Significância dos perigos nas diferentes etapas dos processos da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre Na Tabela 8-3 apresenta-se o grau de significância dos perigos nas diferentes etapas da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre Tabela 8-3 – Grau de significância dos diferentes perigos associados às etapas da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Sendo S – significativo e NS – não significativo. Etapa Recepção do embalagem (1) Perigo material de Biológico Físico Químico Biológico Armazenagem do material de embalagem (2) Físico Químico Biológico Recepção de matéria prima (3) Físico Químico Biológico Armazenagem ambiente (4) à temperatura Físico Químico Armazenagem à temperatura de Biológico refrigeração (5) Ana Cristina de Sousa Leite Descrição Nível de aceitação Fungos Poeiras Materiais tóxicos Fungos Pragas Poeiras Matéria fecal de roedores Matéria fecal de roedores Anexo A, Tabela A Pragas Materiais estranhos Materiais tóxicos Anexo A, Tabela A Pragas Materiais estranhos Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência Ausência Matéria fecal de roedores Matéria fecal de roedores Anexo A, Tabela A Risco (R) Severidade (G) RxG S/NS Ausência Ausência 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS Ausência Ausência 10 10 100 100 1000 1000 NS NS 10 100 1000 NS Ausência Ausência Ausência XIV Anexos RISCO SEVERIDADE Perigo R x G Descrição S/NS (R) (G) Anexo A, Tabela Anexo A, Tabela A 100 100 10000 S A Preparação de ingredientes (6), Pesagem Biológico Pragas Materiais estranhos Ausência 10 100 1000 NS (7), Mistura de ingredientes (8), Físico Materiais estranhos Resíduos de Amassadura Ausência(9), 10 Corte,100 1000 NS detergentes/desinfectantes Resíduos Moldagem/Enformagem (10), Tender detergentes/desinfectantes Anexo A, Tabela A 10 1000 NS em carregadores de telas, tabuleiros ou100 Químico Resíduos de formas (11) Materiais Ausência 10 100 1000 tóxicos NS detergentes/desinfectantes Congelação (12) Biológico Anexo A, Tabela 10 100 1000 NS A Anexo A, Tabela A 1000 NS Descongelação de produto 10 intermédio100 Biológico Anexo A, Tabela A (13) Anexo A, Tabela A 10 100 1000 NS Materiais estranhos Ausência 10 100 1000 NS Levedação/Fermentação (14) Biológico Anexo A, Tabela A Resíduos de Ausência 10 100 1000 NS Biológico Anexo A, Tabela A detergentes/desinfectantes Tratamento térmico (15) Anexo A, Tabela A 100 100 10000 indesejáveis S Químico Compostos Resíduos de Arrefecimento (16) Biológico Anexo A, Tabela A Ausência 10 10 100 NS detergentes/desinfectantes Biológico Anexo A, Tabela A Nível de aceitação Nível de Etapa aceitação Anexo A, Tabela A Desenformagem Acabamento/Recheio (24 Anexo A, Tabela A 10 10 Acondicionamento (18) Ana Cristina de Sousa Leite (17),100 Físico Químico 100 Materiais 1000 estranhos NS Resíduos detergentes/desinfectantes 1000 NS Biológico Anexo A, Tabela A Físico Materiais estranhos Químico Resíduos detergentes/desinfectantes de de Severidade (G) RxG S/NS Ausência Ausência 10 10 10 100 100 100 1000 1000 1000 NS NS NS Ausência 10 100 1000 NS Ausência 10 100 1000 NS 10 100 1000 NS 10 100 1000 NS 10 100 1000 NS 10 100 1000 NS 100 10 100 100 10000 1000 S NS Ausência 10 10 100 100 1000 1000 NS NS Ausência 10 100 1000 NS 10 100 1000 NS Ausência 10 100 1000 NS Ausência 10 100 1000 NS Ausência de Risco (R) XV Anexos Tabela 8-4 – Identificação de pontos críticos e pontos críticos de controlo, com recurso à árvore de decisão, para cada perigo identificado nas diversas áreas da empresa. AnexoVIII. Identifi cação de Pontos críticos (PC) e Pontos Críticos de Controlo (PCC) atendendo à Árvore de Decisão ETAPA PERIGO Biológico Recepção do material de Físico embalagem (1) Químico Biológico Armazenagem do material de Físico embalagem (2) Químico DESCRIÇÃO NIVEL DE ACEITAÇÃO MEDIDAS PREVENTIVAS Requisição dos certificados de conformidade das embalagens ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Requisição dos certificados de conformidade das embalagens ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Q1 Q2 Q3 Q4 Plano HACCP S N N - PC S N N - PC Fungos Ausência Poeiras Ausência Materiais tóxicos Ausência Requisição dos certificados de conformidade das embalagens ao fornecedor S N N - PC Fungos Pragas Ausência Vedação eficaz do armazém de embalagens Controlo de pragas eficaz e controlado por técnico externo Cumprimento das boas práticas de armazenagem S N N - PC Poeiras Matéria fecal de Ausência roedores Sensibilização dos operadores Cumprimento das boas práticas de armazenagem Controlo de pragas eficaz efectuado por técnico externo Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC Matéria fecal de Ausência roedores Controlo de pragas eficaz e controlado por técnico externo Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC Anexo A, Tabela A Requisição da ficha técnica/certificado de análise ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção S N N - PC Biológico Pragas Ausência Inspecção visual do material de acondicionamento das matéria primas Controlo de pragas eficaz efectuado por técnico externo S N N - PC Físico Materiais estranhos Ausência Requisição da ficha técnica/certificado de análise ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção Inspecção visual das matéria primas aquando da sua preparação S N N - PC Químico Materiais tóxicos Ausência Requisição da ficha técnica/certificado de análise ao fornecedor Cumprimento do plano de monitorização à recepção S N N - PC Recepção de matéria prima (3) Ana Cristina de Sousa Leite XVI Anexos ETAPA PERIGO Q1 Q2 Q3 Q4 Plano HACCP S N N - PC S N N - PC S N N - PC Anexo A, Tabela A Manutenção preventiva dos equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização Formação/Sensibilização dos operadores Cumprimento das boas práticas de armazenagem Cumprimento das boas práticas de armazenagem S N S N PCC1 Anexo A, Tabela A Boas práticas de fabrico e manipulação Boas práticas de higiene S N S S PC Ausência Cumprimento do plano de higienização e registo Controlo de pragas eficaz efectuado por técnico externo S N N - PC Ausência Manutenção preventiva de equipamentos Boas práticas de fabrico e manipulação Boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Formação do pessoal S N N - PC Cumprimento do plano de higienização e registo Utilização obrigatória de recipientes próprios para alimentos S N S S PC DESCRIÇÃO NIVEL DE ACEITAÇÃO Anexo A, Tabela A Biológico Armazenagem à temperatura Físico ambiente (4) Químico Armazenagem à temperatura de Biológico refrigeração (5) Preparação de ingredientes (6), Biológico Pesagem (7), Mistura de ingredientes (8), Amassadura (9), Corte, Físico Moldagem/Enfor magem (10), Tender em carregadores de telas, tabuleiros Químico ou formas (11) Ana Cristina de Sousa Leite Pragas Ausência Materiais estranhos Ausência Materiais tóxicos Ausência Pragas Materiais estranhos Resíduos de detergentes/desinf Ausência ectantes Materiais tóxicos Ausência MEDIDAS PREVENTIVAS Cumprimento do plano de higienização e registo Cumprimento das boas práticas de armazenagem Controlo de pragas eficaz controlado por técnico externo Cumprimento das boas práticas de armazenagem Cumprimento do plano de higienização e registo Controlo de pragas efectuado por técnico externo Controlo de pragas eficaz efectuado por técnico externo Cumprimento do plano de higienização e registo XVII Anexos ETAPA Congelação (12) Descongelação de produto intermédio (13) Levedação/Ferment ação (14) Tratamento térmico (15) Arrefecimento (16) PERIGO NIVEL DE ACEITAÇÃO Q2 Q3 Q4 Anexo A, Tabela A Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação Cumprimento do binómio tempo/temperatura no túnel S S - - PCC5 Anexo A, Tabela A Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação S S - - PCC1 Biológico Anexo A, Tabela A Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento do binómio tempo/temperatura de levedação S N S S PC Biológico Anexo A, Tabela A Cumprimento do binómio tempo/temperatura estipulado Boas práticas de fabrico e manipulação S S - - PCC4 Cumprimento do binómio tempo/temperatura Análises regulares ao óleo das fritadeiras S S - - PCC3 Cumprimento de boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento de boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC Biológico Químico Biológico Ana Cristina de Sousa Leite Compostos indesejáveis Ausência Anexo A, Tabela A MEDIDAS PREVENTIVAS Plano HACCP Q1 Biológico DESCRIÇÃO XVIII Anexos ETAPA PERIGO Biológico Desenformagem (17), Acabamento/Rechei o (24) Expedição (19), Distribuição (20) NIVEL DE ACEITAÇÃO Anexo A, Tabela A MEDIDAS PREVENTIVAS Plano HACCP Q1 Q2 Q3 Q4 Cumprimento de boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento de boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC Físico Materiais estranhos Ausência Cumprimento de boas práticas de manipulação Cumprimento de boas práticas de higiene S N N - PC Químico Resíduos de detergentes/desinf ectantes Ausência Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC Cumprimento de boas práticas de manipulação Cumprimento de boas práticas de fabrico Cumprimento de boas práticas de higiene S N N - PC Biológico Acondicionamento (18) DESCRIÇÃO Anexo A, Tabela A Físico Materiais estranhos Ausência Cumprimento de boas práticas de manipulação Cumprimento de boas práticas de fabrico Manutenção preventiva de equipamentos S N N - PC Químico Resíduos de detergentes/desinf ectantes Materiais tóxicos Ausência Cumprimento do plano de higienização e registo Utilização obrigatória de recipientes próprios para alimentos S N N - PC S S - - PCC6 S N N - PC S N N - PC Biológico Físico Químico Ana Cristina de Sousa Leite Anexo A, Tabela A Materiais estranhos Resíduos de detergentes/desinf ectantes Ausência Ausência Cumprimento de boas práticas de manipulação Cumprimento de boas práticas de higiene Manutenção preventiva de equipamentos Cumprimento do plano de higienização definido para veículos e registo Distribuir produtos refrigerados/congelados em veículo refrigerado Controlo da temperatura do veículo Cumprimento de boas práticas de manipulação Manutenção preventiva de equipamentos Cumprimento do plano de higienização e registo XIX Anexos ETAPA PERIGO Biológico DESCRIÇÃO NIVEL DE ACEITAÇÃO Q1 Q2 Q3 Q4 Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação S N N - PC Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC Anexo A, Tabela A Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação S S - - PCC2 Anexo A, Tabela A Cumprimento do binómio tempo/temperatura (recheios que necessitem tratamento térmico) Cumprimento de boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento de boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo S S - - PCC4 S N N - PC S N N - PC Anexo A, Tabela A Refrigeração (21) Químico Armazenagem em câmara de congelação de produto intermédio (22) Biológico Biológico Preparação de recheios (23) Resíduos de detergentes/desin fectantes Ausência MEDIDAS PREVENTIVAS Físico Materiais estranhos Ausência Manutenção preventiva de equipamentos Cumprimento de boas práticas de fabrico e manipulação Cumprimento de boas práticas de higiene Cumprimento do plano de higienização e registo Químico Resíduos de detergentes/desinf ectantes Ausência Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Utilização obrigatória de recipientes próprios para alimentos Ana Cristina de Sousa Leite Plano HACCP XX Anexos ETAPA Armazenagem em câmara de refrigeração de produto acabado (25) PERIGO Biológico Químico DESCRIÇÃO NIVEL DE ACEITAÇÃO Anexo A, Tabela A Resíduos de detergentes/desinf ectantes Ausência Armazenagem em câmara de congelação de produto acabado (26) Biológico Anexo A, Tabela A Descongelação de produto acabado (27) Biológico Anexo A, Tabela A Ana Cristina de Sousa Leite MEDIDAS PREVENTIVAS Q1 Q2 Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação S S - - PCC1 Cumprimento do plano de higienização e registo S N N - PC S S - - PCC2 S S - - PCC1 Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação Manutenção preventiva de equipamentos Plano anual de calibração e ensaio Monitorização da temperatura da câmara Cumprimento do plano de higienização e registo Formação/Sensibilização dos colaboradores Boas práticas de manipulação Q3 Q4 Plano HACCP XXI Anexos Anexo A Tabela A – Parâmetros microbiológicos e valores de aceitação. Parâmetro Valor de aceitação ≤ 5x102 Bolores e leveduras (ufc/g) Bactérias sulfito redutoras (ufc/g) Bactérias coliformes (ufc/g) ≤ 1x103 Bactérias coliformes (ufc/100mL) 0 E. coli (ufc/g) ≤ 1x101 E. coli (ufc/100mL) 0 Microrganismos a 22ºC (ufc/mL) ≤ 100 Microrganismos a 30ºC (ufc/g) ≤ 1x105 Microrganismos a 37ºC (ufc/mL) ≤ 20 Staphylococus (ufc/g) ≤ 1x102 coagulase positiva Bacillus cereus (ufc/g) ≤ 1x103 Salmonella /25g* Ausência Listeria monocytogenes /25g* Ausência * (Segundo amostragem referida no Regulamento 1441/2007 de 05 de Dezembro) Ana Cristina de Sousa Leite XXII Anexos AnexoIX. Controlo dos diferentes PCC’s nas diversas áreas da Fábrica de Pastelaria S.Silvestre Tabela 8-5 – Medida, parâmetros e limites de controlo para os seis PCC’s e parâmetros de monitorização, registo e acções correctivas. Etapa Perigo PCC Medida de controlo Armazenagem de matéria primas à temperatura de refrigeração (5), Descongelação de Produto Monitorização da Intermédio Biológico PCC1 temperatura da (PI) (13) , câmara Armazenagem em câmara de refrigeração de produto acabado (25) e Descongelação de produto acabado (27) Ana Cristina de Sousa Leite Pârametro de Limite de controlo controlo Temperatura ≥ Temperatura 4˚C Monitorização Frequência Diária Procedimento Responsável Departamento da Controlo visual da Qualidade e/ou temperatura e/ou Departamento de através de software produção Registo Software de controlo de temperatura Registo de pedidos de manutenção Mod.051/00 Correcões Rejeitar produtos suspeitos Acções correctivas Alertar o responsável pela manutenção. Repor os valores de temperatura. Verificação das características macroscópicas dos produtos antes da sua utilização. Detectar situações de deterioração XXIII Anexos Etapa Perigo Armazenagem de matéria primas em câmara de congelação de produto Biológico intermédio (22, Armazenagem em câmara de congelação de produto acabado (26) Tratamento térmico (15) Químico Ana Cristina de Sousa Leite PCC PCC2 Medida de controlo Parâmetro de controlo Limite de controlo Monitorização da Temperatura ≤ temperatura da Temperatura -18˚C câmara Monitorização Frequência Diária Procedimento Controlo visual da temperatura e/ou através de software Responsável Departamento da Qualidade e/ou Departamento de produção Registo Software de controlo de temperatura Registo de pedidos de manutenção Mod.051/00 Correcções Acções correctivas Alertar o responsável pela manutenção. Repor os valores de temperatura. Verificação das Rejeitar produtos características suspeitos macroscópicas dos produtos antes da sua utilização. Detectar situações de deterioração Evitar o Utilização de sobreaquecimento Regular o termóstato Temperatura termómetro portátil do banho de Temperatura para temperatura ≤ de fritura: por imersão da sonda Rejeitar o produto fritura Por 180ºC ≤180˚C durante a fase final da sujeito a fritura no Proceder à amostragem operação banho filtragem do óleo Reparação do 1º Aquecer o óleo de forma a Controlo do equipamento 2º Encher o tubo de Rejeitar o óleo do eliminar os estado de óleo até ao traço Departamento da banho de fritura resíduos sólidos oxidação e Evitar o PCC3 3º Agitar bem Qualidade ou quando este Conservar o óleo temperatura dos sobreaquecimento do 4º Estabilizar Chefe de fabrico apresentar, em teste, devidamente óleos de fritura banho de fritura 5º Verificar a cor, coloração verde tapado Mod.059/00 comparando com o azeitona Mudar Escala de cor Mudar Limite padrão e classificar periodicamente os do teste periodicamente os máximo de 6º Registar a data no Substituição integral banhos de fritura, colorimétrico Quinzenal banhos de fritura, utilização: cor tubo de teste do óleo efectuando um rápido efectuando um teste verde 7º Conservar os tubos teste colorímetro colorímetro rápido em caixa plástica rápido XXIV Anexos Etapa Perigo Tratamento térmico (15), Biológico Preparação do Recheio (23) Congelação (12) Expedição (19), Distribuição (20) Biológico PCC Medida de controlo PCC4 Cumprimento do binómio tempo/temperatura estipulado (recheios que necessitem tratamento térmico) PCC5 Biológico PCC6 Ana Cristina de Sousa Leite Monitorização da temperatura da câmara Controlo da temperatura do veículo Parâmetro de controlo Limite de controlo Tempo e temperatura de cozedura Temperatura ≥ 120˚C durante 12 – 15 minutos Temperatura no centro do produto> 85˚C Mod.040 Temperatura Temperatura Temperatura ≤ 18˚C Temperatura entre -18˚C e 22˚C (para produtos ultracongelados) Temperatura ≤ 12˚C durante 3 horas para os produtos refrigerados Frequência Por cozedura (por amostragem) Diária Por ciclo Monitorização Registo Procedimento Responsável Controlo do tempo e temperatura de cozedura e Chefe de Registo de medição da padaria e chefe temperatura temperatura do de pastelaria Mod. 45/00 centro do produto após cozedura Departamento Controlo visual da Qualidade da temperatura e/ou e/ou através de Departamento software de produção Medição da temperatura Distribuidor Software de controlo de temperatura Registo de pedidos de manutenção Mod.051/00 Registo de temperatura das viaturas Mod.060/00 ou ticket Correcções Acções correctivas Submeter o produto a novo tratamento Cumprir o binómio tempo/temperatura estipulado Rejeitar produtos suspeitos Alertar o responsável pela manutenção Repor os valores de temperatura Verificação das características macroscópicas dos produtos antes da sua utilização Detectar situações de deterioração Rejeitar produtos suspeitos Alertar o responsável pela manutenção Regular o equipamento de refrigeração XXV Anexos Etapa Perigo Expedição (19), Biológico Distribuição (20) Ana Cristina de Sousa Leite PCC PCC6 Medida de controlo Controlo da temperatura do veículo Pârametro de controlo Limite de controlo Temperatura Temperatura entre -18˚C e 22˚C (para produtos ultracongelados ) Temperatura ≤ 12˚C durante 3 horas para os produtos refrigerados Monitorização Registo Frequência Procedimento Correcões Responsável Acções correctivas Alertar o responsável pela manutenção Por ciclo Medição da temperatura Distribuidor Registo de temperatura Rejeitar produtos das viaturas suspeitos Mod.060/00 ou ticket Regular o equipamento de refrigeração XXVI Anexos AnexoX. Cartaz elaborado para sensibilização dos colaboradores para o processo de recicla gem e para o meio ambiente. Ana Cristina de Sousa Leite XXVII Anexos AnexoXI. Cartas de Controlo de média e de Amplitude de Pão de Bico cru e cozido Os valores de Pão Bico amostrados não preenchem os pré-requisitos para construção de cartas de controlo, ou seja, não são aleatórios e não se distribuirem normalmente. No entanto forma construídas, por curiosidade, as cartas de controlo de média e de amplitude deste produto no estado cru e cozido e são apresentadas de seguida. 70 Peso médio de Pão Bico cru (g) 68 66 64 62 60 58 56 54 52 50 0 20 Dados recolhidos 40 LC LIC LSC Amostra 60 80 Especificação máxima 100 Especificação mínima Amplitude média do Pão Bico cru (g) Figura 8-1 – Carta de controlo de média de Pão Bico cru elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0 20 Dados recolhidos 40 LC 60 Amostra LIC ou Especificação mínima 80 LSC 100 Especificação máxima Figura 8-2 – Carta de controlo de amplitude de Pão Bico cru elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Ana Cristina de Sousa Leite XXVIII Peso médio de Pão Bico cozido (g) Anexos 54 52 50 48 46 44 42 40 0 20 Dados recolhidos 40 LC LIC LSC 60 Amostra 80 Especificação máxima 100 Especificação mínima Amplitude média do Pão Bico cozido (g) Figura 8-3 - Carta de controlo de média de Pão Bico cozido elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. 14 12 10 8 6 4 2 0 0 20 40 60 80 100 Amostra Dados recolhidos LC LIC ou Especificação mínima LSC Especificação máxima Figura 8-4 - Carta de controlo de amplitude de Pão Bico cozido elaborado na Fábrica de Pastelaria S.Silvestre. Através destas cartas de controlo verifica-se que o processo produtivo de Pão Bico se encontra ligeiramente fora de controlo estatístico tendo em conta os limites de controlo, mas, tamném, que se encontram muito distantes do intervalo de valores de especificações legislativas e contratuais. No entanto, estas são tomadas apenas como observações e não dados cientificamente correctos uma vez que os dados amostrados não apresentam os prérequisitos para construção de cartas de controlo. Ana Cristina de Sousa Leite XXIX Anexos AnexoXII. Tabela de constantes utilizadas nos cálculos para as cartas de controlo. Tabela 8-6 – Tabela de constantes utilizadas na determinação dos limites de controlo das diferentes cartas de controlo possíveis (Pires, 2007) Ana Cristina de Sousa Leite XXX