UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Síntese e Caracterização de Compostos de Coordenação Homolépticos e Heterolépticos com o Ligante Ácido Kójico Verônica da Silva Oliveira _____________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, janeiro de 2014 VERÔNICA DA SILVA OLIVEIRA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO HOMOLÉPTICOS E HETEROLÉPTICOS COM O LIGANTE ÁCIDO KÓJICO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção de grau de Mestre. Orientadora: Prof.ª Dra. Ana Cristina Facundo de Brito Pontes Co-orientador: Prof. Dr. Daniel de Lima Pontes Natal, RN 2014 2 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Oliveira, Veronica da Silva. Síntese e caracterização de compostos de coordenação homolépticos e heterolépticos com o ligante ácido kójico / Veronica da Silva Oliveira. – Natal, RN, 2013. 190 f. : il. Orientador: Ana Cristina Facundo de Brito Pontes. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Química. 1. Química Inorgânica – Dissertação. 2. Química de Coordenação – Dissertação. 3. Compostos de Coordenação - Dissertação. 4. Ácido Kójico – Dissertação. I. Pontes, Ana Cristina Facundo de Brito. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 546 AGRADECIMENTOS Ao Deus Pai todo poderoso e misericordioso, pela graça de ter conquistado mais essa vitória em minha vida, iluminando e abençoando-me, fortalecendo-me nos momentos mais difíceis dessa caminhada. Obrigada meu Deus por todas as maravilhas que realizas em minha vida. Aos meus pais Vanízia Maria da Silva Oliveira e Aberaci Pereira de Oliveira, por todo amor, carinho e apoio. Por tudo que aprendi e pela pessoa a qual me tornei. Aos meus irmãos Albercy, Aldeir e Vanessa que torcem por minhas conquistas e se alegram com o meu sucesso. Aos meus sobrinhos, amores da minha vida, Álipher Gabriel, Ana Vitória, Ana Cecília e Nicole Gabrielle, pelo carinho e momentos de descontração, nos momentos de estresse da dissertação. Ao meu namorado Railson Carlos Souza da Luz, pelo amor, carinho, apoio, incentivo, consolo e principalmente paciência, nos momentos de desespero na reta final do mestrado. Meu muito obrigado por está ao meu lado, sempre dando força, ajudando-me e colaborando em tudo. A toda minha família e a todos os meus amigos que mesmo distante torcem e vibram com minhas conquistas, e souberam compreender a minha ausência durante esses últimos meses para a finalização desse trabalho. Ao Prof. Dr. Daniel de Lima Pontes, por esses dois anos de ensinamentos, pela sua ajuda, paciência e disponibilidade para me orientar. Pelas diversas conversas, preciosos momentos de aprendizado profissional e também crescimento pessoal, pelos incentivos, apoio, confiança e conselhos. Meu muito obrigada! A Professora Dra. Ana Cristina pela atenção, apoio e carinho durante esse tempo. Ao Prof. Francisco Ordelei pela sua ajuda e colaboração no desenvolvimento desse trabalho, nos estudos dos complexos de rutênio. Aos integrantes do Laboratório de Química de Coordenação e Polímero: Wendy, Aimée, Mayara, Anallicy, Blênda, Francymar, Luciana, Rayssa, Dayana, Nayara e Ana Carolina, pela torcida e apoio, pela nossa convivência diária, troca de experiências e conhecimentos, pelos nossos momentos de descontrações e confraternizações. 4 Ao laboratório de Bioinorgânica da UFC, na pessoa do professor Dr. Luiz Gonzaga de França Lopes, pela disponibilidade de estrutura do laboratório. A central analítica do Departamento de Química da UFPE, pela análise elementar (CHN). Ao instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; a central analítica na pessoa do técnico Joadir. Ao programa de Pós-Graduação em Química da UFRN e a CAPES pela ajuda financeira, com a concessão de bolsa de estudo. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse trabalho. 5 “Algo só é impossível até que alguém duvide e resolva provar ao contrário.” Albert Einstein RESUMO Com o presente trabalho tem-se como objetivo contribuir com a química de coordenação do ligante ácido kójico, com a síntese e caracterização de compostos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3], [Fe(kj)2], [Cu(kj)2] e [Ru(kj)3], assim como dos novos complexos heterolépticos, trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]. Os compostos obtidos foram caracterizados através da espectroscopia vibracional na região do infravermelho e da espectroscopia eletrônica na região do ultravioleta e visível (Uv-Vis). Os resultados de infravermelho comprovaram a coordenação do ligante bidentado ácido kójico, devido às reduções dos valores das frequências de estiramento da carbonila e das duplas ligações, comparativamente ao ligante livre, para todos os complexos obtidos. Assim como a verificação de novos modos vibracionais, em decorrência da alteração de simetria da molécula na formação de novas estruturas para os compostos sintetizados. Além de modos vibracionais atribuídos aos estiramentos metal-oxigênio, evidenciando coordenação dos íons metálicos ao ligante. Através dessa técnica, também foi possível realizar correlações dos números de modos vibracionais, na região de 1400 a 900 cm-1, com a geometria dos compostos. Adicionalmente aos complexos homolépticos, os compostos heterolépticos exibiram frequências de υC≡N em 2065 e 2053 cm-1, respectivamente, para o trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e o trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2], indicando coordenação do ligante ciano aos íons metálicos de FeII e RuII. Comparativamente com dados da literatura, foi possível propor a isomeria, caracterizando os complexos em configuração trans. E com relação aos resultados da espectroscopia eletrônica, os estudos da variação do pH do ácido kójico forneceram informações sobre a distribuição de densidade eletrônica na molécula, apresentando perfil espectral característico do íon kójico na sua forma protonada (Hkj, ácido kójico), com duas bandas em 215 e 269 nm, ou desprotonada (kj-), com bandas em 226 e 315 nm. E os espectros eletrônicos obtidos para todos os complexos em meio aquoso, na região do ultravioleta exibiram variações das energias atribuídas às transições intraligantes do ácido kójico, e na região do visível, só foram identificadas transições para os complexos de ferro e rutênio, atribuídas em sua maioria as transferência de carga. Palavras chave: Compostos de coordenação; ácido kójico e cianeto. 6 ABSTRACT The present work has as main objective to contribute to the coordination chemistry of the ligand kojic acid, with the synthesis and characterization of the homoleptic compounds [Al(kj)3], [Fe(kj)3], [Fe(kj)2], [Cu(kj)2] e [Ru(kj)3], and the new heteroleptic complexes, transK2[Fe(kj)2(CN)2] and trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]. The obtained compounds were characterized by vibrational spectroscopy in the infrared region (IV) and Electronic spectroscopy in the ultraviolet and visible region (Uv-Vis). The infrared results indicated the coordination of the bidentate ligand kojic acid, due to reductions in the values of the stretching frequencies of the carbonyl and double bonds, compared to the free ligand for all complexes obtained. The presence of new vibrational modes indicated the change of symmetry of the molecules in the new compounds synthesized. Additionally, the presence of vibrational modes assigned to metal-oxygen also contributed to confirm the ligand coordinating to the metal ions. Through this technique, was also possible to perform correlations of the numbers of vibrational modes, in the region 1400-900 cm-1 and the compounds geometry. The heteroleptic compounds exhibited υC≡N in 2065 and 2053 cm-1, respectively, for the trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] and trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2], indicating coordination of the cyano ligand to metal ions FeII e RuII. Comparing the obtained values with literature data was possible to identify the complex isomerism as trans. In relation to the results of electronic spectroscopy, studies of pH variation of kojic acid provided information on the distribution of electron density in the molecule, showing characteristic spectral profile of kojic ion and its protonated form (Hkj, kojic acid), with two bands at 215 and 269 nm, or deprotonated (kj-), with bands at 226 and 315 nm. The electronic spectra obtained for all complexes in aqueous medium, in the ultraviolet region, exhibited variations of the energies assigned to kojic acid intraligand transitions while in the visible region, only transitions assigned to charge transfer of iron and ruthenium complex have been identified. Keywords: Coordination compounds; kojic acid and cyanide. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Estrutura química do ácido kójico ............................................................................ 24 Figura 2 - Possibilidades de modificações estruturais dos hidroxipironas. .............................. 27 Figura 3 - Representação de Hidroxipironas. ........................................................................... 28 Figura 4 - Representação das Possibilidades de Derivações do Ácido kójico com Aminoácidos. ............................................................................................................................ 29 Figura 5 - Representação da Síntese de Ácido Kójico com Sais Diazonioaromáticos............. 29 Figura 6 - Estrutura do Derivado do Ácido Kójico com Ácido Láurico. ................................. 30 Figura 7- Representação da Reação de N-Alquilação da Quitosana ao Ácido Clorokójico. ... 30 Figura 8 - Reação de síntese para obtenção dos derivados 3-hidroxi-6-metil-2-[(4substituintepiperazin-1-il)metil]-4H-piran-4-ona. .................................................................... 31 Figura 9 - Sistema de Síntese dos Derivados l,2,5-trisubstituintes-4(1H)-piridinona a partir do Ácido Kójico. ........................................................................................................................... 32 Figura 10 - Representação da Derivação do Ácido Kójico em Tioeter. ................................... 33 Figura 11 - Representação da Conversão dos Derivados de Tioeter em Sulfóxidos (a) e em Sulfonas (b). ............................................................................................................................. 34 Figura 12 - Representação de Derivados do Ácido Kójico com vanilina e orto-vanilina. ....... 34 Figura 13 - Representação dos Complexos Formados em Meio Aquoso na Proporção de uma Molécula e Duas Moléculas do Ligante Ácido Kójico............................................................. 35 Figura 14 - Representação dos ligantes hidroxipironas (na parte superior), e representação estrutural dos complexos formados com os íons de alumínio e gálio (na parte inferior). ........ 36 Figura 15 - Representação dos Complexos de Índio obtidos com Ligantes Pironas (parte superior) e Piridonas (parte inferior). ....................................................................................... 37 Figura 16 - Representação do Complexo de Oxovanádio com o Ácido Kójico....................... 37 Figura 17 - Proposta de representação para os complexos sintetizados com os ligantes ácido kójico e maltol a partir de organoestanho. ................................................................................ 38 Figura 18 - Representação dos Ligantes. .................................................................................. 39 Figura 19 - Representação dos Complexos de Rutênio. ........................................................... 40 Figura 20 - Representação Estrutural dos Complexos de Metais de Transição com Ácido Kójico e L-prolina como Ligantes, onde M= Co (II), Ni (II) e Zn (II) (à esquerda) e M= Mn (II) (à direita). ........................................................................................................................... 41 Figura 21 - Representação Esquemática dos Compostos Derivados do Ácido Kójico. ........... 41 Figura 22 - Síntese do Ligante Macrocíclico 6,6′,6′′-(1,4,7-triazonana-1,4,7triil)tris(metileno)tris(5-hidroxi-2-(hidroximetil)-4H-piran-4-ona). ........................................ 42 Figura 23 - Representação do Ligante Macrocíclico e de seus Complexos Sintetizados......... 42 Figura 24 - Síntese de Complexos de Rutênio-Cimeno Reagindo com Ligantes Pironas e Tiopironas. ................................................................................................................................ 43 Figura 25 - Estrutura Química do Ácido Azidokojico. ............................................................ 44 Figura 26 - Representação Esquemática do Potencial de Aplicação dos Hidroxipiridona, atuando como Ligante (cinza) e na Forma de Complexos, para Fins Terapêuticos (azul) e Aplicações em Diagnósticos (violeta). ..................................................................................... 45 Figura 27 - Transições de Energia entre Orbitais. .................................................................... 48 Figura 28 - Fluxograma de síntese do complexo [Al(kj)3]. ...................................................... 55 Figura 29 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Al(kj)3] (à direita). ..... 55 Figura 30 - Fluxograma de síntese do complexo [Fe(kj)3]. ...................................................... 56 Figura 31 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Fe(kj)3] (à direita). ..... 57 Figura 32 - Fluxograma de síntese do complexo [Fe(kj)2]. ...................................................... 58 Figura 33- Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Fe(kj)2] (à direita). ...... 58 Figura 34 - Fluxograma de síntese do complexo [Cu(kj)2]. ..................................................... 59 8 Figura 35 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Cu(kj)2] (à direita). .... 60 Figura 36 - Fluxograma de síntese do complexo [Ru(kj)3]. ..................................................... 61 Figura 37 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Ru(kj)3] (à direita). .... 61 Figura 38 - Fluxograma de síntese do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2]. .............................. 62 Figura 39 - Proposição de estrutura do íon trans-[Fe(kj)2(CN)2]2-, à esquerda, e foto do complexo obtido à direita. ........................................................................................................ 63 Figura 40 - Fluxograma de síntese do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]. ............................ 64 Figura 41 – Proposição de estrutura do íon trans-[Ru(kj)2(CN)2]2-, à esquerda, e foto do complexo obtido à direita. ........................................................................................................ 64 Figura 42 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 4000 a 400 cm-1........................................................................................................... 70 Figura 43 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 1800 a 1400 cm-1......................................................................................................... 72 Figura 44 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 1400 a 900 cm-1........................................................................................................... 73 Figura 45 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 900 a 400 cm-1............................................................................................................. 74 Figura 46 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj)3] na faixa de 4000 a 400 cm-1........................................................................................................... 76 Figura 47 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj)3] na faixa de 1800 a 1400 cm-1......................................................................................................... 77 Figura 48 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj)3] na faixa de 1400 a 900 cm-1. ......................................................................................................... 78 Figura 49 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj)3] na faixa de 900 a 400 cm-1............................................................................................................. 79 Figura 50 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)3] na faixa de 4000 a 400 cm-1........................................................................................................... 80 Figura 51 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)3] na faixa de 1800 a 1400 cm-1......................................................................................................... 81 Figura 52 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)3] na faixa de 1400 a 900 cm-1........................................................................................................... 82 Figura 53 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)3] na faixa de 900 a 400 cm-1............................................................................................................. 83 Figura 54 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)2] na faixa de 4000 a 400 cm-1........................................................................................................... 84 Figura 55 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)2] na faixa de 1800 a 1400 cm-1......................................................................................................... 85 Figura 56 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)2] na faixa de 1400 a 900 cm-1........................................................................................................... 87 Figura 57 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)2] na faixa de 900 a 400 cm-1............................................................................................................. 88 Figura 58 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj)2] na faixa de 4000 a 400 cm-1........................................................................................................... 89 Figura 59 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj)2] na faixa de 1800 a 1400 cm-1......................................................................................................... 90 Figura 60 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj)2] na faixa de 1400 a 900 cm-1........................................................................................................... 91 Figura 61 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj)2] na faixa de 900 a 400 cm-1............................................................................................................. 92 9 Figura 62 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj)3] na faixa de 4000 a 400 cm-1........................................................................................................... 93 Figura 63 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj)3] na faixa de 1800 a 1400 cm-1......................................................................................................... 94 Figura 64 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj)3] na faixa de 1400 a 900 cm-1........................................................................................................... 95 Figura 65 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj)3] na faixa de 900 a 400 cm-1............................................................................................................. 96 Figura 66 - Representação do efeito de conjugação do heterocíclico mediante deslocalização da densidade eletrônica da carbonila com a coordenação do metal. ........................................ 99 Figura 67 - Representação do Diagrama do orbital molecular para o CN-............................. 102 Figura 68 - Representação dos orbitais do metal e do ligante CN- envolvidos na retrodoação e na σ doação, respectivamente à esquerda e à direita. ............................................................. 102 Figura 69 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo transK2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 4000 a 400 cm-1. ...................................................................... 103 Figura 70 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo transK2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. .................................................................... 104 Figura 71 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo transK2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 1400 a 900 cm-1. ...................................................................... 106 Figura 72 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo transK2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 900 a 400 cm-1. ........................................................................ 107 Figura 73 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo transNa2[Ru(kj)2(CN)2] na faixa de 4000 a 400 cm-1. .................................................................... 108 Figura 74 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1800 a 1400 cm-1 para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. ........... 113 Figura 75 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1400 a 900 cm-1 para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. ........... 115 Figura 76 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 900 a 400 cm-1 para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. ........... 116 Figura 77 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1400 a 900 cm-1 para os complexos [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho............ 118 Figura 78 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1400 a 900 cm-1 para os complexos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], respectivamente, no espectro em preto, vermelho e verde. ...................................................................................................................................... 120 Figura 79 - Sobreposição dos espetros vibracionais na região de 1800 a 1400 cm-1 evidenciando as frequências de υC=O e υC=C, indicadas respectivamente por asterisco e quadrado, para os complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], possuindo três ligantes coordenados, respectivamente, no espectro em preto, vermelho e verde. ................ 121 Figura 80 - Comportamento linear do υC=O do ácido kójico e dos complexos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3] versus o raio iônico corresponte aos íons metálicos de Alumínio, ferro e rutênio, todos no estado de oxidação III. ................................................................................ 122 Figura 81 - Regressão linear do comportamento do υC=O nos complexos [Al(kj)3], [Ga(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3] versus o raio iônico correspondente aos íons metálicos de alumínio, gálio, ferro e rutênio, todos no estado de oxidação III. .................................................................... 123 Figura 82 - Sobreposição dos espetros vibracionais na região de 1800 a 1400 cm-1 evidenciando as frequências de υC=O e υC=C, indicadas respectivamente por asterisco e quadrado, para os complexos homolépticos [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], respectivamente, nas cores preto e vermelho. .................................................................................................................... 125 10 Figura 83 - Comportamento linear do υC=O versus o raio iônico dos íons metálicos no estado de oxidação III e II, respectivamente, em vermelho para os complexos [Al(kj)3], [Ga(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3] e azul para os [Cu(kj)2], [Zn(kj)2] e [Fe(kj)2]. ....................................... 126 Figura 84 - Espectro eletrônico do ligante ácido kójico em meio aquoso. ............................. 128 Figura 85 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do ligante ácido kójico obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha, verde e azul.. ...... 129 Figura 86 - Espectros eletrônicos em meio aquoso do Ácido kójico (8,3.10-5 mol L-1) com variação do pH para valores alcalinos, na região de 190 a 400 nm. . .................................... 131 Figura 87 - Representação do 1º Equilíbrio de Desprotonação/Protonação do ligante ácido kójico. ..................................................................................................................................... 132 Figura 88 - Sobreposição dos espectros em meio aquoso de ácido kójico (Hkj) e do íon kójico (kj-), respectivamente, obtidos em pH 5,7 e 10,2. .................................................................. 132 Figura 89 - Espectro eletrônico em meio aquoso do comportamento do Ácido kójico (8,3.10 -5 mol L-1) com pH=10,2 variando até pH=3,8 , na região de 190 a 400 nm.. ........................... 133 Figura 90 - Representação do 2º Equilíbrio de Protonação/Desprotonação do ligante ácido kójico. ..................................................................................................................................... 134 Figura 91 - Gráficos do pH em função da absorbância correspondente ao comprimento de onda em 315 nm no espectro eletrônico do ácido kójico, basificando (variando pH de 5,7 a 10,2) e acidificando a solução (variando pH de 10,2 a 3,8), visualizados respectivamente, à esquerda e à direita. ................................................................................................................ 135 Figura 92 - Acompanhamento da redução do ácido kójico (6,6.10-5 mol L-1) em meio aquoso com amálgama de zinco. ........................................................................................................ 136 Figura 93 - Sobreposição dos espectros em meio aquoso do ácido kójico desprotonado (íon kójico) e reduzido, respectivamente, nas cores, preta e vermelha. ......................................... 137 Figura 94- Expansão da região de 225 a 380 nm do acompanhamento do Espectro eletrônico do ácido kójico com amálgama de zinco. ............................................................................... 139 Figura 95 - Espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3] em meio aquoso............................... 140 Figura 96 - Sobreposição do espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3] em meio aquoso, com concentrações de 9,9. 10-5 e 1,03. 10-3 mol L-1, respectivamente, nas cores preta e vermelha.. ................................................................................................................................................ 141 Figura 97 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Al(kj)3] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha, verde e azul.. ...... 143 Figura 98 - Espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)3] em meio aquoso............................... 144 Figura 99 - Diagrama de Tanabe-Sugano para centros metálicos com configuração d5, à esquerda spin alto, e a direita spin baixo. ............................................................................... 146 Figura 100 - Representação do Diagrama de desdobramento de campo para complexos octaédricos com configuração eletrônica d5, campo forte e campo fraco, respectivamente, à esquerda e a direita. ................................................................................................................ 147 Figura 101 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Fe(kj)3] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores, preta, vermelha, verde e azul. ...... 149 Figura 102 - Espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)2] em meio aquoso. ........................... 150 Figura 103 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Fe(kj)2] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente, nas cores, preta, vermelha, verde e azul. .... 152 Figura 104 - Espectro eletrônico do complexo [Cu(kj)2] em meio aquoso.. .......................... 154 Figura 105 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Cu(kj)2] obtidos em água e metanol, respectivamente, nas cores, preta e vermelha. ....................................................... 155 Figura 106 - Espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] em meio aquoso, e suas respectivas expansões. ............................................................................................................................... 157 Figura 107 - Espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] (4,5. 10-4 mol L-1) em meio aquoso, e a direita expansão do mesmo espectro na região de 400 a 1000 nm.. .................................... 158 11 Figura 108 - Representação do Diagrama de desdobramento de campo para complexos octaédricos com configuração eletrônica d5, campo forte. ..................................................... 159 Figura 109 - Sobreposição do espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] em água, metanol e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha e verde.. ................................................... 160 Figura 110 - Sobreposição do espectro eletrônico com elevada concentração do complexo [Ru(kj)3] em água, metanol e DMF, respectivamente nas cores, preta, vermelha e verde. E a direita expansão do mesmo espectro na região de 400 a 1000 nm.. ....................................... 162 Figura 111 - Espectro eletrônico do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] em meio aquoso.. ... 163 Figura 112 - Diagrama de Tanabe-Sugano para centros metálicos com configuração d6, à esquerda spin alto, e a direita spin baixo. ............................................................................... 165 Figura 113 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha, verde e azul.. ........................................................................................................................... 166 Figura 114 - Espectro eletrônico do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] em meio aquoso. 168 Figura 115 - Espectro eletrônico do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] (1,5. 10-4 mol L-1) em meio aquoso, e a direita expansão do mesmo espectro na região de 250 a 1000 nm.. ........... 169 Figura 116 - Sobreposição dos espectros eletrônicos em meio aquoso do ligante ácido kójico e dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, nas cores preta, vermelha e verde.. ... 173 Figura 117 - Sobreposição na região do ultravioleta dos espectros eletrônicos em meio aquoso do ligante ácido kójico protonado (Hkj) e desprotonado (kj-), e dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, nas cores preta, azul, vermelha e verde.. .................................... 175 Figura 118- Sobreposição dos espectros eletrônicos no estado sólido dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, preto e vermelho. ..................................................................... 176 Figura 119 - Sobreposição dos espectros eletrônicos no estado sólido dos complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2] e trans-K2[Fe(kj)2(CN)2], respectivamente, preto, vermelho e verde..................... 178 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Reagentes utilizados no procedimento experimental .............................................. 53 Tabela 2 - Atribuição das bandas do Ácido kójico no infravermelho. ..................................... 74 Tabela 3 - Atribuição das frequências de υC=O e υC=C para ligantes e complexos pironas e complexos da classe piridona. .................................................................................................. 98 Tabela 4 - Variação das frequências de υC=O dos complexos homolépticos comparativamente ao ligante ácido kójico, para a primeira e segunda banda referente à carbonila. ................... 100 Tabela 5 - Dados comparativos entre as frequências de estiramento C≡N e C=O, respectivamente, para Diciano complexos e dicarbonil complexos. ...................................... 110 Tabela 6 - Atribuições das principais bandas encontradas no espectro de infravermelho do ácido kójico e dos complexos homolépticos e heterolépticos analisados. ............................. 112 Tabela 7 - Atribuições da literatura para os complexos [Ga(kj)3] e [Zn(kj)2]. ....................... 126 Tabela 8 - Atribuição das transições no espectro eletrônico do ácido kójico em meio aquoso. ................................................................................................................................................ 128 Tabela 9 - Comparação das atribuições das bandas no espectro eletrônico do ácido kójico em diferentes solventes................................................................................................................. 129 Tabela 10 - Valores de pKa calculados para a banda encontrada em 315 nm no espectro do ácido kójico. ........................................................................................................................... 135 Tabela 11 - Atribuições das bandas no espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3] em meio aquoso. .................................................................................................................................... 141 Tabela 12 - Comparação entre transições no espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3] em diferentes solventes................................................................................................................. 143 Tabela 13 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)3] em meio aquoso. .................................................................................................................................... 145 Tabela 14 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)3] em diferentes solventes................................................................................................................. 150 Tabela 15 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)2] em meio aquoso. .................................................................................................................................... 151 Tabela 16 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)2] em diferentes solventes................................................................................................................. 153 Tabela 17 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Cu(kj)2] em meio aquoso. .................................................................................................................................... 155 Tabela 18 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico do complexo [Cu(kj)2] em água e metanol. ....................................................................................................................... 156 Tabela 19 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] em meio aquoso. .................................................................................................................................... 159 Tabela 20 - Comparação entre os comprimentos de onda no espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] em diferentes solventes. .......................................................................................... 161 Tabela 21 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] em meio aquoso. ..................................................................................................................... 164 Tabela 22 - Comparação entre os comprimentos de onda no espectro eletrônico do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] em diferentes solventes..................................................................... 167 Tabela 23 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo transNa2[Ru(kj)2(CN)2] em meio aquoso. ...................................................................................... 168 Tabela 24 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico em meio aquoso entre o ácido kójico, íon kójico e os complexos sintetizados....................................................................... 171 Tabela 25 - Comparação entre os comprimentos de onda das bandas no espectro eletrônico em estado sólido para os complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2] e trans-K2[Fe(kj)2(CN)2]. .................... 178 Tabela 26 - Análise Elementar do complexo [Fe(kj)3]. .......................................................... 179 13 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS Acac Acetilacetonato 2-amp 2-aminometilpiridina Bipy 2,2-Bipiridina Bu4N Tetra-n-butilamônio Cyclam 1,4,8,11 - tetraazaciclotetradecano DMF Dimetilformamida Dmit 1,3-ditiol- 2-tiona-4,5-ditiolato Dpe 1,2-difosfinaetano Dpp 3-hidroxi-1,2-dimetil-4-piridinona Hck Ácido clorokójico Hma Maltol HOMO Orbital molecular ocupado de maior energia Hpa Ácido piromeconico IL Intraligante ImN Imidazol IV Infravermelho Kj - Íon kójico LMCT Transferência de Carga do Metal para o Ligante LUMO Orbital molecular desocupado de menor energia MLCT Transferência de Carga do Ligante para o Metal Mpp 3-hidroxi-2-metil-4-piridinona PF6- Íon Hexafluorofosfato Phen 1,10-Fenantrolina Ph4P Tetrafenilfosfônio RMN 13C Ressonância Magnética Nuclear de Carbono RMN 1H Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio Salen N,N'-Etilenobis(salicilimina) Uv-Vis Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível 14 LISTA DE SÍMBOLOS Variação de desdobramento de campo ε Absortividade molar υ Frequência de estiramento δ Frequência de Deformação Angular 15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 22 2.1. OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 22 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 22 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 24 3.1. ÁCIDO KÓJICO ........................................................................................................ 24 3.2. APLICAÇÕES DO ÁCIDO KÓJICO ....................................................................... 25 3.3. DERIVADOS DO ÁCIDO KÓJICO ......................................................................... 26 3.4. COMPLEXOS DE ÁCIDO KÓJICO ........................................................................ 35 3.5. COMPLEXOS DE DERIVADOS DO ÁCIDO KÓJICO ......................................... 41 3.6. TÉCNICAS INSTRUMENTAIS DE ANÁLISE ...................................................... 45 3.6.1. Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho ..................................... 45 3.6.2. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível .............................. 47 4. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 53 4.1. REAGENTES UTILIZADOS ................................................................................... 53 4.2. PROCEDIMENTOS DE SÍNTESE DOS COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO HOMOLÉPTICOS ................................................................................................................... 54 4.2.1. Síntese do complexo [Al(kj)3]..................................................................................... 54 4.2.2. Síntese do complexo [Fe(kj)3] .................................................................................... 56 4.2.3. Síntese do complexo [Fe(kj)2] .................................................................................... 57 4.2.4. Síntese do complexo [Cu(kj)2] ................................................................................... 59 4.2.5. Síntese do complexo [Ru(kj)3] ................................................................................... 60 4.3. PROCEDIMENTOS DE SÍNTESE DOS COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO HETEROLÉPTICOS ................................................................................................................ 62 4.3.1. Síntese do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] ............................................................ 62 4.3.2. Síntese do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2].......................................................... 63 4.4. PREPARAÇÃO DA AMÁLGAMA DE ZINCO ...................................................... 65 4.5. MÉTODOS DE CARACTERIZAÇÃO .................................................................... 65 4.5.1. Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho ...................................... 65 4.5.2. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível (UV-Vis) ............. 65 4.5.2.1. Procedimentos utilizados para obtenção dos espectros por Espectroscopia Eletrônica.. ................................................................................................................................ 66 4.5.2.1.1.Monitoramento da Variação do pH do Ácido Kójico via Espectroscopia Eletrônica66 4.5.2.1.2.Monitoramento da Redução do Ácido Kójico via Espectroscopia Eletrônica .......... 66 4.5.2.1.3.Monitoramento em meio aquoso do complexo [Fe(kj)2] via Espectroscopia Eletrônica. .................................................................................................................. 67 4.5.3. Análise Elementar (CHN) .......................................................................................... 67 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 69 5.1. ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO .... 69 5.1.1. Ácido Kójico ................................................................................................................ 69 5.1.2. Compostos de Coordenação Homolépticos .............................................................. 75 5.1.2.1. Complexo [Al(kj)3] ................................................................................................ 75 5.1.2.2. Complexo [Fe(kj)3] ................................................................................................ 80 5.1.2.3. Complexo [Fe(kj)2] ................................................................................................ 84 5.1.2.4. Complexo [Cu(kj)2] ................................................................................................ 88 5.1.2.5. Complexo [Ru(kj)3] ................................................................................................ 92 5.1.2.6. Principais alterações observadas nos espectros de IV para os complexos homolépticos sintetizados ......................................................................................................... 97 16 5.1.3. Compostos de Coordenação Heterolépticos ........................................................... 101 5.1.3.1. Complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] ....................................................................... 103 5.1.3.2. Complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]..................................................................... 107 5.1.4. Comparação entre os complexos de Ferro sintetizados ........................................ 112 5.1.5. Comparações dos espectros vibracionais entre complexos homolépticos com mesma geometria .................................................................................................................. 117 5.1.6. Correlação dos Complexos Homolépticos .............................................................. 120 5.1.6.1. Correlação dos Estados de Oxidação III e II nos Complexos Homolépticos....... 120 5.2. ESPECTROSCOPIA ELETRÔNICA NA REGIÃO DO ULTRAVIOLETA E VISÍVEL................................................................................................................................. 127 5.2.1. Ligante Ácido Kójico ................................................................................................ 127 5.2.1.1. Estudo da influência do pH sobre o espectro eletrônico do ácido kójico e determinação do pKa .............................................................................................................. 130 5.2.1.2. Monitoramento da Redução do ácido kójico com Amálgama de Zinco via Espectroscopia Eletrônica....................................................................................................... 136 5.2.2. Espectros Eletrônicos dos Compostos de Coordenação Homolépticos ............... 139 5.2.2.1. Complexo [Al(kj)3] .............................................................................................. 139 5.2.2.2. Complexo [Fe(kj)3] .............................................................................................. 144 5.2.2.3. Complexo [Fe(kj)2] .............................................................................................. 150 5.2.2.4. Complexo [Cu(kj)2] .............................................................................................. 153 5.2.2.5. Complexo [Ru(kj)3] .............................................................................................. 156 5.2.3. Espectros Eletrônicos dos Compostos de Coordenação Heterolépticos .............. 162 5.2.3.1. Complexo de trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] .................................................................. 163 5.2.3.2. Complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]..................................................................... 167 5.2.4. Comparações entre os Espectros Eletrônicos dos Compostos de Coordenação Sintetizados ........................................................................................................................... 170 5.2.5. Comparação Uv-Vis entre do Ácido Kójico e os Complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2] em meio aquoso. .................................................................................................................... 173 5.2.6. Comparação entre os espectros eletrônicos no estado sólido para os Complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2] e trans-K2[Fe(kj)2(CN2] ........................................................................ 175 5.3. ANÁLISE ELEMENTAR .......................................................................................... 179 5.3.1. Complexo [Fe(kj)3] ................................................................................................... 179 6. CONCLUSÃO........................................................................................................... 181 REFERÊNCIA..........................................................................................................185 17 Introdução 18 1. INTRODUÇÃO A busca por novos compostos químicos que apresentem menor grau de toxicidade e menores efeitos colaterais é essencial e contínua, principalmente em áreas relacionadas à farmacologia, agricultura, indústria de cosméticos e na indústria de alimentos, incorporando substâncias benéficas à saúde. Nesse contexto, o ácido kójico, assim como outros compostos pertencentes à classe química deste ácido orgânico, tem sido alvo de diversos estudos, devido principalmente as suas relevantes propriedades biológicas e as diferentes possibilidades de modificações de sua estrutura (BURDOCK et al., 2001; BRTKO et al., 2004). Alguns membros desse grupo já são utilizados inclusive na área farmacêutica, e além do mais, são compostos de origem natural, com possibilidade também de serem produzidos artificialmente, podendo ser convertidos em uma gama de outros derivados, por exemplo, através de reações de complexação (ZBOROWSKI et al., 2004; KANDIOLLER et al., 2011). O ácido kójico é particularmente interessante para a química de coordenação por apresentar átomos de oxigênio propícios à interação com centros metálicos (JAIN; KAUSHIK, 1997; FINNEGAN et al., 1987; NURCHI et al., 2010). De acordo com Kwak (2010), os compostos de coordenação podem ser aplicados como sistemas de entrega de substâncias hidrofílicas com baixa permeabilidade celular, permitindo assim a atuação do fármaco, por exemplo, dentro da própria célula. Também têm sido avaliadas as possibilidades dessas substâncias atuarem como agentes sequestrantes de íons metálicos, no tratamento de pacientes com enfermidades caracterizadas pelo acúmulo de metais no organismo, e ainda, como ligantes com função transportadora de espécies metálicas (YUEN et al., 1997; SUDHIR et al., 2005). O desenvolvimento de estudos dos compostos de coordenação com aplicação na área médica tem conquistado bastante destaque nas últimas décadas, motivado principalmente pela relevante utilização da cisplatina no tratamento de diferentes tipos de câncer (ALDERDEN et al., 2006). Por tal razão, a busca por modificações estruturais através da coordenação de metais vem sendo bastante desenvolvida, visando-se obter novas moléculas ou substâncias na área médica que sejam capazes de potencializar suas funções e aplicações, mediante complexação. 19 Estudos de substâncias coordenantes e de compostos de coordenação são de grande importância para o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes no tratamento de doenças (SHARMA et al., 2011) ou problemas de toxicidade com sobrecarga de íons metálicos (SUDHIR et al., 2005). Estes têm a capacidade de ativar ou desativar compostos farmacêuticos devido às suas interações com substâncias biologicamente ativas, portanto, sendo de suma relevância os estudos dessas interações, visando conhecer as atividades e os processos envolvidos para esses compostos (SUDHIR et al., 2005; SANTOS et al., 2012). Como exemplo, pode-se mencionar o íon metálico ferro, que é responsável pelo transporte de oxigênio a todas as células, e também por participar das funções de diversas metaloproteínas nos sistemas biológicos (SUDHIR et al., 2005). Com base em dados da literatura, os derivados de ácido kójico têm apresentado resultados satisfatórios em testes biológicos (BALAZ et al., 1993; HUDECOVÁ et al., 1996), tendo-se uma perspectiva promissora para o desenvolvimento dessa classe de compostos em novos medicamentos. No presente trabalho foi efetivada a síntese de complexos de ácido kójico sendo os compostos obtidos caracterizados através de análises espectroscópicas de infravermelho e espectroscopia eletrônica e ainda determinando correlações espectroscópicas entre eles. 20 Objetivos 21 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral O presente trabalho tem como objetivo principal contribuir para o maior entendimento da Química de Coordenação do ácido kójico, a partir da síntese e estudo de compostos homolépticos e heterolépticos com diferentes centros metálicos a partir deste ligante, visando o desenvolvimento de novos compostos que possam apresentar propriedades farmacológicas relevantes. 2.2. Objetivos Específicos Sintetizar complexos homolépticos hexacoordenados, apresentando apenas o ligante ácido kójico na esfera de coordenação, com os íons alumínio, ferro e rutênio, no estado de oxidação III, e também complexos tetracoordenados com os íons metálicos ferro e cobre, no estado de oxidação II. Sintetizar novos compostos de coordenação heterolépticos de ferro (II) e rutênio (II), apresentando em sua esfera de coordenação também o íon cianeto como ligante, além do íon kójico, originando os novos complexos, trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]. Assim, propondo uma nova metodologia de síntese para complexos heterolépticos. Caracterizar e estudar todos os complexos homolépticos e heterolépticos sintetizados através da Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho (IV) e Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível (Uv-Vis), além de Análise Elementar para complementar a caracterização do complexo [Fe(kj)3]. Estabelecer correlações entre as frequências de estiramento da carbonila nos compostos sintetizados com a natureza dos íons metálicos. 22 Revisão Bibliográfica 23 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. ÁCIDO KÓJICO O ácido kójico é um ácido orgânico produzido biologicamente durante os processos de fermentação aeróbicos pela ação de fungos dos gêneros Penicillium e Aspergillus, com destaque especial à espécie Aspergillus oryzae ou por bactérias do gênero Acetobacter, fazendo uso de diferentes tipos de substratos (BURDOCK et al., 2001). Dentre estes organismos, os fungos do gênero Aspergillus destacam-se por produzirem o ácido kójico como também por serem tradicionalmente empregados, já há muitos séculos, em processos de fermentação de alimentos tipicamente utilizados por sociedades orientais, como miso (pasta de grãos de soja), shoyu (molho de soja) e sake (bebida alcoólica obtida a partir da fermentação do arroz) (BURDOCK et al., 2001; EMAMI et al., 2007; MOHAMAD; ARIFF, 2007). O ácido kójico foi descoberto e isolado do micélio do fungo Aspergillus oryzae cultivado no arroz cozido, em 1907 no Japão por Saito. O nome comum deste composto orgânico, entretanto, só foi atribuído em 1913 por Yabuta, que mais tarde, também foi responsável por elucidar sua estrutura molecular (BENTLEY, 2006). A estrutura do ácido kójico, conforme pode ser observada na Figura 1, consiste de um heterociclo polifuncional da classe das pironas, contendo um anel de seis membros, dos quais um corresponde a um átomo de oxigênio e uma carbonila, respectivamente, nas posições 1 e 4. Adicionalmente estão presentes um grupo enol no carbono 5 e um grupo álcool na posição 2. Figura 1- Estrutura química do ácido kójico O OH HO O Fonte: Burdock et al. (2001) A presença de diferentes grupos funcionais em sua estrutura torna o ácido kójico uma importante matéria-prima na síntese de diferentes derivados de pironas, os quais podem ser obtidos a partir de reações orgânicas, tais como oxidação e/ou redução, alquilação e acilação, 24 reações de substituição nucleofílicas e eletrofílica, além de reações inorgânicas com a obtenção de compostos de coordenação (BRTKO et al., 2004). As reações de coordenação do ácido kójico relatadas na literatura, simultaneamente, envolvem os átomos de oxigênio da carbonila e do grupo enol, atuando portanto na química de coordenação como um ligante bidentado (JAIN; KAUSHIK, 1997; FINNEGAN et a.l, 1987; NURCHI et al., 2010). Segundo Aytemir, reações de desprotonação e protonação do ácido kójico (Hkj) podem originar, respectivamente, espécies aniônicas (kj-) ou catiônicas (H2Kj+) (AYTEMIR; ÇALIS, 2010). Investigações quânticas por cálculos teóricos, sobre o equilíbrio tautomérico em derivados do ácido kójico, indicam a existência de uma ligação intramolecular de hidrogênio envolvendo os grupos ceto e hidroxila, além de uma segunda interação de hidrogênio, podendo ser formada entre o hidroximetil e o oxigênio contido no anel (ZBOROWSKI et al., 2004). 3.2. APLICAÇÕES DO ÁCIDO KÓJICO O ácido kójico, bem como muitos dos seus derivados orgânicos, apresentam propriedades biológicas bastante relevantes, tais como atividade antibactericida, antifúngica, inseticida e ainda antioxidante. Portanto, o ácido kójico tem se mostrado como um composto importante em diferentes áreas de interesse econômico, com especial destaque na medicina, no desenvolvimento de novos fármacos, na agricultura, na indústria de alimentos e cosméticos (HUDECOVÁ et al., 1996). Esse composto orgânico tem sido usado como um aditivo alimentar, atuando diretamente na prevenção do escurecimento enzimático de carnes frescas de caranguejo e camarão (BURDOCK et al., 2001; EMAMI et al., 2007), assim como na prevenção do escurecimento oxidativo de frutas cortadas (NURCHI et al., 2010). Já na indústria de cosmético, o ácido kójico e alguns de seus derivados possuem empregabilidade como agentes clareadores da pele, inibindo a tirosinase, que é uma metaloenzima de cobre (KAHN et al., 1997), responsável pela produção do pigmento da pele denominado de melanina. Assim, por ocasionar a inibição da tirosinase, o ácido kójico pode ser utilizado também na prevenção ou no tratamento de doenças que envolvam distúrbios de pigmentação, hiperpigmentação, como por exemplo, melasma (TERABAYASHI et al., 25 2010). Ainda na indústria de produtos de beleza, o ácido kójico pode estar presente em formulações de cosméticos atuando como conservante, prevenindo a degradação química ou microbiana, proporcionando assim um aumento da vida útil do produto (BURDOCK et al., 2001). A estrutura química do ácido kójico permite diversas possibilidades de derivações, e com base nesse fato, representa um atraente esqueleto polifuncional para o desenvolvimento de compostos biologicamente ativos. Assim seus derivados orgânicos podem ser utilizados vantajosamente na medicina humana e/ou veterinária. Por essas características Brtko e colaboradores acreditam que em estudos futuros as propriedades biológicas dos derivados do ácido kójico possam propiciar o desenvolvimento de uma nova classe específica e eficaz de agentes farmacêuticos (BRTKO et al., 2004). 3.3. DERIVADOS DO ÁCIDO KÓJICO A estrutura química do ácido kójico, pela reatividade dos diferentes grupos funcionais que o compõe, possibilita modificações estruturais em várias posições da molécula, seguindo diferentes mecanismos reacionais, permitindo assim que as estruturas dos seus derivados sejam ajustadas de acordo com as propriedades em que se tem interesse (KANDIOLLER et al., 2011). Na representação esquemática da classe dos γ-pironas, especificamente os derivados hidroxipironas, conforme mostrado na Figura 2, são indicadas as possibilidades de modificações estruturais, onde os átomos de carbono são representados em cinza, os átomos de oxigênio em vermelho e os hidrogênios são apresentados na cor branca. 26 Figura 2 - Possibilidades de modificações estruturais dos hidroxipironas. Fonte: Adaptado Kandioller et al. (2011, p.1001). Essa classe de compostos pode propiciar a obtenção de outra classe de moléculas, podendo ser convertidas em hidroxipiridonas, a partir da substituição do oxigênio heterocíclico pelo átomo de nitrogênio, por exemplo, a partir da reação com amônia ou aminas primárias (OZTURK et al., 2002). Já as reações de tionação ou selenação consistem na substituição do oxigênio do grupo carbonílico por enxofre ou selênio, respectivamente, formando as tiopir(id)onas e os selenopir(id)onas (KANDIOLLER et al., 2011). As reações de Mannich são exemplos de adições nucleofílicas de aminas com um grupo carbonil, obtidas a partir da condensação de um aldeído e aminas primárias ou secundárias a um substrato contendo hidrogênios ativos, como por exemplo, fenóis e heterocíclicos (NARVAEZ; FERREIRA, 1985). Outras possibilidades de derivações dessa classe de compostos são através das reações de complexação e condensação (BARRET et al., 2001; SZKLARZEWICZ et al., 2012). Segundo Kandioller e colaboradores, as pironas são encontradas com grande frequência em produtos naturais, permitindo as hidroxipironas serem obtidas de fontes naturais ou através de síntese, podendo facilmente ser convertidas em análogos, como os hidroxipiridonas ou tiopironas (KANDIOLLER et al., 2011). Outro aspecto a destacar é o fato das tiopir(id)onas apresentarem alta afinidade por íons metálicos, formando complexos de grande estabilidade, tornando-se uma nova classe de compostos de coordenação via oxigênio e enxofre (KANDIOLLER et al., 2011). 27 O ácido kójico, por ser constituindo por uma estrutura química capaz de originar novos compostos ou derivados mais reativos ou eficazes, como por exemplo, o clorokójico, allomatol e piromeconico, Figura 3, são tidos como compostos de partida ou intermediários na síntese de novas espécies na química medicinal, por serem considerados bons reagentes em reações de substituição nucleofílica ou eletrofílica (AYTEMIR; ÖZÇELIK, 2010). Figura 3 - Representação de Hidroxipironas. O Ácido Kójico Cl O Ácido Clorokojico O OH OH OH HO O O O H 3C O Allomaltol OH O Ácido Piromeconico Fonte: Aytemir; Özçelik (2010, p.4090). Há relatos de que os compostos Halo-4-pirona, também denominados de Halo-4piranonas, como os 5-hidroxi-2-clorometil-4H-piran-4-ona, 5-hidroxi-2-bromometil-4Hpiranona e 5-hidroxi-2-iodometil-4H-piranona, apresentam significativo efeito antifúngico, sendo reportados na literatura como uma nova classe de fungicidas (BRTKO et al., 2004). Assim como, alguns desses derivados, o 5-hidroxi-2-azidometil-4-piranona, exibiu atividade herbicida (ZBOROWSKI et al., 2004). Diversos estudos de modificação estrutural do ácido kójico vêm sendo desenvolvidos desde 1962, quando O’Brien trabalhando com essa molécula, sintetizou novos derivados a partir de substituições do hidrogênio da posição 6 do anel do ácido kójico por aminoácidos, através de reações de Mannich, obtendo bons resultados em síntese para os aminoácidos sarcosina, valina, leucina, isoleucina, metionina e prolina. Entretanto, não foi possível a obtenção de derivados a partir do ácido aspártico, asparagina, ácido glutâmico, glutamina, fenilalanina e tirosina, podendo-se então, atribuir o insucesso nestas reações à baixa reatividade e à insolubilidade dos compostos na mistura reacional (O'BRIEN et al., 1962). Na Figura 4 são mostradas duas possibilidades para a formação dos derivados do ácido kójico com alguns aminoácidos. 28 Figura 4 - Representação das Possibilidades de Derivações do Ácido kójico com Aminoácidos. Fonte: O’Brien et al. (1962, p.1712). Uma série de novas bases de Mannich, obtidas mediante reações de condensação, foram sintetizadas através de reações do ácido kójico ou do allomatol com derivados de piperidina e formalina, resultando na formação de compostos com atividade anticonvulsivante, entre os quais os derivados do ácido kójico se mostraram bem mais ativos do que os derivados de allomatol. A necessidade do desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento da epilepsia, doença que ataca 60 milhões de pessoas em todo mundo, devese ao fato de cerca de 30 % das pessoas afetadas não apresentam controle de suas crises de forma adequada, com as terapias médicas disponíveis, além dos medicamentos convencionais anticonvulsivantes acarretarem efeitos colaterais indesejáveis, variando de insônia à anemia megaloblástica (AYTEMIR; ÇALIS, 2010). Adicionalmente, Miyagawa relatou a obtenção de derivados do ácido kójico utilizado reações de condensação deste ácido com sais diazonioaromáticos, Figura 5, sendo os compostos obtidos caracterizados através de análise elementar e infravermelho. Dentre as aminas utilizadas estavam a anilina, orto-cloroanilina, meta-cloroanilina, para-cloroanilina, orto-toluidina, meta-toluidina, α-naftilamina, β-naftilamina, orto-anisidina e ácido sulfanílico (MIYAGAWA et al., 1964). Figura 5 - Representação da Síntese de Ácido Kójico com Sais Diazonioaromáticos. Fonte: Miyagawa et al. (1964, p. 57). Na tentativa de aumentar a solubilidade do ácido kójico em sistemas lipofílicos, Kobayashi sintetizou derivados através de reações de condensação acrescentando uma longa 29 cadeia apolar na estrutura do composto. O resultado dessa modificação estrutural, proveniente da condensação do ácido kójico ao ácido láurico (ácido dodecanoíco), Figura 6, originou o 7O-Lauroil ácido kójico, um derivado com melhor solubilidade em hexano e óleo de soja, visto que a aplicação do ácido kójico em alimentos gordurosos e nos cosméticos poderia ser restrita, considerando a sua maior solubilidade em meio aquoso (KOBAYASHI et al., 2001). Figura 6 - Estrutura do Derivado do Ácido Kójico com Ácido Láurico. O OH O O O Fonte: Adaptada a Kobayashi et al (2001, p. 88). Interessantes aplicações nas indústrias de alimento, cosmética e farmacêutica podem ocorrer através da modificação química da quitosana com o ácido kójico, levando-se em consideração a combinação das vantagens de ambas às substâncias. Visando obter novos compostos, foram realizados alguns procedimentos, em que um deles, conforme Figura 7, resultou da reação entre o ácido clorokójico com a quitosana, mediante ligação covalente entre o ácido e a quitosana, através dos grupos amino livres, sendo o produto obtido caracterizado através de análises espectroscópicas (SYNYTSYA et al., 2008). Figura 7- Representação da Reação de N-Alquilação da Quitosana ao Ácido Clorokójico. Quitosana Fonte: Synytsya et al. (2008, p.23). Modificações estruturais decorrentes das reações de Mannich, associadas a combinações de mecanismos reacionais envolvendo as hidroxipironas, foram obtidos e 30 descritos na literatura, resultando em vários derivados provenientes da molécula de ácido kójico. Como exemplo pode-se mencionar os trabalhos de Aytemir e Özçelik (2010), em que o ácido clorokójico utilizado foi sintetizado a partir do ácido kójico e os derivados do ácido clorokójico com bases de Mannich foram testados e apresentaram resultados in vitro relevantes contra alguns tipos de bactérias, fungos e vírus. A tuberculose está listada entre as três principais doenças causadoras de morte por agentes infecciosos, conforme dados da Organização Mundial da Saúde. Na tentativa de melhorar os medicamentos aplicados no tratamento dessa enfermidade, Erol e colaboradores, sintetizaram 11 novos compostos, reagindo o 5-hidroxi-2-metil-4H-piran-4-ona com derivados de piperazina através de reações de Mannich, caracterizando-os por análise elementar, espectroscopia vibracional na região do infravermelho e ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN H1). Vale ressaltar que o ácido kójico foi o reagente de partida para originar os demais derivados, como pode ser visualizado de forma geral na Figura 8 (EROL et al., 2011) . Figura 8 – Reação de síntese para obtenção dos derivados 3-hidroxi-6-metil-2-[(4-substituintepiperazin-1il)metil]-4H-piran-4-ona. Ácido Kójico Ácido Clorokojico Allomaltol 3-hidroxi-6-metil-2-[(4-substituinte piperazin-1-il)metil]-4H-piran-4-one Fonte: Erol et al. (2011, p.320). A partir da conversão da classe de compostos 4-pironas em 4-piridonas, novos agentes analgésicos e anti-inflamatórios foram produzidos e caracterizados por técnicas analíticas e espectroscópicas, e tiveram suas atividades testadas, exibindo resultados com maior eficiência do que medicamentos já utilizados na indústria farmacêutica, tais como o analgésico ácido salicílico e o anti-inflamatório indometacina. A obtenção dos novos derivados, representados esquematicamente conforme visualização na Figura 9, foi proveniente inicialmente da reação do ácido kójico, formando intermediários e posteriormente reagindo-os com aminas primárias para obtenção dos derivados l,2,5-trisubstituintes-4(1H)-piridinona, em que uma das 31 alterações no heterocíclico consiste na substituição do oxigênio pelo nitrogênio (OZTURK et al., 2002). Figura 9 - Sistema de Síntese dos Derivados l,2,5-trisubstituintes-4(1H)-piridinona a partir do Ácido Kójico. Fonte: Ozturk et al. (2002, p.830). Outra enfermidade que vem apresentando demanda por novas terapias químicas é a malária, devido a crescente resistência do Plasmodium falciparum aos medicamentos antimaláricos atualmente disponíveis. De acordo com relatos na literatura, ligantes capazes de formar complexos estáveis envolvendo o ferro são promissores para o controle da doença. No tratamento da malária, procuram-se agentes que dentre outras características sejam capazes de capturar o ferro, que é um micronutriente essencial para muitas reações bioquímicas envolvidas no crescimento e na multiplicação do plasmoduim. Quando o parasita invade os glóbulos vermelhos (eritrócito), origina molécula de baixo peso molecular em decorrência da digestão da hemoglobina, liberando ferro para suas reações. Então o uso de substâncias com capacidade de se coordenar ao ferro, formando complexos estáveis, pode acarretar, em princípio, redução da taxa de incorporação do íon metálico às metaloenzimas, levando o parasita à morte. Infelizmente muitos ligantes bidentados, como os 3-Hidroxipiridin-4-onas (HPOs) apresentam boa atividade antimalárica, entretanto possuem toxicidade para as células 32 de mamíferos. Portanto, para melhorar a eficiência no combate a malária e a redução dos efeitos tóxicos, é necessário que os compostos apresentem seletividade e eficiência para com as células infectadas. Tentando-se alcançar melhores resultados, foi investigado o potencial malárico dos derivados de 3-hidroxipiridin-4-onas com a introdução de substituintes nitrogenados, sintetizados a partir da conversão de 4-pirona a 4-piridinona, obtendo-se atividade antimalárica maior do que a classe de ligantes simples (DEHKORDI et al., 2008). Os derivados de ácido kójico contendo grupos tioeter, sulfóxido e sulfona foram sintetizados e tiveram suas atividades anti-inflamatórias e inibitórias da tirosinase examinadas. Os resultados obtidos mostraram que os derivados de tioéter com cadeia lipofílica exibem potencial de inibir a tirosinase, enquanto as sulfonas e os sulfóxidos mostram diminuição da atividade (RHO et al., 2010). No caso, os produtos analisados foram sintetizados a partir do ácido kójico, formando o ácido clorokojico e originando os derivados de tioeter, conforme Figura 10. Posteriormente os derivados sulfóxidos e sulfonas foram provenientes dos tioeter produzidos, conforme visualizado na Figura 11. Figura 10 - Representação da Derivação do Ácido Kójico em Tioeter. 4a R= Etil 4b R= n-Propil 4c R= n-Butil 4d R= n-Pentil 4e R= n-Hexil 4f R= n-Heptil 4g R= n-Octil 4h R= Ciclohexil Fonte: Rho et al. (2010, p.6570). 33 Figura 11 - Representação da Conversão dos Derivados de Tioeter em Sulfóxidos (a) e em Sulfonas (b). 5d R= n-Pentil 5e R= n-Hexil 5h R= Ciclohexil 4d R= n-Pentil 4e R= n-Hexil 4h R= Ciclohexil 6d R= n-Pentil 6e R= n-Hexil 6h R= Ciclohexil Fonte: Rho et al. (2010, p.6570). Buscando a obtenção de novos compostos com maior capacidade de coordenação de metais, o que poderia representar um desempenho promissor em patologias que envolvem excesso de metais tais como ferro e alumínio, Nurchi e colaboradores em 2011, sintetizaram dois novos compostos orgânicos apresentando duas moléculas de ácido kójico condensadas em uma única estrutura, cujas estruturas são apresentadas na Figura 12. Um dos ligantes foi obtido a partir da reação do ácido kójico com orto-vanilina (Figura 12, estrutura 2) enquanto que o segundo derivado foi proveniente da reação com vanilina (Figura 12, estrutura 3). Ambos os ligante obtidos mostraram potencial como agentes terapêuticos para o tratamento de doenças com sobrecarga de íons metálicos (NURCHI et al., 2011). Figura 12 - Representação de Derivados do Ácido Kójico com vanilina e orto-vanilina. Ácido Kójico orto vanilina vanilina Fonte: Nurchi et al. (2011, p. 5985). 34 3.4.COMPLEXOS DE ÁCIDO KÓJICO O Ácido kójico contém um heterocíclico polifuncional, apresentando vários átomos e grupos químicos ativos que permitem reações subsequentes, possibilitando, dentre os vários tipos de reações, também à coordenação a centros metálicos (BRTKO et al., 2004). Wiley, em 1942, verificou a possibilidade de sintetizar e determinar os valores de susceptibilidade magnética para compostos de coordenação de ácido kójico com íons metálicos de manganês, ferro, cobalto, níquel e cobre, todos no estado de oxidação II. Através dos resultados foi possível determinar o número de elétrons desemparelhados em cada complexo, sendo respectivamente 1, 2, 3, 4 e 5 para os íons de Cu, Ni, Co, Fe e Mn. Desse modo atribuindo-se à configuração spin alto e geometria tetraédrica para todos os complexos, com exceção do composto de cobre, visto que os dados de susceptibilidade não evidenciam se o composto seria quadrado planar ou tetraédrico, pois ambas as formas, exibem apenas um único elétron não emparelhado (WILEY et al., 1942). Apesar de relevante, este artigo não apresentou nenhuma caracterização ou estudo adicional em relação aos complexos sintetizados além da determinação da susceptibilidade magnética. Em 1962, o comportamento dos complexos de ácido kójico com íons metálicos de magnésio e manganês foram investigados por titulação potenciométrica em meio aquoso, e os tratamentos matemáticos, estabeleceram a existência de três formas para as espécies metálicas, sendo estas [M(H2O)4]2+, [ML(H2O)2]+ e [ML2], onde M = metal e L= ácido kójico, para as razões molares 1:1 e 1:2 metal-ligante. Apesar da diferença de configuração eletrônica, os íons apresentaram semelhanças na formação dos complexos, sendo ambos considerados compostos tetracoordenados, exibindo geometria tetraédrica, conforme Figura 13 (MURAKAMI, 1962). Figura 13 - Representação dos Complexos Formados em Meio Aquoso na Proporção de uma Molécula e Duas Moléculas do Ligante Ácido Kójico. Fonte: Adaptado Murakami. (1962, p.54). 35 Para analisar as modificações estruturais ocorridas na molécula do ácido kójico em decorrência da coordenação, Murakami e Mera em 1966, obteve os espectros de infravermelho de complexos com íons metálicos de cobre, níquel, zinco e cobalto, todos no estado de oxidação II (MURAKAMI; MERA, 1966). Em 1974, complexos de terras raras com ácido kójico foram preparados com os íons de lantânio (La), cério (Ce), praseodímio (Pr), neodímio (Nd), samário (Sm) e gadolínio (Gd) todos no estado de oxidação III. Os compostos foram caracterizados com base em análise elementar, condutividade, espectroscopia eletrônico e vibracional, e os resultados obtidos mostraram que o ácido kójico atua como um ligante bidentado e que na esfera de coordenação, além de três moléculas do kójico, também estão presentes duas moléculas de água (AGARWAL; RASTOGI, 1974). Finnegan e colaboradores em 1987, sintetizaram vários complexos de tris(3-hidroxi-4pironato) com os íons de alumínio (III) e gálio (III), utilizando como pironas os ácidos kójico (Hka), clorokójico (Hck), maltol (Hma) e piromeconico (Hpa), sendo os mesmos caracterizados por infravermelho, espectroscopia eletrônica na região do ultravioleta, espectroscopia de massa e RMN 1H. Na Figura 14 são representados de forma simplificada os ligantes utilizados, assim como os complexos obtidos (FINNEGAN et al., 1987). Figura 14 - Representação dos ligantes hidroxipironas (na parte superior), e representação estrutural dos complexos formados com os íons de alumínio e gálio (na parte inferior). Fonte: Finnegan et al. (1987, p.2172). Em 1988, preparou-se também vários complexos de tris(3-hidroxi-4-pironato) e além desses também foram obtidos os tris(3-hidroxi-2-metil-4-piridinonato) com os íons de índio (III), representados na Figura 15, sendo todos os tris complexos sintetizados caraterizados por análise elementar, espectroscopia de massa, infravermelho, espectroscopia eletrônica e RMN 36 1 H. Os complexos de índio descritos exibiram solubilidade em água, estabilidade em pH fisiológico e carga neutra (ORVIG et al., 1988). Figura 15 - Representação dos Complexos de Índio obtidos com Ligantes Pironas (parte superior) e Piridonas (parte inferior). Fonte: Orvig et al. (1988, p.3935). Particularmente as formas inorgânicas de vanadato (VO4)3+ e vanadil (VO)2+ têm despertado interesse pela possibilidade de uso como agentes terapêuticos no combate da diabetes. Os vanadatos exibem relevância nos efeitos in vitro, entretanto in vivo, quando avaliados em ratos, apresentaram pobre absorção gastrointestinal, o mesmo acontecendo com o vanadil. Para superar esse problema, tem-se buscado criar formulações de fácil absorção desses agentes terapêuticos administrados em baixa concentração. Por isso, na tentativa de obter compostos de vanádio, o bis(kójico)oxovanadio(IV), abreviado [VO(Ka)2], conforme representado na Figura 16, foi sintetizado e comparado ao seu análogo, que apresenta como ligante o maltol ao invés do ácido kójico. O complexo obtido foi caracterizado através de analise elementar, infravermelho, espectroscopia de massa, UV-vis e eletroquímica variando o pH (YUEN et al., 1997). Figura 16 - Representação do Complexo de Oxovanádio com o Ácido Kójico. Fonte: Yuen et al. (1997, p.110). 37 Levando-se em consideração que tanto o ácido kójico quanto o maltol são substâncias antibióticas conhecidas por inibir o crescimento E. coli e S. aureus, e que esses ligantes na presença de íons metálicos originam complexos relativamente estáveis, devido a formação de um anel quelado de cinco membros, Jain R. sintetizou compostos de coordenação, reagindo organoestanho com ácido kójico e maltol, obtendo-se, conforme Figura 17, complexos de estanho com uma molécula do ligante coordenada de forma bidentada ao centro metálico. Os produtos formados tiveram suas atividades antibióticas testadas e comparadas com as dos ligantes livres. Nas amostras analisadas o poder inibitório dos complexos foi maior do que o dos ligantes, e os complexos de maltol exibiram melhor atividade do que os complexos de ácido kójico (JAIN; KAUSHIK, 1997). Figura 17 - Proposta de representação para os complexos sintetizados com os ligantes ácido kójico e maltol a partir de organoestanho. Fonte: Jain; Kaushik. (1997, p.716). Em 2001, compostos de coordenação de Zinco (II) e estanho (II) foram sintetizados com os ligantes de maltol (Hmalt), etilmaltol (Hetmalt), tropolone (Htrop), hinokitiol (Hhino) e ácido kójico (Hkj), conforme Figura 18, sendo caracterizados por análise elementar e infravermelho. Com exceção dos complexos de ácido kójico e do complexo de tropolone com zinco, os demais também foram caracterizados através de RMN 1H e 13 C. Além de obter estrutura do cristal para os compostos Zn(trop)2, Sn(trop)2, Sn(malt)2, Zn(hino)2.EtOH, em que o composto de tropolone com zinco apresentou uma estrutura polimérica (BARRET et al., 2001). 38 Figura 18 - Representação dos Ligantes. O O O OH O R Maltol - R=CH3 Etilmaltol - R=C2H5 OH OH HO R T ropolone -R=H Hinokitiol -R=C3H7 O Ácido Kójico Fonte: Adaptado Barret et al. (2001, p.4384). O ácido kójico e outras hidroxipironas são amplamente estudados devido a sua capacidade de coordenação a diversos íons metálicos, originando complexos com razoável estabilidade hidrolítica, carga neutra e relevante lipofilicidade (ZBOROWSKI et al., 2004). Para o tratamento de doenças como anemia e diabetes tem-se testado esses compostos como novos medicamentos. Em trabalhos publicados em 2007, tem-se avaliado a atividade do ácido kójico e de seus complexos de manganês e zinco na atividade de radioproteção in vivo, e os resultados obtidos mostram que os compostos testados exibem efeitos de radioproteção contra doses letais de irradiação gama em ratos (EMAMI et al., 2007). De acordo com os resultados alcançados, essas substâncias podem ser empregadas em pacientes com câncer que sejam submetidos a tratamentos com radioquímica, para que dessa forma, possam atuar na proteção dos tecidos normais associados ao tumor, e também permitir a aplicação de doses de radiação mais elevadas, favorecendo a morte de mais células cancerosas do que normais. Então qualquer substância química que possa melhorar a tolerância, a resistência das células normais frente à radiação é de significativa relevância (EMAMI et al., 2007). Em 2009, cinco novos complexos apresentando o fragmento (RuNO) foram produzidos mediante coordenação a biomoléculas, dentre elas a L-histidina e os ácidos rac2,3-diaminopropionico, kójico, metiliminodiacetico e tiodiacetico. Os compostos sintetizados com esses ligantes desprotonados, numerados respectivamente de 1 a 5, são visualizado na Figura 19, e foram caracterizados através de análise elementar, difração de raio-X e técnicas espectroscópicas, como RMN, espectroscopia eletrônica Uv-Vis e infravermelho. Compostos químicos que são capazes fotoquimicamente de capturar ou liberar óxido nítrico (NO) em sistemas biológicos tem chamado bastante atenção pela verificação de que o NO exerce importante papel na redução do câncer e no controle cardiovascular (ZANGL et al., 2009). 39 Figura 19 - Representação dos Complexos de Rutênio. Fonte: Zangl et al. (2009, p.1035). Algumas caraterísticas dos complexos, como o equilíbrio ácido-base, semelhantemente ao tipo de ligações e estabilidade, são questões interessantes que devem ser conhecidas mediante pretensão de atividades biológicas e melhorias de suas propriedades na projeção de novas substâncias. Visando obter conhecimento das propriedades dos compostos, Nurchi, em 2010, realizou o estudo do equilíbrio de formação dos complexos de ácido kójico e de seu derivado 6-[5-hidroxi-2-hidroximetil-piran-4-ona]-5-hidroxi-2-hidroximetil-piran-4ona, com os íons metálicos de alumínio (III) e ferro (III), obtendo também resultados de raioX para o complexo de ácido kójico e ferro, [Fe(kj)3] (NURCHI et al., 2010). Em 2011, complexos heterolépticos de manganês, cobalto, níquel e zinco foram sintetizados apresentando simultaneamente o ácido kójico e a L-prolina na esfera de coordenação dos íons metálicos. Todos os quatro complexos produzidos foram caracterizados por análise elementar, espectroscopia eletrônica, espectroscopia de infravermelho, análise termogravimétrica e medidas de condutividade, tendo também suas atividades antibacterianas e antifúngicas testadas. Através dos resultados obtidos foi possível confirmar a presença dos dois ligantes coordenados aos íons metálicos, e no caso do complexo de manganês, constatar também a presença de duas moléculas de águas, como pode ser visualizado na Figura 20 (SHARMA et al., 2011). 40 Figura 20 - Representação Estrutural dos Complexos de Metais de Transição com Ácido Kójico e L-prolina como Ligantes, onde M= Co (II), Ni (II) e Zn (II) (à esquerda) e M= Mn( II) (à direita). Fonte: Sharma et al. (2011, p.380 e 381). 3.5.COMPLEXOS DE DERIVADOS DO ÁCIDO KÓJICO De acordo com dados da literatura, dezenove compostos derivados do ácido kójico e quatro de seus complexos de cobre, representados de forma esquemática na Figura 21, tiveram suas atividades testadas contra vinte e cinco tipos de fungos, obtendo-se resultados satisfatórios e concluindo-se que o aumento da lipofilicidade provavelmente produzirá mais análogos ativos (BALAZ et al., 1993). Figura 21 - Representação Esquemática dos Compostos Derivados do Ácido Kójico. Fonte: Balaz et al. (1993, p.387). Uma série de complexos de azidokojico com íons metálicos de cobre, manganês, magnésio, zinco e níquel, com estado de oxidação II, também foram sintetizados e tiveram seus efeitos testados em relação às atividades antifúngicas, antibactericidas e efeito citotóxico. Os derivados de manganês e zinco não foram ativos contra os microrganismos testados, já os derivados de cobre apresentaram fraca atividade antibactericida, e os melhores resultados 41 foram exibidos para os derivados de níquel, mostrando fortes efeitos antifúngicos (HUDECOVÁ et al., 1996). Novos compostos de coordenação com os íons metálicos gálio, índio, ferro e cobre, foram obtidos através de um novo ligante macrocíclico, sintetizado a partir da reação entre o ácido kójico com 1,4,7-triazaciclononana, na presença de excesso de formaldeído, como demostrado na Figura 22. Todos os complexos obtidos, como representados estruturalmente na Figura 23, foram caracterizados por análise elementar, espectroscopia de massa, infravermelho e espectroscopia eletrônica Uv-Vis, sendo ainda os compostos de Ga, Fe e Cu também determinados por cristalografia de raio-X (YANG et al., 2008). Figura 22 - Síntese do Ligante Macrocíclico 6,6′,6′′-(1,4,7-triazonana-1,4,7-triil)tris(metileno)tris(5-hidroxi-2(hidroximetil)-4H-piran-4-ona). Fonte: Yang et al. (2008, p.2722). Figura 23 - Representação do Ligante Macrocíclico e de seus Complexos Sintetizados. Fonte: Yang et al. (2008, p.2720). Com a finalidade de estudar as atividades in vitro anticancerígenas, os complexos de rutênio-cimeno com ligantes pironas e com os seus análogos tiopironas, foram sintetizados e caracterizados através de análise elementar, espectroscopia de massa e de RMN. As reações apresentaram bons rendimentos e foram produzidas através do complexo bis[diclorido-(η6-p42 cimeno)]rutênio(II) reagindo com os ligantes desprotonados, como por exemplo maltol e allomaltol, conforme visualizado na Figura 24 (KANDIOLLER et al., 2009). Figura 24 - Síntese de Complexos de Rutênio-Cimeno Reagindo com Ligantes Pironas e Tiopironas. Fonte: Kandioller et al. (2009,4249). O peso molecular e a hidrofílicidade de uma substância são características que limitam acessibilidade de penetração na membrana plasmática, tendo em vista a sua natureza. Embora seja de extrema importância à existência de barreiras biológicas, que sejam seletivas no meio intracelular, impedindo a entrada de agentes invasores, também constituem um enorme desafio na atuação de agentes terapêuticos. Portanto, buscando-se aumentar a compatibilidade de substância com a membrana plasmática, Kwak e colaboradores em 2010, preparam compostos de coordenação com um derivado do ácido kójico, pela incorporação de um aminoácido e um grupo amino (Ak-F-NH2), que já apresenta atividade de inibir a tirosinase, complexados aos íons de cobre e zinco, objetivando aumentar a lipofilicidade e avaliar o efeito de inibição em sistemas celular. A complexação resulta na diminuição da característica hidrofílica do ligante, pois bloqueia as ligações de hidrogênio (KWAK et al., 2010). Complexos de ferro (III) com o ligante ácido azidokojico, 5-hidroxi-2-azidometil-4Hpiran-4-ona, Figura 25, tiveram sua formação avaliada em solução aquosa com função do pH e da proporção molar das espécies metal:ligante envolvidas (SIPOS et al., 2011). 43 Figura 25 - Estrutura Química do Ácido Azidokojico. Fonte: Sipos et al. (2011, p.1201). É crescente o interesse por substâncias coordenantes a íons de ferro, participantes no tratamento de doença. Atualmente reagentes empregados nesse tipo de terapia são baseados em grupos hidroxi substituintes piridononas ou em sistemas de anel aromático (NUCHI et al., 2011). Nas ultimas décadas vem se analisando que os elevados níveis de alumínio podem propiciar prejuízos à saúde, principalmente por esse elemento não desempenhar função essencial nos organismos vivos, sugerindo que a sua acumulação no cérebro pode ser responsável pelo desenvolvimento de doenças, como Alzheimer (KANDIOLLER et al., 2011). Santos (2012) utilizou em seu trabalho um esquema representativo, como demostrado na Figura 26, evidenciando de forma ilustrativa as aplicações dos possíveis derivados dos hidroxipiridonas. Esses compostos quando atuando como ligantes podem capturar íons metálicos, como por exemplo, o ferro e o alumínio, que quando em excesso causam distúrbios e acarretam doenças, por esse motivo podem inibir doenças neurodegenerativas, evitar sobrecarga de metais no organismo (NUCHI et al., 2011) ou impedir o desenvolvimento de bactérias e protozoários que possuem o ferro como um micronutriente de extrema importância para a sua sobrevivência e proliferação (DEHKORDI et al., 2008). Dessa forma, essa classe de compostos funcionalizados exibe grande potencial farmacêutico. A classe das hidroxipiridonas quando formando complexos, são usados como metalofármacos empregados para fins terapêuticos, como por exemplo, contra a diabetes e câncer, e também podem ser utilizados em diagnósticos como agentes de contraste (SANTOS et al., 2012). A elevada afinidade por íons metálicos e também por originarem complexos estáveis (KANDIOLLER et al., 2011), são as principais características que possibilitam a estes compostos atuarem tanto como agentes sequestrantes de íons metálicos quanto como ligantes com função transportadora de espécies metálicas, normalmente relacionadas a drogas 44 de administração oral, como por exemplo, em complexos de vanádio, largamento estudado como alternativa no tratamento de diabetes (YUEN et al., 1997). Figura 26 - Representação Esquemática do Potencial de Aplicação dos Hidroxipiridona, atuando como Ligante (cinza) e na Forma de Complexos, para Fins Terapêuticos (azul) e Aplicações em Diagnósticos (violeta). Fonte: Santos et al. (2012, p.242). 3.6.TÉCNICAS INSTRUMENTAIS DE ANÁLISE 3.6.1. Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho A espectroscopia vibracional na região do infravermelho é uma técnica bastante empregada na caracterização estrutural de compostos químicos, fornecendo informações relevantes tanto a respeito dos grupos funcionais presentes em uma molécula quanto fornecendo informações a respeito de sua simetria (SILVERSTEIN et al., 2007; PAVIA et al., 2010). A região de radiação do infravermelho situa-se no espectro eletromagnético entre as regiões do visível e das micro-ondas, podendo ser dividida em três regiões: infravermelho próximo, compreendendo a faixa de 12.500 a 4.000 cm-1; infravermelho médio, entre 4.000 a 45 400 cm-1; e infravermelho distante, de 400 a 10 cm-1 (VOGEL, 2006), sendo a região mais utilizada na caracterização de compostos orgânicos e inorgânicos, a do infravermelho médio. Na espectroscopia de infravermelho as moléculas absorvem radiações de frequências específicas que são características de sua estrutura. As frequências vibracionais das ligações em moléculas, íons ou radicais poliatômicos dependem da geometria, das massas reduzidas dos átomos envolvidos na ligação e das constantes de força das ligações (PAVIA et al., 2010). As bandas observadas no espectro raramente correspondem ao número teórico de vibrações fundamentais, tendo em vista que são acompanhadas por vibrações harmônicas, correspondente a múltiplos de uma frequências fundamental, e por combinações de vibrações (SILVERSTEIN et al., 2007). Sendo então, as frequências aproximadas das deformações axiais ou estiramentos, determinadas usando-se a lei de Hooke, conforme a seguinte equação: √ Sendo: = frequência vibracional (cm-1) = velocidade da luz (cm/s) = constante de força de ligação (dyn/cm) = massa dos átomos x e y, respectivamente. A constante de força de ligação ( ), presente na equação é analisada como uma medida da rigidez da ligação, podendo ser, portanto, correlacionada com propriedades como a energia de ligação e a ordem de ligação. Assim, quanto maior a energia envolvida na ligação entre dois átomos, maior será a ordem de ligação e menor será o comprimento da ligação entre os átomos, portanto maior a rigidez e mais elevada será a constante de força. Vale ressaltar que o aumento da constante de força, que cresce na tabela periódica da esquerda para direita, tem efeito mais significativo do que o aumento das massas reduzidas dos átomos (SILVERSTEIN et al., 2007). As vibrações moleculares ocorrem na forma de deformações axiais e deformações angulares, respectivamente, consistindo de movimentos ao longo do eixo da ligação e em 46 modificações nos ângulos de ligações. As deformações axiais por sua vez podem ser classificadas como simétricas e assimétricas, em que os modos simétricos referem-se a movimentos de contração e alongamento uniformes nas ligações, porém nos modos assimétricos os movimentos ocorrem sem uniformidade, ou seja, enquanto uma ligação se contrai a outra se estende (PAVIA et al., 2010). As bandas presentes no infravermelho podem apresentar suas intensidades expressas em termos de absorbância (A) ou transmitância (T). A razão entre a energia radiante transmitida (I) pela energia radiante incidida (Io) na amostra é definida como transmitância, enquanto a absorbância corresponde ao logaritmo decimal do inverso da transmitância, tendo como expressões matemáticas as equações: Na química de coordenação, uma das aplicações mais conhecidas dessa técnica instrumental refere-se ao estudo de compostos que envolvem o ligante carbonila (CO). Este ligante é um forte oscilador, no sentido de apresentar bandas características de intensa absorção. Porém, quando coordenado observam-se alterações em suas frequências de estiramentos (SHRIVER, ATKINS, 2008), e essas mudanças no espectro de IV, possibilitam um melhor entendimento dos sistemas moleculares contendo ligantes receptores. 3.6.2. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível A Espectroscopia de absorção na região do ultravioleta e visível (Uv-Vis), também denominada de Espectroscopia eletrônica, compreende a região espectral de 190 a 1000 nm, com as radiações eletromagnéticas da região do visível, normalmente atribuídas à faixa entre 350 a 750 nm (PAVIA et al., 2010). Quando um feixe de radiação com comprimento de onda nessa faixa é absorvida por um certo material, átomos ou moléculas passam do seu estado de menor energia, ou seja, estado fundamental, para um estado eletrônico excitado, de maior energia. Assim, a diferença energética entre os estados deve ser igual à energia da radiação eletromagnética absorvida. 47 Portanto, quando uma molécula absorve energia, uma transição eletrônica possível seria a promoção de um elétron localizado em um orbital molecular ocupado de maior energia (HOMO) para um orbital molecular desocupado de menor energia (LUMO) (SHRIVER, ATKINS, 2008). Os espectros de absorção geralmente apresentam bandas largas, decorrentes da sobreposição dos sinais de transições rotacional e vibracional aos sinais associados às transições eletrônicas. A absortividade molar () é uma propriedade molecular de cada transição eletrônica que é calculada utilizando a Lei de Beer-Lambert. Essa propriedade está relacionada com a permissividade das transições ocorrerem, ou seja, quanto maior a intensidade de uma banda, maior a absortividade molar e mais permitida será a transição. Como exemplo, podem ser citadas as transições d-d, que apresentam baixas intensidades, possuindo pequenos valores de absortividade molar, normalmente inferiores a 1000 L mol-1cm-1 (SALLES, 2005), e transições com mudanças de spin eletrônicos, cujas intensidades são ainda menores. Nem todas as transições eletrônicas possíveis de ocorrer serão realmente observadas no espectro de absorção de uma determinada substância. Levando-se em consideração as posições relativas dos orbitais ligantes, não ligantes e anti-ligantes para uma dada molécula, conforme Figura 27, é possível se verificar a possibilidade de ocorrerem seis tipos de excitações eletrônicas. Entretanto, apenas duas dessas transições são normalmente observadas em espectros na região do Uv-Vis (PAVIA et al., 2010). Figura 27 - Transições de Energia entre Orbitais. Fonte: Adaptado Pavia et al. (2010). 48 As transições eletrônicas σσ* normalmente envolvem uma diferença energética muito grande e consequentemente, são responsáveis pela absorção de energia com comprimentos de onda muito pequenos na região do ultravioleta, não sendo normalmente observadas na faixa de análise, 190 a 800 nm, dos espectrofotômetros em geral. São transições envolvendo moléculas que contenham apenas ligações simples e sem átomos com pares de elétrons isolados. Já as transições nσ* ocorrem em moléculas saturadas que apresentam átomos com pares de elétrons isolados, sendo também transições de alta energia, entretanto possíveis de serem observadas na região entre 175 a 220 nm. As transições nπ* são menos energéticas que as ππ*, visto que apresentam menores diferenças de energia entre os orbitais não-ligantes (n) e antiligantes (π*) do que a dos orbitais π e π*. Ambas as transições envolvem compostos com insaturações, podendo aparecer no espectro Uv-Vis, sendo mais comum na região do ultravioleta (PAVIA et al., 2010; SALLES, 2005). Como exemplo da ocorrência de transições do tipo nπ* pode-se mencionar os compostos carbonílicos, que apresentam insaturações em sua estrutura, sendo observadas em comprimentos de onda por volta de 280 e 290 nm. Entretanto, como a maioria dessas transições são proibidas, resultam em bandas com baixa intensidade. Esses compostos carbonílicos também apresentam transições permitidas ππ* por volta de 188 nm. Assim como os alcenos e alcinos que possuem insaturações e apresentam transições ππ*, os compostos carbonílicos são consideravelmente sensíveis à substituição por grupos cromóforos, podendo ocorrer alterações nos comprimentos de onda e intensidade de absorção. Substituintes que apresentam capacidade de aumentar a intensidade de absorção e possivelmente o comprimento de onda são denominados de auxocromos. Outros substituintes podem desempenhar diferentes tipos de efeitos nas bandas de absorção, como por exemplo: Deslocamento batocrômico (deslocamento para o vermelho): ocorre deslocamento de uma determinada banda para energias mais baixas ou comprimentos de onda maiores; Deslocamento hipsocrômico (deslocamento para o azul): ocorre deslocamento de uma determinada banda para maiores energias ou menores comprimentos de onda; Efeito hipercrômico: um aumento de intensidade de uma determinada banda; Efeito hipocrômico: uma diminuição de intensidade de uma determinada banda. Na presença de ligações duplas conjugadas, os níveis de energia ficam mais próximos, implicando em uma menor diferença energética entre os orbitais, diminuindo a quantidade de 49 energia necessária para excitar um elétron a um orbital de maior energia. A conjugação de grupos cromóforos além de resultar em um deslocamento batocrômico também aumentam a intensidade de absorção. No caso do deslocamento batocrômico causado pela conjugação em alcenos, resulta de um aumento do comprimento do sistema conjugado e uma diminuição na energia necessária para excitação (PAVIA et al., 2010). Semelhante aos alcenos, os auxocromos manifestam seu deslocamento batocrômico por meio da extensão do comprimento do sistema conjugado. Os auxocromos mais fortes apresentam um par de elétrons isolados ligado ao sistema das duplas ligações, resultando no aumento do comprimento do sistema conjugado, devido à interação da ressonância do par de elétrons com as ligações duplas. Em decorrência dessa interação, os elétrons do par isolado tornam-se parte do sistema π de orbitais moleculares, aumentando seu comprimento. Evidenciando que sistemas sem interações apresentam maior energia para transições π π* do que novos sistemas alterados pela presença de pares de elétrons isolados, ligações duplas e/ou triplas conjugados. Os compostos carbonílicos em sistemas conjugados, deslocam suas transições para maiores comprimentos de onda. Num grupo carbonila conjugado a uma ligação dupla ocorrem transições ππ* com absorções por volta de 220 nm e 250 nm, cujas absortividades molares variam de 8.000 a 20.000. Já as transições nπ* nesses grupos são muito menos intensas, apresentando absortividades molares de 50 a 100, e o comprimento de onda entre 310 a 330 nm (PAVIA et al., 2010). Os espectros de Uv-Vis de complexos metálicos apresentam, além das transições mencionadas anteriormente, relacionadas aos ligantes orgânicos, as bandas de transferências de carga. Estas transições eletrônicas podem ocorrer de quatro formas distintas: transferência de carga do metal para o ligante (MLCT), transferências de carga do ligante para o metal (LMCT), transferências de carga do metal para o metal (MMCT) em sistemas binucleares, por exemplo, e ainda transferências de carga do ligante para outro ligante (LLCT). Uma característica importante das bandas referentes às transferências de carga são os seus elevados valores de absortividade molar. Nas transições LMCT, a densidade eletrônica é movida entre orbitais com caráter predominantemente ligantes ( e π) para orbitais com caráter predominantemente metálicos. 50 Um exemplo de transição MLCT, ocorre quando um elétron realiza uma transição do orbital d do metal para o orbital π* do ligante (SHRIVER, ATKINS, 2008). 51 Materiais e Métodos 52 4. MATERIAIS E MÉTODOS Para os procedimentos de síntese e caracterização de todos os compostos de coordenação obtidos foram utilizados reagentes e solventes de grau analítico, sem nenhum tratamento ou purificação prévia. Na Tabela 1 são listados todos os reagentes empregados para o desenvolvimento do trabalho. 4.1.Reagentes Utilizados Tabela 1 - Reagentes utilizados no procedimento experimental Reagentes Fórmula Pureza Fabricante Molecular Acetona P.A C3H6O 99,5 % Vetec Química Fina Acetonitrila CH3CN 99,9 % Panreac Ácido Clorídrico P.A. HCl 37,0 % Ácido kójico C6H6O4 98,5 % Sigma Aldrich Água Destilada H2O --- --- Álcool Metílico P.A. CH4O 99,5 % Vetec Química Fina Álcool Etílico P.A C2H6O 99,5 % Vetec Química Fina KBr --- Shimadzu corporation Cianeto de Potássio P.A. KCN 96,0 % Vetec Química Fina Cianeto de Sódio P.A. NaCN 98,0 % Vetec Química Fina AlCl3.6H2O 99,5 % CuCl2.2H2O 99,0 % Vetec Química Fina FeCl3.6H2O 99,0 % Vetec Química Fina FeCl2.4H2O 99,0 % Sigma Aldrich Cloreto de Rutênio (III) P.A RuCl3 55,0 % Sigma Aldrich Cloreto de Lítio P.A. LiCl 99,0 % Vetec Química Fina Brometo de Potássio espectroscópico Cloreto de Alumínio Hexahidratado P.A. Cloreto de Cobre (II) P.A. Dihidratado Cloreto de Ferro(III) Hexahidratado P.A. Cloreto de Ferro (II) Tetrahidratado P.A. Cromato Produtos Químicos LTDA Cromato Produtos Químicos LTDA 53 Diclorometano P.A CH2Cl2 99,5 % Vetec Química Fina Dimetilformamida-N,N P.A. C3H7NO 99,8 % Vetec Química Fina Éter Etílico P.A. C4H10O 99,7 % Vetec Química Fina Hidróxido de Sódio P.A NaOH 98,0 % Vetec Química Fina Hidróxido de Potássio em Pó KOH 85,0 % Vetec Química Fina Mercúrio Metálico P.A. Hg 99,9 % Vetec Química Fina Solução Tampão pH= 4,0 --- --- Solução Tampão pH= 7,0 --- --- Sulfato de Ferro (II) FeSO4 89,0 % Vetec Química Fina Zinco Granulado P.A Zn 99,8 % Vetec Química Fina Química Especializada Erich LTDA (QEEL) Química Especializada Erich LTDA (QEEL) Fonte: Autora (2013). 4.2.Procedimentos de síntese dos Compostos de Coordenação Homolépticos 4.2.1. Síntese do complexo [Al(kj)3] Dissolveu-se 0,7413 mmol (0,1790 g) de cloreto de alumínio hexahidratado (AlCl3.6H2O) em 5 mL de etanol seguida pela adição de 2,2239 mmol (0,3160 g) de ácido kójico. O sistema reacional foi mantido sob agitação e aquecimento a 50ºC durante 15 minutos para solubilização dos reagentes. Depois de totalmente solubilizados, ajustou-se o pH da reação com uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) 2,5 mol L-1 obtendo pH=8. Após o ajuste de pH, o sistema permaneceu durante 1 hora e 30 minutos sob agitação e aquecimento a 50ºC. A solução foi resfriada e o material sólido formado foi então filtrado em funil de placa porosa e seco, sendo ainda o precipitado recristalizado a quente, em mistura de éter/metanol na proporção 1:1 e filtrado imediatamente. O sólido formado apresentou coloração levemente amarela com rendimento de 85,76 %. Na Figura 28 é apresentado o fluxograma da síntese. 54 Figura 28 - Fluxograma de síntese do complexo [Al(kj)3]. Fonte: Autora (2013). Figura 29 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Al(kj)3] (à direita). Fonte: Autora (2013). 55 4.2.2. Síntese do complexo [Fe(kj)3] Dissolveu-se 0,3584 mmol (0,0969 g) de cloreto de ferro (III) hexahidratado (FeCl3.6H2O) em 3 mL de acetona e posteriormente foi adicionado 1,1828 mmol (0,1681 g) de ácido kójico previamente solubilizado em 25 mL do mesmo solvente. A mistura reacional adquiriu coloração violeta logo após adição do ácido kójico, permanecendo sob agitação constantemente a temperatura ambiente (aproximadamente 25ºC) durante 1 hora. Decorrido intervalo de tempo, o volume da solução foi reduzido até 5 mL sobre aquecimento a 50ºC. A precipitação do complexo foi obtida através da adição da mistura de solventes acetona/diclorometano na proporção 1:4. A solução foi então resfriada, e o sólido filtrado em funil de placa porosa e seco em dessecador. O sólido obtido apresentou coloração marrom escuro e o rendimento foi 50,5%. Na Figura 30 é apresentado o procedimento para síntese do complexo [Fe(kj)3]. Figura 30 - Fluxograma de síntese do complexo [Fe(kj)3]. Fonte: Autora (2013). 56 Figura 31 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Fe(kj)3] (à direita). Fonte: Autora (2013). 4.2.3. Síntese do complexo [Fe(kj)2] Para a síntese do complexo foram solubilizados 0,3584 mmol (0,0544 g) de sulfato de Ferro II (FeSO4) em 2 mL de metanol, posteriormente adicionou-se 0,7168 mmol (0,1019 g) de ácido kójico previamente solubilizado em 22 mL de metanol. Foi observada mudança de cor da solução para vermelho logo após a adição do ácido kójico. A mistura reacional foi mantida sob agitação constante a temperatura ambiente de aproximadamente 25ºC durante 24 horas. Decorrido este período a solução foi resfriada a 5ºC, sendo o material sólido formado filtrado em funil de placa porosa e seco em dessecador. O sólido formado apresentou coloração vermelha com rendimento de 65,15%. Na Figura 32 é apresentado o procedimento da síntese por meio de fluxograma. 57 Figura 32 - Fluxograma de síntese do complexo [Fe(kj)2]. Fonte: Autora (2013). Figura 33- Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Fe(kj)2] (à direita). Fonte: Autora (2013). 58 4.2.4. Síntese do complexo [Cu(kj)2] Inicialmente dissolveu-se 0,3150 mmol (0,0537 g) de cloreto de cobre (II) dihidratado (CuCl2.2H2O) em 2 mL de etanol, posteriormente adicionou-se 0,6300 mmol (0,0895 g) de ácido kójico e aproximadamente mais 2 mL do mesmo solvente a mistura reacional. O sistema foi mantido sob agitação constante a temperatura de aproximadamente 25ºC durante 2 horas. O material foi resfriado a 5ºC e o sólido filtrado em funil de placa porosa e seco, sendo posteriormente lavado em metanol, obtendo-se um sólido verde com rendimento de 70,5 %. Na Figura 34 é demostrado o procedimento da síntese através de fluxograma. Figura 34 - Fluxograma de síntese do complexo [Cu(kj)2]. Fonte: Autora (2013). 59 Figura 35 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Cu(kj)2] (à direita). Fonte: Autora (2013). 4.2.5. Síntese do complexo [Ru(kj)3] Para a síntese do complexo foram dissolvidos 0,7226 mmol (0,150 g) de cloreto de rutênio (III) (RuCl3) em 1,0 mL de dimetilformamida e em seguida adicionou-se 2,8904 mmol (0,411 g) de ácido kójico, e posteriormente adicionou-se mais 3 mL do mesmo solvente. O sistema reacional foi mantido sob agitação constante e aquecimento a 65ºC durante 24 horas. Decorrido esse intervalo de tempo adicionou-se uma mistura de solventes acetona/éter na proporção 1:4, originando um material oleoso separando-se do restante da solução. O material formado foi separado retirando-se o sobrenadante, posteriormente sendo seco em dessecador e raspado, obtendo-se um composto de cor preta com rendimento de 40,0 %. Na Figura 36 é apresentado o procedimento da síntese por meio de fluxograma. 60 Figura 36 - Fluxograma de síntese do complexo [Ru(kj)3]. Fonte: Autora (2013). Figura 37 - Proposição de estrutura (à esquerda) e foto do complexo [Ru(kj)3] (à direita). Fonte: Autora (2013). 61 4.3. Procedimentos de Síntese dos Compostos de Coordenação Heterolépticos 4.3.1. Síntese do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] Foi solubilizado 0,3584 mmol (0,0713 g) de cloreto de ferro (II) tetrahidratado (FeCl2.4H2O) em 2 mL de metanol, posteriormente adicionou-se 0,7168 mmol (0,1019 g) de ácido kójico previamente solubilizado em 22 mL de metanol. O sistema foi mantido durante 10 minutos sob agitação constante a temperatura de aproximadamente 25ºC, e logo em seguida adicionou-se 0,7168 mmol (0,0467 g) de cianeto de potássio (KCN) dissolvido em 3,0 mL de metanol. A mistura reacional foi submetida à agitação e aquecimento de 50ºC durante 1 hora. Decorrido esse intervalo de tempo, a solução foi resfriada a 5ºC, e o sólido formado foi filtrado em funil de placa porosa. O sólido obtido apresentou cor preta, e o rendimento da reação foi 60,8 %. Na Figura 38 é demonstrado o procedimento da síntese por meio de um fluxograma. Figura 38 - Fluxograma de síntese do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2]. Fonte: Autora (2013). 62 Figura 39 - Proposição de estrutura do íon trans-[Fe(kj)2(CN)2]2-, à esquerda, e foto do complexo obtido à direita. Fonte: Autora (2013). 4.3.2. Síntese do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] Inicialmente dissolveu-se 0,4818 mmol (0,1 g) de cloreto de rutênio III (RuCl3) em 1 mL de dimetilformamida, e posteriormente foram adicionados 0,9637 mmol (0,0409 g) de cloreto de lítio (LiCl) e 0,9637 mmol (0,1369 g) de ácido kójico na mistura reacional, e mais 2 mL do mesmo solvente. O sistema foi submetido à agitação constante e aquecimento a 70ºC durante 24 horas. Decorrido esse intervalo de tempo foi adicionado 0,9637 mmol (0,0472 g) de cianeto de sódio (NaCN), sendo então o sistema reacional agitado constantemente a temperatura de aproximadamente 25ºC durante 24 horas. Para precipitação do composto foi adicionado éter, sendo a solução resfriada a 5ºC e o sólido filtrado em funil de placa porosa e seco. O sólido obtido apresentou rendimento de 40%. Conforme Figura 40, é possível observar o procedimento da síntese por meio de fluxograma. 63 Figura 40 - Fluxograma de síntese do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2]. Fonte: Autora (2013). Figura 41 – Proposição de estrutura do íon trans-[Ru(kj)2(CN)2]2-, à esquerda, e foto do complexo obtido à direita. Fonte: Autora (2013). 64 4.4. Preparação da Amálgama de Zinco Inicialmente grânulos de zinco foram tratados com ácido clorídrico 2,5 mol L-1 com o objetivo de remover a camada de óxido de zinco presente no material. Posteriormente os grânulos foram secos com papel e imergidos em mercúrio metálico. As amálgamas formadas foram retiradas do mercúrio e lavadas exaustivamente em água destilada, para serem por fim utilizadas. O material foi preparado antes do uso. 4.5. Métodos de Caracterização 4.5.1. Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho Os espectros de infravermelho foram obtidos na Central Analítica do Instituto de Química da UFRN. Os espectros das amostras foram registrados em transmitância na região do infravermelho, na faixa do espectro de 400 a 4000 cm-1 utilizando um espectrofotômetro Shimadzu, modelo FTIR-8400S, série IRAFFINITY-1, software IRSOLUTION, versão1.60, com número de varredura igual a 30 e resolução 4. Todas as amostras foram preparadas em estado sólido, na forma de pastilhas. As amostras sólidas foram diluídas com brometo de potássio espectroscópico (KBr), maceradas em um almofariz e prensadas para obtenção de pastilha. 4.5.2. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível (Uv-Vis) Os espectros eletrônicos foram obtidos através da preparação de soluções das amostras em meio aquoso e orgânico, utilizando o espectrofotômetro do Laboratório de Química de Coordenação e Polímeros da UFRN. Os espectros foram registrados em equipamentos Agilent 8453 UV-visible Spectroscopy System fazendo uso de uma cubeta de quartzo com 1 cm de caminho óptico. Já os espectros em estado sólido foram obtidos através da preparação das amostras dispersas em pastilhas de KBr, utilizando o equipamento carry do Laboratório de Bioinorgânica do Departamento de Química da Universidade Federal do Ceará. 65 4.5.2.1.Procedimentos utilizados para obtenção dos espectros por Espectroscopia Eletrônica Foi realizado o monitoramento do ácido kójico em solução, através da espectroscopia eletrônica na região do Uv-Vis, para avaliar o comportamento do ligante face a variação do potencial hidrogeniônico e da redução da molécula, utilizando um agente redutor. 4.5.2.1.1. Monitoramento da Variação do pH do Ácido Kójico via Espectroscopia Eletrônica Inicialmente preparou-se 500 ml de uma solução de ácido kójico 8,3.10-5 mol L-1 em meio aquoso, em seguida determinou-se o pH inicial da solução usando-se um pHmetro de bancada (modelo EEQ-9025) e realizou-se a leitura da amostra no espectrofotômetro Uv-Vis. Para acompanhar o comportamento da espécie com a variação do pH, adicionou-se pequenos volumes (L) de uma solução de hidróxido de potássio 1,5 mol L-1 na solução do ácido kójico, seguida por agitação magnética, leitura do pH e acompanhamento no espectrofotômetro. A variação do pH da solução se procedeu na faixa de 5,7 a 10,2. Após atingir pH alcalino em torno de 10,2, objetivando acompanhar também o comportamento em meio ácido, foram adicionados pequenos volumes (L) de uma solução de ácido clorídrico 2,5 mol L-1, fazendo o pH da solução variar de 10,2 a 3,8. Após cada adição de HCl, foram obtidos espectros eletrônicos do ácido kójico nas soluções produzidas. 4.5.2.1.2. Monitoramento da Redução do Ácido Kójico via Espectroscopia Eletrônica Para acompanhar o comportamento do ácido kójico mediante sua redução, empregouse como agente redutor, uma liga metálica composta por zinco e mercúrio, denominada de amálgama de zinco. Inicialmente obteve-se o espectro eletrônico da solução de ácido kójico 6,6.10-5 mol L-1, posteriormente foi adicionado na própria cubeta desta solução grânulos da amálgama, salientando que antes de cada leitura no espectrofotômetro a solução foi homogeneizada, e em decorridos intervalos de tempo, os espectros foram obtidos. 66 4.5.3. Análise Elementar (CHN) As determinações dos teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio foram realizadas em um analisador elementar Carlo Erba, modelo EA 1110, na Central Analítica do Departamento de Química Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco. 67 Resultados e Discussão 68 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Espectroscopia Vibracional na Região do Infravermelho O emprego da espectroscopia vibracional na região do infravermelho está direcionado com o reconhecimento de estruturas e o esclarecimento de ligações, sendo utilizado amplamente como ferramenta, na química de coordenação (OLIVEIRA, 2002). Os espectros vibracionais, neste trabalho, foram obtidos para a molécula de ácido kójico e para todos os complexos formados a partir desse ligante. Inicialmente o objetivo foi verificar as características espectrais para cada um dos compostos, apresentando todos os espectros individualmente, e em segundo compará-los entre si, de modo a evidenciar suas divergências e/ou convergências espectrais, enfatizando as modificações decorrentes do efeito da complexação e buscando explicações para os modos vibracionais presentes. Dessa forma, serão apresentados os espectros de infravermelho para o ácido kójico com suas respectivas atribuições, e posteriormente, demostrados os espectros correspondentes aos compostos de coordenação homolépticos, e na sequência os complexos heteroléptico. E por ultimo serão exibidas as semelhanças e divergências entre os compostos de coordenação avaliados, seja em relação ao número de espécies coordenantes ou em relação ao estado de oxidação dos centros metálicos. 5.1.1. Ácido Kójico A molécula do ácido kójico, conforme indicada na Figura 1, apresenta uma estrutura planar bastante assimétrica, tendo como elementos de simetria apenas a identidade (E) e um plano de reflexão horizontal (h), pertencendo assim ao grupo pontual Cs. O elevado número de bandas observadas no espectro de infravermelho deste ligante, apesar de sua estrutura química simples, pode ser justificado pela baixa simetria da molécula, exibindo vários modos vibracionais ativos no infravermelho. O seu espectro abrangendo a região de 4000 a 400 cm-1, é apresentado na Figura 42. Em que para uma melhor análise e discussão dos resultados, o espectro obtido foi dividido em três regiões, de maneira a proporcionar uma melhor visualização das principais bandas encontradas no espectro desta molécula. Na região do espectro de 4000 a 1800 cm-1 são normalmente encontradas as bandas referentes aos estiramentos X-H, onde X pode corresponder a carbono, nitrogênio ou 69 oxigênio. Portanto, no que se refere ao espectro do ácido kójico, esta região é bastante relevante tendo em vista a presença de ligações O-H e C-H em sua estrutura. Por isso, para essa região, foram observadas bandas em 3274 e 3172 cm-1, atribuídas aos estiramentos OH da hidroxila, respectivamente, para álcool primário e para a hidroxila ligada diretamente ao anel (SILVERSTEIN et al., 2005). Observa-se ainda, na Figura 42, a presença de bandas referentes aos estiramentos C-H em duas regiões distintas, devido à presença de ligações C-H em diferentes ambientes químicos, nos quais o carbono pode apresentar tanto hibridização sp3, como ocorre no carbono ligado diretamente à hidroxila do álcool primário, ou ainda com hibridização sp2, referente aos carbonos do heterocíclico. Assim os modos vibracionais com números de onda em 3095 e 3068 cm-1 resultam de deformações axiais assimétricas e simétricas C-H dos carbonos sp2, e os estiramentos encontrados em 2921 e 2843 cm-1 correspondem, respectivamente, aos estiramentos assimétricos e simétricos C-H do carbono sp3. Figura 42 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 % Transmitânica 80 60 2843 2921 40 3068 3095 20 3274 3172 0 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda(cm ) Fonte: Autora (2013). 70 Na faixa espectral compreendida entre 1800 a 1400 cm-1, como é mostrado na Figura 43, estão presentes os modos vibracionais referentes aos estiramentos C=O e C=C. Essa região é particularmente importante para o estudo vibracional do ácido kójico e seus derivados, pois está diretamente relacionada ao sistema π da molécula, podendo assim ser utilizada para avaliar modificações químicas estruturais, que possam alterar a densidade eletrônica do composto. De acordo com dados da literatura, os modos vibracionais referentes aos estiramentos C=O e C=C estão normalmente localizados na região do espectro entre 1700 a 1500 cm-1. Considerando a estrutura do ácido kójico, espera-se que os estiramentos relacionados à carbonila, sejam observados na região entre 1720 a 1700 cm-1, entretanto eles devem sofrer alterações nos números de onda, devido aos efeitos de conjugação, por estarem próximo das insaturações, bem como pela presença de átomos eletronegativos (SILVERSTEIN et al., 2005). No espectro do ácido kójico observa-se esse efeito, em que as bandas atribuídas à frequência de estiramento da carbonila, são situadas em 1659, 1630 e 1610 cm-1, assim sendo justificadas, tendo em vista a presença de insaturações nos carbonos adjacentes ao próprio carbono da carbonila. A banda em 1630 cm-1, frequentemente não é mencionada na literatura para o ácido kójico, provavelmente em virtude a sua sobreposição com o estiramento em 1610 cm-1, sendo ao longo das discussões também desconsiderada. De acordo com Aytemir e colaboradores (2010), os derivados de hidroxipiranonas produzem frequências de estiramento C=C no heterocíclico na faixa de 1588 a 1460 cm-1. Logo, foram observadas bandas em 1581 e 1472 cm-1, no espectro do ácido kójico, podendo ser correspondentes aos υC=C. 71 Figura 43 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 % Transmitânica 80 60 40 1472 20 1581 1659 0 1800 1750 1700 1630 1610 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda(cm ) Fonte: Autora (2013). O espectro do ácido kójico na região de 1400 a 900 cm-1, conforme apresentado na Figura 44, exibe bandas em 1392 e 1349 cm-1, podendo ser atribuídas à estiramentos C-O, deformações angulares no plano O-H e C-O-H de enol (PIANTAVINI, 2010). Já os modos vibracionais em 1283 cm-1 e uma banda em 1241 cm-1 sobreposta a um pico em 1227 cm-1 podem ser resultantes de estiramento C-C-C, deformações angulares C-C(=O)-C e correspondente também ao estiramento C-O de enol. A banda em 1074 cm-1 pode ser característica da vibração simétrica C-O-C, deformação O-H no plano de álcool primário (SILVERSTEIN et al., 2007; PIANTAVINI, 2010) ou relacionada a deformações angulares no plano C-H do carbono sp2 (FINNEGAN et al., 1987). Sendo ainda observado no espectro, uma banda em 942 cm-1, atribuída à deformação angular C-H fora do plano. Como visto, essa região do espectro corresponde às frequências de estiramentos C-O, deformações C-O-H e O-H tanto do grupo enólico quanto do álcool, como também os estiramentos C-O-C de éter cíclico e deformações angulares C-H de heterocíclico. 72 Figura 44 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 1400 a 900 cm-1. 80 % Transmitânica 60 40 1392 942 20 1349 1283 1241 1074 1227 0 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda(cm ) Fonte: Autora (2013). Analisando a região menos energética do espectro de infravermelho de 900 a 400 cm-1, na Figura 45, verifica-se uma banda em 865 cm-1, pertinente às deformações C-H fora do plano. Já em 770 cm-1, observa-se uma banda larga, podendo-se atribui-la as deformações angulares C-O-H. Por ultimo, estão presentes com valores de número de onda em 641, 606, 580 e 550 cm-1, os modos vibracionais característicos das deformações simétricas de ligações C-C do anel (PIANTAVINI, 2010). É importante também destacar no espectro, na faixa compreendida entre 500 e 400 cm-1, a ausência de modos vibracionais ativos. 73 Figura 45 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o ligante ácido kójico na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 % Transmitânica 80 580 60 550 606 40 641 770 20 865 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda(cm ) Fonte: Autora (2013). Todos os valores de número de onda e suas respectivas atribuições observadas no espectro de infravermelho para o ácido kójico são informados na Tabela 2, e corroboram com os dados reportados por Finnegan et al. (1987) para essa molécula, constatando uma excelente concordância numérica quando comparados, observando apenas pequenas variações que podem ser consideradas irrelevantes. Tabela 2 - Atribuição das bandas do Ácido kójico no infravermelho. ATRIBUIÇÕES Número de Onda (cm-1) υ O-H (CH2-OH) 3274 υ O-H (enólico) 3172 υass C-H (do anel) 3095 υs C-H (do anel) 3068 υass C-H (sp3) 2921 υs C-H (sp3) 2843 74 υ C=O 1659, 1630, 1610 υ C=C 1581, 1472 υ C-O, δ C-O-H a, δ O-H a (enólico), 1392, 1349 υ C-O (enólico), υ C-C-C, υ C-C-(=O)-C 1283, 1241, 1227 a a δ C-H , δ O-H (CH2-OH) 1074 δ C-H b 942, 865 δ C-O-H b 770 δs C-C (no anel) 641,606, 580, 550 υ = estiramento; ass= assimétrico; s= simétrico; δ = deformação angular; a= no plano; b= fora do plano. Fonte: Autora (2013). 5.1.2. Compostos de Coordenação Homolépticos A maioria dos complexos sintetizados neste trabalho, semelhantemente ao espectro de infravermelho do ácido kójico, apresentam um elevado número de bandas ativas nos seus respectivos espectros, podendo tal fato, ser atribuído à baixa simetria das estruturas dos compostos. Apesar de se atribuir uma geometria octaédrica ou tetraédrica para os complexos, respectivamente, apresentando três ou dois ligantes kójicos coordenados de forma bidentada, ao se considerar apenas a natureza dos átomos doadores ligados ao metal, estruturalmente a microsimetria não corresponde exatamente a um grupo pontual Oh ou Td, em virtude principalmente da ausência de eixos de rotação como operações de simetria na estrutura do ligante. Então, tendo como base a riqueza dos modos vibracionais ativos observados, os espectros dos complexos foram divididos em três faixas espectrais, para proporcionar uma melhor visualização e discussão dos resultados. 5.1.2.1.Complexo [Al(kj)3] Analisando o espectro vibracional obtido para o complexo de Alumínio (III) com três ligantes kójicos coordenados, obtendo-se teoricamente uma geometria octaédrica, observa-se na região mais energética do espectro, conforme Figura 46, a presença de uma banda em 3302 cm-1, característica do estiramento O-H da hidroxila de álcool primário. A banda apresenta-se ligeiramente alargada, devido a esta região ser muito sensível à presença de moléculas de 75 água e a interações de hidrogênio. Portanto, a visualização do desaparecimento da banda atribuída ao estiramento O-H do enol, não foi possível evidenciar. A literatura reporta que complexos com ligantes macrocíclicos derivados do ácido kójico, exibem uma banda forte e larga, em aproximadamente 3450 cm-1 devido à presença do υO-H proveniente de água de cristalização ou de moléculas de metanol utilizados na síntese do complexo (YANG et al., 2008). Ainda na região de maior energia do espectro, estão presentes em 3088 cm-1 os estiramentos C-H do carbono sp2, e os estiramentos assimétricos e simétricos C-H do carbono sp3, respectivamente, em 2908 e 2845 cm-1, exibindo pequenas variações de número de onda comparativamente ao ligante livre, para essas mesmas atribuições. Figura 46 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj) 3] na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 2845 2908 % Transmitância 80 60 3088 3302 40 20 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Na região do espectro de 1800 a 1400 cm-1 são verificadas as bandas referentes aos estiramentos C=O e C=C do heterocíclico, conforme mostrado na Figura 47. Os estiramentos estão localizados no espectro em 1624, 1573, 1524 e 1481 cm-1, sendo as duas primeiras bandas correspondentes aos modos vibracionais da carbonila e as outras referentes às insaturações. Logo, pode ser observado que as três primeiras bandas nessa região foram deslocadas para menores números de onda, quando comparado ao espectro do ligante livre, 76 apresentando variação de deslocamento de aproximadamente 35 e 37 cm-1 para as duas bandas do υC=O e variações de 57 cm-1 para a primeira atribuição do υC=C, devido à coordenação do ligante ao centro metálico. Esses deslocamentos ocorrem consequentemente devido a redução do caráter das ligações dupla, tanto da carbonila quanto dos alcenos, em decorrências da deslocalização eletrônica nas ligações π, proporcionada mediante coordenação dos oxigênios ao centro metálico (AGARWAL; RASTOGI, 1974; KWAK et al., 2010). De acordo com Barret (2001), os espectros de infravermelho de compostos de coordenação contendo ligantes semelhantes ao ácido kójico, exibem deslocamentos para os υC=O e υC=C, variando entre 30-70 cm-1 em relação ao seu ligante livre. Figura 47 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj) 3] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 % Transmitância 80 60 1624 40 1524 1481 20 1573 0 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). A Figura 48 mostra o espectro de infravermelho na região de 1400 a 900 cm -1. É nessa região que se observa os modos vibracionais referentes às ligações C-O-H e O-H do enol, presentes no ácido kójico em 1392 e 1349 cm-1. Para o espectro do complexo não se observou bandas nessa região, confirmando que a ligação para formação do complexo ocorreu no oxigênio do grupo enol. Outra diferença também constatada entre os espectros do ligante e do 77 complexo, é que o pico observado 1283 cm-1 para o ácido kójico, desloca-se para maiores número de onda e desdobra-se, resultando no complexo [Al(kj)3] em duas bandas em 1292 e 1281 cm-1, referente ao υC-O. Além disso, três novas bandas em 1256, 1234 e 1201 cm-1 com menores intensidades são verificadas, substituído uma banda larga sobreposta a um pico, respectivamente, em 1241 e 1227 cm-1. Observa-se também outras novas bandas em 1046 e 915 cm-1, podendo-se inferir que o acréscimo dos modos de vibração no espectro do complexo comprova a alteração de simetria, em virtude de uma nova estrutura formada e consequentemente outra simetria para o composto obtido. Portanto, a não verificação de alguns modos vibracionais pode ser em decorrência da ausência do hidrogênio do grupo OH enólico, evidenciando assim a desprotonação da hidroxila, devido à complexação. Já os estiramentos C-O deslocados para maiores números de onda indicam a formação da ligação do oxigênio enólico ao metal (ARANHA et al., 2007). As demais bandas, presentes no espectro para essa região, apresentaram pequenas variações com relação às do ligante livre, recebendo, portanto as mesmas atribuições. Por exemplo, observa-se em 1081 cm-1, um pico referente à δC-OH de álcool primário ou ainda referente à δC-H no plano. Da mesma forma, a deformação fora do plano C-H atribuída em 945 cm-1, quando no ligante é encontrada em 942 cm-1. Figura 48 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj)3] na faixa de 1400 a 900 cm-1. 100 % Transmitância 80 1046 915 1234 1201 1256 1081 60 945 1292 40 1400 1281 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 78 Para a última região do espectro vibracional do complexo [Al(kj)3], Figura 49, é possível constatar bandas em 873 e 853 cm-1, correspondentes também as deformações angulares C-H fora do plano. Além desta, observa-se quatro vibrações moleculares em 834, 804, 781 e 761 cm-1, substituindo uma banda larga em 770 cm-1 no espectro do ligante livre, como sendo pertinente a deformação C-O-H fora do plano, evidenciando que devido à desprotonação do grupo enólico, este modo vibracional não é mais observado, resultando em novos modos em decorrências da presença do metal, formando um anel de cinco membros, quando coordenado via oxigênios da carbonila e enólico. Já na faixa entre 700 e 550 cm-1, atribui-se as deformações angulares C-C presentes na molécula. Observa-se também a exibição de novas bandas em 503 e 436, com menores intensidades, e em 471 e 409 cm-1, com maiores intensidade, podendo serem atribuídas a estiramentos das ligações metal-oxigênio, uma vez que o ligante não coordenado não apresenta modos vibracionais ativos nesta região do espectro e segundo Finnegan (1987), a região de baixa frequência é atribuída ao υM-O. Figura 49 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Al(kj) 3] na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 436 90 503 834 % Transmitância 781 80 853 761 700 409 70 804 873 471 576 60 50 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 79 5.1.2.2. Complexo [Fe(kj)3] O espectro do complexo obtido a partir da coordenação de três íons kójicos ao Ferro (III), é mostrado na Figura 50. Observa-se uma banda em 3410 cm-1 para o estiramento O-H do grupo álcool, como também alterações referentes ao estiramento O-H da hidroxila ligada ao anel. A ausência desse estiramento é prevista e constatada no espectro de forma sutil, com um declínio logo após o estiramento da hidroxila do álcool, tendo em vista que para a ocorrência da formação do complexo ocorre a desprotonação do grupo enol e a coordenação do íon metálico via oxigênio. Também podem ser constatados na mesma Figura 50, as deformações axiais C-H de grupos com ambientes químicos diferentes. Sendo localizado em 3097 cm-1 o estiramento C-H referente ao carbono sp2, e em 2913 e 2845 cm-1 as deformações axiais C-H, respectivamente, assimétricos e simétricos do grupo –CH2. Figura 50 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj) 3] na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 90 % Transmitância 2845 2913 80 3097 70 3410 60 50 40 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). O espectro do composto [Fe(kj)3] na região de 1800 a 1400 cm-1, conforme Figura 51, exibe quatro bandas intensas localizadas em 1610, 1565, 1509 e 1465 cm-1, correspondendo 80 as duas primeiras aos estiramentos C=O da carbonila e as duas últimas aos estiramentos C=C das insaturações no anel pirona. Em decorrência do efeito da coordenação essas frequências de estiramentos foram deslocadas para menores valores de número de onda em comparação as bandas do ligante livre, apresentando aproximadamente variações de 49 e 45 cm-1, respectivamente, para o primeiro e o segundo υC=O e variações de 72 e 7 cm-1 para os υC=C. Comprovando assim, através da redistribuição da densidade eletrônica da molécula, a coordenação do íon ferro (III). Figura 51 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj) 3] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 % Transmitância 90 80 70 1465 60 1509 1610 1565 50 40 1800 1700 1600 1500 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Analisando a faixa do espectro de 1400 a 900 cm-1, Figura 52, pode-se perceber a ausência de alguns modos vibracionais, pertinentes ao hidrogênio do grupo OH enólico, como por exemplo, o estiramento C-O e às deformações no plano O-H e C-O-H, observadas no espectro do ácido kójico como bandas intensas em 1392 e 1349 cm-1. Podendo-se, portanto, atribuir a ausência desses modos à desprotonação da hidroxila e coordenação do ferro ao oxigênio enólico. 81 Verifica-se também no espectro um pico em 1228 cm-1, substituindo no espectro do ácido kójico a sobreposição de uma banda larga a um pico, localizados em 1241 e 1227 cm-1, resultantes de estiramento C-C-C, deformações angulares C-C(=O)-C ou ainda estiramento CO de enol. Então a coordenação do metal aos oxigênios justificam as modificações observadas para esses estiramentos, sendo a ausência de alguns modos de vibração, como por exemplo, constatado para o complexo [Al(kj)3], característica da saída do hidrogênio enólico. Já outras bandas presentes no espectro, exibiram pequenas variações ou mantiveramse inalteradas com relação aos valores de número de onda, pode-se mencionar a situada em 1074 cm-1 pertinente a δO-H no plano de álcool primário e/ou referente à δC-H no plano do carbono sp2, e a observada com número de onda em 942 cm-1 atribuída a δC-H fora do plano. Figura 52 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)3] na faixa de 1400 a 900 cm-1. 100 % Transmitância 90 80 942 1074 1228 70 60 50 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Na faixa do espectro de 900 a 400 cm-1, Figura 53, é observado com número de onda em 860 cm-1, outra deformação angular C-H fora do plano. Verificando-se nitidamente também o acréscimo de três novas bandas em 820, 794 e 757 cm-1, deslocadas para maiores 82 energias substituindo uma banda larga em aproximadamente 770 cm-1 no espectro do ligante livre, como sendo relacionado às deformações angulares fora do plano C-O-H, comprovando mais uma vez a desprotonação desse grupo com a complexação do metal, acarretando modificações espectrais. Além desses modos de vibração, uma nova banda no intervalo entre 500 e 400 cm-1, especificamente em 496 cm-1 é constatada, podendo ser atribuída ao estiramento ferro-oxigênio (Fe-O) e confirmando assim a presença do metal no composto sintetizado. Considerando a comparação entre a molécula do ácido kójico livre ao do complexo formado quando coordenada, a mudança de simetria entre as espécies, pode resultar em alterações dos modos vibracionais ativos no espectro de infravermelho. Podendo acarretar no acréscimo ou na ausência de deformações axiais ou angulares. Figura 53 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj)3] na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 % Transmitância 95 90 820 496 794 85 757 80 860 75 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 83 5.1.2.3. Complexo [Fe(kj)2] O espectro vibracional para o complexo apresentando ferro (II) coordenado a duas espécies do ligante, exibir modificações estruturais em decorrência da alteração da simetria do complexo formado, na região de 4000 a 400 cm-1, comparativamente ao espectro do ligante livre. Avaliando a faixa dos maiores números de onda, conforme Figura 54, destacam-se nítidas alterações no que se refere aos estiramentos O-H das hidroxilas, visto que a atribuição do estiramento O-H do álcool desloca-se para maiores energias, sendo encontrado em 3390 cm-1 e a frequência de estiramento referente à hidroxila ligada diretamente ao anel não é observada no espectro, devido à desprotonação oxigênio e coordenação ao centro metálico. Nesse intervalo mais energético do espectro, também se encontram em 3088 cm-1 as deformações axiais referentes aos estiramentos C-H do carbono sp2, e em 2913 e 2845 cm-1, respectivamente, os estiramentos assimétricos e simétricos do grupo metileno, apresentado pequenas variações em relação ao ligante livre. Figura 54 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj) 2] na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 90 2845 2913 80 % Transmitância 3088 70 60 3390 50 40 30 20 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 84 Analisando a região de 1800 a 1400 cm-1 do espectro do complexo [Fe(kj)2], Figura 55, encontram-se em 1609 e 1559 cm-1, as bandas referentes ao υC=O, e localizam-se em 1511 e 1468 cm-1, as bandas referentes aos υC=C. Enquanto que no ligante livre, estas mesmas bandas são observadas em 1659 e 1610 cm-1 para os estiramentos da carbonila e em 1581 e 1472 cm-1, correspondente as insaturações do anel . Podendo-se verificar um forte deslocamento destas bandas do heterocíclico para menores números de onda quando comparadas com os mesmos modos vibracionais no espectro do ácido kójico. Constatando-se deslocamentos de aproximadamente 50 e 51 cm-1 para a primeira e segunda banda da carbonila, e variações de 70 e 4 cm-1 para as duas bandas das insaturações, evidenciando assim a sensibilidade dessa região em relação ao efeito da coordenação. Figura 55 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj) 2] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 90 % Transmitância 80 70 60 50 1609 1468 40 1511 30 1559 20 10 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Avaliando o espectro do complexo na região de 1400 a 900 cm-1, Figura 56, identificam-se modificações na faixa referente aos υC-O, δO-H, δC-O-H, υC-C-C e δCC(=O)-C. Essas alterações são perceptíveis devido a não verificação das deformações C-O-H e O-H fora do plano, na faixa compreendida entre 1400 a 1300 cm-1, implicando assim na ausência do hidrogênio do grupo enólico em decorrências da coordenação do metal. Então a 85 substituição do hidrogênio pelo metal, acarreta modificações pertinentes à molécula orgânica, resultando também na ausência de modos vibracionais correspondentes a uma banda larga e intensa, situados no ligante livre, em 1241 e 1227 cm-1. Além dessas modificações por causa da desprotonação da hidroxila, observa-se o acréscimo de novos modos vibracionais em 1228 e em 1198 cm-1, em virtude da alteração de simetria na formação de uma nova estrutura, de maneira que a nova simetria proporciona a existência dessas duas novas bandas. Adicionalmente a estas alterações, observa-se no espectro a existência das deformações O-H de álcool e/ou C-H no plano, entretanto aparecem desdobradas em dois modos vibracionais, situados em 1083 e 1073 cm-1, comparativamente a banda exibida em 1074 cm-1 no espectro do ligante livre. Sugerindo então, que esse desdobramento também é decorrente do efeito da alteração da simetria. Considerando as outras bandas presentes no espectro ainda nesta região, observa-se que exibem o mesmo perfil, apenas com pequenas variações dos valores de número de onda, como por exemplo, a localizada em 938 cm-1, atribuída a δC-H fora do plano, enquanto que no ligante é exibida em 942 cm-1. 86 Figura 56 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj) 2] na faixa de 1400 a 900 cm-1. 100 90 % Transmitância 80 1228 1073 1083 70 938 1198 60 50 40 30 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Para a última divisão do espectro do complexo [Fe(kj)2], como mostrado na Figura 57, analisando a faixa compreendida entre 900 a 400 cm-1, verifica-se em 869 cm-1 a deformação angular C-H fora do plano. Assim como a presença de quatro novas bandas em 838, 818, 795 e 757 cm-1, respectivamente, com intensidades crescentes, comparativamente ao espectro do ácido kójico, substituindo uma banda larga e intensa em 770 cm-1 referente as δC-O-H fora do plano. Evidenciando, portanto que a saída do hidrogênio resulta na ausência de modos vibracionais e que a coordenação do metal origina novos modos de vibração. Pode-se constatar para a região menos energética, a existência de quatro novos modos vibracionais, situados em 519, 494, 440 e 418 cm-1, podendo-se atribuir a valores de estiramento metal-oxigênio, em virtude da formação do complexo, comprovando assim a presença do ferro na estrutura do composto sintetizado. 87 Figura 57 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Fe(kj) 2] na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 95 90 % Transmitância 418 838 440 818 519 795 85 757 80 494 869 75 70 65 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 5.1.2.4. Complexo [Cu(kj)2] O espectro vibracional para o complexo de Cobre (II), coordenado a duas espécies do ligante, é apresentado na Figura 58, para a região de 4000 a 400 cm-1. Considerando a região mais energética, com os maiores valores de números de onda, estão localizadas em 3139 cm-1 as deformações axiais correspondentes ao υO-H da hidroxila do álcool, e em 3049 cm-1 como sendo atribuído ao υC-H do carbono sp2, o qual é nitidamente observado devido à modificação do υO-H da hidroxila enólica, em que o grupo OH é desprotonado, justificando a ausência do estiramento O-H do enol em decorrência ao efeito da coordenação. Verifica-se também em 2921 e 2896 cm-1, os υC-H assimétrico e simétrico do carbono sp3 do grupo metileno. Esses estiramentos C-H apresentam sempre o mesmo perfil e, portanto são sempre bem característicos no espectro. Ainda em relação à Figura 58, uma banda larga de baixa intensidade pode ser observada em números de onda superiores a 3300 cm-1, podendo ser caracterizada por 88 vibrações harmônicas, que correspondem ao múltiplo das frequências fundamentais de bandas intensas presentes na região de 1900 a 1550 cm-1 (SILVERSTEIN et al., 2005). Figura 58 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj) 2] na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 90 2921 % Transmitância 80 2896 3049 3139 70 60 50 40 30 20 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Conforme Figura 59, constata-se na região do espectro caraterístico das frequências de estiramento da carbonila e das insaturações, a presença de quatro bandas intensas, sendo essas localizadas em 1625, 1568, 1530 e 1465 cm-1, referindo-se as duas primeiras aos υC=O e as outras mencionadas aos υC=C. Algumas dessas bandas apresentam-se sobrepostas a outras, originando ombros no espectro quando comparadas a mesma região do ligante livre. Observase também em relação ao ligante livre, que estas bandas são deslocadas para menores números de onda, justificando a redistribuição da densidade eletrônica no sistema da molécula orgânica com a complexação do metal. Exibindo diferenças de deslocamentos de 34 e 42 cm-1, para o primeiro e o segundo estiramentos atribuídos a carbonila, e variações de deslocamentos de 51 e 7 cm-1 para os υC=C, comprovando assim a formação do complexo. 89 Figura 59 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj) 2] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 90 % Transmitância 80 70 60 1519 1465 50 1625 40 1530 30 1568 20 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Na região de 1400 a 900 cm-1, como apresentado na Figura 60, compreendendo-se a faixa das deformações axiais de ligações simples C-C-C e C-O de enol e álcool, e deformações angulares no plano O-H, C-O-H de enol e C-C(=O)-C. Logo, nota-se na faixa entre 1400 a 1300 cm-1, a ausência dos modos de vibração referentes à deformação no plano O-H e C-O-H de enol, devido à desprotonação do grupo OH enólico em virtude da complexação, comprovando assim a coordenação do cobre ao oxigênio enólico. Verifica-se também a ausência de uma banda larga em 1241 cm-1 sobreposta a um pico em 1227 cm-1, podendo esse comportamento está associado também aos modos de vibração do grupo O-H enólico, justificando assim sua ausência. Entretanto substituindo essa banda, no espectro do complexo [Cu(kj)2] aparecem duas novas bandas, em 1224 cm-1 e em 1203 cm-1, assemelhando-se ao complexo [Fe(kj)2] em relação a quantidade dessas bandas. Além dessas modificações, observa-se que os modos vibracionais referentes ao υC-O de enol, desdobrados em dois picos sobrepostos em 1274 e 1263 cm-1, quando comparado ao espectro do ácido kójico em 1283 cm-1. É importante enfatizar que as bandas atribuídas a 90 deformações axiais C-O podem ser mais facilmente detectadas do que as C-C-C, tendo em vista uma maior intensidade de suas bandas (SILVERSTEIN et al., 2007). Também ocorre desdobramento da banda referente às deformações angulares no plano O-H de álcool e/ou C-H do carbono sp2, resultando no espectro em pico com um ombro, respectivamente, em 1085 e 1076 cm-1. Esse comportamento pode ser característico da alteração da simetria do composto em relação ao ligante livre. Constatam-se também nessa região do espectro do complexo, outros modos de vibração existentes no ácido kójico, apenas com pequenos valores de deslocamento, como por exemplo, a banda em 941 cm-1 correspondente a deformação angular C-H fora do plano. Figura 60 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj) 2] na faixa de 1400 a 900 cm-1. 100 90 % Transmitância 80 70 1224 1076 1203 60 941 1085 50 1263 40 30 1274 20 10 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). O espectro do complexo, conforme mostrado na Figura 61, na região de 900 a 400 cm-1, refere-se à visualização de bandas caraterísticas de ligações C-C do anel e deformações fora do plano C-H e C-O-H na faixa compreendida em torno de 900 a 600 cm-1. Logo, observam-se duas bandas em 893 e 866 cm-1, também correspondentes a δC-H fora do plano, entretanto a primeira dessas apresenta-se como uma nova banda, comparativo ao espectro do ligante, sugerindo que a presença do cobre no composto modifica o número de modos ativos. 91 Verifica-se também alterações na faixa pertinente as deformações C-O-H fora do plano. Comparativamente ao espectro do ácido kójico, a banda larga em 770 cm-1 é substituída por quatro bandas situadas em 808, 792, 772 e 759 cm-1, sendo as duas primeiras de maior intensidade e as outras de pequena intensidade, no espectro do complexo. Além disso, visualiza-se na faixa menos energética do espectro, a sobreposição de modos vibracionais, atribuindo-se em 515 cm-1 ao estiramento do cobre aos oxigênios, confirmando a presença do íon metálico na estrutura do composto analisado. Figura 61 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Cu(kj) 2] na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 95 515 % Transmitância 90 759 85 772 562 80 646 866 75 893 70 808 792 65 60 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 5.1.2.5.Complexo [Ru(kj)3] Assim como os demais complexos homolépticos já discutidos, o complexo de rutênio, Figura 62, possui evidências da presença do ligante na sua estrutura, exibindo alterações nos seus modos vibracionais quando comparado com ligante livre, e semelhanças quando correlacionado com os outros complexos sintetizados. 92 Observa-se para a região mais energética do espectro, em 3427 cm-1 às deformações axiais da hidroxila do álcool primário, deslocadas para maiores valores de número de onda devido o fato da coordenação. E os estiramentos C-H do carbono sp2 localizam-se em torno de 3080 cm-1, enquanto que os estiramentos assimétricos e simétricos correspondentes ao carbono com hibridização sp3 são verificados em 2958 e 2927 cm-1. Figura 62 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj) 3] na faixa de 4000 a 400 869 cm-1. 100 % Transmitância 90 2927 2958 3080 80 3427 70 60 50 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Com relação à região de 1800 a 1400 cm-1, de acordo com a Figura 63, pode-se perceber a presença de quatro bandas, sendo a primeira em 1637 cm-1, bem larga e possuindo um ombro em 1608 cm-1. Geralmente são observadas bandas em 3448 e em 1639 cm-1 devido à umidade do ar, podendo, portanto, a banda exibida em 1637 cm-1, alargada e intensa ser referente também à presença de umidade no composto (SILVERSTEIN et al., 2005). Então em 1608 e 1548 cm-1, atribui-se às deformações axiais da carbonila. E os modos vibracionais com valores de número de onda situados em 1475 e 1429 cm-1, destinam-se aos estiramentos das insaturações C=C, resultando também no espectro, a existência de bandas alargadas. 93 Com relação a esta região, observa-se que as bandas deslocam-se para menores frequências de estiramentos quando comparadas as mesmas banda no espectro do ligante livre. Verificando-se para às bandas em 1608 e 1548 cm-1, respectivamente, deslocamentos em torno de 51 e 62 cm-1 para o estiramento da carbonila, e variações de 106 e 43 cm-1 para as bandas atribuídas aos υC=C, quando comparados com os mesmos estiramentos correspondentes no ligante livre. Confirmando assim o efeito da coordenação do metal através do oxigênio da carbonila. Figura 63 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj) 3] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 % Transmitância 90 80 1429 70 1548 1608 1475 60 1637 50 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Analisando a região de 1400 a 900 cm-1, Figura 64, verifica-se no espectro alterações na faixa entre 1400 a 1300 cm-1, com a exibição de apenas uma banda em 1355 cm-1, comparativamente ao ligante livre, que exibe dois modos de vibração com grande intensidade em 1392 e 1349 cm-1, atribuidos as deformações C-O-H e O-H do grupo enólico. Podendo-se sugerir que a coordenação do rutênio, causou modificações nos modos de vibração, resultando no espectro em apenas uma única banda, ou ainda que a presença dessa banda deve-se aos grandes deslocamentos das bandas de insaturações da região vizinha, visto que nos demais complexos avaliados anteriormente, constata-se ausência de bandas entre 1400 a 1300 cm-1, em decorrencia da desportonação da hidroxila enólica. Entretanto, de toda forma, essa faixa é modificada devido a complexação. 94 Já na faixa compreendida entre 1300 a 1200 cm-1, observa-se uma banda larga em 1233 cm-1, podendo-se atribuir a associação de vários modos de vibração, como υC-C-C, δCC(=O)-C e υC-O de enol, apresentando modificações tanto de intensidades das bandas quanto variações de número de onda em relação ao ligante ácido kójco. Além destas modificações, verifica-se no espectro, o deslocamento para maiores números de onda da δO-H álcool primário e/ou δC-H no plano do carbono sp2, sendo exibida em 1116 cm-1, como também a presença de um novo modo de vibração em 1066 cm-1. Já para a deformação C-H fora do plano, atribui-se a banda em 941 cm-1, assim como a existencia da nova banda em 912 cm-1. Todas as alterações espectrais, observadas tanto em relação a exibição de novas bandas quanto em relação a variações dos valores de número de onda, podem ser decorrentes da coordenação do metal, originando novos modos ativos no infravermelho em virtude da formação de uma nova estrutura. Figura 64 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj) 3] na faixa de 1400 a 900 cm-1. 100 % Transmitância 90 941 912 1066 1116 80 1233 70 60 1400 1355 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 95 Na Figura 65, a região de 900 a 400 cm-1, observa-se uma banda em 861 cm-1, referente as δC-H fora do plano. Como também o acréscimo de três novos modos de vibração em 820, 790 e 759 cm-1, em substituição a uma banda larga e intensa no espectro do ligante livre, atribuída às deformações fora do plano C-O-H e O-H, justificando assim as alterações nessa faixa, devido à ausência do hidrogênio enólico em virtude da coordenação do metal. E na faixa de 700 a 550 cm-1, estão presentes as deformações simétricas C-C. Novas alterações também são constatadas na faixa menos energética do espectro, de 500 a 400 cm-1, com a presença de novas bandas, especificamente com números de onda em 516 e 424 cm-1, sendo pertinentes aos estiramentos metal-oxigênio, confirmando a coordenação do rutênio aos oxigênios. Figura 65 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo [Ru(kj) 3] na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 % Transmitância 95 820 790 759 861 516 424 90 85 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 96 5.1.2.6.Principais alterações observadas nos espectros de IV para os complexos homolépticos sintetizados Comparando os espectros dos complexos obtidos, na região de maior número de onda, compreendida entre 4000 a 2000 cm-1, é possível verificar que existe similaridade para todos os complexos homolépticos, tanto para os complexos que apresentam três ligantes coordenados, quanto para os complexos que possuem apenas dois ligantes. Tal fato indica que essa região não seria sensível em relação à simetria dos complexos, mas está fortemente relacionado ao ambiente químico do grupo OH. Analisando os espectros de infravermelho obtidos tanto para o ligante ácido kójico quanto para todos os complexos homolépticos sintetizados, podem-se destacar alterações evidentes com relação aos estiramentos O-H das hidroxilas, visto que o número de onda correspondente a hidroxila do álcool é deslocado para valores mais elevados em relação ao ligante livre na maioria dos compostos, com exceção do complexo [Cu(kj)2], e o estiramento O-H da hidroxila ligada diretamente ao anel não é observado com a complexação. A ausência desse estiramento é devido à desprotonação da hidroxila, ou seja, saída da espécie H+ do grupo enólico, causando desse modo aumento da densidade eletrônica sobre o átomo de oxigênio, tendo como consequência a possibilidade de doar elétrons, propiciando assim a coordenação de íons metálicos via oxigênio enólico. Esse mesmo comportamento também é observado para ligantes γ-hidroxicetonas cíclicas, como os derivados de tropolone (2-Hidroxi2,4,6-cicloheptatrien-1-ona) que devido a coordenação não exibem o estiramento pertinente a hidroxila (BARRET et al., 2001), como também para ligantes fenólicos provenientes do 2hidroxibenzaldeído, em que quando complexado ao cromo (III) não são verificadas bandas OH fenólico, devido à substituição do hidrogênio da hidroxila pelo íon cromo na formação dos complexos (ARANHA et al., 2007). Observou-se também, nos espectros de infravermelho que a coordenação do metal ao ligante altera os comprimentos das ligações C-H de natureza σ, devido à reorganização da densidade do sistema eletrônico da molécula. Segundo Finnegan e colaboradores (1987) os compostos γ-pironas são característicos por apresentar quatro bandas no espectro de infravermelho, na região de 1600 a 1450 cm-1, preservando esse comportamento espectral para todos os complexos derivados desse grupo. A coordenação do ligante ao metal através do oxigênio do grupo da carbonila é confirmada pela diminuição da frequência de estiramento C=O nos espectros de IV em 97 comparação com o ligante livre. Esse mesmo comportamento pode ser observado também para vários outros complexos apresentando ligantes pironas, como por exemplo, o ácido piromeconico (Hpa), o maltol (Hma) e o ácido clorokojico (Hck), ou ainda com ligantes piridonas, como o 3-hidroxi-2-metil-4-piridinona (mpp) e o 3-hidroxi-1,2-dimetil-4piridinona (dpp) ( FINNEGAN et al., 1987; ORVIG et al., 1988). Na Tabela 3, são reportadas as frequências de estiramentos C=O e C=C observadas tanto para os ligantes pironas livre quanto para complexos com esses ligantes pironas e piridonas. Também de acordo com dados da literatura, os espectros de infravermelho de vários complexos com ligantes tropolone e derivados de γ-pironas, como maltol e etilmaltol, complexados com íons de zinco e estrôncio exibiram deslocamentos para o estiramento C=O, quando comparados com o seu respectivo ligante livre (BARRET et al., 2001). Tabela 3 - Atribuição das frequências de υC=O e υC=C para ligantes e complexos pironas e complexos da classe piridona. Hpa [Ga(pa)3] Hma [Ga(ma)3] Hck [Ga(ck)3] [Ir(mpp)3] [Ir(dpp)3] Atribuições (FINNEGAN et al., 1987) υC=O υC=C (ORVIG et al., 1988) 1655 1601 1650 1610 1655 1615 1620 1605 1620 1550 1620 1570 1625 1572 1600 1550 1565 1510 1558 1505 1585 1517 1520 1517 1457 1455 1457 1460 1455 1470 1495 1490 Fonte: Adaptado Finnegan et al., (1987); Orvig et al., (1988). Logo, com base na avaliação da região de 1800 a 1400 cm-1, tem-se um comportamento semelhante entre todos os complexos apresentando o íon kójico como ligante, ou seja, a ocorrência de bandas atribuídas aos estiramentos da carbonila e das duplas ligações com o mesmo perfil, apenas com deslocamentos distintos, particular para cada complexo. Assim como são inerentes à presença dessas bandas no espectro, é característica também a existência de variações dos números de onda quando comparados com o espectro do ligante não coordenado. Os deslocamentos ocorrem em decorrência da presença de insaturações e dos pares de elétrons do átomo do oxigênio do éter cíclico, poderem apresentar efeito de conjugação, deslocalizando a densidade eletrônica ao longo de todos os átomos do anel, acarretando assim uma extensão do sistema π, ou seja, uma ressonância. Dessa forma, aumentando o 98 comprimento das ligações duplas (C=C) e consequentemente reduzindo a energia necessária para proporcionar a vibração das ligações moleculares. O efeito de conjugação constatado no anel é ativado em consequência da deslocalização da densidade eletrônica da ligação C=O da carbonila para o oxigênio, na formação da ligação com o metal, conforme Figura 66 – I. Com essa deslocalização da nuvem eletrônica, ocorre redução do caráter de dupla ligação e extensão do comprimento da ligação carbono-oxigênio (C=O). Assim, com a finalidade de minimizar a carência eletrônica do carbono da carbonila, todo o sistema do anel, ou seja, pares de elétrons do heterocíclico e insaturações, tendem a experimentar o efeito de conjugação, como representado na Figura 66 – II, resultando na ressonância da densidade sobre os átomos contidos no heterocíclico. Esse efeito pode ser evidenciado no espectro de infravermelho, com as reduções das frequências das deformações axiais C=O e C=C. Figura 66 - Representação do efeito de conjugação do heterocíclico mediante deslocalização da densidade eletrônica da carbonila com a coordenação do metal. M O O O HO M O O M O HO HO O O I O II Fonte: Autora (2013). Na região de 1400 a 600 cm-1, estão presentes as frequências de estiramento C-O, CO-H para os compostos analisados, referentes ao grupo enólico, ao álcool primário e aos modos de estiramento do éter cíclico, além das deformações angulares da ligação C-H. Por ser uma faixa bem diversificada e com atribuições susceptíveis a modificações energéticas mediante o efeito da coordenação, são observadas nos espetros obtidos, alterações tanto em relação ao número de bandas presentes, com desdobramentos e formação de ombros, quanto em relação à variação dos seus deslocamentos. Observa-se para todos os complexos homolépticos sintetizados, analisando a região de 1400 a 900, a ausências dos modos vibracionais localizados em 1392 e 1349 cm-1, referentes às deformações angulares no plano O-H e C-O-H de enol, comprovando assim a desprotonação do grupo enólico, devido à coordenação do metal. Observa-se também 99 alterações na faixa pertinente a estiramento C-C-C, deformações angulares C-C(=O)-C e estiramento C-O de enol, constatando-se na ausência da banda larga em 1241 cm-1, sendo substituída por novos modos vibracionais de menor intensidade. Logo, esse comportamento verificado nos espectros dos complexos pode ser atribuído ao efeito da coordenação. Entretanto pode-se tentar justificar que o número de modos vibracionais existentes nessa faixa são características da simetria do composto, tendo em vista divergências na quantidade de bandas nos complexos com números de ligantes distintos. A presença de bandas adicionais na faixa de 500 a 400 cm-1 refere-se aos valores de estiramento metal-oxigênio, comprovando a coordenação dos íons metálicos aos oxigênios do ligante kójico. Segundo Jain, R. (1997), estudando o espectro vibracional de compostos de estanho coordenados ao ácido kójico, evidenciou-se a presença de bandas em 440, 340 e 330 cm-1, ao qual atribuiu como sendo correspondente aos modos vibracionais da ligação Sn-O. Portanto todas essas modificações nas regiões do espectro vibracional, principalmente para o estiramento da carbonila e das duplas ligações, e as alterações ocorridas no estiramento enólico, como também a presença de novas bandas no intervalo entre 500 a 400 cm-1, são características espectroscópicas que indicam fortemente a coordenação do íon kójico (kj-), através dos átomos de oxigênio da carbonila e do grupo enólico, aos íons metálicos de AlIII, FeIII, FeII, CuII e RuIII, respectivamente, para formação dos complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3], [Fe(kj)2], [Cu(kj)2] e [Ru(kj)3], em que o ligante está coordenado de forma bidentada. Na tabela 4, estão informadas as variações dos deslocamentos de estiramento da carbonila para cada um dos complexos homolépticos sintetizados, comparativamente a primeira e a segunda banda do ligante livre. E através dos valores obtidos, é possível observar que a redistribuição de densidade eletrônica é mais efetiva na molécula íon kójico para a formação do complexo [Ru(kj)3] do que nos outros complexos sintetizados, tendo em vista os maiores valores de deslocamento da carbonila. Tabela 4 - Variação das frequências de υC=O dos complexos homolépticos comparativamente ao ligante ácido kójico, para a primeira e segunda banda referente à carbonila. Variações dos deslocamentos (cm-1) Atribuições υC=O [Al(kj)3] [Fe(kj)3] [Fe(kj)2] [Cu(kj)2] [Ru(kj)3] 1ª Banda 35 49 50 34 51 100 2ª Banda 37 45 51 42 62 Fonte: Autora (2013). 5.1.3. Compostos de Coordenação Heterolépticos Os complexos de ciano podem ser facilmente identificados por um forte estiramento na região entre 2200 a 2000 cm-1. Quando ocorre coordenação do ligante ciano a um centro metálico, a frequência de estiramento C≡N pode ser deslocada para maiores ou menores valores. Esse comportamento pode ser observado devido o íon ciano ter a possibilidade de atuar tanto como doador, quanto π receptor. A doação tende a aumentar a frequência de estiramento C≡N devido à remoção de densidade eletrônica do orbital 3 (com caráter antiligante) aumentando a ordem de ligação. Enquanto que em virtude da retrodoação, o estiramento C≡N tende a diminuir, devido ao aumento de densidade eletrônica nos orbitais 2π* do ligante, diminuindo assim a ordem de ligação, consequentemente ocorre aumento do comprimento da ligação, reduzindo a frequência de estiramento. Os cianos complexos também podem exibir bandas de estiramentos M-C e M-C≡N em regiões de baixas frequências, faixas em torno de 600-500 e 500-350 cm-1, respectivamente (NAKAMOTO, 1997). Logo, quando ocorre a coordenação de espécies π receptoras ao centro metálico, existe à possibilidade da ocorrência da retrodoação, que consiste na doação de densidade eletrônica do metal para o ligante, com formação da ligação π entre estas espécies. Dessa forma, a retrodoação pode ocorrer através da doação de densidade eletrônica dos orbitais dπ do metal para orbitais *, * ou ainda para orbitais dπ vazios do ligante (HUHEEY et al.,1993). Ocorrendo participação dos orbitais * para o ligante ciano, atuando como um π receptor. Na Figura 67, é apresentado o diagrama do orbital molecular do ligante cianeto, com a finalidade de demostrar que a doação é realizada através da participação do orbital molecular ocupado de maior energia (HOMO), 3, e evidenciar a disponibilidade de orbitais moleculares desocupados de mais baixa energia (LUMO), 2*, em receber densidade eletrônica do metal através da retrodoação, podendo esses orbitais antiligantes (π*) serem sobrepostos aos orbitais d do metal, por serem de mesma simetria. 101 Figura 67 - Representação do Diagrama do orbital molecular para o CN-. C N * * 2px 2py 2pz 2px 2py 2pz 2s * 2s CN - Fonte: Autora (2013). Já na Figura 68, é representado o orbital d do metal interagindo com o orbital 2π* do ligante CN-, em consequência do seu caráter π receptor, acarretando na retrodoação. Na mesma Figura, é mostrada a atuação do ciano, como um σ doador, com a participação do orbital d do metal interagindo com o orbital σ do ligante. Figura 68 - Representação dos orbitais do metal e do ligante CN- envolvidos na retrodoação e na σ doação, respectivamente à esquerda e à direita. Retrodoação Ligante CN doador Ligante CN receptor - + - M C + d + N M - + C N d Fonte: Autora (2013). 102 5.1.3.1.Complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] O espectro vibracional do complexo de Ferro (II), coordenado a dois íons kójico e a dois ligantes ciano, apresenta modos vibracionais na faixa mais energética do espectro, exibindo uma banda larga em 3300 cm-1, referindo-se ao estiramento O-H da hidroxila do álcool primário e podendo-se atribuir o seu perfil alargado as interações de hidrogênio, acarretando na sobreposição da faixa da frequência de estiramento da hidroxila enólica. Outros modos vibracionais estão presentes em 3082, 2907 e 2851 cm-1, respectivamente, correspondentes ao estiramento C-H do carbono sp2 e aos estiramentos assimétricos e simétricos C-H do carbono sp3. O espectro do complexo sintetizado, Figura 69, também apresenta uma banda intensa em 2065 cm-1, referente ao υCN, exibindo deslocamento de 13 cm-1 para menores números de onda, comparativamente ao ligante cianeto livre. Comprovando realmente a presença desse grupo na esfera de coordenação do ferro, e confirmando a atuação do ligante, como uma espécie π receptora, devido à redução da frequência de estiramento C≡N. Figura 69 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 90 % Transmitância 80 2851 2907 70 60 3300 3082 50 40 2065 30 20 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 103 Na retrodoação ocorre doação dos elétrons dos orbitais d ocupados do metal para os orbitais vazios antiligantes do ciano. E quanto mais rico eletronicamente o centro metálico, mais efetiva à retrodoação, ou seja, mais densidade eletrônica será doada para os orbitais 2π* do ligante, implicando assim em uma redução da ordem de ligação, consequentemente, causando maior comprimento da ligação C≡N, resultando no espectro em menores valores de número de onda atribuídos a esse estiramento. Já na região do espectro de 1800 a 1400 cm-1, Figura 70, são exibidas quatro bandas intensas, sendo duas dessas localizadas em 1607 e 1557 cm-1, correspondentes aos estiramentos da carbonila, e as outras duas bandas exibidas em 1506 e 1468 cm-1, como referentes aos estiramentos das insaturações do heterocíclico. Constatando para essa faixa do espectro, que todas as bandas foram deslocadas para menores números de onda comparativamente ao ligante ácido kójico livre, evidenciando a ocorrência da coordenação do ligante ao centro metálico. Apresentando variações de deslocamentos aproximadamente de 52 e 53 cm-1, respectivamente, para a primeira e segunda banda da carbonila, e variações de 75 e 4 cm-1, para os estiramentos C=C. Figura 70 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 1800 a 1400 cm-1. 100 90 % Transmitânica 80 70 60 1607 50 40 1506 1468 30 1557 20 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 104 Avaliando a região do espectro de 1400 a 900 cm-1, conforme Figura 71, atribuída aos υC-O de álcool, enol, éter cíclico e deformação angular C-H no plano e fora do plano. Verifica-se a ausência de modos vibracionais na região entre 1400 a 1300 cm-1, atribuídas às deformações C-O-H e O-H do grupo enólico, comparativamente à mesma região do espectro do ligante ácido kójico não complexado. Assim como modificações na faixa entre 1300 a aproximadamente 1200 cm-1, pertinentes aos υC-C-C, δC-C(=O)-C e δC-O de enol, podendo estes modos de vibração, estarem associados também as δC-O-H e O-H enólico. Com isso, observa-se que a banda larga sobreposta a um pico no espectro do ligante livre, é substituída por duas novas bandas e um ombro, localizados, respectivamente, em 1245, 1194 e 1222 cm-1. Podendo-se justificar que a não verificações de alguns modos de vibração, correspondem à desprotonação do grupo enólico, em virtude da coordenação do metal, que por sua vez altera o número de bandas presentes no espectro em decorrência de uma nova simetria para o composto formado. Adicionalmente as modificações já mencionadas em relação ao complexo sintetizado, quando comparado com o ligante ácido kójico livre, também se observam deslocamentos de algumas bandas, como por exemplo, as atribuídas ao υC-O de enól, encontrando-se 1276 cm-1, como também o acréscimo de modos vibracionais em 1030 e 914 cm-1. Já as outras bandas presentes no espectro, coincidem com as do ligante e, portanto, recebem as mesmas atribuições, podendo-se observar, a banda em 1074 e 942 cm-1, correspondentes respectivamente, as δO-H no plano (álcool primário) e C-H (carbono sp2), e as deformações angular C-H fora do plano. 105 Figura 71 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 1400 a 900 cm-1. 100 90 % Transmitância 1030 80 1222 914 1074 70 1194 1245 60 50 1276 40 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Na visualização da faixa do espectro de 900 a 400 cm-1, conforme Figura 72, é constatada com número de onda em 868 cm-1 a deformação angular C-H fora do plano. Bem como, observam-se três novas bandas, situadas em 796, 775 e 756 cm-1, em substituição no espectro do ligante não complexado, a uma banda larga em aproximadamente 770 cm-1, referente às flexões C-O-H e O-H fora do plano, confirmando dessa maneira, que as alterações nesses grupos decorrem do efeito da coordenação, devido à desprotonação do hidrogênio enólico para coordenação do ferro. Outra diferença nessa faixa é a constatação de uma banda de baixa intensidade em 677 cm-1 podendo ser pertinente ao estiramento MetalCarbono do ligante ciano (NAKAMOTO, 1997). E para a faixa menos energética do espectro, verifica-se novos modos de vibração, aproximadamente com a existência de um ombro em 512 cm-1 e uma banda especificamente em 496 cm-1, podendo ser atribuídos ao estiramento ferro-oxigênio (Fe-O). 106 869 Figura 72 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] na faixa de 900 a 400 cm-1. 100 90 % Transmitânica 775 80 868 796 677 756 512 70 496 60 50 900 800 700 600 500 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 5.1.3.2.Complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] O espectro vibracional do complexo de rutênio (II), coordenado a dois íons kójicos e a dois ligantes cianos, exibe uma banda larga em 3426 cm-1, conforme Figura 73, sobrepondose a faixa pertinente as deformações axiais da hidroxila de álcool primário, enólico e aos estiramentos assimétricos e simétricos C-H do carbono sp2, podendo atribuir-se essa banda as interações de hidrogênio e a presença de moléculas de água no composto, visto que segundo Yang e colaboradores (2008), uma banda forte e larga em 3450 cm-1 nos espectros de complexos, decorre do υO-H por causa da presença de moléculas de água de cristalização. Já os estiramentos assimétricos e simétricos C-H do carbono sp3, referentes ao ligante ácido kójico, podem ser de forma sutil, verificando, respectivamente em 2914 e 2849 cm-1. O complexo também apresenta uma banda fina e intensa em 2053 cm-1, sendo correspondente ao υCN, exibindo variação de 25 cm-1 para menor valor de número de onda, comparativamente ao estiramento em 2078 cm-1 para o ligante cianeto livre. Confirmando desse modo, a presença do ligante na esfera de coordenação do rutênio, e podendo-se atribuir também a atuação do ligante, como a uma espécie π receptora, devido à redução da frequência 107 de estiramento C≡N. Comprovando a característica do metal em compartilhar densidade dos seus orbitais dπ para os orbitais antiligantes vazios do ciano, propiciada pelo estado de oxidação do rutênio (RuII). Com relação aos estiramentos característicos da carbonila e das duplas ligações, observados em outros complexos com o ligante kójico, exibindo quatro bandas intensas, observa-se, entretanto, para o complexo heteroléptico de rutênio, apenas uma banda larga compreendida entre 1700 a 1450 cm-1, em aproximadamente 1622 cm-1, atribuindo-se a sobreposições e associações dos modos vibracionais nesta região. Comparativamente ao complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2], o composto trans- Na2[Ru(kj)2(CN)2] apresenta poucos modos vibracionais, podendo-se atribuído esse comportamento espectral, a sobreposição, associação e combinação entre vários modos vibracionais, deformações axiais e angulares, e principalmente a presença de moléculas de água devido o complexo ser um pouco hidroscópico, resultando no espectro em bandas largas. Figura 73 - Espectro vibracional na região do infravermelho para o complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] na faixa de 4000 a 400 cm-1. 100 2849 2914 % Transmitânica 90 80 3426 1622 70 60 50 40 4000 2053 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 108 Segundo Shigematsu e Sasaki, poderia ser esperado para o complexo [Fe(phen)2(CN)2], dois modos vibracionais, referentes a frequência de estiramento C≡N. Entretanto o estiramento simétrico seria inativo para os complexos com isomeria trans, simetria (D2h). Exibindo os complexos em sua forma cis, a frequência de estiramento CN na faixa entre 2075 e 2062 cm-1, e a sua forma trans reportada em 2066 cm-1 de acordo com Schitt (1960). Os dados de infravermelho do complexo Dicianobis[2-(2- piridil)benzimidazol]ferro(II)Dihidratado, representado pela fórmula [Fe(PBI)2(CN)2]. 2H2O, relatados na literatura, exibiram desdobramento para a banda referente ao estiramento CN, propondo que os grupos cianos estão coordenados nas posições cis (SHIGEMATSU; SASAKI, 1974). Bem como, para o complexo Dicianobis(1,10-phenantrolina)ferro(II), com duas bandas na região de estiramento C≡N, indicando a isomeria cis para o complexo (SCHILT, 1663). Para os dicianos complexos, podem ser esperadas divisões na frequência de estiramento CN, pertinente a acoplamento dos modos vibracionais simétricos e assimétricos. Ambos os modos de acoplamento podem ser ativos no infravermelho para complexos na sua forma cis, entretanto para os complexos com isomeria trans, são ativos apenas os modos assimétricos (SCHILT, 1663). Os espectros de infravermelho têm ajudado na identificação de grupos funcionais, como exemplo, C≡N, e também na diferenciação de suas duas formas de isomerismo, cis e trans em complexos heterolépticos, que além dos dois ligantes ciano na esfera de coordenação, apresentam ligantes bidentados, como a fenantrolina e a bipiridina (SCHILT, 1963; QIN et al., 2009). Os complexos descritos na literatura, para o Dicianobis(1,10-phenantrolina)ferro(II) e os Dicianobis(bipiridina) de ferro, rutênio e ósmio, todos com estado de oxidação II, exibem dois modos vibracionais para a frequências de estiramento C≡N, atribuindo-se a isomeria cis. Então comparativamente aos compostos relatados por Schilt (1963) e Qin (2009), os complexos heterolépticos de FeII e RuII sintetizados, podem ser caracterizados com isomeria trans, para os complexos trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2], devido apresentarem apenas um modo ativo no infravermelho, referente ao υC≡N. 109 Fazendo-se também uma comparação entre os complexos possuindo dois ligantes ciano com os complexos carbonílicos, possuindo configuração cis-[M(CO)2X4], grupo pontual C2V, observa-se a presença de dois υCO ativos no infravermelho, por exemplo, para o complexo cis-[Mo(CO)2{P(OMe)3}4]. Porém para os compostos carbonílicos com isomeria trans-[M(CO)2X4], grupo pontual D4h, observa-se apenas um υCO. E para complexos dessa mesma configuração, com ligantes bidentados, a simetria pode ser diferente e atribuída como D2h, por exemplo, para o composto trans-[Mo(CO)2(dpe)2], onde dpe = H2PC2H4PH2. Portanto, semelhantemente também aos complexos carbonílicos, os compostos de coordenação apresentando dois ligantes ciano e dois ligante bidentados, representados pela fórmula [M(CN)2X4], podem ter sua isomeria cis ou trans estabelecida de acordo com o número de modos vibracionais exibidos no espectro de infravermelho referente ao υCN (OLIVEIRA, 2002). Na Tabela 5, são reportados alguns estiramentos CN e CO, respectivamente, para diciano e dicarbonil complexos, com conformação isomérica em cis e trans. Tabela 5 - Dados comparativos entre as frequências de estiramento C≡N e C=O, respectivamente, para Diciano complexos e dicarbonil complexos. Compostos υ CX (cm-1) trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] 2065 trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] 2053 trans-Bu4N[Ru(salen)(CN)2] 2096 trans-Ph4P[Ru(acac)2(CN)2] 2099 trans-[Cu(2-amp)2(SCN)2] 2042 SHUKLA et al. (2011) trans-[Mo(CO)2(dpe)2] 1844 OLIVEIRA (2002) cis-[Fe(phen)2(CN)2] 2075, 2062 SCHILT (1963) cis-[Fe(bipy)2(CN)2].2H2O 2079,2064 QIN et al. (2009) cis-[Ru(bipy)2(CN)2]. H2O 2066, 2060 cis-[Os(bipy)2(CN)2]. H2O 2060, 2041 cis-[Mo(CO)2{P(OMe)3}4] 1909,1856 Referências Presente trabalho YEUNG et al. (2005) SCHILT (1963) OLIVEIRA (2002) Fonte: Autora (2013). Os complexos heterolépticos sintetizados exibem número de onda na faixa em torno de 2000 cm-1, comprovando o estiramento C≡N, evidenciando a presença desse ligante na esfera de coordenação do metal. Logo, como os estiramentos C≡N foram reduzidos para menores frequências, comparativamente ao ligante livre, pode-se correlacionar a atuação do 110 ciano em ambos os casos, a um ligante π receptor, permitindo assim sugerir aos íons metálicos de ferro e rutênio, os seus estados de oxidação II, podendo dessa forma, efetivamente doar densidade através da retrodoação para os orbitais do ligante. Como os complexos trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] apresentam em sua estrutura dois ligantes de natureza distinta, evidenciados mediante características espectroscópicas de infravermelho, com a exibição de modos vibracionais referentes tanto ao ligante ciano quanto ao íon kójico, e considerando-se também a particularidade do ligante kójico atuar como uma espécie bidentada e os υCN serem característicos a isomeria trans, pode- se considerar uma geometria octaédrica distorcida para esses dois complexos obtidos. Logo, os compostos heterolépticos sintetizados podem ser propostos como apresentando aproximadamente uma geometria tetragonal, visto que ocorre em complexos hexacoordenados, em que duas das ligações metal-ligante exibem comprimentos diferentes do que as outras quatro ligações, devido à natureza distinta dos ligantes. Na Tabela 6, são informadas as frequências de estiramentos das principais atribuições observadas nos espectros do infravermelho dos compostos de coordenação analisados, tanto para os complexos homolépticos quanto para os heterolépticos e o ligante ácido kójico não coordenado. 111 Tabela 6 - Atribuições das principais bandas encontradas no espectro de infravermelho do ácido kójico e dos Atribuições υ O-H (CH2OH) υ O-H (anel) υ C-H (anel) υ C=O υ C=C δ C-H a δ C-H b υ M-O υ C≡N complexos homolépticos e heterolépticos analisados. AK 3274 3172 3095 1659 1610 1581 1472 1074 942 865 ---- ---- 1524 1481 1081 945 915 873 503 471 436 409 ---- [Al(kj)3] 3302 ---- 3088 1624 1573 [Fe(kj)3] 3410 ---- 3097 1610 1565 1509 1465 1074 942 860 496 ---- 3088 1609 1559 1511 1468 1083 1073 938 869 519 494 440 418 ---- 1530 1465 1085 1076 941 893 866 515 ---- [Fe(kj)2] 3390 ---- [Cu(kj)2] 3139 ---- 3049 1625 1568 [Ru(kj)3] 3427 ---- 3080 1637 1608 1548 1475 1429 1066 941 912 861 516 424 ---- TransK2[Fe(kj)2(CN)2] 3300 ---- 3082 1607 1557 1506 1468 1074 943 914 868 512 496 2065 ... 2053 Trans3426 ---... 1622 ... ... ... Na2[Ru(kj)2(CN)2] υ = estiramento; δ = deformação angular; a= no plano; b= fora do plano. Fonte: Autora (2013). 5.1.4. Comparação entre os complexos de Ferro sintetizados Comparando os espectros dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], ambos apresentando o mesmo elemento central, entretanto com estados de oxidação distintos, a região de 1800 a 1400 cm-1, é particularmente importante por apresentar as bandas atribuídas a carbonila e ao sistema insaturado C=C. Sendo estas localizadas em 1610, 1565, 1509 e 1465 cm-1 para o complexo de Fe III, e em 1609, 1559, 1511 e 1468 cm-1 para o complexo de FeII, na qual as 112 duas primeiras bandas de cada composto, correspondem ao υC=O e as duas ultimas também de cada complexo, referem-se ao υC=C. Observando também para o complexo [Fe(kj)2] a sobreposição de dois ombros em 1571 e 1521 cm-1, respectivamente, as bandas em 1559 e 1511 cm-1. Então nessa faixa, conforme sobreposição na Figura 74, para ambos os complexos de ferro, nota-se como semelhança a existência de quatro bandas intensas com pequenos valores de deslocamentos de número de onda. Entretanto seria de prever que as frequências de estiramento nesse intervalo, fossem deslocadas drasticamente para menores valores de números onda, no complexo com íon metálico FeIII, mais do que com íon FeII. Considerando que quanto maior a deficiência eletrônica do centro metálico, mais densidade eletrônica localizada entre os átomos de carbono e oxigênio do grupo da carbonila, seriam deslocalizadas para a formação da ligação metal-oxigênio. -1 Figura 74 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1800 a 1400 cm para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. 100 90 % Transmitância 80 70 60 50 40 30 20 1800 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Portanto, para tentar explicar a divergência do comportamento previsto, com o comportamento observado no espectro, apresentando proximidade dos valores de números de onda entre as quatro bandas mencionadas para cada complexo, pode-se sugerir que a 113 deficiência de elétrons do centro metálico FeIII está sendo compensada mais efetivamente através da coordenação do oxigênio enólico. Visto que em decorrência do efeito de conjugação no heterocíclico, propiciado de acordo com a coordenação do metal a carbonila, a hidroxila enólica assemelha-se a fenólica, atuando como um substituinte doador nas posições orto e para. Entretanto quando também complexada ao metal, talvez atue como um grupo retirador de densidade nas posições orto e para do heterocíclico, fornecendo densidade para o centro metálico. Dessa forma, não resultando, em drásticas alterações para a frequência de estiramento da carbonila quando comparadas entre os dois complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], tendo em vista que a variação de deficiência eletrônica entre os estados de oxidação III e II do centro metálico, não seria amenizada tão somente pela deslocalização da nuvem eletrônica da ligação C=O. Em contra partida, outra tentativa com maior consistência para justificar a semelhança entre as frequências de estiramento C=O e C=C para ambos os complexos de ferro, é em relação ao número de espécies ligantes, ou seja, a deficiência de elétrons no complexo com estado de oxidação III, não está sendo compensada apenas por dois ligantes, tendo que sobrecarregar a deslocalização da dupla da carbonila. Mas pela presença de outro ligante na esfera de coordenação do composto, dessa forma são três ligantes que se organizam de modo a compensar a carência eletrônica do centro metálico. Analisando a sobreposição dos espectros destes compostos, no entanto, agora na região de 1400 a 900 cm-1, Figura 75, observa-se distinções entre ambos os complexos em relação ao número de bandas, verificando para o complexo [Fe(kj)2] duas bandas, localizadas em 1198 e 1180 cm-1, enquanto que no complexo [Fe(kj)3], observa-se apenas uma bandas em 1198 cm-1, na faixa correspondente as atribuídas dos estriamentos C-O-C do heterocíclico, CO do enol e álcool, e as deformações C-H no plano e fora do plano do carbono sp2. Adicionalmente, observa-se também que o complexo [Fe(kj)3] exibe apenas uma banda em 1082 cm-1, enquanto que no complexo [Fe(kj)2], esse mesmo estiramento é desdobrado em dois modos vibracionais, localizados em 1083 e 1073 cm-1. 114 Figura 75 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1400 a 900 cm-1 para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. 100 % Transmitância 90 80 70 1180 1198 60 50 40 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Avaliando a sobreposição da região de 900 a 400 cm-1, conforme Figura 76, observam-se alterações entre os dois complexos, principalmente na faixa entre 520 a 400 cm-1, com relação ao número de modos vibracionais, exibindo quatro bandas para o complexo [Fe(kj)2], localizadas em 519, 494, 440 e 418 cm-1, e exibindo apenas uma banda em 496 cm-1 para o complexo [Fe(kj)3], sendo estes modos de vibração referentes aos estiramentos MO ativos para cada um dos complexos, evidenciando que se trata de compostos diferentes, sendo atribuídas essas diferenças ao número de espécies coordenantes e ao estado de oxidação do centro metálico. 115 Figura 76 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 900 a 400 cm-1 para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. 100 418 % Transmitância 95 440 90 496 519 85 494 80 75 70 900 850 800 750 700 650 600 550 500 450 400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Adotando-se segundo dados da literatura (WILEY et al., 1942; NURCHI et al., 2010) as geometrias, como sendo octaédrica e tetraédrica, respectivamente, para os complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], e considerando a avaliação realizada da sobreposição dos espectros desses complexos, em três distintas regiões, pode-se verificar que duas dessas regiões espectrais discutidas anteriormente, exibiram alterações principalmente em decorrência do acréscimo do número de bandas. Podendo esse fato, sugerir uma correlação da quantidade de bandas ou até mesmo do perfil da banda, a geometria do composto. Visto que, os modos vibracionais ativos no infravermelho, são capazes de fornecer informações de geometria. Então a região que pode proporcionar diferenciação entre as geometrias dos complexos, é a região de 1400 a 900 cm-1, devido que se trata, exclusivamente, dos modos de vibração da molécula do ligante, já que na região de 900 a 400 cm-1, participam os estiramentos referentes aos átomos da espécie coordenantes aos íons metálicos. 116 5.1.5. Comparações dos espectros vibracionais entre complexos homolépticos com mesma geometria A espectroscopia vibracional na região do infravermelho tem sido bastante estudada e utilizada como ferramenta para a caracterização e diferenciação de possíveis formas de isomerismo, cis e trans. Como exemplo, podem-se mencionar os complexos contendo o ligante macrocíclico cyclam, em que estudos comparativos entre vários complexos possuindo este ligante nas duas formas isoméricas, mostraram que as regiões com maior relevância à caracterização da forma isomérica são as regiões de deformação NH2 e de rocking CH2, observadas entre 750 e 910 cm-1. Verificando que os complexos com isomeria cis, apresentam normalmente cinco bandas nesta região, sendo três referentes a deformações NH2 e duas bandas na região de rocking CH2. Já complexos com simetria trans, apresentam apenas três bandas, sendo duas referentes às deformações NH2, e uma banda referente ao rocking CH2 (NAKAMOTO,1997). Comparativamente ao ligante cyclam, pode-se observar correlações entre os espectros vibracionais dos complexos homolépticos do íon kójico, entretanto com relação à geometria. Considerando os espectros de infravermelho dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, apresentando geometrias octaédrica e tetraédrica, é possível determinar a geometria de outros compostos, avaliando-se a região de 1400 a 900 cm-1, como sendo a principal faixa do espectro característica da alteração da geometria ou simetria, tendo em vista que a região de 900 a 400, apesar de possuir alterações dos modos vibracionais com a presença de novas bandas, são referentes aos estiramentos do metal. E as alterações pertinentes à faixa de 1400 a 900 cm-1, são decorrentes dos estiramentos do próprio ligante, evidenciando nova simetria e geometria do composto, devido ao efeito da complexação, realmente comprovando a formação de uma nova estrutura. A coordenação do ligante ácido kójico ao metal proporciona a formação de uma nova estrutura, o que de certa forma, origina uma nova simetria para a molécula, resultando em modificações no espectro vibracional. Analisando a região do espectro, relevantemente mais afetadas devido à alteração da geometria da molécula, buscou-se determinar a geometria do complexo [Cu(kj)2], que na maioria dos compostos de coordenação envolvendo o cobre, apresentam geometria quadrado-planar. Logo, o espectro do complexo CuII, foi sobreposto ao do complexo FeII, na região de 1400 a 900 cm-1, conforme Figura 77. Sendo perceptível a semelhança entre os espectros com 117 relação à quantidade de bandas e também em relação à proximidade dos valores dos números de onda, para cada um dos modos vibracionais, apresentando apenas pequenos deslocamentos. E principalmente compatibilidade do número de modos vibracionais que diferenciam justamente os complexos de geometrias diferentes de Fe II e FeIII, que no caso refere-se as duas bandas localizadas em 1203 e 1182 cm-1, para o complexo [Cu(kj)2], correspondendo com as duas bandas em 1198 e 1180 cm-1 do complexo [Fe(kj)2]. Além disso, em torno de 1100 cm-1, observa-se que a banda no complexo de FeII sintetizado é desdobrada, apresentando-se em 1083 e 1073 cm-1, e que o complexo de CuII obedece essa mesma tendência, apresentando-se em 1085 cm-1 e com um ombro em 1076 cm-1. Figura 77 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1400 a 900 cm-1 para os complexos [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], respectivamente, no espectro em preto e vermelho. 100 90 % Transmitância 80 70 60 50 40 30 20 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Considerando as divergências verificadas entre os espectros dos complexos [Fe(kj)2] e [Fe(kj)3], e as semelhanças constatadas entre os complexos [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], pode-se atribuir que essa faixa do espectro, realmente contém os modos vibracionais susceptível a simetria do complexo. E que com base nas semelhanças entre os espectros dos complexos com estado de oxidação II e mesmo número de íons kójicos coordenantes, pode-se propor, 118 que o complexo de cobre, apresentam geometria compatível com a geometria tetraédrica do complexo de FeII. Já os complexos com geometria teoricamente octaédrica, não exibiram o mesmo número de bandas, nem tão pouco equivalência dos valores de números de onda para todas as bandas nessa mesma região, conforme pode ser visualizado na Figura 78. Entretanto vale destaque, que um dos modos vibracionais, utilizados para a distinção entre as geometrias tetraédricas e octaédricas nos complexos de FeII e FeIII, em torno de 1100 cm-1, exibiram para os complexos de AlIII, FeIII e RuIII apenas uma única banda, diferenciando do desdobramento constatado para os compostos tetraédrico [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2]. O comportamento de similaridade da quantidade de bandas e proximidade dos valores de números de onda, para os modos vibracionais presentes nessa faixa do espectro, observados para os complexos tetraédricos, não é obedecido para os complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], com três ligantes kójicos coordenados a íons com estado de oxidação III. A incoerência ou desvio desse comportamento pode ser justificado tendo em vista, que os complexos envolvidos para essa comparação, estão localizados em períodos distintos na tabela periódica e, portanto, tratam-se do envolvimento, da participação de orbitais diferentes na camada de valência. Nos complexos de alumínio, estão interagindo os orbitais s e p do metal, já para os complexos de ferro e rutênio, embora estejam localizados no mesmo grupo na tabela, ocorre à participação dos orbitais d, entretanto estão localizados também em períodos distintos. 119 Figura 78 - Sobreposição dos espectros vibracionais na região de 1400 a 900 cm-1 para os complexos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], respectivamente, no espectro em preto, vermelho e verde. 100 90 % Transmitância 80 70 60 50 40 1400 1300 1200 1100 1000 900 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). 5.1.6. Correlação dos Complexos Homolépticos Visando estudar e correlacionar nos compostos de coordenação o comportamento das frequências de estiramento da carbonila e das duplas ligações, com as propriedades dos elementos da tabela periódica, foram sintetizados alguns complexos, através de modificações das metodologias e novos complexos, com o ligante ácido kójico coordenação aos íons de AlIII, FeIII, FeII, CuII e RuIII . 5.1.6.1.Correlação dos Estados de Oxidação III e II nos Complexos Homolépticos Os espectros dos complexos homolépticos sintetizados, na região de 1800 a 1400 cm-1 exibiram deslocamentos das bandas referentes aos estiramentos da carbonila e das ligações insaturadas, deslocadas para menores valores de número de onda, comparativamente a mesma região do ligante ácido kójico livre. A redução da frequência de estiramento C=O é justificada pela deslocalização da densidade eletrônica, localizada na dupla ligação entre o carbono e o oxigênio para a formação da ligação oxigênio metal. Com essa deslocalização, as duplas 120 ligações do anel e os pares de elétrons do heterocíclico, entram em ressonância, causando redução do caráter de dupla ligação C=C e consequentemente, resultando no espectro no deslocamento também das frequências de υC=C. Na Figura 79, são observadas as sobreposições dos espectros de infravermelho, na região de 1800 a 1400 cm-1, para as bandas referentes aos estiramentos C=O e C=C, atribuídas aos complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], apresentando o mesmo estado de oxidação para os íons centrais. Figura 79 - Sobreposição dos espetros vibracionais na região de 1800 a 1400 cm-1 evidenciando as frequências de υC=O e υC=C, indicadas respectivamente por asterisco e quadrado, para os complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], possuindo três ligantes coordenados, respectivamente, no espectro em preto, vermelho e verde. 100 90 80 * % Transmitância 70 * * 60 50 * * 40 30 20 C=C 10 * ** C=O 1800 * 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Observa-se, que esse efeito de redução dos valores de frequência de estiramentos é obtido para todos os complexos de modo semelhante. Fazendo uma correlação com o raio iônico, percebe-se um comportamento linear, em que quanto maior o raio dos íons, mais densidade eletrônica será deslocada, sendo melhor acomodada, conforme maiores os tamanhos dos orbitais do metal envolvido, acarretando uma melhor interação, e dessa forma compensando a deficiência eletrônica do centro metálico. 121 Correlacionando os valores de número de onda, referentes às deformações axiais C=O atribuídas à primeira banda, com os valores dos raios iônicos dos metais presentes em cada um dos complexos, com o mesmo estado de oxidação, obtém-se a Figura 80. Na qual se observa uma linearidade, evidenciando que quanto maior o raio iônico menor o número de onda referente ao estiramento C=O. Este fato pode ser explicado tendo em vista que quanto maior o raio iônico, mais densidade eletrônica da carbonila será deslocalizada para o metal, devido ao maior tamanho da espécie metálico para acomodar essa densidade nos seus orbitais, com isso diminuindo o caráter de dupla ligação da carbonila, implicando em maiores reduções do número de onda para o estiramento C=O. Figura 80 - Comportamento linear do υC=O do ácido kójico e dos complexos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3] versus o raio iônico corresponte aos íons metálicos de Alumínio, ferro e rutênio, todos no estado de oxidação III. Estiramento C=O Ak 1660 -1 Número de Onda (cm ) 1650 1640 1630 +3 Al 1620 +3 Fe +3 Ru 1610 1600 0 20 40 60 80 Raio Iônico (pm) Fonte: Autora (2013). Determinando-se o fator de regressão linear do comportamento de estiramento υC=O em número de onda versus o raio iônico, corresponte aos complexos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], e com a finalidade de enriquecer a comparação entre os complexos sintetizados, foram adicionados os dados de IV da literatura para o complexo de gálio,[Ga(kj)3], obtendo-se a Figura 81. 122 Figura 81 - Regressão linear do comportamento do υC=O nos complexos [Al(kj)3], [Ga(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3] versus o raio iônico correspondente aos íons metálicos de alumínio, gálio, ferro e rutênio, todos no estado de oxidação III. 1626 Estiramento C=O Regressão Linear +3 Al 1624 -1 Número de Onda (cm ) 1622 1620 1618 +3 Ga 1616 1614 +3 Fe 1612 1610 +3 Ru y =1701,2 - 1,14 x 2 R = 0,99055 1608 1606 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 Raio Iônico (pm) Fonte: Autora (2013). Levando-se em consideração os orbitais dos íons metálicos envolvidos para receber a densidade eletrônica do ligante ácido kójico, não seria de se esperar que os complexos de Alumínio e Gálio obedecessem à mesma linearidade dos complexos de Ferro e Rutênio, tendo em vista, estarem situados em grupos e períodos distintos na tabela periódica. No caso dos íons de Alumínio e Gálio, estão localizados na tabela periódica no grupo 13, apresentando os elétrons de valências localizados nos orbitais “p”, estando também disponíveis para acomodar a densidade proveniente das espécies do ligante. Já os íons metálicos de Ferro e Rutênio, são elementos de transição, portanto apresentando elétrons nos orbitais “d” da camada de valência, disponíveis para interagirem. Sugerido, que o tipo de orbital do íon central, que está interagindo, não é um fator determinante para estabelecer esse comportamento próximo da linearidade. Portanto, pode-se admitir que os fatores que influenciam essa linearidade são o estado de oxidação e o número de espécies coordenantes, obedecendo assim ao princípio de eletroneutralidade, em que se refere que quanto mais próximo de zero a carga formal das espécies, maior a estabilidade do composto. 123 Observa-se que apesar dos íons metálicos de ferro e rutênio estarem localizados no bloco d dos metais de transição, entretanto estão situados em períodos distintos da tabela, respectivamente, no 4º e 5º período. E quanto maior o número de camadas em um mesmo grupo maior o raio atômico. Quanto maior o raio iônico, maior a mobilidade da densidade eletrônica ser deslocada para os orbitais d, tendo em vista que mais afastados os elétrons estão do núcleo. A densidade recebida pelo centro metálico, pode ser melhor acomodada, levando-se em relação o tamanho dos íons metálico envolvidos, seja em termos da acomodação dos ligantes na esfera de coordenação, ou seja, em termos da acomodação dos elétrons nos orbitais atômicos dos metais. A acomodação da densidade eletrônica nos orbitais 4d do rutênio, acontecem com menor repulsão do que nos orbitais 3d do ferro, tendo em vista que os orbitais do rutênio são mais difusos. Portanto como a densidade é melhor recebida, acomodada nos orbitais do rutênio, a deslocalização eletrônica dos ligantes é mais efetiva para o complexo [Ru(kj)3] do que para o complexo [Fe(kj)3], e por sua vez, as frequências de estiramento C=O e C=C são mais deslocadas para menores energias nos compostos de rutênio. De acordo com as correlações observadas para os compostos de coordenação apresentando estado de oxidação III para os íons metálicos e três espécies coordenadas, buscou-se verificar semelhanças também para os complexos possuindo estado de oxidação II, com dois ligantes na esfera de coordenação, obtendo-se, portanto a sobreposição dos espectros dos complexos [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], conforme Figura 82. Na região especifica dos estiramentos da carbonila e das insaturações, observam-se variações para menores valores de número de onda. Entretanto como foram sintetizados apenas dois complexos dentro dessas especificações, teve-se a necessidade de acrescentar dados de infravermelho da literatura, como por exemplo, para o complexo de zinco, sendo representado como [Zn(kj)2] (BARRET et al., 2001). Esse acréscimo de informações serviu para enriquecer a discussão, tendo em vista o envolvimento de íons metálicos, ferro, cobre e zinco, pertencentes a grupos distintos na tabela periódica. 124 Figura 82 - Sobreposição dos espetros vibracionais na região de 1800 a 1400 cm-1 evidenciando as frequências de υC=O e υC=C, indicadas respectivamente por asterisco e quadrado, para os complexos homolépticos [Fe(kj) 2] e [Cu(kj)2], respectivamente, nas cores preto e vermelho. 100 90 80 % Transmitânica 70 60 50 * * 40 30 20 * * C=C * * C=O 10 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 -1 Número de Onda (cm ) Fonte: Autora (2013). Tentando-se observar o comportamento da frequência de estiramento carbonila, relacionando os valores de número de onda, com os valores dos raios iônicos, tanto para o conjunto de complexos com dois ligantes, quanto para o conjunto de complexos com três ligantes coordenados, objetivando analisar suas correlações. Analisando os resultados obtidos, conforme Figura 83, é possível observar proximidade da linearidade para ambos os conjuntos de complexos no estado de oxidação III e II. Esse comportamento pode ser justificado com base no princípio da eletroneutralidade, sendo o número de espécies coordenantes proporcional ao estado de oxidação do metal. 125 Figura 83 - Comportamento linear do υC=O versus o raio iônico dos íons metálicos no estado de oxidação III e II, respectivamente, em vermelho para os complexos [Al(kj)3], [Ga(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3] e azul para os [Cu(kj)2], [Zn(kj)2] e [Fe(kj)2]. Estiramento C=O Ak 1660 -1 Número de Onda (cm ) 1650 Conjunto de Complexos com 2 ligantes 1640 1630 +2 Cu +3 Al +3 Ga 1620 Conjunto de Complexos com 3 ligantes 1610 +2 Zn +2 +3 Fe +3 Ru Fe 1600 0 20 40 60 80 100 Raio Iônico (pm) Fonte: Autora (2013). A Tabela 7, foi adicionada com a finalidade de informar as deformações dos complexos de Gálio e Zinco, mencionados na literatura, para enriquecer as comparações e correlações das discussões abordadas. FINNEGAN et al. 3320 (1987) [Zn(kj)2] BARRET et al. (2001) 3500 1470 1614 1578 1517 ___ 1277 1202 1080 ___ 945 870 ___ υ M-O 1565 δ C-H a 1515 δ C-H a 1615 υ C-O υ C=C [Ga(kj)3] υ C=O ATRIBUIÇÕES υ O-H (CH2-OH) Tabela 7 - Atribuições da literatura para os complexos [Ga(kj)3] e [Zn(kj)2]. 365 290 240 ___ υ = estiramento; δ = deformação angular; a= no plano; b= fora do plano. Fonte: Autora (2013). 126 Conforme as variações nos valores de número de onda, referentes aos modos vibracionais da carbonila e das insaturações, foi possível observar que o deslocamento característico desses estiramentos, podem ser dependentes do número de ligantes de íon kójico presentes na esfera de coordenação, como também, do estado de oxidação do íon metálico, de acordo com a necessidade de densidade eletrônica do centro metálico. Estando também, por consequência relacionados os tipos e os tamanhos dos orbitais envolvidos para a formação dos complexos, na demanda e acomodação da densidade. Como isso, esses três fatores são preliminares para se prevê o comportamento das deformações axiais da carbonila e das insaturações, de modo a sugerir uma reorganização eletrônica na molécula do ligante, mais ou menos efetiva, em relação a essa deslocalização de densidade. 5.2.Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível 5.2.1. Ligante Ácido Kójico O espectro de absorção na região do ultravioleta e visível do ácido kójico, obtido em meio aquoso, conforme mostrado na Figura 84, apresenta duas bandas, sendo a mais energética observada em 215 nm e a segunda transição eletrônica localizada em 269 nm. Tais resultados são semelhantes a dados encontrados na literatura para este ácido orgânico (JAIN; KAUSHIK, 1997). Os coeficientes de absortividade molar destas transições são informados na Tabela 8. 127 Figura 84 - Espectro eletrônico do ligante ácido kójico em meio aquoso. 0,8 Absorbância 0,6 0,4 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Tabela 8 - Atribuição das transições no espectro eletrônico do ácido kójico em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) Transições Eletrônicas Absortividade molar (L mol-1cm-1) 215 π π* 9,9. 103 269 π π* 6,4. 103 Fonte: Autora (2013). Com a finalidade de avaliar o efeito da natureza do solvente sobre o perfil das transições eletrônicas desta substância, foram obtidos espectros em diferentes solventes. Na Figura 85 são apresentados os espectros sobrepostos do ácido kójico obtidos em água, metanol, acetonitrila e dimetilformamida (DMF). Os valores dos comprimentos de onda das bandas também foram verificados para cada um dos solventes utilizados, os quais foram informados na Tabela 9. 128 Figura 85 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do ligante ácido kójico obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha, verde e azul. 1,0 Absorbância 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 200 300 400 500 600 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Tabela 9 - Comparação das atribuições das bandas no espectro eletrônico do ácido kójico em diferentes solventes. Solventes Comprimento de Onda (nm) Água 215 269 Metanol 218 270 Acetonitrila 215 267 DMF __ 270 Fonte: Autora (2013). Comparando os espectros do ligante ácido kójico obtidos em água e nos demais solventes, observam-se pequenas alterações pertinentes as transições ππ*. Em metanol percebe-se deslocamento batocrômico para ambas as transições, já quando na utilização de 129 acetonitrila como solvente apenas a banda menos energética é deslocada para maiores energias. Com relação ao DMF, a região da banda de maior energia deve ser desconsiderada, tendo em vista que o próprio solvente apresenta absorção nessa faixa do espectro, e a segunda banda sofre variação de apenas 1 nm em relação ao espectro obtido em água. Assim, com base na comparação realizada neste experimento, observa-se pouca dependência das transições eletrônicas do ácido kójico não coordenado com a polaridade dos solventes avaliados. Como a coordenação do ácido kójico à centros metálicos deve ser acompanhada pela desprotonação do hidrogênio enólico e variação na densidade eletrônica sobre o ligante, foram também avaliados os comportamentos espectrais do ligante quando da sua desprotonação bem como quanto a sua redução. 5.2.1.1.Estudo da influência do pH sobre o espectro eletrônico do ácido kójico e determinação do pKa De forma a se avaliar a influência da variação do pH no espectro eletrônico do ácido kójico foi realizado o monitoramento através da Espectroscopia Uv-Vis do ligante em meio aquoso, para o qual foram obtidos espectros em diferentes valores de pH. Inicialmente foi obtido o espectro do ligante em solução aquosa com concentração 8,3.10-5 mol L-1 e pH igual a 5,7. Posteriormente a solução foi basificada até pH 10,2 com adições sucessivas de hidróxido de potássio 1,5 mol L-1. Em seguida a mesma solução foi acidificada até atingir o pH final igual a 3,8 com a adição de ácido clorídrico 2,5 mol L-1. Os espectros eletrônicos obtidos no estudo indicaram uma forte dependência das transições eletrônicas do ligante com a variação do pH da solução, conforme pode ser observado na sobreposição dos espectros obtidos em diferentes pHs apresentada na Figura 86. Nota-se que a partir do pH 8,7 não foram mais observadas mudanças significativas no espectro até se atingir o pH final do experimento 10,2. De acordo com os espectros obtidos, à medida que a solução torna-se alcalina a absorbância da banda localizada em 269 nm é reduzida, até praticamente não ser mais observada em pH 10,2, e simultaneamente uma nova banda em 315 nm passa a ser originada. Pode-se observar ainda que na região de maior energia do espectro, 215 nm, apresenta tanto um deslocamento batocrômico quanto um efeito hipercrômico. Para esta banda foi observado um deslocamento de 11 nm para maiores valores de comprimento de onda quando do aumento do pH de 5,7 (215 nm) para 10,2 (226 nm). Adicionalmente a intensidade da 130 transição teve sua absortividade molar praticamente duplicada, de 9,9.103 L mol-1cm-1 em pH 5,7 para 2,2.104 L mol-1cm-1 em pH 10,2. Figura 86 - Espectros eletrônicos em meio aquoso do Ácido kójico (8,3.10 -5 mol L-1) com variação do pH para valores alcalinos, na região de 190 a 400 nm. pH=5,7 pH=6,4 pH=7,0 pH=7,4 pH=7,7 pH=7,9 pH=8,1 pH=8,3 pH=8,7 pH=9,0 pH=9,9 pH=10,2 1,6 Absorbância 1,2 pH inicial= 5,7 pH Final= 10,2 0,8 0,4 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Por se tratar de um ácido, o ácido kójico apresenta naturalmente uma condição de equilíbrio de desprotonação em meio aquoso levando a formação do íon kójico, aqui representado como kj-. Assim, as variações espectrais observadas na Figura 86, devem, portanto, estar relacionadas à variação nesta condição de equilíbrio, ocasionada pelo aumento do pH da solução durante o experimento, levando a formação da base conjugada kj-, conforme reação química representada na Figura 87 abaixo. 131 Figura 87 - Representação do 1º Equilíbrio de Desprotonação/Protonação do ligante ácido kójico. 1º Equilíbrio de Desprotonação/Protonação O O O OH + HO OH - + HO O H2O O Espécie Desprotonada Espécie Protonada Hkj - + kj - OH- + H2O Fonte: Autora (2013). Assim, a presença de duas bandas no espectro com máximos de absorção em 215 e 269 nm deve ser, portanto, característico do íon kójico em sua forma protonada (Hkj, ácido kójico) enquanto que o espectro com bandas localizadas em 226 e 315 nm é referente ao perfil das transições eletrônicas do ligante desprotonado (kj-). A presença de dois pontos isosbésticos em 240 e 290 nm, conforme pode ser melhor observado na Figura 88, indica ainda que o processo de desprotonação do ácido kójico ocorre sem a formação de espécies intermediárias entre o ácido e sua base conjugada. Figura 88 - Sobreposição dos espectros em meio aquoso de ácido kójico (Hkj) e do íon kójico (kj-), respectivamente, obtidos em pH 5,7 e 10,2. 1,6 Absorbância 1,2 HKj 0,8 pH = 5,7 Kj - pH = 10,2 0,4 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 132 De forma a caracterizar o comportamento reversível de protonação do ácido kójico, foram obtidos também espectros acidificando a solução do ligante com pH 10,2 a partir da adição de ácido clorídrico 2,5 mol L-1. Seguindo este procedimento foi observada a redução da absorbância da banda em 315 nm, não sendo mais observada em pH 3,8, e simultânea intensificação da banda em 269 nm. Nesse estudo novamente nota-se a presença de pontos isosbésticos nos mesmos comprimentos de onda anteriormente relatados, comprovando o fato que para a formação da espécie protonada ou desprotonada não há ocorrência de intermediários ou de espécies irreversíveis. Esse comportamento pode ser visualizado conforme Figura 89. Figura 89 - Espectro eletrônico em meio aquoso do comportamento do Ácido kójico (8,3.10 -5 mol L-1) com pH=10,2 variando até pH=3,8 , na região de 190 a 400 nm. pH=10,2 pH=8,8 pH=8,1 pH=7,9 pH=7,6 pH=7,4 pH=6,8 pH=6,1 pH=4,9 pH=3,8 1,6 Absorbância 1,2 pHFinal= 3,8 pHInicial= 10,2 0,8 0,4 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Segundo Nurchi e colaboradores (2010), o ácido kójico pode apresentar ainda um segundo equilíbrio de protonação, agora relacionado ao oxigênio da carbonila. Este equilíbrio, entretanto pode ser observado apenas em elevados valores de acidez devido à dificuldade de protonação deste grupo. Nurchi relata que tal protonação é caracterizada pelo desdobramento da banda em 270 nm em duas novas bandas, sendo estas localizadas em 258 e 286 nm, possuindo valores semelhantes de absortividade molar, respectivamente, de 6,6.103 e 6,7.103 133 L mol-1cm-1. Entretanto o monitoramento através da espectroscopia Uv-Vis do segundo equilíbrio de protonação não foi obtido no presente trabalho devido às condições de acidez necessárias, mas pode ser representado conforme Figura 90. Figura 90 - Representação do 2º Equilíbrio de Protonação/Desprotonação do ligante ácido kójico. 2º Equilíbrio de Protonação O OH OH OH + HO H + HO O Hkj + H+ O H2kj + Fonte: Autora (2013). Os resultados indicaram que a protonação e desprotonação ocorrem de maneira reversível, e que a desprotonação do grupo enol tem como característica o deslocamento das transições eletrônicas para regiões com menores energias, indicando, portanto uma menor diferenciação energética entre os orbitais moleculares envolvidos nas transições eletrônicas no íon kójico em comparação a espécie protonada. Tal observação pode ser explicada pela maior densidade eletrônica sobre o ligante na sua forma desprotonada, o que deve acarretar, consequentemente, na necessidade de menores energias para promover a transição eletrônica entre os níveis energéticos -* da molécula. Adicionalmente verifica-se que uma alteração da densidade eletrônica em um átomo da molécula, neste caso o oxigênio do grupo enol, devido à desprotonação do mesmo, tem consequências nas energias dos níveis eletrônicos na molécula como um todo, o que pode indicar uma elevada deslocalização eletrônica na molécula. Através dos resultados obtidos pode-se ainda calcular o valor de pKa, logaritmo da constante de dissociação ácida, determinando o valor do primeiro equilíbrio de protonação/desprotonação do ligante ácido kójico, através do acompanhamento da banda em 315 nm, constatada em meio básico. De acordo com esse monitoramento, o valor da constante foi calculado fazendo uso do programa excel, obtendo-se assim os gráficos, conforme 134 mostrado na Figura 91, estabelecendo a relação de pH em função da absorbância. Os valores de pKa calculados tanto no procedimento basificando quanto acidificando o meio são informados na Tabela 10, apresentando divergência de apenas 0,1, sendo portanto, considerada desprezível e podendo ser atribuída a erros experimentais. Comparativamente aos valores mencionados na literatura os valores encontrados neste trabalho são consideráveis. Figura 91 - Gráficos do pH em função da absorbância correspondente ao comprimento de onda em 315 nm no espectro eletrônico do ácido kójico, basificando (variando pH de 5,7 a 10,2) e acidificando a solução (variando pH de 10,2 a 3,8), visualizados respectivamente, à esquerda e à direita. Abs (315 nm) 0,8 Abs (315 nm) 0,8 0,4 0,4 -0,1 -0,1 1,5 3,5 5,5 7,5 1,5 9,5 11,5 3,5 5,5 7,5 9,5 11,5 pH pH Fonte: Autora (2013). Tabela 10 - Valores de pKa calculados para a banda encontrada em 315 nm no espectro do ácido kójico. Banda (nm) pKa pKa literatura 315 (Basificando solução) 7,7 7,68 (MURAKAMI, 1962) 315 (acidificando solução) 7,8 7,7 (NURCHI et al., 2010) 7,9 (BURDOCK et al., 2001) Fonte: Autora (2013). 135 5.2.1.2.Monitoramento da Redução do ácido kójico com Amálgama de Zinco via Espectroscopia Eletrônica Objetivando acompanhar o comportamento do ligante ácido kójico com base na presença de um agente redutor, utilizou-se uma liga metálica composta por zinco e mercúrio, denominada de amálgama de zinco para promover a redução do ligante. A amálgama de zinco foi adicionada a cubeta contendo uma solução aquosa de ácido kójico 6,6.10-5 mol L-1, sendo obtidos sucessivos espectros, os quais podem ser observados na Figura 92. Figura 92 - Acompanhamento da redução do ácido kójico (6,6.10-5 mol L-1) em meio aquoso com amálgama de zinco. 1,5 Absorbância 1,2 0,9 0,6 0,3 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). De acordo com os resultados obtidos em decorrência da atuação da amálgama de zinco, pode-se perceber que a banda localizada em 215 nm experimenta tanto um efeito hipercrômico quanto batocrômico, sendo deslocada para 223 nm, variando, portanto, 8 nm para região de menor energia. Já a segunda banda do ligante, localizada em 269 nm experimenta um efeito hipocrômico, diminuindo sua intensidade. Como consequência da redução do ácido kójico verifica-se proporcionalmente alteração na intensidade da banda em 269 nm, no qual à medida que sua absorbância é diminuída, simultaneamente verifica-se uma nova banda em 307 nm. 136 O comportamento do espectro do ácido kójico em decorrência da presença da amálgama de zinco é muito semelhante ao comportamento do ácido kójico frente à variação do potencial hidrogeniônico do meio. Essa semelhança é em relação ao efeito batocrômico experimentado para a banda mais energética, variando de 215 para 223 nm, com deslocamento de 8 nm para o ligante reduzido, e variando de 215 para 226 nm, deslocando 16 nm para menores energias quando o ligante desprotonado. Além disto, observa-se também o efeito hipocrômico da banda em 269 nm, exibido redução nos seus valores de absorbância, sendo praticamente reduzida em sua totalidade em ambos os casos, e simultaneamente uma nova banda é constatada, respectivamente em 307 nm para o ligante ácido kójico reduzido, e em 315 nm para o íon kójico. De acordo com essa comparação, observa-se uma dependência acentuada das transições eletrônicas do ligante ácido kójico tanto com a variação do pH quanto com a redução da solução, conforme apresentada na Figura 93, com a sobreposição dos espectros obtidos nos dois casos mencionados. Figura 93 - Sobreposição dos espectros em meio aquoso do ácido kójico desprotonado (íon kójico) e reduzido, respectivamente, nas cores, preta e vermelha. 226 nm 1,6 223 nm Absorbância 1,2 0,8 315 nm 307 nm 0,4 0,0 200 250 300 350 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). O que em primeiro momento pode parecer um comportamento contraditório, o fato de tanto a redução quanto à desprotonação do ligante acarretarem no mesmo perfil, na verdade 137 tal observação é bastante coerente, pois em ambos os casos, tem-se o aumento de densidade eletrônica sobre o ligante. No primeiro caso, trata-se da doação de elétrons provenientes da amálgama de Zn, e no segundo caso, é referente à localização dos elétrons que anteriormente estavam distribuídos entre os átomos de oxigênio e hidrogênio, acaba sendo deslocado para o oxigênio, em decorrência da saída da espécie H+, resultante do equilíbrio de desprotonação da molécula. Portanto, a relação entre as intensidades das bandas em 269 nm e 307 ou 315 nm, pode ser considerada como um indicativo da densidade eletrônica sobre o ligante. Assim, para tentar justificar a ocorrência da semelhança entre ambos os comportamentos observados, pode-se propor que nas duas situações ocorra a deslocalização da densidade por toda a molécula, entretanto a deslocalização é mais efetiva para a molécula quando ocorre a desprotonação do que quando reduzida, tal efeito pode ser em decorrência do maior envolvimento de densidade eletrônica na molécula, acarretando maiores efeitos de conjugações para acomodar a densidade eletrônica, resultando no espectro para a transição em 269 nm deslocamento para maiores comprimentos de onda, ou seja, menores energias. Para uma melhor verificação das bandas que são alteradas sensivelmente com a influência da amálgama de zinco, é visualizada na Figura 94, a expansão do espectro na região de 225 a 380 nm, constatando também, semelhantemente aos espectros do estudo de pH, a verificação de dois pontos isosbésticos em 240 e 290 nm, indicando que em decorrência da redução do ácido kójico não são formadas outras espécies da molécula orgânica no meio. 138 Figura 94- Expansão da região de 225 a 380 nm do acompanhamento do Espectro eletrônico do ácido kójico com amálgama de zinco. Absorbância 0,6 0,3 0,0 250 300 350 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 5.2.2. Espectros Eletrônicos dos Compostos de Coordenação Homolépticos Os espectros dos complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3], [Fe(kj)2], [Cu(kj)2] e [Ru(kj)3] sintetizados são apresentados e discutidos individualmente, exibindo as principais diferenças em relação ao espectro do ligante ácido kójico não coordenado, como também fazendo atribuições as suas transições. Posteriormente os resultados obtidos para todos os compostos serão comparados e discutidos. 5.2.2.1.Complexo [Al(kj)3] O espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3], obtido em meio aquoso, apresentou duas bandas na região do ultravioleta, localizadas em 220 e 262 nm, e também um ombro em 298 nm, conforme pode ser observado na Figura 95. 139 Figura 95 - Espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3] em meio aquoso. 1,0 Absorbância 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). As bandas presentes no espectro do complexo em análise são decorrentes das transições do ligante sendo, portanto, caracterizadas como transições intraligantes (IL) de natureza -* do próprio ácido kójico coordenado. Essas bandas são características do ligante ácido kójico, entretanto devido à formação do composto de coordenação, são observados deslocamentos para maiores valores de comprimento de onda, apresentando variações de 5 nm para a transição mais energética, e deslocamentos de 7 nm para menores comprimentos de onda, passando de 269 nm no ligante livre para 262 nm no complexo. Já com referência a banda apresentada como um ombro em 298 nm, comparativamente ao espectro do ligante na sua forma desprotonada, observa-se variações de 20 nm, com relação à banda em 315 nm presente no íon kójico (kj-), confirmando que assim como os espectros do ácido kójico desprotonado e reduzido, na formação do complexo, ocorre uma redistribuição da densidade eletrônica ao longo de toda extensão da molécula orgânica. Com finalidade de melhor observação do ombro mencionado em 298 nm, obteve-se conforme Figura 96, um espectro em meio aquoso com elevada concentração, dessa forma definindo o ombro como uma banda. 140 Figura 96 - Sobreposição do espectro eletrônico do complexo [Al(kj) 3] em meio aquoso, com concentrações de 9,9. 10-5 e 1,03. 10-3 mol L-1, respectivamente, nas cores preta e vermelha. 4 Absorbância 3 2 1 0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). O comportamento do espectro com a exibição dessas duas bandas em 262 e 298 nm, assemelha-se ao perfil espectral do 2º equilíbrio de protonação do grupo ceto, podendo-se propor justamente o envolvimento da carbonila na coordenação ao metal. Portanto, pode-se inferir que o metal atua semelhantemente a espécie H+ protonada ao oxigênio da carbonila, como também do oxigênio enólico, devido à presença da banda próximo de 269 nm. As atribuições de cada transição eletrônica observada no espectro eletrônico em meio aquoso do complexo, como também suas respectivas absortividades molares são apresentadas na Tabela 11. Tabela 11 - Atribuições das bandas no espectro eletrônico do complexo [Al(kj)3] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) Transições Eletrônicas Absortividade molar (L mol-1cm-1) 220 IL (π π*) (kj-) 9,5. 103 262 IL (π π*) (kj-) 3,1. 103 141 295 IL (π π*) (kj-) 2,9. 103 Fonte: Autora (2013). Para este complexo não são observadas transições d-d, tendo em vista a ausência de elétrons de valência nos orbitais d deste íon metálico. As bandas correspondentes à transferência de carga do ligante para o metal, ou seja, bandas LMCT, também não são verificadas no espectro, podendo-se justificar esse comportamento também pelo não envolvimento dos orbitais d para receber essa densidade eletrônica. Semelhantemente a outros complexos de alumínio, com ligantes da mesma classe de moléculas do ácido kójico, como por exemplo, maltol (ma), clorokójico (ck) e piromeconico (pa), os complexos formados, [Al(L)3], (L= ma, ck, pa), relatados por Finnegan e colaboradores, exibem também apenas as transições intraligantes do ligante. Com a finalidade de analisar a influência da natureza do solvente sobre as transições eletrônicas do complexo [Al(kj)3], foram obtidos espectros em diferentes solventes. Conforme Figura 97, são apresentados os espectros sobrepostos em água, metanol e dimetilformamida. Os valores de comprimento de onda atribuídos para cada uma das bandas nos diferentes solventes empregados são informados na Tabela 12. 142 Figura 97 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Al(kj) 3] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha, verde e azul. 1,4 1,2 Absorbância 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Tabela 12 - Comparação entre transições no espectro eletrônico do complexo [Al(kj) 3] em diferentes solventes. Solventes Comprimento de Onda (nm) Água 220 262 295 Metanol 224 254 304 Acetonitrila 224 256 309 DMF __ __ 314 Fonte: Autora (2013). Diferentemente do que foi observado anteriormente para o ligante livre, a variação da natureza do solvente provocou alterações mais significativas nos valores de comprimento de onda das bandas do complexo [Al(kj)3], esse comportamento pode ser justificado devido a formação do novo composto, alterando a polaridade do sistema e consequentemente resultando em interações distintas com a natureza do solvente. Analisando-se os resultados obtidos para cada um dos solventes, constata-se que todas as bandas apresentaram modificações, entretanto as maiores variações ocorreram para a acetonitrila e o DMF, 143 respectivamente, exibindo alterações de 14 e 19 nm, comparativamente ao espectro em meio aquoso para a transição em 295 nm. 5.2.2.2.Complexo [Fe(kj)3] O espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)3], obtido em meio aquoso, conforme Figura 98, revelou a existência de quatro bandas, sendo duas na região do ultravioleta, localizadas em 220 e 270 nm, e as outras na região do visível, com máximos de absorção em aproximadamente 404 e 450 nm. Figura 98 - Espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)3] em meio aquoso. 1,0 0,09 Absorbância Absorbância 0,8 0,6 0,06 0,03 0,4 0,00 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). As bandas verificadas em 220 e 270 nm são semelhantes às bandas existentes para o ligante ácido kójico, dessa forma caracterizando-as como bandas intraligantes e indicando fortemente a presença do ligante na estrutura do composto obtido. Essas bandas na região do ultravioleta foram deslocadas para maiores valores de comprimento de onda, ou seja, experimentando um deslocamento batocrômico em decorrência da coordenação, variando comparativamente ao ligante livre de 215 para 220 nm no complexo, com deslocamento de 5 144 nm, e variando de 269 para 270 nm a segunda transição. Evidenciando que a banda atribuída à transição intraligante mais energética, é nesse caso mais sensível ao efeito da coordenação. E que a banda em 270 nm, assemelha-se a uma das duas bandas presentes, comparativamente ao estudo de pH do íon kójico na sua forma protonada, constatando que a presença do Fe III, com estado de oxidação deficiente eletronicamente, é similar a espécie H+ protonada. As outras duas bandas presentes no espectro estão parcialmente sobrepostas e abrangem uma ampla faixa do visível, aproximadamente entre 330 e 600 nm, fato que dificulta tanto a verificação exata do comprimento de onda com a máxima absorção para cada uma delas, assim como seus respectivos valores de absortividade molar. Essas bandas no espectro, portanto, são mencionadas em 404 nm (ε= 1,7. 103 L mol-1cm-1) e 450 nm (ε=1,6. 103 L mol-1cm-1), sendo atribuídas as transições de transferência de carga do ligante para o metal (LMCT), confirmando também a presença do metal no composto analisado e indicando uma característica de doação eletrônica dos orbitais do ligante para os orbitais d do metal. Todas as atribuições e absortividades molares referentes às bandas presentes no espectro do complexo de FeIII foram informadas na Tabela 13. Tabela 13 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj) 3] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) Transições Eletrônicas Absortividade molar (L mol-1cm-1) 220 IL (π π*) (kj-) 4,7. 104 270 IL (π π*) (kj-) 2,1. 104 404 LMCT (*(kj-) d Fe III) 1,7. 103 450 LMTC (*(kj-) d Fe III) 1,6. 103 Fonte: Autora (2013). O fato das bandas compreendidas na região do visível encobrir toda essa faixa e apresentarem altas absortividades molares podem ser uma justificativa para a ausência das transições d-d. Considerando a geometria do complexo como sendo octaédrica e a configuração eletrônica do íon FeIII, possuindo cinco elétrons nos orbitais d, distribuídos conforme desdobramento de campo forte, e levando-se em relação o Diagrama de Tanabe-Sugano d5, 145 configuração spin baixo, conforme visualizado na Figura 99, seriam previstas três transições d-d proibidas por Laporte, porém, permitidas por Spin, referentes a estados espectroscópicos excitados com a mesma multiplicidade do estado fundamental. Sendo, portanto consideradas como permitidas as transições (2T2g2A2g,2T1g), (2T2g2Eg) e (2T2g2A1g). Entretanto partindo-se do pressuposto que os elétrons dos orbitais d estejam distribuídos conforme desdobramento de campo fraco, Figura 100, e analisando o mesmo Diagrama de Tanabe-Sugano d5, na configuração spin alto, o estado fundamental apresenta multiplicidade de spin igual a 6, sexteto, sendo permitido por Spin transições eletrônicas de um estado espectroscópico sexteto para outo de mesma multiplicidade. Entretanto pode-se verificar no diagrama que a multiplicidade do termo espectroscópico fundamental do centro metálico que é 6A1g, não condiz com a dos estados excitados, não sendo prevista nenhuma transição eletrônica, e consequentemente acarretando na ausência das bandas d-d no espectro. Figura 99 - Diagrama de Tanabe-Sugano para centros metálicos com configuração d5, à esquerda spin alto, e a direita spin baixo. Fonte: Shriver (2008). 146 Figura 100 - Representação do Diagrama de desdobramento de campo para complexos octaédricos com configuração eletrônica d5, campo forte e campo fraco, respectivamente, à esquerda e a direita. Campo Forte Campo Fraco eg eg d 5 d 5 t2g t2g Fonte: Autora (2013). Na Figura 100, é representado o desdobramento de campo para complexos octaédricos, de acordo com a Teoria do Campo Cristalino (TCC), para centros metálicos com configuração eletrônica d5, como é o caso, por exemplo, dos íons de ferro e rutênio no estado de III. Com base na TCC, na formação dos compostos de coordenação ocorre a quebra da degenerescência dos cinco orbitais d provenientes da espécie metálica, resultando em dois grupos de orbitais, t2g e eg, respectivamente, constituídos de três orbitais de menor energia e dois orbitais mais energéticos. Dessa forma, a diferença de energia entre os dois grupos de orbitais é denominada de desdobramento de campo (ΔO) para os compostos octaédricos, e quanto maior essa diferença energética entre os orbitais t2g e eg, maior o valor ΔO. Quando os desdobramentos de campo possuem valores pequenos, são caracterizados de campo fraco, e nessas circunstâncias os elétrons se distribuem nos orbitais t2g e eg com spins no mesmo sentido, pois a energia de emparelhamento do elétron é maior do que a necessária para acomodá-lo no orbital eg, e a essa configuração nomeia-se de spin alto. Entretanto quando a diferença energética entre os orbitais t2g e eg é grande, caracteriza-se o desdobramento de campo forte ou configuração spin baixo, devido que a energia necessária para emparelhar os elétrons é menor do que a requerida para acomodá-los em orbitais mais energéticos. A espectroscopia eletrônica é uma técnica que pode ajudar na determinação da configuração spin baixo ou spin alto dos compostos de coordenação, de acordo com o número de bandas d-d presentes no espectro. Entretanto para o complexo [Fe(kj)3] não foi possível estabelecer essa atribuição, devido a grande intensidade das transições de transferência de carga, impedindo a visualização de prováveis transições d-d. Por outro lado, utilizando os 147 resultados de Wiley (1942), trabalhando exclusivamente com a determinação dos valores de susceptibilidade magnética de alguns complexos de ácido kójico com íons metálicos (II), pode-se atribuir a configuração spin alto. Além disso, levando-se em consideração também a provável localização do ácido kójico na série espectroquímica, tendo em vista apenas a natureza dos átomos de oxigênios, é possível se fazer uma correlação localizando-o próximo aos íons oxalato e hidroxila, assim como da água, em virtude da presença em comum dos átomos de oxigênio doadores. Então, o ácido kójico poderia ser classificado como um ligante com característica π doador, e consequentemente, resultando em uma configuração spin alto. Portanto, para o complexo de FeIII, considerando-se a configuração spin alto, no Diagrama de Tanabe-Sugano d5, não serão previstas nenhuma transição de um estado espectroscópico fundamental para outro excitado, devido a incompatibilidade de multiplicidade sexteto (6A1g) entre os estados espectroscópicos. Para certificar-se realmente da natureza das atribuições das transições no espectro eletrônico do complexo sintetizado, avaliou-se o comportamento espectral em diferentes solventes, pois de acordo com dados da literatura (LEVER, 1984), as bandas de transferência de carga são mais susceptíveis a maiores variações de comprimento de onda em decorrência da modificação do solvente. Os espectros obtidos em diferentes solvente para o complexo [Fe(kj)3] foram sobrepostos, como mostrado na Figura 101, e os valores dos comprimentos de onda correspondentes a absorção máxima de cada banda foram mencionados na Tabela 14. 148 Figura 101 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Fe(kj) 3] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores, preta, vermelha, verde e azul. 1,0 0,10 0,8 0,08 Absorbância Absorbância 0,06 0,6 0,04 0,02 0,00 0,4 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Em decorrência da alteração do solvente as bandas localizadas na região do ultravioleta apresentaram modificações em suas razões de intensidade e apresentaram pequenas variações de comprimento de onda para as duas transições mais energéticas, deslocando-se no máximo 5 nm em comparação ao espectro em meio aquoso. Além disso, ainda na região das transições intraligantes, observa-se a verificação de uma nova atribuição, ausente em meio aquoso, mas presente nos demais solventes, com deslocamentos de 14 nm, em relação aos espectros de metanol e acetonitrila. Em contrapartida, as bandas na região do visível apresentaram maiores alterações, com deslocamento de 32 nm para menores comprimentos de onda, referindo-se a atribuição LMCT em 404 nm, entre os espectros de água e acetonitrila. E deslocamentos de 38 nm, para a segunda atribuição LMCT, comparando-se os espectros entre acetonitrila e dimetilformamida. Confirmando assim a natureza das transições, tendo em vistas que as transições de transferência de carga são as 149 mais susceptíveis ao efeito dos solventes, devido que os orbitais envolvidos nessas transições são os mais externos, podendo experimentar os maiores efeitos da influência do solvente. Tabela 14 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj) 3] em diferentes solventes. Solventes Comprimento de Onda (nm) IL (π π*) (kj-) LMCT (*(kj-) d Fe III) Água 220 270 __ 404 450 Metanol 225 270 300 384 474 Acetonitrila 217 265 314 372 440 DMF __ 270 307 407 478 Fonte: Autora (2013). 5.2.2.3.Complexo [Fe(kj)2] No espectro eletrônico em meio aquoso do complexo [Fe(kj)2], foram verificadas duas bandas na região do ultravioleta, em 224 e 272 nm e ainda nessa mesma faixa um ombro em aproximadamente 295 nm. Já na região do visível, observam-se duas bandas sobrepostas, aproximadamente em torno de 398 e 455 nm. O espectro obtido é mostrado na Figura 102 e as atribuições das respectivas bandas são informadas na Tabela 15. Figura 102 - Espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)2] em meio aquoso. 1,0 0,15 Absorbância Absorbância 0,8 0,6 0,10 0,05 0,4 0,00 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 150 As bandas situadas na faixa mais energética do espectro, 224 e 272 nm, são pertinentes às transições intraligantes, que devido à formação do complexo são deslocadas para maiores comprimentos de onda, experimentando um deslocamento batocrômico de 9 e 3 nm, respectivamente, quando comparadas com as bandas em 215 e 269 nm do ligante livre. Além dessa variação no comprimento de onda, observam-se também modificações com relação à intensidade entre as duas bandas mais energéticas, em que a banda situada em 272 nm sofre um efeito hipocrômico, diminuindo de forma acentuada a sua absorção quando comparada tanto com o ácido kójico quanto com o complexo [Fe(kj)3]. Verificando também a presença de um ombro em 295 nm para o complexo [Fe(kj)2]. Comparando-se o comportamento do espectro do complexo de FeII aos espectros do ligante livre e do complexo de FeIII, pode-se correlacionar que o complexo [Fe(kj)2] assemelha-se ao comportamento dos espectros obtidos durante o estudo de pKa do ligante ácido kójico em meio básico, pode-se inferir que no complexo o ligante recebe densidade eletrônica, comportando-se de maneira similar a espécie kj- em sua forma desprotonada. Pode-se ainda propor com relação aos espectros do ligante protonado, desprotonado e de ambos os complexos de ferro, com base nas diferenças de intensidade da banda em 272 nm e do ombro em 295, que no complexo [Fe(kj)2] o ligante recebe densidade de forma mais efetiva do que no complexo [Fe(kj)3]. Já na região do espectro entre 330 a 600 nm, encontram-se as duas bandas com máximo de absorção em 398 nm (ε= 1,7. 103 L mol-1cm-1) e em aproximadamente 455 nm (ε= 1,5. 103 L mol-1cm-1) atribuídas às transições de transferência de carga do metal para o ligante (MLCT), caracterizando uma doação eletrônica do metal para o íon kójico, levando em consideração o estado de oxidação do ferro (FeII) . Tabela 15 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj) 2] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) Transições Eletrônicas Absortividade molar (L mol-1cm-1) 224 IL (π π*) (kj-) 3,5. 104 272 IL (π π*) (kj-) 1,2. 104 295 IL (π π*) (kj-) 8,9. 103 398 MLCT (d FeII * (kj-)) 1,7. 103 455 MLCT (d FeII *(kj-)) 1,5. 103 Fonte: Autora (2013). 151 Objetivando analisar o comportamento Uv-Vis do complexo em outros solventes, os espectros obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF foram sobrepostos com a finalidade de facilitar visualização e comparação entre as alterações ocorridas, conforme Figura 103. Os respectivos valores de comprimento de onda foram informados na Tabela 16. Figura 103 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Fe(kj) 2] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente, nas cores, preta, vermelha, verde e azul. 1,6 0,3 1,4 1,2 Absorbância 0,2 Absorbância 1,0 0,8 0,1 0,6 0,0 300 400 0,4 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Analisando as alterações observadas em decorrência da modificação do solvente, verifica-se que na faixa do ultravioleta, a banda mais energética é deslocada para maiores valores de comprimento de onda, deslocando 4 nm comparando-se os espectros obtidos em água e a acetonitrila. Já a segunda transição, não experimentou variações relevantes em relação ao comprimento de onda, entretanto o ombro observado em meio aquoso em torno de 295 nm, em virtude da modificação do meio, apresentou-se como uma banda bem definida para os demais solventes, mudando não apenas o seu perfil mais também apresentando pequenos deslocamentos e alterações de intensidade em relação às demais bandas. 152 Com referência a faixa do visível, são mais nítidas as alterações nos deslocamentos de comprimento de onda para as transições de transferência de carga do que para as transições intraligantes, observando variações aproximadas de 17 nm para a banda mais energética MLCT comparando os espectros em metanol e acetonitrila, e variações de 35 nm para a outra transição MLCT, com relação aos espectros obtidos em água e DMF. As maiores alterações constatadas no espectro foram referentes às bandas atribuídas as transferência de carga, confirmando desse modo a natureza das mesmas, justificando o fato do efeito do solvente influenciar mais nas interações dos orbitais mais externos, tanto do ligante quanto do metal, sendo, portanto os orbitais envolvidos nas transferências de carga. Tabela 16 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico do complexo [Fe(kj)2] em diferentes solventes. Solventes Comprimento de Onda (nm) IL (π π*) (kj-) MLCT (d Fe II * (kj-)) Água 224 272 295 398 455 Metanol 226 271 300 390 460 Acetonitrila 228 269 306 400 485 DMF __ 271 310 407 490 Fonte: Autora (2013). 5.2.2.4.Complexo [Cu(kj)2] O espectro eletrônico em meio aquoso do complexo [Cu(kj)2], como verificado na Figura 104, apresentou três bandas na região do ultravioleta, sendo localizadas em 224, 265 e 305 nm. Essas bandas destinam-se às transições intraligantes do ligante ácido kójico que devido ao efeito de coordenação do íon metálico CuII experimentam variações de comprimento de onda de 9 nm e 4 nm, respectivamente para menores e maiores valores de energia, para as bandas situadas em 224 e 265 nm, comparativamente as bandas presentes no ligante livre em 215 e 269 nm. A ausência de bandas na região do visível pode ser decorrente da baixa absortividade molar das mesmas, e também da baixa solubilidade do composto em meio aquoso, não sendo possível aumentar a concentração da amostra com a finalidade de visualizar prováveis bandas de transferência de carga ou transições d-d. Segundo Hoffmann e colaboradores (2013), são observadas modificações na região do visível no espectro do complexo tetraédrico [Cu(dmit)2], quando comparado ao espectro do ligante livre (dmit = C3S52-), podendo ser 153 referente à forte deslocalização do elétron desemparelhado do Cu(II) para o ligante, resultando em uma banda de transferência de carga. Já Shukla e colaboradores (2011), além das transições intraligantes e de transferência de carga, também relatam para os complexos de cobre (II), especificamente para o complexo quadrado planar [Cu(2-amp)(SCN)2], uma banda larga e de baixa absortividade molar, na faixa de 650 a 750 nm, atribuída às transições d-d. Considerando os complexos de cobre com geometria quadrado-planar, são esperadas três transições, podendo-se atribuir as transições d-d, decorrentes de transições internas do próprio metal. E levando-se em relação os complexos com geometria tetraédrica, configuração d9, são previstas apenas uma transição (2E 2T2), alterando a configuração dos elétrons nos orbitais e e t2 do metal (e(4), t2(5) e(3), t2(6)). Figura 104 - Espectro eletrônico do complexo [Cu(kj)2] em meio aquoso. 0,5 Absorbância 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Portanto, seria possível sugerir a geometria do composto como sendo quadrado-planar ou tetraédrico de acordo com o número de transições d-d presente no espectro. Entretanto para o complexo [Cu(kj)2] obtido não foi permitido estabelecer essa atribuição quanto a geometria do composto apenas com os resultados do Uv-Vis, nem tão pouco sugeri-la através dos resultados de susceptibilidade magnética informados para esse complexo por Wiley (1942), 154 devido que tanto o composto quadrado-planar quanto tetraédricos exibem apenas um único elétron desemparelhado. Na Tabela 17 foram reportadas as atribuições das bandas do complexo em meio aquoso, assim como os seus valores de absortividade molar. Tabela 17 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Cu(kj) 2] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) Transições Eletrônicas Absortividade molar (L mol-1cm-1) 224 IL (π π*) (kj-) 4,3. 103 265 IL (π π*) (kj-) 1,6. 103 305 IL (π π*) (kj-) 7,1. 102 Fonte: Autora (2013). Objetivando a visualização de bandas na região do visível, mediante a coloração do complexo, avaliou-se o comportamento do espectro em outros solventes, entretanto vale ressaltar que devido à insolubilidade em outros solventes, apenas o espectro em metanol é reportado, sobrepondo-o ao da água, conforme verificado na Figura 105. Figura 105 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo [Cu(kj)2] obtidos em água e metanol, respectivamente, nas cores, preta e vermelha. 0,5 Absorbância 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 155 De acordo com a sobreposição dos espectros observa-se que a banda mais energética em 224 nm em água, experimenta variações de 2 nm para menores comprimento de onda com a modificação do solvente, sendo deslocalizada para 220 nm. E a segunda banda em 265 nm apresenta alterações irrelevantes de 1 nm passando para 266 nm em metanol. Já o ombro verificado em 305 nm tanto apresenta modificações de sua intensidade, efeito hipocrômico, quanto alterações de energia, deslocando-se para 315 nm, com variação de 10 nm. Observase, portanto, que contrariamente ao ligante livre, o efeito da natureza do solvente propicia alterações no perfil espectral do complexo, comprovando que devido à coordenação do cobre ao ligante ácido kójico, ocorre modificações na polaridade da molécula, confirmando realmente a formação de um novo composto. Na Tabela 18 são informados os comprimentos de onda para ambos os solventes utilizados. Tabela 18 - Comparação das atribuições no espectro eletrônico do complexo [Cu(kj) 2] em água e metanol. Solventes Comprimento de Onda (nm) IL (π π*) (kj-) Água 224 265 305 Metanol 220 266 315 Fonte: Autora (2013). 5.2.2.5.Complexo [Ru(kj)3] O espectro eletrônico, obtido em meio aquoso do complexo [Ru(kj)3] apresentou uma banda e um ombro na região do ultravioleta, respectivamente, em 220 nm (ε = 3,7. 104 L mol-1 cm-1) e em 280 nm (ε= 1,1. 104 L mol-1cm-1), referentes as bandas intraligantes do íon kójico. Já na região do visível, o espectro apresentou duas bandas, localizadas em 390 (ε = 5,0. 103 L mol-1cm-1) e 510 nm (ε= 1,1. 103 L mol-1cm-1), conforme pode ser visualizado na Figura 106. 156 Figura 106 - Espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] em meio aquoso, e suas respectivas expansões. 1,2 Absorbância 1,0 220 0,8 0,6 0,4 280 0,2 390 0,0 200 300 400 500 600 Comprimento de Onda (nm) 1,2 0,16 1,0 Absorbância 390 Absorbância 0,8 0,08 510 0,6 0,00 400 0,4 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora(2013). Com a finalidade de melhor visualizar as bandas de baixa absortividade molar presentes no espectro, na região de 400 a 1000 nm, obteve-se o espectro do complexo também com elevada concentração (4,5. 10-4 mol L-1) em meio aquoso, o qual é apresentado na Figura 157 107. E a partir dessa verificação foi possível observar também a presença de uma banda adicional em 730 nm com baixo valor de absortividade molar (ε= 1,3. 102 L mol-1cm-1). Figura 107 - Espectro eletrônico do complexo [Ru(kj)3] (4,5. 10-4 mol L-1) em meio aquoso, e a direita expansão do mesmo espectro na região de 400 a 1000 nm. 4 0,8 0,6 Absorbância Absorbância 3 390 510 0,4 0,2 2 730 0,0 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) 1 510 730 0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Considerando o fato de que o volume iônico do rutênio é maior do que o ferro, certamente os ligantes podem se aproximar mais em torno do íon metálico do Ru III, aumentando o desdobramento do campo, pois os ligantes em complexos octaédricos interagem melhor com os orbitais localizados nos próprios eixos cartesiano, que no caso são os orbitais dx2-y2 e dz2, acarretando maiores repulsões entre os ligantes e esses orbitais, provocando aumento da energia dos orbitais eg. E em contrapartida, os orbitais t2g, localizados entre os eixos cartesianos, experimentam menores interações com o ligante e por isso reduzem sua energia. Então tendo em vista uma geometria com aproximação da octaédrica para o complexo [Ru(kj)3] e o desdobramento sendo de campo forte, devido a natureza do elemento metálico central, conforme Figura 108, e analisando-se o diagrama de Tanabe-Sugano com 158 configuração d5, spin baixo, são esperadas bandas de baixa absortividade molar referentes as transições d-d, sendo estas proibidas por Laport e permitidas por Spin. As referidas transições eletrônicas são (2T2g2A2g,2T1g), (2T2g2Eg) e (2T2g2A1g). Figura 108 - Representação do Diagrama de desdobramento de campo para complexos octaédricos com configuração eletrônica d5, campo forte. Campo Forte eg d o 5 t2g Fonte: Autora (2013). Com base nos pequenos valores de absortividades encontrado para as duas bandas situadas em 510 e 730 nm, estas foram atribuídas a transições internas do metal envolvendo os orbitais d do átomo de RuIII. Já a banda em 390 nm, com maior valor de ε, atribuiu-se a uma transição de transferência de carga do ligante para o metal (LMCT), resultante da doação de densidade eletrônica dos orbitais do íon kójico para os orbitais do metal. Todas as atribuições sugeridas para as transições verificadas no espectro eletrônico em meio aquoso, e seus correspondentes valores de absortividade molar são reportadas na Tabela 19. Tabela 19 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo [Ru(kj) 3] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) Transições Eletrônicas Absortividade molar (L mol-1cm-1) 220 IL (π π*) (kj-) 3,7. 104 280 IL (π π*) (kj-) 1,1. 104 390 LMCT (π*(kj-) dπ RuIII) 5,0. 103 159 1,1. 103 510 (d-d) (RuIII) 1,3. 102 730 Fonte: Autora (2013). Segundo Lima (2006), complexos de rutênio com ligantes insaturados coordenados, podem possuir transições intraligantes, transições d-d e de transferência de carga metalligante (MLCT) e ligante-metal (LMCT). Sendo atribuído as transições LMCT aos íons metálicos de maior estado de oxidação. Objetivando analisar o efeito da natureza do solvente sobre o perfil das transições eletrônicas do complexo de RuIII, foram obtidos os espectros eletrônicos em diversos solventes com polaridades distintas, como água, metanol e DMF, conforme sobrepostos na Figura 109. E os valores dos comprimentos de onda das transições foram informados na Tabela 20. Figura 109 - Sobreposição do espectro eletrônico do complexo [Ru(kj) 3] em água, metanol e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha e verde. 1,2 0,2 Absorbância 1,0 Absorbância 0,8 0,1 0,6 0,0 300 0,4 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 160 Tabela 20 - Comparação entre os comprimentos de onda no espectro eletrônico do complexo [Ru(kj) 3] em diferentes solventes. Solventes Comprimento de Onda (nm) Água 220 280 LMCT (* (kj-) d Ru III) 390 Metanol 222 265 399 510 730 DMF __ 318 418 510 730 IL (π π*) (kj-) (d-d) (RuIII) 510 730 Fonte: Autora (2013). De acordo com os espectros do complexo em diferentes solventes foi possível verificar que as transições experimentaram variações de energia, devido a interações das moléculas do solvente com o composto, e que as variações mais significativas foram observadas em DMF. Quando comparados os espectros em meio aquoso e em metanol, constata-se que a transição de maior energia é deslocada 2 nm para menores comprimentos de onda, já o ombro presente em meio aquoso verificado aproximadamente em 280 nm, é melhor observado com seu máximo de absorção em metanol em 265 nm, enquanto que em DMF, o perfil do ombro é mais alargado abrangendo uma faixa maior do espectro, sendo localizado em torno de 318 nm. Já a banda referente à transição de transferência de carga, acaba sendo confirmada, pois é deslocada mediante a alteração do solvente, variando 28 nm para maiores comprimentos de onda em DMF comparativamente para a mesma transição em água. Os espectros do complexo em diferentes solventes também foram obtidos com concentração elevada, conforme Figura 110, possibilitando uma melhor visualização das atribuições com baixo valor de absortividade. Com isso, verifica-se que as bandas atribuídas às transições internas do metal (d-d), permanecem inalteradas tanto em metanol quanto em DMF, confirmando dessa forma a natureza da atribuição, visto que as transições d-d apresentam-se menos susceptíveis aos efeitos do solvente, devido justamente se tratarem de transições nos orbitais mais internos do metal. 161 Figura 110 - Sobreposição do espectro eletrônico com elevada concentração do complexo [Ru(kj) 3] em água, metanol e DMF, respectivamente nas cores, preta, vermelha e verde. E a direita expansão do mesmo espectro na região de 400 a 1000 nm. 4,0 0,6 3,5 0,5 0,4 Absorbância 3,0 Absorbância 2,5 2,0 0,3 0,2 0,1 0,0 1,5 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) 1,0 0,5 0,0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 5.2.3. Espectros Eletrônicos dos Compostos de Coordenação Heterolépticos Os ligantes que foram empregados para obtenção dos compostos heterolépticos, apresentam bandas na região do ultravioleta do espectro Uv-Vis. O ácido kójico em meio aquoso, como já discutido anteriormente, possui duas bandas em 215 e 269 nm (π →π∗). Segundo Coelho (1994) o íon cianeto (CN-) apresenta bandas intraligantes na região compreendida ente 209-248 nm atribuídas a transições do tipo n→σ∗, com baixa absortividade molar, as quais são frequentemente sobrepostas pelas bandas de transferência de carga (MetalCiano), resultantes da coordenação ou ainda devido a transições eletrônicas internas de outros ligantes que podem estar também presente no complexo. 162 5.2.3.1.Complexo de trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] O espectro eletrônico em meio aquoso para o complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2], conforme verificado na Figura 111, possui quatro bandas, sendo duas na região do ultravioleta em 222 e 271 nm, e duas na região do visível em 398 e 465 nm. Figura 111 - Espectro eletrônico do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] em meio aquoso. 1,0 0,15 Absorbância Absorbância 0,8 0,6 0,10 0,05 0,4 0,00 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). As bandas situadas na região mais energética do espectro são pertinentes à faixa característica das bandas intraligantes das espécies kójico e CN-, como também da banda de transferência de carga do grupo ciano. Então, considerando o estado de oxidação do metal, FeII, existe a possibilidade desse centro metálico estar transferindo densidade eletrônica dos seus orbitais para os orbitais π antiligantes do C≡N, correspondendo, portanto a uma transição MLCT (dπ FeII π* CN-). Segundo dados da literatura, os compostos pentacianoferrato(II) com substituintes heterocíclicos de enxofre, por exemplo, apresentaram na região do ultravioleta, a exibição de uma forte absorção, aproximadamente em 210 nm, associada a transições de transferência de carga, dπ→π*, proveniente do ferro para o ligante ciano (COELHO et al., 1994). De acordo 163 com dados da literatura, os pentacianoferrato(II) possuem fortes absorções em 230 nm e em baixos comprimentos de onda, de maneira semelhantemente ao íon hexacianoferrato(II), o qual apresenta absorções em altas energias, provavelmente envolvendo transferência de elétrons entre FeII e os ligantes cianos (MALIN; TOMA, 1973). Já com relação ao complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2], as bandas localizadas nas regiões menos energéticas do espectro, ou seja, que apresentam os maiores comprimentos de onda, em 398 e 470 nm, sugere-se atribuições também de bandas de transferência de carga, tendo em vista seus elevados valores de absortividade, não sendo, portanto, pertinente para transições d-d. Como o centro metálico está no estado de oxidação FeII, não estando tão deficiente eletronicamente, comparativamente, por exemplo, ao estado FeIII, então o centro metálico pode também está doando densidade eletrônica para o ligante kójico, sendo característico de uma transição MLCT (dπ FeIIπ*(kj-)). Portanto, é o conjunto de todas as interações que estão ocorrendo simultaneamente entre os ligantes de natureza distintas no composto que são capazes de influenciar na tendência do ligante e do metal em ser um agente receptor ou doador de densidade eletrônica. Todas as atribuições referentes às bandas apresentadas no espectro eletrônico em meio aquoso foram informadas na Tabela 21, assim como os seus respectivos valores de absortividade. Tabela 21 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) 222 271 398 470 Transições Eletrônicas IL (π π*) (Kj-), 4,8. 104 - IL (n σ*) (CN ), II Absortividade molar (L mol-1cm-1) - MLCT (dπ Fe → π*(CN )) MLCT (dπ FeII π*(kj-)) 1,7. 104 2,5. 103 1,9. 103 Fonte: Autora (2013). Admitindo-se a geometria octaédrica para esse composto, apresentando em sua estrutura dois íons kójico coordenados de forma bidentada e ainda dois íons ciano (CN-) com isomeria trans na esfera de coordenação do íon ferro no estado de oxidação II, com configuração eletrônica d6, considera-se o desdobramento de campo como sendo forte, devido a presença do ligante CN-, acarretando maiores valores de . Então utilizando o Diagrama de 164 Tanabe-Sugano d6 spin baixo, conforme Figura 112, serão previstas cinco transições. A multiplicidade nesse caso para o estado fundamental é um singleto, e conforme a regra de seleção de Spin seriam permissiva as seguintes transições: (1A1g→ 1T1g); (1A1g→ 1T2g); (1A1g→ 1A2g), (1A1g→ 1Eg) e ( 1A1g→ 1A2g (1F)). Devido aos valores elevados de absortividade das bandas MLCT e suas sobreposições ao longo da faixa do visível, não são verificadas as possíveis atribuições das bandas internas do metal (transições d-d). Desse modo, não evidenciando possivelmente a caracterização do desdobramento de campo. Figura 112 - Diagrama de Tanabe-Sugano para centros metálicos com configuração d6, à esquerda spin alto, e a direita spin baixo. Fonte: Shriver (2008). Realizou-se também para o complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] a avaliação do efeito da natureza do solvente sobre o perfil das transições. Obtendo-se o espectro eletrônico em diferentes solventes, conforme apresentado na Figura 113, através da sobreposição dos espectros. E os valores dos comprimentos de onda verificados para cada atribuição são informados na Tabela 22. 165 Figura 113 - Sobreposição dos espectros eletrônicos do complexo trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] obtidos em água, metanol, acetonitrila e DMF, respectivamente nas cores preta, vermelha, verde e azul. 0,8 Absorbância 0,2 Absorbância 0,6 0,1 0,4 0,0 300 400 500 600 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Observando-se os dados obtidos com a alteração do solvente, constata-se que todas as bandas experimentaram variações nos seus comprimentos de onda e também em relação à alteração das razões entre as bandas situadas na região do ultravioleta. As transições atribuídas as transferência de carga, exibem variações de 17 e 20 nm de deslocamentos, respectivamente, para a primeira e segunda transição MLCT, comparando-se os espectros em metanol e DMF, confirmando realmente a natureza dessas transições. 166 Tabela 22 - Comparação entre os comprimentos de onda no espectro eletrônico do complexo transK2[Fe(kj)2(CN)2] em diferentes solventes. Solventes Comprimento de Onda (nm) Água 222 271 __ 398 465 Metanol 226 270 298 390 450 Acetonitrila 228 267 306 400 468 DMF __ 269 309 407 470 Fonte: Autora (2013). 5.2.3.2.Complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] O espectro eletrônico do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] obtido em meio aquoso, conforme Figura 114, apresentou na região mais energética do espectro uma banda e um ombro, respectivamente, em 205 e aproximadamente 300 nm, referentes a transições intraligantes dos dois ligantes presentes na esfera de coordenação do metal, sendo também a faixa pertinente a ocorrência da transferência de carga do metal para o ligante CN-, recebendo portanto, também essas bandas atribuição de MLCT. Verificou-se também a presença de outro ombro, entretanto na região do visível, aproximadamente em torno de 400 nm, atribuindo-se a uma transferência de carga do metal para o ligante Kj-, tendo em vista o estado de oxidação II do íon rutênio e, portanto a sua disponibilidade de doar densidade eletrônica dos seus orbitais d para os orbitais π* do ligante. As referidas bandas foram reportadas na Tabela 23 com suas respectivas atribuições, assim como os valores calculados para a absortividade molar (ε). Para melhor observação dos ombros verificados no espectro do complexo mencionado, adicionou-se o espectro do complexo com elevada concentração, conforme pode apresentado na Figura 115. Vale ressaltar que os espectros em outros solventes não foram apresentados, devido à baixa solubilidade do composto, como por exemplo, em metanol, acetonitrila e DMF. 167 Figura 114 - Espectro eletrônico do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] em meio aquoso. 1,2 1,0 0,3 Absorbância Absorbância 0,8 0,6 0,2 0,1 0,4 0,0 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Tabela 23 - Atribuição das bandas no espectro eletrônico do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] em meio aquoso. Comprimento de Onda (nm) 205 300 400 Transições Eletrônicas IL (π → π*) (kj-), IL (n→σ*) (CN-), MLCT (dπ RuII → π∗ - (CN )) MLCT (dπ RuII → π* (kj-)) Absortividade molar (L mol-1cm-1) 3,7. 104 2,9. 103 8,9. 102 Fonte: Autora (2013). 168 Figura 115 - Espectro eletrônico do complexo trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2] (1,5. 10-4 mol L-1) em meio aquoso, e a direita expansão do mesmo espectro na região de 250 a 1000 nm. 4 1,5 Absorbância Absorbância 3 2 1,0 0,5 0,0 300 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) 1 0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Segundo dados da literatura, a existência de duas bandas de transferência de carga bem definidas e com valores bem próximos de absortividade molar, são características dos complexos de rutênio na sua forma isomérica cis, já que os complexos com isomeria trans apresentam grandes diferenças nos valores de ε entre as duas bandas (BIGNOZZI, et al., 1993). Alguns complexos, como por exemplo, o cis-[Ru(bpy)2ImNNO2](PF6), apresenta em meio aquoso apenas uma única transição de transferência de carga em 412 nm, entretanto em acetonitrila são verificadas duas bandas em 340 e 475 nm, podendo-se atribuir a forma cis (SILVA, 2004). Entretanto no complexo heteroléptico de rutênio sintetizado, não é possível visualizar a segunda transição MLCT, nem tão pouco, propor uma conformação isomérica com base apenas no espectro eletrônico obtido. Apesar dos compostos heterolépticos de ferro e rutênio apresentarem teoricamente a mesma semelhança em relação à distribuição dos seus ligantes, ou seja, mesmo número e natureza dos ligantes, e também equivalência do estado de oxidação para ambos os centros 169 metálicos, sugere-se, entretanto, que devido ao tamanho dos orbitais metálicos envolvidos, o íon de RuII apresenta maior volume nos seus orbitais, acarretando um desdobramento de campo maior quando comparado ao complexo heteroléptico de FeII analisado. Mediante a consideração do desdobramento de campo como sendo forte para o complexo transNa2[Ru(kj)2(CN)2], na utilização do Diagrama de Tanabe-Sugano d6 spin baixo, a multiplicidade do estado fundamental é um singleto, sendo permitidas cinco transições eletrônica, devido a equivalência de multiplicidade entre os estados de níveis excitados. 5.2.4. Comparações entre os Espectros Eletrônicos dos Compostos de Coordenação Sintetizados Nos espectros de todos os complexos obtidos as transições intraligantes apresentaram variações de energia quando comparadas com o ligante livre, conforme pode ser observado na Tabela 24. Os valores encontrados revelam que as transições intraligantes mais energéticas apresentaram deslocamentos batocrômicos, variando seus comprimentos de onda para maiores valores, para a primeira transição, com exceção do composto heteroléptico de rutênio. A segunda banda intraligante de menor energia experimentou pequenas variações de comprimento de onda com a coordenação do metal, sofrendo pequenos deslocamentos para maiores energias, nos complexos [Al(kj)3] e [Cu(kj)2], e variações para menores energias, ou seja, maiores comprimento de onda, por exemplo, para o composto [Fe(kj)2], e permanecendo inalterada para os complexos [Fe(kj)3] e trans-[Fe(kj)2(CN)2]. Apresentando também modificações significativas entre as razões das intensidades de suas bandas em relação às demais intraligantes. As variações de deslocamentos observadas para as bandas intraligantes podem ser explicadas pelo favorecimento das transições ocorridas, devido à redução energética entre as transições ππ*. Tendo em vista a riqueza de densidade eletrônica do ligante e suas possibilidades de conjugações, é de se prever que ocorra uma extensão do sistema conjugado no anel, apresentando diminuição da diferença energética entre os orbitais, aproximando-os ainda mais, consequentemente favorecendo as transições eletrônicas em decorrência a formação dos complexos. 170 Tabela 24 - Atribuições do espectro eletrônico em meio aquoso para o ácido kójico, íon kójico e os complexos sintetizados. Complexos Comprimento de Onda (nm) Atribuições Comprimento de Onda (nm) __ Atribuições __ Ácido Kójico 215, 269 (π→ π*) Íon kójico 226, 315 (π→ π*) __ __ [Al(kj)3] 220, 262, 295 IL (π→ π*)(kj-) __ __ [Fe(kj)3] 220, 270 IL (π→ π*)(kj-) 404, 450 [Fe(kj)2] 224, 272, 295 IL (π→ π*)(kj-) 398, 455 [Cu(kj)2] 224, 265, 305 IL (π→ π*)(kj-) __ __ 390 LMCT (π*(kj-)→dπ RuIII) 510, 730 d-d (RuIII) [Ru(kj)3] 220, 280 IL (π→ π*)(kj-) LMCT (π*(kj-)→dπ FeIII) MLCT (dπ FeII →π*(Kj-)) IL (π→ π∗) (kj-), TransK2[Fe(kj)2(CN)2] 222, 271 IL (n→ σ*) (CN-), MLCT 398, 465 MLCT (dπ FeII →π*(Kj-)) (dπFeII→π*(CN-)) IL (π→ π*) (kj-), TransNa2[Ru(kj)2(CN)2] 205, 300 IL (n→ σ*) (CN-), MLCT 400 MLCT (dπRuII→π*(Kj-)) (dπRuII→π*(CN-)) Fonte: Autora (2013). Conforme já mencionado neste trabalho, o ácido kójico é caracterizado pela presença de dois valores de pKa referentes as condições de equilíbrio de protonação/desprotonação da molécula. O maior valor de pKa é referente a desprotonação do grupo enólico, e o outro, com menor valor, é referente a protonação do oxigênio da carbonila, que ocorre em condições 171 muito ácidas (NURCHI et al., 2010). Então de acordo com o estudo do pH, e correlacionando-os com os espectros dos complexos obtidos, é de se prever que no momento da coordenação o hidrogênio do grupo OH enólico é substituído pelo metal, podendo-se verificar que apesar dessa substituição o comportamento dos espectros assemelham-se a presença das espécies H+ protonadas, pode-se propor que na coordenação o metal comporta-se comparativamente a espécie H+ protonada, ou seja, é como se o metal atua-se no lugar do hidrogênio, quando de fato ocorre a substituição desse hidrogênio da hidroxila ligada diretamente ao anel pelo metal, podendo-se confirmar a coordenação do oxigênio do grupo enol ao íon metálico. Dessa forma, é possível prever no espectro Uv-Vis para compostos de coordenação, a ocorrência de uma banda aproximadamente na faixa de 270 nm, correspondente atuação do metal semelhantemente ao hidrogênio do enol. Como também, na maioria dos casos, a presença de um ombro na faixa entre 280 e 310 nm aproximadamente, em decorrência da alteração da densidade eletrônica nos orbitais do ligante com a coordenação, devido a deslocalização da densidade ao longo de toda a molécula. Com base na formação dos complexos, os orbitais moleculares tende a se organizarem de modo a reduzir a variação energética entre os níveis de energia, em virtude dos efeitos de ressonância ou conjugações experimentados, visando melhor acomodar as densidades eletrônicas recebidas ou doadas, ao longo de todo o sistema. Tal fato pode ser comprovado através do espectro eletrônico, pois as atribuições mais energéticas, em menores comprimentos de onda na região do ultravioleta, são deslocadas para maiores valores, ou seja, são deslocados para menores energias. Observando os dados experimentais, constata-se que todos os complexos, nem que seja particularmente em solventes distintos, apresentam a ocorrência de um ombro ou banda no intervalo entre 280 e 310 nm, podendo-se interferir também que a presença desse ombro de forma mais evidente ou sutil, nessa faixa, nos compostos sintetizados, está correlacionado a densidade eletrônica distribuída ao longo da molécula no ligante, e desse modo relacionando também com o estado de oxidação do centro metálico nos compostos de coordenação. Como exemplo, pode-se mencionar os complexos homolépticos de ferro com simetrias diferentes e estados de oxidação distintos, respectivamente, FeIII e FeII, para os compostos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], em que verifica-se na comparação entre os espectro que quando a densidade é deslocalizada para os orbitais provenientes da molécula do ligante, observa-se um ombro de forma mais nítida, no complexo [Fe(kj)2] em meio aquoso. 172 Já os espectros de absorção dos complexos obtidos em solventes com polaridades distintas apresentam modificações em relação à intensidade de suas bandas e variações de comprimentos de onda, podendo ser justificadas como resultado das interações físicas solutosolvente. Dependendo da polaridade dos compostos, as moléculas dos solventes tendem a se orientar envolvendo as cargas do soluto, de modo a blindá-las. 5.2.5. Comparação Uv-Vis entre do Ácido Kójico e os Complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2] em meio aquoso. Através da sobreposição dos espectros do ligante ácido kójico, na sua forma protonada (Hkj) e na sua forma desprotonada (Kj-), e dos compostos de coordenação homolépticos de ferro, [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], em meio aquoso, na região do ultravioleta, conforme Figura 116, é possível analisá-los e tentar buscar correlações com a densidade eletrônica distribuída entre os orbitais do ligante ácido kójico livre e quando coordenado. Essa correlação é pertinente tendo em vista a comparação entre complexos com o mesmo centro metálico, entretanto com estados de oxidação distintos. Figura 116 - Sobreposição dos espectros eletrônicos em meio aquoso do ligante ácido kójico e dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente no espectro, nas cores preta, vermelha e verde. 1,0 0,08 0,06 Absorbância Absorbância 0,8 0,6 0,04 0,02 0,4 0,00 300 400 500 600 Comprimento de Onda (nm) 0,2 0,0 200 300 400 500 600 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 173 Na comparação dos espectros entre o complexo [Fe(kj)3] e o ácido kójico (Hkj), temse a probabilidade da densidade nos orbitais intraligantes ser mais deslocalizada no complexo do que no ligante na sua forma protonada (Hkj), visto que a densidade eletrônica da ligação oxigênio-hidrogênio é mais localizada, já no complexo a densidade é compartilhada por toda a molécula, para formação da ligação oxigênio-metal, devido a intensificação dos efeitos de conjugações. O resultado do perfil espectral para o complexo assemelha-se ao ligante, pois em ambos os casos, tem-se a participação de espécies deficientes de elétrons, seja FeIII ou H+. Entretanto no complexo [Fe(kj)3] a densidade é mais distribuída ao longo do composto, tendo em vista a participação de três moléculas do ligante na formação da estrutura do complexo, sendo verificada no espectro a diminuição de intensidade da banda em 270 nm e um decaimento prolongado de sua absorbâncias para valores de menores energias. Já na formação do complexo [Fe(kj)2], a densidade eletrônica é mais distribuída por toda a molécula nos orbitais intraligantes, levando-se em consideração o estado de oxidação do metal, podendo doar densidade, garantindo assim a semelhança do perfil do espectro do complexo ao íon kójico na sua forma desprotonado (kj-). Toda via os espectros apresentados na Figura 117, não são equivalentes em sua totalidade, pois o metal FeII está complexado a duas moléculas do ligante, não sobrecarregando nenhuma das moléculas envolvidas na formação do complexo para a acomodação de densidade. 174 Figura 117 - Sobreposição na região do ultravioleta dos espectros eletrônicos em meio aquoso do ligante ácido kójico protonado (Hkj) e desprotonado (kj -), e dos complexos [Fe(kj)3] e [Fe(kj)2], respectivamente, nas cores preta, azul, vermelha e verde. 1,0 Absorbância 0,8 0,6 Hkj 0,4 Kj _ 0,2 0,0 200 250 300 350 400 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). 5.2.6. Comparação entre os espectros eletrônicos no estado sólido para os Complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2] e trans-K2[Fe(kj)2(CN2] Teoricamente o espectro Uv-Vis dos complexos obtidos em solventes poderiam não corresponder aos espectros dos compostos se estivessem em estado sólido, visto que estão envolvidas diversas interações entre o soluto e o solvente, e no caso dos compostos de coordenações existe a possibilidade de substituição dos ligantes pelo próprio solvente, ou também simultaneamente a coordenação do solvente ao centro metálico, por exemplo, em complexos com posições lábeis. Tendo em vista esta preocupação de obtenção dos espectros o mais próximo do real, ou seja, na ausência das interações com o meio dispersante, obteve-se o espectro eletrônico em estado sólido dos complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2] e transK2[Fe(kj)2(CN)2], que justamente apresentam comportamento espectral bem similares para as bandas de transferência de carga em diversos solventes. De acordo com a comparação dos espectros obtidos em estado sólido para os dois compostos homolépticos de ferro, verificaram-se diferenças para todas as bandas, tanto em 175 relação a variações nos deslocamentos de comprimento de onda quanto na absortividade das transições, conforme apresentado na Figura 118. Figura 118- Sobreposição dos espectros eletrônicos no estado sólido dos complexos [Fe(kj) 3] e [Fe(kj)2], 220 respectivamente, preto e vermelho. 224 1,2 0,8 200 250 300 278 0,8 300 350 400 Comprimento de Onda (nm) 0,6 496 410 Absorbância 1,0 1,0 290 Absorbância 1,2 264 1,4 0,2 470 430 0,4 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). O espectro do complexo de FeIII apresentou na faixa de maiores energias uma banda em 220 nm e dois ombros em 264 e 290 nm, enquanto que o complexo de FeII apresentou uma banda localizada em 224 nm e duas outras bandas sobrepostas praticamente com mesma intensidade em 278 e 300 nm, na faixa referente as transições intraligantes. Com relação às transições de transferência de carga para o complexo [Fe(kj)3], encontram-se bandas sobrepostas abrangendo aproximadamente a faixa entre 350 a 700 nm, localizando os seus máximos de absorção em 410 e 496 nm. E as bandas do complexo [Fe(kj)2], abrangendo a faixa entre 350 a 600 nm, sendo situadas em 430 e 470 nm. 176 A maioria das transições presentes no complexo com estado de oxidação III, [Fe(kj)3], possuem valores mais energéticos quanto comparadas com as do complexo com estado de oxidação II,[Fe(kj)2]. Além disso, as bandas na faixa do ultravioleta apresentam modificações entre as razões de suas intensidades quando comparados os complexos, e na região do visível as bandas atribuídas as transferência de carga acabam também sobrepostas, entretanto não abrangem a mesma faixa completamente. A possibilidade da coordenação do solvente ao complexo [Fe(kj)2], tendo em vista posições lábeis e/ou interação do meio dispersante com o composto, pode justificar a semelhança entre os espectros obtidos para os dois complexos, principalmente em meio aquoso para a região do visível. Na avaliação do comportamento espectral dos complexos de ferro no estado sólido, a sobreposição tanto dos dois compostos homolépticos quanto do composto heteroléptico, Figura 119, observam-se semelhanças principalmente entre os espectros dos complexos [Fe(kj)2] e trans-K2[Fe(kj)2(CN)2], na faixa de absorção das transições de transferência de carga, abrangendo aproximadamente a faixa de 350 a 600 nm, servindo justamente para indicar a equivalência do estado de oxidação dos íons metálico em cada um dos complexos. Observa-se também entre os dois complexos, que ocorreu basicamente alteração das razões de absorbância entre as duas bandas intraligantes mais energéticas, ou seja, a absortividade molar dessas transições foram alteradas na formação do composto heteroléptico, atribuindo-se à presença do ligante ciano, na faixa referente às transições intraligantes e de transferência de carga desse grupo. Na Tabela 25 são informados os valores de comprimentos de onda das transições para os três referentes compostos de ferro. 177 Figura 119 - Sobreposição dos espectros eletrônicos no estado sólido dos complexos [Fe(kj) 3], [Fe(kj)2] e transK2[Fe(kj)2(CN)2], respectivamente, preto, vermelho e verde. 0,6 1,8 1,6 Absorbância 0,4 1,4 Absorbância 1,2 0,2 1,0 0,0 0,8 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) 0,6 0,4 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Fonte: Autora (2013). Tabela 25 - Comparação entre os comprimentos de onda das bandas no espectro eletrônico em estado sólido para os complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2] e trans-K2[Fe(kj)2(CN)2]. Comprimento de Onda (nm) Complexos sintetizados Bandas Intraligantes Bandas de Transferência de Carga [Fe(kj)3] 220 264 290 410 496 [Fe(kj)2] 224 278 300 430 470 Trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] 222 278 300 415 464 Fonte: Autora (2013). 178 5.3.ANÁLISE ELEMENTAR A análise elementar foi realizada apenas para um único composto de coordenação, especificamente para o complexo [Fe(kj)3]. 5.3.1. Complexo [Fe(kj)3] Os resultados obtidos através da análise elementar, conforme reportados na Tabela 26, são condizentes com a formulação proposta para o complexo de ferro sintetizado, apresentando três moléculas de íon kójico coordenadas ao metal central. Fórmula Molecular: FeC18H15O12. Tabela 26 - Análise Elementar do complexo [Fe(kj)3]. Elemento % Teórica % Experimental C 45,0987 44,3772 H 3,1632 3,7625 N 0,0000 0,0000 Fonte: Autora (2013). 179 Conclusão 180 6. CONCLUSÃO As técnicas espectroscópicas utilizadas para a caracterização dos compostos de coordenação sintetizados apresentaram resultados satisfatórios para o propósito do presente trabalho. Através dos resultados obtidos foi possível comprovar a coordenação do ligante ácido kójico aos íons metálicos AlIII, FeIII, FeII, CuII e RuIII, respectivamente, originando os complexos homolépticos [Al(kj)3], [Fe(kj)3], [Fe(kj)2], [Cu(kj)2] e [Ru(kj)3], assim como a coordenação do ligante ciano na esfera de coordenação do Ferro e do Rutênio, propiciando a obtenção de dois novos complexos heterolépticos: trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e transNa2[Ru(kj)2(CN)2]. Na caracterização de todos os complexos através da espectroscopia vibracional na região do infravermelho, foram evidenciados, na faixa de 1800 a 1400 cm-1, deslocamentos das frequências de estiramento da carbonila para menores números de onda, comparativamente ao ligante ácido kójico livre, sendo justificado devido à coordenação do íon metálico ao oxigênio da carbonila. Também foram verificados deslocamentos nas frequências de estiramento das insaturações (C=C), decorrentes da redistribuição de densidade eletrônica no heterocíclico da molécula. Além dessas modificações, foram observadas alterações nos modos vibracionais referentes ao estiramento e deformação angular O-H do grupo enólico, devido à desprotonação da hidroxila em virtude da coordenação do metal. Foi evidenciado ainda, na região de 600 a 400 cm-1, o acréscimo de novos modos de vibração, referentes aos estiramentos metal-oxigênio, confirmando assim a presença do metal nos compostos obtidos. Com base nos resultados de infravermelho, foi possível sugerir uma geometria tetraédrica para o complexo de cobre, [Cu(kj)2], tendo em vista a semelhança do espectro na região de 1400 a 900 cm-1, especificamente entre a quantidade de modos vibracionais e a proximidade dos valores de números de onda, com o complexo tetraédrico de ferro, ambos os compostos de coordenação [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], possuindo o mesmo número de ligantes e o mesmo estado de oxidação dos centros metálicos. Já os complexos heterolépticos sintetizados, além dos modos vibracionais referentes à molécula orgânica ácido kójico, exibiram frequências de estiramento em 2065 e 2053 cm-1, respectivamente, para o trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e o trans-Na2[Ru(kj)2(CN)2], correspondentes ao ligante ciano, e quando comparadas com o ligante cianeto livre, sendo deslocadas para menores números de onda, comprovando assim, a coordenação do ligante aos íons de ferro e 181 rutênio. Bem como constatando o efeito de retrodoação, caracterizado a atuação do CN a uma espécie π receptora, e em consequência disto, reafirmando o estado de oxidação II para os íons metálicos, podendo doar assim, densidade aos orbitais π* do ligante. Foi possível caracterizar também estes complexos heterolépticos como apresentando isomeria trans, devido ao número de modos ativos para esse ligante, em relação aos complexos descritos na literatura. De acordo com os dados de infravermelho, foi estabelecido uma correlação entre os valores das frequências de estiramento da carbonila para cada um dos complexos homolépticos obtidos, com os raios iônicos dos centros metálicos. Observando-se uma linearidade para esse comportamento, justificada pelo número de ligantes kójicos presentes na esfera de coordenação e o estado de oxidação dos íons metálicos envolvidos para a formação dos complexos. Verifica-se também que quanto maior o raio iônico das espécies centrais, menor a frequência de estiramento referente à carbonila, pois maiores e mais disponíveis os orbitais dos íons metálicos para acomodar a deslocalização da densidade eletrônica. Logo, observa-se que os maiores deslocamentos do υC=O foram constatados para o complexo [Ru(kj)3], devido possuir uma melhor acomodação da densidade nos seus orbitais d. Na espectroscopia eletrônica na região do ultravioleta e visível foi possível caracterizar o íon kójico na sua forma protonada (Hkj), espécie ácido kójico, exibindo bandas em 215 e 269 nm, quanto a sua forma desprotonada (kj-), com a presença de transições em 226 e 315 nm. O estudo da variação do pH do ligante ácido kójico, em meio alcalino, e o acompanhamento espectral da redução do ligante com amálgama de zinco, possibilitaram verificar a redistribuição de densidade eletrônica do sistema. Em ambos os casos, ocorre deslocalização da densidade eletrônica por toda a molécula, resultando no espectro na variação das transições para menores energias, devido à diminuição da diferença energética entre os orbitais da molécula. No espectro eletrônico também foi constatado a formação dos complexos, com alterações das transições intraligantes referentes ao ácido kójico, variando suas energias de transições para todos os complexos sintetizados, em decorrência da coordenação. Além disso, evidenciou-se a presença do metal no espectro, com a exibição das bandas atribuídas as transferências de cargas, consistentes de interações entre os orbitais do ligante com os orbitais do metal, para os complexos [Fe(kj)3], [Fe(kj)2], [Ru(kj)3], trans-K2[Fe(kj)2(CN)2] e transNa2[Fe(kj)2(CN)2], e das transições d-d no complexo de rutênio III. 182 Comparando-se os resultados Uv-Vis associados à variação do pH e à redução do ácido kójico, com os dos complexos sintetizados, foi possível atribuir a reorganização no sistema eletrônico da molécula orgânica também ao efeito de coordenação. Tais efeitos resultaram em alterações da banda mais energética, variando de 215 nm no espectro do ligante livre, para 220 nm nos complexos [Al(kj)3], [Fe(kj)3] e [Ru(kj)3], e para 224 nm nos complexos [Fe(kj)2] e [Cu(kj)2], como também a constatação de um ombro na região entre 280 a 310 nm em meio aquoso para todos os complexos sintetizados, com exceção do complexo [Fe(kj)3], em decorrências dessa alteração de densidade eletrônica nos orbitais do ligante. Além disso, atribui-se à coordenação do metal via oxigênio enólico através da presença da banda na faixa em torno de 270 nm em meio aquoso nos complexos, tendo em vista à semelhança dessa banda no espectro eletrônico do ligante livre na sua forma protonada, podendo-se propor que na coordenação o metal comporta-se semelhantemente a espécie H+ protonada, quando de fato ocorre a substituição do hidrogênio enólico pelo metal. Os resultados espectroscópicos de infravermelho e Uv-Vis comprovaram que a metodologia utilizada para obtenção dos complexos heterolépticos de ácido kójico se mostrou viável, podendo também ser empregada na síntese de outros compostos. 183 PERSPECTIVAS FUTURAS Iniciar os testes biológicos com os complexos sintetizados, avaliando inicialmente a citotoxicidade dos mesmos em relação às células tumorais. Realizar análise elementar (CHN) para os complexos, objetivando confirmar o teor de carbono, hidrogênio e nitrogênio presentes nos compostos sintetizados. Desenvolver novos complexos, utilizado a metodologia empregada na síntese dos compostos de coordenação heterolépticos. 184 REFERÊNCIAS AGARWAL, R. C.; RASTOGI, D. K. Complexing behavior of kojie acid-studies on its rare earth metal complexes. J. inorg. nucl. Chem, v.36, n.1, p.208-211. 1974. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0022190274806883>. Acesso em: 20 out. 2013. ALDERDEN, R. A.; MATTHEW, D. 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