1 UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO CAMPUS PETROLINA MARIA ROZICLEIDE DE SOUZA GOMES A EXPANSÃO DO CAPITAL E A EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA NO PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU EM JUAZEIRO - BA PETROLINA 2009 2 MARIA ROZICLEIDE DE SOUZA GOMES A EXPANSÃO DO CAPITAL E A EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA NO PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU EM JUAZEIRO – BA Monografia apresentada como exigência parcial do grau de licenciando em geografia á comissão julgadora da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina sob orientação da Prof.ª.Ms. Áurea Souza. PETROLINA 2009 3 MARIA ROZICLEIDE DE SOUZA GOMES A EXPANSÃO DO CAPITAL E A EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA NO PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU EM JUAZEIRO – BA Monografia apresentada como exigência parcial do grau de licenciando em geografia á comissão julgadora da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina sob orientação da Prof.ª.Ms. Áurea Souza. Aprovada em ___/___/ 2009 Banca Examinadora: ____________________________________________ Orientador Prof.ª Ms. Raimunda Áurea Dias de Souza ____________________________________________ Examinador (nome e titulação) ____________________________________________ Examinador (nome e titulação) PETROLINA 2009 4 , Ao meu glorioso Deus, pois foi quem me iluminou nesta caminhada, e aos meus pais Rozenita e Antonio, com muito amor e carinho. 5 AGRADECIMENTOS A toda minha família, que me deu apoio, compreensão e incentivo em todo o percurso da minha vida. A minha preciosa sobrinha Bruna Caroline, que foi minha luz nesta jornada. Ao meu namorado Batista, que teve paciência e compreendeu a minha ausência durante todo o percurso de construção deste trabalho. A minha mãe, grande guerreira e considero a força motriz, foi quem me fez arriscar e conquistar mais uma etapa da vida, na qual sem seu apoio este trabalho não seria realizado. Ao meu precioso pai, que é meu alicerce e também me ajudou nesta caminhada. A minha prezada irmã Rozimeire, fonte de inspiração que me ajuda e me apóia em todos os momentos vividos e está ao meu lado sempre. Ao meu querido irmão Amauri, que me auxiliou na concretização deste trabalho. Aos meus colegas de classe: Roberta, Sérgio, Marleide, Rosane, Ney, Monique, Nadja, Luciana, Ivanilda, Marcone e a todos que de uma forma ou de outra me ajudaram nesse percurso. Aos professores da UPE, que possibilitaram a construção dos meus conhecimentos no decorrer do curso. A minha orientadora Áurea, que tive a grande honra de tê-la como uma ótima professora e perfeita orientadora. A sua compreensão, dedicação, paciência e incentivo foram de grande importância no desenvolvimento deste trabalho. As famílias do Perímetro Irrigado Mandacaru, que contribuíram para o desenvolvimento dessa pesquisa. A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF), nas pessoas de Noêmia Paula e Maurílio Mendes, por todo o suporte dado no decorrer da pesquisa. A todos muitíssimo obrigado! 6 “Se, por um lado, necessitamos do trabalho humano e de seu potencial emancipador, devemos também recusar o trabalho que explora, aliena e infelicita o ser social.” (Ricardo Antunes) 7 RESUMO O presente trabalho foi produzido a partir da realidade existente no Perímetro Irrigado Mandacaru em Juazeiro-BA, que, após políticas de incentivos do Estado, ocasionou grandes transformações na vida dos camponeses que ali habitavam, pois parte desses foram expropriados, não sendo assentados nos projetos de irrigação. Já os que foram “beneficiados”, hoje, sofrem com a falta de estrutura. O apoio do Estado deveria ser de suma importância para esses que se sentem excluídos, mas sabe-se que os únicos privilegiados foram e são os latifundiários. O objetivo deste trabalho consiste em analisar a situação dos agricultores, verificando quais as alternativas utilizadas para enfrentar o mundo capitalista e como conseguiram até os dias atuais garantir a terra mesmo sendo excluídos desse processo. A metodologia utilizada foi baseada em fundamentação teórica e pesquisa de campo, buscando informações que ajudassem no decorrer da pesquisa, com a finalidade de explicar a realidade do perímetro. Assim, foi de grande importância o método dialético, porque é através do mesmo, que se percebe a abrangência dos fatos; já a categoria é território, pois permite entender as relações de poder na apropriação do espaço. No entanto, sabe-se que o Estado tem apoiado, desde os primórdios, as grandes empresas, mas, em contrapartida, compreende-se que, mesmo sem apoio do Estado, os pequenos agricultores resistem e buscam sempre alternativas para permanecer na terra. Palavras-chaves: Capital; Estado; Camponês; Resistência. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10 1.O CAMPONÊS COMO SUJEITO NO BRASIL........................................................ 12 1.1 - A Formação da Via Campesina e a Questão Política............................................... 15 1.2 - O Sentido Político da Palavra Camponês................................................................. 18 2.A CRIAÇÃO DO PROJETO MANDACARU – UMA QUESTÃO POLÍTICA OU ECONÔMICA............................................................................................................. 22 2.1 - A territorialização do Capital e a Desterritorialização Camponesa.......................... 26 2.2 - Camponeses ou Agricultores Familiares – A Realidade do Perímetro Irrigado Mandacaru……………………………………………………………………………. 31 3.AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA A NÃO EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA......................... 36 3.1 Os Pequenos Agricultores e a Sua Organização para Permanecer na Terra................................................................................................................................... 40 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 45 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 47 ANEXOS 50 ANEXO A - Questionário................................................................................................... 51 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Localização do Projeto Mandacaru………………………………....………… 23 Figura 2 Mapa do Município de Juazeiro-BA…….......................................................... 28 Figura 3 Vila Juca Viana I - Perímetro Irrigado Mandacaru............................................ 30 Figura 4 Vila Juca Viana II - Perímetro Irrigado Mandacaru.......................................... 30 Figura 5 Agricultor no Perímetro Irrigado Mandacaru................................................... 34 Figura 6 Problemas do Perímetro Irrigado Mandacaru…………………………….….. . Figura 7 Situação dos Colonos em Relação ao Ganho e produção................................. 35 Figura 8 Alternativas para o Perímetro Irrigado Mandacaru........................................... 38 Figura 9 Área arrendada no Perímetro Irrigado Mandacaru…………………………… 39 Figura 10 Distrito de Irrigação de Mandacaru................................................................... 42 Figura 11 Acerola colhida para comercialização………………………………………… 43 37 10 INTRODUÇÃO Por meio da expansão capitalista, várias foram as disparidades geradas na sociedade. Isso por ser proveniente de um sistema totalmente contraditório, que traz benefícios apenas para os que já os possuem, ou seja, os “endinheirados” que, de tal forma, permanecem nesse sistema, tirando proveito dos mais fracos. Assim, na cidade de Juazeiro-BA, esse processo não pode ser diferente. Após a modernização no campo, a partir do “desenvolvimento” influenciado pelo Estado, várias foram as transformações ocorridas na vida dos camponeses, que utilizam a terra apenas para sustento da família. Sabe-se que esse “novo” projeto de irrigação tem beneficiado apenas os latifundiários que se aproveitam para explorar trabalhadores, o que o torna totalmente distinto dos camponeses que são contra esse cruel sistema de exploração. No entanto, este trabalho teve o objetivo de analisar a expropriação camponesa no Perímetro Irrigado Mandacaru na cidade de Juazeiro-BA, observando a realidade existente após a territorialização do capital, e quais as alternativas utilizadas pelos camponeses para permanecer na terra. Foram vinte e cinco entrevistados com o intuito de alcançar uma melhor análise sobre a problemática abordada. Assim, é de grande importância, neste trabalho, buscar entender a atuação do Estado, que trouxe um sistema que beneficia apenas as grandes empresas e que explora através do trabalho, os pequenos agricultores com a finalidade de adquirir lucros, deixando de lado a existência de uma classe campesina, que, aos poucos, vem sendo esmagada com esse projeto de “modernização” no campo. Logo, no decorrer desta pesquisa, foram utilizadas fontes adquiridas a partir da coleta de dados, através de visitas ao Perímetro Irrigado Mandacaru, CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba e ao DIMAND - Distrito de Irrigação de Mandacaru. O método utilizado foi o dialético e a categoria território, além de usar teóricos que abordam a discussão divergente do capital. A resistência pela terra vem desde os primórdios da humanidade. Desde a colonização, houve disputa de terras entre índios e portugueses, que ali chegavam para explorar as terras. Naquela época, já existiam moradores, mas infelizmente o “poder” estava à frente e como sempre venciam os mais fortes. Os índios foram obrigados a lutar pela sobrevivência, mesmo sendo os primeiros a chegarem a tais terras, diferentemente dos colonizadores que vieram apenas com a intenção de explorá-las. 11 O presente trabalho encontra-se dividido em três capítulos, o que auxilia para uma melhor compreensão. Esses estão subdivididos em partes que ajudam a compreender as disparidades e dificuldades existentes no campo, que, desde então, tem aumentado a partir da expansão capitalista. O primeiro capítulo apresenta “O camponês como sujeito no Brasil” que mostra todo o percurso enfrentado pelos mesmos, desde a luta dos índios, até os movimentos recentemente criados para permanecer no campo e serem considerados sujeitos. E, também, relata-se a formação da via campesina e a resistência política, bem como o sentido legítimo do camponês frente a essa questão. No segundo capítulo, é exposta “A criação do projeto Mandacaru – uma questão política ou econômica”, a qual mostra a realidade dos camponeses após a intervenção do Estado, apontando as dificuldades enfrentadas pelos mesmos através dessa nova política, assim como a desterritorialização como uma das consequências desse sistema, e se existe após esse propósito político, agricultores familiares no perímetro. E, por fim, o terceiro capítulo que relata “As relações não capitalistas de produção como alternativa para a não expropriação camponesa” na qual após a territorialização do capital, os camponeses têm buscado formas para garantir a sobrevivência da família, como também tem criado organizações para permanecer na terra. Ainda, neste capitulo, descreve-se a situação dos agricultores que não participam de associações e as alternativas encontradas para que sobrevivam. 12 CAPÍTULO I 1 O CAMPONÊS COMO SUJEITO NO BRASIL O marco da história brasileira é traçado com um ambiente de luta e resistência pela terra. De um lado, os habitantes que se encontram no Brasil – índios; do outro, os portugueses colonizadores sedentos pelo domínio da riqueza que, porventura pudesse ser encontrada no país. Para isso, era necessário dominar os povos, para que a exploração pudesse acontecer. Em meio a grandes conflitos, as terras foram roubadas e passaram a ser exploradas pelos portugueses para a implantação de lavouras de exportação. Para que esse tipo de atividade pudesse dá certo, a sesmaria¹ passou a ser o tipo de propriedade reinante e com ela o latifúndio, que expande suas lavouras, expulsando os pequenos moradores que ali existiam. Destaca-se, que a mão de obra do índio não dava conta da produção. Então, foram trazidos da África os negros. Esses passaram a entrar em choque pela forma como eram tratados; os mesmos eram mercadoria dos senhores. Assim, uma das formas de negar o modelo escravocrata era a “fuga”. Nesse período, a busca pelos “quilombos” significava á própria liberdade. A intensificação da fuga pelos negros conduziu os senhores a repensar novas formas de explorar no campo. Desse modo, é criada a Lei de Terras em 1850², deixando os negros impossibilitados de ter terra, para a sobrevivência da família. A presença da força de trabalho familiar é característica básica e fundamental da produção camponesa. É pois derivado dessa característica que a família abre possibilidade da combinação muitas vezes articulada de outras relações de trabalho no seio da unidade camponesa. É assim que o trabalho assalariado, ajuda mútua e parceria aparecem como relações que garantem a complexidade das relações na produção camponesa. (OLIVEIRA, 2001, p.56)1. _______________ 1 A Prática mais comum, era o latifundiário invadir e entrar nas terras públicas, ocupadas pelos índios ou pelos caboclos e depois ir até o representante da coroa, e requerer a concessão e fazer-se dono. (OFM GORGEM, 2004. p.16) 2 Quem já tinha terra doada pela coroa, podia legalizar e ficar de dono e quem não tinha, daí para diante, só poderia ter se comprasse. (OFM GORGEM, 2004. p.17) 13 Mesmo diante de uma terra cativa, os negros iniciam, em torno das grandes fazendas, outro tipo de agricultura, a agricultura camponesa, marcada principalmente, entre muitas características pela produção da família. Esse tipo de agricultura passa abastecer as cidades, já que os latifúndios tinham por finalidade o mercado externo mediante cultivos de cana-deaçúcar, cacau, café, etc. Em terras alheias, os camponeses definido por Shanin (2008, p.69), “como classe social e um modo de vida específico”, passaram a mostrar a sociedade que ela não vive sem a sua presença, embora essa mesma sociedade tente desqualificá-los. Ao longo da história do Brasil, os camponeses foram colocados em segundo plano, pois a prioridade, desde o início do período da colonização, foi dada aos latifundiários, e isso perdura até os dias atuais. Dentro dessa realidade, os camponeses passaram a travar muitas batalhas para permanecer no campo e serem sujeitos. Pode ser citado como exemplo: a luta dos índios, dos negros, o conflito em Canudos (1896), as Ligas Camponesas em Pernambuco (1945), atualmente o MST(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), fundado desde de 1984 , o MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens(1989), entre outros. Os mesmos vêm à tona questionar o atual modelo econômico imposto a sociedade. A partir dessas lutas, os intelectuais passaram a estudar esses sujeitos de modo a entendê-los como conservadores ou revolucionários. Assim a luta, Floresceu consideravelmente quando o campesinato se mobilizou contra as forças do desenvolvimento capitalista em diversos contextos. Reagindo a essas forças, os camponeses entravam em ação, e acadêmicos debatiam o caráter revolucionário (ou conservador) desta reação, bem como discutiam a penetração e o desenvolvimento capitalista no campo, os modos de transição para mudanças agrárias, o desaparecimento do campesinato como fato social e força política, a correlação de forças de classe no campo, e as condições sob as quais os camponeses poderiam se constituir, eles próprios em “atores políticos”.(PETRAS,2008, p.79) Para os teóricos que veem a luta camponesa como alternativa de ter terra, tais sujeitos constituem classe. Shanin (2008) comenta sobre o camponês e explica que ser uma classe vai depender de suas condições históricas ou a partir da observação, se eles lutam ou não por seus interesses. É nesse momento que saberemos se eles são realmente uma classe. Logo Houtart(2007, p. 423), explica: 14 O novo sujeito histórico se estende ao conjunto dos grupos sociais submetidos, tanto aqueles que formam parte da submissão real (representados pelos chamados “antigos movimentos sociais”), como os que integrariam os grupos dos subsumidos formalmente (“novos movimentos sociais”). O novo sujeito histórico a ser construído será popular e plural, isto é, constituído por uma multiplicidade de atores [...] E assim, a unidade camponesa surge com sua maneira diferencial de agir, em um meio de luta com o seu adversário, em busca de um único objetivo. E através dessa junção coletiva faz com que essa classe busque os seus ideais, para conseguir a tão sonhada “liberdade”. Esse sujeito sabe questionar e conhece todo processo percorrido no âmbito social. Logo Shanin (2008, p. 23), comenta “que o antigo slogan da luta por 'terra e liberdade' está vivo tanto quanto a centenas de anos atrás e é uma força mobilizadora que leva as pessoas a lutarem por um futuro melhor para elas próprias e para os outros”. A luta camponesa passa a ser reconhecida como sujeito e pela terra como condição de trabalho, quando esta lhe falta, a exploração é inevitável. Assim, para Marques (2008, p.56), “muitos camponeses são mantidos num estado permanente de semi ou subproletarização em condições de trabalho extremamente precárias, seja no campo ou na cidade”. Esse sujeito é histórico, e ao mesmo tempo, marcado por inúmeras formas de preconceito, no sentido de ser considerado um sujeito desnecessário para a sociedade, por existir no seu modo de vida formas diferentes, pois muitos acreditam que o capital é a solução dos problemas sociais. Nota-se que é um sistema que traz mais problemas do que soluções. No entanto, esse perverso processo traz para o camponês o que Petras (2008, p. 86) chama de impactos sociais. Em causa estão as forças mobilizadas pelo Estado, bem como as forças do desenvolvimento capitalista – proletarização, industrialização e modernização – forças conceitualizadas por economistas como um complexo de fatores de “empurra e puxa”, condições que “expulsam” os camponeses da terra e os “traz” para dentro das cidades sob quaisquer condições disponíveis (geralmente desfavoráveis). 15 Para o camponês, essa forma de agir do sistema capitalista leva-os a sofrer um processo de descampesinação³, querendo a todo custo tirar do camponês as raízes existentes e herdadas de uma geração histórica, lembrando apenas que, no âmbito do capital, sempre vence o mais forte, e essa força está apoiada pela classe dominante, esquecendo que, por trás dessa realidade, existem pessoas que merecem o mínimo de respeito e consideração. É importante escrever que é uma classe que não deveria ser julgada por não aceitar o sistema do capital como única saída para humanidade. O camponês, como sujeito na sua luta pela terra, procura mostrar que há outras alternativas para viver. O socialismo é uma porta. 1.1 A FORMAÇÃO DA VIA CAMPESINA E A QUESTÃO POLÍTICA Muitos estudiosos acreditam que o campesinato está com dias contados, e que o seu desaparecimento seja praticamente inevitável devido à modernização no campo. Mas ao olharmos para a realidade, verifica-se apenas uma utópica teoria, pois percebemos que os camponeses à medida em que são expulsos do processo capitalista, se mobilizam-se coletivamente e vão á luta para não perder os seus direitos como classe. Ao lutar por esses direitos, é que a Via Campesina (1992), surge não só nacional mas também internacionalmente, com o objetivo de obter uma agricultura de qualidade, sem uma natureza devastada. Desse modo, é preciso rever as políticas agrícolas, implementadas nos países capitalistas. A Via Campesina está presente em varias conferências e debates sobre vários assuntos, isso em junção com vários movimentos campesinos, nos quais no Brasil estão incluídos: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST; Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA; Movimento dos Atingidos por Barragens – (MAB); Comissão Pastoral da Terra – (CPT) e Associação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais – (ANMTR), todos em luta por uma digna Reforma Agrária. É importante salientar que esses movimentos negam o modelo capitalista e exigem uma política agrária mais igualitária, no sentido de rever os aspectos existentes, que são completamente antagônicos, principalmente em relação à situação social. __________________ 3 Segundo Lênin, para a oposição de classe: de um lado a formação de um proletariado rural pobre (que vende trabalho); de outro, uma minoria formada por uma classe estruturada rica (burguesia rural produtora de mercadorias), que se apóia no trabalho alheio pagando salários. No entanto intermediário estariam os camponeses médios, fadados ao fenômeno da descampesinação, ou seja, do deslocamento da maioria deles, em direção á proletarização. (LÊNIN apud LIMA, 2005, p. 139-140). 16 Assim, Marques (2008, p.64) comenta que “A criação do assentamento é acompanhada por um conjunto de medidas que formalizam o reconhecimento do Estado de seu dever de assegurar o acesso a direitos básicos como educação, saúde e habitação”. O número de trabalhadores assassinados no campo evidenciam a dura realidade no Brasil, a exemplo do Massacre de Corumbiara (1995), em Rondônia na Fazenda Santa Elina, levando a dezesseis mortos, o Massacre de Eldorado dos Carajás (1996), no Pará, com um total de dezenove sem-terras assassinados. Além das inúmeras torturas existentes, devido ao não prevalecimento da lei para os mais fracos, onde passa a favorecer apenas os mais fortes, ou seja, os grandes latifúndios. São inúmeros casos de latifundiários que possuem extensas propriedades de terra, muitas delas consideradas improdutivas, mas, mesmo assim, são retidas como bem de valor. Assim, para Oliveira (2001, p.187)2, “essas grandes extensões de terras estão concentradas nas mãos de inúmeros grupos econômicos porque, no Brasil, estas funcionam ora como reserva de valor, ora como reserva patrimonial”. É nesse contexto que o camponês, com sua corajosa força e persistência, corre em busca de uma terra que seja fonte de sobrevivência não só para a família, mas também para toda a sociedade, o que o torna diferente do latifúndio, pois este utiliza a terra como fonte de produção do capital e exploração do trabalho. É em decorrência deste conjunto de razões, que teimosamente os camponeses lutam no Brasil em duas frentes: uma para entrar na terra, para se tornarem camponeses proprietários; e, em outra frente, lutam para permanecer na terra como produtores de alimentos fundamentais á sociedade brasileira. São, portanto, uma classe em luta permanente, pois os diferentes governos não os têm considerado em suas políticas públicas. (OLIVEIRA, 2001, p.189)2. No entanto, foi através da política de Fernando Henrique Cardoso (1995), que a situação dos camponeses em relação à Reforma Agrária se agravou, pois nesse governo, foram criadas novas leis contra os movimentos sociais, criminalizando as ocupações de terras, além da implantação do Banco de Terra, que veio com a intenção de bloquear o desenvolvimento dos agricultores e dificultar o acesso do crédito agrícola. Para esse governo, a única forma de estabelecer e resolver o problema da ocupação de terras foi criar leis para reprimir os camponeses, mostrando-lhes que a subalternidade é 17 normal, e que não é obrigação do Estado desenvolver políticas para a distribuição de terras e, muito menos, cumprir com a regularização da Reforma Agrária. Desse modo, pela impossibilidade de superação da questão agrária, por meio do paradigma adotado, o governo FHC ajustou estrategicamente uma política de transferência e substituição dos elementos da questão agrária. Assim, os elementos, em que os trabalhadores têm perspectiva de enfrentamento e resistência nos espaços políticos, são transferidos para o espaço econômico, onde a resistência é reduzida. E os elementos constituídos de identidade política e histórica são substituídos por novos elementos, para a produção de outra identidade e outra história. (FERNANDES, 2002, p.62) Então, ao perceber a recriação do campesinato, o governo FHC começou a tomar medidas cabíveis que simulassem a questão agrária do país. E, a partir daí, começou o incentivo para o “novo mundo rural”, ou seja, uma “nova” expressão que, ao ser colocada em prática, levaria a uma plena desintegração campesina. Porém, ao analisar a realidade, a luta pela terra não só duplicou, mas também triplicou nos últimos anos, isso em consequência dos vários movimentos, contra a chamada modernização implantada por este governo, que se esquiva de vários maneiras a fazer uma Reforma Agrária e, assim, busca transformar o pequeno agricultor em agricultor capitalista. Entretanto, essa política, como acreditava que a repressão resolveria a situação dos acampamentos, acabou sendo surpreendida com a explosão de vários movimentos que negam participar deste sistema político excludente, que vem carregado paralelamente com a desigualdade social, além de expropriar grande parte dos camponeses. São protestos das mais diversas dimensões e formas. São acampamentos e romarias, são bloqueios de estradas, são manifestações em frente aos órgãos federais e estaduais ou ocupações de prédios públicos; manifestações realizadas das datas comemorativas da luta pela terra; são lutas dos sem-terrinha, das mulheres e dos jovens. São sem-terra, são posseiros, são pequenos agricultores, são sindicalistas: são camponeses. Evidente que essas manifestações representam a resistência dos camponeses que vivem no mundo real: o mundo do capital.(FERNANDES, 2002, p.64) 18 Essa política teve o intuito de desestruturar o campesinato, de acabar com o mal que tanto o ameaçava, ou seja, o Estado ser obrigado a doar terras para os chamados pela imprensa de “marginais” ou “bando de desocupados”, isso é o que a mídia tenta passar para a sociedade, lutar pela terra é coisa de “delinquente”. Esse projeto elaborado no governo de FHC não funcionou, pois os camponeses se recriam à medida que vão sendo excluídos deste mundo capitalista. No entanto, esse “novo mundo rural” não passou de uma ilusória questão agrária, pois acreditava-se que o camponês, passando a ser agricultor capitalista, a Reforma Agrária seria completamente resolvida. Assim no “novo mundo rural”, não existem conflitos, não há ocupações de terras, não existem acampamentos de sem- terra, os assentamentos são iniciados pelo governo e em três anos, em média, estão consolidados. Nesse processo extraordinário, os trabalhadores entram como sem-terra e saem como agricultores familiares, prontos para o mercado, prontos para se tornarem prósperos capitalistas. (FERNANDES, 2002, p.64) Contudo, a realidade deste camponês ao entrar no “novo mundo rural”, será totalmente outra, pois os mesmos vão ficar presos a Bancos com dividas imensas, deixando de ser proprietário real, transformando-se em um proprietário nominal, além do risco de perder a terra e, também, os meios de produção. Portanto, é através desse poder de resistência, que a via campesina se mostra forte e vai à luta com manifestações contra este excludente sistema “globalizado”, e vários são os desafios que precisam ser enfrentados para a conquista real de uma Reforma Agrária. 1.2 O SENTIDO POLÍTICO DA PALAVRA CAMPONÊS Desde o período feudal que a sociedade tinha sua forma de viver, e tal fonte de sobrevivência, muitas vezes, veio a partir da agricultura. Essa sempre foi marcada por vários processos. Nesse período os camponeses trabalhavam em terras alheias e eram obrigados a produzir alimentos para suprir as necessidades de sua família e, também, a de seus senhores. Esse camponês no decorrer da história, travou várias batalhas na luta pela terra e, para não perder o vínculo com a mesma, passou a ser rendeiro, parceiro, trabalhador assalariado, ou ainda, passou a abrir posse, espacializando a procura da terra de trabalho. 19 Nos últimos anos, o camponês tem sido fonte de discussão. Isso porque o mesmo possui o seu modo de vida, o que o torna diferente em relação a outros na sociedade. Ele possui suas características próprias além de ser de grande importância para a sociedade, pois traz consigo vários ensinamentos que vêm sendo transferidos a cada geração. Para Shanin (2008, p. 29), “não temos que ensinar o camponês a viver, nós é que temos que aprender com eles como viver e como resolver problemas nos quais a maior parte da população está envolvida”. O camponês sabe como resolver seus problemas, quando chegam as situações de crise, eles estão sempre preparados, principalmente no período de estiagem, época em que a produção não é bem sucedida. Então, os mesmos procuram desenvolver técnicas para conseguir superar essa fase difícil. Esse sujeito vive da própria mão de obra familiar, é dono da terra e, ao produzir para a família, o seu excedente é trocado ou vendido para suprir outros itens que os mesmos não produzem. Na produção camponesa, se está diante da seguinte fórmula M – D – M, ou seja, a forma simples de circulação das mercadorias, onde a conversão de mercadorias em dinheiro se faz com a finalidade de se poder obter os meios para adquirir outras mercadorias igualmente necessárias á satisfação de necessidades. É pois, um movimento do vender para comprar. (OLIVEIRA, 2007, p.40) Destaca-se ser camponês o trabalhador que vive exclusivamente do campo; porém, segundo Conceição (1991), são muitos os termos que a sociedade utiliza para defini-lo: caboclo, lavrador, colono, sitiante, agricultor, pequeno produtor, trabalhador rural e pequeno agricultor, todos apoiados pelo trabalho e cultivo da terra. Muitos estudiosos substituem o termo camponês por agricultor familiar, mas é preciso ter cuidado, pois tal argumento pode comprometer a real característica do camponês. Assim serão mostrados os vários elementos em que Oliveira (2001) 1 caracteriza-os da seguinte forma: a) força de trabalho familiar - cada membro da família tem sua função, trabalha coletivamente, há uma combinação entre os membros da família: ajuda mútua, mutirão e parceria são práticas comuns. Na ajuda mútua, essa relação acontece quando os membros da família não conseguem sozinhos dar conta do trabalho. Aí surge a união com outros 20 companheiros, que pode ser como mutirão, momento em que várias pessoas se reúnem para ajudar na colheita ou também como troca de dias trabalhados entre ambos; assim, também, surge à parceria como forma de substituir o trabalho assalariado, por não ter condições de pagar em dinheiro o trabalho realizado, então, ele contrata-o para ajudar na lavoura e, em troca, divide ao meio todos os ganhos da produção; b) trabalho acessório - quando o camponês não consegue obter uma boa colheita, principalmente em épocas de estiagem, quando a produção não é bem sucedida, então, ele é obrigado a sair do campo para assalariar-se. Esse período dura pouco tempo. Quando chega o inverno, o mesmo retorna para sua terra, pois essa é a única forma que ele encontra para sobrevivência da família; c) força de trabalho assalariada – só aparece quando a família não consegue desenvolver a produção sozinha, pois devido ser muito grande a lavoura os mesmos precisam de ajuda para não perder a produção. Esses trabalhadores são temporários, ficam só até a conclusão da colheita e, nesse caso, o camponês não chega a ser ainda um trabalhador expropriado; d) socialização do camponês – as crianças acompanham todo o processo de trabalho na vida familiar e, quando crescem, já sabem como desenvolver as funções na agricultura. Eles tornam parte integrante na produção camponesa e, sem a participação desse na família a produção fica reduzida. e) propriedade da terra – quando o camponês não possui os meios de produção e começa a pegar empréstimo no Banco, passando todo o seu ganho para tal instituição ao invés de ser para a família, ou seja, de proprietário real passa para proprietário nominal. É nesse momento que pode surgir o camponês proprietário, parceiro, rendeiro ou posseiro. Este último nega a pagar por o uso da terra. f) proprietário dos meios de produção – o camponês precisa comprar instrumentos para a melhoria de sua produção. Então ele se sujeita a ir ao Banco pagando juros altíssimos, onde parte do seu trabalho é transferido para o capital industrial, devido ao empréstimo ser superior aos da venda de seus produtos. 21 g) jornada de trabalho – o camponês trabalha de maneira própria, não sendo preciso determinar horário. Ele é dono do seu próprio relógio. Em determinadas épocas o camponês fica mais tranquilo podendo até acrescentar outras particularidades nesse tempo livre. Há, também, época em que o mesmo não tem folga, trabalha dia e noite para conseguir uma boa colheita. No entanto, são várias as formas que o camponês utiliza para o desenvolvimento de sua produção. Através dessa simplicidade, ele consegue tirar da terra o sustento de toda a família, sendo que ela é fonte de fundamental importância. Assim Shanin(2008, p.41) complementa. Ser camponês é saber como combinar muitas ocupações para trabalhar a terra, cortar madeira, cuidar de animais, cultivar alimentos, consertar máquinas. A verdadeira característica e definição dos camponeses tem como um de seus fundamentos essa natureza especial do campesinato, que nunca é uma coisa só, é sempre uma combinação. Também não é algo que se aprende na universidade. Se é menino aprende com o pai, se é menina aprende com a mãe. Logo, para saber se o agricultor é realmente um camponês, é preciso conhecer suas raízes históricas, pois é por meio da mesma e, a partir de observações, se utiliza-se da terra para a exploração do trabalho alheio, ou se apropria da mesma para o sustento da família. Assim, é que se pode dizer se é camponês ou capitalista. Portanto, fica claro que a palavra camponês possui um sentido político, porque a mesma vem de um período histórico. Através de lutas para reconhecimento como classe, o camponês pode mostrar que, por possuir um modo de vida diferente e características próprias, não quer ser transformado em agricultor familiar. 22 CAPÍTULO II 2 A CRIAÇÃO DO PROJETO MANDACARU – UMA QUESTÃO POLÍTICA OU ECONÔMICA Após o Golpe Militar de 1964, surge uma preocupação do Estado em desenvolver a Região Nordeste. Para isso, ele criou alguns órgãos dentre eles a SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, que visa à instalação de sistemas de irrigação na agricultura local. A partir de tal objetivo, começaram os processos para a elaboração do Projeto Mandacaru, área que serviu como principiante, ou seja, como projeto piloto para a criação de outros perímetros, não só na região, mas também em várias partes do Nordeste. O Perímetro de Irrigação Mandacaru fica localizado na margem direita do rio São Francisco, na região do Submédio do vale do São Francisco, distante 2.500 m do curso das águas para captação e a 12 km na direção leste da cidade de Juazeiro-BA (figura 1, p.23). A rodovia de acesso a esse Perímetro é a que liga Juazeiro a Curaçá, e possui uma população de 3.112 habitantes, que, na verdade, é distribuída em 517 famílias, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Juazeiro-BA. 23 FIGURA 1 Localização do Projeto Mandacaru Fonte: Adaptada dos mapas da CODEVASF 24 Para que realmente tal projeto viesse a acontecer, era necessário algo que servisse de alicerce para o desenvolvimento da região através da irrigação. O rio São Francisco tornou-se o alvo, pois através do mesmo, poderiam ser cultivadas várias espécies de frutas e outros plantios, em uma área que é considerada de menor índice pluviométrico, mas em contrapartida, o solo é propicio e suficiente para desenvolver a agricultura no pólo São Franciscano. Em 1970, começaram as obras com a SUVALE (Superintendência do Vale do São Francisco), que em 1975 foi transferida para a CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, que, atualmente, é chamada de Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba, e, até hoje, possui relação com o Perímetro Mandacaru. É a mesma quem planeja as obras de construção e reforma nos processos de irrigação. Após criado o Projeto Mandacaru, era preciso ocupá-lo. Desse modo, foram divulgados na época em rádios, jornais e através de palestras aos arredores do vale do São Francisco, explicando como seria a seleção para adquirir um lote no referido perímetro. Em entrevista 2009, com uma professora do perímetro e esposa de um colono, a mesma relata que neste mesmo período, a CPT(Comissão Pastoral da Terra), em união com a Igreja, começou a incentivar os pequenos agricultores a não aceitarem a subordinação do capital, pois essas políticas de governo não seriam para beneficio dos pobres, uma vez que as evidências mostravam que os agricultores, ao aceitarem essas terras, já entrariam na propriedade com dívidas no Banco. Logo Welch e Fernandes (2008, p. 164), comentam que aparentemente “ele é subalterno a este modelo de desenvolvimento pelo fato de não possuir poder para impor outro modelo na correlação de forças com o capital”. Ao perceber que as inscrições não estavam sendo realizadas no recôncavo baiano, isso porque a população começou a ter medo do “novo”, então, o órgão responsável procurou divulgar em várias regiões, sobretudo em Pernambuco, a procura de colonos interessados a participar deste processo. Dentre os quais foram escolhidos 54 colonos, e apenas 36 estavam aptos. Foi uma seleção minuciosa e os mesmos ficaram três meses consecutivos em treinamento. Ao termino dessa seleção crucial os colonos considerados eleitos, em 1973 puderam ocupar as terras. (CODEVASF) Depois de algum tempo, de origem do Perímetro os 36 lotes, distribuídos a principio, eram de 5 a 10 hectares, chegando alguns a 17 hectares. Esses últimos devido ao não apoio do Estado, não conseguiram manter o lote, permitindo a CODEVASF - Companhia de 25 Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba redividir, ficando um total de 54 lotes agrícolas. É importante salientar, que mesmo após a divisão desses lotes, os problemas não foram resolvidos, pois, sem a assistência do Estado, os camponeses continuam com dificuldade para desenvolver a agricultura. Para a recepção desses colonos, foi criada toda uma estrutura, a exemplo da vila chamada até hoje de Projeto Mandacaru. A mesma, a principio, tinha posto de saúde, escola, igreja e um espaço para instalação da cooperativa que servia de auxilio para os pequenos produtores inexperientes. As famílias que chegavam aos lotes, vinham apenas com a esperança de conseguir, através da terra, o sustento da família, ou até, quem sabe conquistar uma melhoria de vida para seus filhos, como, por exemplo, um bom estudo no futuro que estava por vir. Os pequenos agricultores não traziam nada de valor além da força de trabalho, que para eles era suficiente, mas estavam enraizados de uma identidade camponesa, onde praticavam anteriormente técnicas simples na agricultura e, agora, estavam com um grande desafio, adaptar- se ao processo capitalista, ao mercado e á concorrência. A parte mais preocupante era a dificuldade que poderiam sofrer no início com a produção da lavoura, pois, antes, a maioria dos agricultores plantavam cultivos da região como feijão, milho, mandioca entre outros, apenas para a necessidade da família. Contudo, a partir do Perímetro Mandacaru, começaram a plantar o que o mercado lhe exigia como manga, goiaba, coco, acerola, banana, melão, cebola etc. Assim, O sistema agrícola do agronegócio é distinto do sistema agrícola do campesinato. No sistema agrícola do agronegócio, a acumulação, a monocultura, o trabalho assalariado e a produção em grande escala são uma das principais referências. No sistema agrícola camponês, a reprodução, a biodiversidade, a predominância do trabalho familiar e a produção em pequena escala são algumas das principais referências. Com esta leitura estamos afirmando que o sistema agrícola camponês não é parte do agronegócio. No entanto, como o capital controla a tecnologia, o conhecimento, o mercado, as políticas agrícolas, os camponeses estão subalternos a sua hegemonia. O campesinato pode produzir, a partir do sistema agrícola do agronegócio, desde que o faça dentro dos limites próprios das propriedades camponesas, no que se refere a área e á escala de produção. Evidente que a participação do campesinato no sistema agrícola do agronegócio é uma condição determinada pelo capital. (WELCH, FERNANDES, 2008, p. 166) 26 No entanto, percebe-se que ambos vêm de um processo totalmente diferente, cada um possui sua própria característica. Isso proveniente das suas raízes históricas. Os colonos, que ali começaram a residir, já tinham um passado que foi deixado para trás a partir da criação do chamado “moderno” desenvolvimento. Entretanto, por ser o primeiro Perímetro implantado, como base de experiência para a criação de outros, a ocupação aconteceu com pequenos agricultores para a obtenção de resultados significativos com fins lucrativos, ou seja, interesses econômicos. Não foi uma política visando à situação dos camponeses. Não houve a preocupação se, realmente, com esse projeto, a melhora de vida seria significativa. O grande interesse da política de Estado era transformar camponeses em agricultores familiares frente ao agronegócio, não estando nem um pouco preocupado, se a solução do problema, ali existente seria resolvido. 2.1 A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL E A DESTERRITORIALIZAÇÃO CAMPONESA A concentração de riqueza, na sociedade capitalista, não diferencia dos dias atuais e para obtê-la, a partir dos anos 1960, vários foram os setores explorados devido ao capital. Desse modo, as pessoas aproveitam-se do “poder” para obter ganhos lucrativos. Nos anos de 1970, houve um avanço na agricultura, quando a modernidade começa a surgir e, através deste sinônimo de riqueza e desenvolvimento, surge a busca por formas ainda mais avançadas para a exploração de produtos provenientes da terra, ou seja, da natureza. Nesse caso, o capital se territorializa, explorando e precarizando o trabalho que se dá na terra. Logo Houtart (2007, p.422), comenta: “o resultado é que agora todos os grupos humanos sem exceção, estão submetidos á lei de valor”. Entretanto, no jogo capitalista, ninguém está livre da exploração, nem mesmo o agricultor que luta a cada dia para obter o seu sustento e ver o fruto real do seu trabalho. Mas, de maneira contrária, a territorialização do capital se espalha por várias partes, deixando o trabalhador dependente do mesmo para sobreviver. Assim, o capital evolui à medida em que há exploração do trabalhador, ou seja, através da mais-valia reproduz e acumula o capital, utilizando, como exemplo a partir da explicação de Oliveira(2007), D – M – D, onde, através da produção, vende-se a mercadoria por um preço mais alto, o que mostra a pura realidade do capital, que é viver em movimento, em um sistema giratório e cada vez mais se territorializando. 27 A lógica da racionalidade instrumental das empresas, de modo geral, pulsa os elementos constituintes da reestruturação produtiva do capital que, por sua vez, planetariza/mundializa um conjunto articulado e simultâneo de procedimentos e estratégias, para garantir a exequibilidade da acumulação ampliada do capital, a monetarização das relações, dentro e fora do trabalho, e os patamares crescentes de produtividade e competitividade como mecanismos para rebaixar custos. (JÚNIOR, 2008, p. 327) No entanto, com a intensificação do capital, muitas são as empresas que saem privilegiadas, pois o mundo está completamente aliado á globalização, todos com um imenso volume de avanços tecnológicos, em um mundo dito como “moderno” e com um sistema de redes que visam sempre ao lucro. Para que esse capital conseguisse chegar a diversas partes do Brasil, o Estado proporcionou muitos incentivos, e várias empresas começaram a interessar-se pelo campo, existindo, assim, a exploração de terras que pertenciam a pequenos agricultores. O Estado aproveitou-se do Estatuto da Terra de 1964, que foi criado pela lei 4.504, conseguindo tirar as pessoas que residiam nessas terras, argumentando que tudo isso era em favor do “desenvolvimento” da agricultura; porém se sabe que os únicos privilegiados foram os latifundiários. Nos Perímetros Irrigados implantados pelo projeto do Estado, em Juazeiro-BA, (figura 2, p.28), o processo de expansão do capital não pode ser diferente. O mesmo começa a territorializar-se em terras que pertenciam, antes da implantação desses Perímetros, á pequenos fazendeiros da região, que possuíam pequenas propriedades de terra, esta realidade é definida por Oliveira(1994, p.69). Os planos de irrigação incentivados pela CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco - pretendem expropriar camponeses e não vão assentá-los nas terras irrigadas. O que está em jogo é o acesso a terra que receberá os benefícios da irrigação. 28 FIGURA 2 Fonte: Imagens digitais Brasil 2009, Banco de dados IBGE. Autoria e Elaboração: Santos, David Bezerra 29 São esses avanços que, contraditoriamente surgem a partir da expansão capitalista e, no Perímetro irrigado Mandacaru, o processo não podia ser desigual. Na região, como era de se esperar, existiam antigos moradores, que ali habitavam em pequenas fazendas e chegavam, segundo Armando(1986) a 10 famílias. Os camponeses foram desterritorializados das terras que pertenciam ao Estado. Em pesquisa de campo 2009, realizada para este trabalho, verificou-se que só existe uma única família camponesa, que habitava a área no momento em que o Perímetro Irrigado Mandacaru foi consolidado. As terras da “fazenda” foram transferidas para a Codevasf, para que a “modernização” da agricultura ocorresse. No entanto, percebemos que esse fato é tratado, como fala Marques (2008, p.49), “vivemos um tempo acelerado marcado por intensas mudanças desencadeadas pelo processo de mundialização do capital, com fortes consequências para as populações camponesas”. Vários são os camponeses desterritorializados devido a muitas tecnologias implantadas no campo, não podendo evitar uma das causas mais frequentes, que é a descampenização, levando vários camponeses a assalariar-se por não terem outra alternativa, após a territorialização do capital. Há uma monarquia neste sistema, pois apenas alguns são beneficiados. Na realidade enxergam-se contradições neste processo de territorialização capitalista, pois muitos seres humanos são prejudicados e, em contrapartida, citamos o caso dos camponeses, que são sufocados por empresas, e ficam sem ter como levar em frente a produção e, muito menos, em conseguir a venda da sua colheita. Mais que nunca o capitalismo destrói,[...] as duas fontes de sua riqueza: a natureza e os seres humanos. Na verdade, a destruição ambiental afeta a todos e a lei de valor hoje inclui a todos. A mercantilização domina a quase totalidade das relações sociais, em campos cada vez mais numerosos como o da saúde, da educação, da cultura, do esporte e da religião. Além disso, a lógica capitalista tem sua intencionalidade.[...] O capitalismo globalizado tem suas instituições: a OMC, o BM, o FMI, os bancos regionais e também seus aparelhos ideológicos: meios de comunicação social cada vez mais concentrados em poucas mãos. (HOUTART, 2007, p. 423) Ressalta-se que, no Perímetro Irrigado Mandacaru, encontram-se duas vilas conhecidas como “Vilas de Fora” por ser desmembrada do Perímetro: a primeira é a Juca Viana I, (figura 3, p.30), e mais adiante, após o canal, que é via de acesso para irrigação do 30 Perímetro Mandacaru, está a Vila Juca Viana II, (figura 4, p.30), que foi criada à medida que os camponeses chegavam para trabalhar como assalariados para os colonos. FIGURA 3 Perímetro I. Mandacaru - Vila Juca Viana I Foto: Gomes, Rozicleide/2009 FIGURA 4 Perímetro I. Mandacaru - Vila Juca Viana II Foto: Gomes, Rozicleide/2009 31 A partir da pesquisa de campo 2009, com moradores do Perímetro, percebe-se que essas vilas foram criadas em terras que pertenciam a um médico. Hoje, o mesmo é falecido e, por causa da evolução do Perímetro, essas terras acabaram sendo doadas. Assim, começou a expansão das vilas, a partir da necessidade dos próprios colonos quando, em épocas de colheita, precisavam de mais trabalhadores para ajudar na lavoura. Neste momento, entra o trabalho acessório em que o camponês sai de sua terra e vai em busca do trabalho assalariado temporário, apenas para complementar o sustento da família. Esse período acontece muito em épocas de estiagem, pois as chuvas são poucas, não tendo como desenvolver a produção para sustentar a família. O Projeto Mandacaru está localizado logo após as duas vilas citadas e possui uma guarita de acesso, o que a torna distinta da vila de fora. Portanto, ao ser explicado que existe, de fato, a exclusão em grande parte da sociedade por meio da expansão capitalista, isso pode ser comparado com a formação dessas vilas, pois os moradores que ali residem foram expulsos de um processo, que se diz “moderno”, como se esse fosse para beneficio de todos; no entanto, sabemos que são várias as controvérsias, quanto ao discurso em questão, a territorialização do capital, se isso é bom ou ruim. Os pequenos agricultores, que ali vivem como assalariados, não foram desterritorializados e hoje ocupam tais vilas, por livre e espontânea vontade, mas sim porque foram pressionados por um sistema que os deixa totalmente excluídos do chamado “desenvolvimento”. Tal sistema veio apenas para beneficiar uma pequena parte da sociedade, e os camponeses, por não haver outra alternativa, são obrigados a cumprir o que lhes sobra neste perverso processo, que é viver subordinado ao próprio capital. 2.2 CAMPONESES OU AGRICULTORES FAMILIARES – A REALIDADE DO PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU Com a expansão capitalista no Nordeste, a partir de 1970, por meio da irrigação da agricultura, os principais atingidos foram os camponeses. Muitos expropriados passaram a ficar subordinados ao capital e á sua política. O Perímetro Irrigado Mandacaru, tendo como base a realidade descrita, a expropriação de camponeses, foi constituído com o intuito de inserir pequenos agricultores no modelo “modernizador” os quais passaram a ocupar a área do Perímetro, acreditando-os que a irrigação era a melhor opção diante da seca, que assola o sertão nordestino. 32 O Estado, quando distribuiu os lotes agrícolas para os colonos de Mandacaru, não se preocupou em saber se tais camponeses estariam aptos a enfrentar esse caminho capitalista, fez uma seleção árdua e se afastou por um período de menos de um ano, deixando os mesmos criarem suas próprias estratégias de sobrevivência, frente a uma realidade que eles não conheciam; a relação com o Banco foi uma delas. O Estado prepara agricultores para o sistema capitalista. Em pesquisa de campo/2009, realizada no Perímetro, foi constatado que, entre os entrevistados, 72% dos colonos conseguiram pagar as dívidas. Esses foram considerados os privilegiados, pois obtiveram sorte nas lavouras e, com o pequeno lucro vindo de outras plantações, conseguiram liquidá-la, mas hoje, por consequência de safras perdidas, 28% dos colonos ainda estão endividados e sem saber quando poderão pagar esta dívida. As dificuldades enfrentadas no Perímetro Irrigado são muitas, particularmente no Mandacaru, pois constata-se que dos 36 lotes distribuídos para pequenos agricultores, hoje só existe, aproximadamente 20 colonos provenientes dessa época; os outros venderam as terras porque não conseguiram se adaptar a tão difícil fase do Perímetro. Desse modo, o Estado criou a irrigação para empresários. Assim Veltmeyer e Petras (2008, p.84) “sob estas condições, uma grande e crescente parte da população em sociedade em desenvolvimento mudou-se e tem se mudado do campo para as cidades”. Muitos trabalhadores do campo lamentam sobre o fechamento da CAMPIM Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro Irrigado de Mandacaru. A mesma auxiliava os pequenos produtores na venda dos produtos. Antes, os pequenos produtores plantavam o que a Cooperativa ordenava, pois a mesma firmava contrato com as empresas, e isso servia como garantia para os colonos, pois o que fosse plantado seria vendido. A Cooperativa inibia o abuso das empresas, que exploravam os trabalhadores. Nesse processo, percebemos que o sistema de irrigação está atrelado ao capitalismo, e, nele, a terra é territorializada pelo capital a partir do momento em que as empresas entram na agricultura, fazendo com que os camponeses sejam alienados e transformem a sua produtividade simples e de qualidade em uma agricultura industrial cheia de insumos agrícolas. Assim, para Houtart(2007, p.422), “Os trabalhadores estão submetidos ao capital dentro do próprio processo de produção fazendo com que a classe operária seja totalmente absorvida e igualmente constituída pelo capital”. Há controvérsias, sobre a emancipação do Perímetro, em entrevista realizada com os colonos, alguns relatam que o mesmo é emancipado, más em conversa com o presidente do DIMAND, ele explica que não houve ainda essa emancipação, a CODEVASF se afastou por 33 um tempo, más hoje ainda esta ligada ao Perímetro. Então percebe-se que a Codevasf, por um período, deixou os colonos sem a assistência necessária, argumentando que tinha outros Perímetros para ajudar e que eles já podiam andar com as próprias pernas. O Banco, nessa mesma época, não liberava crédito para esses agricultores, que, a partir dos anos 1990, começa a enfrentar grandes crises. Mas o que se verificou é que o Estado parou de dar assistência a esses pequenos colonos, o que foi comprovado em conversa com um agricultor do Perímetro Mandacaru. - O governo deu muito apoio para gente, mais hoje nós estamos esperando o apoio do governo, do nosso Presidente da Republica, que disse que tem empréstimo, só que nós estivemos em uma reunião, e ficaram de liberar este dinheiro, até hoje, tem dinheiro para agricultura “sim tem”, agora quero ver o seguinte, se este dinheiro existe porque não chegou aqui, já que o presidente diz que tem. (L.V. S) Percebe-se que os colonos, que ali residem, esperam a posição do Estado em relação à assistência que deveria ser transferida para os Perímetros, como foi citado pelo entrevistado. Em uma agricultura que o próprio Estado proporcionou, leva-se em consideração que a criação deste Perímetro, por ser projeto piloto para os demais, deveria ser de exemplo. Em contrapartida, sabe-se que esse “desenvolvimento” da agricultura trouxe benefícios apenas para a política do agronegócio, ou seja, os empresários. Investimentos são liberados para a agricultura, mas apenas para os latifundiários, enquanto os pequenos camponeses (figura 5, p.34) são excluídos do processo capitalista. 34 FIGURA 5 Perímetro I. Mandacaru Foto: Gomes,Rozicleide/2009 Figura 5: Agricultor no Perímetro I. Mandacaru No entanto a diferença dessa assistência está na garantia de investimento do capital, ou seja, o crédito bancário está apenas para os que possuem empresas que geram o lucro e garantam o giro do capital; não está em agricultores camponeses, que vão arriscar plantar, e o Banco é o primeiro a dizer que não libera o crédito porque é uma plantação de risco, como exemplo do melão, tomate, cebola, manga etc. Agora, para investimentos na uva e na cana-deaçúcar, existe linha de crédito. Então Veltmeyer e Petras (2008, p. 85), argumentam que, A diferença entre agricultores capitalistas e os camponeses aumentou: primeiros, preparados para se ajustar ás novas condições e exigências; últimos, afundando-se em dividas, pobreza e crise e em matéria segurança social e de alimentação, para não falar dos meios sobrevivência. os os de de 35 Hoje, sem a linha de crédito no Perímetro Irrigado Mandacaru, a única planta que favorece a produção é a manga e, mesmo assim, precisa-se de investimentos, pois os insumos agrícolas utilizados são de alto custo e, se não tiver dinheiro não, se consegue obter lucro, podendo perder a colheita e obter prejuízos. Ao realizar pesquisa 2009, para esse trabalho, verificou-se os problemas que assolam o Perímetro Irrigado Mandacaru (figura 6, p. 35). FIGURA 6 Fonte: Pesquisa de Campo/2009 Portanto, nota-se a realidade existente no Perímetro Irrigado Mandacaru, fruto da modernização que não tem beneficiado os pequenos e sim os grandes. Desse modo, a tentativa de transformar os camponeses5 em agricultores familiares6 não teve o resultado esperado, em virtude de o próprio sistema do capital ser contraditório. ______________ 5 É o fato de que ele corresponde a um modo de vida, a uma combinação de vários elementos. O instrumento crucial para a sobrevivência deles é a economia familiar. A economia familiar é um elemento mais significativo para compreendermos quem o camponês é do que um modelo de campesinidade. (SHANIN, 2008, p. 34) 6 Propõe a “integração ao capital e ao mercado” como formas modernas de desenvolvimento do campo, aceitando políticas de compra e venda de terra como condição de acesso a terra. (FERNANDES, 2002, p. 69) 36 CAPÍTULO III 3 AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA A NÃO EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA A territorialização do capital na agricultura trouxe várias mudanças para campo, dentre as quais podem ser citados os avanços tecnológicos, que são vistos em todas as partes do mundo. Essa apropriação transforma a vida dos camponeses no período do plantio até a colheita, de tal forma que os produtos colhidos anteriormente eram de grande qualidade. Hoje devido à modernização, os mesmos transformaram-se em alimentos inseguros, pois colocam em risco a vida da sociedade. Com tais avanços, utilizados na agricultura irrigada, para ter garantia na colheita e também o suficiente para conseguir uma venda acessível ao mercado, é preciso o uso de insumos químicos, como os agrotóxicos. Logo, os agricultores familiares são obrigados a enfrentar o mercado competitivo, além de serem submetidos a uma série de fatores que colocam em risco a agricultura. Assim, para Fabrini (2008, p.260) os camponeses são diferentes, “As relações camponesas são marcadas por certa autonomia e controle do processo produtivo, diferentemente do que ocorre na produção em escala do agronegócio, por exemplo”. Esse processo “tecnológico” traz diferenças entre os camponeses: alguns têm sorte na colheita e conseguem entrar nesse árduo processo sem sofrer grandes consequências, pois possuem uma boa estrutura capaz de enfrentar o mundo capitalista; mas outros vivem desestruturados por não conseguirem se livrar dos juros e dívidas provenientes desse sistema. O Perímetro Irrigado Mandacaru está engajado nesse mesmo segmento, pois os colonos, ali distribuídos, sofrem com a territorialização capitalista e estão excluídos deste, o que lhes traz várias consequências, que são desfavoráveis á produção, Paulino(2008, p. 230) afirma. Entrementes, mesmo com essa benesse creditícia, os agricultores, em geral, e os grandes tomadores de empréstimos, em particular, não têm honrando os compromissos financeiros, sendo portadores de uma dívida astronômica. [...] resultado de uma situação em que ano após ano, governo após governo, assiste-se a uma mobilização do setor ruralista para adiar o pagamento, o que tem conseguido, mediante acordos e securitizações nas quais o próprio 37 Estado reduz as já baixas taxas de juro incidentes, assumindo o pagamento da diferença por se tratar de compromissos firmados por instituições financeiras. No entanto, essa é uma das dificuldades existentes entre os colonos do Perímetro, por possuírem dividas passadas com o Banco. Hoje os mesmos não conseguem ter linha de crédito, o que tem dificultado a permanência dos mesmos na terra. O Estado lhes proporcionou a agricultura irrigada, mas não tem dado a assistência suficiente, o que prejudica a produção. Não tendo como obter lucro, o ganho é mínimo e os colonos só conseguem garantir o sustento e, muitas vezes não conseguem investir novamente. Em entrevista com colonos em 2009, alguns motivos foram citados em relação á perda da produção, que pode ser proveniente de pragas, excesso de chuva ou preço no mercado abaixo do esperado, não valendo a pena colocar trabalhadores para colher e vender, pois, com a venda, não conseguem pagar nem mesmo as despesas geradas na produção (figura 7, p. 37). FIGURA 7 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009 Assim, os camponeses de Mandacaru são obrigados a buscar alternativas para continuar nos lotes. Mesmo que haja prejuízos, é preciso arriscar com plantações como cebola, melão dentre outros. Os agricultores são subordinados ao processo capitalista quando pagam uma taxa mensal chamada de K1 á CODEVASF, que é para manutenção do Perímetro 38 com bombeamento e irrigação e o K2 é pago ao DIMAND – Distrito de Irrigação de Mandacaru taxa essa que é calculada em cima dos hectares de terra adquiridos, que serve para manter as despesas como funcionários, manutenção de estradas e drenos. Então, se os agricultores ficarem sem movimentar parte do lote, as condições serão as mínimas possíveis para a liquidação dessas taxas cobradas, ficando com débito ainda maior. Esse processo desestrutura a vida dos camponeses e o trabalho que seria para beneficio da família, transforma-se em trabalho de negócio, pois o pouco da renda adquirida passa a ser transferida em beneficio do capital. Entretanto, com o lote parado e sem as condições necessárias para manter, os camponeses se veem forçados a arrendar parte de suas terras ou entrar em parceria, para continuarem permanentes na terra (figura 8, p. 38). FIGURA 8 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009 Os camponeses-rendeiros são quando há o trabalho de uso na terra, e o mesmo é transferido ao proprietário o pagamento em dinheiro, tornando-se um rendeiro Oliveira(2001). Normalmente, no Perímetro Irrigado Mandacaru, as pessoas que arrendam parte da terra dos colonos, são camponeses que não possuem a terra ou que possuem terras em área de sequeiro. Então os mesmos arrendam metade da terra, na esperança de adquirir no futuro condições para comprá-la em um lugar que dê segurança para a família. 39 FIGURA 9 Área arrendada no Perímetro I. Mandacaru Foto: Gomes, Rozicleide/2009 Os agricultores de Mandacaru procuram arrendar parte do lote para garantir a renda e investimento na próxima lavoura, além de poder pagar as taxas que são mensalmente cobradas, assim (figura 9, p.39) mostra no lado esquerdo uma área de 3 hectares de manga arrendada, e no lado direito um plantio de banana do próprio agricultor, que é dono do lote. Em pesquisa de campo 2009, com um funcionário do DIMAND – Distrito de Irrigação de Mandacaru, o mesmo relatou que essa prática de arrendamento é muito perigosa, pois as pessoas que arrendam esses lotes, na maioria das vezes, não tem responsabilidade nem preocupação com a terra, o que prejudica o solo que já está desgastado devido a anos de plantação e, com o arrendamento, piora mais a situação devido ao aumento de salinização por consequência do mau uso do solo. Embora grande parte trabalhe com a família e o lote seja dividido entre os filhos, existem também colonos que entram com parceria, o que acontece através da união do camponês com uma pessoa que possui renda suficiente para cobrir as despesas da lavoura, que pode ser um colono mais bem sucedido ou pequeno capitalista que entra com o dinheiro e o camponês com a mão de obra. Ao final são divididos os custos e ganhos. Esse processo de 40 parceria é muito arriscado para o colono, porque, caso haja a perda da produção, o colono fica endividado com o parceiro. Logo, são várias as estratégias utilizadas pelos camponeses para a não expropriação. Por meio de formas que garantam a sobrevivência da família, mesmo estando consciente da realidade capitalista, que vem cheia de divergência, acarretando diferentes modos de luta e conquista pela terra. 3.1 OS PEQUENOS AGRICULTORES E A SUA ORGANIZAÇÃO PARA PERMANECER NA TERRA No contexto do desenvolvimento capitalista, surgem vários paradigmas na sociedade e inúmeras transformações para o campo, onde os camponeses vão sendo sufocados com esse “novo” modelo que se diz transformador, mas que, na realidade, vem unido por um acelerado sistema que os prejudica e assola ainda mais as desigualdades. Após a implantação da agricultura irrigada, os agricultores familiares passaram a enfrentar dificuldades com a nova lavoura, que exigia dos mesmos mais eficiência e conhecimento, coisa que eles não sabiam. Os pequenos produtores anteriormente trabalhavam para o sustento da família, e não dependiam de recursos externos para se manter na terra, diferentemente dos dias atuais, assim afirma Marques (2008, p. 69). A extração de excedentes da produção camponesa e sua manutenção como unidade de produção mercantil simples implicam a redução de sua capacidade de investimento e mudança estrutural de sua base produtiva e têm tornado a unidade de produção doméstica dependente de recursos de origem externa, seja do Estado, seja via sistema de crédito, para adequar-se a novos padrões de produção. No Perímetro Irrigado Mandacaru, esse perverso sistema não foi diferente. Os colonos sofrem com essa “nova” forma de produção. Na realidade, eles estão vivendo o que foi implantado pelo Estado, que tinha como objetivo principal aliená-los através da expansão capitalista, mesmo sabendo que os camponeses não teriam a mínima condição de levar em frente a lavoura, isso por não conseguir firmemente estar ligado ao mercado com grandes competidores. 41 Com a situação a cada dia pior, os colonos do perímetro se associam á cooperativa que, na época, chamava-se CAMPIM – Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro Irrigado de Mandacaru, criada em 1973 para apoiar a comercialização dos produtos, onde começa a incentivar os colonos da região a passar todas as responsabilidades da produção, desde o plantio até a venda para a mesma. Todos os colonos sem alternativa, associaram-se colocando toda a confiança nessa entidade. A Cooperativa firma contrato com as empresas, começando a impor aos colonos as regras reais do jogo, e, através deste processo, surge a exploração dos pequenos agricultores, que passam a depender do capital para garantir sua existência. A ação destas empresas configura [...], em áreas estratégicas e monopolizam o território, ao determinarem o que ali será produzido, estabelecendo acordos com os pequenos camponeses ou capitalistas que passam a produzir e entregar seus produtos para serem processados por elas, de acordo com os padrões e qualidade definidos no momento da contratação. (MARCOS. 2008, p. 195) No inicio, todos os colonos saíram satisfeitos com as vendas e lucros obtidos com essa cooperativa, mas, com o tempo a mesma já não conseguia cumprir suas reais responsabilidades e, como resultado, a CAMPIM fechou as portas e não conseguiu levar em frente as contratações e nem pagar as dívidas existentes. Após tal impasse, os colonos passam por diversas dificuldades, a começar por créditos bancários, que nunca são liberados. Então, em 2000, foi criado o DIMAND - Distrito de Irrigação de Mandacaru, e os colonos começam a participar de reuniões com o intuito de melhorar a situação do Perímetro (figura 10, p.42). FIGURA 10 42 Perímetro Irrigado Mandacaru Foto: Gomes, Rozicleide/2009 Figura 10: Distrito de Irrigação de Mandacaru Em fevereiro de 2008, surge a APPIM – Associação dos produtores do Perímetro Irrigado Mandacaru, que só foi registrada em abril, com o objetivo de fortalecer comercialmente o grupo de colonos em substituição da CAMPIM - Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro Irrigado de Mandacaru. Hoje, a APPIM possui 20 associados, remanescentes da antiga cooperativa, que são submetidos por uma empresa a plantar acerola (figura 11, p. 43), para a venda garantida no mercado industrial. FIGURA 11 43 Perímetro Irrigado Mandacaru Foto: Gomes, Rozicleide/2009 Figura 11: Acerola colhida para comercialização. Por meio da entrevista com o presidente do DIMAND, em pesquisa 2009, o mesmo explicou, que os outros colonos estão apenas participando de reuniões, porque a associação está vendo a possibilidade de incluir os produtores de manga. Em pesquisa de campo, realizada no Perímetro 2009, 20% dos colonos relatam que o período de maior favorecimento da produção foi a época em que existia a Cooperativa, na qual os mesmos plantavam com contrato firmado nas empresas e não corriam o risco de perder a produção. Mas 28% argumentam que a cooperativa não é a solução do problema; a causa da crise, na produção é a concorrência que tem aumentado nos últimos anos e, ainda falam que as cooperativas são duvidosas, pois muitos, no perímetro, saíram prejudicados após a existência da mesma. Os camponeses recusam até mesmo as cooperativas agrícolas, consideradas formas estranhas ao seu mundo comunitário e familiar, pois se pautam no mundo conhecido e não na estranheza do além local, representado pela agroindústria, cooperativa, coletivização e internacionalização da economia. (FABRINI, 2008, p. 261) 44 A maioria dos produtores do Perímetro Irrigado Mandacaru, estão hoje desarticulados comercialmente, e não fazem parte de nenhuma organização, ou seja, associação ou cooperativa, grande parte dos agricultores comercializam com parceiros ou arrendatários. A APPIM hoje, apenas apóia a comercialização da acerola, e os produtores fornecem as mesmas para a indústria. No entanto, é nesse contexto de territorialização capitalista que se percebe a realidade dos camponeses, que, aos poucos, são obrigados a participar de um sistema totalmente contraditório, em que o capital se apropria da agricultura para beneficio próprio. Sabe-se, no entanto, que, desde os primórdios, os únicos beneficiados são os que têm “poder”. Portanto, em meio a esse processo devastador, os camponeses vão em busca de formas que assegurem a sua existência, mesmo que, para isso os mesmos tenham que ser subordinados ao capital, mas, em contrapartida, garantem a sua permanência na terra. 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS A elaboração desta pesquisa foi muito importante, pois é um trabalho que possibilita compreender os problemas gerados com a expansão capitalista, em especial no campo, que foi o tema em discurso. Explica-se, no decorrer do estudo, a terra, como fonte de fundamental importância para humanidade, a qual jamais deve ser restrita, ou seja, ser de beneficio apenas para os autoritários do “poder” ou servir de mercadoria para exploração dos que nela residem, como forma de substituir a aquisição da terra, que é um direito de todos sem que haja limitações. No entanto, percebe-se que o Estado não teve interesse em criar o Perímetro Irrigado Mandacaru para beneficio dos camponeses, mas sim, para servir de artifício para formação de vários outros, não só no vale do São Francisco, mas também em todas as regiões do Nordeste. E que, através da experiência primária com tal perímetro, pode saber as táticas melhores para desenvolvimento do novo, ou seja, do agronegócio regional, na qual veio para benefício dos grandes empresários, que se aproveitam de tais investimentos para explorar camponeses e, por consequência do próprio sistema, deixa-os, na maioria das vezes, sem alternativas, devido à ampliação do capital. Entretanto, esta pesquisa serviu para demonstrar dados que foram sendo conhecidos à medida que a pesquisa evoluía sobre a problemática e que só confirmaram os fatos e a realidade dos colonos no Perímetro. Cada membro, ao receber os lotes, jamais imaginava que por decorrência do próprio sistema, seriam jogados a própria sorte sem perspectiva de vida e sem saber como seria o futuro; a certeza que tinham era a garantia e o sustento da família como única forma de sobrevivência. Assim, o Estado implanta projetos apontados como “modernizadores” ao mesmo tempo em que desterritorializa camponeses, além de correr o risco da descampesinação, ou seja, por ser transferido do seu lugar de origem com características próprias do ser camponês, passa a ser transferido para viver da maneira que o Estado lhes proporciona e a partir de tal objetivo, divulga na mídia que o Nordeste está desenvolvido. Isso devido a avanços na irrigação e investimentos políticos. Em contrapartida, está o camponês em busca de alternativas que garantam a sua permanência na terra, pois é deste lugar que tira seu próprio alimento. Portanto para este governo ditatorial, tal camponês não deve ser considerado um atraso, um passado ou até mesmo um arcaico, pois é através do mesmo que famílias brasileiras se alimentam, porque se 46 for depender dessa política do agronegócio, os frutos produzidos serão apenas para exportação, enquanto a sociedade fica marginalizada, na pura miséria devido à culpa do sistema em ser totalmente contraditório. A contribuição apresentada ao Perímetro Irrigado Mandacaru é que através, desta pesquisa, possa haver uma retrospectiva sobre como foi inserido esse “novo” pelo Estado, assim como foi mostrada a situação atual desses camponeses no mundo globalizado, e, que a partir de tal conhecimento exposto, as políticas passem a valorizar o camponês não só com um ser social, mas também como classe que vive do trabalho e que não explora o trabalho alheio. Portanto, tem que destacar a necessidade de uma política agrária, não só utópica como foi citada no decorrer dos capítulos, que apenas assenta famílias camponesas em lotes agrícolas, sem dar assistência necessária, e diz que fez a maior política do Estado, pois se sabe que, de fato, esta política nunca foi concretizada, continuando até hoje somente como um mero “simulacro”. 47 REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. A Dialética do Trabalho Escritos de Marx e Engels. São Paulo. 1. ed. São Paulo, Expressão Popular. 2004 CODEVASF. Projeto piloto de Irrigação de Mandacaru – Perímetro Irrigado Mandacaru. In: Relatório de Avaliação Ex-Post. Brasília, 1977. CONCEIÇÃO. Alexandrina Luz. O Conceito de Camponês a Partir de Representações. In: A Questão Camponesa: O Olhar Sob o Signo Dialético. 1991. 178f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Sergipe. Aracaju. 1991. FERNANDES, Bernardo Mançano. Espaços Agrários de Inclusão e Exclusão Social: Novas Configurações do Campo Brasileiro. 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Relações de Produção em um projeto da Codevasf – O perímetro Irrigado Mandacaru. 1986. 160f. Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande, 1986. LIMA, Ronaldo Guedes de. O Desenvolvimento Agrário no Debate Cientifico: Uma reflexão paradigmática a partir dos clássicos. Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, V. 13, n. 24, p. 139-160, Maio 2005. MARCOS, Valéria. Agricultura e Mercado: Impasses e Perspectivas para o Agronegócio e a Produção Camponesa no Campo Latino-Americano. In: Campesinato e territórios em disputa. Org. Eliane Tomiasi Paulino e João Edimilson Fabrini. São Paulo. Expressão Popular. 2008. p. 191 – 212. MARQUES, Marta Inês. Agricultura e campesinato no mundo e no Brasil: um renovado desafio á reflexão teórica. In: Campesinato e territórios em disputa. Org. Eliane Tomiasi Paulino e João Edimilson Fabrini. São Paulo. Expressão Popular. 2008. p. 49 - 78. OFM GORGEM. Frei Sergio Antônio. A Trajetória Histórica da Agricultura Camponesa no Brasil. In: Os novos Desafios da Agricultura Camponesa. São Paulo. 2004. p.15 - 23. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo Capitalista de Produção, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: Labur Edições, 2007. 184p. ___________¹ Os elementos da Produção Camponesa. In A Agricultura Camponesa no Brasil. São Paulo: Editora Contexto. 2001. p. 55 - 64. ___________² A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, conflitos e Reforma Agrária. Estudos Avançados, Vol.15, nº.43, São Paulo, 2001. p. 185 – 206. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. A Geografia das Lutas no Campo. 6º Ed, São Paulo, Contexto, 1994. ORGANISTA, José Henrique Carvalho. O Debate sobre a Centralidade do Trabalho. 1.Ed. São Paulo, Expressão Popular. 2006. 49 PAULINO, Eliane Tomiasi. Territórios em disputa e Agricultura. In: Campesinato e territórios em disputa. Org. Eliane Tomiasi Paulino e João Edimilson Fabrini. São Paulo. Expressão Popular. 2008. p. 213 – 238. 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( ( ( ( ( ( ) Ensino Fundamental Incompleto ) Ensino Fundamental Completo ) Ensino Médio Incompleto ) Ensino Médio Completo ) Ensino Superior ) Outro 4. O que fez sair de sua terra, deixando para traz suas raízes, o ser camponês? ( ) Perda da Terra ( ) Venda da Terra ( ) Terra da família. Exemplo: Terra pertencia ao pai ( ) A seca ( ) Outro motivo Qual?____________________________________________________________ 5. Como ficou sabendo da seleção para adquirir um lote no Perímetro Irrigado Mandacaru? ( ( ( ( ( ) Rádio ) TV ) Cartaz ) Amigos ) Familiares 6. A seleção foi justa? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?_______________________________________________________ 7. Mora a quanto tempo no Perímetro? _________________________________ 8. O que ganha dá para garantir seu sustento? ( ) Sim ( ) Não 52 9. Quais as dificuldades encontradas no Perímetro? ( ) Auto custo de insumos ( ) Água ( ) Energia ( ) Falta de assistência. Por quê? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 10. Qual o melhor momento no Perímetro que favoreceu a produção? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 11. Tem relação com o Banco? Qual? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 12. Com sua produção consegue ter lucro? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 13. Você considera-se um camponês? Por quê? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 14. Você preferia está no seu lugar de origem ou aqui? Por quê? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 53 15. Antes do Perímetro o que existia aqui? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 16. Qual sua relação com a CODEVASF? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 17. O que acha da Agricultura Irrigada? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 18. Para você o Perímetro hoje, está bom ou precisa melhorar? Por quê? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 19.Você venderia sua terra? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 21. O que espera do futuro, como agricultor? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 22. Sua terra hoje é arrendada? Por quê? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 23. Quem arrendou? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________