1
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
CAMPUS PETROLINA
MARIA ROZICLEIDE DE SOUZA GOMES
A EXPANSÃO DO CAPITAL E A EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA NO
PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU EM JUAZEIRO - BA
PETROLINA
2009
2
MARIA ROZICLEIDE DE SOUZA GOMES
A EXPANSÃO DO CAPITAL E A EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA NO
PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU EM JUAZEIRO – BA
Monografia apresentada como exigência
parcial do grau de licenciando em geografia
á comissão julgadora da Universidade de
Pernambuco – Campus Petrolina sob
orientação da Prof.ª.Ms. Áurea Souza.
PETROLINA
2009
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MARIA ROZICLEIDE DE SOUZA GOMES
A EXPANSÃO DO CAPITAL E A EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA NO
PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU EM JUAZEIRO – BA
Monografia apresentada como exigência
parcial do grau de licenciando em geografia
á comissão julgadora da Universidade de
Pernambuco – Campus Petrolina sob
orientação da Prof.ª.Ms. Áurea Souza.
Aprovada em ___/___/ 2009
Banca Examinadora:
____________________________________________
Orientador Prof.ª Ms. Raimunda Áurea Dias de Souza
____________________________________________
Examinador (nome e titulação)
____________________________________________
Examinador (nome e titulação)
PETROLINA
2009
4
,
Ao meu glorioso Deus, pois foi quem me
iluminou nesta caminhada, e aos meus
pais Rozenita e Antonio, com muito amor
e carinho.
5
AGRADECIMENTOS
A toda minha família, que me deu apoio, compreensão e incentivo em todo o percurso
da minha vida.
A minha preciosa sobrinha Bruna Caroline, que foi minha luz nesta jornada.
Ao meu namorado Batista, que teve paciência e compreendeu a minha ausência
durante todo o percurso de construção deste trabalho.
A minha mãe, grande guerreira e considero a força motriz, foi quem me fez arriscar e
conquistar mais uma etapa da vida, na qual sem seu apoio este trabalho não seria realizado.
Ao meu precioso pai, que é meu alicerce e também me ajudou nesta caminhada.
A minha prezada irmã Rozimeire, fonte de inspiração que me ajuda e me apóia em
todos os momentos vividos e está ao meu lado sempre.
Ao meu querido irmão Amauri, que me auxiliou na concretização deste trabalho.
Aos meus colegas de classe: Roberta, Sérgio, Marleide, Rosane, Ney, Monique, Nadja,
Luciana, Ivanilda, Marcone e a todos que de uma forma ou de outra me ajudaram nesse
percurso.
Aos professores da UPE, que possibilitaram a construção dos meus conhecimentos no
decorrer do curso.
A minha orientadora Áurea, que tive a grande honra de tê-la como uma ótima
professora e perfeita orientadora. A sua compreensão, dedicação, paciência e incentivo foram
de grande importância no desenvolvimento deste trabalho.
As famílias do Perímetro Irrigado Mandacaru,
que contribuíram para o
desenvolvimento dessa pesquisa.
A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba
(CODEVASF), nas pessoas de Noêmia Paula e Maurílio Mendes, por todo o suporte dado no
decorrer da pesquisa.
A todos muitíssimo obrigado!
6
“Se, por um lado, necessitamos do trabalho
humano e de seu potencial emancipador,
devemos também recusar o trabalho que
explora, aliena e infelicita o ser social.”
(Ricardo Antunes)
7
RESUMO
O presente trabalho foi produzido a partir da realidade existente no Perímetro Irrigado
Mandacaru em Juazeiro-BA, que, após políticas de incentivos do Estado, ocasionou grandes
transformações na vida dos camponeses que ali habitavam, pois parte desses foram
expropriados, não sendo assentados nos projetos de irrigação. Já os que foram “beneficiados”,
hoje, sofrem com a falta de estrutura. O apoio do Estado deveria ser de suma importância para
esses que se sentem excluídos, mas sabe-se que os únicos privilegiados foram e são os
latifundiários. O objetivo deste trabalho consiste em analisar a situação dos agricultores,
verificando quais as alternativas utilizadas para enfrentar o mundo capitalista e como
conseguiram até os dias atuais garantir a terra mesmo sendo excluídos desse processo. A
metodologia utilizada foi baseada em fundamentação teórica e pesquisa de campo, buscando
informações que ajudassem no decorrer da pesquisa, com a finalidade de explicar a realidade
do perímetro. Assim, foi de grande importância o método dialético, porque é através do
mesmo, que se percebe a abrangência dos fatos; já a categoria é território, pois permite
entender as relações de poder na apropriação do espaço. No entanto, sabe-se que o Estado tem
apoiado, desde os primórdios, as grandes empresas, mas, em contrapartida, compreende-se
que, mesmo sem apoio do Estado, os pequenos agricultores resistem e buscam sempre
alternativas para permanecer na terra.
Palavras-chaves: Capital; Estado; Camponês; Resistência.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................
10
1.O CAMPONÊS COMO SUJEITO NO BRASIL........................................................
12
1.1 - A Formação da Via Campesina e a Questão Política...............................................
15
1.2 - O Sentido Político da Palavra Camponês.................................................................
18
2.A CRIAÇÃO DO PROJETO MANDACARU – UMA QUESTÃO POLÍTICA
OU ECONÔMICA............................................................................................................. 22
2.1 - A territorialização do Capital e a Desterritorialização Camponesa..........................
26
2.2 - Camponeses ou Agricultores Familiares – A Realidade do Perímetro Irrigado
Mandacaru…………………………………………………………………………….
31
3.AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO COMO
ALTERNATIVA PARA A NÃO EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA......................... 36
3.1 Os Pequenos Agricultores e a Sua Organização para Permanecer na
Terra................................................................................................................................... 40
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................
45
REFERÊNCIAS................................................................................................................
47
ANEXOS
50
ANEXO A - Questionário...................................................................................................
51
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Localização do Projeto Mandacaru………………………………....…………
23
Figura 2 Mapa do Município de Juazeiro-BA……..........................................................
28
Figura 3 Vila Juca Viana I - Perímetro Irrigado Mandacaru............................................
30
Figura 4 Vila Juca Viana II - Perímetro Irrigado Mandacaru..........................................
30
Figura 5 Agricultor no Perímetro Irrigado Mandacaru...................................................
34
Figura 6 Problemas do Perímetro Irrigado Mandacaru…………………………….…..
.
Figura 7 Situação dos Colonos em Relação ao Ganho e produção.................................
35
Figura 8 Alternativas para o Perímetro Irrigado Mandacaru...........................................
38
Figura 9 Área arrendada no Perímetro Irrigado Mandacaru……………………………
39
Figura 10 Distrito de Irrigação de Mandacaru...................................................................
42
Figura 11 Acerola colhida para comercialização…………………………………………
43
37
10
INTRODUÇÃO
Por meio da expansão capitalista, várias foram as disparidades geradas na sociedade.
Isso por ser proveniente de um sistema totalmente contraditório, que traz benefícios apenas
para os que já os possuem, ou seja, os “endinheirados” que, de tal forma, permanecem nesse
sistema, tirando proveito dos mais fracos. Assim, na cidade de Juazeiro-BA, esse processo
não pode ser diferente. Após a modernização no campo, a partir do “desenvolvimento”
influenciado pelo Estado, várias foram as transformações ocorridas na vida dos camponeses,
que utilizam a terra apenas para sustento da família. Sabe-se que esse “novo” projeto de
irrigação tem beneficiado apenas os latifundiários que se aproveitam para explorar
trabalhadores, o que o torna totalmente distinto dos camponeses que são contra esse cruel
sistema de exploração.
No entanto, este trabalho teve o objetivo de analisar a expropriação camponesa no
Perímetro Irrigado Mandacaru na cidade de Juazeiro-BA, observando a realidade existente
após a territorialização do capital, e quais as alternativas utilizadas pelos camponeses para
permanecer na terra. Foram vinte e cinco entrevistados com o intuito de alcançar uma melhor
análise sobre a problemática abordada.
Assim, é de grande importância, neste trabalho, buscar entender a atuação do Estado,
que trouxe um sistema que beneficia apenas as grandes empresas e que explora através do
trabalho, os pequenos agricultores com a finalidade de adquirir lucros, deixando de lado a
existência de uma classe campesina, que, aos poucos, vem sendo esmagada com esse projeto
de “modernização” no campo.
Logo, no decorrer desta pesquisa, foram utilizadas fontes adquiridas a partir da coleta
de dados, através de visitas ao Perímetro Irrigado Mandacaru, CODEVASF – Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba e ao DIMAND - Distrito de Irrigação
de Mandacaru. O método utilizado foi o dialético e a categoria território, além de usar teóricos
que abordam a discussão divergente do capital.
A resistência pela terra vem desde os primórdios da humanidade. Desde a colonização,
houve disputa de terras entre índios e portugueses, que ali chegavam para explorar as terras.
Naquela época, já existiam moradores, mas infelizmente o “poder” estava à frente e como
sempre venciam os mais fortes. Os índios foram obrigados a lutar pela sobrevivência, mesmo
sendo os primeiros a chegarem a tais terras, diferentemente dos colonizadores que vieram
apenas com a intenção de explorá-las.
11
O presente trabalho encontra-se dividido em três capítulos, o que auxilia para uma
melhor compreensão. Esses estão subdivididos em partes que ajudam a compreender as
disparidades e dificuldades existentes no campo, que, desde então, tem aumentado a partir da
expansão capitalista.
O primeiro capítulo apresenta “O camponês como sujeito no Brasil” que mostra todo o
percurso enfrentado pelos mesmos, desde a luta dos índios, até os movimentos recentemente
criados para permanecer no campo e serem considerados sujeitos. E, também, relata-se a
formação da via campesina e a resistência política, bem como o sentido legítimo do camponês
frente a essa questão.
No segundo capítulo, é exposta “A criação do projeto Mandacaru – uma questão
política ou econômica”, a qual mostra a realidade dos camponeses após a intervenção do
Estado, apontando as dificuldades enfrentadas pelos mesmos através dessa nova política,
assim como a desterritorialização como uma das consequências desse sistema, e se existe após
esse propósito político, agricultores familiares no perímetro.
E, por fim, o terceiro capítulo que relata “As relações não capitalistas de produção
como alternativa para a não expropriação camponesa” na qual após a territorialização do
capital, os camponeses têm buscado formas para garantir a sobrevivência da família, como
também tem criado organizações para permanecer na terra. Ainda, neste capitulo, descreve-se
a situação dos agricultores que não participam de associações e as alternativas encontradas
para que sobrevivam.
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CAPÍTULO I
1 O CAMPONÊS COMO SUJEITO NO BRASIL
O marco da história brasileira é traçado com um ambiente de luta e resistência pela
terra. De um lado, os habitantes que se encontram no Brasil – índios; do outro, os portugueses
colonizadores sedentos pelo domínio da riqueza que, porventura pudesse ser encontrada no
país. Para isso, era necessário dominar os povos, para que a exploração pudesse acontecer.
Em meio a grandes conflitos, as terras foram roubadas e passaram a ser exploradas
pelos portugueses para a implantação de lavouras de exportação. Para que esse tipo de
atividade pudesse dá certo, a sesmaria¹ passou a ser o tipo de propriedade reinante e com ela o
latifúndio, que expande suas lavouras, expulsando os pequenos moradores que ali existiam.
Destaca-se, que a mão de obra do índio não dava conta da produção. Então, foram
trazidos da África os negros. Esses passaram a entrar em choque pela forma como eram
tratados; os mesmos eram mercadoria dos senhores. Assim, uma das formas de negar o
modelo escravocrata era a “fuga”. Nesse período, a busca pelos “quilombos” significava á
própria liberdade.
A intensificação da fuga pelos negros conduziu os senhores a repensar novas formas
de explorar no campo. Desse modo, é criada a Lei de Terras em 1850², deixando os negros
impossibilitados de ter terra, para a sobrevivência da família.
A presença da força de trabalho familiar é característica básica e
fundamental da produção camponesa. É pois derivado dessa característica
que a família abre possibilidade da combinação muitas vezes articulada de
outras relações de trabalho no seio da unidade camponesa. É assim que o
trabalho assalariado, ajuda mútua e parceria aparecem como relações que
garantem a complexidade das relações na produção camponesa.
(OLIVEIRA, 2001, p.56)1.
_______________
1
A Prática mais comum, era o latifundiário invadir e entrar nas terras públicas, ocupadas pelos índios ou pelos
caboclos e depois ir até o representante da coroa, e requerer a concessão e fazer-se dono. (OFM GORGEM,
2004. p.16)
2
Quem já tinha terra doada pela coroa, podia legalizar e ficar de dono e quem não tinha, daí para diante, só
poderia ter se comprasse. (OFM GORGEM, 2004. p.17)
13
Mesmo diante de uma terra cativa, os negros iniciam, em torno das grandes fazendas,
outro tipo de agricultura, a agricultura camponesa, marcada principalmente, entre muitas
características pela produção da família. Esse tipo de agricultura passa abastecer as cidades, já
que os latifúndios tinham por finalidade o mercado externo mediante cultivos de cana-deaçúcar, cacau, café, etc.
Em terras alheias, os camponeses definido por Shanin (2008, p.69), “como classe
social e um modo de vida específico”, passaram a mostrar a sociedade que ela não vive sem a
sua presença, embora essa mesma sociedade tente desqualificá-los.
Ao longo da história do Brasil, os camponeses foram colocados em segundo plano,
pois a prioridade, desde o início do período da colonização, foi dada aos latifundiários, e isso
perdura até os dias atuais.
Dentro dessa realidade, os camponeses passaram a travar muitas batalhas para
permanecer no campo e serem sujeitos. Pode ser citado como exemplo: a luta dos índios, dos
negros, o conflito em Canudos (1896), as Ligas Camponesas em Pernambuco (1945),
atualmente o MST(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), fundado desde de 1984 , o
MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens(1989), entre outros. Os mesmos vêm à tona
questionar o atual modelo econômico imposto a sociedade. A partir dessas lutas, os
intelectuais passaram a estudar esses sujeitos de modo a entendê-los como conservadores ou
revolucionários. Assim a luta,
Floresceu consideravelmente quando o campesinato se mobilizou contra as
forças do desenvolvimento capitalista em diversos contextos. Reagindo a
essas forças, os camponeses entravam em ação, e acadêmicos debatiam o
caráter revolucionário (ou conservador) desta reação, bem como discutiam
a penetração e o desenvolvimento capitalista no campo, os modos de
transição para mudanças agrárias, o desaparecimento do campesinato como
fato social e força política, a correlação de forças de classe no campo, e as
condições sob as quais os camponeses poderiam se constituir, eles próprios
em “atores políticos”.(PETRAS,2008, p.79)
Para os teóricos que veem a luta camponesa como alternativa de ter terra, tais sujeitos
constituem classe. Shanin (2008) comenta sobre o camponês e explica que ser uma classe vai
depender de suas condições históricas ou a partir da observação, se eles lutam ou não por seus
interesses. É nesse momento que saberemos se eles são realmente uma classe. Logo
Houtart(2007, p. 423), explica:
14
O novo sujeito histórico se estende ao conjunto dos grupos sociais
submetidos, tanto aqueles que formam parte da submissão real
(representados pelos chamados “antigos movimentos sociais”), como os que
integrariam os grupos dos subsumidos formalmente (“novos movimentos
sociais”). O novo sujeito histórico a ser construído será popular e plural,
isto é, constituído por uma multiplicidade de atores [...]
E assim, a unidade camponesa surge com sua maneira diferencial de agir, em um meio
de luta com o seu adversário, em busca de um único objetivo. E através dessa junção coletiva
faz com que essa classe busque os seus ideais, para conseguir a tão sonhada “liberdade”. Esse
sujeito sabe questionar e conhece todo processo percorrido no âmbito social. Logo Shanin
(2008, p. 23), comenta “que o antigo slogan da luta por 'terra e liberdade' está vivo tanto
quanto a centenas de anos atrás e é uma força mobilizadora que leva as pessoas a lutarem por
um futuro melhor para elas próprias e para os outros”.
A luta camponesa passa a ser reconhecida como sujeito e pela terra como condição de
trabalho, quando esta lhe falta, a exploração é inevitável. Assim, para Marques (2008, p.56),
“muitos camponeses são mantidos num estado permanente de semi ou subproletarização em
condições de trabalho extremamente precárias, seja no campo ou na cidade”.
Esse sujeito é histórico, e ao mesmo tempo, marcado por inúmeras formas de
preconceito, no sentido de ser considerado um sujeito desnecessário para a sociedade, por
existir no seu modo de vida formas diferentes, pois muitos acreditam que o capital é a solução
dos problemas sociais. Nota-se que é um sistema que traz mais problemas do que soluções.
No entanto, esse perverso processo traz para o camponês o que Petras (2008, p. 86) chama de
impactos sociais.
Em causa estão as forças mobilizadas pelo Estado, bem como as forças do
desenvolvimento capitalista – proletarização, industrialização e
modernização – forças conceitualizadas por economistas como um
complexo de fatores de “empurra e puxa”, condições que “expulsam” os
camponeses da terra e os “traz” para dentro das cidades sob quaisquer
condições disponíveis (geralmente desfavoráveis).
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Para o camponês, essa forma de agir do sistema capitalista leva-os a sofrer um
processo de descampesinação³, querendo a todo custo tirar do camponês as raízes existentes e
herdadas de uma geração histórica, lembrando apenas que, no âmbito do capital, sempre
vence o mais forte, e essa força está apoiada pela classe dominante, esquecendo que, por trás
dessa realidade, existem pessoas que merecem o mínimo de respeito e consideração.
É importante escrever que é uma classe que não deveria ser julgada por não aceitar o
sistema do capital como única saída para humanidade. O camponês, como sujeito na sua luta
pela terra, procura mostrar que há outras alternativas para viver. O socialismo é uma porta.
1.1 A FORMAÇÃO DA VIA CAMPESINA E A QUESTÃO POLÍTICA
Muitos estudiosos acreditam que o campesinato está com dias contados, e que o seu
desaparecimento seja praticamente inevitável devido à modernização no campo. Mas ao
olharmos para a realidade, verifica-se apenas uma utópica teoria, pois percebemos que os
camponeses à medida em que são expulsos do processo capitalista, se mobilizam-se
coletivamente e vão á luta para não perder os seus direitos como classe.
Ao lutar por esses direitos, é que a Via Campesina (1992), surge não só nacional mas
também internacionalmente, com o objetivo de obter uma agricultura de qualidade, sem uma
natureza devastada. Desse modo, é preciso rever as políticas agrícolas, implementadas nos
países capitalistas.
A Via Campesina está presente em varias conferências e debates sobre vários
assuntos, isso em junção com vários movimentos campesinos, nos quais no Brasil estão
incluídos: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST; Movimento dos
Pequenos Agricultores – MPA; Movimento dos Atingidos por Barragens – (MAB); Comissão
Pastoral da Terra – (CPT) e Associação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais –
(ANMTR), todos em luta por uma digna Reforma Agrária.
É importante salientar que esses movimentos negam o modelo capitalista e exigem
uma política agrária mais igualitária, no sentido de rever os aspectos existentes, que são
completamente antagônicos, principalmente em relação à situação social.
__________________
3
Segundo Lênin, para a oposição de classe: de um lado a formação de um proletariado rural pobre (que vende
trabalho); de outro, uma minoria formada por uma classe estruturada rica (burguesia rural produtora de
mercadorias), que se apóia no trabalho alheio pagando salários. No entanto intermediário estariam os
camponeses médios, fadados ao fenômeno da descampesinação, ou seja, do deslocamento da maioria deles, em
direção á proletarização. (LÊNIN apud LIMA, 2005, p. 139-140).
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Assim, Marques (2008, p.64) comenta que “A criação do assentamento é acompanhada por
um conjunto de medidas que formalizam o reconhecimento do Estado de seu dever de
assegurar o acesso a direitos básicos como educação, saúde e habitação”.
O número de trabalhadores assassinados no campo evidenciam a dura realidade no
Brasil, a exemplo do Massacre de Corumbiara (1995), em Rondônia na Fazenda Santa Elina,
levando a dezesseis mortos, o Massacre de Eldorado dos Carajás (1996), no Pará, com um
total de dezenove sem-terras assassinados. Além das inúmeras torturas existentes, devido ao
não prevalecimento da lei para os mais fracos, onde passa a favorecer apenas os mais fortes,
ou seja, os grandes latifúndios.
São inúmeros casos de latifundiários que possuem extensas propriedades de terra,
muitas delas consideradas improdutivas, mas, mesmo assim, são retidas como bem de valor.
Assim, para Oliveira (2001, p.187)2, “essas grandes extensões de terras estão concentradas
nas mãos de inúmeros grupos econômicos porque, no Brasil, estas funcionam ora como
reserva de valor, ora como reserva patrimonial”.
É nesse contexto que o camponês, com sua corajosa força e persistência, corre em
busca de uma terra que seja fonte de sobrevivência não só para a família, mas também para
toda a sociedade, o que o torna diferente do latifúndio, pois este utiliza a terra como fonte de
produção do capital e exploração do trabalho.
É em decorrência deste conjunto de razões, que teimosamente os
camponeses lutam no Brasil em duas frentes: uma para entrar na terra, para
se tornarem camponeses proprietários; e, em outra frente, lutam para
permanecer na terra como produtores de alimentos fundamentais á
sociedade brasileira. São, portanto, uma classe em luta permanente, pois os
diferentes governos não os têm considerado em suas políticas públicas.
(OLIVEIRA, 2001, p.189)2.
No entanto, foi através da política de Fernando Henrique Cardoso (1995), que a
situação dos camponeses em relação à Reforma Agrária se agravou, pois nesse governo,
foram criadas novas leis contra os movimentos sociais, criminalizando as ocupações de terras,
além da implantação do Banco de Terra, que veio com a intenção de bloquear o
desenvolvimento dos agricultores e dificultar o acesso do crédito agrícola.
Para esse governo, a única forma de estabelecer e resolver o problema da ocupação de
terras foi criar leis para reprimir os camponeses, mostrando-lhes que a subalternidade é
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normal, e que não é obrigação do Estado desenvolver políticas para a distribuição de terras e,
muito menos, cumprir com a regularização da Reforma Agrária.
Desse modo, pela impossibilidade de superação da questão agrária, por
meio do paradigma adotado, o governo FHC ajustou estrategicamente uma
política de transferência e substituição dos elementos da questão agrária.
Assim, os elementos, em que os trabalhadores têm perspectiva de
enfrentamento e resistência nos espaços políticos, são transferidos para o
espaço econômico, onde a resistência é reduzida. E os elementos
constituídos de identidade política e histórica são substituídos por novos
elementos, para a produção de outra identidade e outra história.
(FERNANDES, 2002, p.62)
Então, ao perceber a recriação do campesinato, o governo FHC começou a tomar
medidas cabíveis que simulassem a questão agrária do país. E, a partir daí, começou o
incentivo para o “novo mundo rural”, ou seja, uma “nova” expressão que, ao ser colocada em
prática, levaria a uma plena desintegração campesina. Porém, ao analisar a realidade, a luta
pela terra não só duplicou, mas também triplicou nos últimos anos, isso em consequência dos
vários movimentos, contra a chamada modernização implantada por este governo, que se
esquiva de vários maneiras a fazer uma Reforma Agrária e, assim, busca transformar o
pequeno agricultor em agricultor capitalista.
Entretanto, essa política, como acreditava que a repressão resolveria a situação dos
acampamentos, acabou sendo surpreendida com a explosão de vários movimentos que negam
participar deste sistema político excludente, que vem carregado paralelamente com a
desigualdade social, além de expropriar grande parte dos camponeses.
São protestos das mais diversas dimensões e formas. São acampamentos e
romarias, são bloqueios de estradas, são manifestações em frente aos
órgãos federais e estaduais ou ocupações de prédios públicos;
manifestações realizadas das datas comemorativas da luta pela terra; são
lutas dos sem-terrinha, das mulheres e dos jovens. São sem-terra, são
posseiros, são pequenos agricultores, são sindicalistas: são camponeses.
Evidente que essas manifestações representam a resistência dos camponeses
que vivem no mundo real: o mundo do capital.(FERNANDES, 2002, p.64)
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Essa política teve o intuito de desestruturar o campesinato, de acabar com o mal que
tanto o ameaçava, ou seja, o Estado ser obrigado a doar terras para os chamados pela
imprensa de “marginais” ou “bando de desocupados”, isso é o que a mídia tenta passar para a
sociedade, lutar pela terra é coisa de “delinquente”.
Esse projeto elaborado no governo de FHC não funcionou, pois os camponeses se
recriam à medida que vão sendo excluídos deste mundo capitalista. No entanto, esse “novo
mundo rural” não passou de uma ilusória questão agrária, pois acreditava-se que o camponês,
passando a ser agricultor capitalista, a Reforma Agrária seria completamente resolvida.
Assim no “novo mundo rural”, não existem conflitos, não há ocupações de
terras, não existem acampamentos de sem- terra, os assentamentos são
iniciados pelo governo e em três anos, em média, estão consolidados. Nesse
processo extraordinário, os trabalhadores entram como sem-terra e saem
como agricultores familiares, prontos para o mercado, prontos para se
tornarem prósperos capitalistas. (FERNANDES, 2002, p.64)
Contudo, a realidade deste camponês ao entrar no “novo mundo rural”, será totalmente
outra, pois os mesmos vão ficar presos a Bancos com dividas imensas, deixando de ser
proprietário real, transformando-se em um proprietário nominal, além do risco de perder a
terra e, também, os meios de produção.
Portanto, é através desse poder de resistência, que a via campesina se mostra forte e
vai à luta com manifestações contra este excludente sistema “globalizado”, e vários são os
desafios que precisam ser enfrentados para a conquista real de uma Reforma Agrária.
1.2 O SENTIDO POLÍTICO DA PALAVRA CAMPONÊS
Desde o período feudal que a sociedade tinha sua forma de viver, e tal fonte de
sobrevivência, muitas vezes, veio a partir da agricultura. Essa sempre foi marcada por vários
processos. Nesse período os camponeses trabalhavam em terras alheias e eram obrigados a
produzir alimentos para suprir as necessidades de sua família e, também, a de seus senhores.
Esse camponês no decorrer da história, travou várias batalhas na luta pela terra e, para
não perder o vínculo com a mesma, passou a ser rendeiro, parceiro, trabalhador assalariado,
ou ainda, passou a abrir posse, espacializando a procura da terra de trabalho.
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Nos últimos anos, o camponês tem sido fonte de discussão. Isso porque o mesmo
possui o seu modo de vida, o que o torna diferente em relação a outros na sociedade. Ele
possui suas características próprias além de ser de grande importância para a sociedade, pois
traz consigo vários ensinamentos que vêm sendo transferidos a cada geração. Para Shanin
(2008, p. 29), “não temos que ensinar o camponês a viver, nós é que temos que aprender com
eles como viver e como resolver problemas nos quais a maior parte da população está
envolvida”.
O camponês sabe como resolver seus problemas, quando chegam as situações de crise,
eles estão sempre preparados, principalmente no período de estiagem, época em que a
produção não é bem sucedida. Então, os mesmos procuram desenvolver técnicas para
conseguir superar essa fase difícil. Esse sujeito vive da própria mão de obra familiar, é dono
da terra e, ao produzir para a família, o seu excedente é trocado ou vendido para suprir outros
itens que os mesmos não produzem.
Na produção camponesa, se está diante da seguinte fórmula M – D – M, ou
seja, a forma simples de circulação das mercadorias, onde a conversão de
mercadorias em dinheiro se faz com a finalidade de se poder obter os meios
para adquirir outras mercadorias igualmente necessárias á satisfação de
necessidades. É pois, um movimento do vender para comprar. (OLIVEIRA,
2007, p.40)
Destaca-se ser camponês o trabalhador que vive exclusivamente do campo; porém,
segundo Conceição (1991), são muitos os termos que a sociedade utiliza para defini-lo:
caboclo, lavrador, colono, sitiante, agricultor, pequeno produtor, trabalhador rural e pequeno
agricultor, todos apoiados pelo trabalho e cultivo da terra.
Muitos estudiosos substituem o termo camponês por agricultor familiar, mas é preciso
ter cuidado, pois tal argumento pode comprometer a real característica do camponês. Assim
serão mostrados os vários elementos em que Oliveira (2001) 1 caracteriza-os da seguinte
forma:
a) força de trabalho familiar - cada membro da família tem sua função, trabalha
coletivamente, há uma combinação entre os membros da família: ajuda mútua, mutirão e
parceria são práticas comuns. Na ajuda mútua, essa relação acontece quando os membros da
família não conseguem sozinhos dar conta do trabalho. Aí surge a união com outros
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companheiros, que pode ser como mutirão, momento em que várias pessoas se reúnem para
ajudar na colheita ou também como troca de dias trabalhados entre ambos; assim, também,
surge à parceria como forma de substituir o trabalho assalariado, por não ter condições de
pagar em dinheiro o trabalho realizado, então, ele contrata-o para ajudar na lavoura e, em
troca, divide ao meio todos os ganhos da produção;
b) trabalho acessório - quando o camponês não consegue obter uma boa colheita,
principalmente em épocas de estiagem, quando a produção não é bem sucedida, então, ele é
obrigado a sair do campo para assalariar-se. Esse período dura pouco tempo. Quando chega o
inverno, o mesmo retorna para sua terra, pois essa é a única forma que ele encontra para
sobrevivência da família;
c) força de trabalho assalariada – só aparece quando a família não consegue desenvolver a
produção sozinha, pois devido ser muito grande a lavoura os mesmos precisam de ajuda para
não perder a produção. Esses trabalhadores são temporários, ficam só até a conclusão da
colheita e, nesse caso, o camponês não chega a ser ainda um trabalhador expropriado;
d) socialização do camponês – as crianças acompanham todo o processo de trabalho na vida
familiar e, quando crescem, já sabem como desenvolver as funções na agricultura. Eles
tornam parte integrante na produção camponesa e, sem a participação desse na família a
produção fica reduzida.
e) propriedade da terra – quando o camponês não possui os meios de produção e começa a
pegar empréstimo no Banco, passando todo o seu ganho para tal instituição ao invés de ser
para a família, ou seja, de proprietário real passa para proprietário nominal. É nesse momento
que pode surgir o camponês proprietário, parceiro, rendeiro ou posseiro. Este último nega a
pagar por o uso da terra.
f) proprietário dos meios de produção – o camponês precisa comprar instrumentos para a
melhoria de sua produção. Então ele se sujeita a ir ao Banco pagando juros altíssimos, onde
parte do seu trabalho é transferido para o capital industrial, devido ao empréstimo ser superior
aos da venda de seus produtos.
21
g) jornada de trabalho – o camponês trabalha de maneira própria, não sendo preciso
determinar horário. Ele é dono do seu próprio relógio. Em determinadas épocas o camponês
fica mais tranquilo podendo até acrescentar outras particularidades nesse tempo livre. Há,
também, época em que o mesmo não tem folga, trabalha dia e noite para conseguir uma boa
colheita.
No entanto, são várias as formas que o camponês utiliza para o desenvolvimento de
sua produção. Através dessa simplicidade, ele consegue tirar da terra o sustento de toda a
família, sendo que ela é fonte de fundamental importância. Assim Shanin(2008, p.41)
complementa.
Ser camponês é saber como combinar muitas ocupações para trabalhar a
terra, cortar madeira, cuidar de animais, cultivar alimentos, consertar
máquinas. A verdadeira característica e definição dos camponeses tem como
um de seus fundamentos essa natureza especial do campesinato, que nunca é
uma coisa só, é sempre uma combinação. Também não é algo que se
aprende na universidade. Se é menino aprende com o pai, se é menina
aprende com a mãe.
Logo, para saber se o agricultor é realmente um camponês, é preciso conhecer suas
raízes históricas, pois é por meio da mesma e, a partir de observações, se utiliza-se da terra
para a exploração do trabalho alheio, ou se apropria da mesma para o sustento da família.
Assim, é que se pode dizer se é camponês ou capitalista.
Portanto, fica claro que a palavra camponês possui um sentido político, porque a
mesma vem de um período histórico. Através de lutas para reconhecimento como classe, o
camponês pode mostrar que, por possuir um modo de vida diferente e características próprias,
não quer ser transformado em agricultor familiar.
22
CAPÍTULO II
2 A CRIAÇÃO DO PROJETO MANDACARU – UMA QUESTÃO POLÍTICA OU
ECONÔMICA
Após o Golpe Militar de 1964, surge uma preocupação do Estado em desenvolver a
Região Nordeste. Para isso, ele criou alguns órgãos dentre eles a SUDENE - Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste, que visa à instalação de sistemas de irrigação na agricultura
local.
A partir de tal objetivo, começaram os processos para a elaboração do Projeto
Mandacaru, área que serviu como principiante, ou seja, como projeto piloto para a criação de
outros perímetros, não só na região, mas também em várias partes do Nordeste.
O Perímetro de Irrigação Mandacaru fica localizado na margem direita do rio São
Francisco, na região do Submédio do vale do São Francisco, distante 2.500 m do curso das
águas para captação e a 12 km na direção leste da cidade de Juazeiro-BA (figura 1, p.23). A
rodovia de acesso a esse Perímetro é a que liga Juazeiro a Curaçá, e possui uma população de
3.112 habitantes, que, na verdade, é distribuída em 517 famílias, de acordo com a Secretaria
Municipal de Saúde de Juazeiro-BA.
23
FIGURA 1
Localização do Projeto Mandacaru
Fonte: Adaptada dos mapas da CODEVASF
24
Para que realmente tal projeto viesse a acontecer, era necessário algo que servisse de
alicerce para o desenvolvimento da região através da irrigação. O rio São Francisco tornou-se
o alvo, pois através do mesmo, poderiam ser cultivadas várias espécies de frutas e outros
plantios, em uma área que é considerada de menor índice pluviométrico, mas em
contrapartida, o solo é propicio e suficiente para desenvolver a agricultura no pólo São
Franciscano.
Em 1970, começaram as obras com a SUVALE (Superintendência do Vale do São
Francisco), que em 1975 foi transferida para a CODEVASF - Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco, que, atualmente, é chamada de Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba, e, até hoje, possui relação com o
Perímetro Mandacaru. É a mesma quem planeja as obras de construção e reforma nos
processos de irrigação.
Após criado o Projeto Mandacaru, era preciso ocupá-lo. Desse modo, foram
divulgados na época em rádios, jornais e através de palestras aos arredores do vale do São
Francisco, explicando como seria a seleção para adquirir um lote no referido perímetro.
Em entrevista 2009, com uma professora do perímetro e esposa de um colono, a
mesma relata que neste mesmo período, a CPT(Comissão Pastoral da Terra), em união com a
Igreja, começou a incentivar os pequenos agricultores a não aceitarem a subordinação do
capital, pois essas políticas de governo não seriam para beneficio dos pobres, uma vez que as
evidências mostravam que os agricultores, ao aceitarem essas terras, já entrariam na
propriedade com dívidas no Banco. Logo Welch e Fernandes (2008, p. 164), comentam que
aparentemente “ele é subalterno a este modelo de desenvolvimento pelo fato de não possuir
poder para impor outro modelo na correlação de forças com o capital”.
Ao perceber que as inscrições não estavam sendo realizadas no recôncavo baiano, isso
porque a população começou a ter medo do “novo”, então, o órgão responsável procurou
divulgar em várias regiões, sobretudo em Pernambuco, a procura de colonos interessados a
participar deste processo. Dentre os quais foram escolhidos 54 colonos, e apenas 36 estavam
aptos. Foi uma seleção minuciosa e os mesmos ficaram três meses consecutivos em
treinamento. Ao termino dessa seleção crucial os colonos considerados eleitos, em 1973
puderam ocupar as terras. (CODEVASF)
Depois de algum tempo, de origem do Perímetro os 36 lotes, distribuídos a principio,
eram de 5 a 10 hectares, chegando alguns a 17 hectares. Esses últimos devido ao não apoio do
Estado, não conseguiram manter o lote, permitindo a CODEVASF - Companhia de
25
Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba redividir, ficando um total de 54 lotes
agrícolas.
É importante salientar, que mesmo após a divisão desses lotes, os problemas não
foram resolvidos, pois, sem a assistência do Estado, os camponeses continuam com
dificuldade para desenvolver a agricultura.
Para a recepção desses colonos, foi criada toda uma estrutura, a exemplo da vila
chamada até hoje de Projeto Mandacaru. A mesma, a principio, tinha posto de saúde, escola,
igreja e um espaço para instalação da cooperativa que servia de auxilio para os pequenos
produtores inexperientes.
As famílias que chegavam aos lotes, vinham apenas com a esperança de conseguir,
através da terra, o sustento da família, ou até, quem sabe conquistar uma melhoria de vida
para seus filhos, como, por exemplo, um bom estudo no futuro que estava por vir. Os
pequenos agricultores não traziam nada de valor além da força de trabalho, que para eles era
suficiente, mas estavam enraizados de uma identidade camponesa, onde praticavam
anteriormente técnicas simples na agricultura e, agora, estavam com um grande desafio,
adaptar- se ao processo capitalista, ao mercado e á concorrência.
A parte mais preocupante era a dificuldade que poderiam sofrer no início com a
produção da lavoura, pois, antes, a maioria dos agricultores plantavam cultivos da região
como feijão, milho, mandioca entre outros, apenas para a necessidade da família. Contudo, a
partir do Perímetro Mandacaru, começaram a plantar o que o mercado lhe exigia como
manga, goiaba, coco, acerola, banana, melão, cebola etc. Assim,
O sistema agrícola do agronegócio é distinto do sistema agrícola do
campesinato. No sistema agrícola do agronegócio, a acumulação, a
monocultura, o trabalho assalariado e a produção em grande escala são
uma das principais referências. No sistema agrícola camponês, a
reprodução, a biodiversidade, a predominância do trabalho familiar e a
produção em pequena escala são algumas das principais referências. Com
esta leitura estamos afirmando que o sistema agrícola camponês não é parte
do agronegócio. No entanto, como o capital controla a tecnologia, o
conhecimento, o mercado, as políticas agrícolas, os camponeses estão
subalternos a sua hegemonia. O campesinato pode produzir, a partir do
sistema agrícola do agronegócio, desde que o faça dentro dos limites
próprios das propriedades camponesas, no que se refere a área e á escala de
produção. Evidente que a participação do campesinato no sistema agrícola
do agronegócio é uma condição determinada pelo capital. (WELCH,
FERNANDES, 2008, p. 166)
26
No entanto, percebe-se que ambos vêm de um processo totalmente diferente, cada um
possui sua própria característica. Isso proveniente das suas raízes históricas. Os colonos, que
ali começaram a residir, já tinham um passado que foi deixado para trás a partir da criação do
chamado “moderno” desenvolvimento.
Entretanto, por ser o primeiro Perímetro implantado, como base de experiência para a
criação de outros, a ocupação aconteceu com pequenos agricultores para a obtenção de
resultados significativos com fins lucrativos, ou seja, interesses econômicos. Não foi uma
política visando à situação dos camponeses. Não houve a preocupação se, realmente, com
esse projeto, a melhora de vida seria significativa. O grande interesse da política de Estado era
transformar camponeses em agricultores familiares frente ao agronegócio, não estando nem
um pouco preocupado, se a solução do problema, ali existente seria resolvido.
2.1 A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL E A DESTERRITORIALIZAÇÃO
CAMPONESA
A concentração de riqueza, na sociedade capitalista, não diferencia dos dias atuais e
para obtê-la, a partir dos anos 1960, vários foram os setores explorados devido ao capital.
Desse modo, as pessoas aproveitam-se do “poder” para obter ganhos lucrativos.
Nos anos de 1970, houve um avanço na agricultura, quando a modernidade começa a
surgir e, através deste sinônimo de riqueza e desenvolvimento, surge a busca por formas ainda
mais avançadas para a exploração de produtos provenientes da terra, ou seja, da natureza.
Nesse caso, o capital se territorializa, explorando e precarizando o trabalho que se dá na terra.
Logo Houtart (2007, p.422), comenta: “o resultado é que agora todos os grupos humanos sem
exceção, estão submetidos á lei de valor”.
Entretanto, no jogo capitalista, ninguém está livre da exploração, nem mesmo o
agricultor que luta a cada dia para obter o seu sustento e ver o fruto real do seu trabalho. Mas,
de maneira contrária, a territorialização do capital se espalha por várias partes, deixando o
trabalhador dependente do mesmo para sobreviver.
Assim, o capital evolui à medida em que há exploração do trabalhador, ou seja, através
da mais-valia reproduz e acumula o capital, utilizando, como exemplo a partir da explicação
de Oliveira(2007), D – M – D, onde, através da produção, vende-se a mercadoria por um
preço mais alto, o que mostra a pura realidade do capital, que é viver em movimento, em um
sistema giratório e cada vez mais se territorializando.
27
A lógica da racionalidade instrumental das empresas, de modo geral, pulsa
os elementos constituintes da reestruturação produtiva do capital que, por
sua vez, planetariza/mundializa um conjunto articulado e simultâneo de
procedimentos e estratégias, para garantir a exequibilidade da acumulação
ampliada do capital, a monetarização das relações, dentro e fora do
trabalho, e os patamares crescentes de produtividade e competitividade
como mecanismos para rebaixar custos. (JÚNIOR, 2008, p. 327)
No entanto, com a intensificação do capital, muitas são as empresas que saem
privilegiadas, pois o mundo está completamente aliado á globalização, todos com um imenso
volume de avanços tecnológicos, em um mundo dito como “moderno” e com um sistema de
redes que visam sempre ao lucro.
Para que esse capital conseguisse chegar a diversas partes do Brasil, o Estado
proporcionou muitos incentivos, e várias empresas começaram a interessar-se pelo campo,
existindo, assim, a exploração de terras que pertenciam a pequenos agricultores. O Estado
aproveitou-se do Estatuto da Terra de 1964, que foi criado pela lei 4.504, conseguindo tirar as
pessoas que residiam nessas terras, argumentando que tudo isso era em favor do
“desenvolvimento” da agricultura; porém se sabe que os únicos privilegiados foram os
latifundiários.
Nos Perímetros Irrigados implantados pelo projeto do Estado, em Juazeiro-BA, (figura
2, p.28), o processo de expansão do capital não pode ser diferente. O mesmo começa a
territorializar-se em terras que pertenciam, antes da implantação desses Perímetros, á
pequenos fazendeiros da região, que possuíam pequenas propriedades de terra, esta realidade
é definida por Oliveira(1994, p.69).
Os planos de irrigação incentivados pela CODEVASF - Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco - pretendem expropriar
camponeses e não vão assentá-los nas terras irrigadas. O que está em jogo é
o acesso a terra que receberá os benefícios da irrigação.
28
FIGURA 2
Fonte: Imagens digitais Brasil 2009, Banco de dados IBGE.
Autoria e Elaboração: Santos, David Bezerra
29
São esses avanços que, contraditoriamente surgem a partir da expansão capitalista e,
no Perímetro irrigado Mandacaru, o processo não podia ser desigual. Na região, como era de
se esperar, existiam antigos moradores, que ali habitavam em pequenas fazendas e chegavam,
segundo Armando(1986) a 10 famílias. Os camponeses foram desterritorializados das terras
que pertenciam ao Estado. Em pesquisa de campo 2009, realizada para este trabalho,
verificou-se que só existe uma única família camponesa, que habitava a área no momento em
que o Perímetro Irrigado Mandacaru foi consolidado. As terras da “fazenda” foram
transferidas para a Codevasf, para que a “modernização” da agricultura ocorresse.
No entanto, percebemos que esse fato é tratado, como fala Marques (2008, p.49),
“vivemos um tempo acelerado marcado por intensas mudanças desencadeadas pelo processo
de mundialização do capital, com fortes consequências para as populações camponesas”.
Vários são os camponeses desterritorializados devido a muitas tecnologias implantadas no
campo, não podendo evitar uma das causas mais frequentes, que é a descampenização,
levando vários camponeses a assalariar-se por não terem outra alternativa, após a
territorialização do capital.
Há uma monarquia neste sistema, pois apenas alguns são beneficiados. Na realidade
enxergam-se contradições neste processo de territorialização capitalista, pois muitos seres
humanos são prejudicados e, em contrapartida, citamos o caso dos camponeses, que são
sufocados por empresas, e ficam sem ter como levar em frente a produção e, muito menos, em
conseguir a venda da sua colheita.
Mais que nunca o capitalismo destrói,[...] as duas fontes de sua riqueza: a
natureza e os seres humanos. Na verdade, a destruição ambiental afeta a
todos e a lei de valor hoje inclui a todos. A mercantilização domina a quase
totalidade das relações sociais, em campos cada vez mais numerosos como o
da saúde, da educação, da cultura, do esporte e da religião. Além disso, a
lógica capitalista tem sua intencionalidade.[...] O capitalismo globalizado
tem suas instituições: a OMC, o BM, o FMI, os bancos regionais e também
seus aparelhos ideológicos: meios de comunicação social cada vez mais
concentrados em poucas mãos. (HOUTART, 2007, p. 423)
Ressalta-se que, no Perímetro Irrigado Mandacaru, encontram-se duas vilas
conhecidas como “Vilas de Fora” por ser desmembrada do Perímetro: a primeira é a Juca
Viana I, (figura 3, p.30), e mais adiante, após o canal, que é via de acesso para irrigação do
30
Perímetro Mandacaru, está a Vila Juca Viana II, (figura 4, p.30), que foi criada à medida que
os camponeses chegavam para trabalhar como assalariados para os colonos.
FIGURA 3
Perímetro I. Mandacaru - Vila Juca Viana I
Foto: Gomes, Rozicleide/2009
FIGURA 4
Perímetro I. Mandacaru - Vila Juca Viana II Foto: Gomes, Rozicleide/2009
31
A partir da pesquisa de campo 2009, com moradores do Perímetro, percebe-se que
essas vilas foram criadas em terras que pertenciam a um médico. Hoje, o mesmo é falecido e,
por causa da evolução do Perímetro, essas terras acabaram sendo doadas. Assim, começou a
expansão das vilas, a partir da necessidade dos próprios colonos quando, em épocas de
colheita, precisavam de mais trabalhadores para ajudar na lavoura.
Neste momento, entra o trabalho acessório em que o camponês sai de sua terra e vai
em busca do trabalho assalariado temporário, apenas para complementar o sustento da
família. Esse período acontece muito em épocas de estiagem, pois as chuvas são poucas, não
tendo como desenvolver a produção para sustentar a família.
O Projeto Mandacaru está localizado logo após as duas vilas citadas e possui uma
guarita de acesso, o que a torna distinta da vila de fora. Portanto, ao ser explicado que existe,
de fato, a exclusão em grande parte da sociedade por meio da expansão capitalista, isso pode
ser comparado com a formação dessas vilas, pois os moradores que ali residem foram
expulsos de um processo, que se diz “moderno”, como se esse fosse para beneficio de todos;
no entanto, sabemos que são várias as controvérsias, quanto ao discurso em questão, a
territorialização do capital, se isso é bom ou ruim.
Os pequenos agricultores, que ali vivem como assalariados,
não
foram
desterritorializados e hoje ocupam tais vilas, por livre e espontânea vontade, mas sim porque
foram pressionados por um sistema que os deixa totalmente excluídos do chamado
“desenvolvimento”. Tal sistema veio apenas para beneficiar uma pequena parte da sociedade,
e os camponeses, por não haver outra alternativa, são obrigados a cumprir o que lhes sobra
neste perverso processo, que é viver subordinado ao próprio capital.
2.2 CAMPONESES OU AGRICULTORES FAMILIARES – A REALIDADE DO
PERÍMETRO IRRIGADO MANDACARU
Com a expansão capitalista no Nordeste, a partir de 1970, por meio da irrigação da
agricultura, os principais atingidos foram os camponeses. Muitos expropriados passaram a
ficar subordinados ao capital e á sua política.
O Perímetro Irrigado Mandacaru, tendo como base a realidade descrita, a expropriação
de camponeses, foi constituído com o intuito de inserir pequenos agricultores no modelo
“modernizador” os quais passaram a ocupar a área do Perímetro, acreditando-os que a
irrigação era a melhor opção diante da seca, que assola o sertão nordestino.
32
O Estado, quando distribuiu os lotes agrícolas para os colonos de Mandacaru, não se
preocupou em saber se tais camponeses estariam aptos a enfrentar esse caminho capitalista,
fez uma seleção árdua e se afastou por um período de menos de um ano, deixando os mesmos
criarem suas próprias estratégias de sobrevivência, frente a uma realidade que eles não
conheciam; a relação com o Banco foi uma delas. O Estado prepara agricultores para o
sistema capitalista.
Em pesquisa de campo/2009, realizada no Perímetro, foi constatado que, entre os
entrevistados, 72% dos colonos conseguiram pagar as dívidas. Esses foram considerados os
privilegiados, pois obtiveram sorte nas lavouras e, com o pequeno lucro vindo de outras
plantações, conseguiram liquidá-la, mas hoje, por consequência de safras perdidas, 28% dos
colonos ainda estão endividados e sem saber quando poderão pagar esta dívida.
As dificuldades enfrentadas no Perímetro Irrigado são muitas, particularmente no
Mandacaru, pois constata-se que dos 36 lotes distribuídos para pequenos agricultores, hoje só
existe, aproximadamente 20 colonos provenientes dessa época; os outros venderam as terras
porque não conseguiram se adaptar a tão difícil fase do Perímetro. Desse modo, o Estado
criou a irrigação para empresários. Assim Veltmeyer e Petras (2008, p.84) “sob estas
condições, uma grande e crescente parte da população em sociedade em desenvolvimento
mudou-se e tem se mudado do campo para as cidades”.
Muitos trabalhadores do campo lamentam sobre o fechamento da CAMPIM Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro Irrigado de Mandacaru. A mesma auxiliava os
pequenos produtores na venda dos produtos. Antes, os pequenos produtores plantavam o que
a Cooperativa ordenava, pois a mesma firmava contrato com as empresas, e isso servia como
garantia para os colonos, pois o que fosse plantado seria vendido. A Cooperativa inibia o
abuso das empresas, que exploravam os trabalhadores.
Nesse processo, percebemos que o sistema de irrigação está atrelado ao capitalismo, e,
nele, a terra é territorializada pelo capital a partir do momento em que as empresas entram na
agricultura, fazendo com que os camponeses sejam alienados e transformem a sua
produtividade simples e de qualidade em uma agricultura industrial cheia de insumos
agrícolas. Assim, para Houtart(2007, p.422), “Os trabalhadores estão submetidos ao capital
dentro do próprio processo de produção fazendo com que a classe operária seja totalmente
absorvida e igualmente constituída pelo capital”.
Há controvérsias, sobre a emancipação do Perímetro, em entrevista realizada com os
colonos, alguns relatam que o mesmo é emancipado, más em conversa com o presidente do
DIMAND, ele explica que não houve ainda essa emancipação, a CODEVASF se afastou por
33
um tempo, más hoje ainda esta ligada ao Perímetro. Então percebe-se que a Codevasf, por um
período, deixou os colonos sem a assistência necessária, argumentando que tinha outros
Perímetros para ajudar e que eles já podiam andar com as próprias pernas. O Banco, nessa
mesma época, não liberava crédito para esses agricultores, que, a partir dos anos 1990,
começa a enfrentar grandes crises. Mas o que se verificou é que o Estado parou de dar
assistência a esses pequenos colonos, o que foi comprovado em conversa com um agricultor
do Perímetro Mandacaru.
- O governo deu muito apoio para gente, mais hoje nós estamos
esperando o apoio do governo, do nosso Presidente da Republica, que
disse que tem empréstimo, só que nós estivemos em uma reunião, e
ficaram de liberar este dinheiro, até hoje, tem dinheiro para agricultura
“sim tem”, agora quero ver o seguinte, se este dinheiro existe porque
não chegou aqui, já que o presidente diz que tem. (L.V. S)
Percebe-se que os colonos, que ali residem, esperam a posição do Estado em relação à
assistência que deveria ser transferida para os Perímetros, como foi citado pelo entrevistado.
Em uma agricultura que o próprio Estado proporcionou, leva-se em consideração que a
criação deste Perímetro, por ser projeto piloto para os demais, deveria ser de exemplo. Em
contrapartida, sabe-se que esse “desenvolvimento” da agricultura trouxe benefícios apenas
para a política do agronegócio, ou seja, os empresários. Investimentos são liberados para a
agricultura, mas apenas para os latifundiários, enquanto os pequenos camponeses (figura 5,
p.34) são excluídos do processo capitalista.
34
FIGURA 5
Perímetro I. Mandacaru Foto: Gomes,Rozicleide/2009
Figura 5: Agricultor no Perímetro I. Mandacaru
No entanto a diferença dessa assistência está na garantia de investimento do capital, ou
seja, o crédito bancário está apenas para os que possuem empresas que geram o lucro e
garantam o giro do capital; não está em agricultores camponeses, que vão arriscar plantar, e o
Banco é o primeiro a dizer que não libera o crédito porque é uma plantação de risco, como
exemplo do melão, tomate, cebola, manga etc. Agora, para investimentos na uva e na cana-deaçúcar, existe linha de crédito.
Então Veltmeyer e Petras (2008, p. 85), argumentam que,
A diferença entre agricultores capitalistas e os camponeses aumentou:
primeiros, preparados para se ajustar ás novas condições e exigências;
últimos, afundando-se em dividas, pobreza e crise e em matéria
segurança social e de alimentação, para não falar dos meios
sobrevivência.
os
os
de
de
35
Hoje, sem a linha de crédito no Perímetro Irrigado Mandacaru, a única planta que
favorece a produção é a manga e, mesmo assim, precisa-se de investimentos, pois os insumos
agrícolas utilizados são de alto custo e, se não tiver dinheiro não, se consegue obter lucro,
podendo perder a colheita e obter prejuízos.
Ao realizar pesquisa 2009, para esse trabalho, verificou-se os problemas que assolam o
Perímetro Irrigado Mandacaru (figura 6, p. 35).
FIGURA 6
Fonte: Pesquisa de Campo/2009
Portanto, nota-se a realidade existente no Perímetro Irrigado Mandacaru, fruto da
modernização que não tem beneficiado os pequenos e sim os grandes. Desse modo, a tentativa
de transformar os camponeses5 em agricultores familiares6 não teve o resultado esperado, em
virtude de o próprio sistema do capital ser contraditório.
______________
5
É o fato de que ele corresponde a um modo de vida, a uma combinação de vários elementos. O instrumento
crucial para a sobrevivência deles é a economia familiar. A economia familiar é um elemento mais significativo
para compreendermos quem o camponês é do que um modelo de campesinidade. (SHANIN, 2008, p. 34)
6
Propõe a “integração ao capital e ao mercado” como formas modernas de desenvolvimento do campo,
aceitando políticas de compra e venda de terra como condição de acesso a terra. (FERNANDES, 2002, p. 69)
36
CAPÍTULO III
3 AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO COMO ALTERNATIVA
PARA A NÃO EXPROPRIAÇÃO CAMPONESA
A territorialização do capital na agricultura trouxe várias mudanças para campo, dentre
as quais podem ser citados os avanços tecnológicos, que são vistos em todas as partes do
mundo. Essa apropriação transforma a vida dos camponeses no período do plantio até a
colheita, de tal forma que os produtos colhidos anteriormente eram de grande qualidade. Hoje
devido à modernização, os mesmos transformaram-se em alimentos inseguros, pois colocam
em risco a vida da sociedade.
Com tais avanços, utilizados na agricultura irrigada, para ter garantia na colheita e
também o suficiente para conseguir uma venda acessível ao mercado, é preciso o uso de
insumos químicos, como os agrotóxicos. Logo, os agricultores familiares são obrigados a
enfrentar o mercado competitivo, além de serem submetidos a uma série de fatores que
colocam em risco a agricultura.
Assim, para Fabrini (2008, p.260) os camponeses são diferentes, “As relações
camponesas são marcadas por certa autonomia e controle do processo produtivo,
diferentemente do que ocorre na produção em escala do agronegócio, por exemplo”.
Esse processo “tecnológico” traz diferenças entre os camponeses: alguns têm sorte na
colheita e conseguem entrar nesse árduo processo sem sofrer grandes consequências, pois
possuem uma boa estrutura capaz de enfrentar o mundo capitalista; mas outros vivem
desestruturados por não conseguirem se livrar dos juros e dívidas provenientes desse sistema.
O Perímetro Irrigado Mandacaru está engajado nesse mesmo segmento, pois os
colonos, ali distribuídos, sofrem com a territorialização capitalista e estão excluídos deste, o
que lhes traz várias consequências, que são desfavoráveis á produção, Paulino(2008, p. 230)
afirma.
Entrementes, mesmo com essa benesse creditícia, os agricultores, em geral,
e os grandes tomadores de empréstimos, em particular, não têm honrando
os compromissos financeiros, sendo portadores de uma dívida astronômica.
[...] resultado de uma situação em que ano após ano, governo após governo,
assiste-se a uma mobilização do setor ruralista para adiar o pagamento, o
que tem conseguido, mediante acordos e securitizações nas quais o próprio
37
Estado reduz as já baixas taxas de juro incidentes, assumindo o pagamento
da diferença por se tratar de compromissos firmados por instituições
financeiras.
No entanto, essa é uma das dificuldades existentes entre os colonos do Perímetro, por
possuírem dividas passadas com o Banco. Hoje os mesmos não conseguem ter linha de
crédito, o que tem dificultado a permanência dos mesmos na terra. O Estado lhes
proporcionou a agricultura irrigada, mas não tem dado a assistência suficiente, o que prejudica
a produção. Não tendo como obter lucro, o ganho é mínimo e os colonos só conseguem
garantir o sustento e, muitas vezes não conseguem investir novamente.
Em entrevista com colonos em 2009, alguns motivos foram citados em relação á perda
da produção, que pode ser proveniente de pragas, excesso de chuva ou preço no mercado
abaixo do esperado, não valendo a pena colocar trabalhadores para colher e vender, pois, com
a venda, não conseguem pagar nem mesmo as despesas geradas na produção (figura 7, p. 37).
FIGURA 7
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009
Assim, os camponeses de Mandacaru são obrigados a buscar alternativas para
continuar nos lotes. Mesmo que haja prejuízos, é preciso arriscar com plantações como
cebola, melão dentre outros. Os agricultores são subordinados ao processo capitalista quando
pagam uma taxa mensal chamada de K1 á CODEVASF, que é para manutenção do Perímetro
38
com bombeamento e irrigação e o K2 é pago ao DIMAND – Distrito de Irrigação de
Mandacaru taxa essa que é calculada em cima dos hectares de terra adquiridos, que serve para
manter as despesas como funcionários, manutenção de estradas e drenos.
Então, se os agricultores ficarem sem movimentar parte do lote, as condições serão as
mínimas possíveis para a liquidação dessas taxas cobradas, ficando com débito ainda maior.
Esse processo desestrutura a vida dos camponeses e o trabalho que seria para beneficio da
família, transforma-se em trabalho de negócio, pois o pouco da renda adquirida passa a ser
transferida em beneficio do capital.
Entretanto, com o lote parado e sem as condições necessárias para manter, os
camponeses se veem forçados a arrendar parte de suas terras ou entrar em parceria, para
continuarem permanentes na terra (figura 8, p. 38).
FIGURA 8
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009
Os camponeses-rendeiros são quando há o trabalho de uso na terra, e o mesmo é
transferido ao proprietário o pagamento em dinheiro, tornando-se um rendeiro Oliveira(2001).
Normalmente, no Perímetro Irrigado Mandacaru, as pessoas que arrendam parte da terra dos
colonos, são camponeses que não possuem a terra ou que possuem terras em área de sequeiro.
Então os mesmos arrendam metade da terra, na esperança de adquirir no futuro condições
para comprá-la em um lugar que dê segurança para a família.
39
FIGURA 9
Área arrendada no Perímetro I. Mandacaru
Foto: Gomes, Rozicleide/2009
Os agricultores de Mandacaru procuram arrendar parte do lote para garantir a renda e
investimento na próxima lavoura, além de poder pagar as taxas que são mensalmente
cobradas, assim (figura 9, p.39) mostra no lado esquerdo uma área de 3 hectares de manga
arrendada, e no lado direito um plantio de banana do próprio agricultor, que é dono do lote.
Em pesquisa de campo 2009, com um funcionário do DIMAND – Distrito de Irrigação
de Mandacaru, o mesmo relatou que essa prática de arrendamento é muito perigosa, pois as
pessoas que arrendam esses lotes, na maioria das vezes, não tem responsabilidade nem
preocupação com a terra, o que prejudica o solo que já está desgastado devido a anos de
plantação e, com o arrendamento, piora mais a situação devido ao aumento de salinização por
consequência do mau uso do solo.
Embora grande parte trabalhe com a família e o lote seja dividido entre os filhos,
existem também colonos que entram com parceria, o que acontece através da união do
camponês com uma pessoa que possui renda suficiente para cobrir as despesas da lavoura, que
pode ser um colono mais bem sucedido ou pequeno capitalista que entra com o dinheiro e o
camponês com a mão de obra. Ao final são divididos os custos e ganhos. Esse processo de
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parceria é muito arriscado para o colono, porque, caso haja a perda da produção, o colono fica
endividado com o parceiro.
Logo, são várias as estratégias utilizadas pelos camponeses para a não expropriação.
Por meio de formas que garantam a sobrevivência da família, mesmo estando consciente da
realidade capitalista, que vem cheia de divergência, acarretando diferentes modos de luta e
conquista pela terra.
3.1 OS PEQUENOS AGRICULTORES E A SUA ORGANIZAÇÃO PARA
PERMANECER NA TERRA
No contexto do desenvolvimento capitalista, surgem vários paradigmas na sociedade
e inúmeras transformações para o campo, onde os camponeses vão sendo sufocados com esse
“novo” modelo que se diz transformador, mas que, na realidade, vem unido por um acelerado
sistema que os prejudica e assola ainda mais as desigualdades.
Após a implantação da agricultura irrigada, os agricultores familiares passaram a
enfrentar dificuldades com a nova lavoura, que exigia dos mesmos mais eficiência e
conhecimento, coisa que eles não sabiam. Os pequenos produtores anteriormente trabalhavam
para o sustento da família, e não dependiam de recursos externos para se manter na terra,
diferentemente dos dias atuais, assim afirma Marques (2008, p. 69).
A extração de excedentes da produção camponesa e sua manutenção como
unidade de produção mercantil simples implicam a redução de sua
capacidade de investimento e mudança estrutural de sua base produtiva e
têm tornado a unidade de produção doméstica dependente de recursos de
origem externa, seja do Estado, seja via sistema de crédito, para adequar-se
a novos padrões de produção.
No Perímetro Irrigado Mandacaru, esse perverso sistema não foi diferente. Os colonos
sofrem com essa “nova” forma de produção. Na realidade, eles estão vivendo o que foi
implantado pelo Estado, que tinha como objetivo principal aliená-los através da expansão
capitalista, mesmo sabendo que os camponeses não teriam a mínima condição de levar em
frente a lavoura, isso por não conseguir firmemente estar ligado ao mercado com grandes
competidores.
41
Com a situação a cada dia pior, os colonos do perímetro se associam á cooperativa
que, na época, chamava-se CAMPIM – Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro Irrigado de
Mandacaru, criada em 1973 para apoiar a comercialização dos produtos, onde começa a
incentivar os colonos da região a passar todas as responsabilidades da produção, desde o
plantio até a venda para a mesma. Todos os colonos sem alternativa, associaram-se colocando
toda a confiança nessa entidade.
A Cooperativa firma contrato com as empresas, começando a impor aos colonos as
regras reais do jogo, e, através deste processo, surge a exploração dos pequenos agricultores,
que passam a depender do capital para garantir sua existência.
A ação destas empresas configura [...], em áreas estratégicas e
monopolizam o território, ao determinarem o que ali será produzido,
estabelecendo acordos com os pequenos camponeses ou capitalistas que
passam a produzir e entregar seus produtos para serem processados por
elas, de acordo com os padrões e qualidade definidos no momento da
contratação. (MARCOS. 2008, p. 195)
No inicio, todos os colonos saíram satisfeitos com as vendas e lucros obtidos com
essa cooperativa, mas, com o tempo a mesma já não conseguia cumprir suas reais
responsabilidades e, como resultado, a CAMPIM fechou as portas e não conseguiu levar em
frente as contratações e nem pagar as dívidas existentes.
Após tal impasse, os colonos passam por diversas dificuldades, a começar por créditos
bancários, que nunca são liberados. Então, em 2000, foi criado o DIMAND - Distrito de
Irrigação de Mandacaru, e os colonos começam a participar de reuniões com o intuito de
melhorar a situação do Perímetro (figura 10, p.42).
FIGURA 10
42
Perímetro Irrigado Mandacaru
Foto: Gomes, Rozicleide/2009
Figura 10: Distrito de Irrigação de Mandacaru
Em fevereiro de 2008, surge a APPIM – Associação dos produtores do Perímetro
Irrigado Mandacaru, que só foi registrada em abril, com o objetivo de fortalecer
comercialmente o grupo de colonos em substituição da CAMPIM - Cooperativa Agrícola
Mista do Perímetro Irrigado de Mandacaru. Hoje, a APPIM possui 20 associados,
remanescentes da antiga cooperativa, que são submetidos por uma empresa a plantar acerola
(figura 11, p. 43), para a venda garantida no mercado industrial.
FIGURA 11
43
Perímetro Irrigado Mandacaru
Foto: Gomes, Rozicleide/2009
Figura 11: Acerola colhida para comercialização.
Por meio da entrevista com o presidente do DIMAND, em pesquisa 2009, o mesmo
explicou, que os outros colonos estão apenas participando de reuniões, porque a associação
está vendo a possibilidade de incluir os produtores de manga.
Em pesquisa de campo, realizada no Perímetro 2009, 20% dos colonos relatam que o
período de maior favorecimento da produção foi a época em que existia a Cooperativa, na
qual os mesmos plantavam com contrato firmado nas empresas e não corriam o risco de
perder a produção. Mas 28% argumentam que a cooperativa não é a solução do problema; a
causa da crise, na produção é a concorrência que tem aumentado nos últimos anos e, ainda
falam que as cooperativas são duvidosas, pois muitos, no perímetro, saíram prejudicados após
a existência da mesma.
Os camponeses recusam até mesmo as cooperativas agrícolas, consideradas
formas estranhas ao seu mundo comunitário e familiar, pois se pautam no
mundo conhecido e não na estranheza do além local, representado pela
agroindústria, cooperativa, coletivização e internacionalização da
economia. (FABRINI, 2008, p. 261)
44
A maioria dos produtores do Perímetro Irrigado Mandacaru, estão hoje desarticulados
comercialmente, e não fazem parte de nenhuma organização, ou seja, associação ou
cooperativa, grande parte dos agricultores comercializam com parceiros ou arrendatários. A
APPIM hoje, apenas apóia a comercialização da acerola, e os produtores fornecem as mesmas
para a indústria.
No entanto, é nesse contexto de territorialização capitalista que se percebe a realidade
dos camponeses, que, aos poucos, são obrigados a participar de um sistema totalmente
contraditório, em que o capital se apropria da agricultura para beneficio próprio. Sabe-se, no
entanto, que, desde os primórdios, os únicos beneficiados são os que têm “poder”.
Portanto, em meio a esse processo devastador, os camponeses vão em busca de formas
que assegurem a sua existência, mesmo que, para isso os mesmos tenham que ser
subordinados ao capital, mas, em contrapartida, garantem a sua permanência na terra.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração desta pesquisa foi muito importante, pois é um trabalho que possibilita
compreender os problemas gerados com a expansão capitalista, em especial no campo, que foi
o tema em discurso. Explica-se, no decorrer do estudo, a terra, como fonte de fundamental
importância para humanidade, a qual jamais deve ser restrita, ou seja, ser de beneficio apenas
para os autoritários do “poder” ou servir de mercadoria para exploração dos que nela residem,
como forma de substituir a aquisição da terra, que é um direito de todos sem que haja
limitações.
No entanto, percebe-se que o Estado não teve interesse em criar o Perímetro Irrigado
Mandacaru para beneficio dos camponeses, mas sim, para servir de artifício para formação de
vários outros, não só no vale do São Francisco, mas também em todas as regiões do Nordeste.
E que, através da experiência primária com tal perímetro, pode saber as táticas melhores para
desenvolvimento do novo, ou seja, do agronegócio regional, na qual veio para benefício dos
grandes empresários, que se aproveitam de tais investimentos para explorar camponeses e, por
consequência do próprio sistema, deixa-os, na maioria das vezes, sem alternativas, devido à
ampliação do capital.
Entretanto, esta pesquisa serviu para demonstrar dados que foram sendo conhecidos à
medida que a pesquisa evoluía sobre a problemática e que só confirmaram os fatos e a
realidade dos colonos no Perímetro. Cada membro, ao receber os lotes, jamais imaginava que
por decorrência do próprio sistema, seriam jogados a própria sorte sem perspectiva de vida e
sem saber como seria o futuro; a certeza que tinham era a garantia e o sustento da família
como única forma de sobrevivência.
Assim, o Estado implanta projetos apontados como “modernizadores” ao mesmo
tempo em que desterritorializa camponeses, além de correr o risco da descampesinação, ou
seja, por ser transferido do seu lugar de origem com características próprias do ser camponês,
passa a ser transferido para viver da maneira que o Estado lhes proporciona e a partir de tal
objetivo, divulga na mídia que o Nordeste está desenvolvido. Isso devido a avanços na
irrigação e investimentos políticos.
Em contrapartida, está o camponês em busca de alternativas que garantam a sua
permanência na terra, pois é deste lugar que tira seu próprio alimento. Portanto para este
governo ditatorial, tal camponês não deve ser considerado um atraso, um passado ou até
mesmo um arcaico, pois é através do mesmo que famílias brasileiras se alimentam, porque se
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for depender dessa política do agronegócio, os frutos produzidos serão apenas para
exportação, enquanto a sociedade fica marginalizada, na pura miséria devido à culpa do
sistema em ser totalmente contraditório.
A contribuição apresentada ao Perímetro Irrigado Mandacaru é que através, desta
pesquisa, possa haver uma retrospectiva sobre como foi inserido esse “novo” pelo Estado,
assim como foi mostrada a situação atual desses camponeses no mundo globalizado, e, que a
partir de tal conhecimento exposto, as políticas passem a valorizar o camponês não só com
um ser social, mas também como classe que vive do trabalho e que não explora o trabalho
alheio.
Portanto, tem que destacar a necessidade de uma política agrária, não só utópica como
foi citada no decorrer dos capítulos, que apenas assenta famílias camponesas em lotes
agrícolas, sem dar assistência necessária, e diz que fez a maior política do Estado, pois se sabe
que, de fato, esta política nunca foi concretizada, continuando até hoje somente como um
mero “simulacro”.
47
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50
ANEXOS
51
QUESTIONÁRIO
1. Nome?
________________________________________________________________________
2. Idade? ______________________
3. Qual o nível de escolaridade?
(
(
(
(
(
(
) Ensino Fundamental Incompleto
) Ensino Fundamental Completo
) Ensino Médio Incompleto
) Ensino Médio Completo
) Ensino Superior
) Outro
4. O que fez sair de sua terra, deixando para traz suas raízes, o ser camponês?
( ) Perda da Terra
( ) Venda da Terra
( ) Terra da família. Exemplo: Terra pertencia ao pai
( ) A seca
( ) Outro motivo
Qual?____________________________________________________________
5. Como ficou sabendo da seleção para adquirir um lote no Perímetro Irrigado Mandacaru?
(
(
(
(
(
) Rádio
) TV
) Cartaz
) Amigos
) Familiares
6. A seleção foi justa?
( ) Sim
( ) Não. Por quê?_______________________________________________________
7. Mora a quanto tempo no Perímetro?
_________________________________
8. O que ganha dá para garantir seu sustento?
( ) Sim
( ) Não
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9. Quais as dificuldades encontradas no Perímetro?
( ) Auto custo de insumos
( ) Água
( ) Energia
( ) Falta de assistência.
Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
10. Qual o melhor momento no Perímetro que favoreceu a produção?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
11. Tem relação com o Banco? Qual?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
12. Com sua produção consegue ter lucro?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
13. Você considera-se um camponês? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
14. Você preferia está no seu lugar de origem ou aqui? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
53
15. Antes do Perímetro o que existia aqui?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
16. Qual sua relação com a CODEVASF?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
17. O que acha da Agricultura Irrigada?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
18. Para você o Perímetro hoje, está bom ou precisa melhorar? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
19.Você venderia sua terra?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
21. O que espera do futuro, como agricultor?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
22. Sua terra hoje é arrendada? Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
23. Quem arrendou?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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a expansão do capital e a expropriação camponesa no perímetro