CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PSICOLOGIA CLÍNICA NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL INFANTIL Andressa Santos Ana Paula Vieira Bruna Danzig O comportamento antissocial é definido pelo DSM-IV (APA,1995) como um padrão de comportamento persistente e repetitivo de violação de direitos básicos de outras pessoas bem como de regras sociais importantes para a idade. Em crianças esse padrão pode ser visto como um evento aversivo e contingente, pois a criança apresenta comportamentos aversivos contingentes àquilo que é apresentado pelas outras pessoas. Exemplos desses eventos são: fazer birra, gritar, ameaçar, bater, desobedecer entre outros. (Marinho, 2003). Uma pergunta que pode então surgir é porque o comportamento antissocial infantil se instala? Pesquisas (Patterson, Reid & Eddy, 2002; Kazdin, 1993; Loeber & Dishion, 1983 apud Marinho, 2003) demonstram que as características do ambiente familiar de uma criança que apresenta este comportamento são comumente padrões de disciplina severa e inconsistente, pouco envolvimento positivo com a criança e monitoramento baixo de suas atividades. Essas características podem implicar na falta de aprendizagem da criança e na falta de manutenção de comportamentos socialmente aceitos, além de reforçar o comportamento coercitivo das mesmas. 2 O comportamento anti-social em crianças pode ser entendido como uma fuga daquilo que os outros membros da família pedem e ela não deseja realizar, como ordens, regras entre outros. (Marinho, 2003). Com a instalação desse tipo de comportamento, outros, socialmente aceitos, podem não se instalar pela falta de reforço. Há a ideia de que a delinquência seja marcada por uma sequência de fatos mais ou menos previsível: práticas de ação ineficientes por parte dos pais; posteriormente, o fracasso acadêmico da criança, visto que a falta de obediência e de autocontrole podem obstruir o aprendizado; a rejeição pelos colegas, provavelmente causada pelo comportamento agressivo da criança, resultando no aumento do risco de depressão e envolvimento com grupos de “rejeitados”, normalmente no início da adolescência. (Patterson, Reid & Dishion, 1992; Patterson, DeBaryshe & Ramsey, 1989; Reid, Patterson & Snyder, 2002 apud Marinho, 2002). A respeito da relação com os pais, Bolsoni-Silva (2003) e Cowan, Cohn, Cowan e Pearson (1996) mostram que quando os pais são socialmente habilidosos, demonstrando carinho através de contato físico e conversando com os filhos, eles apresentam menos riscos quanto ao surgimento de problemas de comportamento e agem de maneira habilidosa em suas relações interpessoais. (...) ao expressar sentimentos negativos de modo não habilidoso, os pais são modelo para que as crianças reajam de modo semelhante, apresentando comportamentos não habilidosos ativos, tais como agressividade, gritar, bater e espernear. Estes comportamentos não contribuem para o estabelecimento de vínculos afetivos entre os pais e seus filhos, assim como apontado por Bolsoni-Silva e Marturano (2002). Tais conclusões vão ao encontro dos estudos de Brioso e Sarria (1995), Conte (1997), Kaiser e Hester (1997), Kaplan, Sadock e Grebb (1997), Patterson, DeBaryshe e Ramsey (1989), Webster-Stratton (1997), que reiteram a hipótese de haver relação entre as variáveis repertório comportamental de pais e problemas de comportamento dos filhos (Bolsoni-Silva, Paiva e Barbosa, 2009, p. 179). Além da relação com os pais, outro tipo de relação que pode influenciar a evolução do comportamento da criança tanto para o antissocial, quanto para o socialmente aceito é a relação com os pares, pois na interação com estes a criança estará 3 exposta a novos modelos e poderá escolher aquele que se ajusta a seu repertório. (Marinho, 2002). Dentre os comportamentos que compõem a classe dos comportamentos antissociais, é possível citar a desobediência crônica, o comportamento agressivo e o comportamento de birra. Acerca desta última subclasse, um estudo realizado por Bolsoni-Silva, Paiva e Barbosa (2009) revela que o comportamento de birra dos filhos pode estar funcionalmente relacionado à inconsistência dos pais/cuidadores, pois, frequentemente, quando os pedidos das crianças/adolescentes são negados por eles, estes apresentam comportamentos de choro, grito, jogar-se no chão, insistindo nas suas necessidades; momentos em que os cuidadores acabam por ceder e atendem o que outrora fora negado, caracterizando, assim, a inconsistência do seu comportamento e oferecendo, aos filhos, reforçador intermitente, bastante poderoso na manutenção de respostas (p. 178-179). Alternativas de intervenção em casos de comportamento anti-social infantil podem ser encontradas nos resultados dos estudos de Bolsoni-Silva e Marturano (2008) acerca de habilidades sociais educativas parentais e problemas de comportamentos. Tais estudos apontam que a resolução de problemas comportamentais de filhos, em geral birras e agressividade, deveria estar baseada não só no manejo de comportamentos (Brestan, Jacobs, Rayfield, & Eyberg, 1999; Jouriles, McDonald, Spiller, Norwood, Swank, Stephens, N., Ware & Buzy, 2001; Ruma, Burke, & Thompson, 1996; Sanders, Markie-Dadds, Tully, & Bor, 2000 apud Bolsoni-Silva e Marturano, 2009); um programa para pais de crianças com problemas de comportamento deveria incluir também um treino de habilidades sociais educativas como medida preventiva de problemas, levando-se em conta que possivelmente os pais poderiam utilizar-se de tais habilidades para resolver os problemas e dar atenção aos filhos. As crianças, então, contariam com um modelo a ser observado e também haveria a possibilidade de que os comportamentos infantis fossem modelados em diferentes habilidades sociais, de modo 4 que as crianças não precisariam exibir comportamentos problemáticos para obter reforçadores (Goldiamond, 1974/2002 apud Bolsoni-Silva e Marturano, 2009). Acerca do exposto, o que se pode presumir é que o comportamento antissocial infantil tenha sua origem em casa, passando pela escola e em alguns casos evoluindo para a adolescência e culminando por vezes no comportamento delinquente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bolsoni-Silva, A. T; Marturano, E. M. (2009). Habilidades sociais educativas parentais e problemas de comportamento: comparando pais e mães de pré-escolares. Aletheia (27), p. 126-138. Recuperado em 21 de maio de 2012 de <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14130394200800010001 0&lng=pt&nrm=iso>. Bolsoni-Silva, A.T.; Paiva, M. M.; Barbosa, C. G. (2009) Problemas de comportamentos de crianças/adolescentes e dificuldades de pais/cuidadores: um estudo de caracterização. Psicologia Clínica, 21 (1), p. 169-184. Recuperado em 21 de maio de 2012 de <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 56652009000100012&lng=en&nrm=iso>. Marinho, M. L. (2003) Comportamento anti-social infantil: Questões teóricas e de pesquisa. In: A. Del Prette & Z. A. P. Del Prette (Orgs.). Habilidades Sociais, Desenvolvimento e Aprendizagem: questões conceituais, avaliação e intervenção. Campinas, Sp: Alínea.