Responsabilidade Social sob pressão A Responsabilidade Social Corporativa atualmente é uma daquelas idéias que ninguém consegue ir contra. Como ser contra fazer as coisas certas? Como ser contra a idéia de investir na comunidade, com tal abismo social no Brasil? Como ser contra oferecer saúde e segurança nos produtos e serviços que se vende ao consumidor? Como ser contra ações de diminuição de impacto ambiental que as empresas causam? Como ser contra o conceito de valorização do colaborador, do tratamento igual para os sexos, do respeito aos direitos dos trabalhadores? Resposta: não há como. No contexto de avanço civilizatório que vivemos não há como defender privilégios, ter visões discriminatórias e não pensar na coletividade ao se tomar decisões. Não é mais aceitável para a sociedade que as empresas adotem posturas arrogantes e não consultem as partes interessadas quando suas decisões as afetam. Claro que existem indicativos do contrário também. O segmento de pequenas empresas, que representa a maior parte do universo organizacional, luta apenas pela sua sobrevivência, com limitação em várias situações, de adequação ao comportamento socialmente responsável. Nas grandes e reconhecidas, o comportamento ético também falha, com conseqüências avassaladoras. Grandes desastres ambientais, como os do navio Exxon Valdez, no Alasca e da Union Carbide (com dois mil mortos), em Bhopal, na Índia, deixaram seqüelas irreparáveis. As colossais fraudes contábeis, como as da Enron, WorldCom e agora Parmalat, têm afetado as economias de milhares de pequenos investidores. Mesmo assim, se não é a ideal, a postura das empresas hoje é muito mais consciente do que há 50, 100 ou 200 anos atrás. Mas como isto aconteceu? Como as empresas “tornaram-se” mais conscientes? Certamente não foi por uma atitude voluntária. Lembremos que no auge da 2ª revolução industrial, homens, mulheres e até crianças eram obrigados a trabalhar até 20 horas por dia, às vezes sem direito a pausa para a refeição. A falta de segurança e a insalubridade nas condições de trabalho eram a regra e afetavam severamente a saúde dos trabalhadores. Os dejetos químicos do processo de produção eram jogados nos rios sem qualquer preocupação. As comunidades representavam tão somente uma fonte de mão-de-obra barata e quando muito, consumidores dos produtos produzidos pelas fábricas. Em uma reação contra o excesso das empresas, a sociedade começa a se organizar para buscar instrumentos institucionais para controlar sua ação. Esse processo durou uma parte do século XIX e todo o século XX, período em que foram criadas as leis que estabeleceram direitos aos funcionários, como a livre associação para defesa de seus interesses, as leis trabalhistas, as leis que protegem os consumidores contra a má qualidade de produtos, propaganda enganosa, as leis ambientais, que punem com rigor empresas que agridem o meio ambiente, etc. Portanto, pode-se observar que a RSC não é apenas uma oportunidade mercadológica como alguns colocam e também não é um movimento voluntário das organizações empresariais como os mais apaixonados querem crer, mas sim um processo histórico de pressão da sociedade visando estabelecer limites à forma de exploração que as empresas produzem e responsabilidades mínimas em relação aos envolvidos e atingidos pelo seu processo produtivo. Alceu Terra Nascimento Márcio Milleto Mostardeiro