Ao Presidente da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável Joanesburgo, África do Sul, 27 de agosto 2002 Caro Presidente Thabo Mbeki, Conforme informamos na semana passada, o Greenpeace lançou hoje, durante a Cúpula, uma exposição de fotografias de Bhopal (Índia) do renomado fotógrafo Ragu Rai. O objetivo da exposição é pedir que os governos presentes na Cúpula se comprometam com um instrumento internacional de responsabilidade corporativa capaz de acabar com os abusos ambientais cometidos por empresas e indústrias. Mais do que qualquer outro desastre causado por atividades corporativas, o caso de Bhopal destaca a falha das empresas em observar padrões básicos para garantir a decência dos seres humanos. O caso também reflete o fracasso dos governos em proteger e apoiar o bem-estar público contra as transgressões corporativas. Até hoje, 20.000 pessoas morreram em decorrência da exposição aos gases. Os efeitos do desastre estão agora se estendendo as gerações seguintes. 2001 foi o ano da fusão da Dow Química e da Union Carbide e marcou o surgimento da maior indústria química do mundo. Ao comprar a Union Carbide, a Dow herdou não apenas seus ativos e lucros, mas também suas responsabilidades e dívidas. Até agora, a Dow não deu nenhum sinal de que assumirá a responsabilidade pelo legado de Bhopal. E existem outros casos como o de Bhopal ao redor de todo o mundo. No Brasil, a Shell – uma gigante do petróleo – contaminou o solo, as reservas de água subterrâneas e a população nas redondezas de Paulínia e da Vila Carioca, no estado de São Paulo. Apesar da pressão pública e de ações legais que resultaram em pequenas multas, a Shell não descontaminou as áreas e tampouco compensou as vítimas pelos danos causados. Na África do Sul há exemplos similares de contaminação por mercúrio pela Thor Chemicals em Cato Ridge e de contaminação por asbestos pela Cape Industries em todo o país. Casos como estes estão acontecendo em todos os continentes do planeta e mostram a urgência e a necessidade de um instrumento internacional de regulamentação da responsabilidade corporativa. Como já discutimos com o senhor anteriormente, esse é um objetivo fundamental para a Cúpula e depende de seu apoio para ser alcançado. Anexado, o senhor encontrará o relatório “Crimes Ambientais Corporativos”, que compila 48 casos de abusos corporativos. Atenciosamente, Remi Parmentier Diretor Político Greenpeace Internacional