Desenvolvimento Agrário e Agrícola Brasileiro Prof. Dr. Luiz Manoel de Almeida Feagri-Unicamp NOVAS CONCEPÇÕES RECENTES DA AGRICULTURA BRASILEIRA AGRONEGÓCIO; FILIÉRE; SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS; COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS; CADEIAS AGROINDUSTRIAIS; CADEIAS DE SUPRIMENTOS; REDES DE PODER AGROINDUSTRIAIS; MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA (D1); AGROINDUSTRIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO; MUDANÇA NO PADRÃO DE CONSUMO; ENCADEAMENTO TECNO-PRODUTIVO; DINÂMICA VOLTADA PARA O MERCADO EXTERNO; CAPITAL FINANCEIRO NO CAMPO; DIRECIONADORES DE COMPETITIVIDADE; RECORTE SETORIAL E LOCAL; IMPACTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS; E NOVO PADRÃO AGRÍCOLA (PLURIATIVIDADE; RURBANO; POLÍTICAS PÚBLICAS, ENTRE OUTROS MOVIMNETOS). Desenvolvimento Agrário Brasileiro 1) Do complexo rural aos complexos agroindustriais; 2) Interpretações Clássicas do desenvolvimento agrário brasileiro (o prevalecer da visão modernizante); 3) Tese Neo-Clássica da Inovação na Agricultura Brasileira (modernizante); 4) A gestão das políticas na agricultura brasileira moderna; 5) Interpretações Recentes: (Agronegócio, Filiére, Cadeias, SAIs, Complexos Agroindustriais, Redes de Poder e de Empresas, Custos de Transação etc.); 6) Pluriatividade no campo; 7) Elementos da Competitividade da agroindústria brasileira: os direcionadores de competitividade amparado nas teorias (de economia industrial de economia dos custos de transação (ambiente institucional, de cadeia, de suply chain); Trabalho Final: um estudo de cadeia regional ou nacional amparado nesses direcionadores (aprimorados). Do complexo rural aos complexos agroindustriais Agricultura segue o caminho da indústria Ciência Econômica – Como o progresso técnico orienta o desenvolvimento econômico? Natureza Espaço Tempo Riqueza da Terra Potencial natural de cada agricultura A maneira de fazer o trabalho Especialização do Do trabalho O controle do trabalho: Inovações Tecnológicas e as mudanças na Organização do Trabalho Dotação Natural Especialização Acumulação Do complexo rural aos complexos agroindustriais Fábrica Verde: o padrão fordista alcança a agricultura Engenharia de Produção: O fordismo é "o padrão " produtivo ou é mais "um padrão" da agricultura? Agricultura autônoma Produção primária e extensiva Produtos naturais Baixa utilização de insumos químicos Agricultura Integrada Produção intensiva Produtos massificados Produtos padronizados Modernização da agricultura brasileira Anos 50: elevação do uso de insumos modernos D1 para a Agricultura (máquinas, Insumos etc.) 1955/65: implantação do D1 geral da economia (industrialização Pesada) Agricultura moderna Industrialização da agricultura CAIs 1965/75: internalização do D1 para a agricultura Agroindústrias oligopólicas 1975/85: integração de capitais Novo padrão agrícola Modernização da agricultura brasileira Questão Agrícola O que produzir ? Quanto produzir ? Onde produzir ? Questão Agrária Como produzir ? De que forma produzir ? CAIs – industrialização da agricultura e agroindustrialização -Elevações da produção e da produtividade - Vantagens comparativas de muitas cadeias agroindustriais no comércio agrícola internacional -Ampliação da concentração da estrutura fundiária; - Queda do nível de renda de pequenos agricultores e trabalhadores rurais; - Impactos negativos no emprego agrícola Visões teóricas da inovação na agricultura Neoclássica : “teoria da modernização induzida”; “modelo da oferta e demanda”; “processo de causação circular” e “utilização de insumos modernos”; Marxista : “processo de tesoura de preços” e “o processo de transferência do pacote tecnológico ao setor agrícola”; Ótica Shumpeteriana: “teoria evolucionista – desenvolvimento surgem pelas forças internas”. Avanços atuais no debate da inovação tecnológica A questões da crise do paradigma produtivista; Os impactos sociais e ambientais no Brasil; Princípios do atual modelo de Boyer: apóia-se nas tendências de países como Japão e Alemanha, no qual, contribuem para resolver a crise do velho modelo produtivo; Mudanças na base de sustentação do paradigma; Inovações tecnológicas em curso; e, Três cenários distintos para o futuro tecnológico da agricultura. Visão Neoclássica “teoria da modernização induzida” Baseia-se nos estudos de Hayami (1971) e Ruttan (1988): inovações tecnológicas surgem em decorrência da escassez de fatores produtivos, o que refletiria nos preços relativos; Marco na explicação da inovação tecnológica na agricultura → origem ao processo de modernização tecnológica em vários países do mundo, inclusive no Brasil; Serve como base para a explicação a nãomodernização da agricultura brasileira até a década de 50 (abundância de fatores produtivos terra e mão-de-obra), e, também, para explicar o seu surgimento a partir dos meados da década seguinte. Processo da “Teoria da modernização induzida” Processo: Escassez de fatores produtivos Desenvolver novas técnicas de pesquisas Absorvidos pelos agentes de produção Aumento de Preços sinalizados via mercado Pesquisadores e Órgãos de pesquisas – conhecimentos e financiamentos subsidiados do Estado Inovações Tecnológicas Rentabilidade Principal contribuição dos autores Neoclássicos A geração de um bem público, no caso da inovação tecnológica na agricultura, enseja a criação de grupos de interesse que serão os maiores beneficiados com os frutos gerados nesse processo. Quanto mais consistente e organizado for esse grupo, maiores as condições de “dirigir” os trabalhos de pesquisas agropecuário em direção a projetos que atendam a seus interesse (poder político); A capacidade que as empresas oligopólicas ou monopólicas têm a regular a introdução de inovações no mercado de maneira a assegurar o seu lucro máximo Visão da Teoria Marxista Alberto Passos Guimarães: A agricultura é um setor pulverizado (setor de não oligopólio) e inter-relacionada com os setores D1 (num mercado oligopólico) e o setor processador (num mercado oligopsônico) “Tesoura de Preços”: papel de subordinação da agricultura dentro dos interesses (financeiros ou tecnológicos) gerais do Brasil; Apoio do Estado aos grupos de interesses com maior poder; Estratégia bem orquestrada e que gerou a modernização da agricultura brasileira nos anos 60 e 70 (bojo da criação da Embrapa); Até esse momento histórico, a agricultura representava 30% da renda nacional e um baixíssimo nível tecnológico; Nesse contexto se constituiu a base para a teoria da transferência externa do pacote tecnológico para a agricultura brasileira (processo imposto de fora para dentro); Processo de transferência do pacote tecnológico ao setor agrícola Modernização da agricultura brasileira (Figura Ativa do Estado); “Uso de formas tecnológica”: é o uso de inovações embutidas em máquinas, equipamentos ou produtos químicos que influencia e induzem o uso de inovações na agricultura, numa transferência externa de outros setores que se relaciona. Esse processo é maior quanto maior a diferença de poder entre os setores. Venda ou transferência de pacote tecnológico ao setor agrícola, buscando a reprodução do seu capital (de um lado venda de tecnologia (agricultura detinha 1/3 da renda nacional, e, de outro, a busca de produtividade industrial). Ótica Shumpeteriana Lógica do desenvolvimento econômico: introdução de inovações tecnológicas (conceito evolutivo) – mudanças sejam pelas iniciativas das forças internas; Como se explica o desenvolvimento do setor agrícola com a transferência do pacote tecnológico pelas forças externas??? O que aconteceu: a modernização tecnológica provocou alterações no processo produtivo, na estrutura agrária (posse e uso da terra), na realidade demográfica (urbanização), na distribuição de renda etc. 1. Momento: Isto não foi interno e sim uma transformação causada de fora (força externa); 2. Momento: esta realidade que foi transformada de forma brusca e profunda, continua a caminhar (dentro de novos parâmetros) buscando a melhor adaptação possível e os melhores resultados econômicos. Neste momento, já é o setor que busca o seu próprio desenvolvimento (evolução interna – próprias forças); Cenário da Ótica Shumpeteriana A inovação na agricultura ocorreu porque havia possibilidades de lucros das empresas (grupos de interesse mais fortes), sendo esse lucro proveniente das políticas de subsídios do Estado; Agricultores? Passageiros nesse processo, atraídos pela fatia dos ganhos financeiros; Conceito Shumpeteriano: a maciça introdução de inovação durante a modernização não foi um fenômeno próprio do desenvolvimento agrícola (décadas de 60 e 70); Década de 80: movimentos e a introdução de inovações apresentaram outras características que estão mais ligadas mais aos interesses e necessidades rurais. Eles refletem e incorporam as críticas em nível técnico, social, econômico e ecológico que levam alterações na gestão dessas inovações; Ruptura ao modelo antigo ou evolução adaptativa? - Crise do Paradigma Produtivista - Questões Ele está em crise ? Explicação favorável, por dois fatores muito correlacionados: 1. Os impactos sócio-ambientais, com as conseqüentes queda da produtividade; e, 2. As mudanças nos pontos de sustentação do paradigma em questão. ??? Questões considerando este quadro: 1. Será esta crise resolvida através de inovações incrementais, mantendo-se a trajetória tecnológica e organizacional; e, 2. Ou faz-se necessário o aparecimento de uma inovação radical que leve um novo paradigma tecnológico e industrial para a agricultura. Os impactos sociais no Brasil 1. 2. 3. 4. Conseqüências: Produção simultânea de riqueza e miséria; Utilização de diferentes níveis tecnológicos nas diferentes regiões e produtos; As formas desiguais de tratamento nas relações de trabalho, apresentando modernas relações contrapostas a situações de desrespeitos às condições mínimas e legais de trabalho, em todas as regiões do país; Por um lado houve: ampliação da produção agrícola, elevação da oferta de matérias primas, ampliação do mercado interno para produção industrial etc. Por outro lado: gigantes disparidades regionais agravaram o problema do subemprego e do desemprego. Discussão dos impactos sócioambientais do paradigma produtivista no Brasil e a mudança de atuação da Engenharia Agrícola diante desse cenário Mudanças na base de sustentação do paradigma; Quais as Inovações tecnológicas em curso; e, Quais cenários distintos para o futuro tecnológico da agricultura. Complexos Agroindustriais S.A.I. INDÚSTRIAS DE APOIO Nao Alimentar Alimentar Transportes Combustiveis Industria Quimica Industria Mecanica Producao Transformacao Ind. Eletrodomesticos Embalagens Agricultura Outros Serviços I.A.A. Pecuaria Pesca Exploracao Florestal Industria do fumo Distrib. Couros e peles Varejo Atacado. R.H. Textil Moveis Papel e papelao C.P.A. 1 P R O D U Ç Ã O D E C.P.A. 2 INSUMOS OPERAÇÃO 1 INSUMOS INSUMOS OPERAÇÃO 2 OPERAÇÃO 3 OPERAÇÃO 5 OPERAÇÃO 6 M P I N D U S T R I A L I Z A Ç Ã O C O M E R C I A L I Z A Ç Ã O A OPERAÇÃO 4 cad eia de pro duç ão agr oinOPERAÇÃO 9 dus tria l OPERAÇÃO 7 OPERAÇÃO 8 OPERAÇÃO 10 OPERAÇÃO 11 OPERAÇÃO 12 PRODUTO 1 OPERAÇÃO 13 PRODUTO 2 PRODUTO 3 CADEIA PRODUTIVA DO LEITE – Quantificaç Quantificação BRASIL – Milhões Reais (R$ 66,21 bilhões) C O Cafeterias N Padarias ( R$ 3.250) 3.250) U S Indú Indústrias Leite UHT ( R$ 5.874) 5.874) M Supermerc. ( R$ 15.500) 15.500) Leite Pasteur. ( R$ 1.431) 1.431) D Cooperativa ( R$ 5.000) 5.000) Hipermercados Conveniência Creme de Leite (R$ ( R$ 564) 564) 22 Melhoramento Gené Genético (R$ 43,9) Queijo ( R$ 5.544 ) Raç Ração e Concentrado (R$ 2.143) F A T Mercado Institucional PLF (R$ (R$ 2.549) 2.549) I N A C Refeiç Refeições Coletivas A L A Vacas/Novilhas (R$ 4.304) D Sorveterias O Produtor Independente (R$ 12.450) 12.450) Volumoso (R$ 176,8) O R Leite em Pó Pó ( R$ 3.654) 3.654) Produtos Veteriná Veterinários (R$ 243) I Ordenha e Refriger. Refriger. (R$ 224,5) E. Plá Plásticas Outros Manteiga ( R$ 441) 441) Leite Condensado (R$ (R$ 862) 862) Importaç Importações Outros Equipamentos E. de Vidro Doces E Sementes (R$ 88,2) Adubos e Defensivos (R$ 79,7) E. Cartonadas (R$ 1.408) 1.408) Panificados Lâminas/Alum. Sorvete ( R$ 2.441) 2.441) Energia (R$ (R$ 15) 15) Chocolate ( R$ 1.966 ) X P Tradings O R T A Ç Equip. Industr. Õ Importaç Importações de Lácteos (R$ (R$ 245) 245) E CÂMARA SETORIAL DE LEITE E DERIVADOS SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO S R$ 278 SCOT CONSULTORIA 1 Agentes Facilitadores (não compram e vendem, apenas prestam servi serviços) Transportadoras de leite: 995 Combustí Combustíveis para transporte do leite: 390 Mão de obra nas fazendas: 1.761 Sistema Agroindustrial Um sistema de commodities engloba todos os atores envolvidos com a produção, processamento e distribuição de um produto. Tal sistema inclui o mercado de insumos agrícolas, a produção agrícola, operações de estocagem, processamento, atacado e varejo, demarcando um fluxo que vai dos insumos até o consumidor final. O conceito engloba todas as instituições que afetam a coordenação dos estágios sucesivos do fluxo de produtos, tais como as instituições governamentais, mercados futuros e associações de comércio. Goldberg, R. A. e Davis, J.H. (1957) Sistema Agroindustrial Indústria Pesquisa insumos Indústria Pecuarista máquinas Indústria Banco crédito rural Indústria Banco embalagens Indústria Atacadista alimentos higiene e limpeza Varejista Consumidor Sistema Agroindustrial Qual a natureza da interdependência entre agentes do sistema agroindustrial? Tecnologia (relações verticais / insumoproduto - Davis e Goldberg) Governança das transações (Economia dos Custos de Transação - Coase, Williamson) Estratégia (supply chain management) Informação (Agency Theory e direitos de propriedade - Akerlof, Alchian, Demsetz) As unidades socio-econômicas de produção que formam o SAI. Setores funcionais Formas de organização Artesanal Capitalista Producao Agricola Alimentacao Distribuicao fora domicilio Pequenas Padarias, propriedades acougues, familiares cons. trad. Padarias, fruteiras, feirantes Restaurantes Bares, Empresas Capitalistas Empresas Industriais Supermercados Redes de lanches Coop. de transf. Coop. de consumo Cantinas COBAL Exercito, Escolas, Coop. Cooperativas Agricolas Publicas Transf. Agro-ind. Institutos de pesquisa Fonte: Malassis (1979) Op. Cit. Estrutura de Gestão da Cadeia de Suprimentos Fluxo de Informações Elo 2 Fornecedor Elo 1 Fornecedor Compras Adminis-tração de Materiais Produção Marketing Distribui-e ção Físicaão Fisica Vendas Cliente Fluxo de produto/serviço Fluxo monetário Componentes do Supply Chain Management - Planejamento e controle- Estrutura de produtos - Estrutura do trabalho- Métpdos de gestão - Estrutura organizacional- Estrutura de poder e liderança - Estrutura de instalações para o fluxo de produtos- Estrutura de riscos e recompensas - Estrutura de instalações para o fluxo de informações (TI)- Cultura e atitude P R O C E S S O Administração do Relacionamento com Clientes Administração do Serviço ao Cliente Administração da Demanda Atendimento de Pedidos Administração do Fluxo de Produção Suprimentos Desenvolvimento e Comercialização de Produtos Canais de Devolução Consumidor Novos movimentos do processo de mudança rural diante do desenvolvimento agrário brasileiro A industrialização da agricultura não foi um processo isolado!!! Ocorreu uma urbanização do campo!!! Avanço do Rurbano no Brasil Tentativa de aumento de renda das pessoas ocupadas no rural; Fortalecimento econômico dos lugares que entornam as áreas rurais (necessidade de um mercado de trabalho local próximo apto a absolver sua força de trabalho); 2 caminhos: 1) Mudar para as cidades (aumento do êxodo), 2) Residência no próprio meio rural (trabalho pluriativo com atividades agrícolas e nãoagrícolas) Novas funções e novos tipos de ocupações no meio rural Lazer: pesque-pague, hotéis-fazenda, chácaras de recreio; Moradia: condomínios residenciais fechados, minidistritos industriais, loteamentos de chácaras; Preservação e conservação: atividades de ecoturismo, agro-turismo, criação e revitalização de parques estaduais e estações ecológicas. Ex: Juréia (Vale do Ribeira-SP) e Serra do Japi. Mão-de-obra: avanço de funções tipicamente urbanas (motoristas de ônibus, mecânicos, contadores, secretárias, digitadores, domésticas) a partir da igualdade trabalhista da constituição de 1988. Nova Política de Desenvolvimento Rural Espaço rural é exclusivamente agrícola Centralidade agrícola nas políticas públicas Cuidado com o meioambiente (mas ainda ligado à produção agrícola) Centralização política Espaço rural é multifuncional Habitação Infra-estrutura (transporte, água, energia, comunicação etc.) Geração de Rendas Preservação do meioambiente – Educação ambiental Descentralização (Foco: local) Agricultura com Muitas Funções Bens Privados Alimentos e fibras Agroturismo Ecoturismo Outros produtos comerciais Fonte: Norway, 1999 Bens Públicos Segurança Alimentar Viabilidade Rural Herança Cultural Conservação Do Solo Paisagem Agrícola Diversidade Agrobiológica Saúde Fitossanitária Outros bens públicos