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SÁBADO E DOMINGO
17 e 18 de outubro de 2015
GERAL
Veja mais sobre os impactos da falta de energia
na produção de leite de Santa Cruz no Portal
Gaz e na edição digital da
Gazeta do Sul
Leandro Porto
de Rincão dos Oliveira, parte do
Distrito de São José da Reserva,
ele afirma que o problema é recorrente e não existe uma solução efetiva por parte da concessionária. “A energia é muito fraca, e o atendimento da AES Sul
é ruim. Cada vez que isso acontece, é uma dificuldade. A gente fica esperando, mas eles nunca vêm. No fim, eu mesmo tenho
que sair e procurar onde está o
problema”, alega. Ele relata que
na semana anterior já havia passado cinco dias sem luz na propriedade, o que ocasionou a perA falta de energia elétrica se da de 400 litros.
Ferreira lembra ainda de ouapresenta como mais um elemento dentre os imensos prejuí- tra ocasião, na véspera do último
zos nas áreas rurais após os tem- Natal, em que a família ficou deporais dessa semana. No interior sabastecida por cinco dias e 600
de Santa Cruz do Sul, o setor lei- litros de leite estragaram. “Falteiro é extremamente prejudicado tou a luz, a produção tem que ir
pelo problema. Há mais de dois fora. Estou diminuindo o númedias sem luz, quem não dispõe de ro de vacas, hoje trabalho só com
um gerador acaba tendo de jogar nove, e não posso investir num
fora a produção. A dificuldade de gerador porque o preço do leite
contato com a AES Sul revolta não ajuda e a despesa está muito grande. O peos produtores,
queno produtor
que ficam sem José Darci Ferreira, 62
está cada vez
qualquer previ- anos, relata que perdeu
pior. A gente
são para a reto- 160 litros após ficar sem
não cresce, só
mada do servivai pra baixo”,
ço. Indignados, energia elétrica
observa. Por
leiteiros do Disisso, José Dartrito de São José
da Reserva chamam a atenção ci, que já está aposentado, diz que
para a falta de estrutura e manu- em conversas com a esposa Lurdes Maria, de 54 anos, e a filha
tenção das redes do interior.
José Darci Ferreira, 62 anos, Sidônia, de 26, já cogitou abanrelata que perdeu 160 litros de donar a produção. “Estou aguenleite após ficar sem energia elé- tando ainda porque a minha filha
trica entre a noite dessa quar- quer continuar. Mas se ela não
ta e o final da tarde dessa sex- quiser mais, vamos parar. Não
ta-feira. Residente na localidade tem como a gente tocar pra fren, [email protected]
Fotos: Leandro Porto
Falta de energia prejudica o setor leiteiro
Fúria
do cclima
do
l i ma
■ ■ Ferreira
já perdeu as contas de quantas vezes teve de jogar produção de leite fora pela falta de luz
te”, lamenta.
Conforme o produtor, a falta de manutenção das estradas
e de apoio para conservar o caminho da propriedade atrapalha
ainda mais o trabalho e gera gastos extras. “Eu ligava pro caminhão buscar o leite, mas eles diziam que não tinham como entrar na propriedade, pela falta de
acesso ao galpão. Então tive que
gastar com uma carga de pedras
e arrumar o caminho por conta
própria para que eles pudessem
chegar”, conta.
Conforme o chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Santa
Cruz do Sul, Assilo Martins Corrêa, o município tem 259 produ-
tores de leite. Segundo ele, ainda não há um levantamento com
o número de atingidos pela falta de energia, mas vários relatos
dão conta de problemas severos
em várias localidades. Entre as
mais atingidas está a de Pinheiral, que sofreu com a incidência
de granizo. “É uma pena, porque
os prejuízos também na infraestrutura acabam desanimando os
produtores, que vinham investindo bastante no setor. A orientação da Emater é que eles tentem
adquirir um gerador, pelo menos,
para não perder a produção nos
dias sem luz”, aponta.
Assilo sinaliza para sérios problemas nas redes das áreas ru-
“Isso é uma falta de consideração com os produtores”
João Frederico Tornquist, de 25
anos, de São José da Reserva, explica que em dias normais a ordenha das 33 vacas da propriedade
é feita em meia hora com o auxílio de um funcionário. Sem energia elétrica, o equipamento precisa ser tocado com o trator e o procedimento leva cerca de 1h30. Segundo ele, depois ainda é necessário o deslocamento por 10 quilômetros para levar o leite até a propriedade de um produtor que tem
gerador a óleo diesel. “Geralmente a empresa busca o leite a cada
dois dias, mas nesse caso, temos
que dar um jeito de mandar, porque senão vai tudo fora. O vizinho
não tem lugar para armazenar por
mais tempo”, salienta.
Tornquist ressalta que a ação
emergencial também provoca o
estresse dos animais. “Tudo complica. Não temos como higienizar
os equipamentos e as instalações.
A fábrica que produz a ração também está sem luz. Nossa produção média é de 800 litros diários
e, nos últimos dias, baixou para
500 litros.”
Contraponto
■ ■ Produto
é carregado até propriedade vizinha para não estragar
João revela que todos os meses
gasta R$ 1 mil com a conta de energia elétrica. Ele enfatiza que, após
os temporais, somente conseguiu
contato com a AES Sul uma vez e
sem obter respostas ou um prazo
efetivo. “A gente entende que existem prioridades com todos os estragos que aconteceram, mas isso
é uma falta de consideração com
os produtores. Poderiam deslocar
pelo menos uma equipe para reestabelecer a energia aqui. São sete
propriedades como a minha nesta
localidade e todas com o mesmo
problema”, observa. Até o fechamento desta edição, a propriedade
dele, assim como a grande maioria
naquela região do município, permanecia sem eletricidade.
Conforme a AES Sul, até
a tarde dessa sexta-feira, cerca de 1.600 clientes ainda estavam sem o serviço em Santa Cruz do Sul. Segundo informou o assessor de imprensa da AES, Bruno Marona, mais de 1.500 eletricistas e técnicos atendem a
ocorrências em todo o Estado. “No pico do temporal,
490 mil clientes ficaram sem
energia elétrica e em menos
de 24 horas, esse número reduziu para aproximadamente 250 mil.”
A companhia ainda não
tem expectativa de quando o
serviço retorna aos moradores, já que muitas redes elétricas foram completamente destruídas. “O restabelecimento da energia se dá de
forma gradativa e contínua,
conforme os consertos e a reconstrução da rede vão sendo
concluídos”, completou.
rais do município. “Já chamamos
a AES Sul para debater com os
produtores a ampliação dos pontos trifásicos. Este ano convidamos representantes da concessionária para participar do nosso
seminário em Linha Nova, para
avaliar o atendimento, mas não
foram. Alguma coisa até foi melhorada, mas no geral são apenas paliativos. Falta muita coisa.”
Ainda conforme o extensionista,
as precárias condições da estrutura de energia elétrica atrasam o
desenvolvimento no campo.
Cachoeira do Sul
lança campanha
de solidariedade
A Prefeitura de Cachoeira do
Sul, por meio da Defesa Civil,
organiza uma campanha para auxiliar as famílias atingidas pela
maior chuva de granizo registrada na história do município, pelo
vendaval e a cheia do Rio Jacuí.
A estimativa da Defesa Civil é
de que cerca de 20 mil casas em
todos os bairros e em localidades da zona rural foram danificadas. Também estima que entre 5 e 10 mil telhados terão que
ser reconstruídos.
A doação de telhas de fibrocimento ondulada (brasilit) deve
ser feita no Pavilhão do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz),
na Rua Moron, 75, entre as 9 e
as 19 horas. As doações podem
ser entregues já a partir do fim de
semana, junto ao Ginásio Derlizão, das 9 às 21 horas.
Os agendamentos para a entrega dos mantimentos podem
ser feitos pelo telefone (51) 3724
6088. A Defesa Civil também
disponibiliza uma conta para doações no Banrisul, agência 0150,
conta 04.0967870-3. O nome
da conta é Doação Defesa Civil 2015.
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Falta de energia prejudica o setor leiteiro