26 SÁBADO E DOMINGO 17 e 18 de outubro de 2015 GERAL Veja mais sobre os impactos da falta de energia na produção de leite de Santa Cruz no Portal Gaz e na edição digital da Gazeta do Sul Leandro Porto de Rincão dos Oliveira, parte do Distrito de São José da Reserva, ele afirma que o problema é recorrente e não existe uma solução efetiva por parte da concessionária. “A energia é muito fraca, e o atendimento da AES Sul é ruim. Cada vez que isso acontece, é uma dificuldade. A gente fica esperando, mas eles nunca vêm. No fim, eu mesmo tenho que sair e procurar onde está o problema”, alega. Ele relata que na semana anterior já havia passado cinco dias sem luz na propriedade, o que ocasionou a perA falta de energia elétrica se da de 400 litros. Ferreira lembra ainda de ouapresenta como mais um elemento dentre os imensos prejuí- tra ocasião, na véspera do último zos nas áreas rurais após os tem- Natal, em que a família ficou deporais dessa semana. No interior sabastecida por cinco dias e 600 de Santa Cruz do Sul, o setor lei- litros de leite estragaram. “Falteiro é extremamente prejudicado tou a luz, a produção tem que ir pelo problema. Há mais de dois fora. Estou diminuindo o númedias sem luz, quem não dispõe de ro de vacas, hoje trabalho só com um gerador acaba tendo de jogar nove, e não posso investir num fora a produção. A dificuldade de gerador porque o preço do leite contato com a AES Sul revolta não ajuda e a despesa está muito grande. O peos produtores, queno produtor que ficam sem José Darci Ferreira, 62 está cada vez qualquer previ- anos, relata que perdeu pior. A gente são para a reto- 160 litros após ficar sem não cresce, só mada do servivai pra baixo”, ço. Indignados, energia elétrica observa. Por leiteiros do Disisso, José Dartrito de São José da Reserva chamam a atenção ci, que já está aposentado, diz que para a falta de estrutura e manu- em conversas com a esposa Lurdes Maria, de 54 anos, e a filha tenção das redes do interior. José Darci Ferreira, 62 anos, Sidônia, de 26, já cogitou abanrelata que perdeu 160 litros de donar a produção. “Estou aguenleite após ficar sem energia elé- tando ainda porque a minha filha trica entre a noite dessa quar- quer continuar. Mas se ela não ta e o final da tarde dessa sex- quiser mais, vamos parar. Não ta-feira. Residente na localidade tem como a gente tocar pra fren, [email protected] Fotos: Leandro Porto Falta de energia prejudica o setor leiteiro Fúria do cclima do l i ma ■ ■ Ferreira já perdeu as contas de quantas vezes teve de jogar produção de leite fora pela falta de luz te”, lamenta. Conforme o produtor, a falta de manutenção das estradas e de apoio para conservar o caminho da propriedade atrapalha ainda mais o trabalho e gera gastos extras. “Eu ligava pro caminhão buscar o leite, mas eles diziam que não tinham como entrar na propriedade, pela falta de acesso ao galpão. Então tive que gastar com uma carga de pedras e arrumar o caminho por conta própria para que eles pudessem chegar”, conta. Conforme o chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Santa Cruz do Sul, Assilo Martins Corrêa, o município tem 259 produ- tores de leite. Segundo ele, ainda não há um levantamento com o número de atingidos pela falta de energia, mas vários relatos dão conta de problemas severos em várias localidades. Entre as mais atingidas está a de Pinheiral, que sofreu com a incidência de granizo. “É uma pena, porque os prejuízos também na infraestrutura acabam desanimando os produtores, que vinham investindo bastante no setor. A orientação da Emater é que eles tentem adquirir um gerador, pelo menos, para não perder a produção nos dias sem luz”, aponta. Assilo sinaliza para sérios problemas nas redes das áreas ru- “Isso é uma falta de consideração com os produtores” João Frederico Tornquist, de 25 anos, de São José da Reserva, explica que em dias normais a ordenha das 33 vacas da propriedade é feita em meia hora com o auxílio de um funcionário. Sem energia elétrica, o equipamento precisa ser tocado com o trator e o procedimento leva cerca de 1h30. Segundo ele, depois ainda é necessário o deslocamento por 10 quilômetros para levar o leite até a propriedade de um produtor que tem gerador a óleo diesel. “Geralmente a empresa busca o leite a cada dois dias, mas nesse caso, temos que dar um jeito de mandar, porque senão vai tudo fora. O vizinho não tem lugar para armazenar por mais tempo”, salienta. Tornquist ressalta que a ação emergencial também provoca o estresse dos animais. “Tudo complica. Não temos como higienizar os equipamentos e as instalações. A fábrica que produz a ração também está sem luz. Nossa produção média é de 800 litros diários e, nos últimos dias, baixou para 500 litros.” Contraponto ■ ■ Produto é carregado até propriedade vizinha para não estragar João revela que todos os meses gasta R$ 1 mil com a conta de energia elétrica. Ele enfatiza que, após os temporais, somente conseguiu contato com a AES Sul uma vez e sem obter respostas ou um prazo efetivo. “A gente entende que existem prioridades com todos os estragos que aconteceram, mas isso é uma falta de consideração com os produtores. Poderiam deslocar pelo menos uma equipe para reestabelecer a energia aqui. São sete propriedades como a minha nesta localidade e todas com o mesmo problema”, observa. Até o fechamento desta edição, a propriedade dele, assim como a grande maioria naquela região do município, permanecia sem eletricidade. Conforme a AES Sul, até a tarde dessa sexta-feira, cerca de 1.600 clientes ainda estavam sem o serviço em Santa Cruz do Sul. Segundo informou o assessor de imprensa da AES, Bruno Marona, mais de 1.500 eletricistas e técnicos atendem a ocorrências em todo o Estado. “No pico do temporal, 490 mil clientes ficaram sem energia elétrica e em menos de 24 horas, esse número reduziu para aproximadamente 250 mil.” A companhia ainda não tem expectativa de quando o serviço retorna aos moradores, já que muitas redes elétricas foram completamente destruídas. “O restabelecimento da energia se dá de forma gradativa e contínua, conforme os consertos e a reconstrução da rede vão sendo concluídos”, completou. rais do município. “Já chamamos a AES Sul para debater com os produtores a ampliação dos pontos trifásicos. Este ano convidamos representantes da concessionária para participar do nosso seminário em Linha Nova, para avaliar o atendimento, mas não foram. Alguma coisa até foi melhorada, mas no geral são apenas paliativos. Falta muita coisa.” Ainda conforme o extensionista, as precárias condições da estrutura de energia elétrica atrasam o desenvolvimento no campo. Cachoeira do Sul lança campanha de solidariedade A Prefeitura de Cachoeira do Sul, por meio da Defesa Civil, organiza uma campanha para auxiliar as famílias atingidas pela maior chuva de granizo registrada na história do município, pelo vendaval e a cheia do Rio Jacuí. A estimativa da Defesa Civil é de que cerca de 20 mil casas em todos os bairros e em localidades da zona rural foram danificadas. Também estima que entre 5 e 10 mil telhados terão que ser reconstruídos. A doação de telhas de fibrocimento ondulada (brasilit) deve ser feita no Pavilhão do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz), na Rua Moron, 75, entre as 9 e as 19 horas. As doações podem ser entregues já a partir do fim de semana, junto ao Ginásio Derlizão, das 9 às 21 horas. Os agendamentos para a entrega dos mantimentos podem ser feitos pelo telefone (51) 3724 6088. A Defesa Civil também disponibiliza uma conta para doações no Banrisul, agência 0150, conta 04.0967870-3. O nome da conta é Doação Defesa Civil 2015.