XVI CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 22 a 26 de outubro de 2007 AVALIAÇÃO FITOQUÍMICA E BIOLÓGICA DE EXTRATOS DE ROSA MOSQUETA (Rosa aff. rubiginosa L.) JOÃO MARCOS PEDROSO ALVARENGA1; ANA LÚCIA ALVARENGA2, MARIA DAS GRAÇAS CARDOSO3 RESUMO A rosa mosqueta (Rosa aff. rubiginosa L.), espécie rica em vitamina C, carotenóides, ácidos graxos essenciais dentre outras substâncias, tem sido utilizada em medicina e cosmetologia devido aos efeitos a ela atribuídos, no tratamento de patologias da pele. Nesse contexto, submeteram-se os frutos dessa planta à extração química para posterior avaliação fitoquímica e biológica dos extratos. Identificou-se nos extratos a presença de açúcares redutores, proteínas, aminoácidos, alcalóides, flavonóides, carotenóides e esteróides. Avaliando-se o potencial inibitório do crescimento de fungos do gênero Candida, não foi verificada atividade antifúngica. Palavras-chave: plantas medicinais, extração química, fitoterapia. ABSTRACT The Rosa aff. rubiginosa L., a species rich in vitamin C, carotene, essential fatty acids and other substances, has been used in medicine and cosmetology due to the effects attributed to treating skin pathologies. In this context, the fruits of this plant were submitted to chemical extraction for subsequent phytochemical and biological evaluation of the extracts. Extracts presented reductive sugars, proteins, aminoacids, alkaloids, flavonoids, carotenes and steroids. Evaluation of inhibitory potential of fungi growth allowed to verify that no antifungical activity was observed. Key-words: medicinal plants, chemical extraction, phytotherapy. INTRODUÇÃO A utilização de plantas para curar os mais diversos males é conhecida pela humanidade há centenas de anos, sendo que o mundo das plantas medicinais mobiliza, hoje, milhares de engenheiros agrícolas, agrônomos, biólogos, químicos e médicos de todos os continentes, havendo pelo menos uma certeza: as plantas medicinais são fáceis de usar, mas difíceis de conhecer cientificamente. Logo, para os cientistas, as plantas apresentam-se como duros desafios, em que longos períodos de tempo são gastos em pesquisas para identificar princípios ativos e propriedades curativas (Accorsi, 1994; Martins et al., 1995; Miranda, 1998). Na ânsia de descobrir novos princípios ativos, estudos foram dirigidos, principalmente no Chile, para uma flor que cresce de modo selvagem nas zonas andinas e no sul deste país. Seu alto conteúdo em ácidos graxos faz de suas sementes e flores uma importante fonte de elementos destinados a reparar certos problemas cutâneos. Os ácidos graxos essenciais presentes na flor da rosa mosqueta e em seu fruto possuem uma importante capacidade 1 Mestre em Agroquímica e Agrobioquímica. E-mail: [email protected] Mestre em Ciência dos Alimentos. E-mail: [email protected] 3 Professora do Departamento de Química da Universidade Federal de Lavras. E-mail: [email protected] 2 1 XVI CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 22 a 26 de outubro de 2007 reparadora e estimulante da síntese das fibras de colágeno, desempenhando um papel importante na permeabilidade da barreira epidérmica (Chaktoura, 2000). Nesse contexto, com a presente pesquisa teve-se como objetivo estudar os princípios ativos da Rosa aff. rubiginosa L., visando identificar estruturas com propriedades cicatrizantes, assim como as atividades fungicidas desses compostos em alguns patógenos humanos. MATERIAL E MÉTODOS Foram objetos de estudo deste trabalho os frutos de rosa mosqueta (Rosa aff. rubiginosa L.), os quais foram secos em estufa à temperatura de 35 a 40°C, até atingir peso constante, para posterior seleção dos frutos que não apresentassem alterações em sua superfície que pudessem sugerir patologias. Os frutos foram então quebrados, separando-se a casca da semente, verificando-se a ocorrência de 48% de casca e 52% de semente. Para obtenção dos extratos brutos foram utilizados 200 g de casca e 200 g de semente, separadamente, colocados em refluxo em metanol, acetato de etila e hexano por 48 horas. As amostras foram, então, filtradas em funil de Buchner, obtendo-se seis soluções filtradas: extratos metanólicos da casca e semente, extratos em acetato de etila da casca e semente, extratos hexânicos da casca e semente. Os filtrados foram levados ao rotavapor sob pressão reduzida e depois à estufa a 40°C para completa evaporação do solvente, sendo posteriormente pesados e armazenados para as análises subseqüentes. Os extratos foram utilizados para caracterização dos principais grupos de substâncias vegetais de interesse: ácidos orgânicos, açúcares redutores, polissacarídeos, proteínas, aminoácidos, taninos, flavonóides, carotenóides, sesquiterpenlactonas e outras lactonas, azulenos, esteróides, triterpenóides, cumarinas e derivados, depsidonas, saponina espumídica, alcalóides, purinas e antraquinonas. Testes de solubilidade dos extratos também foram realizados para diferentes solventes: hexano, clorofórmio, acetato de etila, etanol, metanol e água. Realizou-se ainda a avaliação das atividades antifúngicas dos extratos brutos. As leveduras escolhidas para a realização dos testes biológicos foram Candida albicans, Candida tropicalis e Candida glabrata. Para os testes de susceptibilidade das leveduras foram feitas soluções dos extratos da casca e semente com dimetilsulfóxido (DMSO). Como padrão de inibição, foram utilizadas soluções de fluconazol e anfotericina B. As espécies de Candida albicans, Candida tropicalis e Candida glabrata foram semeadas em placas de ágar Sabouraud dextrose (ASD), onde 2 XVI CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 22 a 26 de outubro de 2007 foram adicionados as soluções de cada extrato e deixados difundir por duas horas em temperatura ambiente. As placas foram, então, incubadas a 37°C e as observações de halo de inibição foram feitas durante 24 e 48 horas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os extratos brutos obtidos por refluxo em metanol, acetato de etila e hexano apresentaram, após evaporação de todo o solvente, rendimentos e aspectos diferenciados, conforme pode ser observado na Tabela 1. Observa-se que substâncias diferentes foram extraídas a partir dos diferentes solventes. A coloração tijolo obtida no extrato da casca em acetato de etila, bem como a coloração alaranjada do extrato hexânico da casca, sugere a presença de caroteno. TABELA 1. Rendimento e aspectos dos extratos obtidos por refluxo. Extrato Coloração Textura Peso (g) Casca Castanhoescuro Pastoso 30,00 Semente Castanhoescuro Pastoso 5,10 Casca Tijolo Sólido 0,89 Semente Castanhoclaro Pastoso 0,11 Casca Alaranjado Sólido 0,20 Semente Amarelo-claro Pastoso 0,03 Metanólico Acetato de etila Hexano Proporção casca/semente 6:1 8:1 7:1 Os rendimentos obtidos com os extratos metanólicos da casca e semente foram muito superiores aos dos demais extratos, sugerindo um elevado teor de substâncias polares nesses extratos. Por apresentarem rendimento muito superior aos demais, os extratos metanólicos da casca e sementes foram selecionados para realização dos testes restantes. Observou-se uma maior solubilidade dos extratos metanólicos da casca e semente (Tabela 2) em solventes polares. Verifica-se que os extratos metanólicos da casca e semente apresentam uma maior solubilidade nos solventes polares, e à medida que diminuímos a polaridade nos mesmos, a solubilidade também diminui. Isso sugere a presença de substâncias nos extratos como açúcares, ácidos succínico, málico, ascórbico e cítrico, dotados de grupos polares e cadeias pequenas. 3 XVI CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 22 a 26 de outubro de 2007 TABELA 2. Características de solubilidade dos extratos obtidos nos diferentes solventes. Solventes Hexano Clorofórmio Acetato de etila Etanol Metanol Água Solubilidade do extrato metanólico Casca Parcialmente solúvel Parcialmente solúvel Parcialmente solúvel Parcialmente solúvel Solúvel com pequeno resíduo Solúvel Semente Insolúvel Insolúvel Insolúvel Insolúvel Solúvel com pequeno resíduo Solúvel A triagem fitoquímica dos extratos de rosa mosqueta permitiu identificar os grupos orgânicos presentes nos mesmos. A Tabela 3 apresenta as reações positivas e negativas para os extratos analisados. TABELA 3. Reações observadas nos extratos de rosa mosqueta. Reação Ácidos orgânicos Açúcares redutores Polissacarídeos Proteínas e aminoácidos Taninos Flavonóides Carotenóides Sesquiterpenlactonas e outras lactonas Azulenos Esteróides e triterpenóides Depsídeos e depsidonas Derivados e cumarinas Saponinas espumídicas Alcalóides Purinas Antraquinonas Extrato metanólico Extrato em acetato de etila Extrato hexânico C + + - S + + + - C I I I I I + S I I I I I - C I I I I I + S I I I I I - - - - - - - + + + + + + + + + I - + I - + I - + I - - = Ausência; + = Presença; C = Casca; S = Semente; I = Insolúvel em água, não sendo possível realizar o teste. 4 XVI CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 22 a 26 de outubro de 2007 As reações para identificação de ácidos orgânicos, açúcares redutores, polissacarídeos, proteínas e aminoácidos, taninos e alcalóides não foram possíveis de serem realizados nos extratos da casca e semente em acetato de etila e hexano, pois os mesmos não foram solúveis nos solventes utilizados na reação. Quanto aos testes biológicos, observou-se que a anfotericina B foi ativa contra C. albicans, C. tropicalis e C. glabrata na concentração de 64 µg/mL, apresentando halos de inibição de 2,4 a 3,7 cm. Entretanto, quando se utilizou o fluconazol, esse apresentou atividade para C. albicans e C. tropicalis, não inibindo o crescimento de C. glabrata. Várias concentrações dos extratos metanólicos da rosa mosqueta foram utilizadas; no entanto, não se observou a inibição no crescimento das espécies testadas. Tal fato possivelmente se deve ao fato de ter-se trabalhado com os extratos brutos nos testes biológicos, sem purificá-los, ou pelo fato de as substâncias antifúngicas estarem presentes nos outros extratos que não os metanólicos. CONCLUSÕES O rendimento dos extratos metanólicos mostrou-se superior aos obtidos em acetato de etila e hexano. Nos extratos em acetato de etila e hexânicos a presença de carotenóides foi confirmada através da triagem fitoquímica. Os extratos metanólicos da casca e semente não mostraram atividade antifúngica para leveduras das espécies Candida albicans, Candida tropicalis e Candida glabrata. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACCORSI, W.R. Programa de plantas medicinais e fitoterapia: Medicina popular e Fitoterapia. Piracicaba: ESALQ-USP, 1994. 81p. CHAKTOURA, M.R. La revolución contra las arrugas: La Rosa Mosqueta. 2000. Disponível: <http://www.naturalchannel.com/Noticia.asp?idNoticia=463>. Acesso em: 25/07/2001. MARTINS, E.R.; CASTRO, D.M.; CASTELLANI, D.C.; DIAS, J.E. Plantas Medicinais. Viçosa: UFV, 1995. 220p. MIRANDA, P. Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais. 1998. Disponível: <http://www.winbr.com/abc/medicina.htm>. Acesso em 19/07/2001. 5