UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS GABRIEL VICTOR SIMÕES DUTRA Estudo teórico da interação da polianilina com ácido L-glutâmico e síntese da polianilina em solução do aminoácido Anápolis-GO Março, 2014 Estudo teórico da interação da polianilina com ácido L-glutâmico e síntese da polianilina em solução do aminoácido GABRIEL VICTOR SIMÕES DUTRA Trabalho de submetido conclusão ao curso de de curso Química Licenciatura da Universidade Estadual de Goiás, como necessários parte para dos obtenção requisitos do título Licenciado em Química. ORIENTADOR: Prof. Dr. Olacir Alves Araújo Co-ORIENTADOR: Prof. Dr. José Divino dos Santos Anápolis-GO Março, 2014 FOLHA DE APROVAÇÃO Dedicado este trabalho à minha família, especialmente à aquela que me guiou desde os primeiros passos, minha querida mãe, Rita de Cássia. Esse é um sonho seu, no qual hoje eu o realizo com muito orgulho. Ainda verás muitas vitórias e todas serão dedicadas à senhora. Muito obrigado pelo amor, carinho e dedicação. Rezo por ti todos os dias, e peço em oração que Deus ilumine seu caminho, dando-lhe fé, força e esperança, pois assim a senhora superará tudo. És o meu alicerce!! Te amo muito... AGRADECIMENTOS Á Deus por ter me dado força, proteção e iluminado meu caminho e tornar esse sonho possível. À minha família, que foram meu alicerce, me apoiaram e confiaram na minha capacidade. Agradeço o imenso amor e compreensão e sei que não mediram esforços para tornar este sonho uma realidade. Ao professor Dr. Olacir Alves Araújo da UEG (Universidade Estadual de Goiás) pelo privilégio de sua orientação, com o senhor aprendi que os valores morais e profissionais estão acima de todos os demais, sou grato por me ensinar os ―caminhos das pedras‖ sobre polímeros condutores. Ao professor Dr. José Divino dos Santos da UEG pela orientação, dedicação, paciência, incentivo, pelos ensinamentos que despertaram o questionamento científico, sou grato por me ensinar sobre programação. Aos professores Msc. Valmir da Silva e Dr. Renato Rosseto da UEG pela aceitação em compor a banca e pelos ensinamentos proporcionados durante a execução do curso, que muito contribuiu para minha formação acadêmica e pessoal. Á aqueles que se tornaram mais que companheiros de uma jornada, hoje amigos, irmãos... O meu muito obrigado por tudo: pela amizade sincera, pelo companheirismo, pela alegria compartilhada, apoio, brincadeiras, por todos os momentos que convivemos nesses últimos anos e que ainda viveremos. Em especial à: Júnio, Túlio, Thamirys, Érica, Severina, Caio, Tânia, Thays, Verônica, Gabriela, Luís, Achiles, Dani, Jaqueline, Priscila, Marconi e Jorge, que nossa amizade seja eterna, sincera e duradoura. À ―mô‖ meu, Weslany, por proporcionar alegria aos meus dias... Obrigado por tudo, pela sua alegria, confiança, compreensão e companheirismo. Ao amigo Francisco (Chico), pela sua disponibilidade e amizade. Com você pude dar os primeiros passos a novos conhecimentos e agradeço por toda ajuda e incentivo em buscar algo sempre a mais. Aos integrantes do QMMOL (Grupo de Química de Materiais e Modelagem Molecular) da UEG na área de pesquisas de Química de Polímeros, Novos Materiais e Química Teórica: Rogério, Gisley, Eduardo, Gustavo e Lorraine pela receptividade, convívio, participação nos congressos e por todos os momentos de aprendizagem. Aos recém-chegados: Ramon, Arismar, Cristina, Larissa, Kássia, Nathália, Nathasha e Nayanne, que em vocês despertem o interesse pela pesquisa científica. Aos amigos de laboratório: Wanderson, Andreza, Marcos, Regina, Cindy, Danilo, Andrea e Letícia pelo companheirismo, ajuda, brincadeiras e amizade. Aos professores Dr. Elson Longo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), e Dr. Júlio Ricardo Sambrano da UNESP (Universidade Estadual Paulista) pela colaboração nos trabalhos e eventos em que participamos juntos. Aos professores Dr. Carlton Anthony Taft do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) pela contribuição nos trabalhos apresentados nos eventos. Aos professores Dr. Vijayendra Garg e Dr. João Batista Lopes Martins ambos da UnB (Universidade de Brasília) pela disponibilidade e recepção em Brasília. As professoras Dra. Maísa Borges Costa e Msc. Maria Madalena de Alcântara da UEG, que muito contribuiu para minha formação acadêmica, profissional e pessoal. Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela concessão de bolsa de iniciação científica PIBITI/CNPq e à UEG por possibilitar a realização deste trabalho. RESUMO A polianilina (PAni) é um polímero condutor com boas propriedades elétricas e destaca-se entre os demais polímeros pela possibilidade de modificação de suas propriedades estruturais, mecânica e solubilidade em função do ácido dopante empregado na síntese. O uso da polianilina dopada com ácidos orgânicos funcionalizados tais como os aminoácidos, tem sido proposto com o intuito de obter um material mais solúvel em solventes de baixa polaridade, o que viabiliza a aplicação deste material em diversas áreas. A química computacional é uma área extensivamente utilizada no estudo de previsões de propriedades físico-químicas de novos materiais. Neste sentido, este trabalho foi realizado em duas etapas. A primeira etapa envolveu o estudo teórico das interações entre anilina e ácido glutâmico e as interações entre a base esmeraldina e o ácido glutâmico. A segunda etapa foi realizada pelo processo de obtenção de polianilina sintetizada em meio contendo ácido glutâmico. As amostras foram caracterizadas por medida de condutividade elétrica e espectroscopia vibracional na região do infravermelho. As estruturas das moléculas utilizadas no estudo teórico foram otimizadas através de métodos semi-empíricos AM1 e PM7 e métodos ab initio HF e DFT/B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G. Os modelos de interações entre a forma básica da polianilina e o ácido glutâmico e as interações entre anilina e ácido glutâmico foram obtidos através das estruturas mais estáveis de cada molécula, considerando-se fixas as distâncias entre o átomo de nitrogênio das moléculas básicas e o átomo de oxigênio do ácido glutâmico. As distâncias utilizadas foram d(N-O)= 5,00 Å, 3,00 Å, 2,80 Å e 2,30 Å. Os resultados evidenciaram que pode ocorrer transferência do hidrogênio ácido para o grupo amina da anilina, quando é fixada a distância N-O em 2,30 Å, pois à medida que a distância N-O diminui de 5,00 Å para 2,30 Å, nota-se uma maior acidez do ácido glutâmico e uma maior basicidade do grupo amina da anilina. Além disso, as previsões obtidas nos cálculos indicam que a reação entre ácido L-glutâmico zwitteriônico e base esmeraldina não conduz à formação do sal esmeraldina e que a presença de um agente oxidante no meio reacional oxida preferencialmente o grupo amina do ácido glutâmico, dificultando a polimerização química da anilina. Foram realizadas duas rotas sintéticas para obtenção de polianilina dopada com ácido glutâmico. A primeira rota foi obtida pela polimerização química da anilina, através de um planejamento fatorial 23, usando como fatores o parâmetro K, a razão molar ácido glutâmico/anilina e concentração inicial de anilina. A segunda rota foi obtida pela reprotonação da base esmeraldina. Os resultados mostraram que no processo de polimerização química da anilina obteve-se polianilina na sua forma condutora com rendimentos superiores a 50 % e condutividade elétrica na ordem de 10-2 a 10-4 Scm-1. Os resultados dos espectros vibracionais na região do infravermelho evidenciaram a dopagem da polianilina com ácido sulfúrico, proveniente da redução do persulfato de amônio durante o processo de polimerização. No processo de reprotonação, obteve-se um material com coloração marrom, característico da polianilina na forma isolante, sendo confirmada pela caracterização por espectroscopia vibracional na região do infravermelho, com rendimento inferior a 50 % e condutividade na ordem de 10-6 a 10-7 Scm-1. Portanto, os resultados experimentais corroboram com os cálculos teóricos, confirmando que a síntese da polianilina dopada com ácido glutâmico não ocorre nas condições estudadas. Palavras-chave: polímeros condutores, aminoácidos, simulação computacional. ABSTRACT Polyaniline (PAni) is a conducting polymer with good electrical properties and stands out among the polymers for the possibility of structural modification of their structural, mechanical properties and solubility as a function of dopant acid used in the synthesis. The use of doped polyaniline with functionalized organic acids such as amino acids, has been proposed in order to obtain a more soluble material in low polarity solvents, which enables the application of this material in various fields. Computational chemistry is an area used extensively in the study of predictions of physico-chemical properties of new materials. Thus, this study was conducted in two stages. The first step involved of the theoretical study of the interactions between aniline and glutamic acid and the interactions between emeraldine base and glutamic acid. The second step was performed by the process of obtaining of polyaniline synthesized in environment containing glutamic acid. The samples were characterized by measurement of electrical conductivity and vibrational spectroscopy in the infrared region. The structures of the molecules used in the theoretical study were optimized by semi-empirical methods AM1 and PM7 and ab initio HF and DFT/B3LYP with basic functions 3-21G, 6-31G and 6-311G. Models of interactions between the basic form of polyaniline and glutamic acid and the interactions between aniline and glutamic acid were obtained from the most stable structures of each molecule, considering fixed distances between the nitrogen atom of the basic molecules and the oxygen atom of the glutamic acid. The distances used were d(NO)= 5,00 Å, 3,00 Å, 2,80 Å and 2,30 Å. The results showed that acid hydrogen transfer for the amino group of aniline can occur when the N-O distance is fixed at 2.30 Å, because as the N-O distance decreases of 5.00 Å to 2.30 Å, were observed higher acidity of glutamic acid and higher basicity of the amino group of the aniline. Furthermore, the estimates obtained in the calculations shows that the reaction between zwitterionic L-glutamic acid and emeraldine base does not lead to the formation of emeraldine salt and that the presence of an oxidizing agent in the reaction environment preferentially oxidize the amine group of glutamic acid, difficulting chemical polymerization of aniline. Two synthetic routes were performed to obtain polyaniline doped with glutamic acid. The first route was obtained by the chemical polymerization of aniline using a 23 factorial design, using as factors the parameter K, the molar ratio glutamic acid/ aniline and initial concentration of aniline. The second route was obtained by reprotonation of the emeraldine base. The results showed that in the process of chemical polymerization of aniline was obtained polyaniline in its conducting form with higher yields of 50% and electrical conductivity on the order of 10-2 to 10-4 Scm-1. The results of vibrational spectra in the infrared region showed the doping of polyaniline with sulfuric acid, originating from the reduction of ammonium persulfate during the polymerization process. In reprotonation process was obtained a material with a brown color characteristic of the polyaniline in the insulating form, being confirmed by characterization by vibrational spectroscopy in the infrared region with lower yield than 50% and conductivity on order of 10-6 to 10-7 Scm-1. Therefore, the experimental results corroborate with the theoretical calculations, confirming that the synthesis of polyaniline doped with glutamic acid does not occur under the conditions studied. Keywords: conducting polymers; amino acids; computational simulation. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 19 2.1. Polímeros condutores ..................................................................................... 19 2.2. Polianilina ........................................................................................................ 20 2.2.1. Dopagem química ..................................................................................... 21 2.2.2. Síntese e fatores que influenciam nas características da polianilina ........ 24 2.3. Polianilina e aminoácidos: Uma abordagem teórica ....................................... 29 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 31 3.1. Objetivo Geral ................................................................................................. 31 3.2. Objetivos Específicos ...................................................................................... 31 4. METODOLOGIA .................................................................................................... 33 4.1. Detalhes computacionais na construção das estruturas ................................. 33 4.2. Parte Experimental.......................................................................................... 41 4.2.1. Reagentes e Equipamentos ...................................................................... 41 4.2.2. Tentativa de dopagem pelo método de polimerização química da anilina 42 4.2.3. Tentativa de dopagem pelo método de reprotonação da base esmeraldina ............................................................................................................................ 44 4.2.4. Técnicas de caracterização ...................................................................... 45 4.2.4.1. Espectroscopia vibracional de absorção na região do infravermelho . 45 4.2.4.2. Determinação da condutividade elétrica pelo método de quatro pontas ........................................................................................................................ 46 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 47 5.1. Análises do estudo teórico .............................................................................. 47 5.1.1. Análises do procedimento de otimização .................................................. 47 5.1.1.1. Análise das distâncias de ligações da base esmeraldina ................... 48 5.1.1.2. Análise de cargas de Mulliken para a base esmeraldina .................... 50 5.1.2. Análise das interações entre as moléculas ............................................... 52 5.1.2.1. Análise de variação de energia, distâncias de ligações e cargas de Mulliken da interação entre anilina e ácido glutâmico ..................................... 52 5.1.2.2. Análise das cargas de Mulliken dos modelos sal anilinium-glutamato simulando a presença do agente oxidante ...................................................... 59 5.1.2.3. Análise de variação de energia, distâncias de ligações e cargas de Mulliken da interação entre base esmeraldina e ácido glutâmico ................... 63 5.2. Parte experimental .......................................................................................... 68 5.2.1. Rendimento nominal e condutividade elétrica das amostras PAni (AG) ... 68 5.2.2. Espectroscopia vibracional na região do infravermelho das amostras de PAni (AG) ............................................................................................................ 71 6. CONCLUSÃO........................................................................................................ 78 7. PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................................. 82 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 83 APÊNDICE A – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................ 90 A.1. A Equação de Schrödinger ............................................................................. 90 A.2. Aproximação de Born-Oppenheimer (ABO) .................................................... 91 A.3. Métodos semi-empíricos ................................................................................. 92 A.4. Métodos ab initio............................................................................................. 94 A.5. A Teoria do Funcional de Densidade (DFT) .................................................... 95 APÊNDICE B – PROGRAMAS DESENVOLVIDOS EM SHELL BASH PARA OBTENÇÃO DOS MODELOS DA POLIANILINA E COLETA DE DADOS ................ 97 APÊNDICE C – TRABALHOS APRESENTADOS EM CONGRESSOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS .................................................................................................. 102 LISTA DE ABREVIATURAS E UNIDADES C: Variação da carga de Mulliken Eint: Variação de energia de interação Er: Variação de energia de reação 3-21G: Função de base – uma função de três gaussianas descreve os orbitais internos e duas funções descrevem os orbitais de valência, uma constituída por duas gaussianas e a outra por uma 6-311G: Função de base – uma função de seis gaussianas descreve os orbitais internos e três funções descrevem os orbitais de valência, uma constituída por três gaussianas, e outras duas constituídas por uma 6-31G: Função de base – uma função de seis gaussianas descreve os orbitais internos e duas funções descrevem os orbitais de valência, uma constituída por três gaussianas e a outra por uma Å: Unidade de medida de comprimento – Ângstron (10-10 m) ABO: Aproximação de Born-Oppenheimer ADBS: Ácido dodecilbenzeno sulfônico AG: Ácido glutâmico puro AM1: Austin Model 1 AN: Anilina B3LYP: Funcional híbrido de três parâmetros de Becke e do funcional de Lee-YangParr Band gap: Diferença de energia entre o HOMO e o LUMO BE: Base esmeraldina CBPF: Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Co-Co: Distância de ligação entre carbono orto e orto Cp-Co: Distância de ligação entre carbono para e orto Cp-N: Distância de ligação entre carbono para e nitrogênio DFT: Density Functional Theory DMF: Dimetilformamida DMSO: Dimetilsulfóxido DOS: Density of states EAG: Energia da molécula do ácido glutâmico EAN: Energia da molécula de anilina eV: Unidade de energia – elétron-Volt (23,04 kcal.mol-1 = 96,48 kJ.mol-1) FTIR: Fourier transform infrared spectroscopy GIMP: The GNU Image Manipulation Program GNUPLOT: Software livre usado para construção de gráficos GTO: Gaussian type orbital HA: Ácido monoprótico HF: Hartree-Fock HOMO: Highest Occupied Molecular Orbital LINUX: Sistema operacional desenvolvido por Linus Torvalds LUMO: Lowest Unoccupied Molecular Orbital me: Unidade de carga de Mulliken – mili-elétron (corresponde á 1,6.10-21 C) MIP: Molecularly Imprinted Polymers MNDO: Modified Neglect of Diatomic Overlap MOLDEN: Programa gráfico para edição e visualização de estruturas e propriedades MOPAC: Molecular Orbital Package NMP: N-metilpirrolidona PAni (AG): Polianilina sintetizada em meio contendo ácido glutâmico PAni (H2SO4): Polianilina dopada com ácido sulfúrico PAni (HCl): Polianilina dopada com ácido clorídrico PAni: Polianilina PCM: Polarizable Continuum Method PIC’s: Polímeros Intrinsecamente Condutores PM3: Parametric Method 3 PM6: Parametric Method 6 PM7: Parametric Method 7 QMMOL: Grupo de Química de Materiais e Modelagem Molecular RM1: Recife Model 1 Rn: Rendimento nominal rpm: Unidade de rotação – rotações por minuto Rr: Rendimento real Shell Bash: Bourne Again Shell STO: Slater type orbital UEG: Universidade Estadual de Goiás UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSCar: Universidade Federal de São Carlos UnB: Universidade de Brasília UNESP: Universidade Estadual Paulista VI: Editor de texto LISTA DE FIGURAS Figura 2. 1. Representação genérica da fórmula geral da polianilina, onde y define o estado de oxidação do polímero e R representa um grupo substituinte .................... 20 Figura 2. 2. Representação esquemática da dopagem da polianilina, sendo convertido de material semicondutor para condutor (a) base esmeraldina, (b)-(d) sal esmeraldina: (b) formação de bipolaron, (c) formação de polaron e (d) separação de dois polarons. O contra-íon não é mostrado ............................................................. 23 Figura 2. 3. Oxidação da anilina com persulfato de amônio produzindo polianilina dopada com um ácido genérico HA e sub-produtos da reação ................................. 25 Figura 2. 4. Representação da estrutura química do ácido L-glutâmico zwitteriônico .................................................................................................................................. 28 Figura 4. 1. Representação (a) da distância de ligação entre os átomos i e j, (b) do ângulo de ligação entre i, j e k, (c) do ângulo de torsão entre i, j, k e l .................... 34 Figura 4. 2. Representação de um recorte do arquivo da base esmeraldina criado no editor de texto VI, utilizando coordenadas internas ................................................... 35 Figura 4. 3. Representação esquemática das estruturas químicas de (a) anilina; (b) base esmeraldina; (c) ácido L-glutâmico zwitteriônico e (d) ácido L-glutâmico neutro .................................................................................................................................. 36 Figura 4. 4. Representação dos modelos de interações entre (a) anilina e ácido Lglutâmico zwitteriônico e (b) polianilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico ................ 38 Figura 4. 5. Representação dos modelos de formação do (a) sal anilinium-glutamato e (b) sal esmeraldina ................................................................................................. 39 Figura 4. 6. Representação esquemática do sal anilinium-glutamato (a) não oxidado e (b) oxidado ............................................................................................................. 40 Figura 4. 7. Representação das estruturas do sal esmeraldina utilizadas nos cálculos teóricos, na proporção molar ácido glutâmico/base esmeraldina de 2:1, onde Co e Cp denota átomos de carbonos localizados nas posições orto e para...................... 41 Figura 5. 1. Gráficos da energia total das estruturas, (a) anilina, (b) base esmeraldina e (c) ácido glutâmico, em função do número de otimizações, utilizando o método AM1, realizado no MOPAC 2007 ............................................................................... 47 Figura 5. 2. Representação e nomeação dos anéis e dos nitrogênios constituintes da base esmeraldina ...................................................................................................... 51 Figura 5. 3. Demonstração do cálculo da variação de energia da interação entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico para d(N-O)= 3,00Å, (a) variação de energia de interação e (b) variação de energia de reação, para o método AM1 .................... 53 Figura 5. 4. Gráfico da variação de energia de interação (∆Eint) em função dos métodos mecânicos quânticos utilizados nos cálculos para d(N-O)= 2,30 Å, estado dos reagentes............................................................................................................ 57 Figura 5. 5. Representação da estrutura da polianilina dopada com ácido glutâmico e a proporção estequiométrica dos reagentes na síntese do polímero ........................ 68 Figura 5. 6. Representação da estrutura da polianilina dopada com ácido glutâmico e a proporção estequiométrica dos reagentes usados na reprotonação da base esmeraldina ............................................................................................................... 70 Figura 5. 7. Espectro vibracional das amostras de PAni(AG) 3 e ácido glutâmico puro (AG) obtidas na região do infravermelho em pastilha de KBr ................................... 72 Figura 5. 8. Espectro vibracional das amostras de PAni(AG) 3 e PAni (H2SO4) obtidas na região do infravermelho em pastilha de KBr......................................................... 74 Figura 5. 9. Espectro vibracional das amostras de base esmeraldina (BE) e PAni (AG) 10 obtidas na região do infravermelho em pastilha de KBr............................... 76 LISTA DE TABELAS Tabela 2. 1. Principais características das diferentes formas estruturais da polianilina .................................................................................................................................. 21 Tabela 4. 1. Etapas utilizadas no processo de otimização de cada estrutura ........... 37 Tabela 4. 2. Fórmula química, fabricante e grau de pureza dos reagentes utilizados .................................................................................................................................. 42 Tabela 4. 3. Marcas e modelos dos equipamentos utilizados.................................... 42 Tabela 4. 4. Níveis inferiores e superiores dos fatores utilizados no planejamento fatorial 23 ................................................................................................................... 43 Tabela 4. 5. Quantidade dos reagentes utilizados no planejamento fatorial 2 3 ......... 43 Tabela 4. 6. Quantidade de reagentes e os parâmetros estudados nas sínteses pelo método de reprotonação ........................................................................................... 45 Tabela 5. 1. Distâncias médias para a base esmeraldina com quatro anéis otimizada por métodos semi-empíricos ..................................................................................... 49 Tabela 5. 2. Valores médios das cargas parciais de Mulliken para a base esmeraldina com quatro anéis otimizada por métodos semi-empíricos ........................................ 51 Tabela 5. 3. Valores das distâncias de ligações (Å) e variações de energia (eV) das interações entre ácido L-glutâmico zwitteriônico calculada pelo método AM1 .......... 53 Tabela 5. 4. Valores das distâncias de ligações (Å) e das variações de energia (eV) das interações entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico, utilizando os métodos PM7 e ab initio HF e DFT/B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G ..... 55 Tabela 5. 5. Valores das distâncias de ligações (Å) e das variações de energia (eV) das interações entre anilina e ácido L-glutâmico neutro, utilizando os métodos AM1 e PM7 e ab initio HF e DFT/B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G ..... 58 Tabela 5. 6. Valores das cargas de Mulliken, em me, para alguns grupos dos modelos oxidados e não oxidados do sal anilinium-glutamato zwitteriônico, usando os métodos mecânicos-quânticos ............................................................................. 60 Tabela 5. 7. Valores das cargas de Mulliken, em me, para alguns grupos dos modelos oxidados e não oxidados do sal anilinium-glutamato neutro, usando os métodos mecânicos-quânticos .................................................................................. 62 Tabela 5. 8. Distâncias de ligações médias (Å) e variações de energia (eV) das interações entre ácido glutâmico levógiro zwitteriônico e base esmeraldina na proporção de 2:1, calculada pelos métodos semi-empíricos ..................................... 64 Tabela 5. 9. Distâncias de ligações médias (Å) e variações de energia (eV) das interações entre ácido glutâmico levógiro neutro e base esmeraldina na proporção de 2:1, calculada pelos métodos semi-empíricos ...................................................... 65 Tabela 5. 10. Distâncias médias para o modelo base esmeraldina dopada com ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro, para d(N-O)=2,80 Å e otimizada por métodos semi-empíricos .......................................................................................................... 66 Tabela 5. 11. Valores médios das cargas parciais de Mulliken para a base esmeraldina dopada com ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro, para d(N-O)=2,80 Å e otimizada por métodos semi-empíricos .............................................................. 67 Tabela 5. 12. Valores de rendimento nominal e condutividade elétrica das amostras de PAni(AG) obtidas pelo método de polimerização química da anilina ................... 69 Tabela 5. 13. Valores de rendimento nominal e condutividade elétrica das amostras de PAni(AG) obtidas pelo método de reprotonação da base esmeraldina ................ 71 Tabela 5. 14. Bandas de absorção na região do infravermelho da amostra de ácido glutâmico puro (AG) .................................................................................................. 73 Tabela 5. 15. Bandas de absorção na região do infravermelho das amostras de PAni(AG) 3 e PAni (H2SO4) ....................................................................................... 75 Tabela 5. 16. Bandas de absorção na região do infravermelho das amostras de base esmeraldina (BE) e PAni(AG) 10. .............................................................................. 77 Tabela A. 1. Representação dos erros absolutos médios das distâncias e ângulos de ligação e ângulos de torsão para os métodos semi-empíricos .................................. 94 17 1. INTRODUÇÃO Os polímeros orgânicos convencionais, durante muitas décadas foram largamente empregados como isolantes da corrente elétrica em inúmeras aplicações tecnológicas. No entanto, em 1976, Hideki Shirakawa, Alan G. MacDiarmid e Alan J. Heeger descobriram que a oxidação parcial do poliacetileno na presença de iodo, ou outros reagentes, produziam filmes de poliacetileno 10 9 vezes mais condutores do que o poliacetileno original, o que corresponde a uma transição do caráter isolante para o caráter condutor ou metálico destes materiais. Estes polímeros foram denominados intrinsecamente condutores (PIC’s) (HEEGER, 2001). O trabalho desenvolvido com os polímeros condutores, também denominados metais sintéticos, proporcionou aos autores o Prêmio Nobel de Química em 2000. Nas últimas décadas, vários polímeros intrinsecamente condutores, macromoléculas que possuem em sua estrutura polimérica um extenso sistema de ligações -conjugadas, tornaram-se conhecidos e despertou o interesse da comunidade científica pelo motivo de apresentarem propriedades elétricas e óticas que possibilitam a aplicabilidade dos materiais em diversas áreas tecnológicas (SHUMAKOVICH et al., 2012; MARJANOVI’C, 2013; SENGUPTA; KAR; ADHIKARI, 2009). Dentre estes polímeros, um dos mais estudados recentemente é a polianilina (PAni), pois apresenta excelente estabilidade ambiental, é facilmente sintetizada por métodos químicos, apresenta adequados níveis de condutividade elétrica e térmica, baixo custo do monômero e a possibilidade de incremento de suas características físico-químicas através da adição de diferentes dopantes na cadeia polimérica, resultando em diversas aplicações tecnológicas do material polimérico como: fabricação de diodos emissores de luz, músculos artificiais, janelas inteligentes, absorção de radiação na região de microondas, baterias recarregáveis entre outras (DHAND et al., 2011; CHEN et al., 2009; STEJSKAL; SAPURINA; TRCHOVÁ, 2010). Embora a polianilina possua características que permitam sua aplicação na obtenção de novos dispositivos elétricos e eletrônicos, as fortes interações intercadeias de transferência de elétrons que existem neste e nos demais polímeros condutores, que são relativamente fortes quando comparadas às interações do tipo van der Waals e ligações de hidrogênio dos polímeros convencionais, torna-os praticamente insolúveis e infusíveis na forma condutora, o que dificulta a aplicação tecnológica do material (HEEGER, 2001; JAYMAND, 2013). 18 Alguns métodos têm sido utilizados para melhorar a processabilidade da polianilina como, por exemplo, a utilização de derivados substituídos da anilina (GAZOTTI; De PAOLI, 1996), a mistura de outros polímeros formando as blendas (AFZAL et al., 2010) e a dopagem realizada com ácidos protônicos funcionalizados com grupos orgânicos. A utilização destes ácidos, melhora a solubilidade da polianilina em solventes orgânicos e a compatibilidade química com outras matrizes poliméricas, tornando o material como um potencial em aplicação tecnológica (CAO; SMITH; HEEGER, 1992). Com este intuito, o uso de aminoácidos como dopantes da polianilina pode tornar-se uma nova alternativa de modificação estrutural deste polímero condutor. Assim, o enfoque deste trabalho centrou-se no estudo teórico das interações entre a polianilina e o ácido glutâmico, pois relatos da literatura mostram que pelos métodos convencionais de síntese e redopagem não é possível obter polianilina dopada com ácido glutâmico (ASSIS; ARAÚJO, 2006). Com esta finalidade o estudo teórico torna-se relevante, visto que os resultados podem ser úteis a fim de obter informações que ajudem a propor uma rota de síntese da polianilina dopada com o ácido glutâmico. Após o estudo teórico, foram desenvolvidas estratégias de obtenção da polianilina dopada com este aminoácido, a fim de analisar a influência do dopante nas propriedades estruturais das amostras. 19 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Polímeros condutores Os polímeros são macromoléculas constituídas de várias subunidades que se repetem continuamente, denominadas monômeros. Eles são sintetizados através de reações de polimerizações de seus monômeros (MANO; MENDES, 1999). Uma nova classe de polímeros, denominados intrinsecamente condutores, foi descoberta na década de 1970 e despertou o interesse de diversos grupos de pesquisas por apresentarem interessantes propriedades elétricas e óticas, originando investigações que vão desde o desenvolvimento de novas rotas sintéticas até utilizações em diversas aplicações tecnológicas como: diodos emissores de luz, filmes para dissipação de carga elétrica, blindagem eletromagnética, janelas inteligentes, dispositivos eletrocrômicos, baterias recarregáveis, sensores de pressão e fotodegradação (SHUMAKOVICH et al., 2012; BHADRA et al., 2009; MAIA et al., 2000; FAEZ et al., 2000). Vários polímeros intrinsecamente condutores, macromoléculas que possuem em sua estrutura polimérica alternância de ligações simples e duplas, tais como, poliacetileno, polipirrol, politiofeno, poli (p-fenileno), poli (p-fenilenovinileno) por apresentarem comportamento elétrico semelhante aos metais despertaram o interesse da comunidade científica, sendo amplamente estudados nas últimas décadas (HEEGER, 2001; JAYMAND, 2013; SHUMAKOVICH et al., 2012). Estes polímeros tornam-se eletricamente condutores, pelo processo denominado dopagem que envolve a transição de um polímero com caráter isolante ou semicondutor para um material condutor. A dopagem é produzida pela adição de agente dopante na cadeia polimérica. Os dopantes são substâncias que alteram as propriedades eletrônicas, óticas e estruturais do polímero, conduzidas por um grande aumento na condutividade elétrica do material. O processo de dopagem pode ocorrer via reações ácido-base ou oxirredução, através da oxidação ou redução parcial das cadeias poliméricas (MARJANOVI’C, 2013; SENGUPTA; KAR; ADHIKARI, 2009; LU et al., 2011). 20 2.2. Polianilina Entre os polímeros condutores, um dos mais promissores é a polianilina (PAni) devido sua excelente estabilidade ambiental e química, facilmente sintetizada via método químico, dopagem sem modificação no número total de elétrons da cadeia polimérica, baixo custo do monômero e possibilidade de modificações de suas propriedades eletromagnéticas, estruturais, mecânicas e solubilidade em função do ácido dopante empregado na síntese, bem como obtenção de blendas e materiais híbridos (BHADRA et al., 2009; LIU, 2009; ARAÚJO; De PAOLI, 2009; LEE; KIM; YANG, 2012; SULTANA et al., 2012). Diversas aplicações tecnológicas têm sido propostas e desenvolvidas para a polianilina, tais como, produção de diodos retificadores e junções, transistores, dispositivos emissores de luz, blindagem eletromagnética, janelas eletrocrômicas, músculos artificiais, células fotovoltaicas, sensores químicos e de pressão, utensílio contra a corrosão, obtenção de materiais híbridos e atividade fotocatalítica (DHAND et al., 2011; CHEN et al., 2009; STEJSKAL; SAPURINA; TRCHOVÁ, 2010; ANAND; PALANIAPPAN; SATHYANARAYANA, 1998; DING et al, 2008). A fórmula estrutural básica da polianilina é constituída por unidades oxidadas e reduzidas, dos átomos de nitrogênio, repetidas alternadamente ao longo da cadeia polimérica, correspondendo às estruturas iminas e aminas, respectivamente, cuja fórmula da unidade de repetição está representada na Figura 2.1, onde o índice y determina o estado de oxidação do polímero (ARAÚJO; De PAOLI, 2009). Figura 2. 1. Representação genérica da fórmula geral da polianilina, onde y define o estado de oxidação do polímero Fonte: Adaptado de (ARAÚJO; De PAOLI, 2009) 21 A polianilina existe em três estados de oxidação principais, cujas propriedades físicas e químicas são distintas. A Tabela 2.1 mostra as principais características das diferentes formas estruturais da polianilina (ALBUQUERQUE et al., 2000). Entre as formas obtidas da polianilina, a estrutura denominada base esmeraldina atinge os maiores valores de condutividade elétrica quando dopada por ácidos, através de reações ácido-base, variando de material isolante (σ< 10-10 Scm-1), à sua forma eletricamente condutora (σ 101 Scm-1), formando o sal esmeraldina. A dopagem da polianilina ocorre preferencialmente nos sítios imínicos, através de um processo reversível e sem alteração no número total de elétrons da cadeia polimérica. Através de reações de redução, bem como tratamento com base, é possível converter reversivelmente a forma sal esmeraldina em base esmeraldina, em um processo denominado de redopagem. Assim, a condutividade elétrica do material pode variar em função do grau de oxidação do polímero e da protonação, tornando-a única entre os polímeros condutores. A polianilina não dopada (base esmeraldina) é um isolante com band gap de aproximadamente 3,20 eV e a polianilina dopada (sal esmeraldina) apresenta band gap de 2,21 eV (LASLAU; ZUJOVIC; TRAVAS-SEJDIC; 2010; GOSPODINOVA; TERLEMEZYAN, 1998; MAIA et al., 2000; SOUSA, 2012; EPSTEIN et al., 1987; YAKUPHANOGLU et al., 2006). Tabela 2. 1. Principais características das diferentes formas estruturais da polianilina y Nome Comportamento elétrico Cor 0 Pernigranilina Isolante Roxo 1 Leucoesmeraldina Isolante Incolor 0,5 Base Esmeraldina Isolante Marrom 0,5 (protonada) Sal Esmeraldina Condutor Verde Fonte: Adaptado de (SOUSA, 2012) 2.2.1. Dopagem química Os sítios imínicos (–N=) da forma base esmeraldina são facilmente protonados pela adição de ácido dopante, ocasionando uma transição do material de isolante – condutor, sem alteração no número de elétrons da cadeia polimérica, diferindo assim a polianilina dos demais polímeros condutores. 22 O modelo teórico utilizado para explicar a condutividade elétrica da polianilina é a existência de defeitos estruturais na cadeia originados durante a polimerização, provocando o aparecimento de estados eletrônicos localizados no band gap. A Figura 2.2 mostra como ocorre o processo de dopagem na polianilina e as respectivas formações dos defeitos estruturais na cadeia polimérica. A dopagem via reação ácido-base conduz a uma reação redox interna e a conversão do material de caráter isolante, base esmeraldina (Figura 2.2(a)), para um material com caráter condutor, sal esmeraldina (Figura 2.2(b)-(d)). A estrutura química da base esmeraldina é aquela de um copolímero alternado. Na protonação da base esmeraldina para o sal esmeraldina, ocorre uma mudança estrutural interna com a formação da forma bipolarônica, Figura 2.2(b). Em seguida, ocorre uma relaxação da cadeia polimérica, em que os anéis quinóides adquirem um caráter benzenóide, formando a estrutura polarônica do sal esmeraldina, Figura 2.2(c). Então, os elétrons formados nos nitrogênios vizinhos sofrem uma separação dos polarons, produzindo a estrutura representada na Figura 2.2(d). O mecanismo de desemparelhamento de spin induzido pelo próton conduz a uma mudança estrutural com um spin desemparelhado por unidade de repetição, porém sem qualquer mudança no número de elétrons. O resultado é uma banda semipreenchida e, potencialmente, um estado condutor em que existe uma carga positiva em cada unidade de repetição (da protonação) e um contra íon associado (MARJANOVI’C, 2013; MAIA et al., 2000; HEEGER, 2001; DHAND et al., 2011; JAYMAND, 2013; CHEN et al., 2009). 23 Figura 2. 2. Representação esquemática da dopagem da polianilina, sendo convertido de material semicondutor para condutor (a) base esmeraldina, (b)-(d) sal esmeraldina: (b) formação de bipolaron, (c) formação de polaron e (d) separação de dois polarons. O contra-íon não é mostrado Fonte: (HEEGER, 2001) No processo de oxidação, dopagem tipo p, a remoção inicial de um elétron da cadeia polimérica conduz a formação de um cátion radical denominado polaron. A formação do polaron provoca uma deslocalização eletrônica parcial em algumas unidades monoméricas, causando uma distorção estrutural local. Desta forma, o polaron é definido como um íon radical, com spin ±½ associado a uma relaxação da cadeia polimérica e à presença de estados eletrônicos localizados no band gap. A remoção de um segundo elétron pode ocasionar a formação de outro polaron, ou ao ser retirado do polaron, originar um bipolaron. O bipolaron é definido como um par de cargas associadas a uma forte distorção da rede. Cálculos teóricos mostram que termodinamicamente, o bipolaron é mais estável do que dois polarons separados, devido à repulsão coulômbica de duas cargas confinadas em orbitais 24 degenerados. Estes estados eletrônicos criados permitem a condução eletrônica ao longo da rede polimérica (ZOPPI; De PAOLI, 1993; HEEGER, 2001; BRÉDAS; STREET, 1985). 2.2.2. Síntese e fatores que influenciam nas características da polianilina A polianilina pode ser obtida por oxidação química ou eletroquímica. A síntese química é um processo relativamente simples, capaz de produzir um polímero de alta massa molecular e é um método viável para se obter grandes quantidades do material polimérico. A síntese eletroquímica não necessita de agente oxidante e catalisador, é facilmente caracterizado in situ por técnicas espectroscópicas e produz um material de elevada pureza e pequena quantidade de polianilina, uma vez que a quantidade do produto é limitada pela área dos eletrodos. Na síntese química, obtém-se um produto na forma de pó, e na eletroquímica, na forma de filmes finos (SOUSA et. al., 2003; AYAD; ZAKI, 2008). A síntese por oxidação eletroquímica ocorre através da oxidação da anilina (monômero) sobre eletrodos de diferentes materiais inertes como platina, ouro, vidro condutor e carbono vítreo. Na célula eletroquímica os eletrodos são imersos em uma solução aquosa ácida que contém o monômero e o eletrólito, assim pela aplicação de uma diferença de potencial ou corrente elétrica começa a formar sal esmeraldina e depositar sobre o eletrodo (AYAD; ZAKI, 2008). A síntese por oxidação química da anilina é obtida através da adição de um agente oxidante no meio reacional. A reação é realizada em meio aquoso ácido e a baixas temperaturas, evitando à formação de oligômeros, ou seja, polímeros de baixa massa molecular, e consequentemente possibilitando um aumento de rendimento, cristalinidade e condutividade elétrica do material obtido. Como o processo de polimerização é exotérmico, este se torna mais lento em temperaturas mais baixas e evita a formação de ligações indesejáveis que diminuem a regularidade da cadeia polimérica (ERDEM; KARAKIŞLA; SAÇAK, 2004; STEJSKAL; SAPURINA; TRCHOVÁ, 2010; LINHARES, 2008). Vários agentes oxidantes podem ser utilizados na síntese química da PAni, desde que apresentem um potencial de redução suficiente para oxidar o monômero. O dicromato de potássio, K2Cr2O7, e o persulfato de amônio, (NH4)2S2O8, são os oxidantes mais usados na obtenção da polianilina em meio aquoso ácido. Contudo, 25 o persulfato de amônio é o mais recomendado, pois apresenta boa solubilidade em água, conduz a bons rendimentos e os produtos da sua redução, sais de metais leves e ácidos inorgânicos, são de fácil tratamento e baixa toxicidade. A Figura 2.3 representa a reação de polimerização da anilina com (NH4)2S2O8, em solução de um ácido monoprótico genérico do tipo HA (SOUSA et. al., 2003; MAIA et al., 2000; MARJANOVI’C, 2013). Figura 2. 3. Representação da oxidação da anilina com persulfato de amônio produzindo polianilina dopada com um ácido genérico HA e sub-produtos da reação Fonte: Adaptado de (SOUSA et al., 2003) Várias modificações na síntese química da polianilina têm sido relatadas na literatura (PALANIAPPAN; AMARNATH, 2005; GOMES; OLIVEIRA, 2012; CHUNG; WEN; GOPALAN, 2005; LU et al., 2011; ARAÚJO; De PAOLI, 2009). Elas mostram que os principais parâmetros estudados e que afetam a reação e as características do produto final são: natureza do meio reacional; concentração do agente oxidante; tempo de reação; temperatura do meio; natureza do ácido dopante e substituinte do monômero (ARAÚJO; De PAOLI, 2009; SOUSA et al., 2003). A literatura cita diferentes ácidos dopantes empregados na síntese química da polianilina. Entre os ácidos inorgânicos, os mais empregados são HCl, H2SO4, H3PO4 e HClO4 e entre os ácidos orgânicos, os mais utilizados são ácido dodecilbenzeno sulfônico (ADBS), p-tolueno sulfônico, canforosulfônico e ácido oléico (AYAD; ZAKI, 2008). Apesar de inúmeros ácidos dopantes serem empregados na síntese química da polianilina, a maioria destes ácidos produzem polianilina protonada de baixa 26 solubilidade em solventes comuns e infusibilidade, tornando-se um obstáculo que impedem que a polianilina seja utilizada em diversas aplicações tecnológicas. A forma básica da polianilina (base esmeraldina) dissolve parcialmente em solventes orgânicos, enquanto, a forma dopada sal esmeraldina é praticamente insolúvel. Estas características se devem as interações intercadeias de transferência de elétrons relativamente fortes quando comparadas às interações do tipo van der Waals e ligações de hidrogênio dos polímeros convencionais (HEEGER, 2001). Entre as estratégias empregadas para melhorar a processabilidade da polianilina, destacam-se a utilização de derivados substituídos da anilina (GERCEK et al., 2007), a mistura com outros polímeros formando as blendas (PUD et al., 2003, JAYMAND, 2013) e a dopagem com ácidos protônicos funcionalizados com grupos orgânicos. Estes ácidos protônicos (genericamente denotados por H+(M—R)-, em que (M–R)- representa o contra-íon que contém o grupo funcional R e que deve ser compatível com solventes orgânicos) foram inicialmente usados por CAO; SMITH e HEEGER (1992) formando um complexo com o polímero conferindo dopagem e solubilidade em diversos solventes de baixa polaridade, como tolueno, xileno, decalina e clorofórmio (HAO et al., 2010; HEEGER, 2001; JAYMAND, 2013). Vários trabalhos de polianilina dopada com ácidos orgânicos foram desenvolvidos no Grupo de Química de Materiais e Modelagem Molecular (QMMOL) da Universidade Estadual de Goiás nos últimos anos, entre eles destaca-se a utilização dos ácidos tartárico, adípico, capróico, ADBS, oléico e glutâmico (LINHARES, 2008; SOUSA, 2012; FERREIRA, 2011; ASSIS; ARAÚJO, 2006). ERDEM; KARAKIŞLA; SAÇAK (2004) estudaram o efeito do tamanho do ânion dopante sobre as propriedades elétricas e a solubilidade da polianilina em alguns solventes, como N-metilpirrolidona (NMP), dimetilformamida (DMF) e dimetilsulfóxido (DMSO). No referente estudo, foram empregados como ácidos dopantes, ácido oxálico, ácido malônico, ácido succínico, ácido glutárico, ácido adípico e ácido ftálico, e os resultados evidenciaram que moléculas com ânions dopantes maiores apresentam maior solubilidade nestes solventes. Os fatores que interferem na solubilidade da polianilina são as interações entre as cadeias da rede polimérica e as interações entre a polianilina e as moléculas de solvente. Além disso, a condutividade da polianilina dopada com ácidos dicarboxílicos diminui quando o ânion do dopante torna-se maior. Esta diminuição é provavelmente causada pela 27 decrescente mobilidade do ânion dopante e interações intercadeias entre as cadeias da polianilina. De acordo com LINHARES (2008) a utilização de ácidos orgânicos funcionalizados, como o ADBS, que apresenta um longo grupo alquil propiciou melhor compatibilidade com solventes apolares e matrizes poliméricas de estrutura química compatível. Entretanto, os solventes orgânicos utilizados na dissolução do polímero, como o tolueno e o xileno, apresentam alta toxicidade o que inviabiliza a produção destas misturas em grande escala (ARAÚJO; De PAOLI, 2009). Neste contexto, a maioria dos ácidos dopantes empregados na síntese da polianilina apresenta um único grupo ionizável, ou seja, o grupamento ácido que irá protonar a estrutura da polianilina, conferindo condutividade elétrica ao material. No entanto, estes ácidos apresentam um longo grupo alquila que possui caráter apolar, acarretando uma diminuição na solubilidade e compatibilidade da polianilina em solventes polares. Deste modo é interessante utilizar ácidos que carreguem outros grupamentos polares e ionizáveis de forma a propiciar uma melhor compatibilidade entre a polianilina e matrizes poliméricas polares, que possibilitam a formação de blendas poliméricas, bem como melhorar sua solubilidade em solventes polares e que apresentem menor toxidade do que os solventes orgânicos tradicionais. Com esta finalidade, ASSIS e ARAÚJO (2006) realizaram a síntese da polianilina em solução de ácido glutâmico levógiro, com o objetivo de desenvolver um método de síntese de polianilina dopada com ácido glutâmico de forma que este atuasse como dopante e melhorasse a compatibilidade química da polianilina com substratos e solventes polares que apresentam menor toxidade do que aqueles utilizados por CAO; SMITH e HEEGER (1992). Entretanto, pelos métodos convencionais de síntese e redopagem não foi possível obter polianilina dopada com ácido glutâmico. De acordo com LEE et al. (2013); JACOB; FISCHER (2002) os aminoácidos podem existir em ambas as formas neutras ou zwitteriônicas (forma dipolar), sendo moléculas neutras em fase gasosa e zwitterions no estado cristalino e em solução aquosa. Na forma zwitteriônica os aminoácidos existem com uma carga total igual a zero e são caracterizados por apresentarem pontos de fusão relativamente altos e elevados momentos dipolo. Possivelmente a estrutura zwitteriônica do ácido glutâmico impede sua reação com a polianilina. Estudos teóricos entre a polianilina e as formas neutras e zwitteriônica do aminoácido tornase relevantes, pois os resultados obtidos podem ser úteis na elaboração de uma rota 28 sintética para a polianilina dopada com ácido glutâmico, uma vez que este aminoácido apresenta as características desejáveis para obtenção de um material polimérico com boa solubilidade em solventes polares e que apresente maior compatibilidade com outros substratos ou solventes, pois o ácido apresenta três grupos polares, sendo dois grupamentos carboxílicos e um grupamento amina, Figura 2.4. Desta forma, um grupamento ácido pode interagir com os sítios imínicos da PAni, promovendo a dopagem, e a outra extremidade pode servir como meio de compatibilização com outros substratos ou solventes. Figura 2. 4. Representação da estrutura química do ácido L-glutâmico zwitteriônico A utilização de aminoácidos como dopantes da polianilina se deve às possíveis aplicações tecnológicas que este novo material pode propiciar, como por exemplo, sua aplicação como imobilizador enzimático empregado na construção de biosensores eletroquímicos (LUKACHOVA et al., 1997; GARJONYTE; MALINAUSKAS, 2000). Recentemente, KONG et al. (2011) relataram a preparação de polianilina como polímero com capacidade de reconhecimento molecular – molecularly imprinted polymers (MIP), eles utilizaram a síntese da polianilina com ácido clorídrico na presença do aminoácido ácido L-aspártico como molécula molde e propuseram uma estrutura de interação iônica entre os sítios imínicos da polianilina e os grupos carboxílicos do aminoácido. Há relatos na literatura que mostram que as estruturas dos aminoácidos em meio aquoso são dependentes do pKa do meio, devido o caráter anfiprótico destas moléculas. Assim, em uma solução aquosa as estruturas do aminoácido são idênticas com a estrutura do ponto isoelétrico, ou seja, o ponto que representa a estrutura zwitteriônica do aminoácido. 29 Deste modo, a redução do pH do meio através da adição de um ácido forte, como o HCl, conduz a protonação do íon carboxilato, convertendo-o em ácido carboxílico (CRITTENDEN; CHEBIB; JORDAN, 2004). Assim, esta estrutura corresponderia à dopagem da PAni pelo ácido L-aspártico. A polianilina na forma de MIP foi usada na preparação de eletrodos, tipo coluna, com aplicação no reconhecimento enantiosseletivo do aminoácido, uma vez que os enantiômeros apresentam propriedades físico-químicas semelhantes, a separação quiral é alcançada em um ambiente quiral capaz de reconhecer e diferenciar as duas moléculas quirais (KONG et al. 2011). 2.3. Polianilina e aminoácidos: Uma abordagem teórica A química computacional é uma área da química que lida com a modelagem e a simulação computacional de sistemas tais como biomoléculas, polímeros, drogas, moléculas inorgânicas e orgânicas e outras estruturas. As constantes melhorias no desenvolvimento de hardware e software computacionais, programas mais eficientes e pacotes computacionais, tornaram a química computacional uma área bastante promissora. Assim, os conceitos de química computacional podem ser utilizados para resolver problemas complexos de diversas áreas do conhecimento. Além disso, ela é extensivamente aplicada no estudo de propriedades físico-químicas de materiais (RAMACHANDRAN; DEEPA; NAMBOORI, 2008). Nas últimas décadas, um foco relevante está nos estudos desenvolvidos para entender as propriedades estruturais, elétricas e óticas da polianilina aplicando sofisticados métodos mecânicos-quânticos, entretanto, o número de trabalhos desenvolvidos são relativamente escassos. As investigações teóricas representam oligômeros da polianilina de diferentes comprimentos e estados de oxidação, discutindo sua geometria, estrutura eletrônica, orbitais moleculares, densidade de estado (DOS), estabilidades termodinâmicas, propriedades oxirredução, ácido-base, condutividade, absorção ótica e estudo sobre as formas polarônica e bipolarônica do sal esmeraldina (ROMANOVA et al., 2010; ALEMÁN et al., 2008; LEE et al., 2009; EPSTEIN et al., 1987; BAUGHMAN et al., 1988; BARTA et al., 1998; STRAFSTÖM; BRÉDAS, 1986; GIRI et al., 1997). Destes trabalhos a maioria não relata a interação e a dopagem de um ácido com a estrutura da polianilina, sendo insuficiente para entender as propriedades eletrônicas e estruturais do polímero. 30 Recentemente, ROMANOVA et al. (2010) avaliaram e discutiram a influência da polaridade do meio sobre a forma condutora da Pani. Eles estudaram a geometria e a estrutura eletrônica da base esmeraldina e do sal esmeraldina (forma polarônica e bipolarônica), em meio polar e em vácuo, utilizando-se o método DFT(U)BLYP/6-31G* implementando o método do Modelo Contínuo Polarizável (PCM). De acordo com os autores, a geometria e a estrutura eletrônica do sal esmeraldina depende das propriedades dielétricas do meio, pois estimativas mais razoáveis nos parâmetros estruturais da PAni são obtidas em meio aquoso, uma vez que produz spin correto e distribuição de densidade de carga. Além disso, os autores mostram que a forma bipolarônica para a estrutura do sal esmeraldina com quatro anéis é mais estável do que a forma polarônica. ALÉMAN et al. (2008) estudaram a geometria e a estrutura eletrônica das três formas não dopada da PAni (esmeraldina, leucoesmeraldina e pernigranilina) e a forma sal esmeraldina (forma polarônica e bipolarônica), os cálculos foram realizados utilizando-se oligômeros da polianilina variando-se o número de repetição de 5 até 13, utilizando-se métodos ab initio e DFT. Cálculos para o sal esmeraldina na forma bipolarônica mostram que o defeito na cadeia polimérica localiza-se principalmente no quinto anel central, em que adquiri-se uma estrutura quinóide e concentra-se a carga e a densidade de spin. Já estudos sobre aminoácidos são mais facilmente encontrados na literatura, principalmente aqueles que investigam sobre a estabilidade dos aminoácidos em meio gasoso e aquoso, uma vez que evidências indicam que os aminoácidos podem existir em ambas as formas zwitteriônicas ou neutras, sendo moléculas neutras em fase gasosa e encontrando-se como zwitterions (forma dipolar) no estado cristalino e em solução aquosa. Além disso, os aminoácidos são bastante abundantes nos organismos vivos, assim o efeito do solvente deve ser avaliado para ter uma boa representação dos aminoácidos em meio aquoso, obter informações e identificar as possíveis conformações biologicamente ativas (CRITTENDEN; CHEBIB; JORDAN, 2004; JACOB; FISCHER, 2002; LEE et al., 2013; FISCHER, 2006). 31 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral O objetivo é estudar teoricamente as interações entre a polianilina na sua forma básica com ácido glutâmico levógiro e as interações entre a anilina com ácido glutâmico, em meio gasoso utilizando os métodos semi-empíricos e ab initio. Contribuir no entendimento da síntese da polianilina, utilizando como dopante o ácido glutâmico, bem como caracterizar as amostras. 3.2. Objetivos Específicos Desenvolver programas em linguagem de programação Shell Bash do Linux para construir as estruturas das moléculas, de anilina, base esmeraldina, ácido glutâmico levógiro zwitteriônico e neutro, usando coordenadas internas; Fazer cálculos de otimização das estruturas utilizando métodos semiempíricos e ab initio, e desenvolver programas em linguagem de programação Shell Bash para coletar e filtrar alguns dados obtidos após os cálculos; Analisar as energias das moléculas, de anilina, base esmeraldina, ácido Lglutâmico zwitteriônico e neutro, as distâncias de ligações e as cargas parciais de Mulliken comparando-as com dados teóricos; Desenvolver programas em linguagem de programação Shell Bash do Linux para construir as interações entre polianilina e anilina com o ácido glutâmico em meio gasoso e otimizá-las utilizando métodos semi-empíricos e ab initio, além de coletar e filtrar alguns dados obtidos após os cálculos; Analisar as variações de energia, distâncias de ligações e cargas atômicas dos modelos, comparando-as com dados teóricos e experimentais; Realizar um planejamento experimental variando as razões molares anilina/ácido, concentração inicial de anilina e razão anilina/agente oxidante tendo como resposta o rendimento nominal e a condutividade elétrica; Promover a reprotonação da base esmeraldina com ácido glutâmico variando a razão molar ácido glutâmico/base esmeraldina e a temperatura de síntese; 32 Caracterizar as amostras por espectroscopia vibracional na região do infravermelho e determinação de condutividade elétrica pelo método de quatro pontas. 33 4. METODOLOGIA 4.1. Detalhes computacionais na construção das estruturas Para a realização do estudo teórico foi utilizado como sistema operacional o LINUX. Este sistema destaca-se por ser multiusuário e multitarefa e ser de domínio público dentro do qual foram utilizados os seguintes programas: 1. MOLDEN – programa gráfico para edição e visualização de estruturas e propriedades moleculares (MORGON, 2001; SCHAFTENAAR; NOORDIK, 2000). 2. GIMP – programa utilizado para visualização de moléculas e edição de imagens (CALLIGARIS, 2005). 3. GNUPLOT – programa usado para visualização e construção de gráficos em duas ou três dimensões (MORGON, 2001; GALO, 2003; FONTENELE, 2007). 4. VI – editor de texto utilizado para editar as coordenadas geométricas das estruturas (SOBELL, 2009). O MOPAC e o GAUSSIAN que são pacotes de orbital molecular semi-empírico e ab initio, respectivamente, de uso comum para o estudo de estruturas químicas e reações, foi utilizado para otimizar as coordenadas geométricas (STEWART, 1990). A linguagem de programação Bourne Again Shell (Shell Bash) foi usada com o intuito de obter as coordenadas dos modelos e coletar os dados teóricos (SOBELL, 2009; NEVES, 2006). O estudo teórico da interação da polianilina e anilina com o ácido glutâmico levógiro foi realizado utilizando os métodos semi-empíricos AM1 (Austin Model1) e PM7 (Parametric Method 7) e ab initio HF (Hartree-Fock) e DFT (Density Functional Theory) - B3LYP com conjunto de bases 3-21G, 6-31G e 6-311G. Os métodos semiempíricos e ab initio estão descritos detalhadamente no Apêndice A. Os cálculos com o método AM1 foram realizados com o pacote MOPAC 2007 (Molecular Orbital Package 2007) e o PM7 com o MOPAC 2012 e os cálculos ab initio foram realizados no GAUSSIAN. Os modelos de menores energias foram calculados usando o método AM1 que foram, então, utilizados nos cálculos PM7 e ab initio. Os dados foram analisados conforme a variação de energia dos modelos, as distâncias e as distribuições de cargas de Mulliken. As estruturas da anilina, da polianilina, das formas do ácido L-glutâmico neutro e zwitteriônico e os modelos de interações foram obtidas através da elaboração de programas em linguagem de programação Shell Bash do Linux, em que alguns destes programas estão descritos no Apêndice B. Para construir estes 34 modelos, utilizou-se coordenadas internas (r, θ, φ), sendo: r a distância de ligação entre os átomos ij, como mostra a Figura 4.1(a); θ é o ângulo de ligação entre os átomos ijk, conforme mostrado na Figura 4.1(b); φ é o ângulo de torsão entre quatro átomos, isto é, o ângulo entre os planos representados pelos átomos ijk e jkl, como mostra a Figura 4.1(c). Figura 4. 1. Representação (a) da distância de ligação entre os átomos i e j, (b) do ângulo de ligação entre i, j e k, (c) do ângulo de torsão entre i, j, k e l A Figura 4.2 representa um recorte do arquivo das coordenadas da estrutura da base esmeraldina, gerado no editor de texto VI. A primeira coluna representa o número de linhas que contém o arquivo, a segunda coluna mostra cada átomo da estrutura. A 3°, 5° e 7° colunas, representam a distância de ligação, em angström (Å), o ângulo de ligação e o ângulo de torsão entre os átomos, em graus, respectivamente. As colunas quatro, seis e oito estão relacionadas com as otimizações das distâncias de ligações, ângulos de ligações e ângulos de torsão entre os átomos, respectivamente. Para essas colunas, são utilizados os números 0 e 1 que correspondem à coordenadas fixas ou livres. Assim, o número 0 indica que a coordenada está fixada, ou seja, ela não será otimizada durante o cálculo, e o número 1 indica que a coordenada está livre, isto é, na execução dos cálculos de otimizações estas coordenadas estão propicias a serem otimizadas. As últimas três colunas indicam a conectividade dos átomos entre si, por exemplo, o C4, linha 8, está ligado ao átomo 3 (1,420Å), faz ângulo de ligação com 2 (120,0°) e ângulo de torsão com 1 (0,000°). As duas primeiras linhas do arquivo representam as keywords (palavras-chaves) utilizadas no processo de otimização da estrutura, por exemplo, o método mecânico-quântico empregado é o AM1 e a carga total da estrutura é zero 35 (Charge=0). Figura 4. 2. Representação de um recorte do arquivo da base esmeraldina criado no editor de texto VI, utilizando coordenadas internas 1 AM1 BONDS PREC SHIFT1000 DEBUG LET T=1999999 + 2 DUMP=250000 PL GEO-OK SINGLET CHARGE=0 3 Base esmeraldina com quatro anéis- 1° otimização 4 5 C 0.000 0 0.000 0 0.000 0 0 0 0 6 C 1.420 1 0.000 0 0.000 0 1 0 0 7 C 1.420 1 120.000 0 0.000 0 2 1 0 8 C 1.420 1 120.000 0 0.000 0 3 2 1 9 C 1.420 1 120.000 0 0.000 0 4 3 2 10 C 1.420 1 120.000 0 0.000 0 5 4 3 11 N 1.400 1 120.000 0 180.000 0 4 3 2 12 H 1.100 1 120.000 0 180.000 0 2 3 4 13 H 1.100 1 120.000 0 180.000 0 3 4 5 14 H 1.100 1 120.000 0 180.000 0 5 6 1 15 H 1.100 1 120.000 0 180.000 0 6 1 2 16 C 1.420 1 120.000 0 0.000 0 7 4 3 17 C 1.420 1 120.000 0 0.000 0 12 7 4 18 C 1.420 1 120.000 0 180.000 0 13 12 7 Na Figura 4.3 estão ilustradas as representações esquemáticas das estruturas construídas através de coordenadas internas. Com o intuito de obtê-las com menores energias foram otimizadas de modo alternado suas distâncias, ângulos de ligações e de torsão. Assim, a primeira otimização consiste em soltar a distância de ligação de todos os átomos, mantendo-se fixos os ângulos de ligações e torsão. As coordenadas resultantes deste cálculo foram utilizadas para a otimização do ângulo de ligação, mantendo-se fixos as distâncias e os ângulos de torsão e assim sucessivamente. O processo de otimização consistiu em um total de 20 etapas, conforme representado na Tabela 4.1. 36 Figura 4. 3. Representação esquemática das estruturas químicas de (a) anilina; (b) base esmeraldina; (c) ácido L-glutâmico zwitteriônico e (d) ácido L-glutâmico neutro 37 Tabela 4. 1. Etapas utilizadas no processo de otimização de cada estrutura Etapas Distâncias de ligações Ângulos de ligações Ângulos de torsão 1° otimização Solto Fixo Fixo 2° otimização Fixo Solto Fixo 3° otimização Fixo Fixo Solto 4° otimização Solto Solto Solto 5° otimização Solto Solto Fixo 6° otimização Solto Fixo Solto 7° otimização Fixo Solto Solto 8° otimização Solto Solto Solto 9° otimização Solto Fixo Fixo 10° otimização Fixo Solto Fixo 11° otimização Fixo Fixo Solto 12° otimização Solto Solto Solto 13° otimização Fixo Solto Fixo 14° otimização Fixo Fixo Solto 15° otimização Solto Fixo Fixo 16° otimização Solto Solto Solto 17° otimização Solto Fixo Solto 18° otimização Fixo Solto Solto 19° otimização Solto Solto Fixo 20° otimização Solto Solto Solto A partir das estruturas de menores energias, realizou-se os cálculos de interações entre anilina e o ácido glutâmico levógiro neutro e zwitteriônico, Figura 4.4(a), e entre a polianilina e as duas formas do ácido L-glutâmico, Figura 4.4(b). A variação de energia de interação (ΔEint) foi calculada a partir da Equação 4.1. ∆Eint= Ei - (EAN + EAG) (4.1) sendo: Ei é a energia de interação entre as moléculas; EAN é a energia da molécula de anilina; EAG é a energia da molécula de ácido glutâmico. Este procedimento foi 38 generalizado para todos os cálculos de interação entre os modelos estudados neste trabalho. Figura 4. 4. Representação e designação dos grupos dos modelos de interações entre (a) anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico e (b) polianilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico Na Figura 4.5 estão ilustradas os modelos de transferência do hidrogênio das moléculas ácidas para as básicas, simulando, respectivamente, a formação do sal anilinium-glutamato, Figura 4.5(a), e do sal esmeraldina, Figura 4.5(b). A variação de energia de reação (ΔEr) foi calculada a partir da Equação 4.2. ∆Er= Ep - Ei (4.2) sendo: Ei é a energia de interação das moléculas; Ep é a energia dos produtos, obtidos após a transferência do hidrogênio ácido para a molécula básica. Este procedimento foi generalizado para todos os cálculos de transferência de hidrogênio entre os modelos estudados neste trabalho. Desta forma, as Figuras 4.4 e 4.5 diferem apenas na distância de ligação entre o hidrogênio ácido e o nitrogênio das moléculas básicas. 39 Figura 4. 5. Representação e designação dos grupamentos dos modelos de formação do (a) sal anilinium-glutamato e (b) sal esmeraldina Nos modelos de interações entre as moléculas e nos de transferência do hidrogênio ácido, foram consideradas fixas as distâncias entre o átomo de nitrogênio das moléculas básicas e o átomo de oxigênio do ácido. As distâncias consideradas nos cálculos foram d(N-O) = 5,00 Å, 3,00 Å, 2,80 Å e 2,30 Å. Estes valores de distâncias foram utilizados, a fim de avaliar as propriedades estruturais dos modelos, à medida que uma molécula se aproxima de outra. Desta forma, podem-se prever quais as regiões ficam mais deficientes em elétrons (regiões eletrofílicas) e quais ficam mais carregadas negativamente (regiões nucleofílicas), à medida que as moléculas ácidas aproximam-se das moléculas básicas, além de predizer outras propriedades, tais como: variação de energia de interação, momentos de dipolo, band gap do material e outros parâmetros eletrônicos. 40 Com o intuito de simular a presença do agente oxidante no meio reacional, utilizou-se o modelo mais estável após a reação entre anilina e ácido glutâmico (sal anilinium-glutamato), retirando-se um elétron do sistema e analisando-se as variações de carga atômica no modelo oxidado e não oxidado. A Figura 4.6 mostra as representações esquemáticas destes modelos. Figura 4. 6. Representação esquemática do sal anilinium-glutamato (a) não oxidado e (b) oxidado Sal anilinium-glutamato (a) Modelo não oxidado Charge=0 (b) Modelo oxidado Charge=+1 Foi utilizada nos cálculos teóricos à estrutura da base esmeraldina com uma única unidade de repetição básica. Foram analisadas as propriedades elétricas da polianilina não dopada (base esmeraldina) e da estrutura dopada (sal esmeraldina) com ácido glutâmico. A Figura 4.7 mostra uma representação esquemática da estrutura sal esmeraldina construída considerando-se a proporção molar de 2:1 de ácido dopante/base esmeraldina, em que os ácidos interagem nos sítios imínicos do polímero. Os resultados foram comparados com dados teóricos e com evidências experimentais. Os cálculos realizados foram restritos às moléculas isoladas, desconsiderando, portanto, interações intercadeias. 41 Figura 4. 7. Representação e designações dos grupos das estruturas do sal esmeraldina utilizadas nos cálculos teóricos, na proporção molar ácido glutâmico/base esmeraldina de 2:1, onde Co e Cp denota átomos de carbonos localizados nas posições orto e para 4.2. Parte Experimental As amostras de polianilina sintetizadas em meio contendo ácido glutâmico, PAni(AG), foram preparadas através de duas rotas sintéticas: a primeira rota foi realizada através do método direto de polimerização da anilina e a segunda rota através da reprotonação da base esmeraldina. 4.2.1. Reagentes e Equipamentos Os reagentes utilizados para a síntese da polianilina estão listados na Tabela 4.2 e os equipamentos utilizados para as caracterizações estão listados na Tabela 4.3. 42 Tabela 4. 2. Fórmula química, fabricante e grau de pureza dos reagentes utilizados Reagente Fórmula Química Fabricante e Grau de Pureza Ácido glutâmico C5H9O4N Synth 99 % Ácido clorídrico HCl Synth 37 % Persulfato de amônio (NH4)2S2O8 Vetec 98 % Anilina C6H7N Synth 99 % Hidróxido de amônio NH4OH Cromoline 28% Ácido sulfúrico H2SO4 Vetec 99 % Tabela 4. 3. Marcas e modelos dos equipamentos utilizados Equipamento Marca Modelo Instituição Prensa hidráulica Marconi 098 UEG Eletrômetro Keithley 6517B UEG Multímetro Agilent 34420A UEG Espectrofotômetro de Infravermelho PerkinElmer Spectrum Frontier UEG 4.2.2. Síntese da polianilina em solução de ácido glutâmico realizada pelo método de polimerização química da anilina As amostras de polianilina sintetizadas em meio contendo ácido glutâmico, PAni(AG), foram preparadas pelo método de polimerização química da anilina, realizadas em duplicata e a partir de um planejamento fatorial 23, envolvendo as variáveis: razão molar anilina/oxidante medida pelo parâmetro K (Equação 4.3), razão molar ácido glutâmico/anilina (R) e concentração inicial de anilina (C), conforme mostrado na Tabela 4.4. Foram avaliados como resposta o rendimento nominal das sínteses e a condutividade elétrica das amostras. Na Tabela 4.5, são mostradas as quantidades dos reagentes utilizados durante as sínteses. K= 2,5.n an n e .n ox (4.3) 43 em que: 2,5 é o número de elétrons envolvidos na oxidação de uma molécula de anilina; nan é a quantidade de matéria de anilina; n e é o número de elétrons do oxidante envolvido na reação, para (NH4)2S2O8 é 2; nox é a quantidade de matéria do agente oxidante. Tabela 4. 4. Níveis inferiores e superiores dos fatores utilizados no planejamento fatorial 23 Fatores (-) (+) Parâmetro K 0,8 (nox = 1,5625nan) 1,0 (nox = 1,25nan) Razão molar AG/anilina (R) 0,8 (nag= 0,8 nan) 1,0 (nag= nan) Concentração inicial de anilina (C) 0,1 molL -1 -1 0,2 molL Tabela 4. 5. Quantidade dos reagentes utilizados no planejamento fatorial 2 3 Amostra Ordem K Quantidade de (NH4)2S2O8 Q Quantidade de ácido glutâmico C Quantidade de anilina PAni(AG) 1 4 - 0,1563 mol; 35,6578 g - 0,08 mol; 11,7674 g + 0,1 mol; 9,099 mL Pani(AG) 2 6 + 0,125 mol; 28,526 g - 0,08 mol; 11,7674 g + 0,1 mol; 9,099 mL PAni(AG) 3 8 - 0,1563 mol; 35,6578 g + 0,1 mol; 14,713 g + 0,1 mol; 9,099 mL PAni(AG) 4 2 + 0,125 mol; 28,526 g + 0,1 mol; 14,713 g + 0,1 mol; 9,099 mL Pani(AG) 5 3 - 0,0781 mol; 17,829 g - 0,04 mol; 5,8837 g - 0,05 mol; 4,55 mL PAni(AG) 6 5 + 0,0625 mol; 14,263 g - 0,04 mol; 5,8837 g - 0,05 mol; 4,55 mL Pani(AG) 7 7 - 0,0781 mol; 17,829 g + 0,05 mol; 7,3564 g - 0,05 mol; 4,55 mL PAni(AG) 8 1 + 0,0625 mol; 14,263 g + 0,05 mol; 7,3564 g - 0,05 mol; 4,55 mL Em um balão de fundo redondo de três bocas e com capacidade de 2 L foi adicionado uma solução aquosa de 400 mL de ácido glutâmico. A solução foi submetida à agitação mecânica, com velocidade de 300 rpm (rotações por minuto), com aumento gradativo de temperatura até 75-80°C, utilizando-se uma chapa de aquecimento. Após observar a total solubilização do ácido, a solução foi resfriada a temperatura ambiente e adicionou-se anilina ao meio reacional. Esta solução permaneceu sob agitação até a dispersão da anilina no meio reacional. Em um béquer de 200 mL foi preparada uma solução de persulfato de amônio, (NH 4)2S2O8, em 100 mL de água destilada. A solução foi adicionada, gota-a-gota, à solução de 44 ácido glutâmico e anilina sob agitação e com temperatura em torno de 25°C. Após a adição do oxidante, o sistema foi mantido sob agitação por 5 horas. A amostra foi filtrada à pressão reduzida, lavada com 100 mL de água destilada e seca em dessecador à vácuo até obtenção de massa constante. 4.2.3. Síntese da polianilina em solução de ácido glutâmico realizada pelo método de reprotonação da base esmeraldina As amostras de polianilina sintetizadas em meio contendo ácido glutâmico, PAni(AG), foram preparadas pelo método de reprotonação da base esmeraldina, a partir da mistura entre ácido glutâmico e base esmeraldina. As sínteses da polianilina dopada com ácido clorídrico (PAni(HCl)) foram realizadas em um balão de fundo redondo de três bocas com capacidade de 2 L. Inicialmente adicionou-se 900 mL de solução de ácido clorídrico (HCl) 0,1 molL -1 e 0,1 mol de anilina. A solução foi mantida sob agitação magnética constante de 300 rpm e resfriada a uma temperatura entre 0-5°C, com auxílio de banho de gelo. Em um béquer de 200 mL foi preparada uma solução 0,1 molL -1 de persulfato de amônio, (NH4)2S2O8, em 100 mL da solução 0,1 molL-1 de HCl. Esta solução foi adicionada, por gotejamento, à solução de ácido clorídrico e anilina permanecendose após adição, sob agitação constante por 2 horas e mantendo-se a temperatura entre 0-5°C. O material foi filtrado à pressão reduzida, lavado com solução 0,1 molL -1 de HCl até obter um filtrado com coloração incolor, e seco em dessecador a vácuo até massa constante. O produto obtido (sal esmeraldina) foi adicionado em um balão de três bocas com capacidade de 2 L contendo 1 L de uma solução básica de hidróxido de amônio (NH4OH) 0,1 molL-1. O sistema foi mantido à temperatura ambiente e em agitação constante de 300 rpm por 24 horas. A dispersão foi filtrada à pressão reduzida, lavada com 100 mL de água destilada e seca em estufa a vácuo a 60°C até massa constante. Este procedimento foi realizado com o intuito de obter polianilina na sua forma isolante, base esmeraldina. Na obtenção de PAni(AG) via reprotonação da base esmeraldina, manteve-se constante a massa de base esmeraldina, variando-se a razão molar ácido glutâmico/ base esmeraldina nas proporções 3:1, 2:1, 1:1 e variando-se a temperatura de síntese entre 20-25°C e 70-75°C, conforme ilustrado na Tabela 4.6. 45 Tabela 4. 6. Quantidade de reagentes e os parâmetros estudados nas sínteses pelo método de reprotonação Ensaio Razão molar AG/base esmeraldina Quantidade de base esmeraldina Quantidade de ácido glutâmico Temperatura PAni(AG) 9 1:1 0,00532 mol; 1,94 g 0,00532 mol; 0,783 g 20-25°C PAni(AG) 10 1:1 0,00532 mol; 1,94 g 0,00532 mol; 0,783 g 70-75°C PAni(AG) 11 2:1 0,00532 mol; 1,94 g 0,01064 mol; 1,565 g 20-25°C PAni(AG) 12 2:1 0,00532 mol; 1,94 g 0,01064 mol; 1,565 g 70-75°C PAni(AG) 13 3:1 0,00532 mol; 1,94 g 0,01596 mol; 2,348 g 20-25°C PAni(AG) 14 3:1 0,00532 mol; 1,94 g 0,01596 mol; 2,348 g 70-75°C Em um béquer de 500 mL, foram adicionados 300 mL da solução de ácido glutâmico. A solução foi mantida sob agitação constante de 400 rpm. Após, a temperatura de síntese ser alcançada, foi adicionada a solução base esmeraldina, mantendo a agitação por 4 horas. O material obtido foi filtrado à pressão reduzida, e lavado com 50 mL de água e seco em dessecador a vácuo até massa constante. 4.2.4. Técnicas de caracterização As amostras sintetizadas foram caracterizadas por espectroscopia vibracional na região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) e determinação da condutividade elétrica pelo método de quatro pontas. Todas as análises foram realizadas na Universidade Estadual de Goiás, UnUCET (Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas). 4.2.4.1. Espectroscopia vibracional na região do infravermelho Os espectros vibracionais na região do infravermelho foram obtidos através da dispersão das amostras em KBr e prensadas na forma de pastilhas. Os espectros foram registrados no intervalo correspondente à região do infravermelho médio (4000 – 400 cm-1). 46 4.2.4.2. Determinação da condutividade elétrica pelo método de quatro pontas As condutividades elétricas das amostras foram determinadas através do método de sonda de quatro pontas. Foram preparadas três pastilhas para cada amostra, obtidas a partir do auxílio de um pastilhador e uma prensa hidráulica. O sistema é constituído de sonda de quatro pontas (Cascade – Microtech), acoplada a um multímetro e um eletrômetro. A condutividade elétrica foi calculada utilizando-se os valores lidos de corrente e tensão elétrica, a partir do valor de tensão elétrica aplicada nas amostras. A resistividade elétrica pode ser expressa de acordo com a Equação 4.4. V I =C W (4.4) em que: é a resistividade elétrica; C é um fator geométrico que depende das dimensões da amostra; V é a tensão gerada entre os eletrodos internos; I é a corrente gerada entre os eletrodos internos; W é a espessura da amostra. A condutividade elétrica () pode ser expressa como o inverso da resistividade (Equação 4.5). = 1 (4.5) 47 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Análises do estudo teórico 5.1.1. Análises do procedimento de otimização As estruturas utilizadas na realização deste trabalho foram submetidas ao processo de otimização por coordenadas internas através do método AM1, realizando no total 20 etapas de otimização, como ilustrado na Tabela 4.1. Para avaliar a evolução da energia total das estruturas em relação ao número de otimizações, foram construídos os gráficos representados na Figura 5.1. Figura 5. 1. Gráficos da energia total das estruturas, (a) anilina, (b) base esmeraldina e (c) ácido glutâmico, em função do número de otimizações, utilizando o método AM1, realizado no MOPAC 2007 a) b) c) 48 Analisando-se os gráficos da Figura 5.1, observa-se que após a quarta etapa de otimização as diferenças de energia entre as etapas subsequentes são consideradas muito pequenas (na ordem de 10-5 eV), desta forma os cálculos foram considerados suficientes para encontrar uma geometria otimizada representando um mínimo local dos sistemas e portanto, estas estruturas podem ser utilizadas para propor um modelo de interação entre as moléculas ácidas e básicas. No processo de otimização da estrutura do ácido L-glutâmico zwitteriônico, o mínimo local em energia foi obtido apenas a partir da sétima otimização, Figura 5.1 (c). Esta dificuldade na localização do mínimo local da molécula está relacionada com a presença dos íons carboxilato e amínico da estrutura do aminoácido. Assim, a separação de cargas entre os grupos constituintes da molécula faz com que seja necessária uma quantidade maior de etapas de otimização. No gráfico da Figura 5.1 (c) observa-se uma diminuição no valor da energia total de -2253,47 eV para -2254,66 eV ao comparar as estruturas do ácido Lglutâmico zwitteriônico e neutro, respectivamente. A variação de energia de -1,19 eV, indica que, em meio gasoso, a estrutura neutra do aminoácido é mais estável do que a estrutura zwitteriônica. Isto ocorre porque a formação de íons intramoleculares (íons carboxilato e amínico na estrutura zwitteriônica) é desfavorecida em meio gasoso, assim, a energia total da molécula torna-se menos negativa do que na molécula neutra do ácido. Os resultados estão em concordância com os dados relatados na literatura, que mostram, em meio gasoso, que as estruturas neutras dos aminoácidos são mais estáveis do que as zwitteriônicas (LEE et al., 2013; CRITTENDEN; CHEBIB; JORDAN, 2004). Portanto, a formação de cargas opostas, em meio gasoso, ocasiona uma desestabilização da molécula e como um obstáculo no processo de otimização da estrutura, dificultando a otimização desta estrutura. As coordenadas das estruturas otimizadas pelo método AM1 foram utilizadas nos cálculos de energia pelo método PM7 e ab initio HF e DFT-B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G. 5.1.1.1. Análise das distâncias de ligações da base esmeraldina De acordo com relatos da literatura durante o processo de dopagem da polianilina ocorre a formação de defeitos denominados polarons ou bipolarons que são associados à relaxação (distorção) da cadeia polimérica promovendo uma 49 deslocalização eletrônica parcial ou uma forte distorção da rede, respectivamente. Estes defeitos estruturais provocam modificações nas distâncias de ligações da cadeia polimérica (HEEGER, 2001; ZOPPI; De PAOLI, 1993). Neste contexto, as análises das distâncias de ligações da base esmeraldina e dos modelos de formação do sal esmeraldina tornam-se relevantes a fim de prever uma possível distorção da rede polimérica quando ocorre a dopagem da base esmeraldina. As análises das distâncias de ligação foram realizadas de acordo com BARTA et al. (1998), em que os carbonos da estrutura foram designados por Cp ou Co, carbonos localizados nas posições para ou orto, respectivamente, conforme Figura 4.7. As distâncias médias dos anéis benzenóides e quinóide estão mostradas na Tabela 5.1. Tabela 5. 1. Distâncias médias para a base esmeraldina com quatro anéis otimizada por métodos semi-empíricos Anéis benzenóides Anel quinóide Distâncias – 1 Métodos (Å) AM1 PM7 Cp-Co 1,48 1,48 1,48 1 1,48 2 1,46 3 Co-Co 1,34 1,34 1,34 1 1,34 2 1,37 3 Cp-N 1,30 1,29 1,30 1 1,30 2 1,33 3 Cp-Co 1,41 1,40 1,41 1 1,41 2 1,42 3 Co-Co 1,39 1,39 1,39 1 1,39 2 1,40 3 Cp-N 1,41 1,40 1,40 1 1,40 2 1,40 3 2 Referências 3 Fonte: BARTA et al., (1998); STRAFSTRÖM (1991); ROMANOVA et al., (2010) Na Tabela 5.1, os valores das distâncias médias variam de acordo com o caráter dos anéis da polianilina. Por exemplo, no anel quinóide a distância média entre Cp-N é de 1,30 Å e nos anéis benzenóides é de 1,41 Å, para a estrutura otimizada pelo método AM1. A explicação está no caráter da ligação química, no anel quinóide a ligação Cp-N é característico de ligação dupla, implicando na formação de nitrogênio imínico, e nos anéis benzenóides de ligação simples, característico de nitrogênios amínicos. As ligações múltiplas apresentam menores comprimentos de ligações do que as ligações simples, pois a maior quantidade de 50 elétrons envolvidos na ligação faz com que haja uma atração entre elétrons-núcleos e a distância média diminui (ORCHIN et al, 2005). O modelo da polianilina otimizada pelos métodos AM1 e PM7 foram constituídos de um anel (segundo anel, da esquerda para a direita) com caráter quinóide, pois os valores das distâncias médias entre Co-Co e Cp-N são característicos de ligações duplas, conforme Figura 5.2, e constituídos por três anéis benzenóides que apresentam um caráter aromático, em que as ligações Cp-Co e Co-Co com valores de 1,40-1,41 Å e 1,39 Å, respectivamente, possuem distâncias médias intermediárias entre ligação dupla e simples, característicos de ligações ressonantes. Desta forma, os resultados estão coerentes com a estrutura básica da polianilina que apresenta anéis benzenóides e anel quinóide. Os resultados estão de acordo com os dados relatados na literatura, como descrito na Tabela 5.1. BARTA et al. (1998) estudaram teoricamente as propriedades elétricas da base esmeraldina e pernigranilina através do método AM1 e STRAFSTRÖM (1991) estudou o efeito das distâncias de ligações e ângulos de torsão para base esmeraldina e leucoesmeraldina em suas formas neutra e polarônica utilizando o método AM1. Os resultados apresentaram boa concordância com os dados obtidos por ROMANOVA et al. (2010) que estudaram a distância de ligação da forma base esmeraldina utilizando-se método ab initio DFT com função de onda (U)BLYP/6-31G*. 5.1.1.2. Análise de cargas de Mulliken para a base esmeraldina Os valores parciais das cargas de Mulliken foram coletados para análises das propriedades eletrônicas da base esmeraldina, visto que inúmeros trabalhos científicos relatam que a dopagem da polianilina (transição de caráter isolante – condutor) ocorre preferencialmente nos sítios imínicos (MARJANOVI’C, 2013; STEJSKAL et al., 2012). A Figura 5.2 representa a estrutura da polianilina com as designações de cada grupo constituinte. Os valores das cargas parciais de Mulliken em me (mili-elétron, correspondente à 1,6.10-21 C) para os grupos constituintes da base esmeraldina estão mostradas na Tabela 5.2. 51 Figura 5. 2. Representação e nomeação dos anéis e dos nitrogênios constituintes da base esmeraldina Tabela 5. 2. Valores médios das cargas parciais de Mulliken para a base esmeraldina com quatro anéis otimizada por métodos semi-empíricos Nitrogênios Anéis Cargas de Métodos Mulliken (me) AM1 PM7 1° benzenóide +0,02 +0,12 Quinóide +0,18 +0,46 2° benzenóide +0,03 +0,20 3° benzenóide +0,01 +0,20 1° imínico -0,13 -0,38 2° imínico -0,11 -0,35 1° amínico -0,03 -0,21 2° amínico +0,04 -0,05 De acordo com os resultados da Tabela 5.2 os anéis constituintes da polianilina apresentam valores médios das cargas parciais de Mulliken positivas e quase todos os grupos imínicos e amínicos apresentam cargas negativas. A explicação está na maior eletronegatividade dos átomos de nitrogênio sobre os átomos dos anéis, que atrai mais fortemente os elétrons dos átomos dos anéis para próximo de si. Os resultados utilizando os métodos AM1 e PM7 foram semelhantes entre si. Assim, para a estrutura da base esmeraldina otimizada pelo método AM1, a região mais nucleofílica, ou seja, que apresenta à maior basicidade está localizado sob os átomos de nitrogênios imínicos com cargas atômicas de -0,13 me e -0,11 me. 52 O anel quinóide apresentou o maior caráter eletrofílico (+0,18 me). Os resultados obtidos estão coerentes com dados espectroscópicos que evidenciam que a transferência de prótons ocorre, preferencialmente, nos sítios imínicos da polianilina (LASLAU; ZUJOVIC; TRAVAS-SEJDIC, 2010; ARAÚJO; De PAOLI, 2009; STEJSKAL et al., 2012). Os dados obtidos nesse estudo, como distância de ligação e cargas atômicas da forma base esmeraldina, estão coerentes com os relatados por ROMANOVA et al. (2010), que estudaram a distância de ligação, as cargas e as energias da forma base esmeraldina isolada e dopada com ácido clorídrico no estado singlet (simulando a forma bipolarônica do sal) e triplet (estrutura polarônica do sal) em um meio polar e em vácuo, utilizando o método ab initio DFT com função de onda (U)BLYP/6-31G*. 5.1.2. Análise das interações entre as moléculas 5.1.2.1. Análise de variação de energia, distâncias de ligações e cargas de Mulliken da interação entre anilina e ácido glutâmico Após as estruturas serem otimizadas pelos métodos mecânicos-quânticos, realizou-se os modelos de interação entre as moléculas. Na simulação da interação entre as moléculas de anilina e ácido glutâmico, a variação de energia de interação (ΔEint) foi obtida a partir da subtração da energia do modelo (energia de interação – Ei) pelo somatório das energias dos dois sistemas separados (energia da molécula de anilina – EAN e energia do ácido glutâmico – EAG), como ilustrado na Figura 5.3(a). Nos modelos de transferência de hidrogênio ácido, a variação de energia da reação (ΔEr) foi obtida subtraindo a energia do modelo após a reação (energia dos produtos – Ep) pela energia do modelo antes da reação (energia de interação – Ei), conforme ilustrado na Figura 5.3(b). Este procedimento foi generalizado para todos os cálculos de interação e transferência de hidrogênio ácido entre os modelos estudados neste trabalho. A Tabela 5.3 mostra os valores das distâncias de ligações e as variações de energia das interações entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico em meio gasoso, utilizando o método AM1. 53 Figura 5. 3. Demonstração do cálculo da variação de energia da interação entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico para d(N-O)= 3,00Å, (a) variação de energia de interação e (b) variação de energia de reação, para o método AM1 (a) → + EAN=1x(-1071,20) eV + EAGZ= 1x(-2253,47) eV → Ei= -3324,88 eV ∆Eint= Ei – (EAN + EAGZ) = -0,21 eV (b) Reagentes Produtos Sal anilinium-glutamato → Ei= -3324,88 eV → Ep= -3323,82 eV ∆Er= Ep – Ei= +1,06 eV Tabela 5. 3. Valores das distâncias de ligações (Å) e variações de energia (eV) das interações entre ácido L-glutâmico zwitteriônico calculada pelo método AM1 Reagentes Produtos d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint d(N-O) d(N-H) d(O-H) Er 5,00 4,31 0,97 -0,00 5,00 1,04 4,23 +2,10 3,00 2,51 0,98 -0,21 3,00 1,08 1,95 +1,06 2,80 1,86 0,99 -0,24 2,80 1,07 1,82 +0,96 2,30 2,35 0,98 +0,21 2,30 2,22 0,98 +0,17 No modelo dos reagentes, Figura 5.3 (a), as moléculas estão distantes entre si e interagem apenas através de interações físicas, que são interações bem mais fracas do que as interações químicas, esta ocorre quando há superposição de orbitais atômicos, formando as ligações químicas. Desta forma, para d(N-O)= 5,00 Å as moléculas estão distantes entre si, à medida que a distância N-O diminui as 54 moléculas de anilina e ácido glutâmico tende a aproximar-se e consequentemente a distância N-H diminui. No modelo dos produtos ocorre à formação do sal aniliniumglutamato e do ânion do ácido glutâmico, Figura 5.3 (b), ou seja, à distância N-H é característica de formação de ligação simples. Para d(N-O)= 5,00 Å o sal e o ânion estão relativamente distantes entre si, à medida que a distância N-O diminui as moléculas se aproximam e a tendência é que a distância N-H não altere significativamente, afim de manter o hidrogênio ácido ligado no grupo amina da anilina. De acordo com a Tabela 5.3, nos estados dos reagentes, quando d(N-O)=5,00 Å não ocorre interação física entre as moléculas pois a variação da energia de interação (∆Eint) é próxima de zero, isto indica que a distância entre as moléculas é tão grande que uma molécula praticamente não exerce influência sobre a outra, ou seja, é como se as moléculas estivessem isoladas. À medida que a distância N-O diminui para 3,00 Å e 2,80 Å as variações de energia tornam-se negativas, ou seja, ocorre interação entre as moléculas. Contudo, ao diminuir a distância para 2,30 Å, nota-se uma variação de energia positiva (∆Eint= +0,21 eV) e a distância N-H aumenta (2,35 Å) ao ser comparada com a distância anterior de 1,86 Å, ou seja, ao otimizar o modelo quando as moléculas estão próximas entre si ocorre uma repulsão entre as nuvens eletrônicas, dificultando a aproximação entre as estruturas e consequentemente desestabilizando o modelo. Analisando-se o estado dos produtos na Tabela 5.3, observa-se que as variações de energia de reação (∆Er) são positivas em todas as etapas sendo um indicativo de que a energia gasta para quebrar a ligação O-H da molécula do ácido glutâmico não é compensada pela formação da ligação N-H que ocorre na molécula de anilina. Ao diminuir a distância N-O para 2,30 Å e simular a transferência de hidrogênio ácido para a molécula de anilina (formação do sal anilinium-glutamato) nota-se que o hidrogênio até então ligado ao nitrogênio da anilina, retorna ao oxigênio do ácido glutâmico, d(O-H)= 0,98 Å, ou seja, o modelo mais estável obtido através dos cálculos realizados pelo método AM1 é quando as moléculas de anilina e ácido glutâmico interagem apenas fisicamente não ocorrendo a transferência de hidrogênio ácido entre as moléculas. Desta forma, os modelos dos reagentes são mais estáveis do que os produtos. Os mesmos procedimentos foram utilizados para os cálculos de interação e transferência de hidrogênio ácido entre as moléculas de anilina e ácido glutâmico 55 utilizando os métodos PM7 e ab initio HF e DFT/B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G. A Tabela 5.4 mostra as distâncias de ligações e as variações de energia das interações entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico em meio gasoso, utilizando os demais métodos mecânicos-quânticos. Tabela 5. 4. Valores das distâncias de ligações (Å) e das variações de energia (eV) das interações entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico, utilizando os métodos PM7 e ab initio HF e DFT/B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G Reagentes d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,81 2,09 1,87 1,04 d(O-H) 0,99 1,02 1,03 2,12 Produtos Método PM7 d(N-O) d(N-H) Eint -0,31 5,00 1,06 -0,25 3,00 2,04 -0,24 2,80 2,04 +0,16 2,30 1,04 Método HF/3-21G d(N-O) d(N-H) Eint -0,25 5,00 1,06 -0,48 3,00 2,04 -0,53 2,80 2,04 +0,46 2,30 1,04 Método HF/6-31G d(N-O) d(N-H) Eint -0,34 5,00 1,06 -0,51 3,00 2,04 -0,54 2,80 2,04 +0,38 2,30 1,04 Método HF/6-311G d(N-O) d(N-H) Eint -0,31 5,00 1,06 -0,47 3,00 2,04 -0,50 2,80 2,04 +0,42 2,30 1,04 Método B3LYP/3-21G d(N-O) d(N-H) Eint -0,49 5,00 1,06 -0,80 3,00 2,04 -0,89 2,80 2,04 -0,19 2,30 1,04 Método B3LYP/6-31G d(N-O) d(N-H) Eint -0,51 5,00 1,06 -0,74 3,00 2,04 -0,81 2,80 2,04 -0,14 2,30 1,04 Método B3LYP/6-311G d(N-O) d(N-H) Eint -0,45 5,00 1,06 -0,68 3,00 2,04 -0,75 2,80 2,04 -0,08 2,30 1,04 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +1,99 +0,13 +0,15 -0,001 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +2,08 +0,42 +0,50 -0,003 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +1,36 +0,48 +0,54 -0,004 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +1,85 +0,49 +0,56 -0,005 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +1,91 +0,43 +0,53 -0,001 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +1,75 +0,46 +0,55 -0,001 d(O-H) 4,24 2,31 2,31 2,10 Er +1,67 +0,46 +0,55 -0,003 56 Os valores das distâncias de ligações presentes na Tabela 5.4 são idênticos, pois os cálculos ab initio foram realizados utilizando-se os modelos otimizados pelo método PM7 e a partir destes modelos consideraram-se todas as coordenadas dos átomos fixos, otimizando-os por métodos ab initio. Desta forma, alguns parâmetros dos modelos ab initio são semelhantes aos parâmetros dos modelos otimizados pelo método PM7, como, distâncias de ligações, ângulos de ligações e de torsões. Através dos resultados contidos na Tabela 5.4, observa-se que nos cálculos simulando a interação entre as moléculas, ocorreu a transferência do hidrogênio ácido para o grupo amina da anilina quando é fixada a distância N-O em 2,30 Å, pois a distância O-H aumenta de 1,03 Å para 2,12 Å e a distância N-H diminui de 1,87 Å para 1,04 Å, comparando-se com a distância N-O fixa em 2,80 Å e 2,30 Å, respectivamente, evidenciando a formação do sal anilinium-glutamato. À medida que a distância N-O diminui, a carga atômica do hidrogênio ácido fica mais positiva, a carga do ânion carboxilato formado quando o hidrogênio ácido é liberado e a carga do grupo amina da anilina ficam mais negativas, estes grupamentos podem ser observados na Figura 4.5 (a). Por exemplo, nos cálculos realizados pelo método DFT-B3LYP/6-311G quando diminui a distância N-O de 5,00 Å até 2,30 Å, a carga atômica do hidrogênio ácido passa de +0,39 me, para +0,41 me, +0,42 me até atingir o valor de +0,43 me quando ele se liga ao átomo de nitrogênio da anilina. A carga atômica parcial de Mulliken para o ânion carboxilato formado quando o hidrogênio ácido é liberado diminui de -0,43 me, -0,46 me, -0,47 me, para -0,52 me quando ocorre a formação da ligação N-H. A carga parcial de Mulliken para o grupo amina da anilina também diminui de -0,21 me, para -0,24 me, -0,25 me, até -0,27 me. Isto implica em uma maior acidez do ácido glutâmico, observado pelo aumento da distância de ligação O-H de 0,99 Å até 2,12 Å e uma maior basicidade do grupo amina da anilina. Quando simulam-se a transferência do hidrogênio ácido para a anilina, formando o sal anilinium-glutamato, estado dos produtos, nota-se que o hidrogênio ácido continua ligado no grupo amina, quando a distância N-O é fixada em 2,30 Å. A Figura 5.4 ilustra um gráfico da variação da energia de interação entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico para distância N-O de 2,30 Å em função dos métodos mecânicos quânticos utilizados neste trabalho. 57 Figura 5. 4. Gráfico da variação de energia de interação (∆Eint) em função dos métodos mecânicos quânticos utilizados nos cálculos para d(N-O)= 2,30 Å, estado dos reagentes Analisando o gráfico da Figura 5.4, nota-se que os métodos DFT-B3LYP apresentaram variação de energia de interação negativa e os demais métodos apresentaram ∆Eint positivas. De acordo com a literatura os métodos DFT descrevem modelos de interações e de quebra de ligações com melhores precisões do que os métodos semi-empíricos e de Hartree-Fock (RAMACHANDRAN; DEEPA; NAMBOORI, 2008; SZABO; OSTLUND, 1996). Contudo, resultados similares qualitativamente foram obtidos utilizando-se todos os métodos, pois à medida que o ácido L-glutâmico zwitteriônico aproxima-se da molécula de anilina, a distância de ligação O-H aumenta e a carga de Mulliken do átomo de hidrogênio ácido fica mais positiva, ou seja, à medida que as moléculas se aproximam ocorre uma tendência para que o hidrogênio ácido seja transferido para a molécula de anilina, formando o sal anilinium-glutamato. Então, conclui-se que os métodos DFT-B3LYP apresentam resultados concordantes com os dados experimentais, pois, na prática, quando se adiciona anilina à solução de ácido glutâmico observa-se a reação, pois o ácido glutâmico não dissolvido se dissolve e a suspensão amarelada de anilina torna-se incolor. O mesmo procedimento foi utilizado para os cálculos de interação e transferência de hidrogênio entre as moléculas de anilina e ácido L-glutâmico neutro usando os métodos semi-empíricos e ab initio. A Tabela 5.5 mostra as distâncias de 58 ligações e as variações de energia das interações entre anilina e ácido L-glutâmico neutro em meio gasoso, utilizando os métodos mecânicos-quânticos. Tabela 5. 5. Valores das distâncias de ligações (Å) e das variações de energia (eV) das interações entre anilina e ácido L-glutâmico neutro, utilizando os métodos AM1 e PM7 e ab initio HF e DFT/B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G Reagentes d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,06 2,40 1,84 2,37 d(O-H) 0,97 0,98 0,99 0,98 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,78 2,08 1,87 1,36 d(O-H) 0,99 1,01 1,02 1,12 Produtos Método AM1 d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint -0,14 5,00 1,04 4,23 -0,20 3,00 1,08 2,00 -0,12 2,80 1,08 1,80 +0,20 2,30 2,18 0,98 Método PM7 d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint -0,19 5,00 1,10 4,00 -0,25 3,00 1,99 2,36 -0,23 2,80 1,02 2,02 +0,23 2,30 2,07 1,00 Método HF/3-21G d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint +0,00 5,00 1,10 4,00 -0,41 3,00 1,99 2,36 -0,45 2,80 1,02 2,02 +0,28 2,30 2,07 1,00 Método HF/6-31G d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint +0,06 5,00 1,10 4,00 -0,31 3,00 1,99 2,36 -0,32 2,80 1,02 2,02 +0,51 2,30 2,07 1,00 Método HF/6-311G d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint +0,11 5,00 1,10 4,00 -0,25 3,00 1,99 2,36 -0,26 2,80 1,02 2,02 +0,59 2,30 2,07 1,00 Método B3LYP/3-21G d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint -0,26 5,00 1,10 4,00 -0,73 3,00 1,99 2,36 -0,80 2,80 1,02 2,02 -0,33 2,30 2,07 1,00 Método B3LYP/6-31G d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint -0,19 5,00 1,10 4,00 -0,57 3,00 1,99 2,36 -0,61 2,80 1,02 2,02 -0,06 2,30 2,07 1,00 Método B3LYP/6-311G d(N-O) d(N-H) d(O-H) Eint -0,10 5,00 1,10 4,00 -0,48 3,00 1,99 2,36 -0,53 2,80 1,02 2,02 +0,06 2,30 2,07 1,00 Er +2,24 +1,04 +0,85 +0,16 Er +1,68 +0,09 +0,07 -0,16 Er +1,62 +0,17 +0,22 -0,01 Er +1,46 +0,18 +0,24 -0,16 Er +1,47 +0,18 +0,24 -0,21 Er +1,40 +0,18 +0,20 +0,21 Er +1,32 +0,17 +0,24 +0,08 Er +1,27 +0,17 +0,23 +0,01 59 Os cálculos realizados para a interação entre anilina e ácido glutâmico levógiro neutro, nos reagentes e produtos, apresentaram diferentes variações de energia ao comparar com os dados da interação entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico. Por exemplo, nos cálculos realizados pelo método DFT-B3LYP/6-311G quando a distância N-O é fixada em 2,30 Å ocorre apenas interação física entre as moléculas do ácido L-glutâmico neutro e anilina, não observando a transferência de hidrogênio ácido para a molécula de anilina, pois os valores das distâncias N-H e OH são, respectivamente, 1,36 Å e 1,12 Å, contudo à distância N-H é menor do que aquelas calculadas quando as distâncias N-O foram de 5,00, 3,00 ou 2,80 Å. Assim, à medida que aproxima-se as moléculas, nota-se uma tendência para que o hidrogênio ácido seja doado para o grupo amínico da anilina, no entanto, não observa-se de fato esta transferência. Para d(N-O)=2,30 Å, nos modelos simulandose a formação do sal anilinium-glutamato, ao otimizar o modelo o hidrogênio ácido retornou a estrutura do ácido glutâmico, produzindo assim, as moléculas neutras de ácido glutâmico e anilina. Estes resultados são indícios que o ácido glutâmico neutro na presença da anilina é um ácido mais fraco do que a estrutura zwitteriônica. Então, conclui-se que os cálculos realizados para a reação entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico utilizando-se os métodos DFT-B3LYP apresentam concordância com os dados experimentais, pois à medida que as moléculas se aproximam ocorre uma tendência para que o hidrogênio ácido seja transferido para a molécula de anilina, formando o sal anilinium-glutamato. Na prática, quando se adiciona anilina à solução de ácido glutâmico observa-se a reação, pois o ácido glutâmico não dissolvido se dissolve e a suspensão amarelada de anilina torna-se incolor. 5.1.2.2. Análise das cargas de Mulliken dos modelos sal anilinium-glutamato simulando a presença do agente oxidante De acordo com WALLACE et al. (2009) o processo de polimerização química da anilina é oxidativa e a primeira etapa de polimerização da anilina em meio aquoso ácido envolve a oxidação do monômero formando um cátion radical e em seguida, ocorre os processos de acoplamento radical e propagação da cadeia. Com o intuito de estudar a formação deste cátion radical, realizaram-se cálculos teóricos partindose dos modelos mais estáveis do sal anilinium-glutamato, analisando-se a variação 60 das cargas de Mulliken para os modelos não oxidados, sal anilinium-glutamato, e oxidados, obtidos quando retira-se um elétron dos modelos sal anilinium-glutamato. A Tabela 5.6 mostra as cargas de Mulliken para os modelos oxidados e não oxidados do sal anilinium-glutamato zwitteriônico, utilizando os métodos mecânicos-quânticos. Tabela 5. 6. Valores das cargas de Mulliken, em me, para alguns grupos dos modelos oxidados e não oxidados do sal anilinium-glutamato zwitteriônico, usando os métodos mecânicos-quânticos Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,90 +0,07 +0,97 AN +0,90 +0,93 +0,03 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,83 +0,05 +0,88 AN +0,83 +0,95 +0,12 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,74 +0,18 +0,92 AN +0,74 +0,82 +0,08 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,81 +0,12 +0,93 AN +0,81 +0,88 +0,07 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,79 ----* ----* AN +0,79 ----* ----* Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,65 +0,22 +0,87 AN +0,65 +0,78 +0,13 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,71 +0,16 +0,87 AN +0,71 +0,84 +0,13 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,70 +0,15 +0,85 AN +0,70 +0,85 +0,15 AM1 N(AG) N(AN) -0,05 -0,05 -0,07 -0,04 -0,02 +0,01 PM7 N(AG) N(AN) -0,20 -0,25 -0,19 -0,23 +0,01 +0,02 HF/3-21G N(AG) N(AN) -0,84 -0,96 -0,84 -0,98 -0,00 -0,02 HF/6-31G N(AG) N(AN) -0,86 -1,01 -0,86 -0,98 +0,00 +0,03 HF/6-311G N(AG) N(AN) -0,87 -1,05 ----* ----* ----* ----* B3LYP/3-21G N(AG) N(AN) -0,69 -0,81 -0,71 -0,84 -0,02 -0,03 B3LYP/6-31G N(AG) N(AN) -0,69 -0,83 -0,70 -0,82 -0,01 +0,01 B3LYP/6-311G N(AG) N(AN) -0,77 -0,93 -0,78 -0,92 -0,01 +0,01 * Não foram realizados cálculos para este modelo. Amina(AG) +0,67 +0,75 +0,08 Amina (AN) +0,77 +0,77 +0,00 Amina(AG) +0,68 +0,75 +0,07 Amina (AN) +0,68 +0,74 +0,06 Amina(AG) +0,41 +0,51 +0,10 Amina (AN) +0,36 +0,36 -0,00 Amina(AG) +0,47 +0,57 +0,10 Amina (AN) +0,42 +0,44 +0,02 Amina(AG) +0,42 ----* ----* Amina (AN) +0,31 ----* ----* Amina(AG) +0,37 +0,46 +0,09 Amina (AN) +0,31 +0,32 +0,01 Amina(AG) +0,43 +0,53 +0,09 Amina (AN) +0,37 +0,41 +0,04 Amina(AG) +0,39 +0,48 +0,09 Amina (AN) +0,29 +0,32 +0,03 61 Na Tabela 5.6, os valores das variações das cargas de Mulliken (C) foram obtidos através da subtração entre a carga do modelo oxidado pela carga do modelo não oxidado. Após a oxidação do sistema, ocorreu uma redistribuição de carga, ficando o ácido L-glutâmico zwitteriônico com carga mais positiva do que a anilina. Observou-se que os valores das variações de cargas nos nitrogênios do ácido glutâmico e da anilina foram muito próximos e que as variações de cargas nos grupos aminas do ácido glutâmico foram mais positivas do que no grupo amina da anilina, estes resultados foram semelhantes em todos os métodos mecânicosquânticos empregados nos cálculos. Por exemplo, nos cálculos realizados pelo método DFT-B3LYP/6-311G a variação de carga para a estrutura do ácido glutâmico foi de +0,85 me e para a estrutura da anilina +0,15 me, ou seja, uma diferença em módulo de 0,70 me. Antes de ocorrer à oxidação do modelo, o grupo amina do ácido glutâmico possuía carga de Mulliken de +0,39 me e o grupo amina da anilina de +0,29 me, isto indica que o grupo da anilina estava mais propício a perder elétrons em relação ao grupo amínico do ácido glutâmico, pois menos positivo era sua carga, contudo após a oxidação do modelo, a carga do grupo amina do ácido glutâmico foi de +0,09 me e a carga do grupo amínico da anilina foi de +0,03 me. Os resultados obtidos sugerem que, havendo a ação de um agente oxidante, a oxidação ocorrerá preferencialmente no grupo amina do ácido glutâmico e não no grupo amina da anilina. Esta competição dificulta ou impede a formação do cátion radical na estrutura da anilina, sendo esta estrutura fundamental para as etapas de polimerização da anilina em meio aquoso ácido a fim de produzir polianilina dopada. Os resultados obtidos corroboram com os dados experimentais obtidos por ASSIS e ARAÚJO (2006) que mostraram que a polianilina não é o produto preponderante da síntese química da anilina em solução de ácido glutâmico levógiro. A Tabela 5.7 mostra os valores das cargas de Mulliken para os modelos oxidados e não oxidados do sal anilinium-glutamato neutro, utilizando os métodos mecânicos-quânticos. 62 Tabela 5. 7. Valores das cargas de Mulliken, em me, para alguns grupos dos modelos oxidados e não oxidados do sal anilinium-glutamato neutro, usando os métodos mecânicos-quânticos Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,89 +0,04 +0,93 AN +0,89 +0,96 +0,07 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,97 +0,05 +1,02 AN +0,97 +0,95 -0,02 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,84 +0,15 +0,99 AN +0,84 +0,85 +0,01 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,89 +0,09 +0,98 AN +0,89 +0,91 +0,02 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,88 +0,09 +0,97 AN +0,88 +0,91 +0,03 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,76 +0,19 +0,95 AN +0,76 +0,81 +0,05 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,80 +0,13 +0,93 AN +0,80 +0,87 +0,07 Não oxidado Oxidado ΔC AG -0,80 +0,13 +0,93 AN +0,80 +0,87 +0,08 AM1 N(AG) N(AN) -0,35 -0,06 -0,21 -0,04 +0,14 +0,02 PM7 N(AG) N(AN) -0,62 -0,66 -0,06 +0,23 +0,56 +0,43 HF/3-21G N(AG) N(AN) -0,82 -0,98 -0,60 -0,99 +0,22 -0,01 HF/6-31G N(AG) N(AN) -0,85 -1,04 -0,60 -1,00 +0,25 +0,04 HF/6-311G N(AG) N(AN) -0,81 -1,08 -0,57 -1,05 +0,24 +0,03 B3LYP/3-21G N(AG) N(AN) -0,70 -0,84 -0,59 -0,84 +0,11 -0,00 B3LYP/6-31G N(AG) N(AN) -0,70 -0,87 -0,56 -0,83 +0,14 +0,04 B3LYP/6-311G N(AG) N(AN) -0,70 -0,95 -0,57 -0,93 +0,13 +0,02 Amina(AG) -0,01 +0,19 +0,20 Amina (AN) +0,77 +0,77 +0,00 Amina(AG) -0,13 +0,57 +0,70 Amina (AN) +0,73 +0,73 +0,00 Amina(AG) -0,21 +0,22 +0,43 Amina (AN) +0,38 +0,35 -0,03 Amina(AG) -0,18 +0,25 +0,43 Amina (AN) +0,42 +0,43 +0,01 Amina(AG) -0,18 +0,23 +0,41 Amina (AN) +0,29 +0,31 +0,02 Amina(AG) -0,17 +0,08 +0,25 Amina (AN) +0,35 +0,33 -0,02 Amina(AG) -0,14 +0,13 +0,27 Amina (AN) +0,39 +0,41 +0,02 Amina(AG) -0,13 +0,13 +0,26 Amina (AN) +0,30 +0,32 +0,02 63 Observa-se na Tabela 5.7 que as variações de cargas de Mulliken para a estrutura do ácido L-glutâmico neutro foi mais positiva do que as variações de cargas de Mulliken para a estrutura da anilina. Observou-se que os valores das variações de cargas no nitrogênio e no grupo amina do ácido glutâmico são mais positivos do que os valores das variações de cargas do nitrogênio e do grupo amina da anilina, estes resultados foram semelhantes em todos os métodos mecânicosquânticos empregados nos cálculos. Na análise das variações de cargas utilizandose os cálculos realizados pelo método DFT-B3LYP/6-311G nos modelos usando o ácido L-glutâmico zwitteriônico (Tabela 5.6) e neutro (Tabela 5.7) observa-se que as variações de cargas do nitrogênio e do grupo amina do ácido neutro, +0,13 me e +0,26 me, respectivamente, são mais positivas do que as variações de cargas para o ácido zwitteriônico, -0,01 me e +0,09 me. Estes resultados são consistentes, pois o ácido neutro apresenta um grupo amina em sua estrutura (-NH2) e o ácido Lglutâmico zwitteriônico possui um grupo amina protonado (-NH3+). O grupo amina possui uma maior facilidade em oxidar-se, pois possui mais carga negativa do que o grupo amina protonado, assim a carga de Mulliken no grupo amina é de -0,13 me (Tabela 5.7) e no grupo amina protonado é de +0,39 me (Tabela 5.6), ou seja, uma diferença em módulo de 0,52 me. Contudo, os resultados obtidos foram similares qualitativamente para os modelos que utilizaram o ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro. Assim, os resultados obtidos mostram que a presença de um agente oxidante no meio reacional, preferencialmente oxidará o grupo amina do ácido glutâmico e não o grupo amina da anilina. 5.1.2.3. Análise de variação de energia, distâncias de ligações e cargas de Mulliken da interação entre base esmeraldina e ácido glutâmico De acordo com ASSIS e ARAÚJO (2006) a polianilina na forma condutora não é obtida pelos processos de polimerização química da anilina e por reprotonação da base esmeraldina em solução de ácido glutâmico. Com o intuito de estudar a formação do sal esmeraldina na presença de ácido glutâmico, realizou-se cálculos teóricos da interação e da transferência de hidrogênio ácido entre a base esmeraldina e o ácido glutâmico levógiro, em que os ácidos interagem nos sítios imínicos da polianilina, pois são as regiões mais nucleofílicas da cadeia polimérica. 64 As variações de energia foram calculadas utilizando-se os mesmos procedimentos representados na Figura 5.3. A Tabela 5.8 mostra as médias das distâncias de ligações e as variações de energia das interações entre ácido L-glutâmico zwitteriônico e base esmeraldina na proporção molar de 2:1 em meio gasoso, utilizando os métodos semi-empíricos. Tabela 5. 8. Distâncias de ligações médias (Å) e variações de energia (eV) das interações entre ácido glutâmico levógiro zwitteriônico e base esmeraldina na proporção de 2:1, calculada pelos métodos semi-empíricos Reagentes d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,03 2,10 1,89 2,11 d(O-H) 0,97 0,98 0,98 0,98 d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,30 d(N-H) 4,56 2,01 1,78 2,07 d(O-H) 1,02 1,01 1,03 1,08 Produtos Método AM1 d(N-O) Eint -0,02 5,00 -0,17 3,00 -0,10 2,80 +1,42 2,30 Método PM7 d(N-O) Eint +0,06 5,00 -0,25 3,00 +0,13 2,80 +0,90 2,30 d(N-H) 1,02 1,07 1,09 ----* d(O-H) 4,40 2,07 1,78 ----* Er +6,88 +2,85 +2,60 ----* d(N-H) ----* 1,44 ----* 2,04 d(O-H) ----* 1,15 ----* 1,03 Er ----* +1,68 ----* -0,19 * O sistema não convergiu para um modelo de menor energia e os cálculos foram interrompidos. As variações de energia para d(N-O)= 3,00 Å, estado dos reagentes, mostra que ocorre interação física entre as moléculas da base esmeraldina e ácido Lglutâmico zwitteriônico, ∆Eint= -0,17 eV e -0,25 eV para os métodos AM1 e PM7. Nos estados dos produtos, simula-se à formação do sal esmeraldina e do ânion do ácido glutâmico, Tabela 5.8. Pelo método AM1, à medida que a distância N-O diminui de 5,00 até 2,80 Å, nota-se um aumento da distância de ligação N-H de 1,02 até 1,09 Å e a variação de energia de reação (∆Er) diminui de +6,88 eV até +2,60 eV, isto indica que à medida que aproximam-se as moléculas, os hidrogênios ácidos ligados aos sítios imínicos da base esmeraldina tendem a retornarem para a estrutura do ânion do ácido glutâmico, favorecendo a formação de base esmeraldina e ácido glutâmico levógiro zwitteriônico, ou seja, o sistema tende a voltar para o modelo mais estável de energia, que é aquele onde as moléculas não estão ligadas entre si. As variações de energia de reação para d(N-O)= 3,00 Å, são positivas, ∆Er= +2,85 eV e +1,68 eV para os métodos AM1 e PM7, ou seja, a transferência de hidrogênio ácido para o sítio imínico da base esmeraldina, tende a não ocorrer neste valor de distância de 65 ligação. A variação da energia de reação para o método AM1 é maior do que para o método PM7, pois nos cálculos realizados pelo método PM7 o hidrogênio ácido ligado ao nitrogênio imínico retornou para o ânion do ácido glutâmico, assim ocorre uma estabilização do modelo. A Tabela 5.9 mostra os valores médios das distâncias de ligações e as variações de energia das interações entre ácido L-glutâmico neutro e base esmeraldina na proporção molar de 2:1 utilizando os métodos semi-empíricos. Tabela 5. 9. Distâncias de ligações médias (Å) e variações de energia (eV) das interações entre ácido glutâmico levógiro neutro e base esmeraldina na proporção de 2:1, calculada pelos métodos semi-empíricos Reagentes d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,40 d(N-H) 4,03 2,05 1,89 ----* d(O-H) 0,97 0,98 0,98 ----* d(N-O) 5,00 3,00 2,80 2,40 d(N-H) 4,12 1,98 1,79 1,99 d(O-H) 1,00 1,02 1,03 1,06 Produtos Método AM1 d(N-O) Eint -0,02 5,00 -0,19 3,00 -0,09 2,80 ----* 2,40 Método PM7 d(N-O) Eint +0,50 5,00 +0,13 3,00 +0,17 2,80 +1,20 2,40 d(N-H) 1,01 1,07 1,48 ----* d(O-H) 4,89 2,06 1,38 ----* Er +2,60 +2,99 +1,23 ----* d(N-H) 1,05 1,54 1,82 2,03 d(O-H) 4,61 1,12 1,02 1,05 Er +3,53 +1,28 +0,13 -0,20 * O sistema não convergiu para um modelo de menor energia e os cálculos foram interrompidos. Observa-se na Tabela 5.9, que os cálculos realizados para a interação entre base esmeraldina e ácido L-glutâmico neutro apresentaram variações de energia similares ao ser comparado com os dados da interação entre base esmeraldina e ácido L-glutâmico zwitteriônico. Por exemplo, nos cálculos realizados pelo método AM1 quando a distância N-O é fixada em 2,80 Å ocorre interação física entre as moléculas do ácido L-glutâmico neutro e base esmeraldina, pois a variação de energia de interação foi de -0,09 eV. À medida que a distância N-O diminui de 5,00 Å até 2,80 Å, à distância O-H aumenta de 0,97 Å a 0,98 Å, ou seja, à distância O-H praticamente não varia à medida que as moléculas se aproximam. Estes resultados são indícios que a base esmeraldina não é dopada com o ácido L-glutâmico neutro. As variações de energia de reação para os modelos dos produtos, na Tabela 5.9, são todas positivas, ou seja, a formação do sal esmeraldina e dos ânions dos ácidos glutâmicos é desfavorecida no meio reacional. Por exemplo, nos cálculos 66 realizados pelo método AM1 ao otimizar os modelos, os hidrogênios ácidos ligados nos nitrogênios imínicos da base esmeraldina tendem a retornarem para o ácido glutâmico. Este fato foi observado quando a distância N-O é fixada em 2,80 Å, pois à distância O-H diminui para 1,38 Å e a distância N-H aumentou para 1,48 Å, ao comparar com as distâncias obtidas quando foi fixada a distância N-O em 3,00 Å. No método PM7, para o estado dos produtos, quando foi fixada a distância N-O em 2,40 Å, observou-se que os dois hidrogênios ácidos ligados aos nitrogênios imínicos da base esmeraldina retornaram para o ácido glutâmico, assim o valor da variação de energia de reação foi negativo neste caso. Apesar das previsões obtidas nos cálculos indicarem que, em meio gasoso, a reação entre ácido glutâmico levógiro e base esmeraldina não conduzirem à formação do sal esmeraldina, foram analisadas as distâncias de ligações e as cargas atômicas de Mulliken para o modelo do produto mais estável, neste caso, obtido quando d(N-O)= 2,80 Å, a fim de comparação com os dados teóricos e experimentais obtidos na literatura. A Tabela 5.10 mostra as distâncias médias para o modelo base esmeraldina dopada com ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro, para d(N-O)=2,80 Å e otimizada por métodos semi-empíricos. Tabela 5. 10. Distâncias médias para o modelo base esmeraldina dopada com ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro, para d(N-O)=2,80 Å e otimizada por métodos semi-empíricos Anéis benzenóides Anel quinóide Distâncias – Ácido zwitteriônico Ácido neutro (Ângstron) AM1 PM7 AM1 PM7 Referências Cp-Co 1,47 ----* 1,47 1,47 1,44 1 Co-Co 1,34 ----* 1,34 1,34 1,38 1 Cp-N 1,32 ----* 1,31 1,30 1,36 1 Cp-Co 1,41 ----* 1,41 1,41 1,42 1 Co-Co 1,39 ----* 1,39 1,39 1,39 1 Cp-N 1,41 ----* 1,41 1,41 1,40 1 * O sistema não convergiu para um modelo de menor energia e os cálculos foram interrompidos. 1 Fonte: ROMANOVA et al., (2010) A comparação dos resultados mostrados na Tabela 5.10 e Tabela 5.1 indica que a dopagem da base esmeraldina com ácido glutâmico levógiro provocou pouca 67 distorção da cadeia polimérica. A distorção mais pronunciada foi na ligação Cp-N do anel quinóide, método AM1, que de 1,30 Å antes da dopagem atingiu 1,32 Å através do modelo de dopagem. De acordo com ROMANOVA et al. (2010) que estudaram as formas polarônicas e bipolarônicas da polianilina dopada com ácido clorídrico, a protonação da base esmeraldina ocasiona uma redistribuição na distância de ligação da base esmeraldina, conduzindo a uma desquinoidização da unidade quinóide e uma desaromatização dos anéis benzênicos, mais pronunciado no anel benzênico final, estes fatores são os responsáveis pela condução de corrente elétrica. Assim, os resultados indicam que a protonação da base esmeraldina na presença de ácido glutâmico levógiro pode não ocorre experimentalmente. A Tabela 5.11 mostra os valores médios das cargas de Mülliken para o modelo da interação entre a base esmeraldina e o ácido L-glutâmico, para distância N-O fixada em 2,80 Å e otimizada por métodos semi-empíricos. Tabela 5. 11. Valores médios das cargas parciais de Mulliken para a base esmeraldina dopada com ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro, para d(N-O)=2,80 Å e otimizada por métodos semi-empíricos Nitrogênios Anéis Cargas de Ácido zwitteriônico Ácido neutro Mulliken (me) AM1 PM7 AM1 PM7 Referências 1° benzenóide +0,19 ----* +0,16 +0,15 +0,39 1 Quinóide +0,58 ----* +0,43 +0,62 +0,55 1 2° benzenóide +0,18 ----* +0,07 +0,21 +0,41 1 3° benzenóide +0,03 ----* +0,02 +0,17 +0,17 1 1° imínico -0,04 ----* -0,07 -0,44 -0,05 1 2° imínico +0,01 ----* -0,10 -0,42 -0,06 1 1° amínico +0,00 ----* -0,02 -0,19 -0,12 1 2° amínico +0,06 ----* +0,05 -0,03 +0,05 1 * O sistema não convergiu para um modelo de menor energia e os cálculos foram interrompidos. 1 Fonte: ROMANOVA et al., (2010) A análise das Tabelas 5.11 e 5.2 mostra que ocorre uma redistribuição de cargas atômicas quando ocorre a dopagem da base esmeraldina pelo ácido glutâmico localizadas principalmente sob o anel quinóide e seus anéis vizinhos (1° e 2° anéis benzenóides) e sob os sítios imínicos. Estes três anéis adquirem 68 praticamente a carga atômica positiva necessária para estabilizar os ânions do ácido glutâmico presente no modelo. Estes resultados estão de acordo com dados teóricos relatados na literatura, em que o anel quinóide e os dois anéis benzenóides vizinhos apresentam os maiores valores positivos de carga atômica de Mulliken (ROMANOVA et al., 2010). 5.2. Análise do estudo experimental 5.2.1. Rendimento nominal e condutividade elétrica das amostras PAni (AG) O cálculo de rendimento real (Rr) da reação de polimerização da anilina é difícil de ser determinado, visto que não se sabe a quantidade real de ácido presente tanto na forma livre quanto na forma ligada aos sítios imínicos e é complicado ter o controle do término da reação de polimerização, assim a massa molar do produto final pode variar em ordens de grandeza e o rendimento real ser um parâmetro impreciso. Assim, foram feitas algumas considerações para calcular o rendimento nominal (Rn) da reação. A primeira consideração feita é que toda a anilina polimerizou-se, a segunda é que 50% dos nitrogênios da unidade de repetição estão dopados com ácido glutâmico e a presença de impurezas foi negligenciada. De acordo, com estas considerações, rendimento superior a 100% é característico de ácido glutâmico livre permeando as regiões intermoleculares da cadeia polimérica (ARAÚJO; De PAOLI, 2009). Assim, cada quatro unidades de anilina produzem uma unidade de repetição do polímero dopado que apresenta massa molar de 658,62 gmol-1 (Figura 5.5). Figura 5. 5. Representação da estrutura da polianilina dopada com ácido glutâmico e a proporção estequiométrica dos reagentes na síntese do polímero 69 A determinação da condutividade elétrica pelo método de quatro pontas baseia-se na aplicação de uma corrente elétrica constante entre dois eletrodos e na medida da tensão entre os outros dois. É uma técnica bastante utilizada para determinar a condutividade elétrica de filmes, lâminas e superfícies condutoras (ARAÚJO et al., 2003). Na Tabela 5.12 são mostrados as médias e o desvio padrão dos valores de rendimento nominal e condutividade elétrica determinada pelo método de quatro pontas para as amostras de polianilina sintetizada em meio contendo ácido glutâmico, PAni(AG), pelo método de polimerização química da anilina. Tabela 5. 12. Valores de rendimento nominal e condutividade elétrica das amostras de PAni(AG) obtidas pelo método de polimerização química da anilina Amostra K R C Rendimento nominal/ % Condutividade 1° síntese 2° síntese Média elétrica/ Scm-1 PAni(AG) 1 - - + 76,85 68,88 72,87 ± 5,64 (8,19 ± 0,09). 10-3 PAni(AG) 2 + - + 65,92 57,80 61,86 ± 5,74 (4,54 ± 0,11). 10-3 PAni(AG) 3 - + + 78,33 71,03 74,68 ± 5,16 (1,22 ± 0,04). 10-2 PAni(AG) 4 + + + 66,06 56,32 61,19 ± 6,89 (4,61 ± 0,03). 10-3 PAni(AG) 5 - - - 69,20 73,74 71,47 ± 3,21 (2,50 ± 0,07). 10-3 PAni(AG) 6 + - - 51,72 48,87 50,30 ± 2,02 (5,54 ± 0,07). 10-4 PAni(AG) 7 - + - 66,15 48,77 57,46 ± 12,29 (2,20 ± 0,06). 10-3 PAni(AG) 8 + + - 51,66 50,95 51,31 ± 0,50 (6,89 ± 0,19). 10-4 Pode-se observar na Tabela 5.12 que o rendimento nominal aumenta com a diminuição do fator K, ou seja, com o aumento da quantidade de agente oxidante. Neste caso, o aumento da concentração de anilina, em contato com maior massa de agente oxidante favoreceu o rendimento e a condutividade elétrica das amostras. Estes fatores provocam o aumento no número de sítios de polimerização e também o aumento do tamanho das moléculas poliméricas e o número de conjugações, o que provoca a diminuição do gap de energia entre as bandas de valência e condução, conduzindo a um aumento na condutividade elétrica. Observa-se que os maiores valores de rendimento e condutividade elétrica foram obtidos com a concentração da anilina no nível superior (0,2 molL -1) e o fator 70 K no nível inferior (nox=1,5625nan, excesso de oxidante). Geralmente, o excesso de agente oxidante provoca a sobre-oxidação da polianilina, através de processos de oxidação irreversíveis, conduzindo à despolimerização com a consequente formação de oligômeros solúveis, o que diminui o rendimento nominal (ARMES; MILLER, 1988). Contradizendo os relatos da literatura, neste caso, o excesso de agente oxidante provocou o aumento do rendimento. Este resultado corrobora a tese de que está ocorrendo oxidação simultânea dos sítios amínicos da anilina e do ácido glutâmico, em concordância com os resultados teóricos que mostram que a oxidação ocorre preferencialmente nos grupos amínicos do ácido glutâmico. Se quantidade do agente oxidante é consumida pelo ácido glutâmico, menos moléculas de anilina serão polimerizadas. Assim, será necessário agente oxidante em excesso para polimerizar toda a anilina, tendo como consequência o aumento do rendimento nominal quando comparado com uma quantidade estequiométrica de agente oxidante (nox=1,25nan, nível superior de K). O aumento na concentração de anilina conduz à formação de macromoléculas maiores, favorecendo o aumento da condutividade elétrica das amostras de PAni(AG), pela diminuição do band gap. O rendimento nominal (Rn) das amostras obtidas através da reprotonação da base esmeraldina foram determinados considerando que uma unidade de repetição da base esmeraldina reage com o ácido glutâmico e produz o polímero dopado que apresenta massa molar de 658,62 gmol-1 (Figura 5.6). Figura 5. 6. Representação da estrutura da polianilina dopada com ácido glutâmico e a proporção estequiométrica dos reagentes usados na reprotonação da base esmeraldina Na Tabela 5.13 são mostrados as médias e os desvios padrões dos valores de rendimento nominal e condutividade elétrica determinada pelo método de quatro pontas para as amostras de polianilina sintetizadas pelo método de reprotonação da 71 base esmeraldina em solução de ácido glutâmico, PAni(AG). As proporções molares e a temperatura de síntese estão também ilustradas na Tabela 5.13. Tabela 5. 13. Valores de rendimento nominal e condutividade elétrica das amostras de PAni(AG) obtidas pelo método de reprotonação da base esmeraldina Amostra Proporção AG/base esmeraldina Temperatura de síntese Rendimento nominal/ % Condutividade elétrica/ Scm-1 PAni(AG) 9 1:1 20-25°C 48,52 ± 1,12 (1,72 ± 0,26). 10-7 PAni(AG) 10 1:1 70-75°C 50,02 ± 3,54 (1,84 ± 0,15). 10-6 PAni(AG) 11 2:1 20-25°C 43,87 ± 7,15 (1,70, ± 0,13). 10-7 PAni(AG) 12 2:1 70-75°C 50,32 ± 4,67 (1,81 ± 0,48). 10-6 PAni(AG) 13 3:1 20-25°C 38,75 ± 17,93 (3,36 ± 0,38). 10-7 PAni(AG) 14 3:1 70-75°C 48,37 ± 1,02 (2,12 ± 0,73). 10-6 As amostras de polianilina sintetizadas pelo método de reprotonação da base esmeraldina em solução de ácido glutâmico apresentaram coloração marrom característico de polianilina na sua forma isolante (base esmeraldina) (ARAÚJO; De PAOLI, 2009). Os rendimentos nominais das amostras estiveram abaixo de 50 % e a condutividade elétrica na ordem de 10-6 a 10-7 Scm-1 correspondendo o caráter isolante do material (LI et al., 2010). Desta forma, no processo de reprotonação da base esmeraldina em solução de ácido glutâmico a polianilina dopada não foi o produto preponderante. 5.2.2. Espectroscopia vibracional na região do infravermelho das amostras de PAni (AG) A técnica de espectroscopia vibracional na região do infravermelho baseia-se na interação entre a molécula com a radiação eletromagnética na região do infravermelho. Após a molécula absorver a radiação infravermelha, ela passa para um estado de energia excitado, verificando-se um movimento vibracional molecular (PAVIA et al., 2010). A partir deste princípio pode-se identificar os principais grupos constituintes presentes na amostra. Esta técnica constitui um dos principais recursos para a identificação e elucidação estrutural dos materiais (LOPES; FASCIO, 2004). 72 O espectro vibracional na região do infravermelho da amostra de polianilina sintetizada em meio contendo ácido glutâmico, PAni(AG) 3, e ácido glutâmico puro (AG) são mostrados na Figura 5.7. Figura 5. 7. Espectro vibracional das amostras de PAni(AG) 3 e ácido glutâmico puro (AG) obtidas na região do infravermelho em pastilha de KBr Observa-se através dos dados fornecidos pelo espectro vibracional na região do infravermelho da amostra PAni(AG) 3, a ausência de ácido glutâmico na estrutura do material polimérico. A banda de absorção localizada em 3.075 cm -1 é proveniente do estiramento da ligação N-H característicos de grupos amínicos, esta banda não é observada no espectro de PAni(AG) 3. Além disso, na amostra de ácido glutâmico puro observam-se bandas de absorção em 1.650 cm -1 e em 809 cm-1 sendo atribuídas as deformações angulares das ligações N-H em aminas primárias no plano e fora do plano, respectivamente. A banda forte em 1.515 cm-1 é proveniente de estrutura zwitteriônica do aminoácido. As bandas localizadas entre 1.350 - 1.000 cm-1 são atribuídas ao estiramento da ligação C-N de aminoácidos. Deste modo, o ácido glutâmico utilizado nas sínteses não foi capaz de protonar a polianilina (PAVIA et al., 2010; BARTH, 2000). As absorções relativas à amostra de ácido glutâmico puro estão listadas na Tabela 5.14. 73 Tabela 5. 14. Bandas de absorção na região do infravermelho da amostra de ácido glutâmico puro (AG) Número de onda/ cm-1 Amostras Modos vibracionais υ 3.075 AG Estiramento N–H característico de grupos amínicos do aminoácido υ 2.900 – 2.800 AG Estiramento C–H atribuído ao ácido glutâmico δ 1.650 AG Deformação angular N-H do ácido glutâmico υ 1.635 AG Estiramento COO- do ácido glutâmico υ 1.515 AG Estiramento característico de estrutura zwitteriônica do aminoácido υ 1.350 – 1.000 AG Estiramento C-N do aminoácido δ 809 AG Deformação angular N-H fora do plano Fonte: (PAVIA et al., 2010; BARTH, 2000) A condutividade elétrica das amostras de polianilina evidencia o estado condutor da polianilina, obtida através do processo de dopagem. No entanto, pelo espectro vibracional na região do infravermelho da amostra PAni (AG) 3, não foram observados picos relativos a presença do ácido glutâmico. No estudo teórico, os resultados obtidos sugerem que o agente oxidante, persulfato de amônio, oxida preferencialmente o grupo amina do ácido glutâmico em relação aos sítios imínicos da anilina. Os resultados experimentais sugerem que durante o processo de redução do persulfato de amônio, o ácido sulfúrico formado como subproduto da reação promove a dopagem da polianilina e o ácido glutâmico é extraído durante o processo de lavagem do filtrado. Para efeito de comparação foram realizadas sínteses de PAni dopada com ácido sulfúrico, através do método de polimerização química da anilina. O espectro vibracional na região do infravermelho da amostra de polianilina sintetizada em meio contendo ácido glutâmico, PAni(AG) 3, e polianilina dopada com ácido sulfúrico, PAni (H2SO4), são ilustrados na Figura 5.8. 74 Figura 5. 8. Espectro vibracional das amostras de PAni(AG) 3 e PAni (H2SO4) obtidas na região do infravermelho em pastilha de KBr Nos espectros da Figura 5.8, observa-se a presença de uma banda em 1.581 cm-1 sendo atribuída ao estiramento C=C da unidade quinóide da polianilina e em 1.495 cm-1 é referente à absorção de estiramento da ligação C=C da unidade benzenóide da polianilina. A banda de absorção em 1.291 cm-1 pode ser atribuída ao estiramento da ligação C-N da amina aromática e a deformação angular C-C da polianilina. A absorção em 1.114 cm-1 corresponde à deformação C-H no plano (modo N=Q=N, em que Q representa as unidades quinóides) formado durante a protonação da polianilina. As bandas de absorção localizadas em 806 cm-1 e em 508 cm-1 são provenientes da deformação angular C-H fora do plano do anel benzênico e fora do plano do anel aromático, respectivamente. As bandas de absorção na região de 620 cm-1 são atribuídas ao estiramento da ligação S-O do ácido sulfúrico (ARAÚJO; De PAOLI, 2009; PAVIA et al., 2010; FERREIRA, 2011; ASSIS, 2007; CHEN et al., 2009). As absorções relativas às amostras de PAni(AG) 3 e PAni (H2SO4) estão presentes na Tabela 5.15. 75 Tabela 5. 15. Bandas de absorção na região do infravermelho das amostras de PAni(AG) 3 e PAni (H2SO4) Número de onda/ cm-1 Amostras Modos vibracionais υ 1.581 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Estiramento C=C da unidade quinóide da polianilina υ 1.495 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Estiramento C=C da unidade benzenóide da polianilina υ 1.291 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Estiramento C-N da amina aromática e deformação C-C da polianilina δ 1.114 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Deformação angular C-H no plano (modo N=Q=N) δ 806 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Deformação angular C-H fora do plano do anel benzênico υ 620 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Estiramento S-O do ácido sulfúrico δ 508 PAni(AG) 3 PAni(H2SO4) Deformação angular C-H fora do plano do anel aromático Q=Quinóide Fonte: (ARAÚJO; De PAOLI, 2009; PAVIA et al., 2010; FERREIRA, 2011; ASSIS, 2007) Desta forma, pode-se inferir que as amostras de polianilina sintetizadas em meio contendo ácido glutâmico, PAni (AG), não foram dopadas com ácido glutâmico e sim com ácido sulfúrico, outra evidência que corrobora com este fato é que as amostras de PAni (AG) apresentaram aspecto quebradiço e com coloração azulada, aspectos característicos de polianilina dopada com ácidos fortes. Assim, o ácido sulfúrico formado no meio reacional durante o processo de polimerização da anilina, através da redução do persulfato de amônio atua com dopante. Os espectros vibracionais na região do infravermelho das amostras de base esmeraldina e de polianilina obtida através do método de reprotonação da base esmeraldina, amostra PAni(AG) 10, estão ilustrados na Figura 5.9. 76 Figura 5. 9. Espectro vibracional das amostras de base esmeraldina (BE) e PAni (AG) 10 obtidas na região do infravermelho em pastilha de KBr A ausência de bandas de absorções localizadas na região entre 2.900 – 2.800 -1 cm e em 1.740 cm-1 na amostra de PAni(AG) 10 podem ser atribuídos a ausência de ácido glutâmico nas cadeias poliméricas, pois estas absorções são provenientes, respectivamente, dos estiramentos C-H e C=O do ácido glutâmico. No espectro da base esmeraldina também não são observados essas bandas. Os picos localizados em 1.590 cm-1 e em 1.488 cm-1 são características de absorções de estiramento C=C da unidade quinóide e benzenóide, respectivamente. A banda em 1.292 cm -1 é proeminente do estiramento C-N da amina aromática e deformação angular C-C. A banda localizada em 1.140 cm-1 pode ser atribuída à deformação angular C-H no plano (modo N=Q=N, em que Q representa o anel quinóide). As bandas em 825 cm -1 e em 508 cm-1 são atribuídas à deformação angular fora do plano no anel benzênico e aromático, respectivamente (ARAÚJO; De PAOLI, 2009; PAVIA et al., 2010; STEJSKAL et al., 2012; LI et al., 2010). As absorções relativas às amostras base esmeraldina (BE) e de PAni(AG) 10 estão presentes na Tabela 5.16. 77 Tabela 5. 16. Bandas de absorção na região do infravermelho das amostras de base esmeraldina (BE) e PAni(AG) 10. Número de onda/ cm-1 Amostras Modos vibracionais υ 1.590 BE PAni(AG) 10 Estiramento C=C da unidade quinóide da polianilina υ 1.488 BE PAni(AG) 10 Estiramento C=C da unidade benzenóide da polianilina υ 1.292 BE PAni(AG) 10 Estiramento C-N da amina aromática e deformação C-C da polianilina δ 1.140 BE PAni(AG) 10 Deformação angular C-H no plano (modo N=Q=N) δ 825 BE PAni(AG) 10 Deformação angular C-H fora do plano do anel benzenóide δ 508 BE PAni(AG) 10 Deformação angular C-H fora do plano do anel aromático Fonte: (ARAÚJO; De PAOLI, 2009; PAVIA et al., 2010; STEJSKAL et al., 2012; LI et al., 2010) Assim, os espectros da Figura 5.9 mostram que o ácido glutâmico não conseguiu dopar a base esmeraldina e a ausência dos picos relativos ao ácido glutâmico sugere a sua extração durante o processo de lavagem do filtrado. Este resultado corrobora com os dados obtidos através da determinação da condutividade elétrica das amostras sintetizadas pelo processo de reprotonação da base esmeraldina, no qual a ordem de grandeza foi de 10-6 a 10-7 Scm-1, característico de material isolante (ARAÚJO; De PAOLI, 2009). Em concordância, os resultados teóricos mostram que o ácido glutâmico não reage com a base esmeraldina. 78 6. CONCLUSÃO Os programas elaborados em linguagem de programação Shell Bash do Linux para construção das estruturas de anilina, base esmeraldina e ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro mostraram-se eficientes em sua execução. Assim como os programas desenvolvidos para construção dos modelos de interação entre polianilina e ácido glutâmico e entre a anilina e o ácido glutâmico e aqueles desenvolvidos com o objetivo de coletar ou filtrar alguns dados obtidos após os cálculos empregando os métodos semi-empíricos e ab initio. Os cálculos de otimizações das estruturas realizados com o método semiempírico AM1 foram considerados suficientes para encontrar uma geometria otimizada das estruturas. Com a otimização e coleta das respectivas coordenadas, estas estruturas foram otimizadas pelos métodos semi-empírico PM7 e ab initio HF e DFT-B3LYP com funções de base 3-21G, 6-31G e 6-311G. Os resultados das análises das distâncias e das cargas parciais de Mulliken mostraram que a base esmeraldina é constituída de um anel quinóide e de três anéis benzenóides e que os sítios imínicos apresentaram cargas de Mulliken mais negativas, caracterizando-se a região mais nucleofílica da estrutura. Nas análises de variações de energia da interação entre anilina e ácido Lglutâmico zwitteriônico os resultados usando os métodos DFT-B3LYP mostraram que as variações de interações foram negativas quando foi fixada a distância N-O em 2,30 Å e para os demais métodos as variações de energia foram positivas. As distâncias de ligações e as cargas de Mulliken nos modelos de interação entre anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico, empregando os métodos semi-empíricos e ab initio, mostraram que à medida que as moléculas se aproximam ocorre uma tendência para que o hidrogênio ácido seja transferido para a molécula de anilina, pois a distância O-H aumenta e a carga parcial de Mulliken para o hidrogênio ácido fica mais positiva, observa-se esta transferência quando foi fixada a distância N-O em 2,30 Å, nos modelos que empregam os métodos DFTB3LYP. Nas análises dos modelos de interação entre anilina e ácido L-glutâmico neutro os resultados usando os métodos DFT-B3LYP mostraram que à medida que se aproximaram as moléculas, percebeu-se uma tendência que o hidrogênio ácido poderia ser doado para o grupo amina da anilina, pois a distância O-H aumentou, 79 no entanto, não observou essa doação do hidrogênio ácido, e nos modelos simulando a formação do sal anilinium-glutamato, o hidrogênio ácido ligado ao grupo amina, retornou-se ao ácido glutâmico, indicando que a reação entre anilina e ácido L-glutâmico neutro pode não ocorrer. Os resultados das análises das cargas de Mulliken para os modelos simulando a formação do sal anilinium-glutamato zwitteriônico e neutro foram similares. Assim, a presença de um agente oxidante no meio reacional provocou oxidação preferencial nos grupos amínicos do ácido glutâmico e não nos grupos amínicos da anilina. Nas análises de variações de energia da interação entre base esmeraldina e ácido L-glutâmico zwitteriônico e neutro, usando os métodos semi-empíricos, os resultados mostraram que as variações de interações foram positivas quando foram fixadas a distância N-O em 2,30 Å. Nos modelos simulando a formação do sal esmeraldina, as variações de reação foram positivas. A comparação das distâncias de ligações e das cargas de Mulliken entre os modelos de formação do sal esmeraldina, obtida quando a distância N-O foi fixada em 2,80 Å, e da base esmeraldina mostrou que a formação do sal esmeraldina provocou pouca distorção da cadeia polimérica. A metodologia experimental empregada na síntese de polianilina dopada em meio contendo ácido glutâmico mostrou-se eficiente no que tange o objetivo do trabalho, bem como as técnicas de caracterizações utilizadas. Experimentalmente, quando se adiciona anilina à solução de ácido glutâmico, observa-se que o precipitado de ácido glutâmico foi dissolvido e a suspensão amarelada da anilina tornou-se incolor, indicando a formação do sal aniliniumglutamato. As amostras sintetizadas pelo método de polimerização química da anilina apresentaram rendimentos nominais superiores a 50% e condutividade elétrica na ordem de 10-2 a 10-4 Scm-1. Nas análises dos espectros vibracionais na região do infravermelho os resultados evidenciaram a formação de sal esmeraldina. No entanto, o ácido sulfúrico proveniente da redução do persulfato de amônio atua como dopante da polianilina. Em concordância com estes resultados, os maiores valores de rendimento nominal (~ 70 %) e condutividade elétrica (na ordem de 10-2 Scm-1) foram obtidos para os níveis inferiores do parâmetro K (maior proporção molar do 80 agente oxidante) e superiores da concentração de inicial de anilina (0,2 molL -1), indicando que quando maior a proporção de persulfato de amônio, maior será a quantidade de ácido sulfúrico produzido no meio reacional e com isso, maior a condutividade elétrica das amostras. As amostras sintetizadas pelo método de reprotonação da base esmeraldina apresentaram rendimentos nominais inferiores a 50 %, condutividade elétrica na ordem de 10-6 a 10-7 Scm-1 e coloração marrom. Estes aspectos, juntamente com os resultados fornecidos pelas análises dos espectros vibracionais na região do infravermelho indicaram que a polianilina dopada não foi o produto preponderante da síntese. Os resultados teóricos da interação da anilina e ácido L-glutâmico zwitteriônico apontam para boa similaridade em relação ao estudo experimental. Os cálculos utilizando os métodos DFT-B3LYP mostraram que a anilina pode reagir com o ácido L-glutâmico zwitteriônico, o que foi observado experimentalmente através da formação do sal anilinium-glutamato, quando adicionou-se anilina à solução de ácido glutâmico. Os resultados teóricos dos modelos de oxidação do sal anilinium-glutamato apresentaram concordância com os resultados experimentais. De acordo com os resultados teóricos o grupo amina do ácido glutâmico apresenta maior facilidade de oxidar do que o grupo amina da anilina. Esta competição pode impedir a polimerização química da anilina, pois menor será a quantidade de moléculas de anilina oxidada produzida. Em concordância com estes resultados, as amostras sintetizadas pelo método de polimerização química da anilina apresentaram os maiores valores de rendimento nominal e condutividade elétrica quando utilizou-se a maior proporção molar de agente oxidante e nível superior da concentração inicial de anilina, sendo um indício que o persulfato de amônio oxida os grupos amínicos do ácido glutâmico e da anilina. Os resultados teóricos da interação entre polianilina e ácido glutâmico concordam com os dados experimentais. De acordo com os resultados obtidos empregando os métodos semi-empíricos, conclui-se que a reação entre polianilina e ácido glutâmico não ocorre, pois as variações de energia foram positivas e as distâncias de ligações da polianilina não variaram significativamente. Na prática, as amostras de polianilina sintetizada através do método de reprotonação da base 81 esmeraldina apresentaram características de material isolante, indicativo que não ocorreu dopagem da polianilina. 82 7. PERSPECTIVAS DE TRABALHOS FUTUROS Estudar teoricamente as estruturas neutras e zwitteriônica do ácido glutâmico levógiro e dextrógiro em meio gasoso e aquoso; Analisar as propriedades das formas pernigranilina, leucoesmeraldina e base esmeraldina usando métodos mecânicos-quânticos; Estudar a transferência de hidrogênio ácido de diferentes dopantes para os sítios imínicos da polianilina, tais como: ácido adípico e capróico; Estudar as interações entre polianilina com as formas do ácido glutâmico levógiro e dextrógiro e as interações entre anilina com as formas do ácido glutâmico, considerando interações intercadeias e em meio aquoso; Analisar teoricamente as estruturas do ácido glutâmico em função da temperatura; Estudar a síntese química da polianilina dopada com ácido glutâmico realizando a proteção do grupo amina do ácido; Realizar a síntese da polianilina em solução de ácido glutâmico utilizando outro solvente que solubilize o ácido glutâmico; Estudar as possíveis conformações do ácido glutâmico em diferentes temperaturas e a possibilidade de racemato. 83 8. 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Em 1926, Erwin Schrödinger propôs uma nova mecânica baseada em funções de onda e em equações diferenciais. Ele concluiu que só seria possível determinar corretamente a energia em um sistema atômico incluindo o comportamento ondulatório proposto por Louis de Broglie para todos os objetos microscópicos que constituem o sistema. Deste modo, a determinação da estrutura e das propriedades de um sistema se resume na resolução da Equação de Schrödinger independente do tempo e não relativística, Equação A.1 (COOK, 1998). H= E (A.1) Na equação A.1, E corresponde a energia total do sistema, (psi) é a função de onda e H é denominado operador Hamiltoniano, que é constituído pelas contribuições das energias cinética e potencial para um sistema de N elétrons e M núcleos, que pode ser escrito conforme mostrado na Equação A.2 (COOK, 1998). N M N M N N Z 1 1 1 M M Z Z Η = i2 2A A + + A B i=1 2 A =1 2M A i=1 A =1 riA i=1 j>1 rij A =1 B>A R AB (A.2) Na Equação A.2, os dois primeiros termos representam a energia cinética dos elétrons e dos núcleos, respectivamente, o terceiro termo corresponde à interação coulômbica entre os elétrons e núcleos e os últimos dois termos referem-se, respectivamente, as energias repulsivas das interações entre elétrons e núcleos (COOK, 1998). Os termos riA, rij, RAB correspondem as distâncias, respectivamente, entre o elétron i e núcleo A, entre o elétron i e elétron j e entre o núcleo A e núcleo B. MA é a razão da massa do núcleo A com a massa de um elétron, ZA representa o número atômico do núcleo A. Os termos i2 e A2 representam os operadores laplacianos 91 correspondendo a diferenciação em relação às coordenadas do enésimo elétron e núcleo, respectivamente (VARGAS, 2009). A equação de Schrödinger pode ser construída para um sistema de muitos corpos. Entretanto, sua resolução manual é possível apenas para um sistema muito simples como o átomo de hidrogênio ou para átomos hidrogenóides (H, He +, Li2+, entre outros). A resolução da Equação de Schrödinger para o átomo de hélio ou para a molécula de hidrogênio torna-se relativamente trabalhosa e dispendiosa. Desta forma, para a resolução da equação para sistemas mais complexos é necessário o uso de algumas aproximações e simplificações, a mais utilizada é a aproximação de Born-Oppenheimer (COSTA, 2012). A.2. Aproximação de Born-Oppenheimer (ABO) Os métodos mecânicos-quânticos têm como objetivo resolver, de modo aproximado, a equação de Schrödinger para a determinação de propriedades de sistemas atômicos e moleculares. A aproximação mais fundamental para tal resolução é denominada de Born-Oppenheimer (ABO), desenvolvida pelos autores em 1927, que separa o movimento nuclear do movimento eletrônico, uma vez que a massa dos elétrons é muito menor do que a massa dos núcleos, cerca de 1840 vezes. Assim, os núcleos são fixados em determinadas posições do espaço e a equação de Schrödinger é resolvida apenas para os elétrons descritos por uma função de onda eletrônica, na presença do potencial produzido pelos núcleos fixos (COSTA, 2012; MAGNASCO, 2009). Na aproximação de Born-Oppenheimer as posições dos núcleos são consideradas fixas e os elétrons são os responsáveis pela energia cinética do sistema. Com esta aproximação, a energia cinética do núcleo pode ser desprezada e a repulsão entre os núcleos pode ser considerada uma constante. Assim, os termos restantes no Hamiltoniano dão origem ao Hamiltoniano eletrônico, de acordo com o representado na Equação A.3 (VARGAS, 2009). N N M N N 1 Z 1 Ηeletrônico = - i2 - A + i =1 2 i =1 A =1 riA i =1 j>1 rij (A.3) 92 A solução da equação de Schrödinger que utiliza o Hamiltoniano eletrônico fornece a função de onda, que descreve o movimento dos elétrons, Equação A.4, e a energia eletrônica, Equação A.4, eletrônico= eletrônico (ri, {RA}) (A.4) eletrônico= eletrônico ({RA}) (A.5) as quais são dependem das coordenadas eletrônicas e nucleares. Esta dependência das coordenadas nucleares significa que para cada um dos diferentes arranjos nucleares, existe uma função de onda eletrônica e uma energia eletrônica. Desta forma, a energia total pode ser obtida como a energia eletrônica somada a constante de repulsão nuclear como mostrado na Equação A.6 (VARGAS, 2009). M M Z A ZB A =1 B> A R AB ε total = ε eletrônica + (A.6) Baseando-se nas mesmas considerações para formular o Hamiltoniano eletrônico é possível resolver o movimento nuclear. Como os elétrons se movem mais rápido que o núcleo, então, pode escrever na Equação A.2 as coordenadas eletrônicas como valores médios em relação a função de onda eletrônica. Deste modo, o Hamiltoniano nuclear sobre o campo médio dos elétrons é dado pela Equação A.7 (VARGAS, 2009). M 1 2A +ε total (R A ) A =1 2M A Ηnuclear = (A.7) A.3. Métodos semi-empíricos Os métodos semi-empíricos consideram apenas os elétrons da camada de valência dos átomos na resolução da equação de Schrödinger, os demais elétrons são omitidos, pois eles contribuem pouco para o comportamento químico das moléculas. Além disso, estes métodos utilizam informações experimentais para substituir parâmetros, tais como integrais de repulsão eletrônica. Assim, essas 93 informações são parâmetros cujos valores se ajustam para concordar com os dados experimentais e com cálculos ab initio, incluindo calores de formação, momentos de dipolo, energia de ionização, geometrias moleculares (RAMACHANDRAN; DEEPA; NAMBOORI, 2008; ROCHA et al., 2006). Estes métodos têm como principal objetivo o tratamento quantitativo das propriedades de uma molécula, baseado na confiabilidade dos resultados e baixo tempo operacional. Entre os métodos semi-empíricos mais utilizados, ultimamente, destaca-se os métodos AM1 (Austin Model 1), PM3 (Parametric Method 3) e MNDO (Modified Neglect of Diatomic Overlap). Recentemente, foram desenvolvidos mais três parametrizações dos modelos semi-empíricos, o RM1 (Recife Model 1), o PM6 (Parametric Method 6) e o PM7 (Parametric Method 7) (ROCHA et al., 2006). O método AM1 criado por DEWAR et al. (1985), foi baseado no método MNDO, sendo parametrizadas integrais para os átomos de H, Na, K, B, Al, C, Si, Ge, Sn, N, P, O, S, F, Cl, Br, I, Rb, Hg e Zn. A principal modificação realizada no método AM1 foi na função de repulsão nuclear e a inclusão de funções gaussianas na sua formulação, possibilitando uma melhor descrição das propriedades moleculares, visto que no método MNDO havia uma tendência em superestimar as repulsões entre os átomos, tornando as energias de ativação mais elevadas. Além disso, permite uma descrição das ligações de hidrogênio (RAMACHANDRAN; DEEPA; NAMBOORI, 2008; FREITAS, 2013). De acordo com LEVINE (2000), a Tabela A.1 representa os erros absolutos médios, para cálculos realizados pelos métodos semi-empíricos, em 460 distâncias de ligação, 196 ângulos de ligação e 16 ângulos de torsão para compostos que contém H, C, N, O, F, Al, Si, P, S, Cl, Br e I (LEVINE, 2000). Os erros no método AM1 são bem menores que do MNDO, e os erros remanescentes podem ser atribuídos a parametrizações incompletas. 94 Tabela A. 1. Representação dos erros absolutos médios das distâncias e ângulos de ligação e ângulos de torsão para os métodos semi-empíricos Métodos Distâncias de ligação (Å) Ângulos de ligação (°) Ângulos de torsão (°) AM1 0,051 3,8 12,5 MNDO 0,055 4,3 21,6 PM3 0,037 4,3 14,9 Fonte: (LEVINE, 2000) STEWART (2013) aprimorou a técnica de parametrização e a partir das formulações usadas no método AM1 e dos métodos PM3 e PM6, desenvolvidos por ele, criou em 2013 o método PM7. O método PM7 foi parametrizado com dados experimentais e com dados ab initio. Duas alterações foram feitas para o conjunto de aproximações: uma modificação foi realizada para melhorar a descrição das interações não covalentes e dois pequenos erros no formalismo do método PM6 foram corrigidos. Erros médios em geometria e na variação de entalpia de formação para o PM7 foram reduzidos em relação ao PM6. Para sistemas orgânicos simples, em fase gasosa, o erro absoluto médio dos comprimentos de ligações diminui cerca de 5% e a variação da entalpia de formação diminuiu cerca de 10% (STEWART, 2013). A.4. Métodos ab initio Os métodos ab initio consideram todos os elétrons dos átomos para resolução da equação de Schrödinger e a solução é obtida realizando o cálculo de todas as integrais, sem introduzir dados experimentais, apenas consideram constantes físicas fundamentais como a massa e a carga dos elétrons, de modo a determinar propriedades para sistemas atômicos e moleculares. Estes métodos descrevem os orbitais através das funções de base. Uma função de base mínima possui apenas um número de funções necessário para conter todos os elétrons de um átomo, assim, uma função 1s para os átomos de hidrogênio e hélio, funções 1s e 2s para o lítio e berílio e assim sucessivamente (SZABO; OSTLUND, 1996). Os métodos ab initio apresentam como vantagens a confiabilidade e exatidão para sistemas de poucos elétrons. Contudo, para sistemas muito grandes pode 95 tornar-se o tempo computacional alto, devido ao elevado número de combinações causadas pelo elevado número de auto-funções. Um dos principais métodos ab initio é HF (Hartree-Fock) (COSTA, 2012). Os métodos ab initio empregam conjuntos de funções de base nos cálculos para descrever os orbitais, estas funções são do tipo Slater (STO) ou funções Gaussianas (GTO, isto é, 3-21G, 6-31G). Na notação utilizada para representar um conjunto de base, o número que aparece no começo indica a quantidade de orbitais do tipo Gaussianas (G) usados para descrever os orbitais atômicos internos, os números que aparecem a seguir indicam os conjuntos de funções de base que descrevem os orbitais de valência. Assim, por exemplo, o conjunto 6-31G descreve os orbitais atômicos internos com uma única função constituída de seis Gaussianas primitivas, enquanto os orbitais de valência são descritos por dois conjuntos de funções de base, uma constituída por três Gaussianas primitivas e a outra por apenas uma Gaussianas primitiva (FOLKUENIG, 2010; RAMACHANDRAN; DEEPA; NAMBOORI, 2008). A fim de melhorar a precisão dos cálculos, em sistemas moleculares que ocorre transferência de carga adicionam-se funções com um número quântico de momento angular superior ao requerido pelo átomo no estado fundamental, essas funções são denominadas funções de polarização e podem ser representada por um asterisco (*) no final da notação, tal como, o conjunto 6-31G* (FOLKUENIG, 2010). A.5. A Teoria do Funcional de Densidade (DFT) Um método computacional alternativo é a Teoria do Funcional de Densidade (DFT – Density Functional Theory). Neste método, considera-se que a energia de um conjunto de elétrons sob influência de um campo externo é um funcional único da densidade eletrônica, (r). Esta dependência aparece em dois termos da energia eletrônica, denominados funcional de troca e funcional de correlação. Assim, é possível obter as propriedades do estado fundamental das moléculas sem a necessidade da função de onda multieletrônica (COSTA, 2012; SZABO; OSTLUND, 1996). A vantagem de utilizar a densidade eletrônica ao invés da função de onda está na redução considerável dos cálculos. Por exemplo, a função de onda para n elétrons contém 3n variáveis para cada elétron (pois define os números quânticos 96 principal, de momento angular e magnético) mais a parte de spin, enquanto que a densidade eletrônica é definida como o quadrado da função de onda integrada sobre (n – 1) coordenadas eletrônicas. Deste modo, a densidade eletrônica depende somente de três coordenadas, independentemente do número de elétrons (SILVA, 2006). Contudo, a expressão analítica para o funcional da densidade eletrônica ainda não é conhecida. Dessa forma, várias aproximações descrevem este funcional, o que conduz aos diversos métodos DFT. Os mais utilizados são os métodos baseados nos denominados ―funcionais híbridos‖, que combinam vários funcionais, dentre os quais se destacam correções do gradiente para a aproximação LDA (Local Density Aproximation), através do funcional elaborado por Becke, e funcional para a correlação e troca de Lee-Yang-Parr (LYP). Atualmente, o método do funcional de troca híbrido de três parâmetros de Becke e do funcional de correlação LYP, o método híbrido B3LYP, é amplamente utilizado para o cálculo de várias propriedades do estado fundamental, devido à qualidade dos seus resultados, principalmente para moléculas orgânicas (SZABO; OSTLUND, 1996; COSTA, 2012; SILVA, 2006). 97 APÊNDICE B – PROGRAMAS DESENVOLVIDOS EM SHELL BASH PARA OBTENÇÃO DOS MODELOS DA POLIANILINA E COLETA DE DADOS #!/bin/bash #Construir polianilinas com n numero de aneis #Gabriel Dutra e JDSantos, v.04, 21/12/12, 18:20 hs #Modificado, v.02, 02/11/13, 21:00hs #Variaveis externas: nome=$1 ###nome da molecula nan=$2 ###numero de aneis da=$3 ###distancia entre os aneis aa=$4 ###angulo entre os aneis ta1=$5 ###torsao entre os aneis ta2=$6 ###plano de torsao ###Modo de execucao: ### ./n-anilina.sh polianilina 4 1.40000 120.00000 30.00000 180.00000 echo > ${nome}.dat ; rm ${nome}.dat nome1=${nome}-nan${nan} echo > ${nome1}.dat ; rm ${nome1}.dat ###Redirecionar as keywords para o arquivo echo "AM1 BONDS PREC SHIFT1000 DEBUG LET T=1999999 +" > ${nome1}.dat echo "DUMP=250000 PL GEO-OK SINGLET CHARGE=0" >> ${nome1}.dat echo "${nome}-${nan}aneis " >> ${nome1}.dat echo " " >> ${nome1}.dat ###Definir as coordenadas do primeiro anel da polianilina a1="C"; d1=0.00000; al1=000.00000; t1=000.00000; cd1=0; ca1=0; ct1=0 a2="C"; d2=1.42000; al2=000.00000; t2=000.00000; cd2=1; ca2=0; ct2=0 a3="C"; d3=1.42000; al3=120.00000; t3=000.00000; cd3=2; ca3=1; ct3=0 a4="C"; d4=1.42000; al4=120.00000; t4=000.00000; cd4=3; ca4=2; ct4=1 a5="C"; d5=1.42000; al5=120.00000; t5=000.00000; cd5=4; ca5=3; ct5=2 a6="C"; d6=1.42000; al6=120.00000; t6=000.00000; cd6=5; ca6=4; ct6=3 a7="N"; d7=1.40000; al7=120.00000; t7=180.00000; cd7=4; ca7=3; ct7=2 a8="H"; d8=1.10000; al8=120.00000; t8=180.00000; cd8=2; ca8=3; ct8=4 a9="H"; d9=1.10000; al9=120.00000; t9=180.00000; cd9=3; ca9=4; ct9=5 a10="H"; d10=1.10000; al10=120.00000; t10=180.00000; cd10=5; ca10=6; ct10=1 a11="H"; d11=1.10000; al11=120.00000; t11=180.00000; cd11=6; ca11=1; ct11=2 ###Redirecionar as coordenadas para um arquivo echo "${a1} ${d1} 0 ${al1} 0 ${t1} echo "${a2} ${d2} 0 ${al2} 0 ${t2} echo "${a3} ${d3} 0 ${al3} 0 ${t3} echo "${a4} ${d4} 0 ${al4} 0 ${t4} echo "${a5} ${d5} 0 ${al5} 0 ${t5} echo "${a6} ${d6} 0 ${al6} 0 ${t6} echo "${a7} ${d7} 0 ${al7} 0 ${t7} echo "${a8} ${d8} 0 ${al8} 0 ${t8} 0 0 0 0 0 0 0 0 ${cd1} ${cd2} ${cd3} ${cd4} ${cd5} ${cd6} ${cd7} ${cd8} ${ca1} ${ca2} ${ca3} ${ca4} ${ca5} ${ca6} ${ca7} ${ca8} ${ct1}" ${ct2}" ${ct3}" ${ct4}" ${ct5}" ${ct6}" ${ct7}" ${ct8}" >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat >> ${nome}.dat 98 echo "${a9} ${d9} echo "${a10} ${d10} echo "${a11} ${d11} 0 0 0 ${al9} ${al10} ${al11} 0 nat=` wc -l ${nome}.dat|awk '{print $1}' ` 0 0 ${t9} ${t10} ${t11} 0 ${cd9} ${ca9} ${ct9}" >> ${nome}.dat 0 ${cd10} ${ca10} ${ct10}" >> ${nome}.dat 0 ${cd11} ${ca11} ${ct11}" >> ${nome}.dat ##numero de atomos ###Contar para fazer a repetição dos anéis j=1 while [ ${j} -le ${nan} ] do pl=` echo "1"|bc -l` sl=` echo "2"|bc -l` tl=` echo "3"|bc -l` ###primeira linha a ser modificada no segundo anel da polianilina ###segunda linha a ser modificada no segundo anel da polianilina ###terceira linha a ser modificada no segundo anel da polianilina i=1 while [ ${i} -le ${nat} ] do a=(` head -${i} ${nome}.dat| tail -1 `) ###selecionar as coordenadas dos átomos if [ ${j} -ge 2 ] then a[7]=` echo "${a[7]} + (${j} - 1)*${nat}"|bc -l ` a[8]=` echo "${a[8]} + (${j} - 1)*${nat}"|bc -l ` a[9]=` echo "${a[9]} + (${j} - 1)*${nat}"|bc -l ` if [ ${i} -eq ${pl} ] then #conectividade da distância em função do anel #conectividade do ângulo em função do anel #conectividade da torsão em função do anel #realizar os seguintes comandos para primeira linha d1=${da}; al1=${aa}; t1=${ta1}; cd1=` echo "7 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` #conectividade da distância ca1=` echo "4 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` #conectividade do ângulo de ligação ct1=` echo "3 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` #conectividade da torsão echo "${a[0]} ${d1} ${a[2]} ${al1} ${a[4]} ${t1} ${a[6]} ${cd1} ${ca1} ${ct1}" >> ${nome1}.dat fi if [ ${i} -eq ${sl} ] then #realizar os seguintes comandos para sergunda linha al2=120.00000; t2=${ta2}; cd2=` echo "12 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` ca2=` echo "7 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` ct2=` echo "4 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` echo "${a[0]} ${a[1]} ${a[2]} ${al2} >> ${nome1}.dat fi #conectividade da distância #conectividade do ângulo de ligação #conectividade da torsão ${a[4]} ${t2} ${a[6]} ${cd2} ${ca2} ${ct2}" 99 if [ ${i} -eq ${tl} ] then #realizar os seguintes comandos para terceira linha t3=180.00000; cd3=` echo "13 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` #conectividade da distância ca3=` echo "12 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` #conectividade do ângulo de ligação ct3=` echo "7 + (${j} - 2)*${nat}"|bc -l ` #conectividade da torsão echo "${a[0]} ${a[1]} ${a[2]} ${a[3]} ${a[4]} ${t3} ${a[6]} ${cd3} ${ct3}" >> ${nome1}.dat ${ca3} fi if [ ${i} -ne ${pl} -a ${i} -ne ${sl} -a ${i} -ne ${tl} ] then echo "${a[0]} ${a[1]} ${a[9]}" >> ${nome1}.dat ${a[2]} ${a[3]} ${a[4]} ${a[5]} ${a[6]} ${a[7]} ${a[8]} ${a[6]} ${a[7]} fi else #realizar os seguintes comandos para as demais linhas a[7]=` echo "${a[7]} + (${j} - 1)*${nat}"|bc -l ` a[8]=` echo "${a[8]} + (${j} - 1)*${nat}"|bc -l ` a[9]=` echo "${a[9]} + (${j} - 1)*${nat}"|bc -l ` ${a[8]} echo "${a[0]} ${a[1]} ${a[9]}" >> ${nome1}.dat ${a[2]} ${a[3]} ${a[4]} ${a[5]} fi i=` expr ${i} + 1 ` done j=` expr ${j} + 1 ` done #Definir as coordenadas dos átomos terminais a1="H"; d1=1.10000; al1=120.00000; t1=180.00000; a2="H"; d2=1.01000; al2=107.00000; t2=120.00000; a3="H"; d3=1.01000; al3=107.00000; t3=120.00000; echo "${a1} ${d1} echo "${a2} ${d2} echo "${a3} ${d3} 0 0 0 ${al1} ${al2} ${al3} 0 0 0 ${t1} ${t2} ${t3} 0 0 0 cd1=1; ca1=2; ct1=3 cd2=29; ca2=26; ct2=25 cd3=40; ca3=37; ct3=36 ${cd1} ${cd2} ${cd3} ${ca1} ${ca2} ${ca3} ${ct1}" >> ${nome1}.dat ${ct2}" >> ${nome1}.dat ${ct3}" >> ${nome1}.dat if [ ${nan} -eq 4 ] then a4="H"; d4=1.01000; al4=107.00000; t4=240.00000; cd4=40; ca4=37; ct4=36 100 echo "${a4} ${d4} 0 ${al4} 0 ${t4} 0 ${cd4} ${ca4} ${ct4}" >> ${nome1}.dat fi if [ ${nan} -eq 8 ] then a2="H"; d2=1.01000; a3="H"; d3=1.01000; a4="H"; d4=1.01000; echo "${a2} ${d2} echo "${a3} ${d3} echo "${a4} ${d4} al2=107.00000; al3=107.00000; al4=107.00000; 0 0 0 ${al2} ${al3} ${al4} 0 0 0 t2=120.00000; t3=120.00000; t4=240.00000; ${t2} ${t3} ${t4} 0 0 0 cd2=73; ca2=70; ct2=69 cd3=84; ca3=81; ct3=80 cd4=84; ca4=81; ct4=80 ${cd2} ${cd3} ${cd4} ${ca2} ${ca3} ${ca4} ${ct2}" >> ${nome1}.dat ${ct3}" >> ${nome1}.dat ${ct4}" >> ${nome1}.dat fi #!/bin/bash #Coletar o Homo-Lumo das estruturas – MOPAC 2012 #Gabriel Dutra, JDSantos, v.02, 28/12/12 10:30 hs #Variaveis externas: nome=$1 #Nome do [arquivo.out] #Calculo da linha inicial dos autovalores [arquivo.out]: li=`grep -n "EIGENVALUE" ${nome}.out|cut -d: -f1 ` li=` expr ${li} + 1 ` #Calculo da linha final dos autovalores [arquivo.out]: lf=`grep -n "NET ATOMIC CHARGES AND DIPOLE CONTRIBUTIONS" ${nome}.out|cut -d: -f1 ` lf=` expr ${lf} - 3 ` #Calculo da diferenca entre as linhas final e inicial dos autovalores [arquivo.out]: dl=` expr ${lf} - ${li} + 1 ` #Calculo do nivel do orbital HOMO: niveish=`grep -n "NO. OF FILLED LEVELS" ${nome}.out |awk '{print $7}'` #Calculo do nivel do orbital LUMO: niveisl=` expr ${niveish} + 1 ` #Redirecionar os autovalores [arquivo.out] para o arquivo temp: head -${lf} ${nome}.out|tail -${dl} > temp echo #Criar e remover o arquivo eigen-[arquivo]: echo > eigen-${nome} ; rm eigen-${nome} #Criar um while para ordenar os autovalores do arquivo temp e redireciona-los para eigen-[arquivo]: i=1; n=1 while [ ${i} -le ${dl} ] 101 eivc1=`head ${n} + 1 ` eivc2=`head ${n} + 1 ` eivc3=`head ${n} + 1 ` eivc4=`head ${n} + 1 ` eivc5=`head ${n} + 1 ` eivc6=`head ${n} + 1 ` eivc7=`head ${n} + 1 ` eivc8=`head ${n} + 1 ` -${i} temp|tail -1|awk '{print $1}' `; echo "${n} ${eivc1}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $2}' `; echo "${n} ${eivc2}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $3}' `; echo "${n} ${eivc3}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $4}' `; echo "${n} ${eivc4}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $5}' `; echo "${n} ${eivc5}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $6}' `; echo "${n} ${eivc6}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $7}' `; echo "${n} ${eivc7}" >> eigen-${nome} ; n=` expr -${i} temp|tail -1|awk '{print $8}' `; echo "${n} ${eivc8}" >> eigen-${nome} ; n=` expr i=` expr ${i} + 1 ` done #Calcular o valor do HOMO: homo=` head -${niveish} eigen-${nome} |tail -1|awk '{print $2}' ` #Calcular o valor do LUMO: lumo=` head -${niveisl} eigen-${nome} |tail -1|awk '{print $2}' ` #Calcular o valor da BAND-GAP: GAP=` echo "scale=5; ${lumo} - ${homo}"|bc -l ` #Redirecionar na tela os valores do HOMO, LUMO e BAND-GAP: echo "HOMO=${homo} LUMO=${lumo} BAND-GAP=${GAP}" #Remover os arquivos eigen-[arquivo] e temp: rm eigen-${nome} rm temp 102 APÊNDICE C – TRABALHOS APRESENTADOS EM CONGRESSOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS 103 104 105 106