UM ENSAIO DE APROXIMAÇÃO ENTRE O IDEAL DE SUSTENTABILIDADE E A SOCIOLOGIA DAS AUSÊNCIAS DE BOAVENTURA SOUSA SANTOS TEMA: O ideal de sustentabilidade, que entrou efetivamente nas relações internacionais entre o final dos anos 80 e começo dos 90 do século passado, tem vários sentidos, mas que convergem para a interdependência entre questões ambientais, sociais e econômicas; a necessidade de conservação e gerenciamento dos recursos físicos; a imprescindibilidade do fortalecimento da consciência e das práticas dos grupos sociais para um desenvolvimento sustentável e o papel das instituições governamentais e não governamentais na implementação de uma agenda de sustentabilidade. Mas, diante da complexidade das ações e inter-relações entre os atores voltados para a realização deste ideal em sociedades em vias de desenvolvimento como a brasileira, cabe se perguntar se é possível pensá-la com base nas tecnologias intelectuais (conceitos, metodologias, hipóteses, premissas, teorias) que dispomos hoje, ou é preciso buscar uma alternativa epistemológica para fazer face ao modo dominante de pensar cientificamente as relações sociais? Nesse sentido, pelo fato de ter escolhido o Brasil como um dos países a serem pesquisados devido à existência de conflitos significativos entre os projetos hegemônicos e contra-hegemônicos à globalização neoliberal, é possível estabelecer uma aproximação teórica entre os postulados de sustentabilidade e a Sociologia das Ausências de Boaventura Sousa Santos, denominada por ele de A reinvenção da emancipação social? OBJETIVOS: Aprofundar a Sociologia das Ausências, apresentando-a através de suas cinco lógicas de produção de não-existência e cinco lógicas alternativas, que Santos (2004) irá chamar de Ecologias; 2) explicar os dois outros procedimentos complementares à Sociologia das Ausências: a Sociologia das Emergências e o Trabalho de Tradução, baseando-se no relato de algumas experiências sociais; 3) contribuir para o processo de construção denovas lógicas de compreensão de Sustentabilidade. METODOLOGIA E INFORMAÇÕES UTILIZADAS: trazer elementos de resposta às questões que nos interessa, a metodologia procurou: 1) estabelecer uma aproximação teórica entre os postulados teóricos de sustentabilidade e a chamada Sociologia das Ausências de Boaventura Sousa Santos; 2) descrever alguns relatos institucionais e sociais vivenciados por um dos autores, aproximando-nos de um diálogo com as lógicas de produção de não-existência, proposta por Santos (2004), tendo em vista tensionarmos a compreensão sobre Sustentabilidade. descritas e analisadas Através das cinco lógicas de produção de não-existência, Boaventura de Sousa Santos nos oferece algumas categorias imprescindíveis para que melhor possamos compreender as experiências de Sustentabilidade – em seus princípios, teorias, inspirações, experiência práticas e tecnologias acumuladas. RESULTADOS: Marcados pela globalização neoliberal, os capitalismos nacionais convergem para a criação de novos mercados mantendo, ao mesmo tempo, uma forma usual e consensual (ainda que genérica) de apostar no “desenvolvimento” como uma idéia correlata de crescimento, de progresso e de evolução humana, o ideário de todos os processos bem sucedidos (Harvey, 2007). Sua ênfase possui uma base técnicoeconômica, mensurável apenas por indicadores de crescimento e receita. Tal idéia, que postula a infinitude dos recursos naturais e a infinitude do desenvolvimento rumo ao futuro, constitui um determinado tipo de ser humano, de relação com a natureza e um modelo de sociedade. Por isso, tal conceito de desenvolvimento, hoje, numa perspectiva crítica, é sempre relativo e problemático, mesmo quando conjugado com o adjetivo de “sustentabilidade”, ideal que tem sido alvo de intenso investimento de pesquisas, ao longo dos últimos vinte anos, em diferentes campos disciplinares tanto das ciências naturais e exatas quanto nas sociais e humanas, resultando em centenas de conceituações de diferentes matizes ideológicas. A sociologia de Santos busca conferir legitimidade e tornar presente as invisibilidades que foram sendo produzidas pelo modelo hegemônico como não-existências, sugerindo monoculturas de pensamento, relações lineares e uma possibilidade de mundo. Mais do que buscar repensar categorias, Santos nos sugere que precisamos mudar a própria racionalidade, sobretudo criando novas categorias que nos ajudem a pensar a vida para além do hegemônico estabelecido. CONSIDERAÇÕES: a pesquisa de Santos propõe categorias para uma nova racionalidade, inaugurando um novo referencial para se pensar as alternativas contrahegemônicas que em muito contribuem para um conceito de Sustentabilidade e para o aprimoramento das políticas públicas que ensaiam tais alternativas. Sua pesquisa ajudanos não apenas a compreender a importância de um projeto desejado como o da Sustentabilidade para o futuro do Planeta e da Humanidade, mas nos adverte que sem uma crítica do modelo de racionalidade ocidental dominante pelo menos durante os últimos duzentos anos, todas as propostas apresentadas pela nova análise social, por mais alternativas que se julguem, tenderão a reproduzir o mesmo efeito de ocultação e descrédito. A construção do diálogo entre Sustentabilidade e Sociologia das Ausências evoca duas grandes questões que nos colocam a caminho na busca da compreensão do que vem a ser um Modo de Vida Sustentável, conceito marcante apresentado no documento A Carta da Terra, como um novo sonho civilizatório: a necessidade de descolonializarmos a nossa lógica desenvolvimentista e o resgate da capacidade de tornar legítimas as diversas experiências ricas que vêm sendo ensaiadas no campo social, tornadas não-existências por um processo contínuo de produção de apagamentos que nos orientam ao desperdício, como bem diz Santos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BURSZTYN, M. (2001), “Políticas Públicas para o Desenvolvimento (Sustentável)”, in BURSZTYN, M. (org), Difícil sustentabilidade. Política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond, 59-76. HARVEY, D. (2007), A brief history of neoliberalism. New York: Oxford University Press. MACHADO, C.J.S (2000), “A questão ambiental brasileira: uma análise sociológica do processo de formação do arcabouço jurídico-institucional”, Revista de Estudos Ambientais, 2(2-3): 5-20. MELLO, M. B. C. (2008), “Diferentes lógicas no ensinar e no aprender: por uma pedagogia das ausências”, in Alfabetização: reflexão sobre saberes docentes e saberes discentes. São Paulo: Cortez Editora, 34-54. SANTOS, B.S. (2004), “Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências”, in SANTOS, B.S. (org.), Conhecimento Prudente para uma Vida Decente. São Paulo: Cortez Editora, 777-821.