9 CAMILA FREDERICO GRESPAN SILVA ACUPUNTURA E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NO TRATAMENTO DE METÁSTASE PULMONAR DE ADENOCARCINOMA MAMÁRIO 10 São Paulo 2009 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE ACUPUNTURA VETERINÁRIA INSTITUTO QUALITTAS CAMILA FREDERICO GRESPAN SILVA 11 ACUPUNTURA E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA NO TRATAMENTO DE METÁSTASE PULMONAR DE ADENOCARCINOMA MAMÁRIO Monografia apresentada para a conclusão do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária Universidade pelo Instituto Castelo Qualittas Branco sob – a orientação do Prof. Ms. Daniel Mendes Netto. São Paulo 2.008 12 Silva, Camila Frederico Grespan Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa no tratamento de metástase pulmonar de adenocarcinoma mamário/ Camila Frederico Grespan Silva. 66 f. Monografia – Universidade Castelo Branco. Instituto Qualittas. São Paulo, 2009. Área de concentração: Acupuntura Veterinária. Orientador: Daniel Mendes Netto. 1. Metástase pulmonar 2. Medicina Tradicional Chinesa 3. Adenocarcinoma mamário 13 RESUMO SILVA, C. F. G. Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa no tratamento de metástase pulmonar de adenocarcinoma mamário, 2009. 66 f. Monografia (Conclusão do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária) – Instituto Qualittas, Universidade Castelo Branco, São Paulo, 2009. Este trabalho visa uma abordagem do câncer, em especial a metástase pulmonar de adenocarcinoma mamário, sobre o ponto de vista da Medicina Tradicional Chinesa, focando principalmente o tratamento dessa patologia para proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Para muitos médicos chineses, o surgimento de tumores deve-se a distúrbios emocionais, em particular a depressão, raiva reprimida, ansiedade, preocupação, medo, dor (relacionada à morte de um ente querido), que resultam na estagnação da circulação de Qi. Se essa estase persistir, pode formar acúmulo de fleuma e formação de massa tumoral. O que realmente ocorre, é uma deficiência do Qi primário do órgão que leva a uma estagnação de Qi e Sangue (Xue) e à proliferação de células cancerígenas. Essa estase produz calor tóxico que atinge órgãos e vísceras. O princípio de tratamento consiste em estimular pontos que elevam a imunidade do paciente bem como controle de dor, náuseas e vômitos. E nunca colocar agulhas próximas aos tumores para não causar a disseminação dos mesmos. Aliado à acupuntura temos a fitoterapia, que mostra-se tão ou mais eficaz do que a própria acupuntura. Homeopatia e dietética também são eficazes em conjunto com todas as terapias mencionadas. Palavras-chave: 1. Metástase pulmonar 2. Medicina Tradicional Chinesa 3. adenocarcinoma 14 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 09 1 CÂNCER DE MAMA NA MEDICINA OCIDENTAL ..................................................... 10 1.1 NEOPLASIAS PULMONARES .............................................................................. 11 1.2 SINAIS CLÍNICOS ................................................................................................. 13 1.3 DIAGNÓSTICO OCIDENTAL................................................................................. 15 1.4 TRATAMENTO OCIDENTAL ................................................................................. 15 1.4.1 CIRURGIA ....................................................................................................... 15 1.4.2 QUIMIOTERAPIA............................................................................................. 15 1.4.3 CAUSAS PROVÁVEIS DE FALHAS DA QUIMIOTERAPIA ............................. 16 1.4.4 USO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS ................................... 16 1.5 PREVENÇÃO ........................................................................................................ 17 2 CÂNCER DE MAMA NA MEDICINA CHINESA .......................................................... 18 2.1 QI ........................................................................................................................... 19 2.2 XUE ....................................................................................................................... 21 2.2.1 RELAÇÃO ENTRE O QI E O SANGUE (XUE) ................................................. 22 2.3 YIN E YANG E SISTEMA DE MERIDIANOS ......................................................... 22 2.4 FLUIDOS CORPÓREOS ....................................................................................... 24 2.5 SISTEMAS INTERNOS E SUBSTÂNCIAS VITAIS ................................................ 24 3 DIAGNÓSTICO NA MEDICINA CHINESA .................................................................. 27 3.1 DIAGNÓSTICO SEGUNDO CINCO ELEMENTOS ................................................ 27 3.2 DIAGNÓSTICO SEGUNDO OITO PRINCÍPIOS (BA GANG)................................. 30 3.3 DIAGNÓSTICO SEGUNDO ZANG-FU .................................................................. 31 4 PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO ................................................................................ 32 15 4.1 ACUPUNTURA ...................................................................................................... 33 4.1.1 PONTOS.......................................................................................................... 34 4.2 DIETA .................................................................................................................... 47 4.3 HOMEOPATIA ....................................................................................................... 48 4.4 FITOTERAPIA ....................................................................................................... 49 4.4.1 PRESCRIÇÃO ................................................................................................. 49 4.4.2 EFEITOS INDESEJÁVEIS DAS ERVAS CHINESAS ....................................... 51 4.4.3 EFEITOS COLATERAIS DAS ERVAS CHINESAS .......................................... 52 4.4.4 REAÇÕES ALÉRGICAS A ERVAS CHINESAS ............................................... 52 4.4.5 TOXICIDADES DAS ERVAS CHINESAS ........................................................ 54 4.4.6 CONTRA-INDICAÇÕES DAS ERVAS CHINESAS .......................................... 54 4.4.7 FINALIDADES DO PROCESSAMENTO DAS ERVAS CHINESAS .................. 55 5 CASO CLÍNICO........................................................................................................... 57 5.1 RELATO DE CASO ............................................................................................... 57 5.2 SELEÇÃO DE PONTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO ................................... 57 5.3 DISCUSSÃO DOS PONTOS ................................................................................. 58 5.4 RESULTADO ......................................................................................................... 59 5.4.1 LAUDO DAS RADIOGRAFIAS DO DIA 30/09/2008 ......................................... 60 5.4.2 LAUDO DAS RADIOGRAFIAS DO DIA 06/10/2008 ......................................... 61 6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 63 7 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 64 16 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01. Neoplasia pulmonar primária. .......................................................... 12 FIGURA 02. Metástase pulmonar de adenocarcinoma mamário .................................... 13 FIGURA 03. Cadela apresentando tumor mamário ......................................................... 14 FIGURA 04. Cadela com tumor mamário ulcerado ......................................................... 14 FIGURA 05. Ciclo Sheng ................................................................................................ 28 FIGURA 06. Ciclo Ko ...................................................................................................... 29 FIGURA 07. Meridiano do Estômago .............................................................................. 34 FIGURA 08. Meridiano do Estômago .............................................................................. 34 FIGURA 09. Meridiano do Pericárdio .............................................................................. 35 FIGURA 10. Meridiano do Baço-Pâncreas...................................................................... 36 FIGURA 11. Meridiano do Intestino Grosso .................................................................... 37 FIGURA 12. Meridiano do Intestino Grosso .................................................................... 37 FIGURA 13. Meridiano do Coração ................................................................................ 38 FIGURA 14. Meridiano da Bexiga ................................................................................... 39 FIGURA 15. Meridiano da Bexiga ................................................................................... 40 FIGURA 16. Meridiano da Bexiga ................................................................................... 40 FIGURA 17. Meridiano do Pulmão .................................................................................. 41 FIGURA 18. Meridiano do Fígado ................................................................................... 42 FIGURA 19. Meridiano do Fígado ................................................................................... 42 FIGURA 20. Meridiano do Rim ....................................................................................... 43 FIGURA 21. Meridiano da Vesícula Biliar ....................................................................... 44 FIGURA 22. Meridiano Vaso Concepção ........................................................................ 45 17 FIGURA 23. Meridiano Vaso Concepção ........................................................................ 45 FIGURA 24. Meridiano do Triplo-Aquecedor................................................................... 46 FIGURA 25. Meridiano do Triplo-Aquecedor................................................................... 46 FIGURA 26. Mel – RX em 30 de setembro 2008 – lateral direita .................................... 59 FIGURA 27. Mel – RX em 30 de setembro 2008 – lateral esquerda ............................... 60 FIGURA 28. Mel – RX em 06 de outubro 2008 – lateral direita ....................................... 61 FIGURA 29. Mel – RX em 06 de outubro 2008 – lateral esquerda .................................. 61 18 LISTA DE ABREVIAÇÕES MTC.......................................................................Medicina Tradicional Chinesa FPE........................................................................Fatores Patogênicos Externos E............................................................................................................Estômago ID...............................................................................................Intestino Delgado IG.................................................................................................Intestino Grosso TA...............................................................................................Triplo Aquecedor P................................................................................................................Pulmão R......................................................................................................................Rim F..................................................................................................................Fígado C...............................................................................................................Coração VC...............................................................................................Vaso Concepção VG..............................................................................................Vaso Governador B..................................................................................................................Bexiga VB...................................................................................................Vesícula Biliar BP..................................................................................................Baco/Pâncreas AINES..............................................................Anti-inflamatórios não esteroidais PGs............................................................................................. Prostaglandinas 19 INTRODUÇÃO O tratamento do câncer de mama envolve várias disciplinas, e as atuais recomendações são baseadas em princípios modernos da biologia e da farmacologia, juntamente com um crescente corpo de evidências baseadas em literatura. Apesar dos avanços em termos de cirurgia, quimioterapia, radioterapia adjuvante e terapia sistêmica, há limitações para os seus benefícios, especialmente na doença avançada. Terapias complementares, incluindo medicina oriental, são comprovadamente menos invasivas e a mais natural abordagem para alcançar saúde ou melhoria da qualidade de vida do paciente. Muitos proprietários de pacientes com câncer de mama buscam abordagens alternativas para evitar a reincidência e para o tratamento da doença metastática. A primeira parte do trabalho aborda o câncer de mama sobre o ponto de vista ocidental, focando diagnóstico, tratamento e prevenção. Já a segunda parte mostra a patologia segundo ensinamentos da Medicina Tradicional Chinesa, focando diagnóstico, tratamento e, principalmente, a melhor qualidade de vida do paciente. Este trabalho tem como objetivo ampliar os conhecimentos do clínico veterinário, mostrando que há outros métodos e terapias aplicáveis. A relevância deste tema foi constatada a partir da ocorrência de muitos casos de câncer de mama em minha rotina clínica. A comoção dos proprietários devido ao tratamento ocidental que, na maioria das vezes, apresenta a sequência: cirurgia, quimioterapia e óbito, despertou o interesse na busca de novas alternativas terapêuticas. O problema de pesquisa identificado aqui é: como a MTC pode auxiliar a prolongar a vida dos pacientes com câncer de mama? Este trabalho, desenvolvido com base em uma vasta pesquisa bibliográfica, visa alternativas para doença metastática, proporcionando um conforto e uma melhor qualidade de vida ao paciente. 20 1 CÂNCER DE MAMA NA MEDICINA OCIDENTAL Os tumores mamários são incomuns em cães machos, mas constituem os tumores mais comuns nas cadelas. Aproximadamente 35 a 50% dos tumores mamários caninos são malignos (OGILVIE e MOORE, 1995). Cerca de 50% dos carcinomas mamários apresentam receptores de estrógenos e progesterona. Os níveis de receptores são muito menores que os níveis encontrados em glândulas normais ou tumores de glândulas mamárias benignos (STONE, 2003). O risco de tumores mamários em cadelas castradas antes de seu primeiro estro é de 0,05%. Este risco aumenta para 8% após o primeiro ciclo estral e para 26% após o segundo estro (OGILVIE e MOORE, 1995). Existem conexões linfáticas entre as cadeias de glândulas esquerda e direita; geralmente as glândulas craniais drenam para os linfonodos axilares; as glândulas caudais, para os linfonodos inguinais, e as glândulas localizadas entre estas drenam variavelmente para ambos. Conexões plexiformes ajudam a esclarecer a ocorrência de metástases linfáticas no sentido contrário ao fluxo da linfa (MORRISON e HAHN, 2003). Nas cadelas, os tumores benignos são classificados geralmente como tumores mistos benignos (fibroadenomas), adenomas ou tumores mesenquimatosos benignos. A maior parte dos tumores mamários malignos é de carcinomas; no entanto, também ocorrem sarcomas (menos de 5%) e carcinossarcomas (tumores mistos malignos). Os sarcomas possuem uma incidência mais alta de metástase que os carcinomas. Alguns dos tumores mamários malignos não recidivam ou se disseminam após cirurgia. Os carcinomas papilares ou tubulares possuem um prognóstico melhor que os carcinomas sólidos ou anaplásicos. Os carcinomas inflamatórios são carcinomas fracamente diferenciados, com infiltrados celulares extensos de mono ou polimorfonucleares (JOHNSTON et al., 1984). 21 Nos cães, o risco de desenvolvimento de tumores de glândula mamária aumenta acentuadamente após aproximadamente 6 anos de idade, e a frequência maior é descrita em raças esportivas (pointers, retrievers, setters ingleses, spaniels), poodles, boston terriers e dachshunds (STONE, 2003). O desenvolvimento desses tumores geralmente ocorre com mais frequência nas mamas caudais. Tumores podem apresentar-se como massas únicas ou múltiplas, podendo ou não estar ulcerados. Sugere comportamento benigno, estando livre e móvel; aderido à pele ou à parede abdominal, sugere malignidade (MORRISON e HAHN, 2003). 1.1 NEOPLASIAS PULMONARES Tipos tumorais primários: neoplasias pulmonares primárias representam aproximadamente 12% e 0,5% de todos os tumores de cães e gatos respectivamente. Os tumores pulmonares primários podem metastatizar nos linfonodos brônquicos, pulmões, cérebro, ossos e pleura, através dos vasos linfáticos, vias aéreas, vasos sanguíneos e alastramento transpleural (CAROTHERS, 2003). Síndromes paraneoplásicas podem se associar com neoplasias pulmonares primárias (CAROTHERS, 2003). Os carcinomas constituem os tumores pulmonares primários mais comuns em cães. Nos casos de adenocarcinomas pulmonares primários e carcinomas epidermóides, 50% e 80%, respectivamente, já se apresentam metastatizados no momento do diagnóstico (CAROTHERS, 2003). 22 Fig.1 - Neoplasia pulmonar primária. Setas apontam para nódulo em pulmão. Fonte: www.cibelefcarvalho.vet.br Tipos tumorais metastáticos: esses tumores são mais comuns que as neoplasias pulmonares primárias. A metástase ocorre por meio de uma disseminação de êmbolos tumorais através dos vasos linfáticos ou sanguíneos. Devido à rede capilar nos pulmões, esses êmbolos tumorais são aprisionados e podem proliferar e formar nódulos (CAROTHERS, 2003). A metástase é responsável pela maioria das falhas terapêuticas na clínica oncológica humana. Na veterinária, muitas falhas se devem ao tratamento inadequado da neoplasia primária (CROW, 1992). 23 Fig.2 - Metástase pulmonar de adenocarcinoma mamário – em destaque nódulos por todo o pulmão. Fonte: www.cibelefcarvalho.vet.br Os tumores metastáticos osteossarcoma, carcinoma em cães tireoideano, e gatos são carcinoma de carcinoma células mamário, transicionais, melanoma, hemangiossarcoma, carcinoma de células escamosas (CAROTHERS, 2003). 1.2 SINAIS CLÍNICOS Aproximadamente 25% dos cães não apresentam nenhuma anormalidade clínica. A tosse (estridente, improdutiva) constitui um dos sinais apresentados mais comuns. A duração é geralmente crônica e ocasionalmente também ocorre hemoptise (CAROTHERS, 2003). Pode haver dispnéia, taquipnéia e cianose, e estas podem se associar com derrame pleural e/ou doença difusa (CAROTHERS, 2003). 24 Uma redução na tolerância a exercícios se relaciona geralmente com comprometimento respiratório. Os sinais menos comuns incluem anorexia, febre, perda de peso, disfagia, vômito e regurgitação (CAROTHERS, 2003). Fig.3 – Cadela apresentando tumor mamário Fonte: FOSSUM, 2001. Fig.4 – Cadela com tumor mamário ulcerado Fonte: ARTOZQUI, 2009 25 1.3 DIAGNÓSTICO OCIDENTAL O diagnóstico baseia-se em avaliação radiográfica (torácica, para avaliar metástase pulmonar; e abdominal para avaliar linfonodos ilíacos), avaliação histológica, ultrasonografia (OGILVIE e MOORE, 1995). O diagnóstico definitivo de tumor de glândula mamária se baseia em um exame histológico em cada massa (STONE, 2003). Consequentemente, deve-se realizar uma excisão cirúrgica para propósitos tanto diagnósticos quanto terapêuticos. Torna-se essencial uma excisão ampla para assegurar a remoção completa das células tumorais (STONE, 2003). 1.4 TRATAMENTO OCIDENTAL 1.4.1 CIRURGIA A cirurgia, ou excisão cirúrgica, é a forma primária de tratamento (5 min). Deve-se realizar grande margem cirúrgica e todos os nódulos devem ser enviados à biópsia (OGILVIE e MOORE, 1995). 1.4.2 QUIMIOTERAPIA A quimioterapia faz parte do tratamento clínico das neoplasias sistêmicas. (FRIMBERGER E MOORE, 2000). Ainda não se descreveu uma quimioterapia bem sucedida contra o carcinoma mamário canino. A ciclofosfamida e a doxorrubina podem induzir uma resposta parcial ou completa a curto prazo em gatos com doença local não resseccionável ou metastática. No entanto, essas drogas causam anorexia severa e mielossupressão 26 leve. Não se conhece o valor dessas drogas como adjuvantes a uma excisão cirúrgica (STONE, 2003). 1.4.3 CAUSAS PROVÁVEIS DE FALHAS DA QUIMIOTERAPIA As falhas de tratamento pela quimioterapia resultam de efeitos colaterais relacionados com quimioterapia excessiva (por exemplo, intoxicação renal, hepática ou miocárdica; e sepse) ou provenientes de crescimento tumoral progressivo devido à resistência à droga intrínseca ou adquirida. A resistência intrínseca resulta de adaptações moleculares ou biológicas dentro das células cancerosas que proporcionam mecanismos para contornar os efeitos da droga. Quanto maior for o tumor, mais provável será a existência de células resistentes. Os tumores clinicamente detectáveis são capazes de apresentar muitas linhagens celulares diferentes (GILSON e PAGE, 2003). 1.4.4 USO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS O mecanismo exato pelo qual alguns anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) possuem atividade antitumoral ainda não está bem esclarecido. No entanto, o fundamento mais coerente do efeito que este grupo de fármacos pode exercer sobre os tumores se baseia na demonstração de que a COX-2 e as PGs resultantes têm maior expressão em certos tecidos pré-malignos, contribuindo para a carcinogênese. Existem vários mecanismos sugeridos que explicam o papel da COX-2 nos processos tumorais. Aparentemente, o mais aceito é a relação entre COX-2 e a angiogênese tumoral. No momento, estão sendo descritos outros mecanismos importantes como a inibição da apoptose celular, incremento da invasão, motilidade e metástase das celulas tumorais, aumento da inflamação crônica, imunossupressão e transformação dos tecidos pré-carcinogênicos em carcinogênicos. Na medicina 27 veterinária estão sendo conduzidos vários estudos nos quais se demonstrou a expressão de COX-2 e/ou PGE2 por diversos tipos de tumores. Devido à diversidade histológica dos tumores mamários, há grande variação na expressão da COX-2 na dependência do tipo de tumor. Estudos realizados indicam que 24% dos adenomas e 56% dos carcinomas mamários expressam COX-2. Assim, os tumores menos diferenciados expressam COX-2 mais intensamente do que os tumores mais diferenciados como os adenocarcinomas. Desta maneira, um estudo realizado recentemente demonstrou a alta expressão de COX-2 nos tumores mamários malignos, representados pelos carcinossarcomas, carcinomas de células escamosas e os carcinomas tubulopapilares (carcinomas de células escamosas e carcinomas de células de transição) (ARTOZQUI, 2009). 1.5 PREVENÇÃO Médicos já sabem há décadas que há uma ligação entre estrógeno e o câncer de mama, porque sabe-se que a remoção dos ovários (órgão que representa a maior fonte de estrógeno no organismo) poderia inibir o crescimento do câncer de mama. Mas muito tem sido aprendido durante a última década, com testes disponíveis para determinar se as células cancerígenas (removido por biópsia ou cirurgia) são altamente estrógeno-dependentes ou não (DHARMANANDA, 1999). Uma ovário-histerectomia possuirá um efeito poupador no desenvolvimento de tumor de glândula mamária em cães se for realizada antes do quarto estro, ou antes de 2,5 anos de idade. Em cães castrados em qualquer idade, o risco de tumor mamário se reduzirá se os cães forem magros com 9-12 meses de idade. Gatos castrados têm 0,6% de risco de desenvolvimento de carcinoma mamário em comparação a gatos intactos (STONE, 2003). O risco de tumor mamário é eliminado quase por completo em cães castrados antes de seu primeiro estro (STONE, 2003). 28 2 CÂNCER DE MAMA NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA A MTC emprega tratamentos para o câncer há mais de dois milênios. O livro Os Ritos da Dinastia Zhou (1100 - 400 a.C.) refere-se a médicos especializados no tratamento de edema e ulcerações ou necrose e ulcerações. Estas práticas ainda são utilizadas na medicina tradicional chinesa, para denotar o estudo e tratamento de tumores tanto benignos quanto malignos (DHARMANANDA, 1997). Na Medicina Tradicional Chinesa, os padrões de tumor quando instalados podem ser classificados como calor tóxico. Porém, para um correto tratamento destes, deve-se explorar bem a raiz do problema, ou seja, o órgão de origem e os fatores predisponentes e desencadeantes destes tumores. A raiz se relaciona com o órgão que deu início ao processo patogênico. Tanto por deficiência congênita ou adquirida deste órgão, como por alterações causadas por fatores patogênicos externos ou emoções (LOBO, E, 2009)1. Talvez ainda mais importante para as nossas preocupações, a experiência dos médicos chineses apontam para contribuições emocionais para o desenvolvimento do câncer. Em particular, a depressão (bem como a raiva reprimida), ansiedade (preocupação, medo, pensar em excesso) e dor (geralmente devido à morte de um ente querido), resultam em estagnação da circulação. Se este distúrbio circulatório persistir, poderá haver um acúmulo local, e eventualmente torna-se uma massa tumoral, um ponto fraco no organismo. Assim, um tumor ou algum outro tipo de excesso de atividade celular poderá ocorrer (DHARMANANDA, 1997). Na verdade, antes da produção de calor tóxico que temos na maioria dos tumores, no fundo o que temos é uma deficiência do Qi primário do órgão, que na maioria dos casos acarreta uma estagnação do Qi e do Sangue (Xue). Isso leva a uma proliferação de células irregularmente e à formação de alterações celulares que geralmente se tornam nódulos e tumores. Com a evolução, esta estagnação produz o calor tóxico que vai se aprofundando até chegar às camadas mais profundas do 1 *Eduardo Lobo, 2009, acupunturista veterinário, comunicação pessoal de experiência própria. 29 organismo. Esta camada é a dos meridianos que estão ligados diretamente aos órgãos e vísceras. Nesta fase então temos as metástases e a síndrome paraneoplásica. As causas destas alterações são classificadas em: Deficiência do Qi do órgão, calor tóxico, efeitos dos fatores patogênicos externos e efeitos das emoções nos órgãos (MACIOCIA, 2007). A Medicina Chinesa considera a função do corpo e da mente como o resultado da interação de determinadas Substâncias Vitais. Essas Substâncias manifestam-se em vários níveis de “substancialidade”, de maneira que algumas delas são muito rarefeitas e outras totalmente imateriais. Todas elas constituem a visão chinesa antiga de corpo-mente. O corpo e a mente não são vistos como um mecanismo, mas como um círculo de energia e Substâncias Vitais interagindo uns com os outros para formar o organismo (MACIOCIA, 2007). 2.1 QI A base de tudo é o Qi: todas as outras Substâncias Vitais são manifestações do Qi em vários graus de materialidade, variando do completamente material, tal como fluidos corpóreos (Jin Ye), para o totalmente imaterial, tal como a Mente/Espírito (Shen). O Qi dos seres humanos é resultado da interação do Qi do céu e da terra, havendo assim interação entre o Qi dos seres humanos e as forças naturais. A medicina chinesa enfatiza o relacionamento entre os seres humanos e seu meio ambiente, e leva isto em consideração para determinar a etiologia, o diagnóstico e o tratamento (MACIOCIA, 2007). Na verdade, dois aspectos do Qi são especialmente relevantes para a medicina: que o Qi é uma energia que se manifesta simultaneamente sobre os níveis físicos e espiritual: e que o Qi é um estado constante de fluxo em estados variáveis de agregação. Quando o Qi se condensa, a energia se transforma e se acumula em forma física (MACIOCIA, 2007). 30 A circulação debilitada pode resultar na condensação excessiva do Qi, o que significa que o Qi se transforma patologicamente em denso, formando tumores ou massas (MACIOCIA, 2007). Pessoas com ansiedade, depressão e dor podem queixar-se de falta de energia e vitalidade. A partir da MTC, esta é a ligação do Qi com a circulação deficiente. No entanto, a estagnação de Qi não é suficiente para produzir câncer. Inchaço de mama é um dos sinais de estagnação de Qi, porém, está longe de se tornar um tumor mamário. Constipação (outro sinal de estagnação de Qi) também está longe de se tornar um tumor intestinal. A partir da estagnação de Qi, pode ocorrer um acúmulo de fluídos e, por vezes, um crescimento de células. Assim, as mamas podem desenvolver nódulos benignos e os intestinos podem desenvolver pólipos ou locais de inflamação (DHARMANANDA, 1997) O Qi possui funções básicas como transformação - o Qi do Baço (Pi) transforma os alimentos em Qi dos alimentos, o Qi do Rim (Shen) tranforma os fluidos, o Qi da Bexiga (Pangguang) transforma a urina, o Qi do Coração (Xin) transforma o Qi dos alimentos em Sangue (Xue); transporte – o Qi do Baço (Pi) transporta o Qi dos alimentos, o Qi do Pulmão (Fei) transporta os fluidos para a pele, o Qi do Rim (Shen) transporta o Qi em ascendência, o Qi do Fígado (Gan) transporta o Qi em todas as direções, o Qi do Pulmão (Fei) transporta o Qi em descendência; manutenção – o Qi do Baço (Pi) mantém o Sangue (Xue) nos vasos sanguíneos e fluídos, o Qi do Rim (Shen) e o Qi da Bexiga (Pangguang) mantém a urina, o Qi do Pulmão (Fei) mantém a sudorese; ascendência – o Qi do Baço (Pi) ascende para os sistemas, o Qi do Rim (Shen) ascende; proteção – o Qi do Pulmão (Fei) protege o organismo dos fatores patogênicos exteriores e aquecimento – esta é a função do Qi do Yang. Tanto o Yang do Baço (Pi) como o Yang do Rim (Shen), especialmente este último, apresentam a função de aquecer o organismo (MACIOCIA, 2007). As patologias do Qi são: Qi deficiente - ocorrendo especialmente com o Qi do Baço (Pi), Pulmão (Fei) ou Rim (Shen), Qi submerso – Qi submerge provocando prolapso dos órgãos. Isto acontece na maior parte com o Qi do Baço (Pi), Qi estagnante – o Qi pode falhar ao se movimentar e estagnar. Isto se aplica na maior parte das vezes ao Qi do Fígado (Gan), Qi rebelde – o Qi pode fluir na direção errada, assim 31 chamado de rebelião do Qi. Por exemplo, o Qi do Estômago (Wei) falha ao descender, e flui em ascendência provocando náusea e vômito (MACIOCIA, 2007). As manifestações clínicas de estagnação de Qi são sensação de distensão que se move de um lugar para outro, tumores abdominais que aparecem e desaparecem, depressão mental, irritabilidade, sensação de tristeza, mudança de humor, bocejos frequentes, pulso em corda ou apertado e língua levemente púrpura. Os sintomas emocionais também são muito característicos e frequentes na estagnação de Qi, particularmente do Qi do Fígado (Gan) (MACIOCIA, 2007). 2.2 XUE O Sangue (Xue) na Medicina Chinesa apresenta um significado diferente da Medicina Ocidental. Na Medicina Chinesa, o Sangue (Xue) é em si mesmo uma forma de Qi muito denso e material, Qi portanto. Além disso, Sangue (Xue) é inseparável do Qi em si mesmo, Qi proporciona vida ao Sangue (Xue): sem o Qi, o Sangue (Xue) seria um fluido inerte (MACIOCIA, 2007). O Sangue (Xue) deriva, na maior parte, do Qi dos alimentos produzidos pelo Baço (Pi). O Baço (Pi) envia o Qi dos alimentos em ascendência para o Pulmão (Fei), e através da ação impulsora do Qi do Pulmão (Fei), este é enviado para o Coração (Xin), onde é transformado em Sangue (Xue) (MACIOCIA, 2007). A principal função do Sangue (Xue) consiste em nutrir o organismo, além de complementar a ação nutriente do Qi. O Sangue (Xue) é uma forma densa do Qi e flui para todo o organismo. Além de proporcionar a nutrição, o Sangue (Xue) também apresenta uma função hidratante, que o Qi não possui. O Sangue (Xue) não permite que os tecidos corpóreos sequem (MACIOCIA, 2007). Tumores abdominais fixos são manifestações características de estase de Sangue (Xue) (MACIOCIA, 2007). 32 As manifestações clínicas da estase de Sangue (Xue) são: aspecto escuro, lábios roxos, dor fixa e persistente, em pontadas, tumores abdominais fixos, unhas arroxeadas, hemorragia com sangue e coágulos escuros, língua púrpura e pulso em corda, firme ou agitado (MACIOCIA, 2007). 2.2.1 RELAÇÃO ENTRE O QI E O SANGUE (XUE) Na MTC, o Qi e o Sangue (Xue) são os dois elementos clássicos básicos de toda a atividade fisiológica. Qi denota função e auxilia na produção do Sangue (Xue), O Sangue (Xue) nutre os órgãos que produzem o Qi. Portanto eles complementam um ao outro, portanto são dependentes um do outro: são diferentes entre si, embora inseparáveis. Há um ditado chinês antigo que diz: ”Qi é o comandante do Sangue. Aonde o Qi vai, o Sangue segue atrás. O Sangue é a mãe do QI. Onde o Qi está, o Sangue já está lá” (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). Os meridianos formam a base da acupuntura, pois representam as vias por onde o Qi e o Sangue (Xue) circulam no corpo. Não são visíveis fisicamente e o sistema de meridianos unifica todas as partes do organismo, conectanto os órgãos internos com o corpo externo e mantendo a harmonia e o equilíbrio (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). 2.3 YIN E YANG E SISTEMA DE MERIDIANOS Os órgãos do corpo são divididos em seis órgãos Yin e seis órgãos Yang, coletivamente referidos como órgãos Zang-Fu. Na MTC, os órgãos são sempre discutidos tendo como referência suas funções, bem como suas estruturas específicas. Os órgãos Yang são aqueles que contêm musculatura lisa e, portanto estão sujeitos às condições espásticas, como cólica. Trabalham para absorver nutrientes e eliminar produtos residuais. Os órgãos Yin processam as substâncias nutritivas absorvidas e armazenam os produtos metabólicos; assim, a saúde do 33 indivíduo depende intensamente da função desses órgãos (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). A teoria do Yin e Yang é derivada de observações por meio dos tempos da natureza e descreve o modo pelo qual os fenômenos naturalmente se agrupam em pares opostos. Todos os fenômenos do universo podem ser classificados em uma das duas categorias, Yin ou Yang. O balanço ou equilíbrio é mantido pelo antagonismo mútuo, bem como pela dependência mútua, das forças opostas. O Yin existe em virtude do Yang e o Yang existe em virtude do Yin (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). Em medicina, o conceito de interdependência de Yin e Yang é largamente usado em fisiologia, patologia e tratamento. O Sangue (Xue) e Qi, dois elementos fundamentais do corpo humano, são um exemplo: em relação um ao outro, Sangue (Xue) é Yin e Qi é Yang. Yin está relacionado aos líquidos do corpo, que incluem toda a água e o sangue. Yang está relacionado ao metabolismo do corpo (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). O sistema de meridianos é composto de doze meridianos regulares, cada um correspondendo a um dos doze órgãos Zang-Fu. Além destes, existem oito meridianos extraordinários (ímpares), com trajetos diferentes daqueles dos doze meridianos regulares, que não fazem conexão direta com os órgãos Zang-Fu. Dentre os oito meridianos extraordinários, apenas dois são considerados importantes, pois apenas eles possuem pontos que não se situam nos outros meridianos. Esses dois canais, o Du (Vaso Governador) e o Ren (Vaso da Concepção), juntamente com os doze meridianos regulares, formam os 14 meridianos principais usados na acupuntura contemporânea. A teoria dos meridianos admite o uso desses canais tanto para fins diagnósticos como terapêuticos (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). 34 2.4 FLUÍDOS CORPÓREOS As manifestações clínicas de deficiência dos fluídos corpóreos são pele, boca, nariz, tosse, língua e lábios secos. Os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) são parte do Yin e sua deficiência sempre causa uma condição de secura. Não é a mesma coisa que a deficiência do Yin, uma vez que esta pode precedê-la. Ela pode, todavia, ser considerada uma forma suave de deficiência do Yin (MACIOCIA, 2007). A deficiência dos Fluídos Corpóreos (Jin Ye) pode também, por outro lado, derivar da deficiência do Yin: se Yin for deficiente por um período longo, os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) também se tornarão deficientes. Pode, também, ser causada pela perda prolongada e excessiva dos fluídos, tal como ocorre na sudorese (durante uma patologia febril), vômitos e diarréia. Finalmente, a deficiência severa e crônica do Sangue (Xue) pode causar secura e deficiência dos Fluídos Corpóreos (Jin Ye) (MACIOCIA, 2007). A Fleuma (Tanyin) é ao mesmo tempo uma condição patológica e um fator etiológico. A Fleuma (Tanyin) retida por um período longo torna-se a própria causa da patologia. A principal causa para a formação de Fleuma (Tanyin) é a deficiência do Baço (Pi). Se o Baço (Pi) falhar ao transportar e transformar os Fluídos Corpóreos (Jin Ye), estes se acumularão e se transformarão em Fleuma (Tanyin). O Pulmão (Fei) e o Rim (Shen) também estão envolvidos na formação da Fleuma (Tanyin). Se o Pulmão (Fei) falhar ao dispersar e descender os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) e se o Rim (Shen) fracassar ao transformá-los e excretá-los, estes poderão se acumular e se transformar em Fleuma (Tanyin). Todavia, o Baço (Pi) é sempre o fator primário na formação de Fleuma (Tanyin) (MACIOCIA, 2007). 2.5 SISTEMAS INTERNOS E SUBSTÂNCIAS VITAIS Uma das principais funções dos sistemas internos consiste em assegurar a produção, manutenção, abastecimento, transformação e movimento das Substâncias Vitais. Cada uma dessas Substâncias Vitais, Qi, Sangue (Xue), 35 Essência (Jing) e Fluidos Corpóreos (Jin Ye) está relacionada com um ou mais desses sistemas. Assim: - Coração (Xin) governa Sangue (Xue) – O estado do Qi do Coração (Xin) é refletido no estado dos Vasos Sanguíneos (Xue Mai). Os Vasos Sanguíneos (Xue Mai) dependem do Qi do Coração (Xin) e do Sangue (Xue). Se o Qi do Coração (Xin) for forte, os Vasos Sanguíneos (Xue Mai) apresentarão um bom estado e o pulso será cheio e regular. Se o Qi do Coração (Xin) é débil, o pulso pode ser irregular e fraco. - Fígado (Gan) armazena Sangue (Xue) – O Fígado (Gan) é um dos sistemas mais importantes para o armazenamento de Sangue (Xue) e ao fazê-lo regula o volume do Sangue (Xue) no organismo inteiro a qualquer tempo. A função do Fígado (Gan) de armazenar e regular o volume do Sangue (Xue) influencia indiretamente nossa resistência a Fatores Patogênicos Externos (FPE). Se essa função do Fígado (Gan) for normal, a pele e os músculos serão bem nutridos pelo Sangue (Xue) e capazes de resistir aos ataques dos FPE. Se a função for obstruída, a pele e os músculos não serão irrigados e nutridos pelo Sangue (Xue) e o organismo ficará mais vulnerável aos ataques dos FPE. Há outros fatores mais importantes envolvidos em determinar a resistência aos FPE, notavelmente a força do Qi defensivo (Wei Qi) e do Qi do Pulmão (Fei). Todavia, é necessário não subestimar a importância da função do Fígado (Gan) quanto a esse respeito. - Pulmão (Fei) governa o Qi e influencia os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) – Pulmão (Fei) governa o Qi, e o Qi é essencial para auxiliar o Coração (Xin) na circulação do Sangue (Xue). Por essa razão, embora o Coração (Xin) controle os Vasos Sanguíneos (Xue Mai), o Pulmão (Fei) também tem um papel importante na manutenção da saúde dos Vasos Sanguíneos (Xue Mai). Neste sentido, seu alcance é um pouco mais amplo do que o do Coração (Xin), uma vez que o Pulmão (Fei) não somente controla a circulação nos Vasos Sanguíneos (Xue Mai) em si mesmos, mas também em todos os meridianos. O Qi nutritivo (Ying Qi) está intimamente relacionado ao Sangue (Xue) e os dois fluem juntos nos Vasos 36 Sanguíneos (Xue Mai) e nos meridianos. Uma vez que o Pulmão (Fei) governa o Qi, controla a circulação do Qi tanto nos Vasos Sanguíneos (Xue Mai) como nos meridianos; se o Qi do Pulmão (Fei) é forte, a circulação do Qi e do Sangue (Xue) será boa, e os membros estarão aquecidos. Se o Qi do Pulmão (Fei) é fraco, o Qi não será capaz de empurrar o Sangue (Xue), e os membros, particularmente as mãos, ficarão frios. - Baço (Pi) governa o Qi dos alimentos, mantém Sangue (Xue) dentro dos vasos e influencia os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) – O Baço (Pi) é o sistema central na produção do Qi, pois a partir dos líquidos e alimentos ingeridos, extrai o Qi dos alimentos (Gu Qi), que é a base para a formação do Qi e de Sangue (Xue). Na verdade, o Qi dos alimentos produzido pelo Baço (Pi) combina-se com o ar no Pulmão (Fei) para formar o Qi torácico (Zhon Qi), que é por si só a base para formar o Qi verdadeiro (Zhen Qi). O Qi dos alimentos do Baço (Pi) também é a base para a formação do Sangue (Xue), a qual ocorre por ação do Coração (Xin). Pelo fato do Qi dos alimentos extraído pelo Baço (Pi) ser um material básico para a produção do Qi e do Sangue (Xue), o Baço (Pi), junto com o Estômago (Wei), é frequentemente denominado de raiz do Qi pós-celestial. - Rim (Shen) armazena a Essência (Jing) e influencia os Fluídos Corpóreos (Jin Ye) – O Baço (Pi) desempenha um papel muito importante na transformação e transporte dos Fluídos Corpóreos (Jin Ye). O Yang do Rim (Shen) proporciona calor necessário ao Baço (Pi) para que este possa cumprir sua função de transformar e transportar os fluidos (MACIOCIA, 2007). 37 3 DIAGNÓSTICO NA MEDICINA CHINESA O diagnóstico chinês está intimamente relacionado com a identificação do(s) padrão(ões) de desarmonia (ou síndromes), uma vez que fornece as ferramentas do diagnóstico necessárias para identificar esses padrões. O diagnóstico chinês está baseado no princípio fundamental de que os sinais e sintomas refletem as condições dos sistemas internos (MACIOCIA, 2007). O conceito de sinais e sintomas da Medicina Chinesa é mais amplo que na Medicina Ocidental; enquanto na Medicina Ocidental levam-se em conta, na maior parte das vezes, os sinais e sintomas, como manifestações subjetivas ou objetivas da doença, a Medicina Chinesa considera muitas manifestações diferentes, muitas das quais não estão relacionadas a um processo patológico real (MACIOCIA, 2007). Ela emprega não somente “sinais e sintomas”, mas também muitas outras manifestações para formar um quadro de desequilíbrio presente em uma determinada pessoa. Muitos dos denominados sintomas e sinais da Medicina Chinesa não seriam considerados como tais na medicina ocidental (MACIOCIA, 2007). Dentro do amplo ambiente da MTC, existem diferentes formas de se realizar diagnóstico e tratamento. Os três métodos mais comuns são: a teoria dos Cinco Elementos (Wu Xing), Oito Princípios (Ba Gang) e Síndromes dos Zang-Fu (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). 3.1 DIAGNÓSTICO SEGUNDO CINCO ELEMENTOS A teoria dos Cinco Elementos (Wu Xing) é baseada na idéia de que tudo no universo é o produto do movimento e da mudança dos cinco elementos/movimentos básicos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Na MTC, essa teoria teve uma grande 38 influência sobre diagnóstico, tratamento, patologia e fisiologia. Na filosofia chinesa, a interação dos Cinco Elementos (Wu Xing) explica a natureza de todos os fenômenos (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). O modelo dos Cinco Elementos (Wu Xing) proporciona um padrão clínico útil e importante dos relacionamentos patológicos entre os sistemas internos. No relacionamento dos Cinco Elementos, duas das sequências possíveis aplicam-se somente em casos patológicos: são as sequências do excesso de trabalho e da lesão. A sequência da geração também pode originar condições patológicas quando estiver em desequilíbrio (MACIOCIA, 1996). Ou seja, existem dois “ciclos” distintos: Sheng e Ko (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). O ciclo Sheng é de criação ou produção. Uma certa fase cria a outra à sua direita, num sentido horário. Essa próxima fase, por sua vez, produz a próxima e assim por diante ao redor do círculo. Então, Fogo produz Terra, Terra produz Metal, Metal produz Água, Água produz Madeira e Madeira produz Fogo. Mais especificamente: quando o Fogo é queimado, produz cinzas que, então, penetram na Terra. Da Terra, recebemos minério que, por sua vez, se torna Metal. O Metal, em determinadas temperaturas elevadas, funde-se ou se liquefaz, originando o vapor, que produz Água. A Madeira é produzida a partir dessa Água, já que a vegetação necessita de Água ou umidade para crescer. Quando queimada, a Madeira produz Fogo, completando assim o ciclo criativo ou ciclo Sheng. É comum usar os termos Mãe e Filho (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). Fig.5 – Ciclo Sheng Fonte: Schoen,2006. 39 O ciclo Ko é de controle ou destruição. Tudo que é criado na natureza pode ser destruído. Esse é o modo de se manter as coisas em equilíbrio, de forma que nada possa se tornar muito poderoso e causar danos. A Madeira restringe a Terra, a Terra restringe a Água, a Água restringe o Fogo, o Fogo restringe o Metal e o Metal restringe a Madeira. Por exemplo, a Madeira destrói a Terra no fato de suas raízes penetrarem na Terra e de suas folhas obscurecerem ou cobrirem o solo. A Terra destrói a Água, represando o fluxo de Água ou a absorvendo no solo. A Água destrói o Fogo, fato que se explica sozinho. O Fogo destrói o Metal, derretendo-o, o Metal destrói a Madeira, cortando-a (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). Fig.6 – Ciclo Ko Fonte: Schoen,2006. A Essência (Jing) dos relacionamentos dos cinco elementos está no equilíbrio: as sequências da geração e do controle mantêm um equilíbrio dinâmico entre os elementos. Quando este equilíbrio for afetado por um período prolongado de tempo, patologias podem ocorrer (MACIOCIA, 2007). Cada meridiano apresenta um ponto de tonificação e sedação correspondente aos seus elementos mãe e filho respectivamente (MACIOCIA, 2007). Há uma correspondência entre os cinco elementos e os Fatores Patogênicos; Madeira corresponde ao vento, Fogo ao calor ou ao fogo, Terra à umidade, Metal á secura e Água ao frio, portanto, os pontos dos cinco elementos podem ser utilizados para expelir os fatores patogênicos relevantes (externos ou internos) A única 40 excessão consiste no ponto do Metal que não é utilizado para eliminar a secura (MACIOCIA, 2007). 3.2 DIAGNÓSTICO SEGUNDO OITO PRINCÍPIOS (BA GANG) Sem o entendimento dos Oito Princípios, a maior parte da MTC é incompreensível: a Acupuntura e a Fitoterapia. Os Oito Princípios são expressos como opostos: Yin e Yang; interno e externo; frio e calor; deficiência e excesso. Com base em uma consideração primária da doença Yin ou Yang, esses princípios permitem uma identificação adicional quanto à localização, à qualidade e à quantidade do fator patogênico (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). As características de cada subdivisão se tornam úteis quando se usa esse aspecto na MTC no diagnóstico. Yin e Yang são termos muito genéricos e normalmente incorporam as outras seis condições, uma vez que exterior, calor e excesso são Yang, e interior, frio e deficiência são Yin. Interior e exterior referem-se à profundidade e à localização da doença, sendo úteis para identificar sua etiologia exógena, bem como o curso de sua evolução (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). Os patógenos raramente invadem o interior sem passar primeiro pelo exterior. Calor e frio designam qualidade ou natureza da doença e atividade ou reação do corpo, fornecendo pistas para o tratamento. Finalmente, excesso e deficiência indicam a força relativa do patógeno contra o Qi antipatogênico (Wei Qi). Assim, deve-se considerar se o Wei Qi está forte ou comprometido e também avaliar a própria força do fator antipatogênico e a presença de hipo ou hiperfunção dos órgãos Zang-fu envolvidos. Essa diferenciação entre excesso e deficiência determina se o tratamento deve estimular ou sedar, sendo esta uma das considerações mais importantes P.A.T,2006). na classificação da doença (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, 41 Os Oito Princípios quase nunca se expressam sozinhos; raramente se fala em uma simples condição Yang ou de Frio. O mais comum é considerar esses princípios juntos, a fim de formar um quadro específico da condição presente (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). 3.3 DIAGNÓSTICO SEGUNDO ZANG-FU A base da teoria dos Zang-Fu é a compreensão das funções normais de cada um dos 12 órgãos internos primários dentro do contexto da MTC e o conhecimento dos padrões que podem resultar quando essas funções são adversamente afetadas. Cada órgão Zang (Yin) é acoplado a um órgão Fu (Yang), numa relação complementar e mutuamente cooperativa. Os pares formados são: Pulmão com Intestino Grosso, Coração com Intestino Delgado, Fígado com Vesícula Biliar, Baço com Estômago, Rim com Bexiga, Pericárdio com Triplo Aquecedor (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). Do ponto de vista diagnóstico e terapêutico, podem-se classificar os padrões de doenças pelo sistema de órgão Zang-Fu afetado. Os problemas respiratórios podem ser atribuídos ao Pulmão; as anormalidades digestivas ou falta de tônus muscular ao Baço-Estômago; os distúrbios circulatórios e muitos distúrbios emocionais ao Coração; icterícia, distúrbios oculares e problemas emocionais relacionados com a raiva, ao Fígado e Vesícula Biliar; infertilidade, distúrbios do desenvolvimento dos ossos e de outros tecidos e fraquezas urinária e renal, ao Rim (LIMEHOUSE, J.B; LIMEHOUSE, P.A.T,2006). 42 4 PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO Após elaborar um diagnóstico e identificar um padrão, o próximo passo consiste em determinar o princípio de tratamento a ser adotado (MACIOCIA, 2007). O médico praticante da Medicina Chinesa deve preparar um plano de ação coerente e racional sobre o qual deverá ser tratado primeiro o que é primário e secundário na condição do paciente, qual a importância relativa da condição aguda ou crônica, e qual método de tratamento deverá ser utilizado (MACIOCIA, 2007). Através dos séculos, a teoria médica chinesa tem respondido estas questões e fornecido um sistema de princípios coerente de tratamento. Na prática, esses princípios fornecem um quadro lógico de acordo com o qual o médico pode avaliar os objetivos do tratamento do paciente (MACIOCIA, 2007). Um princípio desse tratamento deve ser estabelecido antes do início do mesmo. Isso é obtido através de uma análise rigorosa das manifestações clínicas e de uma síntese da condição do paciente e das necessidades terapêuticas naquele determinado momento. Os princípios de tratamento seguem logicamente o estabelecimento da desarmonia de um padrão relevante (MACIOCIA, 2007). O tratamento de neoplasias, em especial a de adenocarcinoma mamário, é sempre um desafio multidisciplinar e deve contar com o uso de todos os recursos terapêuticos disponíveis. Combina-se a acupuntura / hemoterapia com fitoterapia, homeopatia, dietética e a terapia tradicional com quimioterapia, quando cientificamente eficiente, e o uso de fármacos (LOBO, E, 2009)2. Acupuntura é fortemente recomendada como uma terapia complementar em casos de controle da dor quando ela é mal controlada, quando os efeitos secundários de outros tipos de terapia são clinicamente significativos, ou quando a redução da dor torna-se um objetivo. Acupuntura também é recomendada como uma terapia 2 *Eduardo Lobo, 2009, acupunturista veterinário, comunicação pessoal de experiência própria. 43 complementar no controle de náuseas e vômitos, associada com quimioterapia ou quando os efeitos secundários de outras modalidades são clinicamente significativos. 4.1 ACUPUNTURA Feitos os diagnósticos baseados na medicina ocidental e na MTC, o acupunturista deve selecionar os pontos de acupuntura apropriados para tratar o paciente. Alguns pontos são poderosos o suficiente para serem usados isoladamente; certos pontos são até mais poderosos quando combinados com outros (GLINSK, 2006). É mais comum escolher vários pontos durante o tratamento, para obter o efeito desejado. O número médio de pontos selecionados é de 10 a 15, de forma que são usadas no máximo 20 agulhas para cada tratamento com acupuntura (GLINSK, 2006). O uso da acupuntura para ativação dos mecanismos de defesa do corpo é um importante objetivo terapêutico, sobretudo em pacientes que têm o sistema imunológico deprimido em decorrência de patologias e suas complicações (STILL,J.2006). A acupuntura pode ser útil para melhorar a saúde geral durante o último estágio de recuperação de doenças graves e debilitantes. A estimulação de pontos, tais como Estômago (E) 36, Pericárdio (PC) 6, Baço-Pâncreas (BP) 6 e Intestino Grosso (IG) 4 é benéfico para elevar a imunidade do paciente (STILL,J.2006). Deve-se tomar cuidado para não inserir agulhas nas proximidades do tumor para não causar dispersão deste (SAMUELS, 2002). 44 4.1.1 Pontos - Estômago (E) 36 – Eleva a imunidade, Tonifica o Qi do Estômago (Wei) e do Baço (Pi). - Estômago (E) 40 – Remove estagnação, dores e inchaços, paralisias, dores do peito, tosse. Fig.7 - Meridiano do Estômago (XIE; PREAST, 2007) Fig.8 - Meridiano do Estômago (XIE; PREAST, 2007) 45 - Pericárdio (PC) 5 - Resolve a Fleuma e elimina Calor. - Pericárdio (PC) 6 – Eleva a imunidade e controla náuseas e vômitos decorrentes da quimioterapia; regulariza o Qi do Coração (Xin) e do Sangue (Xue). - Pericárdio (PC) 8 – Bom para vômito e febre. Ponto de tonificação do Elemento Terra. Fig.9 - Meridiano do Pericárdio (XIE; PREAST, 2007) 46 - Baço-Pâncreas (BP) 3 – É o ponto fonte do Baço (Pi) e tonifica o Qi do mesmo. - Baço-Pâncreas (BP) 6 – Tonifica o Qi do Baço (Pi) e eleva a imunidade. - Baço-Pâncreas (BP) 10 – Regulariza o Sangue (Xue). Fig.10 - Meridiano do Baço-Pâncreas (XIE; PREAST, 2007) 47 - Intestino Grosso (IG) 4 – Eleva a imunidade. - Intestino Grosso (IG) 11 – Ponto imunoestimulante. Fig.11 - Meridiano do Intestino Grosso (XIE; PREAST, 2007) Fig.12 - Meridiano do Intestino Grosso (XIE; PREAST, 2007) 48 - Coração (C) 5 - Tonifica o Qi do Coração (Xin). - Coração (C) 8 e 9 – Eliminam o fogo do Coração (Xin) e restauram a consciência. Fig.13 - Meridiano do Coração (XIE; PREAST, 2007) 49 - Bexiga (B) 14 – Regulariza o Sangue (Xue) do Coração (Xin). - Bexiga (B) 15 - Tosse, contra enjôos. Elimina o Calor. - Bexiga (B) 20 – Remove estagnação, nutre o Sangue (Xue). Resolve a Umidade. - Bexiga (B) 21 – Tonifica o Qi do Estômago (Wei). Resolve a Umidade - Bexiga (B) 23 - Usado para tonificar o Rim e o Yin geral do organismo. Nutre o Sangue (Xue), resolve a Umidade. - Bexiga (B) 40 – Ponto imunoestimulante. Elimina o Calor, resolve a Umidade, remove obstruções do meridiano, elimina estase de Sangue (Xue). Fig.14 - Meridiano da Bexiga (XIE; PREAST, 2007) 50 Fig.15 - Meridiano da Bexiga (XIE; PREAST, 2007) Fig.16 - Meridiano da Bexiga (XIE; PREAST, 2007) 51 - Pulmão (P) 1,2,3,5,6,7,8,9 (fonte),10 – Para tosse e problemas do pulmão. Fig.17 - Meridiano do Pulmão (XIE; PREAST, 2007) 52 - Fígado (F) 3 – Pacifica a mente e domina o Fogo, regulariza o Qi do Fígado (Gan). - Fígado (F) 13 – Remove estagnação, regulariza o Qi do Fígado (Gan). Fig.18 - Meridiano do Fígado (XIE; PREAST, 2007) Fig.19 - Meridiano do Fígado (XIE; PREAST, 2007) 53 - Rim (R) 6 – Específico para tonificar o Yin do Rim (Shen). Fig.20 - Meridiano do Rim (XIE; PREAST, 2007) 54 - Vesícula Biliar (VB) 34 – Regulariza o Qi do Fígado (Gan), resolve a Umidade e Calor. - Vesícula Biliar (VB) 39 - Fortalece o Qi dos ossos, sangue e encéfalo. - Vesícula Biliar (VB) 41 – Abre o vaso da cintura e pode ser usado em analgesia junto com TA5. Resolve a Umidade e Calor. Fig.21 - Meridiano da Vesícula Biliar (XIE; PREAST, 2007) 55 - Vaso Concepção (VC) 6 – Tonifica Qi. - Vaso Concepção (VC) 17 – Ponto de influência sobre e Qi. - Vaso Concepção (VC) 22 – Tonifica Qi. Bom para tosse e vômito. Fig.22 - Meridiano Vaso-concepção (XIE; PREAST, 2007) Fig.23 - Meridiano Vaso-concepção (XIE; PREAST, 2007) 56 - Triplo Aquecedor (TA) 10 – Resolve a umidade e a fleuma, dissipa tumores, elimina calor, dissipa estagnação, regulariza Qi Nutritivo e Defensivo. - Triplo Aquecedor (TA) 17 – Remove estagnação. Fig.24 - Meridiano Triplo Aquecedor (XIE; PREAST, 2007) Fig.25 - Meridiano Triplo Aquecedor (XIE; PREAST, 2007) 57 4.2 DIETA Epidemiologistas têm observado uma menor incidência de câncer de mama no Japão, em comparação com os Estados Unidos, uma incidência que normalmente muda quando mulheres japonesas deslocam-se para os Estados Unidos. Essa diferença deve-se a uma diferença na ingestão de gordura saturada. No entanto, uma recente avaliação em larga escala de dieta e câncer de mama indica que o papel da gordura alimentar foi provavelmente superestimado e pode ser menor (acredita-se que a elevada gordura alimentar tenha um impacto sobre as doenças cardiovasculares, câncer, obesidade e outros problemas de saúde) (DHARMANANDA, 1999). Acredita-se que a menor incidência de câncer de mama no Japão deva-se à elevada utilização de produtos de soja na cozinha japonesa. As taxas de mortalidade do câncer de mama são 2-8 vezes mais elevadas nos países ocidentais (Estados Unidos e Europa Ocidental) do que nos países asiáticos (China, Japão, Coréia). Os países com relativa alta ingestão de soja também têm baixado a incidência de câncer da próstata e cólon. Câncer de próstata, como o câncer de mama, é frequentemente hormônio-dependente; câncer é fortemente influenciado pelos componentes alimentares (DHARMANANDA, 1999). Alguns estudos indicam que a vitamina E reduz o desenvolvimento de câncer no pulmão e próstata (HEINONON et al). Os antioxidantes como a vitamina C e E também devem ser suplementados, apesar de muitas vezes a própria correção e suplementação alimentar supra a necessidade destas vitaminas. Os Ômegas 3, 6 e 9 também devem ser usados, podendo inclusive, se possível, realizar este suplemento com fármacos ou naturalmente (ex. linhaça, que contém altas doses deste ácido graxo) (HEINONON et al). Selênio está associado com redução da incidência de câncer de próstata (YOSHIZAWA et al). 58 Dieta com altos níveis de licopene também está associada à baixa incidência de câncer de próstata. Rim e fígado de boi e porco, bem como as nozes e algas tonificam o Rim. O uso de probióticos, mas mais comumente de frutas como a banana, pêssego e mamão que protegem a mucosa intestinal impedindo a ação e absorção de toxinas, são de extrema importância, pois devemos lembrar que o câncer é um problema além de genético extremamente ligado à resposta imunológica, e o intestino, como o maior órgão linfóide do organismo, deve ser tratado com bastante atenção nestes casos. 4.3 HOMEOPATIA Viscum Album – usado no tratamento do câncer, é constituído pelo extrato da planta total, o que implica em uma composição de grande complexidade química. Os principais componentes, de importância terapêutica já identificados, são: lecitinas, viscotoxinas e polissacarídeos. Essas substâncias, agindo de modo combinado, têm efeito antitumoral e imunoestimulante (GARDIM, 2007). Lecitinas são inativadas pelo trato digestivo, o que implica na obrigatoriedade do uso do Viscum Album por via parenteral. (GARDIM, 2007). As apresentações do Viscum Album são: Viscum Album M (de Mali, macieira), Viscum Album P (de Pini, pinheiro) e Viscum Album Qu (de quercus, carvalho). Alguns autores consideram o tipo M mais adequado para tumores ginecológicos e de mama, sendo o tipo M e Qu os mais usados para todas as patologias.O Viscum Album é um medicamento homeopático e a diluição mais utilizada é a D4 no início (2 vezes por semana) e depois a diluição D3 (uma vez por semana). A ampola de Viscum Album contém 1 ml da solução e é aplicado em dose única. Em tumores sólidos, como câncer de mama, frequentemente se indica Viscum Album por 5 anos. O primeiro ano de tratamento é recomendado manter a continuidade das aplicações sem interrupções, após o primeiro ano, algumas pausas de 1 a 4 semanas podem ser feitas a cada 1 ou 2 meses de tratamento (GARDIM, 2007). 59 A injeção em pontos de acupuntura é uma forma rápida e fácil de tratamento, pois em pequenos animais pode-se usar uma agulha hipodérmica de calibre 25x7, com 1,25 a 2,5 cm de comprimento (ALTMAN,S, 2006). 4.4 FITOTERAPIA O uso de fitoterápicos chineses devem participar do tratamento destes casos. 4.4.1 PRESCRIÇÃO Erva Principal: trata raiz ou a manifestação da síndrome. Erva Assistente: reforça a droga principal, ou trata sintomas principais que acompanham a síndrome. Erva Coadjuvante: - reforça os efeitos das erva principais e assistentes ou trata sintomas menos importantes. - reduz ou elimina a toxicidade das drogas principais e assistentes. Erva Guia: - conduz as demais ervas ao local destinado. - coordena os efeitos das diversas ervas na fórmula. Ervas que promovem o fluxo de líquidos e drenam umidade: - FANG JI FU LING TANG - FANG JI HUANG QI TANG - WU LING SAN Regula o Qi e elimina estase: - AN ZHONG SAN 60 Ativa o fluxo de Qi: - XIANG SHA PING WEI SAN Tonificam Xue: - SHAO YAO GAN CAO TANG - SI WU TANG Tonificam Qi: - BU ZHONG YI QI WAN - LI JUN ZI TANG - SHEN LING BAI ZHU SAN - XIANG SHA LIU JUN ZI TANG - SI JUN ZI TANG Tonificam Qi e Xue: - BA JHEN TANG - DANG GUI SHAO YAO TANG - GU PI TANG - SHI CHUAN TA PUAN Promovem fluxo do Qi: - BAN XIA HOU PO TANG - XIANG SHA LIU JUN ZI TANG Ativam fluxo de Sangue e eliminam estase: - BU YANG HUAN WU TANG - DA HUANG ZHE CHOW WAN - SHAO FU ZU YU TANG - XUE FU ZHU YU TANG - TAO HE CHENG QI TANG Harmonizam Baço-Estômago e Fígado: - CHAI HU SU GAN WAN 61 - JIA WEI XIAO YAO WAN - NU SHEN SAN - SI NI SAN - XIAO YAO WAN Erva Isolada – tem como objetivo potencializar a ação das fórmulas (erva imperial). RHIZOMA CORYDALIS: Promove circulação de Xue e fluxo de Qi - potencializa as demais ervas (BERGAMO, J.A, 2007). Deng et al comprovaram em estudos com cobaias que tiveram células cancerígenas inoculadas em laboratório uma diminuição do crescimento tumoral e a vida prolongada com o uso de SHI QUAN DA BU TANG (CQDB). Esses efeitos foram provados com dose de 4 a 40 mg/dia. O SI WU TANG é um fitoterápico chinês muito conhecido que tem sido usado há mais de 1.200 anos. A história de suas formulações e aplicações na prática clínica são sempre revistos e estudados. Uma breve visão sobre a literatura científica tem demonstrado os efeitos positivos de SI WU TANG no sistema hematopoiético e cárdio-vascular, na regularização do sistema imunológico, proteção contra radicais livres, regularização dos movimentos uterinos, redução de hiperlipidemia, resistência às toxinas e redução das mutações ligadas ao câncer (XIUJUN, 2006). 4.4.2 EFEITOS INDESEJÁVEIS DAS ERVAS CHINESAS Os efeitos indesejáveis das ervas chinesas (alérgicos, colaterais, tóxicos) perdem-se quando as ervas são processadas ou são neutralizados nas fórmulas pelas ervas assistentes ou harmonizadoras.3 3 (www.cefimed.com.br – acesso em 20/05/2009) 62 4.4.3 EFEITOS COLATERAIS DAS ERVAS CHINESAS Efeitos colaterais são reações secundárias, consideradas indesejáveis, quando do uso de ervas ou drogas alopatas. Com as ervas, essas reações praticamente inexistem. Deve-se considerar também as reações que não são consideradas efeitos colaterais, como alteração na cor das fezes, urina e odores do corpo. Temos reações como resultado do efeito terapêutico: fórmulas acres administradas com o intuito diaforético. As ervas acres para dispersar os patógenos da superficial podem produzir pruridos cutâneos devido à vasodilatação superficial e à presença de óleos com ações irritantes. As ervas diuréticas podem induzir à diurese frequente e constipação, por desidratar os intestinos. As ervas tonificantes do sangue podem causar sangramento uterino, perda de apetite, náuseas, perda de fezes ou vômitos. As ervas purgativas podem causar perda de apetite, cólicas abdominais, fezes soltas ou diarréia. Ervas para aquecer interior e tonificar o Yang podem causar sensações de febre, cefaléia, epistaxes, palpitações, opressão no peito ou hiperatividade. Minerais podem causar desconforto gástrico, perda de apetite e dores musculares. Os efeitos colaterais das ervas costumam desaparecer ou melhorar quase totalmente dentro de 24 – 72 horas após a suspensão das ervas. 4 4.4.4 REAÇÕES ALÉRGICAS A ERVAS CHINESAS Reações alérgicas ou anafilaxias não são usuais com o uso oral das ervas chinesas. 4 (www.cefimed.com.br – acesso em 20/05/2009) 63 As reações alérgicas costumam apresentar quadros de dermatites (rubores, pústulas, pruridos...), opressão no peito, dores articulares e distúrbios gastrintestinais. Mesmo sendo raras as reações alérgicas, deve-se ter ciência da possibilidade de ocorrer. De acordo com a MTC, as respostas alérgicas ocorrem quando há uma desarmonia do baço, pulmões e rins, desencadeada pelo vento perverso e umidade com retenção de calor interior e/ou calor tóxico no subcutâneo. Deve-se ter cuidados com pacientes que apresentam esses fatores, pois são predispostos a ter quadros alérgicos. As substâncias relatadas na literatura como responsáveis por um ou mais distúrbios alérgicos podem ser divididas em quatro categorias: - Óleos Voláteis: Fengyoujing (preparação de óleos essências), Pílula de Houzheng para laringite (contém borneol), Mirra (contém resina), borneol, Murhuang Jiedu Pian (contém borneol e outros aromáticos), Ácoro, Flor de Magnólia, Prunella, Huoiang Zhenqi Shui para resfriados (contém pogostemon e outros aromáticos), Guanxin Suhexiang Pill (contém borneol), Yunnan Pai Yao (contém boneol). - Cogumelos: Coriolus, Hoelen e Muer (cogumelo preto usado na cozinha chinesa), Ganoderma. - Substâncias Animais: escorpiões, minhocas, secreções de sapo, chifre do cervo. - Outras: infusão de Biyanling (contém ninho de vespa, pó de pérola, Taxillus, Zizyphus, Taraxaco, Xiaokechuan para resfriados, Comprimidos de Houtujum, Comprimidos de San Qi, Andrographis, Ísatis, Houttuynia, Ilex, Flor de Sophora, Verbena. As reações alérgicas a ervas chinesas não oferecem riscos. Se a reação apresentada for de fato alérgica, ela começará a apresentar sintomas durante a primeira hora após a ingestão da erva. Nos quadros por uso de ervas com indicações errôneas, os sintomas são lentos e graduais (horas/dias). 64 A regressão do quadro alérgico ocorre dentro de 24 a 72 horas após a suspensão do uso das mesmas. 5 4.4.5 TOXICIDADES DAS ERVAS CHINESAS A matéria médica chinesa classifica as ervas de “levemente tóxicas”, “tóxicas”, “extremamente tóxicas” ou “mortalmente tóxicas”. Sempre devem ser utilizadas com extrema cautela. São raríssimos o uso das ervas consideradas tóxicas na medicina chinesa. A farmacoterapia chinesa recomenda doses diárias de 6 a 15 gramas, e elas seriam tóxicas com doses acima de 200 gramas ou mais de 10 vezes sua dosagem usual. 6 4.4.6 CONTRA-INDICAÇÕES DAS ERVAS CHINESAS Além de restrições alimentares que podem ser aplicáveis tanto à doença em si quanto às ervas usadas para combatê-la, são importantes dois grupos de contraindicações tradicionais: “Dezoito Medicamentos Incompatíveis” e os “Dezenove Medicamentos em Antagonismo Mútuo”. Além disso, algumas ervas podem danificar o Qi original do feto e levar ao aborto, e são proibidas durante a gravidez. Contra-indica-se: - Ervas de natureza fria e fresca em quadros de frios ou calor deficiente. - Ervas de natureza quentes em quadros de calor e frio deficiente. - Ervas tônicas na presença de patógenos. - Ervas de sentido de subir na hiperatividade do Yang. - Ervas para suprimir a ascensão anormal do Qi, no colapso do Qi. - Sedar na Síndrome de Deficiência. 5 (www.cefimed.com.br – acesso em 20/05/2009) 6 (www.cefimed.com.br – acesso em 20/05/2009) 65 - Tonificar na Síndrome de Excesso. - Purgar na Síndrome Superficial. 7 4.4.7 FINALIDADES DO PROCESSAMENTO DAS ERVAS CHINESAS - Reduzir a toxicidade e os efeitos colaterais. - Aumentar a eficácia das ervas. - Modificar as características e funções das ervas de acordo com as necessidades terapêuticas. - Facilitar decocção, preparação e armazenamento. - Eliminar as impurezas. 8 Baseando-se na teoria dos cinco movimentos, em casos de tumores, teremos uma alteração em Terra, e desta forma podemos usar fitoterápicos que melhorem a condição deste movimento. Lembrando que o movimento Terra é o responsável pela digestão e, por conseguinte, é a base da produção do Jing pós-celestial, com isso o uso de fitoterápicos que fortaleçam o baço e o estômago terá um efeito tanto energético como na digestão. Pode então ser usado o Bu Zhong Yi Qi Wan como fitoterápico principal, mas pode-se ainda usar o Gui Pi Tang e o Si Wu Tang nestes casos, em especial se o animal não estiver comendo bem (LOBO, E, 2009)*.9 No caso das neoplasias, a formação de nódulos nos diversos órgãos se dá pela estagnação de Qi e Sangue; para estes casos pode-se então usar o Xue Fu Zhu Yu Tang e o Xiao Huo Luo Dan. Para acúmulo de fleuma pode-se ainda usar o Ban Xia Ho Po Tang. Para trabalhar a imunidade do animal pode-se usar o Ganoderma, a Mocrea e o Shen Mai San, porém deve-se analisar bem o caso e verificar se realmente vão existir efeitos benéficos numa tonificação ou modulação do sistema 7 (www.cefimed.com.br – acesso em 20/05/2009) 8 (www.cefimed.com.br – acesso em 20/05/2009) 9 Eduardo Lobo, 2009, acupunturista veterinário, comunicação pessoal de experiência própria. 66 imune, haja vista que o componente imunológico da geração do tumor é muito grande, e muitas vezes uma incorreta abordagem do sistema imune pode elevar a uma piora ao invés de melhora. No caso do Ganoderma, tem uma forte ação antitumoral tanto no tumor como na sua angiogênese, sendo dos três o mais indicado para o tratamento de neoplasias (LOBO, E, 2009)*.10 10 Eduardo Lobo, 2009, acupunturista veterinário, comunicação pessoal de experiência própria. 67 5 CASO CLÍNICO Utilizou-se, como conteúdo deste relato, um caso clínico de um animal que foi tratado pelo professor Eduardo Lobo, professor de Medicina Tradicional Chinesa. 5.1 RELATO DE CASO Mel, espécie canina, SRD, idade cinco anos. Seis meses atrás retirou nódulos nas glândulas mamárias. Após cirurgia, paciente apresentou hiporexia, cansaço e tristeza, com evolução para tosse inicialmente seca, depois produtiva e finalmente anorexia e apatia. Foi tratada por colega como pneumonia, onde foi prescrito enrofloxacina, doxiciclina e corticoesteróides. Realizado exame radiográfico torácico e detectou-se presença de massa com tamanho de quatro por oito na base do coração sugerindo uma metástase que foi confirmada por exame histopatológico. Exame físico: animal magro, apático, com estertores pulmonares e com áreas de silêncio pulmonar. Temperatura 38,6ºC. Segundo a MTC, sensibilidade em Pulmão (P)1 e Bexiga (B)13, pulso vazio, rápido e superficial. Diagnóstico segundo a MTC, estagnação de Qi e Sangue (Xue) do Pulmão (Fei) gerando Calor tóxico afetando: nos Oito Princípios, Calor, Vazio, Yang; nos Cinco Movimentos, excesso de Movimento Metal. Neste caso clínico em específico, não foi necessário o uso de fitoterapia chinesa. 5.2 SELEÇÃO DE PONTOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO F 3, VB 41, VC 22, B 23, B 21, B 40, IG 11, P 5, P 9, IG 4, VB 39. 68 5.3 DISCUSSÃO DOS PONTOS F 3 – Tai chong - ponto fonte do fígado; melhora a função do fígado, e a circulação do sangue; retira calor do fígado. VB 41 – Zu lin qi – ponto de tonificação dos 5 movimentos (madeira na madeira), ponto de abertura do canal da cintura; harmoniza o qi da vesícula e do dai mai, circula o qi da vesícula, fígado e dai mai, clareia a visão e aumenta à audição, dispersa o yang excessivo do fígado, transforma umidade calor. VC 22 – Tian tu - ponto de união do yin com o yang, ponto de entrada e saída do qi de defesa; harmoniza e difunde o qi do pulmão, umedece e refresca a garganta, elimina a mucosidade. B 21 – Wei shu – ponto de assentimento / transporte dorsal do estomago; harmoniza e fortalece o qi do estomago e baço, tonifica o sangue do estomago, afasta a umidade, umidade calor e mucosidade, drena umidade e umidade frio. B 23 – Shen shu – ponto de assentimento/ transporte dorsal do rim; usado para tonificar o rim e o yin geral do organismo. B 40 – Wei zhong - ponto terra do canal da bexiga; ponto de imunomodulação e para retirar calor do sangue. IG 11- Qu chi – ponto mar e terra do intestino grosso; ponto de imunomodulação e para retirar calor do organismo. P 5 – Chi ze – ponto mar; dissipa calor e vento calor do pulmão, regulariza a via das águas, dissipa calor do aquecedor superior, faz circular o qi para baixo, alivia o tórax. 69 P 9 – Tai yuan – ponto fonte / ponto terra / ponto de influência para os vasos sanguíneos; tonifica o Qi do pulmão o que fortifica o Qi como um todo no organismo acalma a mente. IG 4 – He gu - ponto mestre da face e cabeça posterior, ponto também de imunomodulação servindo para retirar o calor do organismo. VB 39 – Xuan zhong – ponto de reunião da medula óssea, espinal e cérebro, ponto mar da medula; harmoniza a vesícula, fortalece o qi dos ossos, sangue e encéfalo. 5.4 RESULTADO O animal começou a diminuir a tosse após a segunda sessão de acupuntura, sendo que com três meses de tratamento ele se apresentava normal e ativo. Apresenta episódios de tosse quando o tempo esfria muito ou o animal fica muito excitado. No exame radiográfico de controle, notou-se uma diminuição em 50% do tamanho do tumor após dois meses de tratamento. O animal ficou bem, mantendo-se ativo e com leves episódios de tosse por mais 12 meses. Fig.26 - Mel – RX em 30 de setembro 2008 - lateral direita 70 Fig.27 - Mel – RX em 30 de setembro 2008 - lateral esquerda 5.4.1 Laudo das radiografias do dia 30/09/2008 Tórax: Silhueta cardíaca dentro dos padrões da normalidade de tamanho segundo o método VHS. Padrão vascular evidente e sem alterações dignas de nota. Traquéia deslocada dorsalmente e com lúmen preservado. Campos pulmonares de padrão intersticial e discretamente brônquico, com espessamento de algumas paredes brônquicas. Nota-se a presença de estrutura de maior radiopacidade, observada em decúbito lateral direito, localizada em região peri-hilar medindo aproximadamente cerca de 2,3 cm de diâmetro (Metástase?) e em decúbito lateral esquerdo observamos outra estrutura que também apresenta um aumento da radiopacidade localizada entre o 4º e 6º arco costal (Comprometimento de lobo pulmonar? Metástase?). Sugere-se controle radiográfico. 71 Fig.28 - Mel – RX em 06 de outubro 2008 - lateral direita Fig.29 - Mel – RX em 06 de outubro 2008 - lateral esquerda 5.4.2 Laudo das radiografias do dia 06/10/2008 Tórax: Silhueta cardíaca dentro dos padrões da normalidade de tamanho segundo o método VHS. Traquéia com discretos desvios dorsais e com lúmen preservado. Campos pulmonares de padrão intersticial e discretamente brônquico, com espessamento de algumas paredes brônquicas. Em decúbito lateral direto observouse pouca mudança no aspecto radiográfico na estrutura anteriormente descrita apresentando apenas uma discreta diminuição da sua radiopacidade. Já em decúbito lateral esquerdo não é mais possível visualizar a estrutura que estava presente entre o 4º e 6º arco costal, porém nesta mesma região, nota-se a 72 presença de duas estruturas com radiopacidade discretamente aumentada sobrepondo-se a silhueta cardíaca e medindo cerca de 1,3 cm de diâmetro. Nota-se, ainda em decúbito lateral esquerdo, a presença de uma formação de mesmo aspecto radiográfico e localização da descrita no decúbito direito. Sugere-se controle radiográfico. 73 6 CONCLUSÃO O tratamento de qualquer tipo de câncer com a Medicina Tradicional Chinesa visa melhorar a qualidade de vida do paciente, diminuindo os efeitos colaterais da quimioterapia (prática da medicina ocidental) e melhorando a resposta imune do paciente. Estudos indicam que a prática de acupuntura, aliada principalmente à fitoterapia chinesa, homeopatia, nutrição e uso de AINES reduzem o crescimento tumoral; portanto, a MTC é uma grande alternativa nos casos de tumores, e também em casos onde a metástase já se instalou no organismo do animal. Tratar um paciente que possui câncer com MTC proporciona ao clínico veterinário um diferencial, pois nota-se uma melhora no quadro geral do animal. É ir além do tradicional “ato cirúrgico seguido de quimioterapia”, que é prática comum da medicina ocidental. Além disso, há limitações na doença avançada. A Medicina Tradicional Chinesa mostra-se uma terapia bem menos invasiva e a mais natural abordagem para alcançar saúde, longevidade e melhor qualidade de vida. 74 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTMAN,S, Técnicas e instrumentação. In: SCHOEN, A. M. Acupuntura Veterinária: da arte antiga a medicina moderna, São Paulo, Roca, 2006, P.98. ARTOZQUI, M.L. 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