BOLETIM
Divulgação Técnica
Ano II – Nº 1
Janeiro – Fevereiro de 2008
BOCAS DE FOGO MOTORIZADAS
INTRODUÇÃO
Como princípio táctico é assumido que
as unidades de apoio de fogos devem
dispor de uma mobilidade e protecção
igual ou superior à da unidade apoiada.
Adicionalmente,
e
tendo
em
consideração a rapidez e precisão dos
meios de detecção e ataque afectos à
Contrabateria, a sobrevivência das
unidades de Artilharia de Campanha
(AC) depende cada vez mais de
Figura 1 - Pandur II 8x8
constantes mudanças de posições de
tiro (mobilidade) e capacidade de protecção das guarnições (blindagem).
Se tivermos, ainda, em consideração o progresso recente verificado ao nível das bocas
de fogo nestes domínios, surge com naturalidade a seguinte questão: Sendo a Brigada de
Intervenção (BrigInt) uma unidade baseada em unidades de manobra equipadas com a
viatura de rodas 8x8 Pandur II, existirão actualmente alternativas ao obus M777
LightWeight (Rebocado), inscrito na Lei de Programação Militar (LPM), que garantam
igual mobilidade e protecção às unidades de manobra, bem como uma capacidade de
sobrevivência acrescida?
O presente artigo pretende pois, de forma sucinta e despretensiosa, alargar horizontes
sobre os sistemas de armas de AC, actualmente existentes, apresentando sistemas
alternativos que a tecnologia militar recentemente colocou ao dispor das unidades
equipadas com viaturas de rodas (motorizadas).
1. OBUS 155MM M777 LIGHTWEIGHT (REBOCADO)
O obus de campanha M777 LightWeight foi desenvolvido em Inglaterra pela empresa
BAE Systems Land Systems.
Figura 2 – Obus M777
Jan-Fev08 – 2 / 6
A construção do M777 faz um uso intensivo de titânio, permitindo uma redução de peso
de 3175 kg, relativamente ao seu antecessor, no Exército e no Corpo de Fuzileiros dos
EUA, o obus M198, passando assim a dispor de capacidade de helitransporte, como
comprovam os testes realizados em Julho de 2004, nos quais o obus foi helitransportado por um MV-22 Osprey do Corpo de Fuzileiros dos EUA, a uma distância
aproximada de 130 km.
A guarnição deste obus cifra-se em 8 homens, podendo no entanto ser reduzida
para apenas 5 homens.
Este obus, dotado de um tubo de 39 calibres, dispõe do mesmo poder de fogo da
actual geração de obuses rebocados, apresentando menos de metade do peso,
apresentando um alcance máximo de 24,7 km utilizando munições standard e de 30
km utilizando munições assistidas por foguete.
O M777 tem uma cadência máxima de tiro de 5 a 8 tiros por minuto, durante 2 minutos,
e uma cadência de tiro contínuo de 2 tiros por minuto, sendo o tempo de entrada
em posição de 2 a 3 minutos e de 1 a 2 minutos para sair de posição.
A versão de produção para os EUA está ainda equipada com um sistema de controlo
de tiro digital (sistema de Digitalização da Artilharia Rebocada (TAD) da General
Dynamics Armament Systems), que permite, em cada obus, o cálculo balístico,
navegação, pontaria e localização, conferindo a este sistema uma maior precisão e um
menor tempo de reacção. O sistema TAD inclui, também, um sistema de ignição a laser
(dispensando a utilização de escorvas), e energia eléctrica para operar a elevação, a
direcção e o soquete.
O M777 tem um peso de 3745 kg e pode ser transportado por helicóptero, avião de
carga e por navio, podendo ainda ser rebocado por uma viatura 4x4 de 2.5 Ton, com
travões pneumáticos.
A velocidade máxima a que o obus pode ser rebocado é de 88 km/h em estrada e de
50 km/h em todo o terreno. O peso exercido pelo olhal da clavija é de 60 kg.
2. OBUS ATMOS 2000 (MOTORIZADO)
O sistema de artilharia israelita Atmos 2000, de 155mm, está disponível com tubos de
39, 45 ou 52 calibres. As fases de desenvolvimento e de testes terminaram com
sucesso, e o sistema já entrou em fase de produção.
Embora este sistema pese 22 Ton, é aerotransportável num avião de transporte C-130
Hércules e não necessita de equipamento pesado para deslocamentos a grandes
distâncias.
Figura 3 – Obus Atmos 2000
Jan-Fev08 – 3 / 6
Este obus utiliza todo o tipo de munições standard da NATO e dispõe de um alcance
máximo de 41 km, com projécteis de ejecção pela base (Extended Range Full Bore
Base Bleed - ERBBB). Com munições explosivas (High Explosive – HE) standard
NATO, os alcances variam entre os 22 km, com granadas M107 de origem
americana, e os 30 km, com granadas L15 de origem inglesa.
O sistema Atmos 2000 transporta 27 projécteis e cargas e está equipado com energia
hidráulica, que permite operar o sistema de assistência de carregamento, pontaria e
operação dos ferrões.
A alta cadência de tiro de 3 projécteis em 20 segundos é conseguida utilizando um
aparelho de assistência ao carregamento único, sendo a cadência de tiro contínuo de
70 projécteis em 60 minutos.
O sistema de artilharia é operado por uma secção de 4 a 6 homens, incluindo 2
serventes carregadores.
O sistema computorizado avançado de controlo e de tiro AFCS (Advanced Fire and
Control System) instalado no Atmos 2000 inclui sistemas de pontaria e de navegação,
bem como sistemas de cálculo balístico automático. O AFCS apresenta a informação
sobre o objectivo, determina a direcção e elevação do obus e aponta a arma ao
objectivo. Os sistemas de pontaria em Elevação e Direcção são operados
hidraulicamente, embora o possam ser manualmente.
O Atmos pode ser instalado numa grande variedade de chassis de rodas, de acordo
com os requisitos do país cliente, obtendo-se deste modo uma maior mobilidade
estratégica, maior velocidade e autonomia, redução dos custos de aquisição e de
manutenção, bem como a simplificação dos procedimentos de manutenção e de
operação.
3. OBUS CAESAR (MOTORIZADO)
O sistema de armas montado em viatura táctica Caesar é um obus autopropulsado de
155mm/52, desenvolvido em França.
O Caesar está equipado com todos os sistemas necessários para uma operação
independente, e dispõe de uma cabine blindada para proteger a secção de 6 homens
contra estilhaços e tiro de armas ligeiras, comporta 16 munições completas e incorpora
instrumentos de navegação, pontaria, cálculo balístico e assistência ao comando.
Figura 4 – Obus Caesar
Jan-Fev08 – 4 / 6
Este sistema, especificamente concebido para cumprir com os requisitos de apoio de
fogos de forças de reacção rápida, está equipado com um tubo de 155mm de 52
calibres e pode manter uma cadência de tiro de 6 a 8 tiros por minuto em tiro
contínuo, ou 3 tiros em 15 segundos em tiro rápido.
O sistema Caesar dispõe de um sistema de controlo do tiro FAST-Hit (que lhe permite
conhecer a posição de todas as suas armas no momento, calcular e enviar os
Elementos de Tiro para as mesmas), um velocímetro ROB4 para medir a velocidade
inicial do projéctil, e um sistema de navegação e de posicionamento global (GPS)
SAGEM Sigma 30, dispensando equipas de topografia e de goniómetros.
Este obus, dotado de um sistema de pontaria hidráulico automático e de um sistema de
carregamento semi-automático, tem a capacidade de entrar e sair de posição em
menos de um minuto. A configuração do sistema de armas e a existência de ajudas
hidráulicas fazem com que o Caesar necessite apenas de cerca de 30 segundos para
sair de posição.
No que respeita ao poder de fogo, uma unidade de 8 obuses autopropulsados Caesar
pode disparar, em menos de um minuto, mais de uma tonelada de projécteis, 1500
submunições, ou 48 munições inteligentes anti-carro a alcances até 40 km. O alcance
máximo deste obus é de 42 km, utilizando munições Extended Range Full Bore Base
Bleed.
No exército Francês, o Caesar está integrado no sistema C4I (Comando, Controlo,
Comunicações e Informações) de Artilharia Atlas, da Thales Land and Joint Systems.
O Caesar pode disparar munições HE convencionais, ou munições de ejecção pela
base de nova geração, com precisão e eficácia melhoradas.
A versão de produção do Caesar está montada na viatura Sherpa 5 6x6 da Renault
Trucks Defense, tem um peso de 17,7 Ton, uma autonomia de 600 km, e pode atingir
uma velocidade máxima de 100 km/h.
Excluindo a secção e munições prontas a usar, o Caesar pode ser transportado num
avião C-130 Hercules.
4. ARTILLERY GUN MODULE – AGM (MOTORIZADO)
A empresa alemã Kraus-Maffei Wegmann (KMW) está presentemente a desenvolver e
testar o AGM (Artillery Gun Module). Este módulo de tiro de 155mm/52 é um sistema
inovador, completamente automático, que retém as mesmas performances do obus
autopropulsionado alemão PzH2000 155mm/52, mas com custos, número de
tripulantes e peso reduzidos.
Figura 5 – Obus AGM
Jan-Fev08 – 5 / 6
O módulo de tiro pode ser montado num chassis de um MLRS, de um Carro de
Combate ou ainda num chassis de rodas pesado 6x6 ou 8x8, propiciando ao país
comprador uma plataforma de apoio de fogos a custo reduzido. No que se refere ao
peso, o sistema instalado no chassis de um MLRS tem um peso de combate de 27
Ton, cifrando-se o mesmo em 22,5 Ton quando montado numa viatura de rodas
6x6. Refira-se, no entanto, que o peso da versão original PzH2000 ascende às 55 Ton.
O desenvolvimento do AGM foi baseado num tubo-canhão de 155 mm com 52 calibres,
podendo no entanto ser adaptado um tubo-canhão mais leve, tal como um de 155 mm
com 39 calibres, ou mesmo um de 105 mm.
Este sistema, operado por uma secção de 2 homens, utiliza o mesmo tubo-canhão,
massa elevatória, carregador de granadas e soquete do PzH2000, dispõe de uma torre
com blindagem em alumínio e transporta 30 munições completas.
O módulo de tiro AGM pode bater objectivos estáticos e em movimento a uma
cadência de 6 a 8 tiros por minuto, dispõe de graduação automática das espoletas e
tem capacidade de fazer tiros simultâneos no mesmo objectivo.
O alcance máximo é de 30 km com projécteis standard e de mais de 40 km com
projécteis Base Bleed, tendo um tempo de entrada e saída de posição de
aproximadamente 30 segundos.
A cabine da secção, separada do módulo de tiro, incorpora um sistema automático de
controlo do tiro baseado no software balístico da NATO Kernell, o qual pode ser ligado
ao sistema de Comando e Controlo da Artilharia da KMW ou outros. Esta cabine
confere ainda protecção contra fogo de armas ligeiras, minas anti-pessoal,
submunições (ICM), bem como contra ataques NBQ.
Durante o deslocamento, ou quando numa posição desenfiada, o sistema recebe
informação (digital) do objectivo, via rádio, sendo os Elementos de Tiro calculados de
imediato pelo computador de tiro e a Missão de Tiro executada logo que o obus entrar
em posição. Após o último disparo o obus abandona a posição de tiro, numa manobra
tipo “bate-e-foge”, para evitar o fogo de Contrabateria.
O sistema de tiro instalado no chassis do MLRS é aerotransportável num Airbus
A400M. E para efeitos de transporte aéreo, o AGM tem por dimensões 10,42 m de
comprimento, 2,97 m de largura e 3,06 m de altura.
BIBLIOGRAFIA
– M777 155mm Ultralightweight Field Howitzer, United Kingdom. Disponível na
Internet em: http://www.army-technology.com/projects/ufh;
– Atmos 2000 155mm Self-Propelled Artillery System, Israel. Disponível na Internet
em: http://www.army-technology.com/projects/atmos;
– Caesar 155mm Self-Propelled Artillery System, France. Disponível na Internet em:
http://www.army-technology.com/projects/caesar;
– Camion équipé d'un système d'artillerie. Disponível na Internet em:
http://en.wikipedia.org/wiki;
– Artillery Gun Module (AGM) Medium Weight Self Propelled Howitzer, Germany.
Disponível na Internet em: http://www.army-technology.com/projects/artillery;
Jan-Fev08 – 6 / 6
– VICENTE, Aspirante a Oficial Aluno (2006). A Brigada Independente – O escalão
para o futuro das operações militares – A organização do seu apoio de fogos,
Revista de Artilharia, Nº 968 a 970, Abril a Junho de 2006.
Artigo elaborado por:
TEN ART, Elton Roque Feliciano
Adjunto do Gabinete de Cursos da Secção de Formação / DF / EPA
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