SERVIÇO SERVIÇO Dicas Dicas Para uma maior reflexão sobre esse dia e não se deixar envolver pelos apelos publicitários, a REVISTA DO IDEC aborda as possíveis conseqüências causadas nas crianças por estímulos consumistas transmitidos na televisão; a opção é por brinquedos que divertem, educam e que trazem selo de qualidade FOTOS IZILDA FRANÇA revemente os meios de comunicação abrirão B espaço para matérias relacionadas ao Dia da Criança, e, como em outras datas comemorativas que estimulam as vendas, será forte o apelo consumista. Mais uma vez o público infantil será bombardeado, sobretudo na televisão, com propagandas que o manipulam cada vez mais, ditando comportamentos. A publicidade direcionada à criança é atraente, com o propósito de induzi-la a querer o produto anunciado. A psicanalista Ana Cristina Olmos, no artigo “A Televisão e a (de) Formação de Valores Éticos”, nos convida a refletir sobre o assunto quando questiona: “Que mecanismos inconscientes promovem os valores que a televisão transmite? Que impacto causa na construção da identidade do adolescente a força dos estereótipos do jovem de sucesso com o culto à aparência, os ideais de consumo, a prioridade do ter ao ser?”. Os efeitos do conteúdo das mensagens dos comerciais sobre o comportamento das crianças é preocupação de educadores. O Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em trabalho de fins dos anos 90, enfoca a relação entre a televisão e a violência e relata outros estudos que sugerem que altas taxas de exposição à televisão estão relacionadas com a preocupação excessiva com o consumo, resultando em sentimentos de inveja, ambição e outros, aumento do uso do tabaco, do consumo de álcool e do início precoce da atividade sexual. “Essas observações comprovam uma tendência, bem documentada, de as crianças imitarem os padrões comportamentais mostrados na televisão”, conclui a pesquisa da universidade. Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, chama a atenção para o despertar da sexualidade da criança, estimulado pela publicidade. “É um problema quando a criança começa a pular etapas na vida. Na faixa dos 7 aos 12 anos é quando ela tem que estar voltada para a brincadeira e a escolarização. No entanto, acaba se voltando para a sexualidade muito antes do que deveria acontecer. E ela não vai poder repor essa fase perdida. Tanto em tempo como em qualidade, a propaganda prejudica a criança.” Ela ressalta ainda que ao se defrontar com tudo o que a sociedade de consumo pode proporcionar, um adulto já fica insatisfeito, dependendo do seu poder aquisitivo. Imagine-se, então, uma criança. De acordo com a psicopedagoga, “a influência que a televisão exerce sobre as crianças vai depender dos valores que a sua família vai introjetar nessa criança e também do quanto ela é mentalmente saudável”. Por isso, Maria Irene enfatiza a importância de os pais terem cuidado com o que os filhos assistem sem a mediação do adulto. “A reação de uma criança diante da televisão vai depender muito do histórico familiar, da estrutura emocional, do momento que ela está vivendo, do relacionamento com os pais, dos valores que eles passam aos filhos. Não se pode largar a criança com 72 canais na mão. É bom deixar o horário livre dela para programas infantis, escolher os joguinhos do computador, selecionar os sites na internet. Televisão não é babá. A criança tem que ser ensinada que tem que ter horário para assisti-la. Não se deve deixar a TV ligada o tempo todo.” PL CONTRA A PUBLICIDADE A exibição da publicidade para crianças durante a programação a elas dirigida é proibida em países como Suécia, Grécia, Bélgica, Irlanda e Noruega. Em Portugal, crianças não podem protagonizar comerciais de produtos dirigidos a adultos. No Brasil, o Projeto de Lei no 5.921/01, de autoria do deputado federal Luís Carlos Hauly (PSDB-PR), proíbe a publicidade destinada à venda de produtos infantis e foi tema de audiência pública promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados em Brasília, em junho último. A audiência foi realizada em ambiente Interlegis (sistema que in- terliga as casas legislativas do país por internet, videoconferência ou transmissão de dados), permitindo, assim, a participação de diversos segmentos da sociedade civil de catorze estados interessados no tema. Ao participar dos debates, Ana Cristina Olmos disse que nos países europeus onde a legislação sobre publicidade infantil é rígida, apenas 15% da programação geral pode conter propaganda. Ela defendeu a regulamentação da matéria no Brasil ao afirmar que a criança deve ser tratada como um ser em formação, “e não como um público-alvo a ser seduzido pela propaganda”. Na opinião do autor do projeto, grande parte da violência praticada por menores está ligada à propaganda destinada a crianças e adolescentes, que são coagidos para a compra dos produtos anunciados. O jovem frustrado busca o bem de consumo que lhe foi negado pela sociedade e pela família sem condições. O projeto de lei deverá ser votado até o final deste ano. Revista do Idec | Setembro 2005 31 SERVIÇO SERVIÇO Dicas Dicas Opção por brinquedos educativos Segurança e selo de qualidade “O A s pais estão cada vez mais conscientes da importância dos brinquedos educativos na vida de uma criança, não somente para o seu divertimento, mas também para o seu desenvolvimento e educação.” Assim, Altino Ito, presidente da Associação Brasileira de Brinquedos Educativos (Abrine), explica o crescimento, nos últimos três anos, de 300% no número de lojas especializadas nesse segmento. Atualmente, entre 15% e 20% do mercado de brinquedos no Brasil é formado pelos educativos. Os microempresários, diz ele, se esforçaram bastante nos últimos anos para colocar seus produtos no mercado. A recente Abrine já conta com cinqüenta lojas associadas. A fabricação desses brinquedos envolve especialistas em educação, como psicólogos e pedagogos, e o Os brinquedos educativos geralmente estimulam o raciocínio e o desenvolvimento motor da criança trabalho de artesãos. Nos últimos anos esses profissionais começaram a constituir empresas e a entrar no mercado como fabricantes, informa Altino, há 32 anos à frente da loja de educativos Trenzinho. Os brinquedos refletem linhas e escolas pedagógicas e objetivam potencializar a inteligência e o comportamento das crianças, sobretudo na faixa etária entre zero e 6 anos de idade. “As atividades da criança nessa fase são muito importantes, segundo estudos de psicologia infantil. Consolidam hábitos de raciocínio, de comportamento, daí a importância do brinquedo”, ressalta Altino, informando que 80% dos brinquedos educativos destinam-se à faixa até os 6 anos. Contrapondo-se à profusão de brinquedos que deixam o consumidor confuso na hora de escolher – muitos deles nada acrescem de positivo ao desenvolvimento da criança; ao contrário, imitam armas e super-heróis violentos –, os educativos sugerem brincadeiras simples, de fácil entendimento. Há, por exemplo, os kits compostos por casinhas, acompanhadas por móveis, bonequinhos que representam os membros de uma família, utensílios (panelas, pratos) e acessórios de decoração que vêm soltos para que a criança possa montar e arrumar a casa do seu jeito. Não faltam, também, os caminhõezinhos e carretas de madeira maciça. SUGESTÕES DE BRINQUEDOS As lojas de brinquedos educativos possuem variados tipos de produtos destinados a estimular coordenação motora, memória, atenção, reflexos e inteligência. Em geral, os brinquedos educativos são confeccionados em madeira e tecido e são artesanais. Abaixo, algumas sugestões para presentear: ● Entre 1 e 2 anos: carrinho sonoro; bate estaca, que martela e faz a criança exercitar a coordenação motora. ● De 3 a 5 anos: bola ao alvo, composto de bolinhas com velcro leves e macias, que grudam no alvo; alinhavo de números. ● De 4 a 7 anos: jogo tradicional de amarelinha em laminado plástico, para ser estendido no chão; dominó de figuras; fantoches, teatrinho de fantoches; figuras que a criança têm que colocar em seqüência lógica. Serviço Associação Brasileira de Brinquedos Educativos (Abrine) www.abrine.com.br Telefone: (11) 5891-7873 fabricação inadequada de um brinquedo compromete a sua qualidade e pode colocar em risco a saúde e a segurança da criança. Por isso, brinquedos são produtos de certificação compulsória, e para serem comercializados necessitam do selo do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), marca que garante que o produto passou por testes que simulam situações pelas quais ele passaria nas mãos das crianças. As embalagens devem possuir, ainda, o selo de um organismo certificador credenciado pelo Inmetro e apto à certificação, como o Instituto Brasileiro de Qualificação e Certificação (IQB) e o Instituto Falcão Bauer da Qualidade (IFBQ). A regra básica para se comprar um brinquedo, portanto, é verificar na embalagem o selo da garantia de que o produto obedeceu a normas específicas de fabricação. De acordo com dados do Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem-SP), o mês de junho registrou um crescimento de 100% nas reclamações relacionadas a brinquedos. Em sua maioria, essas denúncias à ouvidoria do órgão referiam-se à ausência de certificação. Os fabricantes e importadores que não cumprirem as normas são multados, e os produtos irregulares, recolhidos. Os brinquedos importados que já vêm certificados também devem ser submetidos aos testes de qualidade. O maior problema, relatam técnicos do Ipem, são alguns produtos importados que já chegam sem certificação, sobretudo os provenientes da China. Uma grande quantidade entra por contrabando, tem pre- ços mais baixos, é facilmente encontrada no comércio ambulante e não possui certificação. Além do selo de identificação colocado no produto ou na embalagem, o Ipem-SP recomenda: na embalagem, observar a indicação da faixa etária. Alguns brinquedos não são recomendados para crianças muito pequenas por conterem peças cortantes, pontiagudas, tóxicas ou que possam ser engolidas; ler atentamente as instruções de uso, que devem estar em português, mesmo as dos brinquedos importados; a maquiagem de brinquedo não deve ser utilizada em crianças. Serviço Sugestões e reclamações podem ser feitas à ouvidoria do Ipem-SP (08000 130522) de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas Dicas para uma boa compra Brinquedo não é produto descartável. Nem você nem a criança esperam que ele dure apenas algumas horas. É um produto sujeito a todas as exigências do Código de Defesa do Consumidor (CDC). A embalagem e o manual de instruções devem informar as suas características, tais como faixa etária ou idade a que se destina, eventuais riscos, número de peças, regras de montagem, modo de usar. Nenhum produto deve ser adquirido sem uma clara identificação do fabricante ou do importador. As recomendações são da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), que sugere que o consumidor procure os seus direitos se ficar insatisfeito com o brinquedo, a embalagem, a publicidade ou a assistência técnica. A entidade lembra que a escolha do brinquedo deve satisfazer a necessidade da cri- ança, e não dos pais. É importante conhecer os gostos, interesses, habilidades e limitações da criança na hora da escolha do presente. Outras recomendações da Abrinq: ● O manual de instruções e instalação dos brinquedos deve ser escrito numa linguagem de fácil compreensão, em português e com ilustrações. O fornecedor tem um prazo de trinta dias para reparar os defeitos. Após esse prazo pode-se exigir a substituição do produto ou a devolução do dinheiro. Devese exigir e guardar a nota fiscal, que será útil na hora de reclamar. ● É recomendável a leitura e observação da embalagem para ter certeza do que se está comprando. O consumidor pode pedir uma amostra do brinquedo para manusear. A lei estadual de São Paulo no 8.124/92 determina que as lojas devem manter amostras de jogos, revistas, discos, fitas e brinquedos para que possam ser testados pelos consumidores. ● Antes de comprar, confira no brinquedo o que foi mostrado na publicidade, que nem sempre é precisa sobre funções, tamanho e desempenho dos produtos. A publicidade deve ser rigorosamente cumprida, tanto em relação ao preço como ao modelo do produto. Serviço No site da Abrinq (www.abrinq.com.br) encontra-se o Código de Ética e Conduta da Indústria de Brinquedos, recomendações na hora de comprar, guia dos brinquedos e do brincar e guia dos brinquedos e jogos Revista do Idec | Setembro 2005 33