O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE ESSE PROCESSO EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL DE JAGUARUNA (SC) Bianca Estela dos SANTOS1 Maria Cecilia Cipriano RICARDO2 Tamiris Medeiros FERREIRA3 RESUMO: O presente artigo tem por finalidade discutir os resultados da pesquisa sobre o ensino fundamental de 9 anos realizada em uma escola pública do município de Jaguaruna (SC), bem como analisar o ambiente alfabetizador. A coleta dos dados foi realizada através de entrevista com professores e alunos da instituição. As concepções do ensino fundamental de 9 anos, tradicional e crítica são discutidas a partir dos resultados. O referencial teórico de base está alicerçado em autores como: Soares, Ferreiro, Teberosky, entre outros. Os resultados apontam para a necessidade de refletir sobre o papel fundamental da educação no processo de ensino e aprendizagem do processo de alfabetização e letramento, bem como a prática contraditória dos currículos escolares no ciclo alfabetizador. PALAVRAS CHAVES: Processo de Alfabetização; Letramento; Ambiente Alfabetizador. Introdução Na ânsia de ensinar escrever muitos professores impingem aos seus alunos um ensino “gramaticalista” que acaba por abafar o talento e o desejo dos mesmos de se expressar. O conhecimento da língua escrita é substituído pela memorização de conceitos, técnicas, e regras, que, sobrepondo-se à gramática natural, anulam a espontaneidade e a riqueza do repertório infantil, bem como a possibilidade da produção criativa. Com o intuito de conhecer o processo de alfabetização do ensino fundamental de nove anos, realizamos uma pesquisa em uma escola pública estadual no município de Jaguaruna, Santa Catarina. A pesquisa teve por objetivo conhecer a realidade das escolas, a metodologia utilizada por elas e a análise do ambiente alfabetizador. Para a coleta de dados foi realizada entrevista que foi respondida por alguns alunos e professor do 3º ano. Essa entrevista foi gravada e analisada. Este artigo está estruturado em quatro partes. Na primeira, apresentamos a introdução, abrindo as discussões sobre o tema abordado. Na segunda expomos o referencial teórico. Na terceira, analisamos os dados da pesquisa realizada e, na última parte, apresentamos as considerações finais. 2. Referencial teórico O Art. 1º da resolução, fixa as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos a serem observadas na organização curricular dos sistemas de ensino e de suas unidades escolares. 1 Acadêmica do 5º semestre de Pedagogia da Universidade do sul de Santa Catarina. 2 Acadêmica do 5º semestre de Pedagogia da Universidade do sul de Santa Catarina. 3 Acadêmica do 5º semestre de Pedagogia da Universidade do sul de Santa Catarina. 1 Estas diretrizes Curriculares Nacionais aplicam-se a todas as modalidades do Ensino fundamental previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como à educação do campo, à Educação Escolar Indígena e à Educação Escolar Quilombola. De acordo com o Art. 20 da resolução, as escolas deverão formular o projeto políticopedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por meio de processos participativos relacionados a gestão democrática. 2.1 Alfabetização e letramento no ciclo alfabetizador do ensino de 9 anos Embora a escola não possa ser a única culpada pelos números do analfabetismo e do baixo nível de letramento é bem verdade que ela pouco tem contribuído para reverter a situação. O que fica evidente é que muitas vezes a postura da professora é que determina o que deve ser feito, mas não necessariamente como deve ser feito. A ênfase que a escola atribui ao saber artificial, decorado e pouco significativo não tem valor, senão para atender motivações de caráter extrínseco: agradar a professora e ganhar nota dez. Segundo a resolução, a avaliação é parte integrante do currículo, e deve utilizar vários instrumentos e procedimentos, tais como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, provas, questionários, dentre outros, tendo em conta a sua adequação à faixa etária e às características de desenvolvimento do educando. Sendo assim, o esforço de compreender e valorizar o momento da alfabetização, redefinindo o seu significado no conjunto das conquistas infantis, é o melhor aval para combater os vícios de uma pedagogia inadequada, insuficiente e estreita. Um entendimento mais amplo a respeito da alfabetização favorece a revisão dos procedimentos metodológicos, materiais didáticos, lançando aos educadores novas diretrizes de trabalho junto ao aluno. As práticas de letramento e alfabetização se configuram como eixos fundamentais do trabalho pedagógico no ensino de 9 anos. Essas são realizadas por meio da mediação do professor, da inserção e da intervenção das crianças no mundo da cultura escrita. Para tanto, são promovidas situações que tenham a ver com os usos da língua nas práticas culturais em interação permanente entre adultos e crianças que juntos constroem textos e contextos significativos. De acordo com o Art. 27 da resolução do ensino fundamental de nove anos, “Os sistemas de ensino, as escolas e os professores, com o apoio das famílias e da comunidade, envidarão esforços para assegurar o processo contínuo dos alunos no que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aquisição de aprendizagens significativas, lançando mão de todos os recursos disponíveis e criando renovadas oportunidades para evitar que a trajetória escolar discente seja retardada ou indevidamente interrompida”. Segundo Magda Soares (2009), o processo de alfabetização e o letramento deve subsidiar também o trabalho pedagógico na Educação Infantil. Os pequenos, antes mesmo do Ensino Fundamental, devem ter acesso tanto a atividades de introdução ao sistema alfabético e suas convenções - ao processo de alfabetização, como também às práticas sociais de uso da leitura e da escrita - o letramento. Essas práticas, embora distintas nos diferentes níveis de ensino, devem se fundir para que o indivíduo possa se desenvolver num processo de alfabetização plena. Não é só necessário aprender a codificar decodificar o código escrito, mas também entender para que ele serve e como fazer uso desse recurso que está a nossa disposição e com o qual o ser interage constantemente. Embora as atividades de alfabetização e letramento diferenciem-se tanto em relação às operações cognitivas por elas demandadas, quanto em relação aos procedimentos metodológicos e didáticos que as orientam, elas devem desenvolver-se de forma integrada, 2 caso contrário, a criança certamente terá uma visão parcial e, portanto, distorcida do mundo da escrita. Nesta etapa inicial do processo de alfabetização, pode-se trabalhar de forma prazerosa, pois esse espaço necessita muito do desenvolvimento da ludicidade para que a aprendizagem ocorra. Neste sentido, é importante refletir como desenvolver o processo de alfabetização e letramento para os pequenos? Segundo Soares (2009), pesquisas feitas pelas estudiosas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky comprovam que as crianças da faixa etária dos 4 aos 6 anos, alunas da Educação Infantil, evoluem rapidamente em direção ao nível alfabético quando são proporcionadas/orientadas por meio de práticas lúdicas e adequadas. A criança torna-se letrada através de diferentes instrumentos sociais de comunicação, tais como: computadores, internet, telecomunicações, fax, fotocópias, televisão, dramas, filmes, teatro e arte. Os textos da vida cotidiana, como os mapas, sinais de trânsito, horários de transporte coletivo, são fundamentais para a inserção no mundo (Jones Diaz, Makin, 2005). Em termos institucionais, percebe-se que as instituições estaduais possuem em seus currículos conteúdos/conceitos que sugerem práticas de letramento e alfabetização no planejamento cotidiano, pois, com isso as crianças buscam respostas para suas curiosidades e com isso aprendem. A atividade oferecida tem por objetivo proporcionar/oportunizar o contato com diferentes portadores de texto, mostrando a função social da escrita. Na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, a criança pode e deve ser introduzida/posta em contato com diferentes gêneros de textos. Além disso, é importante levála a identificar o objetivo, o modo específico de ler e o leitor a que se destina cada gênero. Letrar, então, é mais que alfabetizar. É ensinar a ler e escrever dentro de um contexto no qual a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida das crianças/alunos. Dessa forma, o trabalho desenvolvido demonstra que o espaço escolar é um ambiente lúdico e alfabetizado, onde as crianças aprendem com entusiasmo. Trabalhar com atividades visando a alfabetização e letramento só trazem benefícios às crianças, que se desenvolvem numa perspectiva ampla e de desenvolvimento integral. Neste sentido, podemos dizer que o trabalho com a ludicidade pode ser o ponto de partida para qualquer aprendizagem no processo de alfabetização, pois é brincando que a aprendem. Podemos dizer que a entrada da pessoa no mundo da escrita se dá a partir da aprendizagem de toda a complexidade que esse processo envolve, o que implica no aluno saber fazer uso e se envolver nas atividades de leitura e escrita, ou seja, para entrar nesse universo do letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar um jornal para ler, de frequentar livrarias e, com esse convívio efetivo com a leitura, apropriar-se do sistema de escrita e, consequentemente, das práticas sociais de leitura e de escrita. Sabemos que o processo de alfabetização se desenvolve mais facilmente quando as crianças chegam à escola tendo uma maior familiaridade com a escrita, obtida em contextos nos quais ela circula com usos e funções sociais. Tal como na vida cotidiana, a escola pode apresentar situações, contextos e materiais capazes de estimular o interesse e a atenção dos alunos. Por essa razão, um elemento importante do trabalho de alfabetização se refere à qualidade e à diversidade do material que é disponibilizado no contexto escolar, ou seja, na criação e manutenção, pelo professor, de um ambiente alfabetizador. Metodologicamente, a criação desse ambiente se concretiza na busca de levar as crianças em fase de alfabetização a utilizarem a língua escrita, mesmo antes de dominar as “primeiras letras”, organizando a sala de aula com base nela. Conceitualmente, a defesa da criação do ambiente alfabetizador estaria baseada na constatação de saber para que a escrita 3 serve e saber de que forma pode ser usada em práticas sociais que podem auxiliar a criança em seu processo de alfabetização, por dar significado e função ao processo de ensinoaprendizagem da língua escrita e por criar a necessidade de se alfabetizar, favorecendo, assim, a exploração, pela criança, do funcionamento da língua escrita. 3. Análise dos dados da pesquisa Nossa pesquisa foi desenvolvida no ciclo alfabetizador com uma turma do 3º ano de uma escola de Ensino Fundamental no município de Jaguaruna (SC). Neste trabalho, acompanhamos um pouco do processo de alfabetização, sendo que esta pesquisa abriu muitas portas para discussões e análise da temática. O espaço alfabetizador possui vários cartazes com todas as letras e sílabas (caixa alta e cursiva), os números, painéis apresentando as centenas, dezenas e unidades, tabuadas e cantinho da leitura. O alfabeto fica na parede lateral e, em cima do quadro, ficam as sílabas. Essa disposição torna difícil a visualização para as crianças, pois fica próximo ao teto e também da escrita de alguns números, ao lado do quadro. A sala não possui brinquedos e jogos educativos. As crianças recebem apenas os jogos do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência) e que são disponibilizados a eles no final de algumas aulas. Figura 1 - Ambiente alfabetizador Fonte: As autoras (2013) Na sala de aula, as mesas, cadeiras e quadro são adaptados para as crianças menores. O quadro é baixo e as cadeiras e mesas são ajustáveis. Os banheiros não são adaptados. Os vasos sanitários são altos e a pia também. A escola não possui parque, apenas uma quadra que não está em bom estado de conservação para as crianças menores e uma sala de jogos com mesa de ping-pong. O pátio da escola é coberto e bem amplo onde as crianças podem desenvolver diversas atividades. 4 Figura 2 - Ambiente alfabetizador - Pátio Fonte: As autoras (2013) O refeitório fica no pátio da escola. Em uma mesa onde as merendeiras servem o lanche; eles fazem uma fila para pegar, e depois sentam em outras duas mesas no pátio. Figura 3 - Ambiente alfabetizador - Refeitório Fonte: As autoras (2013) A escola possui uma biblioteca onde eles alugam livros todas as semanas, sendo que depois de lerem, contam as histórias para os outros colegas. 5 Figura 4 - Ambiente alfabetizador - Biblioteca. Fonte: As autoras (2013) A sala de informática possui cadeiras adaptadas para as crianças, e um espaço bem amplo. Quanto à produção escrita das crianças, a professora trabalha com textos. Inicialmente, todos lêem juntos e em seguida fazem a interpretação oralmente.Nesta oportunidade, os alunos podem expressar suas opiniões, trabalhando a imaginação e a criatividade. Alguns lêem muito bem, outros fazem de conta, outros apresentam mais dificuldades, lendo devagar, soletrando, não leem palavras no plural, só conseguem com o auxílio da professora. A professora desenvolve o seu trabalho utilizando muitos textos, livros e cartazes. Figura 5: Ambiente alfabetizador: Produção Escrita Fonte: As autoras (2013) 6 A professora utiliza o método sintético. Há muitas atividades mecânicas para o exercício de memorização. As crianças exercitam bastante as letras do alfabeto e as sílabas. O treino lembra a concepção mecanicista. As atividades desenvolvidas são baseadas nos livros didáticos, atividades estas que a professora passa no quadro, mas também utiliza bastante xerox do livro didático entre outros materiais que também são, na sua maioria, xerocados. Figura 6 - Ambiente alfabetizador - Atividades Fonte: As autoras (2013) Na sala há o cantinho da leitura, mas é notável o desinteresse das crianças pelos livros. Elas quase nem pegam, a professora também não incentiva, pois não conta histórias para elas. Figura 7 -Ambiente alfabetizador - Cantinho da leitura Fonte: As autoras (2013) 7 Logo após a observação e o registro no ambiente alfabetizador, realizamos uma entrevista com alguns alunos. Perguntamos à eles como é o espaço da escola. Eles responderam que o espaço da escola é grande, que a quadra tem sombra para brincar, que gostam de brincar no pátio na hora do recreio e que a sala é muito boa. Sobre o modo como a professora ensina, alguns alunos disseram que é fácil e que aprendem desse jeito. Outros disseram que não conseguem acompanhar, pois as atividades são passadas muito rapidamente. Perguntamos então sobre a leitura e responderam que a professora toma leitura da turma, mas não conta histórias. Eles apenas alugam livros na biblioteca uma vez por semana e no dia da entrega fazem atividades, apresentam a história do jeito que entenderam para a turma, avaliando assim a leitura e a interpretação de cada um. O livro didático é bastante usado, porém alguns preferem as atividades passadas no quadro, que muitas vezes são retiradas do livro. E outros já gostam mais do livro, relataram que gostam mais de matemática, pois gostam de resolver continhas. Sobre os jogos, falaram que não há muitos na sala, apenas um lego e a professora deixa jogar no final da aula, depois que terminam as atividades. Às vezes pegam emprestado jogos do PIBID e eles também gostam bastante. Segundo Vygotsky, “O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações dela mesma”. Assim, no espaço escolar, o jogo pode ser um veículo para o desenvolvimento social, emocional e intelectual dos alunos. O professor das fases iniciais pode e deve permitir a brincadeira. Entretanto, mais importante que isso é definir os objetivos que se deseja alcançar, para que este momento seja, de fato, significativo. “Ensinar a brincar”, de forma a mediar ações na zona de desenvolvimento proximal é uma forma de promover o crescimento de seu aluno. Conforme presenciamos na escola, a utilização dos jogos é limitada, sendo que há poucos ao alcance das crianças, fazendo com que os mesmos não tenham possibilidades de ter um diferencial para a aprendizagem, e não vivam sempre em uma rotina escolar. 4. Considerações finais A pesquisa teve por objetivo conhecer a realidade das escolas, a metodologia utilizada por elas e a análise do ambiente alfabetizador. A partir dos objetivos, pudemos perceber que a escola ainda não está preparada para receber as crianças com seis anos. Muitas vezes nem a escola e nem os professores. A escola não possui ambientes adequados e aconchegantes. Não há um parque colorido com brinquedos que chamem a atenção das crianças, que faça elas gostarem de vir para a escola. A sala é colorida, com muitos cartazes, porém as atividades são sempre as mesmas, sem jogos que ajudam no desenvolvimento das crianças. Em relação à metodologia, vimos que ainda há muito sobre a presença de atividades mecânicas para exercícios de memorização. As crianças realizam treinos frequentes de sílabas novas e dos números. As atividades desenvolvidas são baseadas nos livros didáticos, atividades no quadro e muito xérox. Como vimos na pesquisa de campo, na escola, a criança não tem oportunidade de expressar suas ideias e precisa adaptar-se ao vocabulário das cartilhas. Conceitos e valores nem aparecem, e, quando aparecem, não se identificam com as crianças, pois se encontram totalmente fora do conceito. Os textos são fragmentados, tendo por objetivo apenas a memorização das palavras, são totalmente soltos, descontextualizados. 8 O ambiente alfabetizador, muitas vezes não está preparado para receber as crianças. As salas são pequenas, a mobília não é adaptada ao tamanho das crianças, e não há um espaço suficiente para as crianças brincarem Referencias http://educador.brasilescola.com/comportamento/a-importancia-dos-jogos-segundovygotsky.htm http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/a-educacao-infantil-tem-promovido-umambiente-alfabetizador.htm Alfabetização em questão – Silvia M G Colello – 1995 Vigotsky lev semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores 4º Ed – são Paulo: Martins fontes 1991 As cartilhas no processo de alfabetização – Maria sirlene pereira schlickmann 2001 O que é método Paulo freire/Carlos Rodrigues Brandão 1º Ed – são Paulo : brasiliense 1981 Educação infantil e sociedade: questões contemporâneas/ organizadores: Alexandre Fernandes Vaz e Caroline machado momm – nova Petrópolis - 2012 9