Seção Gestão Cultural
Texto escrito por Liliana Sousa e Silva. Socióloga, doutora em Cultura e Informação pela ECA/USP. Desenvolve estudos e pesquisas em políticas culturais e gestão cultural, além de prestar consultoria a instituições e projetos culturais.
1. Apresentação
A área de Gestão Cultural deste site apresenta subsídios para os processos de concepção, planejamento, elaboração, gerenciamento e avaliação de projetos culturais. Com esses conteúdos, pretendemos contribuir para o trabalho de gestores culturais, assim como fornecer material de apoio para a formação de agentes culturais locais. Para começar, apresentamos uma definição de gestão cultural e damos início a uma conversa sobre os conceitos de cultura. Em seguida, trazemos algumas ferramentas que podem auxiliar no desenvolvimento de projetos culturais. Ao final de cada tópico, em “Para saber mais”, há indicações de sites e documentos complementares para consulta 1. Lembramos que os outros conteúdos do site (vídeos, debates e Saiba Mais) poderão ajudar na qualificação do trabalho dos gestores e subsidiar a elaboração de projetos culturais.
1
Não nos responsabilizamos pela manutenção desses sites na web.
2. O que é gestão cultural?
Gestão cultural é um conjunto de atividades relacionadas à concepção, implementação, gerenciamento e avaliação de planos, políticas, programas, projetos e ações voltados para a produção, a distribuição e o uso da cultura. Ela busca atender a demandas culturais da sociedade e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas.
Os processos de gestão cultural podem dar­se tanto no âmbito de organizações da administração pública – como secretarias de cultura, museus, centros culturais, entre outras instituições –, como também em empresas, fundações ou institutos privados, em organizações da sociedade civil, ou mesmo em grupos culturais ou comunitários. Em cada uma dessas instâncias, a gestão assumirá características específicas, com diferentes graus de complexidade, e poderá recorrer a ferramentas de gestão que melhor se adeqüem aos seus objetivos.
A administração pública, por exemplo, pode atender a determinadas necessidades de grupos ou indivíduos, ou mesmo desenvolver ações de interesse público (com foco no desenvolvimento de uma região, na geração de oportunidades de emprego e renda, na ampliação do acesso aos meios de produção e fruição cultural, na melhoria das condições de vida da população, entre outros objetivos). A gestão no âmbito de uma empresa privada pode visar aos retornos institucionais que um projeto cultural é capaz de proporcionar, ou às benesses fiscais obtidas por meio do uso da legislação de incentivo à cultura. Uma empresa que atua no mercado cultural pode preocupar­se com a concorrência ou com produtos e serviços que gerem lucro. Uma organização sem fins lucrativos, por sua vez, pode privilegiar meios para garantir a sustentabilidade de sua proposta ou mesmo a sua auto­sustentabilidade. Estes são apenas alguns exemplos que mostram a diversidade de objetivos possíveis e a complexidade que a gestão cultural envolve; para cada situação, haverá ferramentas de gestão mais ou menos adequadas, mas é importante lembrar que não há modelos gerais a seguir. Tendo em vista a variedade de situações em que a gestão é requerida, assim como a pluralidade de demandas culturais que possa vir a responder, a gestão envolve criatividade na busca de alternativas e inovação. Além disso, exige uma sensibilidade para a compreensão e a análise de dinâmicas sociais diversas, a capacidade de entender os processos criativos e de estabelecer relações de cooperação com o mundo artístico e suas diversidades expressivas.
Considerando que não existem modelos gerais, a gestão cultural precisa criar referenciais próprios de ação, adaptados às suas particularidades, a partir do conhecimento do contexto no qual vai atuar. Como agente de mudança, o gestor precisa estar atento ao cenário cultural, identificando demandas, potencialidades, desejos e fragilidades locais, assumindo, dessa forma, um papel de mediador que opera entre atores diversos.
A gestão cultural pode envolver uma perspectiva de curto, médio ou longo prazo; pode efetivar­se no âmbito de políticas, programas, projetos, ou mesmo em eventos ou ações pontuais. Neste site, a gestão será abordada sob o ponto de vista de um projeto cultural específico, com começo, meio e fim determinados, e serão apresentadas algumas ferramentas que podem contribuir para a sua viabilização.
2.1 Para saber mais:
BARROS, José Márcio. “Diversidade cultural e gestão: apontamentos preliminares”. IV ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, Faculdade de Comunicação / UFBA, 2008. Disponível em http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14323­01.pdf. Acesso em 07/12/2009.
O que o debate sobre a proteção e a promoção da diversidade cultural tem a ver com a questão da gestão cultural? Deve­se buscar uma gestão da diversidade cultural ou a pluralização dos modelos de gestão?
CUNHA, Maria Helena. “Gestão cultural: construindo uma identidade profissional”. III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, Faculdade de Comunicação / UFBA, 2007. Disponível em http://www.cult.ufba.br/enecult2007/MariaHelenaCunha.pdf. Acesso em 07/12/2009. Reflexão sobre o processo de constituição da profissão em gestão cultural, desde a década de 1980, período de institucionalização do setor público de cultura e da complexificação do mercado de trabalho.
MARTINELL, Alfons. “Los agentes culturales ante los nuevos retos de la gestión cultural”. Revista Iberoamericana de Educación, n. 20, mai/ago 1999.
Disponível em http://www.rieoei.org/rie20a09.htm. Acesso em 07/12/2009.
Reflexão crítica sobre o conceito de agente cultural utilizado nos países ibero­americanos.
Revista Observatório Itaú Cultural/OIC – n.6 (jul./set. 2008). São Paulo SP: Itaú Cultural, 2008. Disponível em http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/000991.pdf. Acesso em 07/12/2009.
Reflexão sobre os caminhos para formação profissional do gestor cultural. Quais os desafios que o setor público e as instituições privadas enfrentam para a formação e a qualificação de profissionais no campo da cultura?
SOUSA E SILVA, Liliana. “Gestão cultural na e para a cidade”. Cultura e Mercado. Artigo escrito para o Observatório Itaú Cultural, em maio de 2008, em colaboração de Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira. Disponível em http://www.culturaemercado.com.br/ideias/gestao­cultural­na­e­para­a­
cidade. Acesso em 07/12/2009.
A gestão cultural na e para a cidade parte da idéia de que os cidadãos são criadores de sua própria cultura, não apenas espectadores, o que implica em atuar com a cultura no plano do cotidiano. 3. Gestão cultural e conceitos de cultura
Quando falamos em gestão cultural, a que cultura estamos nos referindo? Essa é uma questão que se colocará para o gestor cultural, pois ele se verá diante de diferentes concepções de cultura e terá que fazer uma escolha. A cultura não é uniforme em suas propostas e conseqüências; ela pode envolver até mesmo visões diferenciadas (por vezes conflitantes) sobre o que é cultura ou o que se deve fazer com ela. Assim, a gestão cultural vai além da simples aplicação de ferramentas de gestão; ela envolverá sempre uma escolha do “tipo” de cultura que se quer promover. O debate mais comum sobre conceitos de cultura em gestão cultural, assim como nas políticas culturais, é aquele que distingue o que seria um sentido amplo de um sentido restrito de cultura. Para Marilena Chaui 2, a cultura, no sentido restrito, é associada a determinadas práticas e idéias produzidas por grupos que se especializam em diferentes formas de manifestação cultural – as artes, as ciências, as técnicas, as filosofias. Sob esse ponto de vista, a cultura estaria relacionada a um saber especial, superior, restrito a determinados grupos. Já a cultura em sentido amplo pode ser entendida como o modo como indivíduos ou grupos respondem às suas próprias necessidades e desejos simbólicos; é o conjunto de práticas, idéias e sentimentos que exprimem as relações simbólicas dos homens com a realidade (natural, humana, sagrada). Nessa perspectiva, todos os seres humanos participam da cultura, seja como produtores de idéias, práticas e símbolos, seja como reprodutores da cultura estabelecida. O sentido amplo de cultura é freqüentemente associado ao conceito antropológico, que, em linhas gerais, entende a cultura como o conjunto de padrões de comportamento, regras, costumes, valores, crenças, práticas e saberes acumulados e transmitidos dentro de um determinado grupo social. No entanto, vale assinalar que mesmo na Antropologia não existe uma definição única do que seja cultura, pois cada linha teórica adota uma perspectiva específica na abordagem que faz das dinâmicas culturais.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), buscando delinear uma definição abrangente de cultura para as políticas culturais, define cultura como:
conjunto de características distintas espirituais, materiais, intelectuais e afetivas que caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Abarca, além das artes e das letras, os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. 3 É importante lembrar que uma gestão cultural que adote o conceito antropológico de cultura, que parta do pressuposto de que “cultura é tudo”, não consegue dar conta da amplitude dessa noção, nem gerar mecanismos capazes de viabilizá­la na prática. Assim, para evitar que os projetos limitem­se apenas às boas intenções, é imprescindível reconhecer os limites de seu campo de atuação, adotando­se um conceito operacional de cultura. Ou seja, o gestor precisará definir, por si mesmo, o que atribui um caráter cultural ao seu projeto: essa definição irá corresponder a um determinado entendimento de cultura.
Como exemplo, o Ministério da Cultura (MinC), desde o início da gestão de Gilberto Gil (2003), adotou um conceito abrangente, antropológico, que considera três dimensões interdependentes da cultura: a dimensão simbólica, relacionada ao imaginário, às expressões artísticas e práticas culturais; a cultura como cidadania e direito; a cultura 2
3
CHAUI, Marilena et alii. Política cultural. Porto Alegre: Mercado Aberto/Fundação Wilson Pinheiro, 1984.
UNESCO (Mondiacult, México, 1982).
como economia, geradora de crescimento, emprego e renda. Essa definição norteia todos os programas da instituição e delimita, ainda que de forma bastante ampla, o escopo de suas ações.
3.1 Para saber mais:
Para aprofundar a discussão sobre conceitos de cultura e sua relação com a gestão cultural, consulte os materiais disponíveis neste site:
VÍDEOS
O que é cultura? Programa Cultura Viva
Cultura e Cidadania
Cultura e Sustentabilidade
Cultura e Educação
Cultura e Liberdade Cultura e Arte Cultura, Encontros e Diálogos Cultura Digital Redes Sociais A Teia DEBATES
Cultura e Sustentabilidade Cultura e Educação Arte e Pensamento Tradição, Memória e Ruptura Cultura Digital e Novas Gramáticas
Redes Sociais e Comunicação BOTELHO, Isaura. “As dimensões da cultura e o lugar das políticas públicas”. São Paulo em Perspectiva, 15 (2) 2001. Disponível em
http://marista.edu.br/files/2009/01/as­dimensoes­da­cultura­e­o­lugar­das­politicas­
publicas.pdf. Acesso em 07/12/2009. O artigo analisa o universo cultural sob a ótica das dimensões que permitem formular estratégias diversificadas de políticas públicas na área da cultura.
BRANDÃO, Carlos R. “Viver de criar – Cultura, cultura popular, arte e educação”. TVE Brasil.
Disponível em http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2005/lacp/tetxt1.htm. Acesso em 07/12/2009.
O autor mostra como os seres humanos são uma estranha espécie de seres vivos, pois apesar de possuírem uma mesma herança genética, criam maneiras diversas de ser e viver, pensar e sentir, falar e expressar sentimentos, saberes e sentidos por meio de imagens e de idéias.
COELHO, Teixeira. A cultura e o seu contrário. São Paulo: Iluminuras, 2009, Capítulo 1 – “Nem tudo é cultura” (p. 17­48). Disponível em http://www.itaucultural.org.br/bcodemidias/001054.pdf. Acesso em 07/12/2009.
Para o autor, cultura não é o todo e nem tudo é cultura; cultura é uma parte do todo. A idéia antropológica, segundo a qual cultura é tudo, não serve para os estudos de cultura, menos ainda para os estudos e a prática da política cultural.
MARTINS, Maria Helena Pires. “A importância da arte na cultura”. EducaRede, O Assunto é. Disponível em http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?
pg=oassuntoe.interna&id_tema=16&id_subtema=1. Acesso em 07/12/2009. Tudo é cultura? Sim e não, dependendo de usarmos o conceito amplo de cultura ou o conceito restrito. Nesse texto, a autora discute questões como: cultura e arte, cultura contemporânea, aprendizado cultural, sugerindo, também, como tratar a cultura na escola.
4. Financiamento da cultura
O financiamento da cultura relaciona­se ao conjunto de iniciativas, medidas ou mecanismos capazes de prover recursos financeiros para o desenvolvimento do setor cultural. Existem diversas formas de financiamento da cultura, que podem ser assim resumidas:
• Fundos públicos (internacionais, federais, estaduais, municipais)
• Receitas geradas pela comercialização de produtos e/ou serviços
• Recursos privados provenientes de pessoas físicas ou jurídicas (investimento, doação ou patrocínio – com ou sem utilização das leis de incentivo fiscal à cultura)
• Permutas ou apoios culturais
Em alguns países, como a França, prevalece a idéia de que a cultura deve ser subsidiada pelo Estado; assim, várias atividades culturais recebem subvenções do governo. Em outros países, como os Estados Unidos, há uma forte tradição de financiamento da cultura pela iniciativa privada (seja por pessoas físicas ou jurídicas), com institutos e fundações empresariais que destinam fundos a diversos tipos de projetos e segmentos artísticos. No Brasil há um padrão misto de financiamento da cultura, que mescla recursos públicos a “fundo perdido” (investimento realizado sem expectativa de retorno do montante investido, realizado geralmente pelo Estado), recursos incentivados (por meio da legislação de incentivo fiscal à cultura) e recursos privados de empresas (mediante apoio e/ou patrocínio corporativo, com intenção de ganho simbólico ou de imagem). Cabe destacar que o setor cultural é formado por atividades rentáveis (geralmente ligadas às indústrias culturais) e por atividades não rentáveis que, por não estarem inseridas na lógica do mercado, precisam ser apoiadas por outras fontes. Dessa forma, para garantir a vitalidade cultural da sociedade, é necessário existir uma diversidade de fontes de recursos para a cultura.
A Agenda 21 da Cultura 4 defende que o financiamento público da cultura seja garantido por diversos instrumentos, como o financiamento direto de programas e serviços públicos, o apoio a atividades da iniciativa privada por meio de subvenções, assim como mecanismos de microcrédito, fundos de risco, entre outros. Também considera fundamental a criação de sistemas legais que ofereçam incentivos fiscais às empresas que investirem em cultura, porém sempre tendo em vista o respeito ao interesse público. O financiamento público direto da cultura é efetivado por meio de repasse de verbas para a manutenção de instituições e fundações culturais; de subsídios a artistas e grupos culturais; de fundos de cultura que financiam projetos de interesse público, geralmente por meio de editais (instrumentos de seleção pública de projetos).
No Brasil, o uso de editais para a seleção de projetos culturais é cada vez mais freqüente e faz com que a destinação dos recursos para a área cultural seja feita de forma transparente, com regras claras e critérios objetivos. As seleções públicas são estratégicas para o acesso aos meios de produção da cultura e para o fortalecimento da diversidade cultural. É importante lembrar que os editais de fomento a projetos culturais não são exclusivos de órgãos da administração pública; hoje é comum ver empresas privadas que lançam editais para a seleção de projetos, visando alinhar suas ações de patrocínio às estratégias de comunicação corporativa da empresa.
Dessa forma, entre as várias alternativas existentes (lembrando que ainda estamos longe de dar conta de toda a demanda do setor cultural brasileiro), o gestor cultural pode pleitear recursos para o financiamento de seus projetos culturais. Para isso, é importante ficar atento aos programas de fomento à cultura e editais lançados no país, não só na esfera governamental, mas também na iniciativa privada. Cada edital terá características específicas e o gestor precisará verificar quais são aqueles que poderiam abarcar os seus projetos. Também precisa levar em conta que muitos editais exigem que os projetos estejam enquadrados nas leis de incentivo.
As leis de incentivo fiscal à cultura, por sua vez, podem ser consideradas como uma forma indireta de financiamento público. Esse mecanismo permite o abatimento de parte do valor investido em projetos culturais (desde que previamente aprovados pelo governo) nos impostos devidos por pessoas físicas ou jurídicas. Hoje no Brasil existem leis de incentivo no âmbito federal, estadual e municipal. Conforme a esfera de governo, a dedução recairá sobre os impostos correspondentes, por exemplo: • Legislação federal – Imposto de Renda (IR)
• Legislação estadual – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS)
• Legislação municipal – Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ou Imposto sobre Serviço (ISS)
A Agenda 21 da Cultura é um documento elaborado no “Fórum Universal das Culturas – Barcelona 2004” para orientar as políticas públicas de cultura.
4
Embora contribua de fato para a ampliação dos recursos destinados ao financiamento da cultura, o uso das leis de incentivo ainda é polêmico. Isso porque a maior parte dos recursos canalizados a projetos culturais é proveniente dos cofres públicos (uma vez que o governo abre mão de parte dos impostos que receberia). Porém, a destinação desses recursos é feita, em última instância, pelas empresas, que decidem os projetos que querem incentivar. Assim, projetos que estão distantes das regiões de atuação das empresas ou que não trazem retornos à sua imagem institucional, não conseguem ser beneficiados por esse mecanismo. Vivemos hoje no Brasil 5 um intenso debate sobre a continuidade, as mudanças ou possíveis revisões que precisam ser feitas nas leis, para que elas possam trazer benefícios de forma mais abrangente e democrática.
Por fim, as receitas próprias dos projetos podem ser obtidas por meio da comercialização de ingressos, produtos e/ou serviços derivados diretamente do processo de produção cultural, ou também da venda de outros produtos e serviços oferecidos em espaços próximos ao da realização das atividades. Também podem decorrer da aplicação dos direitos autorais, com o pagamento de royalties aos criadores ou aos detentores dos direitos patrimoniais referentes às obras.
Direito Autoral
A Lei nº 9.610, de 19/02/1998, ou Lei de Direito Autoral, regula os direitos de autor e outros que lhes são conexos.
O Direito de Autor ou Direito Autoral é o ramo do Direito Privado que regula as relações jurídicas, advindas da criação e da utilização econômica de obras intelectuais estéticas e compreendidas na literatura, nas artes e nas ciências.* (Carlos Alberto Bittar)
Direitos que os criadores intelectuais têm em relação às suas obras:
•
•
•
Direito patrimonial – Formas de uso e exploração econômica da obra.
Direito moral – Direito do autor de ter a autoria da obra a ele atribuída.
Direitos conexos – Direitos reconhecidos a determinadas categorias que auxiliam na criação, produção ou difusão da obra intelectual (direitos dos que utilizam obras intelectuais para manifestar seu talento ou realizar sua produção, mas que não são obrigatoriamente os autores).
Domínio Público
O Direito Autoral tem um prazo de proteção – quando termina o prazo, a obra deixa de pertencer ao domínio privado e passa a ser de domínio público (de uso livre de todos). De acordo com o artigo 41 da Lei nº 9.610/98, os direitos patrimoniais do autor perduram por 70 anos contados de 1º de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil.
*BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Autor. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
5
A Lei Rouanet, por exemplo, há vários anos vem sendo objeto de debate devido às distorções que decorrem de sua aplicação. Em 2009, o Ministério da Cultura apresentou um projeto de lei para a sua reformulação.
4.1 Para saber mais:
•
BARBOSA, Frederico. “Os dispêndios com políticas públicas culturais em 2003”. In: BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto de Pesquisas Econômicas. Economia e política cultural: acesso, emprego e financiamento. Brasília: Ministério da Cultura, 2007, p. 233­250. (Capítulo 8). Disponível em
http://www.ipea.gov.br/005/00502001.jsp?ttCD_CHAVE=501. Acesso em 07/12/2009.
O texto apresenta dados quantitativos e uma análise dos dispêndios culturais por esfera de governo, grandes regiões e unidades da federação, em 2003. Segundo o autor, nesse ano o financiamento público da cultura no Brasil ultrapassou 2 bilhões de reais.
•
DURAND, José Carlos. “Cultura como objeto de política pública”. São Paulo em Perspectiva, 15 (2), abr/Jun 2001. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010288392001000200010. Acesso em 07/12/2009. O artigo aborda alguns anacronismos, ambigüidades, indefinições e vazios da gestão cultural pública no Brasil, do nível local ao nacional. •
GOVERNO DA BAHIA / Secretaria de Cultura. Orientações para elaboração de projetos culturais. Salvador, BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia, agosto de 2008.
Disponível em http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/editais/pdf/manual_projetos.pdf. Acesso em 07/12/2009. Esse manual foi criado com o objetivo de capacitar agentes culturais, artistas e produtores, assim como informá­los sobre formas e possibilidades existentes de financiamento da cultura. Em “Oportunidades” há quadros com organizações, programas e editais de fomento à cultura.
•
NASCIMENTO, Alberto Freire. “Política cultural e financiamento do setor cultural”. IV ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador, UFBA, maio de 2008.
Disponível em http://www.cdp.ufpr.br/ucap/anexos/organizacao_de_eventos/parte02/financiament
o_cultura/politica_cultural_financiamento_setor_cultural.pdf. Acesso em 07/12/2009.
No Brasil, a histórica falta de recursos financeiros públicos para o setor cultural alimenta discussões sobre política cultural e modelos de financiamento da cultura. Nos últimos anos o setor empresarial firmou­se como agente de financiamento, beneficiado pelas leis de incentivo fiscal nas várias instâncias de governo.
•
SARKOVAS, Yacoff. “Quem Paga a Conta da Cultura”. Folha de S. Paulo, Opinião, Tendências / Debates, 09 de Julho de 2003.
http://www.canalcontemporaneo.art.br/e­nformes.php?codigo=145#4 (livre). Acesso em 07/12/2009.
Para o autor, a falta de compreensão sobre a natureza das fontes de financiamento da cultura levou boa parte do meio cultural a cometer equívocos estratégicos, como abrir mão de fundos públicos de financiamento e se tornar cúmplice de um sistema de incentivo fiscal que transfere dinheiro e responsabilidade públicos para o interesse privado.
•
“Seminário Perspectivas do Investimento em Cultura”
Palestras proferidas no “Seminário Perspectivas do Investimento em Cultura”, realizado pela Pinacoteca, Secretaria do Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo em 2008. O seminário teve por objetivo fomentar o debate sobre o financiamento da cultura no país e a parceria entre a ação estatal e a sociedade civil. Disponível em http://www.jleiva.com.br/seminarios. Acesso em 07/12/2009.
Editais:
Ministério da Cultura – Observatório de editais
Disponível em
http://www.cultura.gov.br/site/categoria/editais­ministerio­da­cultura. Acesso em 07/12/2009.
Editais do Ministério da Cultura e seleções públicas de iniciativas de empresas, instituições e entidades governamentais em todo o Brasil. Cultura e Mercado – Editais
Disponível em http://www.culturaemercado.com.br/category/editais. Acesso em 07/12/2009. Oportunidades de financiamento público e privado para empreendedores.
5. Ferramentas de gestão
5.1 Concepção e elaboração de projetos culturais
De maneira geral, “projeto” pode ser entendido como um instrumento de organização do trabalho, que abrange a descrição de etapas e recursos necessários para se alcançar um determinado objetivo. Segundo Hermano Thiry­Cherques 6, trata­se de uma organização transitória, que compreende uma seqüência de atividades dirigidas à geração de um produto singular em um tempo dado.
De acordo com essa definição, um projeto terá um objetivo claramente identificável em termos de custos, prazos e qualidade; ou seja, terá um resultado, um produto, que pode ser um bem tangível ou intangível, um serviço ou mesmo um conjunto de idéias. Além disso, um projeto será transitório, o que significa que terá um ciclo de vida determinado, com começo, meio e fim; ele extingue­se quando o seu objetivo é alcançado. Por fim, um projeto é um conjunto articulado de ações, com uma seqüência de atividades.
6
THIRY­CHERQUES, Hermano R. Projetos culturais: técnicas de modelagem. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 15.
Na área cultural, os projetos ganham uma dimensão adicional: são iniciativas voltadas para a ação sobre objetos reais e ideais que expressam valores espirituais – sentimentos e conhecimentos – significativos para determinado grupo social. 7
A elaboração de um projeto é essencial tanto para a produção de uma atividade artístico­
cultural, como para a solicitação de apoios e patrocínios. O projeto deve indicar de maneira clara e objetiva as atividades que se pretende realizar, como, quando e onde irão ocorrer, quem as desenvolverá e qual será o seu custo total.
Um projeto nasce do desejo de uma pessoa ou grupo e de uma identidade artística ou cultural; no entanto, se não levar em conta o contexto e as demandas culturais da sociedade, terá dificuldade para justificar­se. O processo de concepção e elaboração de um projeto cultural pode ser iniciado pela construção do “mapa do desejo” e do “mapa da demanda”, detalhados a seguir. 8 Mapa do desejo O “mapa do desejo” ajuda a identificar o que inspira e motiva a pessoa ou o grupo de criação a elaborar um projeto, assim como a definir a sua identidade artística ou cultural. As questões abaixo podem ser úteis para a construção desse mapa e para subsidiar posteriormente a formulação do projeto cultural:
•
•
•
•
•
•
O que o projeto cultural irá gerar? Um bem artístico? Um serviço? Um novo conhecimento? Uma idéia? Qual (is)?
Que linguagem artístico­cultural será priorizada?
Quais são os beneficiários potenciais do resultado do projeto? Que tipo de relação com o público se deseja estabelecer?
Por que queremos desenvolver esse projeto específico?
Quais as finalidades do projeto?
Mapa da demanda
O “mapa da demanda” refere­se às circunstâncias (culturais, sociais, econômicas, políticas, estéticas) que reclamam atitudes e que justificam a importância do projeto em um determinado contexto. Pode reduzir as incertezas no momento inicial de concepção do projeto cultural e possibilitar um conhecimento mais aprofundado sobre as variáveis que podem afetá­lo. As questões que ajudam na elaboração desse mapa são:
•
•
•
•
•
7
Por que o projeto é importante?
Existe demanda para o projeto?
O momento econômico é favorável à realização do projeto?
Existem oportunidades evidentes para a ação que se pretende iniciar?
Existem ameaças e riscos? Quais são? Como lidar com eles? THIRY­CHERQUES, Hermano R. Op. cit. p. 28
A construção do “mapa do desejo” e do “mapa da demanda” foi inspirada no documento: “Como estruturar um projeto cultural”. PREFEITURA DA CIDADE DE LONDRINA. Incubadora de projetos – Um serviço cultural para toda a cidade, Rede da Cidadania.
8
• O universo do projeto é suficientemente conhecido ou serão necessários outros estudos?
• A idéia é inédita? Existem outras iniciativas similares? Caso afirmativo, qual poderia ser o nosso diferencial em relação a elas?
• Quanto, aproximadamente, poderá custar um projeto como este?
• Quem poderia se interessar em financiá­lo?
Para subsidiar a elaboração dos mapas, pode­se recorrer aos materiais disponíveis neste site, tais como:
VÍDEOS
O que é cultura? Programa Cultura Viva
Cultura e Cidadania Cultura e Sustentabilidade Cultura e Educação Cultura e Liberdade Cultura e Arte Cultura, Encontros e Diálogos Cultura Digital Redes Sociais A Teia DEBATES
Cultura e Sustentabilidade Cultura e Educação Arte e Pensamento Tradição, Memória e Ruptura Cultura Digital e Novas Gramáticas
Redes Sociais e Comunicação 5.2 Planejamento do projeto cultural
O planejamento – que pode ser situado na fase da “pré­produção” – é o momento de definição das estratégias para a realização do projeto cultural. É importante dedicar atenção especial a essa etapa, para que o projeto tenha sucesso. O planejamento ajuda na determinação da direção a ser seguida para se alcançar o resultado desejado; é uma ação que possibilita maior eficiência diante das condições existentes no ambiente e aumenta as possibilidades de êxito de uma iniciativa. Para Romulo Avelar 9, “planejar é abrir espaço no cotidiano para pensar o futuro”. Entre os itens a serem abordados no planejamento do projeto cultural, estão:
•
•
9
Abrangência geográfica – Locais de apresentação, exposição ou distribuição do produto resultante do projeto.
Logística da ação – Transporte, hospedagem, alimentação.
AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena. Notas sobre produção e gestão cultural. Belo Horizonte: Duo Editorial, 2008, p. 176.
•
•
•
•
•
•
•
•
Logística da distribuição – Como o produto vai chegar até as pessoas? Estratégia operacional – Etapas de trabalho; quem faz o quê; fluxo das informações; perfil da equipe e dos fornecedores.
Estratégia de divulgação – Canais de comunicação adequados ao público­alvo, ao orçamento e à natureza do produto ou serviço.
Análise jurídica – Direitos autorais (verificação da possibilidade de utilização de uma obra); contratações; seguros; taxas e impostos aplicáveis.
Estratégias para o extraordinário – Planos de contingência para eventuais ocorrências.
Cronograma estimado – Seqüência de atividades a serem desenvolvidas e prazos para a realização de cada etapa. Composição de recursos – Previsão de receita; recursos próprios; possíveis patrocinadores, apoiadores, parceiros; plano de cotas; programas de fomento; leis de incentivo.
Montagem de checklist – Instrumento de verificação e acompanhamento das atividades. 5.3 Formulação de um projeto cultural
Ainda que a formulação de um projeto cultural varie de acordo com as características do grupo, do tipo de projeto, da linguagem artística, do possível financiador ou de formulários pré­definidos, existem componentes básicos para a sua elaboração. Ao preparar o projeto a partir dos itens elencados a seguir, o gestor poderá fazer as adaptações necessárias para enquadrá­lo em diferentes situações ou programas, para a captação de recursos ou mesmo para subsidiar a fase de execução das atividades.
Identificação do projeto
A primeira página do projeto geralmente traz informações básicas que permitem uma rápida identificação de seu conteúdo, tais como:
•
•
•
•
•
•
Título do projeto
Área / Modalidade / Segmento em que se encaixa (artes cênicas, audiovisual, música, artes visuais, patrimônio cultural, literatura, cultura popular, cultura digital, entre outras)
Identificação do proponente (entidade ou pessoa que propõe o projeto)
Local (is) de desenvolvimento
Período de abrangência (datas para início e fim)
Resumo executivo (resumo curto e objetivo do que será feito, para quem e com qual finalidade)
Objeto  O que será feito?
Definição das principais características e produtos do projeto: se é uma ação, uma atividade ou um produto cultural.
 Onde será feito? Descrição da localização geográfica e dos espaços onde as ações irão ocorrer.
Objetivos
 Para que o projeto será feito?
Os objetivos devem ser expostos de maneira clara e sucinta, expressando os resultados esperados: produtos e benefícios (a curto, médio ou longo prazo).
•
•
Objetivo geral: o que se pretende alcançar; produto final do projeto.
Objetivos específicos: ações que contribuirão para o alcance do objetivo geral.
Justificativa
 Por que o projeto será feito?
Aqui se apresentam as motivações e razões para a realização do projeto, enfatizando­se as circunstâncias que favorecem a sua execução, a importância de sua realização, as contribuições para seu público­alvo e os atributos que o diferenciam de outros projetos. É o momento de convencimento da importância do projeto e da capacidade do proponente em realizá­lo. Podem ser inseridos dados de diagnóstico que mostrem as vantagens que o projeto pode trazer e dados quantitativos para ilustrar os potenciais benefícios do projeto. Perguntas norteadoras:
•
•
•
•
•
•
Como surgiu o projeto? Qual o seu histórico? Quais as motivações para formulá­
lo?
Em que contexto se insere o projeto? Qual a necessidade ou carência detectada? Qual a importância do projeto nesse contexto? Que circunstâncias favorecem a sua execução?
Qual o diferencial do projeto? (por exemplo: criatividade, contemporaneidade, tradição, alcance social, inovação nas linguagens artísticas, entre outros)
Quais os benefícios que o projeto poderá trazer para a população?
Qual a experiência do proponente?
Aqui se apresentam:
•
•
•
•
As vantagens estratégicas que o projeto pode trazer.
Os benefícios sociais que pode proporcionar.
A relevância do projeto no atendimento de demandas culturais da sociedade.
O impacto no contexto em que será desenvolvido.
Público­alvo
 Para quem o projeto será feito? Identificação do público que se quer atingir e expectativa de atendimento (quantidade direta e indireta de público). Perguntas norteadoras:
•
•
•
Para quem o projeto foi pensado e proposto?
Qual o perfil do público­alvo?
Qual a estimativa de público?
Aspectos que podem auxiliar na definição do público: •
•
•
•
Local onde o projeto será desenvolvido; condições de vida da população.
Linguagem a que se refere (artes visuais, artes cênicas, música, audiovisual, literatura etc.).
Proposta (experimental, popular, massiva, erudita etc.).
Faixa etária.
Estratégias de Ação / Metodologias
 Como o projeto será feito?
Aqui são descritos os procedimentos, etapas e estratégias a serem adotados na execução do projeto. É importante apresentar domínio da metodologia, bem como a sua adequação aos objetivos do projeto, para demonstrar a capacidade de gestão do proponente.
Perguntas norteadoras:
•
•
•
•
•
Como os objetivos do projeto serão alcançados?
Quais são as etapas do projeto?
Quais são os procedimentos para cumprimento de cada etapa?
Quem são os responsáveis por cada etapa? Que atividades desenvolverão?
Quais são os recursos disponíveis / necessários?
Recursos Humanos: quem vai realizar o projeto? o Definição da equipe; atribuições; requisitos para cada função; remuneração; fluxos de trabalho; formas de contratação; profissionais; fornecedores.
Recursos Físicos e Materiais: com que meios o projeto deve contar?
o Áreas físicas disponíveis / características
o Áreas complementares necessárias
o Material de consumo o Material permanente (mobiliário e equipamentos)
Recursos Institucionais: quais são as fontes de recursos? o Receitas previstas, programas de fomento, leis de incentivo, recursos próprios, patrocínios, apoios etc.
o Parcerias (instituições envolvidas e suas funções)
As etapas do projeto podem ser divididas em pré­produção, produção e pós­produção:
•
•
•
Pré­produção: etapa de planejamento (delineamento da idéia, análise de contexto, definição das estratégias de trabalho e elaboração do projeto; definição da equipe; orçamento; cronograma; estratégias de captação de recursos).
Produção: fase de execução do projeto, com implementação das atividades previstas.
Pós­produção: etapa de conclusão do trabalho (prestação de contas, avaliação dos resultados, elaboração de relatórios finais).
Plano de Comunicação
 Como o projeto será divulgado? A montagem do Plano de Comunicação envolve as seguintes etapas:
•
Identificação do público­alvo: perfil das pessoas a serem atingidas pelo projeto (faixa etária, sexo, classe social, crenças, atitudes, expectativas); quantidade de público (potencial de retorno da ação).
•
Definição das estratégias de comunicação: indicação dos canais de comunicação que serão utilizados para a divulgação das ações (mídias e veículos de comunicação – canais de rádio, TV, imprensa escrita, sites etc.) e dos materiais gráficos (folders, cartazes, filipetas, catálogos, banners etc.), com respectiva descrição (especificação do tipo de peça; dimensões). Plano de Distribuição
 Como o produto será distribuído?
No caso de projetos que resultem em produtos concretos, como CDs, livros, jornais ou mesmo espetáculos, apresentações e exposições, indica­se aqui a tiragem do produto (quantidade), o número de ingressos e as formas para a sua distribuição. Alguns editais e leis de incentivo prevêem que 20% do produto sejam distribuídos gratuitamente – nesses casos, pode­se inserir uma lista com entidades que serão beneficiadas (escolas, bibliotecas, museus, centros culturais etc.).
Informações que integram o Plano de Distribuição:
•
•
•
•
•
Número total de ingressos / exemplares
Cota para venda (preço normal / preço promocional)
Cota para patrocinador ou órgão financiador
Cota para distribuição gratuita
Previsão de receita
Cronograma  Quando o projeto será realizado?
O cronograma é uma ferramenta que situa no tempo as ações ou procedimentos necessários para a realização do projeto: identifica o início e o fim de cada tarefa, mostra a sucessão de tarefas e o fluxo de trabalho.
Mais informações em: Ferramentas de gestão ­ Gerenciamento de projetos Orçamento
 Quanto o projeto irá custar? O orçamento é um plano financeiro para implementação do projeto cultural, que funciona como uma referência para o controle de gastos. Um bom orçamento possibilita o correto dimensionamento do volume de recursos a serem captados, ajuda a evitar gastos por impulso e reduz as chances de prejuízo financeiro.
Perguntas norteadoras:
•
•
•
•
Qual o custo de cada etapa do cronograma?
Quais valores unitários e totais?
Qual o valor total do projeto?
Quais são as fontes previstas?
O orçamento pode ser apresentado em forma de planilha, na qual são discriminados todos os itens que envolvem despesas, com valores unitários e totais. Geralmente os projetos prevêem recursos para: pessoal e serviços; infra­estrutura; material de consumo; material gráfico; custos administrativos; comunicação e divulgação; impostos e taxas. O valor total do projeto é a soma de todos os itens da planilha. Vale considerar que a maioria dos editais possui uma cota limite de financiamento; caso o projeto extrapole o valor determinado, precisará comprovar a existência de outras fontes de financiamento. Os procedimentos para a montagem do orçamento são os seguintes: 10
1. Listagem dos itens de despesa
Listar minuciosamente todos os itens do projeto cultural que signifiquem despesas. É preciso levar em consideração as taxas e os impostos que incidirão sobre as operações; para isso, é importante consultar um contador sobre os recolhimentos obrigatórios que deverão ser pagos no projeto.
2. Classificação das despesas
Os itens de despesa devem ser classificados de acordo com sua natureza, por exemplo: remuneração de pessoal, serviços de terceiros, materiais, despesas de comunicação, despesas administrativas etc. 3. Realização de tomada de preços
Com a estrutura orçamentária em mãos, é o momento de iniciar a pesquisa de preços. Para que o orçamento seja o mais preciso possível, é recomendável efetuar pelo menos três cotações de cada item. 4. Lançamento de valores
Os valores coletados são lançados na planilha, em suas respectivas rubricas (ou seja, categorias de despesas). Nesse momento, é importante acrescentar um percentual que funcione como margem de segurança. Porém, esse percentual varia bastante no mercado e não existe um padrão a ser tomado como referência única. 5. Revisão do orçamento
Após a finalização da planilha orçamentária, será possível conhecer o custo total do projeto cultural. Nesse momento é preciso avaliar o potencial de captação de recursos ou vendas para verificar a viabilidade do projeto.
10
AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena. Notas sobre produção e gestão cultural. Belo Horizonte: Duo Editorial, 2008.
Exemplo de planilha orçamentária (adaptada da planilha da Lei Rouanet):
Item
1­ Descrição das Atividades
Item de despesa
1
2
3
4
5
6
5­ Valor Unitário
6­ Total da linha
Unidade de despesa referente à atividade mensurada na coluna 2
Quantidade de unidade de despesa descrita na coluna 3
Preço de cada unidade de despesa
Coluna 2
X
Coluna 4
X
Coluna 5
1
Mês
3
10
1
Faixa
Hora
14
50
1
Serviço
1
1
Unidade
1.000
1
Mês
5
1
Mês
5
1
Serviço
1
3­ Unidade
Quantidade de cada item da coluna 1
PRÉ­PRODUÇÃO
Itens de despesas das atividades preparatórias do projeto (pesquisa, curadoria, levantamentos, serviços preliminares, direitos autorais etc.)
Exemplo: Pesquisador
Total de Pré­produção
PRODUÇÃO/EXECUÇÃO
Itens relativos à execução do projeto.
Exemplo: Músicos
Exemplo: Aluguel de estúdio
Total de Produção/Execução
DIVULGAÇÃO/COMERCIALIZAÇÃO
Peças de divulgação do projeto.
Exemplo: Folder ­ Projeto Gráfico
Exemplo: Folder ­ impressão
Total de Divulgação/Comercialização
CUSTOS ADMINISTRATIVOS
Itens de administração do projeto, não da empresa. Exemplo: Coordenador do Projeto
Exemplo: Contador
Total de Custos Administrativos
IMPOSTOS/RECOLHIMENTOS
Pagamento de CPMF e INSS Total de Impostos/Recolhimentos
ELABORAÇÃO/AGENCIAMENTO
10% do somatório das atividades de 1 a 5 Total de Elaboração e Agenciamento
TOTAL DO PROJETO (somatório de 1 a 6)
4­ Quantidade
2­ Quantidade
7­ Total
Soma dos totais de cada linha da Fase
5.4 Gerenciamento do projeto cultural
Checklist
Um checklist bem elaborado será um instrumento precioso no momento de execução do projeto. Sua utilização permite a checagem de cada procedimento necessário à realização do projeto, reduzindo a chance de eventuais esquecimentos. O registro do andamento das ações permite à equipe identificar as providências pendentes e favorece a tomada de decisões. A elaboração do checklist inicia­se com a identificação das etapas e dos procedimentos necessários para a concretização do projeto; em seguida, essas informações são organizadas em formulários, o que facilita o lançamento de dados e a consulta pela equipe.
Exemplo de checklist (apresentação de espetáculo teatral): 11
Observação: os itens abaixo variam conforme as características do projeto cultural e devem ser adaptados às necessidades específicas de cada ação.
Evento:
Nome do espetáculo:
Produtor:
Informações sobre o espetáculo:
Diretor / Coreógrafo / Duração / Release / Direitos Autorais etc.
Programação / Locais de apresentação:
Cidade / Data / Horário / Local de apresentação / Endereço / Telefone / Fax / Pessoa de contato / Mapa do espaço e equipamentos / Ingressos
Cachês:
Forma de pagamento:
Recibo:
Contratos:
Integrantes da equipe:
Nome / Função / Documento
Cronograma:
Dia ___/___ Atividades: Transporte (aéreo / rodoviário / traslados):
Equipe / Cenários / Figurinos /Equipamentos
Hospedagem:
Rooming list (Número de apartamentos single / casal / duplos / triplos)
Alimentação (restaurantes / lanches):
Camarins (itens necessários):
Construção do cenário:
Espaço cênico:
Características / Dimensões
Material cênico:
Equipamentos e materiais:
Descrição / Empresa locadora
Merchandising:
Inserção de logomarca / Venda de material
Programação visual e produção de material gráfico:
Agência / Peças gráficas (especificações, logomarcas aplicadas) / Gráfica / Criação e produção de site / Produção de banners e placas
Assessoria de imprensa:
Registro fotográfico:
Registro em vídeo:
Clipping (impresso e eletrônico):
Distribuição do material gráfico:
Segurança:
Carregadores:
Liberações:
SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais / ECAD – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição/ Corpo de Bombeiros / Prefeitura Municipal
Patrocinadores:
Apoiadores:
Venda de ingressos:
Envio de convites:
11
Adaptado do livro: AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena. Notas sobre produção e gestão cultural. Belo Horizonte: Duo Editorial, 2008, p. 182­198.
Cronograma
A montagem de um cronograma – ferramenta de organização das atividades do projeto em seqüência temporal – é uma ação imprescindível para o bom gerenciamento do fator tempo. O cronograma permite a visualização de momentos críticos, confere maior clareza para a tomada de decisões e possibilita o controle dos prazos para cumprimento de cada tarefa.
A forma usual de montagem do cronograma é em uma tabela que contém as etapas do projeto e seu período de execução (pode ser por semana, quinzena ou mês). Geralmente é dividido em pré­produção (preparação, momento prévio da execução do projeto), produção (execução do projeto) e pós­produção (finalização do projeto). Um método interessante para a sua montagem é trabalhar de trás para frente, obedecendo aos seguintes passos:
1. Escolha da data ideal para lançamento ou estréia
Deve­se levar em conta o calendário da cidade ou região, as datas comemorativas, feriados, eventos, entre outros aspectos que possam ter efeitos nas ações do projeto.
2. Estabelecimento de datas­limite para cada atividade
Uma vez definida a data de lançamento ou estréia, inicia­se a montagem do cronograma. O trabalho consiste em estabelecer datas­limite para o cumprimento de cada atividade. Em seguida, as atividades são encadeadas seqüencialmente, observando­se a existência de pré­requisitos de umas em relação às outras, considerando­se, também, as margens de segurança necessárias para garantir a estabilidade da produção.
Exemplo de cronograma (no caso, o projeto é de montagem de uma peça teatral):
Fases
Elaboração do projeto
Pré­produção
1
2
3
4
5
6
7
Direitos autorais
Locação de espaço
Ensaios
Locação de equipamentos e teatro
Criação e confecção de figurinos
Criação e confecção do cenário
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Desmontagem do cenário Elaboração do relatório final
Pós­produção
Devolução de materiais e objetos
Elaboração do relatório financeiro Dia / Mês
Dia / Mês
Divulgação
Temporada
Dia / Mês
Produção gráfica
Montagem do cenário
Data limite
Dia / Mês
Captação de recursos
Composição da equipe
Produção
Mês
Etapas
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Dia / Mês
Gestão orçamentária
A partir do início efetivo das ações previstas no projeto cultural, as despesas começam a ocorrer. Nesse momento, é fundamental ter controle total sobre a execução dos gastos e buscar a otimização dos recursos disponíveis. A planilha orçamentária, elaborada na etapa de planejamento, servirá de guia e deverá ser consultada sistematicamente para que os valores previstos em cada rubrica não sejam excedidos. Caso ocorram fatos imprevistos ou mudanças nos planos previamente traçados, é possível que surja a necessidade de efetuar ajustes nas rubricas originais. Essas alterações deverão levar em conta o montante de recursos disponível e manter equilibrada a relação entre despesas e receitas. Se o projeto estiver sendo realizado com recursos provenientes de leis de incentivo fiscal à cultura ou de programas públicos de fomento, é fundamental seguir os trâmites indicados pelo órgão responsável para efetuar alterações na planilha orçamentária.
Durante todo o processo, é fundamental manter organizados os documentos fiscais, inclusive os comprovantes de recolhimento de taxas e impostos, para posterior prestação de contas. É recomendável, também, lançar paulatinamente os valores gastos nas planilhas de prestação de contas indicadas pela organização financiadora, o que contribuirá para o controle do orçamento.
Além da planilha orçamentária, outro instrumento valioso na gestão orçamentária é o fluxo de caixa, que permite o acompanhamento das entradas e saídas de recursos financeiros. Esse instrumento pode ser montado na forma de um quadro, onde são lançadas as receitas e as despesas. Exemplo de quadro de fluxo de caixa: 12
Entradas
Fonte
Saldo do ano anterior
Patrocínio A
Apoio B
Bilheteria
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Venda de produtos
Apresentações fechadas
Outras
Total das entradas
Saídas
Despesa
Pessoal
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Materiais de consumo
Passagens e hospedagem
Serviços de terceiros
Material gráfico
Mídia
Despesas diversas
Total das saídas
Resumo
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Total das entradas
Total das saídas
Saldo mensal
Saldo
acumulado
12
Adaptado do livro: AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena. Notas sobre produção e gestão cultural. Belo Horizonte: Duo Editorial, 2008, p. 232­233.
Documentação
O registro do processo de trabalho poderá auxiliar na elaboração de relatórios parciais e do relatório final, assim como na prestação de contas à organização financiadora. A documentação gerada – fotografia, vídeo, áudio, textos, depoimentos etc. – poderá ser apresentada ao público ou à imprensa, ou, ainda, em instrumentos de divulgação institucional. Além disso, contribuirá para a composição do portfólio do grupo, ajudando em futuros projetos, além de garantir a memória de projetos realizados. 5.5 Avaliação do projeto cultural
A avaliação vem se tornando uma exigência dos financiadores, que querem demonstrações objetivas de que seus recursos foram bem aplicados e que conseguiram atingir os resultados esperados. No entanto, além de cumprir uma exigência externa, a avaliação pode ser um precioso instrumento de monitoramento da execução do projeto, de correção de rota (para contornar eventuais problemas que surjam no caminho) e mesmo de verificação do alcance dos objetivos do projeto. A avaliação pode ser efetuada a partir da criação de indicadores que permitam a comparação entre os resultados previstos e os resultados obtidos de fato com a execução do projeto. Os indicadores podem ser quantitativos (por exemplo: número de participantes, espetáculos, beneficiados etc.) ou qualitativos (visibilidade na mídia, grau de satisfação do público, uso da verba total do projeto, entre outros).
Perguntas norteadoras:
•
•
•
•
O que precisa ser avaliado?
Como pode ser avaliado? Quais os instrumentos adequados para a avaliação?
Como e para quem será apresentada essa avaliação? 5.6 Para saber mais
GOVERNO DA BAHIA / Secretaria de Cultura. Orientações para elaboração de projetos culturais. Salvador, BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia, agosto de 2008.
Disponível em http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/editais/pdf/manual_projetos.pdf. Acesso em 07/12/2009. Esse manual foi criado com o objetivo de capacitar agentes culturais, artistas e produtores, assim como informá­los sobre formas e possibilidades existentes de financiamento da cultura. Manual de Apoio à Elaboração de Projetos de Democratização Cultural. Programa de Democratização Cultural Votorantim.
Disponível em http://www.blogacesso.com.br/forum/manual.pdf. Acesso em 07/12/2009. Esse material de orientação, composto por manual e vídeo, foi criado para informar e contribuir para a elaboração de projetos que possam ampliar as oportunidades de práticas culturais para a população.
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA / Departamento Nacional. O desafio de elaborar e viabilizar projetos culturais sob as diretrizes da tecnologia SESI Cultura. Brasília, DF: SESI­DN, 2007, volume 2.
Disponível em http://www.sesipr.org.br/uploadAddress/O_Desafio_de_elaborar_e_viabilizar_projetos_cult
urais%5B13042%5D.pdf. Acesso em 07/12/2009. O documento foi concebido para dar suporte aos gestores culturais do Serviço Social da Indústria (SESI) que atuam na área da cultura, no sentido da elaboração, enquadramento e realização de projetos culturais, assim como na utilização dos mecanismos públicos de fomento e incentivo.
6. Referências bibliográficas
“Agenda 21 da Cultura”. Revista Observatório Itaú Cultural/OIC – n.1 (jan./abr.2007). São Paulo, SP: Itaú Cultural, 2007.
AVELAR, Romulo. O Avesso da Cena. Notas sobre produção e gestão cultural. Belo Horizonte, MG: Duo Editorial, 2008.
BARBOSA, Frederico. “Os dispêndios com políticas públicas culturais em 2003”. In: BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto de Pesquisas Econômicas. Economia e política cultural: acesso, emprego e financiamento. Brasília, DF: Ministério da Cultura, 2007, p. 233­250. (Capítulo 8). BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Autor. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária, 2005.
BOTELHO, Isaura. “As dimensões da cultura e o lugar das políticas públicas”. São Paulo em Perspectiva, 15 (2), 2001. CHAUI, Marilena et alii. Política cultural. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto/Fundação Wilson Pinheiro, 1984. (Tempo de Pensar, 1)
COELHO, Teixeira. A cultura e o seu contrário. São Paulo, SP: Iluminuras, 2009. DURAND, José Carlos. “Cultura como objeto de política pública”. São Paulo em Perspectiva, 15 (2), abr/Jun 2001.
GOVERNO DA BAHIA / Secretaria de Cultura. Orientações para elaboração de projetos culturais. Salvador, BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia, agosto de 2008.
NASCIMENTO, Alberto Freire. “Política cultural e financiamento do setor cultural”. IV ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador, UFBA, maio de 2008.
PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA. “Como estruturar um projeto cultural”. Incubadora de projetos – Um serviço cultural para toda a cidade, Rede da Cidadania. SARKOVAS, Yacoff. “Quem Paga a Conta da Cultura”. Folha de S. Paulo, Opinião, Tendências / Debates, 09 de Julho de 2003.
THIRY­CHERQUES, Hermano R. Projetos culturais: técnicas de modelagem. Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2006.
Download

Seção Gestão Cultural