DOMINGO - O Estado do Maranhão - São Luís, 2 de maio de 2010 3 PERFIL Adriano Almeida, empresário “Sou uma pessoa em busca da perfeição” Dedicado e detalhista, o empresário Adriano Almeida não mede esforços para agradar sua exigente e fiel clientela; um dos melhores tiradores de chope do país pela Real Academia do Chopp, está sempre em busca da excelência Fotos/Paulo Soares E i m linhas gerais, a qualidade do chope servido na cidade melhorou sensivelmente nos últimos anos. Cada vez mais as casas se empenham em oferecer essa bebida fresca, não pasteurizada e cujo prazo de validade do barril fechado é de apenas 10 dias. Mesmo assim, encontram-se por aí muitas barbeiragens, como colarinhos minguados, sistemas de refrigeração ineficazes e copos que fazem longos passeios na bandeja antes de chegar à mesa. No Buteko, na Lagoa da Jansen, nada disso ocorre. Isso porque seu dono, Adriano Almeida, tem um padrão de excelência incomum nessa arte. Considerado um dos melhores tiradores de chope do país pela Real Academia do Chopp, da AmBev, seja na vida pessoal, seja nos negócios, a atenção ao detalhe e o esmero em tudo o que faz são as marcas desse empresário. Não é preciso passar muito tempo em sua companhia para perceber a atenção e o cuidado que Adriano Almeida dedica às coisas que faz. Mesmo durante a entrevista, ele não deixa de orientar os funcionários para que deixem o ambiente do bar (que passa pela sexta grande reforma desde que foi inaugurado há seis anos) sempre impecável. “É uma luta insana. Um bar não pode fechar. Mudamos o piso de dia para que à noite tudo esteja perfeito. Vale a pena investir em cada detalhe para que o ambiente não perca o encanto, a magia, pois é isto que o torna agradável”, explica, depois de sugerir que os pedreiros quebrem a parede para retirar toda a porta do bar e suspendê-la dois centímetros, a fim de deixá-la na altura ideal. “Sou uma pessoa em busca da perfeição”, comenta. vista, foram três telefonemas e uma visita pessoal com pedidos de reserva de mesa de bar. Durante o trabalho, é sempre requisitado para sentar à mesa de seus clientes. São tantos os convites que muitas vezes fica difícil atender a todos. “Tristeza não tem vez comigo. Quem vai a um bar, quer ficar feliz, se divertir. A principal recomendação que faço aos meus funcionários é estar sempre alegre, independente do que lhe ocorra”, diz. Simpatia – Como toda pessoa que almeja a perfeição, é preciso estar sempre de sorriso aberto. Por isso, amigos não faltam na vida de Adriano Almeida. São tantos que fica difícil chegar a uma soma próxima da realidade. A simpatia com que conversa com todos os conhecidos e o afinco com que participa da noite ludovicense conquistam boêmios, políticos e artistas da cidade, os quais não deixa de atender, ainda que esteja muito ocupado – somente no momento da entre- Mínimos detalhes – O zelo do empresário é tanto que, com a intenção de melhorar a qualidade do chope servido – como se já não lhe bastassem os rituais que lhe garantiram os títulos de tirador de chope –, pediu para seu cunhado Antônio Claret desenvolver uma chopeira cujo gelo nunca derretesse: tudo para manter a bebida na temperatura ideal. “Nas chopeiras tradicionais, após quatro horas funcionando, o gelo perde a temperatura ideal e o chope esquenta 0,5°C”, explica. RAIO-X NOME: Adriano Robson de Almeida IDADE: 41 anos PROFISSÃO: Empresário NATURALIDADE: Itajubá-MG FILIAÇÃO: Juracy de Almeira e Dirce Faria de Almeira FILHA: Juliana Tavares de Almeida, 12 anos QUALIDADE: Determinação DEFEITO: Às vezes é um pouco “mãode-vaca” com a mulher e filha ALEGRIA: O nascimento da filha SAUDADE: Do pai falecido TRISTEZA: A morte do pai O empresário Adriano Almeida brinda a boa fase nos negócios; ele trocou uma fábrica de sorvetes e uma sorveteria pelo sonho de ter um bar A máquina foi desenvolvida artesanalmente e custou aproximadamente R$ 20 mil. Ela demorou nove meses para ser fabricada e é única. O novo equipamento possui um sistema paralelo de serpentinas de bronze por onde circula um gás que deixa o gelo congelado. “Deu muito trabalho para fazê-la. Foi um projeto bastante experimental”, diz. Após sair da chopeira, cabe ao tirador a tarefa de cobrir o chope com um creme liso, uniforme, duradouro e de milimétricos três dedos de altura. A tulipa tem de estar limpa e gelada para evitar o choque térmico e o garçom deve entregar imediatamente a bebida à mesa. “O copo não pode fazer passeio na bandeja do garçom. Cliente que recebe a tulipa suja, incompleta e sem o creme na quantidade correta, que tem o objetivo de mantê-lo gelado, pode reclamar e nunca mais aparecer”, garante o dono do bar. Rotina – Em casa, o empresário também é muito organizado. To- das as suas roupas e sapatos são dispostos no guarda-roupas com cautela. Ele mesmo acredita que seja o marido perfeito, ideal: não deixa toalha molhada em cima da cama e não joga a roupa suja em qualquer canto da casa. Conheceu sua mulher, Alcione Tavares Pinheiro, hoje com 40 anos, ao comprar roupa na loja de sua sogra Lourdes Pinheiro, proprietária da antiga Leila Boutique em um shopping da cidade. “Minha mulher trabalhava lá e, quando a vi, foi paixão à primeira vista. Após seis anos de namoro, começamos a viver juntos”, relembra. As tarefas de casa divide com a mulher. De manhã, ambos acordam juntos e levam a filha, Juliana Tavares de Almeida, de 12 anos, à escola. Após isso, caminham juntos pela praia, por cerca de uma hora. Depois, voltam para casa, onde se preparam para ir ao trabalho. “Vamos ao bar, fazemos as compras necessárias, enfim, cuidamos dos negócios”, conta. Na hora do almoço, buscam a filha na escola e regressam ao lar. “É o melhor horário para conversar com a família”, acredita. Ele também revela seu segredo para a ótima disposição noturna. “Para ser bom tirador de chope e bom empresário noturno, tem de dormir bem [para manter a concentração], ter simpatia e fazer o trabalho com satisfação”, diz Adriano Almeida. Por isso, todas as tardes ele dorme das 14h às 16h. Depois, prepara-se para enfrentar mais uma longa noite de trabalho no bar. Especialista – Com apenas dois anos de inaugurado, o Buteko recebeu a placa de especialista em chope, pela AmBev, e passou a fazer parte do seleto grupo da Real Academia do Chopp (RAC), por causa da responsabilidade com o armazenamento e tratamento do barril de chope. Por três anos consecutivos, o bar foi considerado Colarinho de Ouro das regiões Norte e Nordeste. Em 2007, Adriano Almeida foi convidado Sorvete, cachaça e chope: saudade de Minas Gerais O esmero com o ritual de tirar chope rendeu ao empresário mineiro alguns prêmios nacionais Mineiro de Itajubá, cidade do sul de Minas localizada a 575 quilômetros de Belo Horizonte, Adriano Almeida cresceu em uma família de empresários. Após terminar os estudos básicos, serviu ao Exército por um ano e meio. Ao completar 20 anos, mudou-se para o interior do Maranhão a fim de trabalhar no hospital de propriedade de seu irmão, médico, na cidade de Cândido Mendes, hoje Governador Nunes Freire. Dois anos depois, em 1993, a exemplo do pai, decidiu montar uma sorveteria em São Luís com o mesmo nome do negócio da família: Salutti. O objetivo, segundo ele, era matar o calor da cidade e a saudade de Minas. Adriano Almeida decidiu também montar uma fábrica para distribuir sorvetes. O negócio chegou a ter 100 pontos espalhados por São Luís, Rosário e Bacabal. Mas no seu coração de mineiro residia, além do sorvete, outros costumes e paixões. “Sentia falta dos bares estilo boteco que permeiam as cidades mineiras e paulistas. A cidade onde nasci e cresci fica a 260 quilômetros da cidade de São Paulo”, conta. E, para matar a saudade, ele colecionava cachaça, principalmente as mineiras. Chegou a armazenar 470 rótulos. “Era como se eu tivesse um boteco em casa, particular”, explica. Somente em 2003, o empresá- rio começou a ceder à tentação de montar um bar. Incentivado pelos amigos e pela mulher, vendeu a fábrica para sua irmã e com o dinheiro iniciou sua jornada em busca do novo negócio. Por aproximadamente um ano, viajou pelo país visitando os principais bares de São Paulo e Minas Gerais, até estar decidido. “Quando visitava um bar, pedia para ver como era servida a cerveja e, pouco a pouco, comecei a me especializar. Queria montar um bar aconchegante, servir cachaça, petiscos mineiros e chope”, conta. Em 2004, o Buteko foi inaugurado. “Acredito que fui muito feliz na escolha do nome. Ele expressa exatamente aquilo que eu queria”, diz. De todas as atitudes tomadas em sua vida profissional, Adriano Almeida revela que arrepende-se apenas de uma: “Ter vendido minhas cachaças para agradar clientes e amigos”. De sua coleção pessoal, sobraramlhe apenas 30 rótulos. Atualmente o empresário trabalha na expansão de seu negócio. Este ano inaugurou um bar Buteko em sua cidade natal, com mais três sócios: Ricardo Soares, Thiago Leite e Renato Leite. Ano que vem, pretende abrir mais um estabelecimento em Poços de Caldas (MG). Em 2012, deverá inaugurar um Buteko em Fortaleza, na praia de Meireles. PLANOS: Viajar para participar do Brasil Master Chopp, primeiro campeonato brasileiro de profissionais do chope, onde conquistou o 4° lugar entre 112 bares do país, na categoria Chopp Brahma Master. Nessa categoria, o tirador de chope precisa tirar e servir aos jurados três chopes seguindo o ritual. Os tiradores de chope são observados e pontuados pela execução do ritual de cada produto, qualidade no serviço prestado, habilidade, destreza e simpatia. Em 2008, alcançou o 2° lugar na competição e, por fim, no ano passado, a categoria foi extinta. Adriano acredita que vencer os concursos foi uma experiência muito gratificante. “Cada produto possui um copo e um ritual de tiragem correto que valoriza as características específicas, garantindo que o sabor e a aparência sejam fiéis ao produto tal como ele foi desenvolvido. Além disso, a experiência do ritual agrega valor para o estabelecimento, demonstrando excelência no atendimento”, finaliza. “ Assim como um bom tirador de chope, um bom empresário precisa ter a mão firme”