Carta Aberta aos Jovens Últimas palavras de uma jovem portadora do vírus da AIDS Meu nome é Patrícia, tenho 17 anos, e nesse momento encontro-me quase sem forças. Pedi à enfermeira Dani, minha amiga, para escrever esta carta, que será endereçada aos jovens (...) antes que seja tarde demais. Na quinta-feira, primeiro dia da festa, tomei meu primeiro porre de chope. Eu já tinha experimentado algumas bebidas, tomava escondido da mamãe o licor Amarula, mas nunca tinha ficado bêbada. Que sensação legal! Curti a noite ineira e beijei uns 10 carinhas. Minhas amigas até colocavam o chope numa mamadeira misturado com guaraná para enganar os “meganhas”, porque menor não podia beber; assim, bebemos a noite inteira, e os “otários” nem perceberam. Fiquei com uma sensação esquisita, de baixo astral, mas antes de ir embora experimentei novamente. O garoto mais velho da turma, o “Marcos”, fazia carreirinha e cheirava um pó branco, que descobri ser cocaína. Ofereceram-me, mas não tive corage aquele dia. Retornamos a Floripa, mas percebi que alguma coisa tinha mudado. Eu sentia a necessidade de buscar novas experiências e não demorou muito para eu novamente deparar-me com meu assassino, “Drues”. Saía na sexta-feira e retornava aos domingos com meus novos “amigos”. Às vezes, a gente conseguia o “ecstasy”, dançávamos nos “points” a noite inteira e depois farra. Meu comportamento tinha mudado em casa, meus pais não perceberam, mas no início eu disfarçava e dizia que eles não tinham nada a ver com minha vida. Comecei a roubar em casa, pequenas coisas para vender ou trocar por drogas. Aos poucos, o dinheiro foi faltando e, para conseguir grana, fazia programas com alguns velhos que pagavam bem. Sentia nojo de vender meu corpo, mas era necessário para conseguir dinheiro. Aos poucos toda minha família foi se desestruturando. Fui internada diversas vezes em Clínicas de Recuperação. Meus pais, sempre com muito amor, gastavam fortunas para tentar mudar o quadro. Quando eu saía da clínica, agüentava alguns dias, mas logo estava me picando novamente. Abandonei tudo: escola, bons amigos e família. Em dezembro de 1997, minha sentença de morte foi decretada: descobri que havia contraído o vírus da AIDS, não sei se me picando ou através de relações sexuais, muitas vezes sem camisinha. Devo ter passado o vírus a um montão de gente, porque os homens pagavam mais para transar sem camisinha. Aos poucos, meus valores, que só agora reconheço, foram acabando: família, amigos, pais, religião, Deus – até Deus, tudo me parecia ridículo. Papai e mamãe fizeram de tudo, por isso nunca vou deixá-los de amá-los. Eles me deram o bem mais precioso, que é a vida, e eu o joguei pelo ralo. Estou internada com 24 kg, horrível, não quero receber visitas, porque não podem me ver assim. Não sei até quando sobrevivo, mas do fundo do coração, peço aos jovens que não entrem nessa viagem maluca... Você com certeza, vai se arrepender, assim como eu – mas percebo que para mim, é tarde demais.