27 ZERO HORA SEGUNDA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2009 Itamar Melo destemido e persistente ~4~ João da Silva Tavares mudou a história da guerra com a resposta que deu ao chamado de Bento Gonçalves. Ao dizer não ao compadre, colocou sua lealdade a serviço da unidade nacional. O teimoso oficial é o personagem de hoje da série de Zero Hora que retrata importantes figuras da Revolução Farroupilha. Os nomes foram escolhidos pelos leitores, a partir de uma lista de 45 personagens. 15/9 16/9 17/9 18/9 19/9 20/9 Bento Gonçalves foi atrás do seu compadre João da Silva Tavares para uma conversa. Com a revolução prestes a eclodir, o líder farrapo queria o apoio do amigo para a causa. Veterano das guerras contra os castelhanos, o tenente-coronel de 43 anos era comandante militar na fronteira, juiz de paz e deputado provincial. A resposta que deu a Bento mudou a história da guerra. Entre unir forças com os amigos ou defender o Império, Silva Tavares decidiu que sua lealdade devia ficar com a unidade nacional. Disse não ao compadre e sim ao Brasil. Dois dias depois do início da Revolução Farroupilha, lutava à frente das tropas legalistas. Em Herval, onde nasceu de um casal de açorianos, Silva Tavares soube do levante e das ordens para prendê-lo. O militar caramuru saiu de casa, reuniu 20 homens e se escondeu. Começava ali para Silva Tavares uma enfiada de vitórias que por pouco não sufocaram a revolução no nascedouro. De Herval, ele marchou a Jaguarão e retomou a cidade. Em outubro, em Arroio Grande, desbaratou forças enviadas para conquistar Pelotas. Em março de 1836, veio um trunfo arrasador: esmigalhou o farrapo Afonso Corte Real na batalha do Passo do Rosário, impondo aos farroupilhas 120 mortes. A recompensa veio pela promoção a coronel e a nomeação como comandante da Guarda Nacional na província. Depois disso, a sorte virou-se contra Silva Tavares. À frente de 560 homens, ele marchava em setembro de 1836 à procura do líder farroupilha Antônio de Souza Neto, que guarnecia a região. O historiador Walter Spalding notou que o destemor do legalista levava-o a buscar sempre o inimigo: – Nunca se viu oficial mais caipora e mais teimoso. Era bem o tipo do rio-grandense daquele tempo: não desanimava nunca. Fora batido hoje? Eram as leis da guerra. Amanhã, poderia bater. E lá ia ao encontro do inimigo. Esse temperamento custou caro no confronto do dia 10 de setembro, às margens do Arroio Seival. Tudo parecia a favor de Silva Tavares. Ele tinha mais homens, estava bem armado e posicionara-se no topo de uma colina. Neto ordenou o ataque morro acima. Mas a cabeçada do freio de uma montaria decidiu a batalha e o rumo da guerra. A peça de couro do cavalo do comandante legalista rompeu-se no momento decisivo. Ele perdeu o controle do cavalo, que saiu em disparada. A tropa ficou confusa e foi massacrada. Saldo de 180 mortos, 60 feridos e 116 presos para os imperiais. A vitória de Neto revelou-se uma das grandes façanhas da guerra e mudou o vento a favor dos farrapos. No dia seguinte, Neto proclamou a República. No final daquele ano, capturado por David Canabarro, Silva Tavares passou 53 dias preso no Uruguai, sob a guarda do temível Manuel Diabo. Fugiu em circunstâncias nebulosas e arregimentou novas tropas. Pela lealdade ao Império e a dedicação à causa da unidade brasileira, Silva Tavares recebeu o título de visconde do Cerro Alegre. Foi dono de 40 mil hectares de terra e de 7 mil reses na região de Bagé. Morreu em 1872. A poucos passos de seu túmulo, no Cemitério Municipal de Bagé, repousam os restos de seu grande algoz, o general Neto.