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ZERO HORA SEGUNDA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2009
Itamar Melo
destemido e persistente
~4~
João da Silva Tavares
mudou a história da
guerra com a resposta
que deu ao chamado
de Bento Gonçalves. Ao
dizer não ao compadre,
colocou sua lealdade a
serviço da unidade nacional. O teimoso oficial
é o personagem de hoje
da série de Zero Hora
que retrata importantes
figuras da Revolução
Farroupilha. Os nomes
foram escolhidos pelos
leitores, a partir de uma
lista de 45 personagens.
15/9
16/9
17/9
18/9
19/9
20/9
Bento Gonçalves foi atrás do seu compadre
João da Silva Tavares para uma conversa. Com
a revolução prestes a eclodir, o líder farrapo
queria o apoio do amigo para a causa. Veterano das guerras contra os castelhanos, o tenente-coronel de 43 anos era comandante militar
na fronteira, juiz de paz e deputado provincial.
A resposta que deu a Bento mudou a história
da guerra. Entre unir forças com os amigos ou
defender o Império, Silva Tavares decidiu que
sua lealdade devia ficar com a unidade nacional. Disse não ao compadre e sim ao Brasil.
Dois dias depois do início da Revolução Farroupilha, lutava à frente das tropas legalistas.
Em Herval, onde nasceu de um casal de
açorianos, Silva Tavares soube do levante e das
ordens para prendê-lo. O militar caramuru
saiu de casa, reuniu 20 homens e se escondeu.
Começava ali para Silva Tavares uma enfiada de vitórias que por pouco não sufocaram a
revolução no nascedouro. De Herval, ele marchou a Jaguarão e retomou a cidade. Em outubro, em Arroio Grande, desbaratou forças enviadas para conquistar Pelotas. Em março de
1836, veio um trunfo arrasador: esmigalhou o
farrapo Afonso Corte Real na batalha do Passo do Rosário, impondo aos farroupilhas 120
mortes. A recompensa veio pela promoção a
coronel e a nomeação como comandante da
Guarda Nacional na província.
Depois disso, a sorte virou-se contra Silva
Tavares. À frente de 560 homens, ele marchava em setembro de 1836 à procura do líder
farroupilha Antônio de Souza Neto, que guarnecia a região. O historiador Walter Spalding
notou que o destemor do legalista levava-o a
buscar sempre o inimigo:
– Nunca se viu oficial mais caipora e mais
teimoso. Era bem o tipo do rio-grandense
daquele tempo: não desanimava nunca. Fora
batido hoje? Eram as leis da guerra. Amanhã,
poderia bater. E lá ia ao encontro do inimigo.
Esse temperamento custou caro no confronto do dia 10 de setembro, às margens do
Arroio Seival. Tudo parecia a favor de Silva Tavares. Ele tinha mais homens, estava bem armado e posicionara-se no topo de uma colina.
Neto ordenou o ataque morro acima.
Mas a cabeçada do freio de uma montaria
decidiu a batalha e o rumo da guerra. A peça
de couro do cavalo do comandante legalista
rompeu-se no momento decisivo. Ele perdeu
o controle do cavalo, que saiu em disparada.
A tropa ficou confusa e foi massacrada. Saldo
de 180 mortos, 60 feridos e 116 presos para os
imperiais. A vitória de Neto revelou-se uma
das grandes façanhas da guerra e mudou o
vento a favor dos farrapos. No dia seguinte,
Neto proclamou a República.
No final daquele ano, capturado
por David Canabarro, Silva Tavares
passou 53 dias preso no Uruguai,
sob a guarda do temível Manuel
Diabo. Fugiu em circunstâncias
nebulosas e arregimentou novas
tropas. Pela lealdade ao Império e a
dedicação à causa da unidade brasileira, Silva Tavares recebeu o título de visconde do Cerro Alegre. Foi
dono de 40 mil hectares de terra e
de 7 mil reses na região de Bagé.
Morreu em 1872. A poucos passos de seu túmulo, no Cemitério Municipal de Bagé, repousam os restos de seu grande
algoz, o general Neto.
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DESTEMIDO E pERSISTENTE ~4~