Economia – 2° Periodo - Profª. Leozenir Mendes Betim, MSc
VIII. INFLAÇÃO: CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. Conceito de Inflação
A inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e generalizado no
nível de preços. Ou seja, os movimentos inflacionários representam elevações em todos
os bens produzidos pela economia e não meramente o aumento de um determinado
preço. Outro aspecto fundamental refere-se ao fato de que o fenômeno inflacionário
exige a elevação contínua dos preços durante um período de tempo, e não meramente
uma elevação esporádica dos preços. Em outras palavras, uma economia é inflacionária
quando os preços aumentam continuamente e por um longo período de tempo.
Outra característica da inflação é o fato de o aumento de preços se estender a
todos os bens e serviços produzidos pela economia. Assim, se apenas os bens
produzidos por um determinado setor tivessem seus preços elevados, não teríamos
inflação. Imaginemos um país onde não haja inflação. Se em determinado ano as
condições climáticas não forem muito favoráveis e as safras agrícolas forem menores,
teremos um aumento nos preços dos alimentos. Entretanto, se no ano seguinte a situação
melhorar e as safras se normalizarem, teremos caracterizado apenas um aumento de
preços de pouca duração e circunscrito a um setor específico.
Uma vez que a inflação representa uma elevação dos preços monetários, ela
significa que o valor real da moeda é depreciado pelo processo inflacionário. Assim,
por definição, a inflação é um fenômeno monetário.
De início, podemos dizer que a inflação representa um conflito distributivo
existente na economia mal administrada. Em outras palavras, a disputa dos diversos
agentes econômicos pela distribuição da renda representa a questão básica no fenômeno
inflacionário. Dada a diversidade de agentes econômicos existentes, o processo
inflacionário pode estar acoplado a inúmeras facetas.
O exemplo mais típico refere-se ao desequilíbrio financeiro do setor público, que
induz a uma elevação do estoque de moeda em taxas acima do crescimento do produto.
No âmbito do conflito distributivo, poderíamos representar esse tipo de inflação como
decorrente de um conflito entre o setor privado e o setor público pela disputa do
produto. Nessa hipótese, caso o setor público reduza seus gastos e, assim, consiga evitar
o acréscimo de moeda, o problema inflacionário pode ser resolvido.
Entretanto, o processo inflacionário pode resultar de outros tipos de conflito
distributivo. Um que nos parece muito importante, especialmente para o caso da economia brasileira, refere-se às relações entre salários e preços. Nesse caso, o problema
estaria centrado numa disputa pelo produto entre trabalhadores e empresários que
tomariam instáveis as relações entre salários e preços.
Outra faceta ainda do processo inflacionário como representativo do conflito
distributivo poderia ser a associação da economia nacional com a internacional. No caso
dos choques externos, por exemplo, as crises do petróleo dos anos 1970, o que ocorre è
um conflito distributivo dessa natureza, que também pode dar origem a um processo
inflacionário.
A partir do momento em que se configuram diversas facetas do processo
inflacionário, percebe-se a dificuldade de eliminá-lo, especialmente nos países cujo
processo inflacionário representa mais de um dos aspectos acima mencionados.
Efetivamente, não constitui uma tarefa simples sistematizar a análise do
problema da inflação, devido à evidência de que as fontes de inflação costumam diferir
em função das condições de cada país ou de cada época. Assim, o processo inflacionário
em países subdesenvolvidos tem características diversas das dos países desenvolvidos.
Países com estruturas de mercado oligopolizadas apresentam um comportamento de
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preços distintos do de países com estruturas mais concorrenciais. As taxas de inflação
também são afetadas pela forma de organização trabalhista de um determinado país, isto
é, pelo poder de barganha de seus sindicatos. Ainda mais, países com maior abertura ao
comércio exterior tendem a "importar" e "exportar" , sendo a inflação de forma mais
acentuada que países com pequena participação no comércio internacional.
Além de diferirem entre os vários países, deve ser ressaltado que as fontes de
inflação também podem ser distintas para um mesmo país, mas em diferentes épocas e
estágios de desenvolvimento.
Tendo em mente essas considerações, tentaremos sintetizar todos os aspectos
mais relevantes que cercam o problema da inflação. Porém, como se trata de um texto
dirigido basicamente a alunos de cursos introdutórios de Economia, é evidente que o
compromisso maior é com o alcance didático. Nesse sentido, trata-se de um texto
relativamente abrangente, mas que não se aprofundará em discussões mais polêmicas,
muito frequentes nesse tema.
Seguiremos a forma tradicional de análise, que classifica a inflação em função
de seus fatores causais. Desse modo, distinguem-se a inflação causada por elevações de
custo e a inflação provocada por pressões de demanda agregada. Muitos consideram
essa distinção apenas didática, mas ela é importante, porque vai, em grande parte,
determinar a terapia mais adequada contra a inflação. Antes, porém, vamos destacar as
principais distorções provocadas por elevadas taxas de inflação.
O processo inflacionário, especialmente aquele caracterizado por elevadas taxas
e particularmente por taxas que oscilam, tem sua previsibilidade dificultada por parte
dos agentes econômicos e promove profundas distorções na estrutura produtiva. Diante
de tais questões, os principais efeitos provocados por esse fenômeno são apontados a
seguir.
2. As conseqüências da Inflação
Algumas pessoas poderiam pensar que inflação não é um problema muito grave,
uma vez que a economia acaba por se ajustar a esse processo, principalmente no Brasil,
onde existiu a correção monetária*. Entretanto, as coisas não são tão simples, pois a
inflação provoca uma série de problemas graves para a economia de uma nação. A
maior evidência disso é que os governantes de qualquer país sujeito a graves pressões
inflacionárias elegem, como meta prioritária, o combate à inflação.
Os problemas e as distorções causados pela inflação vão depender do grau e da
intensidade em que ela ocorre. Um país cuja inflação seja da ordem de 10% ao ano, ou
seja, em que há um aumento de, aproximadamente, 10% nos preços dos bens e serviços
produzidos, tem uma preocupação bem menor do que um país que enfrenta um processo
inflacionário da ordem de 100% ao ano, por exemplo.
*Correção monetária: Foi uma instituição tipicamente brasileira. Criada em 1964, tinha, como objetivo,
diminuir o impacto da inflação sobre o sistema econômico por meio da atualização dos débitos e dos
créditos dos agentes econômicos. Um contrato de aluguel, por exemplo, que não prevesse nenhum tipo de
reajuste, num período de inflação causaria prejuízo ao proprietário do imóvel e beneficiaria o inquilino. A
correção monetária foi instituída, então, para eliminar este e outros tipos de distorções causadas pela
inflação. Foi, também, um importante fator de estímulo à poupança pessoal, já que as pessoas passaram a
ter confiança nas aplicações que rendessem juros e correção monetária. Foi extinta em 1994,
constituindo-se uma das medidas do Plano Real.
Vejamos, então, em linhas gerais, alguns dos problemas causados pela inflação.
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2.1. Efeito sobre a distribuição de renda
O primeiro — e talvez o mais grave, do ponto de vista social — é o efeito sobre
a distribuição de renda. A distribuição de renda é a proporção em que o produto, ou a
renda, é distribuída entre os proprietários dos fatores de produção. Num processo
inflacionário, os assalariados saem perdendo, pois o poder de compra diminui entre os
períodos de reajuste salarial. Isso ocorre porque os preços dos bens e serviços estão
subindo mais rápido que os salários, que são reajustados apenas periodicamente. Os
proprietários de imóveis e terras, que alugam ou arrendam as suas propriedades,
aparentemente também estão perdendo, porque os aluguéis são reajustados apenas
periodicamente. Na realidade, entretanto, seus imóveis estão se valorizando, o que, de
certa forma, ameniza os efeitos da inflação. Finalmente, os empresários não perdem
com a inflação porque podem repassar o aumento de seus custos ao preço de seu
produto, transferindo para o consumidor as consequências da inflação. Em resumo: num
processo inflacionário, os assalariados saem perdendo, tendo sua participação na renda
diminuída, enquanto os proprietários, os empresários e os profissionais liberais
(médicos, dentistas, arquitetos etc.) dispõem de mecanismos que permitem a defesa de
sua participação no produto da economia.
2.2. Efeito sobre a balança comercial
Outro efeito importante da inflação é sentido sobre a balança comercial, que,
como veremos mais adiante, é o registro das transações comerciais de um país com
outros. Em síntese, a balança comercial representa, de um lado, as receitas
(proporcionadas pela venda de mercadorias) e, de outro, as despesas (representadas pela
compra de mercadorias), ou seja, elevadas taxas de inflação, em níveis superiores ao
aumento de preços internacionais encarecem o produto nacional relativamente ao
produzido externamente. Assim, tendem a provocar um estímulo às importações e
desestímulo às exportações, diminuindo o saldo da balança comercial (exportações
menos importações).
O objetivo de qualquer país, em relação à sua balança comercial, é conseguir
pelo menos o equilíbrio, isto é, fazer com que suas compras sejam iguais às suas
vendas. Quando as compras são maiores do que as vendas, o país está em déficit.
Durante um processo inflacionário, quando os preços dos bens e serviços
produzidos num país estão em constante elevação, os preços das mercadorias
estrangeiras tendem a ficar mais baratos, a curto prazo, se em seus países de origem não
houver inflação ou, pelo menos, se essa inflação for menor do que a verificada no país
importador. Com isso, as pessoas preferem comprar os produtos importados, mais
baratos, contribuindo para o déficit da balança comercial, já que esse consumo vai gerar
um aumento nas importações. Por essa razão, os países que enfrentam um processo
inflacionário costumam tributar pesadamente as importações de mercadorias para evitar
fortes desequilíbrios em sua balança comercial.
2.3. Efeito sobre o mercado de capitais
Tendo em vista o fato de que, num processo inflacionário intenso, o valor da
moeda se deteriora rapidamente, ocorre um desestímulo à aplicação de recursos no
mercado de capitais financeiros. As aplicações em poupança e títulos devem sofrer uma
retração. Por outro lado, a inflação estimula a aplicação de recursos em bens de raiz,
como terras e imóveis, que costumam se valorizar.
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No Brasil, essa distorção foi bastante minimizada pela instituição do mecanimo
da correcão monetária, pelo qual alguns papéis, como os títulos públicos, caderdeneta
de poupança e títulos privados passaram a ser reajustados (ou indexados) por índices
que refletem aproximadamente o crescimento da inflação. Em épocas de aceleração da
inflação, isso contribui para um verdadeiro desvio de recursos de investimentos no setor
produtivo, para aplicação no mercado financeiro.
2.4. Efeito sobre as expectativas do empresário
Outro efeito importante da inflação é sentido sobre as expectativas dos
empresários. Com a inflação e as medidas de política econômica adotadas para
combatê-la, como, por exemplo, redução de crédito e controle de preços, os lucros dos
empresários tendem a se tornar instáveis, fato que não lhes permite uma perspectiva
segura a longo prazo. Em razão disso, tornam-se mais cautelosos e reduzem seus
investimentos. Conseqüentemente, há um comprometimento da capacidade produtiva
do sistema econômico, o que leva a uma queda no nível do emprego da mão-de-obra.
Ainda que alguns possam ganhar com a inflação a curto prazo, pode-se dizer
que; longo prazo, poucos ou quase ninguém ganha com ela, porque seu processo,
funciona como um rolo compressor, desarticula todo o sistema econômico. Embora os
trabalhadores sejam os maiores prejudicados, as perdas salariais farão com que os
capitalistas também percam, porque venderão menos, além do governo, que, com as
quedas de renda dos trabalhadores e das vendas, terá a arrecadação de impostos
reduzida.
Uma vez discutidas as distorções provocadas por elevadas taxas de inflação,
cabe analisar mais detidamente os fatores que a provocam.
3. Causas Clássicas da Inflação
Como dissemos inicialmente, a inflação representa um conflito distributivo pela
repartição do produto não adequadamente administrado. Tradicionalmente, a literatura
econômica consagrou duas correntes básicas: a inflação provocada pelo excesso de
demanda agregada (inflação de demanda) e a inflação causada por elevações de
custos (inflação de custos).
Nesse aspecto, podemos afirmar que, em sua maioria, os estudos que enfatizam a
inflação de demanda privilegiam o aspecto do conflito distributivo entre o setor público
e o setor privado. Admite-se que os déficits do governo, ao exigirem seu financiamento
por meio da emissão de moeda, originam o fenômeno inflacionário. Por outro lado, os
analistas que privilegiam a inflação de custos acabam por considerar os aspectos
relacionados ao conflito distributivo associados à elevação de algum preço em
particular, importante no processo produtivo (por exemplo, petróleo), ou às relações
entre salários e preços.
3.1. Inflação de demanda
A inflação de demanda, considerada o tipo mais "clássico" de inflação, diz
respeito ao excesso de demanda agregada, em relação à produção disponível de bens e
serviços .
Intuitivamente, ela pode ser entendida como dinheiro demais em busca de
poucos bens.
Parece claro que a probabilidade de inflação de demanda aumenta quanto mais a
economia estiver próxima de um ponto de pleno emprego de recursos. Afinal, se houver
em larga escala na economia, é de esperar que um aumento da demanda agregada deva
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corresponder a um aumento na produção agregada de bens e serviços, pela maior
utilização de recursos antes desempregados, sem que necessariamente ocorra m
aumento generalizado de preços. Quanto mais nos aproximamos do pleno emprego,
reduz-se a possibilidade de uma expansão rápida da produção, e a repercussão maior
deve se dar sobre os preços.
Como esse tipo de inflação está associado ao excesso de demanda agregada, e
tendo em vista que, a curto prazo, a demanda é mais sensível a alterações de política
econômica que a oferta agregada (cujos ajustes normalmente acontecem a prazos
relativamente longos), a política preconizada para combatê-la assenta-se em
instrumentos que provoquem uma redução da demanda agregada por bens e serviços. O
governo pode agir direta como indiretamente para reduzir o processo de inflação
de demanda. Já a atuação direta ocorre pela redução dos próprios gastos do governo.
Evidentemente, a redução dos gastos do "principal comprador" de bens e serviços tem
um efeito imediato e eficaz sobre a demanda agregada. A atuação indireta do governo
ocorre por políticas que desencorajam o consumo e o investimento privado. Por
exemplo, pode implementar uma política monetária que procure restringir a
quantidade de moeda e de crédito, ou, uma política fiscal que provoque um aumento da
carga tributária, tanto sobre bens consumo como sobre bens de capital.
3.2. Inflação de custos
A inflação de custos pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta. O
nivel de demanda permanece praticamente o mesmo, mas os custos de certos insumos
importantes aumentam e são repassados aos preços dos produtos.
A sua natureza geral é a seguinte: o preço de um bem ou serviço tende a
relacionar-se bastante com seus custos de produção. Se estes sobem, mais cedo ou mais
tarde, o preço do bem provavelmente subirá. Uma razão frequente para a elevação de
custos são os aumentos salariais. O aumento das taxas de salários, entretanto, não
necessariamente significa que os custos unitários de produção de um bem subiram. Se a
produtividade da mão-de-obra empregada aumenta na mesma proporção dos salários, os
custos por unidade de produto não são afetados. Por exemplo, se os salários aumentam
em 10% e a produção por trabalhador cresce na mesma proporção, não há razão para se
elevaremos preços, pois os custos salariais, por unidade de produto, permaneceram os
mesmos.
Por outro lado, se sindicatos com maior poder de barganha são capazes de forçar
um aumento de salários a níveis acima dos índices de produtividade, os custos de
produção de bens e serviços aumentam. Se os preços dos produtos finais seguem os
custos de produção, resulta uma inflação impulsionada pêlos custos de produção (no
caso pelo aumento de salários).
A inflação de custos também está associada ao fato de algumas firmas, com
elevado poder de monopólio ou oligopólio, terem condições de elevar seus lucros acima
do aumentos custos de produção. Nesse sentido, a inflação de custos também é
conhecida como inflação de lucros.
Mas o que caracteriza, na realidade o termo inflação de custos é o aumento de
preços devido a pressões autônomas, causadass pela circunstância de alguns grupos
econômicos, como sindicatos e firmas oligopolistas, terem suficiente poder de barganha
para forçar aumentos de sua participação na renda nacional, ou, por choques de oferta
associados a aumentos e preços de matérias-primas (como petróleo e derivados) e de
produtos agrícolas.
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3.3. Inércia Inflacionária
Suponhamos que um país, por uma razão ou por outra, conviva com a inflação
por um período bastante longo. Se dividirmos os agentes econômicos desse país entre
credores e devedores, veremos que a inflação beneficia uns e prejudica outros. De que
maneira isso acontece?
Imaginemos que o sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000 de seu amigo, sr.
Carlos, e prometa pagar-lhe em dois meses. Nesse período, supondo uma economia
inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma inflação acumulada de 21% nos
dois meses que correspondem ao prazo do empréstimo. Pontualmente, no final do
período, o sr. Alberto entrega ao amigo os R$ 100.000 que havia tomado emprestado.
Resultado, o sr. Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000 que recebeu do amigo valem
menos do que os R$ 100.000 que ele havia emprestado dois meses antes. Por sua vez, o
sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000 quando deveria ter pago, pelo
menos, R$ 121.000.
Imaginemos, agora, situações como essa em todos os tipos de contratos
estabelecidos entre os agentes de um sistema econômico, como contratos de trabalho,
aluguel, financiamento, fornecimento etc. Num ambiente inflacionário, sempre haveria
um grupo de ganhadores, os devedores, e um grupo de perdedores, os credores. Com
isso, as atividades econômicas seriam desestimuladas. Para evitar essa situação, os
agentes econômicos encontraram uma maneira de superar o problema de forma que, em
transações cujos pagamentos não fossem feitos à vista, não houvesse nem ganhadores
nem perdedores. A solução encontrada foi a da indexação, que consiste em corrigir o
valor das parcelas que são pagas ao longo do tempo pela inflação do período. Assim, se
o sr. Alberto e o sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o
montante emprestado seria corrigido pela inflação, o sr. Carlos receberia R$ 121.000 e
não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo.
Por essa razão, numa economia inflacionária, todos os contratos (de aluguel, de
trabalho, de financiamento etc.) são indexados. Entretanto, um esquema generalizado de
indexação pode prejudicar a eficácia de uma política de estabilização. Suponhamos que,
num determinado país, a causa primária da inflação seja a emissão de moeda provocada
pelo déficit público, o que aumenta a demanda. Temos, portanto, uma inflação de
demanda. Se essa situação persistir por bastante tempo, os agentes desenvolverão
mecanismos de indexação como meio de neutralizar os efeitos negativos da inflação.
Todavia, se num determinado momento houver um saneamento das finanças públicas,
desaparecer o déficit, a emissão cessar e, com isso, anular-se a causa primária da
inflação, o esquema de indexação generalizada impedirá a inflação de cair. Ocorre que,
a cada período, digamos, de um mês, a inflação tender a ser igual à inflação do período
anterior, por força dos reajustes nas prestações, nos aluguéis, nos salários, etc. A essa
resistência da inflação às politicas de estabilização que atacam as causas primárias de
elevação de preços damos o nome de inércia inflacionária.
4. Indicadores de Inflação no Brasil
A inflação é medida pleos números-índices, ou seja, fórmulas matemáticas que
informam a porcentagem de aumento nos preços dos bens e serviços num determinado
período.
No Brasil, são estimados basicamente dois tipos de índices de preços, os índices
Gerais de Preços (IGPs), e os índices de Preços ao Consumidor (IPCs). A diferença
entre esses índices é óbvia: enquanto os IGPs procuram transmitir uma idéia da
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inflação, pesquisando todos os bens produzidos e consumidos numa economia, já os
IPCs enfatizam os gastos cumuns de uma família.
Existem vários indicadores da inflação no Brasil. Enquanto alguns deles medem
a evolução dos preços no nível do consumidor, outros medem o comportamento dos
preços no atacado. O período de coleta também varia, bem como a região de cobertura
do indicador e a abrangência, em termos de orçamento familiar.
Uma síntese das informações sobre os principais indicadores de preços utili
zados na economia brasileira é apresentada a seguir:
• Indice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA)
a) instituição responsável: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
b) universo da pesquisa: renda familiar de l a 40 salários mínimos;
c) período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência;
d) área de cobertura: regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo
Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Distrito Federal e
Goiânia;
e) utilização: correção de balanços e demonstrações financeiras trimestrais e semestrais
das companhias abertas.
• Indice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)
a) instituição responsável: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
b) universo da pesquisa: renda familiar de l a 8 salários mínimos;
c) período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência;
d) área de cobertura: regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo
Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Distrito Federal e
Goiânia;
e) utilização: balizador de reajustes salariais.
• Indice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe)
a) instituição responsável: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Faculdade
de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (Fipe/USP);
b) universo da pesquisa: renda familiar da l a 20 salários mínimos;
c) período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência;
d) área de cobertura: cidade de São Paulo;
e) utilização: reajustes de contratos, deflacionamento de salários e utilização
generalizada;
f) observação: a Fipe divulga semanalmente os dados sobre o índice (dados
quadrissemanais), comparando as últimas quatro semanas em relação às quatro semanas
imediatamente anteriores, auferindo um índice mensalizado para cada semana do mês.
• Indice de Custo de Vida (ICV-Dieese)
a) instituição responsável: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese);
b) universo da pesquisa: renda familiar da l a 30 salários mínimos;
c) período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência;
d) área de cobertura: Município de São Paulo;
e) utilização: acordos salariais e deflacionamento de séries salariais.
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• Indice Geral de Preços (IGP)
a) instituição responsável: Fundação Getúlio Vargas (FGV);
b) universo da pesquisa: Rio de Janeiro, São Paulo e 10 regiões;
c) período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência;
d) área de cobertura: de l a 33 salários mínimos (incluir preços no atacado e construção
civil);
e) utilização: contratos;
f) observações: o IGP é uma composição de três outros índices: índice de Preços por
Atacado (60%), índice de Preços ao Consumidor (30%) e índice Nacional da
Construção Civil (10%); o IGP é calculado em dois conceitos: no conceito oferta global
(OG) são consideradas a produção interna e as importações; no conceito disponibilidade
interna (Dl), são excluídas as exportações do conceito oferta global.
• Indice Geral de Preços no Mercado (IGPM)
- é a mesma metodologia do IGP, mudando apenas o período de coleta de dados, que é
do dia 21 do mês anterior ao de referência até o dia 20 do mês de referência;
são divulgadas prévias de 10 em 10 dias, que, na realidade, representam uma
antecipação do IGP.
• Indice de Preços por Atacado (IPA)
a) instituição responsável: Fundação Getúlio Vargas (FGV);
b) universo da pesquisa: preços no atacado;
c) período de coleta: primeiro ao último dia do mês de referência;
d) área de cobertura: Brasil;
e) utilização: contratos;
f) observações: o IPA é composto de 18 subíndices regionais em que o peso de cada
mercadoria é determinado por sua participação no valor adicionado.
Em relação a esses índices, vale observar que sua utilização dependerá do
objetivo que se está pretendendo atingir com a aplicação do índice. Assim. Verifica-se
que séries relativas à capacidade de compra dos salários dever ser deflacionadas por
índices de preços ao consumidor. Se os dados referem-se a todo o país, devem ser
utilizados índices com a maior abrangência possivel. Já se as informações referem-se ao
Município de São Paulo, pode-se utilizar o IPC-Fipe ou o ICV – Dieese.
Além disso, a utilização do indicador de preços depende do período em que o
mesmo estará diponível. Para acompanhar mais de perto a evolução da inflação, pode-se
utilizar o IGPM (dados a cada 10 dias) ou o IPC-Fipe (dados quadrissemanais).
Por outro lado, os preços por atacado são mais sensíveis a fatores externos, como
mudanças de preço no mercado internacional e desvalorização da taxa de câmbio.
BIBLIOGRAFIA:
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