MOTIVAÇÃO E ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO
ROCHA, Mariane Félix da - UFPR1
Grupo de Trabalho – Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho buscou, de um lado, entender qual a visão que os alunos do segundo ano
do ensino médio tem da disciplina de Geografia, seu gosto pessoal acerca da mesma, sua
motivação para aprender e seus recursos didáticos favoritos. De outro, questiona aos
professores a frequência de utilização dos recursos disponíveis para o ensino, os motivos
pelos quais eles acreditam ser importante que as pessoas aprendam Geografia e as práticas
que adotam em suas aulas na tentativa de motivar seus alunos. Para isso, foram aplicados
questionários a alunos e seus respectivos professores de Geografia em 3 escolas públicas do
município de Curitiba - PR, com o intuito de verificar essas questões e também averiguar,
superficialmente, a “compatibilidade” entre o que os alunos preferem nas aulas com o que os
professores costumam fazer em sala. Como resultado, tem-se uma leve disparidade entre o
que os alunos almejam para as aulas ou pensam sobre a Geografia e o que os professores
planejam para suas aulas e os conceitos que tem sobre essa ciência. Isso porque, a despeito de
os professores terem claro para que serve aprender Geografia, os alunos, grosso modo, não
refletem isso na sua definição sobre a matéria. Ademais, os recursos com maior frequência de
utilização pelos professores são também os mais detestados pelos alunos. Obviamente, o
trabalho pedagógico envolve outras questões (recursos físicos e humanos, tempo de
planejamento, indisciplina em sala de aula, número de alunos por turma) que não foram
contemplados nessa pesquisa, mas que são igualmente importantes no tratamento desse tema.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Motivação. Recursos didáticos. Percepção.
Introdução
É bastante comum ouvir nas escolas reclamações por parte dos alunos e dos
professores. Daqueles, sobre as aulas dos professores, alegando serem pouco atrativas e
desinteressantes. Destes, sobre a falta de motivação e cooperação dos estudantes. Como bem
colocam Bini e Pabis (2008, p. 3),
1
Licenciada e Bacharela em Geografia pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: [email protected]
16196
a motivação, o interesse e a participação dos alunos nos diversos níveis de
escolaridade tem sido, hoje, uma das grandes preocupações de todos aqueles que
estão diretamente ligados com a educação. São queixas incansáveis de professores,
tais como, falta de participação e interesse pelas aulas, ausência no cumprimento das
tarefas, conversas entre colegas, ”passeio” pela sala durante as aulas, ignorando a
presença do professor, que acaba tomando atitudes nem sempre aceitas pelos alunos.
Isso é o que motiva essa pesquisa: analisar o que atrai a atenção dos alunos de ensino
médio nas aulas e o que os faz estudar, e também a visão que eles tem da matéria escolar
Geografia. Quanto aos professores, o foco é ter uma ideia do que eles fazem para tentar tornar
suas aulas mais atrativas e motivadoras.
Com base nisso, pretende-se, com esse trabalho, analisar a “compatibilidade” entre
professores e alunos, uma vez que os professores de Geografia que responderam aos
questionários dão aulas para os alunos entrevistados. Ademais, os resultados dessa pesquisa
podem fornecer aos professores, sobretudo de Geografia, um subsídio para o planejamento de
aulas, na escolha dos recursos didáticos e na forma de apresentar os conteúdos.
Revisão Bibliográfica
Ensino de Geografia
Enquanto o mundo muda rapidamente e se caracteriza pela diversidade cultural,
complexidade tecnológica, insegurança nacional e incerteza científica, o sistema escolar
moderno continua a perseguir propósitos anacrônicos (HARGREAVES, 1998 apud SOARES,
2002). Vive-se agora no mundo pós-moderno, rápido, comprimido, complexo e incerto e, em
muitos sentidos, as escolas continuaram a ser instituições modernas obrigadas a operar nesse
mundo pós-moderno: essa disparidade gera a crise contemporânea da escolarização. Por isso,
para Rigal (2000 apud SOARES, 2002, p. 332), não houve a formação de cidadãos ativos, e sim
de consumidores passivos, o crescimento da injustiça social e “ciência e estética sem ética”. A
despeito disso, vários autores são otimistas quanto ao papel da Geografia na formação de
cidadãos.
Nestor André Kaercher (2002) cita que um dos maiores objetivos da Geografia e da
escola, aparentemente, é de ensinar valores: respeito ao outro e ao diferente e combate às
injustiças sociais. Trata-se também de uma disciplina voltada tanto à formação técnica quanto
à formação humanística do aluno, bem como seu objeto principal de atenção é “a análise dos
16197
fenômenos socioambientais na perspectiva de sua espacialidade” (REICHWALD JR et al., 1999,
p. 168-169).
As práticas pedagógicas, obviamente, também tem um papel fundamental no ensino de
Geografia. O modo como o professor conduz seu trabalho em sala de aula tem um grande
peso na formação do aluno. Somma (1999) atribui grande importância ao trabalho do
professor ao afirmar que a capacidade crítica é fruto de uma formação, isto é, não se dá
espontaneamente, e também quando mostra que o
objeto de estudo da Geografia está aí, exposto a todos os sentidos de cada aluno,
todos os dias. [...] Nós, professores de Geografia, temos a oportunidade de
transformar essas percepções desordenadas, baseadas em uma dinâmica funcional,
em categorias de conteúdos e habilidades significativas para o desenvolvimento da
inteligência. (SOMMA, 1999, p. 163).
Também valoriza a atuação do professor ao afirmar que, embora o ensino geográfico
institucional mantenha-se meramente informativo, os professores podem encaminhar
estratégias metodológicas que tragam um valor significativo ao aprendizado (SOMMA, 1999).
Hannah Arendt (apud VESENTINI, 2004), escreve que o professor deve evitar transmitir um
“conhecimento petrificado”, mas deve demonstrar constantemente como o saber é produzido.
Para Vesentini (2004), um ensino crítico da Geografia não se limita a renovações no
conteúdo, mas também uma valorização de determinadas atitudes e habilidades (respeito aos
direitos alheios e às diferenças; ética; raciocínio; aplicação e elaboração de conceitos;
capacidade de crítica etc.). Para isso, faz-se necessário uma mudança nos procedimentos
didáticos: a aula expositiva sozinha já não é suficiente; é preciso usar estudos do meio,
debates, dinâmicas de grupo e outros. A realidade precária das escolas brasileiras, entretanto,
atrapalha esse processo: professores com baixos salários, elevado número de aulas por
semana, excesso de alunos por sala, falta de equipamentos (computadores, multimídias,
maquetes, mapas, laboratórios).
Todo esse esforço tem como objetivo principal (ou deveria ter) a formação dos
estudantes. Para Reichwald Jr. et al. (1999, p. 170), “a formação resulta, sobretudo, do aluno
entender-se como sujeito social, construindo sua identidade através da promoção de valores
que se concretizam em atitudes de participação e cooperação social”. Oliveira (2002, p. 219)
atribui um papel ativo ao aluno na construção de sua cidadania. Para ela, “cada estudante
constrói, e cada conteúdo é construído em sua própria dimensão dos significados e níveis de
16198
abstração, sua própria visão de mundo e de homem, seu próprio conhecimento social e
ambiental e, por fim, atinge sua própria cidadania”.
No caso específico dos alunos do ensino médio, deve-se considerar as especificidades
desse nível de ensino. A mais evidente delas é o vestibular, que, de acordo com Vesentini
(2004, p. 239), “força muitas escolas e professores a deixar de lado uma formação para a
cidadania, para a vida, em prol do treinamento para um exame medíocre e ineficaz”. Mas essa
não é a única especificidade do ensino médio. Reichwald Jr. et al. (1999) destaca que é nessa
etapa do ensino que os conteúdos de ensino fundamental devem ser consolidados,
complementados e aprofundados. Ademais, para a maioria dos estudantes brasileiros, no
ensino médio são finalizados os estudos regulares (um grupo menor preparar-se-á para
ingressar no ensino superior), por isso, a seleção dos conteúdos deve contemplar essa
terminalidade (REICHWALD JR. et al., 1999).
A motivação em sala de aula
Tapia e Fita (2003, p. 77), conceituam a motivação como “um conjunto de variáveis
que ativam a conduta e a orientam em determinado sentido para poder alcançar um objetivo”.
Para Frymilr (1970 apud TAPIA e FITA, 2003, p. 77), “a motivação para aprender dá direção e
intensidade à conduta humana num contexto educativo”.
Esses autores descrevem também os condicionantes pessoais da motivação para
aprender. Estes podem ser observados no comportamento dos alunos, o que fazem quando
tem que realizar atividades relacionadas com aprendizagem. (TAPIA e FITA, 2003). Os alunos
reagem de forma diferente ao mesmo estímulo. Por exemplo, alguns estudantes adoram
situações competitivas, outros se sentem incomodados. As diferentes metas que cada aluno
almeja atingir com o estudo podem ser:
•
A importância de aprender algo diferente;
•
Evitar sair-se mal diante dos outros;
•
Utilidade prática (vestibular, notas etc.);
•
Agir com autonomia;
•
Conseguir a atenção dos demais.
Estas metas estão, de algum modo, presentes em todos os alunos. O que varia é o grau
com que cada uma delas afeta o aluno (TAPIA e FITA, 2003).
16199
A auto-estima também é fundamental na motivação dos alunos. Corsi et al (2004, p.
173) afirmam que a “baixa auto-estima limita a capacidade de alcançar sucesso na
aprendizagem, nos relacionamentos humanos e em todas as áreas produtivas da vida”. Isso
ocorre também porque o mau desempenho leva à falta de auto-estima, ficando muito mais
difícil resgatar os valores do aluno.
Obviamente, o professor também tem um papel primordial na motivação de seus
alunos.
Se queremos motivar nossos alunos, precisamos saber de que modo nossos padrões
de atuação podem contrubuir para criar ambientes capazes de conseguir que os
alunos se interessem e se esforcem por aprender, e que formas de atuação podem
ajudar concretamente a um aluno. (TAPIA e FITA, 2003, p. 14).
Na aula, os professores devem buscar despertar o interesse dos alunos para o
conteúdo, desde o início da mesma. Os autores apontam como uma atitude motivadora os
professores iniciarem as aulas considerando o que os alunos já sabem sobre o tema. Isso,
aliado a um discurso expositivo claro e de fácil correlação entre as ideias, exemplos e
conexões que o aluno possa fazer auxiliam muito a motivação dos alunos. Outra atitude que o
professor pode ter sobre a motivação de seus alunos é a de destacar a importância dos
conteúdos. Deixar claro pra que serve é um incentivo para o aluno acompanhar a explicação
(TAPIA e FITA, 2003).
De fato, o trabalho do professor interfere na motivação e aprendizagem dos alunos, de
acordo com a forma como aquele planeja os objetivos das aulas, apresenta o conteúdo, propõe
tarefas, avalia a aprendizagem e exerce controle e autoridade sobre os alunos (BINI e PABIS,
2008). É preciso ter claro, porém, que não se pode pensar que
a turma seja homogênea e que tudo dá certo a todos, isto é muito difícil de
acontecer. É verdade que o professor pode ajudar a despertar o interesse do aluno,
mas existem muitos outros fatores que também devem ser levados em consideração,
tais como: falta de material adequado, falta de apoio da família e falta de perspectiva
para o futuro, pois o aluno está incluído num contexto que pode influenciar positiva
ou negativamente. (ZAGURY, 2006 apud BINI e PABIS, 2008, p. 4).
Isto é, “se o aluno não encontra significado no trabalho que tem a realizar, se não vê
perspectiva futura nesta aprendizagem, provavelmente não terá interesse em aprender” (BINI e
PABIS, 2008, p. 3). Ademais, por razões pessoais ou sociais, o aluno pode simplesmente não
querer, não gostar ou não se esforçar para aprender e, neste caso, isso não poderá ser superado
unicamente pelo trabalho do professor, por melhor que ele seja.
16200
Dois fatores são fundamentais para os professores conquistarem os alunos e fazer com
que gostem das aulas: o domínio sobre o conteúdo, que fará com que se precise menos do
livro didático; e o entusiasmo do professor, a forma como dá a aula (expressar-se de forma
clara e ordenada), o uso do quadro negro, como circula pela sala e as diferenças na entonação
de voz, evitando a monotonia (BINI e PABIS, 2008).
Em pesquisa realizada por Bini e Pabis (2008), por meio da aplicação de questionários
a professores e alunos em uma escola pública de Imbituva, PR, com o objetivo de entender a
relação dos professores e alunos com a indisciplina e motivação, constatou-se que mais da
metade dos professores atribui a indisciplina à falta de interesse dos alunos e à educação
familiar.
Quanto aos alunos (de 6° e 7° séries), numa das questões do questionário, 97%
responderam que vão para a escola porque gostam de estudar e tem consciência de que o
estudo é muito importante para a vida futura. Os outros 3% responderam que são forçados
pelos pais ou obrigados pelas leis educacionais a irem para a escola. Com relação à
importância do que é estudado na escola, 81% dos alunos responderam que tudo será utilizado
na faculdade ou no mercado de trabalho. Outra parcela dos alunos afirmou que muitos
assuntos são estudados só por curiosidade mesmo.
Recursos didáticos nas aulas de Geografia
O uso dos recursos didáticos em sala de aula, para Oliveira (2009), está intimamente
ligado à mudança de pensamento em relação à educação: quando a Geografia deixa de ser
pura descrição e passa a ser compreendida pelos alunos, necessita-se de mais instrumentos
que auxiliem na formação dos conhecimentos geográficos. Dessa forma, os recursos didáticos
possibilitam ao educador “trabalhar os conteúdos articulados a uma técnica que facilitará a
compreensão do aluno”. A escolha desses recursos deve ser pautada pela busca da qualidade
de ensino e, também pela utilização deles, consegue-se uma metodologia mais participativa e,
ao aplicar uma metodologia em que o aluno se sinta inserido, o nível de aprendizagem será
melhor (Oliveira, 2009). Ademais, a autora também ressalta a importância dos recursos no
interesse dos alunos, citando, por exemplo, a constatação em sala de aula que, quando se usa o
audiovisual, a curiosidade dos alunos aumenta.
O livro Geografia e Didática, da Coleção Bem Ensinar (2010), aborda que, com
relação aos recursos didáticos disponíveis é preciso saber até que ponto efetivamente esses
16201
recursos cooperam com uma aprendizagem significativa. Da mesma forma, a utilização dos
recursos didáticos não é garantia de uma boa aula: a aprendizagem do aluno pode se dar tanto
por meio de uma explicação coerente e lúcida do professor quanto por meio da tela do
PowerPoint. De acordo com os autores, “um recurso, seja ele qual for, somente é útil quando
manipulado por alguém que conhece a ferramenta e sabe fazer bom uso do instrumento” (p.
93). É preciso também se ter claro os objetivos a alcançar na aprendizagem com o uso dos
recursos, isto é, não basta dominar somente a técnica da utilização dos recursos.
Com relação ao uso dos recursos pelos professores, Lemos (2010) afirma que se os
professores utilizam muito somente o bom e velho “cuspe e giz”, é um problema que começa
na formação de professores. Isso porque os alunos das licenciaturas tendem a “repetir” o que
aprendem com seus professores na graduação: não se pensa em outras metodologias de
ensino, apenas a exposição do conteúdo.
Metodologia
Para analisar a visão dos alunos e professores sobre a Geografia, as aulas e os estudos,
foram aplicados questionários para uma turma de 2° ano de ensino médio e seu respectivo
professor de Geografia em três escolas do município de Curitiba – PR (figura 1), escolhidas
de acordo com a nota do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2011.
Com base na nota média obtida pelas escolas no ENEM 2011, disponibilizadas no site
de notícias Portal R7, elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira), autarquia MEC (Ministério da Educação), foram escolhidos os
seguintes colégios: Colégio Estadual Desembargador Guilherme de Albuquerque Maranhão,
localizado no bairro Tatuquara, que teve uma das notas no ENEM mais baixas entre as
escolas públicas de Curitiba (nota 493,07, de acordo com o MEC); o Colégio Estadual
Professor Júlio Mesquita, localizado no bairro Jardim das Américas, que obteve uma das
notas mais altas da capital no ENEM (nota 569,5, 10° lugar entre as escolas públicas da
cidade); e no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, no bairro Xaxim, que teve uma nota
média em relação às duas anteriores (nota 522,09).
16202
Figura 1 – Localização dos colégios escolhidos
Fonte: Organizado pela autora, com base nos dados do IPPUC (2012).
O questionário dos alunos era composto de quatro questões, sendo três de múltipla
escolha e uma aberta. A questão aberta perguntava aos alunos como eles definem a matéria
Geografia em apenas uma palavra. Das questões de múltipla escolha, a primeira questionava
sobre o gosto pessoal sobre a matéria (se gosta ou não de Geografia, com espaço para
observações), a segunda sobre a ordem em que alguns recursos didáticos atraem a sua
16203
atenção, e a última apresentava cinco opções de “motivos” para prestar atenção nas aulas/
estudar e participar, dos quais os estudantes apontavam os mais relevantes para eles, a saber: a
utilidade que o conteúdo pode ter na vida cotidiana; o conteúdo ser legal/despertar
curiosidade; o aluno precisar de nota na matéria; reconhecimento dos pais, professores ou
colegas; se o professor explicar bem.
O questionário dos professores tinha também quatro questões, sendo três abertas e
uma de enumerar. As questões abertas buscavam saber: o que os professores costumam fazer
para motivar seus alunos em suas aulas; os porquês de, para eles, os alunos nem sempre se
interessarem pelas aulas; e por que, para o professor questionado, é importante que as pessoas
estudem Geografia. A questão de enumerar era sobre a intensidade de utilização de alguns
recursos didáticos, os mesmos que constavam no questionário dos alunos, a saber: quadro e
giz; livro didático; filmes e músicas; charges, gráficos e mapas; jogos; dinâmicas de grupo e
atividades “interativas”; e aulas de campo.
Para a análise da questão 2 do questionário dos alunos, que era de enumeração dos
recursos didáticos utilizados pelos professores, utilizou-se a seguinte metodologia: cada aluno
atribuiu um valor para os recursos didáticos listados, de 1 para o mais atrativo até 7 para o
menos atrativo. A pontuação que cada recurso didático obteve foi feita através da soma dos
valores que cada aluno atribuiu e, dessa forma, os recursos com menor pontuação são os
considerados mais atrativos pelos estudantes, e os recursos com maior pontuação são
considerados os que menos atraem a atenção dos alunos nas aulas. As demais respostas foram
analisadas pela contagem simples de quantos alunos marcaram cada resposta, e seus
resultados foram tabulados e transformados em gráficos para facilitar a interpretação. Já os
questionários dos professores, por serem compostos de questões abertas e terem sido
aplicados somente para avaliar a “harmonia” entre o que o professor ministra em aula e o que
almejam os estudantes, tem seus resultados apenas descritos no trabalho, sem quantificações.
Resultados
No Colégio Estadual Desembargador Guilherme Maranhão, o questionário foi
aplicado em uma turma com 31 alunos, mas três questionários foram desconsiderados porque
voltaram sem respostas ou com respostas que não tinham a ver com a pesquisa. No colégio
Estadual São Pedro Apóstolo os questionários foram aplicados com 22 alunos. Desses 22
questionários, três foram desconsiderados por terem respostas que não condizem com a
16204
pesquisa. No colégio Júlio Mesquita, os questionários foram aplicados em uma turma com 30
alunos e nas três turmas foi aplicado outro questionário em seu respectivo professor de
Geografia.
Na questão 1 do questionário, que buscava saber se os alunos gostam ou não da
disciplina de Geografia, notou-se que a maioria dos alunos gosta “mais ou menos” de
Geografia, com exceção dos alunos do colégio Estadual São Pedro Apóstolo, onde os alunos
que gostam de Geografia empataram com os que gostam “mais ou menos” (figura 2).
C. E. Guilherme Maranhão
C. E. São Pedro Apóstolo
C. E. Júlio Mesquita
Figura 2 – Gráficos da questão “Você gosta da disciplina de Geografia?” por colégio
Fonte: Organizado pela autora, com base nos questionários aplicados (2012).
A segunda questão era sobre as preferências dos alunos quanto aos recursos didáticos
utilizados pelos professores. Para responder essa questão, os alunos atribuíram um valor para
cada recurso didático listado, numa escala de 1 para o mais atrativo, até 7 para o menos
atrativo. Por isso, para analisar os resultados dessa questão, foi somada a pontuação que cada
recurso didático obteve e, dessa forma, os recursos com menor pontuação são os considerados
mais atrativos pelos estudantes, e os recursos com maior pontuação são considerados os que
menos atraem a atenção dos alunos nas aulas. Dessa questão, foram desconsiderados três
questionários do Colégio Estadual Guilherme Maranhão, que marcaram “X” nos recursos, em
vez de atribuir pontos a eles e 2 do Colégio Estadual Júlio Mesquita, pelo mesmo motivo.
Também nessa questão foi perguntado aos alunos se algum professor já utilizou esses
recursos em aula, em algum momento de suas vidas escolares. Os dados foram organizados na
tabela 1, do recurso menos atrativo (maior pontuação) ao mais atrativo (menor pontuação).
Tabela 1 – Resultados da questão sobre os recursos didáticos.
Colégio Estadual Desembargador Guilherme A. Maranhão
Recurso didático
Pontuação
Utilização pelos professores (segundo os alunos)
Sim
Não
16205
Livro Didático
141
21
3
Quadro e giz
130
22
2
Charges, gráficos e mapas
107
16
8
Dinâmicas de grupo
106
12
11
Aulas de campo
102
2
22
Jogos
71
5
19
Filmes e músicas
46
13
11
Outros: Teatro e jornal
1
Colégio Estadual São Pedro Apóstolo
Recurso didático
Pontuação
Utilização pelos professores (segundo os alunos)
Sim
Não
Livro didático
71
12
0
Charges, gráficos e mapas
57
9
4
Dinâmicas de grupo
57
9
4
Quadro e giz
54
13
0
Aulas de campo
52
13
0
Jogos
52
5
8
Filmes e músicas
47
12
1
Colégio Estadual Professor Júlio Mesquita
Recurso didático
Pontuação
Utilização pelos professores (segundo os alunos)
Sim
Não
Livro didático
143
28
0
Quadro e giz
135
28
0
Jogos
115
4
24
Charges gráficos e mapas
111
23
5
Dinâmicas de grupo
111
17
11
Aulas de campo
98
3
25
Filmes e músicas
98
18
10
Fonte: Organizado pela autora, com base nos questionários aplicados (2012).
16206
Notou-se a semelhança entre as preferências dos alunos pelos recursos didáticos: nas
três turmas os recursos favoritos são filmes e músicas, seguidos por jogos ou aulas de campo.
Os recursos mais detestados, como já era de se esperar, foram quadro e giz e livro didático,
com exceção da turma do Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, em que o quadro e giz ainda
é preferível em relação aos gráficos, charges e mapas e às dinâmicas de grupo.
Comparando-se esses resultados às respostas dadas pelos professores em seus
questionários notou-se a diferença entre o que estes fazem e o que aqueles preferem: os
recursos didáticos mais utilizados pelos professores são os mais detestados pelos estudantes
(tabela 2).
Tabela 2 – Frequência de utilização dos recursos didáticos pelos professores das turmas
Recurso didático
Frequência de utilização descrita pelo professor
C.
E.
Maranhão
Guilherme
C. E. São Pedro Apóstolo
C. E. Júlio Mesquita
Quadro e giz
Frequentemente
Frequentemente
Frequentemente
Livro Didático
Frequentemente
Frequentemente
Frequentemente
Filmes e músicas
Pouco
Pouco
Pouco
Charges, gráficos e mapas
Pouco
Pouco
Pouco
Jogos
Nunca
Pouco
Pouco
Dinâmicas de grupo
Nunca
Pouco
Pouco
Aulas de campo
Nunca
Pouco
Frequentemente
Fonte: Organizado pela autora, com base nos questionários aplicados (2012).
No espaço para observações dessa questão, a professora do colégio estadual São Pedro
Apóstolo escreveu que tenta “utilizar os diversos recursos, porém tudo depende do cotidiano
escolar, de recursos humanos e físicos”. Pela análise das respostas do professor da turma do
colégio estadual Júlio Mesquita, notou-se uma disparidade com relação aos recursos
didáticos: na parte sobre aulas de campo, apenas três alunos responderam que algum
professor, em sua vida escolar, realizou essa atividade. O professor da turma, no entanto,
respondeu que utiliza frequentemente esse recurso.
A questão seguinte buscava entender os motivos que fazem os alunos se interessarem
por algum conteúdo (figuras 3a, 3b e 3c). Além das 5 opções de respostas do questionário,
havia também um espaço onde o aluno poderia responder livremente.
16207
3a
3b
3c
Figuras 3a, 3b e 3c – Gráficos da questão “O que faz você se interessar por algum conteúdo?” dos colégios
estaduais Desembargador Guilherme Maranhão, São Pedro Apóstolo e Júlio Mesquita, respectivamente.
Fonte: Organizado pela autora, com base nos questionários aplicados (2012).
Na resposta aberta, apenas um aluno do colégio estadual Des. Guilherme Maranhão
escreveu algo: afirmou que gostar do conteúdo também o faz se interessar pela aula. Pela
análise dos resultados, percebeu-se que os principais motivos que fazem os alunos se
interessarem por um conteúdo são a atratividade do assunto e a nota. Nas três turmas, porém,
notou-se a importância do trabalho do professor, haja vista a boa pontuação que a explicação
do professor alcançou.
Sobre o desinteresse dos alunos em sala de aula, o professor da turma do colégio
estadual Des. Guilherme Maranhão acredita que a indisciplina e o tratamento que recebem em
casa são as principais causas. Segundo esse professor, os alunos “estão sempre brincando,
conversando e devido à criação que os pais lhes dão em casa sem exigir nada deles”. A falta
de acompanhamento dos pais também foi citado pelo professor do colégio estadual Júlio
Mesquita, acrescido dos vícios trazidos do ensino fundamental 1 como motivos para o
desinteresse dos alunos. Já para a professora do colégio estadual São Pedro Apóstolo, o
desinteresse dos alunos em sala são pessoais, de ordem psicológica, emocional ou social. Na
tentativa de modificar essa situação, buscando atrair a atenção dos estudantes, o professor do
colégio estadual Des. Guilherme Maranhão afirmou passar conteúdos no quadro valendo nota
e explicar. O professor do colégio Júlio Mesquita costuma relatar experiências do tempo de
16208
jovem em suas aulas. A professora do colégio São Pedro Apóstolo, para motivar seus alunos,
busca “envolver os conteúdos com fatos ou evidências de vivências do dia-a-dia”.
Na última questão os alunos deveriam definir Geografia em uma palavra. As palavras
mais citadas estão listadas na tabela 3, bem como o número de alunos que a escreveu.
Tabela 3 – Principais palavras que definem Geografia para os alunos questionados.
Colégio Estadual Des. Guilherme A. Maranhão
Palavra que descreve Geografia
Número de alunos que a escreveu
Interessante
5
Legal/ Bacaninha/ Fera
4
Importante
3
Conhecimento
3
Chata
3
Mapa
2
Mundo
2
Colégio Estadual São Pedro Apóstolo
Palavra que descreve Geografia
Número de alunos que a escreveu
Chata
4
Espaço Geográfico
3
Mapas
2
Complicada
2
Da hora/ Excepcional
2
Colégio Estadual Professor Júlio Mesquita
Palavra que descreve Geografia
Número de alunos que a escreveu
Legal/ supimpa
4
Conhecimento
3
Chato
2
Difícil entendimento
2
Interessante
2
Mapas
2
Território
2
16209
Complexa/ Complicada
2
Fonte: Organizado pela autora, com base nos questionários aplicados (2012).
Apesar de poucos alunos terem descrito a Geografia em si (descreveram mais as aulas
e o gosto pessoal sobre a matéria) percebeu-se que boa parte dos alunos tem apreço pela
disciplina.
A última questão respondida pelos professores trazia uma questão em que o professor
deveria escrever por que ele acredita que é importante que as pessoas estudem Geografia. O
professor do colégio estadual Des. Guilherme Maranhão respondeu que devido à Geografia
ser uma atividade dinâmica geográfica, política e economicamente e, por isso, estar sempre
mudando, ela deve constantemente ser estudada. A professora do colégio estadual São Pedro
Apóstolo acredita que é importante que as pessoas estudem Geografia para “entender o que
acontece na sociedade em geral, observar a influência do sistema econômico capitalista em
nossas vidas”. Por fim, o professor de Geografia do colégio estadual Júlio Mesquita acredita
que é importante que as pessoas estudem Geografia “para todas as atividades que exercem em
suas vidas”.
Considerações Finais
A despeito de os professores terem claro para si (como ficou evidente pela análise dos
questionários respondidos por eles) o porquê de ser necessário aprender Geografia, os alunos
não parecem ter captado essa importância, fato que ficou evidente na questão que pedia aos
alunos que definissem a Geografia em uma palavra. Apesar de a questão restringir bastante a
resposta do aluno, a maioria não deu respostas condizentes com o que acredita o professor
sobre essa matéria (e, consequentemente, deve tentar passar aos alunos em suas aulas). Não
foi objetivo desse trabalho questionar os métodos pedagógicos adotados pelos professores,
mas percebe-se a importância de cada um deles ter claro para si as formas de motivar os seus
alunos, visto que, nos motivos que levam estes a estudar, o bom trabalho do professor teve um
peso bastante significativo.
É preciso deixar claro, por fim, que esse trabalho não pretendeu, de forma alguma,
culpabilizar o professor. Na análise dos recursos didáticos ficou evidente que há uma
disparidade entre o que os professores fazem e o que os alunos querem, mas isso não é um
problema só do professor. O uso excessivo do livro didático, do quadro e do giz se faz em
decorrência da falta de materiais disponíveis nas escolas públicas, e também devido à falta de
16210
tempo para planejar aulas diferentes. O excessivo número de alunos por turma e a indisciplina
destes também pode prejudicar o bom andamento de algumas atividades, como jogos e
dinâmicas de grupo.
REFERÊNCIAS
BINI, Luci Raimann; PABIS, Nelsi. Motivação ou interesse do aluno em sala de aula e a
relação com atitudes consideradas indisciplinares. Revista Eletrônica Lato Sensu.
Guarapuava, ano 3, n° 1, p. 1-19. mar. 2008.
CORSI, Sueli Etiene; BASSO, Patrícia Dias; FECCHIO, Miguel. Motivação em sala de aula.
Revista Akrópolis. Umuarama, v. 12, n°3, p. 172-175. Jul./ set. 2004.
DESEMPENHO no ENEM. R7 Notícias. Disponível em:
<http://noticias.r7.com/educacao/enem-2011/escolas/avaliacao/>. Acesso em: 21 mar 2012.
KAERCHER, Nestor André. O gato comeu a Geografia crítica? Alguns obstáculos a superar
no ensino-aprendizagem de Geografia. In: PONTUSCHKA, Nídia Nacib; OLVEIRA,
Ariovaldo Umbelino de (Orgs.). Geografia em perspectiva: ensino e pesquisa. São Paulo:
Contexto, 2002. p. 221-231.
LEMOS, Linovaldo Miranda. O uso de recursos didáticos nas aulas de Geografia:
contribuições a partir de uma prática. In: III ENCONTRO DE GEOGRAFIA e VI SEMANA
DE CIÊNCIAS HUMANAS, 16 a 19 de novembro de 2010. Campos dos Goytacazes. A
Geografia e suas vertentes: reflexões (Anais). Campos dos Goytacazes: Revista ENGEO,
2010. Disponível em:
<http://www.essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/ENGEO/article/viewFile/1657/841>. Acesso
em: 8 jul. 2012.
OLIVEIRA, Lívia de. O ensino/aprendizagem de Geografia nos diferentes níveis de ensino.
In: PONTUSCHKA, Nídia Nacib; OLVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (Orgs.). Geografia em
perspectiva: ensino e pesquisa. São Paulo: Contexto, 2002. p. 217-220.
OLIVEIRA, Maria Luíza Tavares de. Ensino de Geografia na contemporaneidade: o uso de
recursos didáticos na sua abordagem. In: X ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE
ENSINO EM GEOGRAFIA, 30 de agosto a 2 de setembro de 2009, Porto Alegre. Trabalhos
completos. Disponível em:
< http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/GT/GT5/tc5%20(51).pdf>. Acesso em: 5 jul. 2012.
REICHWALD JR., Guilherme; SCHAFFER, Neiva Otero; KAERCHER, Nestor André. A
Geografia no ensino médio. In: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos et al. Geografia em
sala de aula: práticas e reflexões. 2 ed. Porto Alegre: UFRGS/ Associação dos Geógrafos
Brasileiros, 1999. p. 167-170.
16211
SELBACH, Simone (Sup.). Geografia e didática. Petrópolis: Editora Vozes, 2010. (Coleção
Como Bem Ensinar).
SOARES, Maria Lúcia de Amorim. Reinventando o ensino de Geografia. In:
PONTUSCHKA, Nídia Nacib; OLVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (Orgs.). Geografia em
perspectiva: ensino e pesquisa. São Paulo: Contexto, 2002. p. 331-341.
SOMMA, Miguel Liguera. Alguns problemas metodológicos no ensino de Geografia. In:
CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos et al. Geografia em sala de aula: práticas e reflexões.
2 ed. Porto Alegre: UFRGS/ Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1999. p. 161-165.
TAPIA, Jesus Alonso; FITA, Enrique Caturla. A motivação em sala de aula: o que é, como
se faz. 3 ed. Madrid: Edições Loyola, 2003. 148 p.
VESENTINI, José William. Realidades e perspectivas do ensino de Geografia no Brasil. In:
VESENTINI, José William (Org.). O Ensino de Geografia no século XXI. Campinas:
Papirus, 2004. p. 219-248.
Download

MOTIVAÇÃO E ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO