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A PSICOMOTRICIDADE NO AMBIENTE HOSPITALAR: a importância
da brinquedoteca na ala infantil.
THE PSYCHOMOTOR IN HOSPITALS: the importance of children's
playroom on the ward.
Maria Alice Teixeira Xavier Cardoso1
Orientadora: Vânia Ramos2
Resumo: O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre a importância da implantação e efetiva
utilização das brinquedotecas no ambiente hospitalar, justificando que dentre as atuações do
psicomotricista está a coordenação de práticas educativas nesses ambientes alternativos, por vezes
informais. Utilizando como metodologia a pesquisa bibliográfica, embasando em autores como De
Meur, A. Staes (1984), Fonseca (1996), Le Boulch (1998), Mello (2006), La Pierre (2007). Acredita-se
que a psicomotricidade favorece à criança uma relação consigo mesma, com o outro e com o mundo
que a cerca, possibilitando-a um melhor conhecimento do seu corpo e de suas possibilidades e no
ambiente hospitalar onde está emocional e fisicamente abalada, ela só tem a contribuir com sua
autoestima e favorecer o restabelecimento de sua saúde.
Palavras-chave: Ambiente hospitalar, humanização, psicomotricidade, brinquedoteca.
Abstract: This article aims to discuss the importance of effective deployment and use of toy libraries
in the hospital, explaining that among the performances of Psychomotrician is the coordination of
educational practices in these alternative environments for informal occasions. Using the methodology
of the research literature, basing on authors like De Meur, A. Staes (1984), Fonseca (1996), Le Boulch
(1998), Mello (2006), La Pierre (2007). It is believed that the psychomotor favors a relationship to the
child herself, with others and the world around it, enabling a better understanding of your body and its
possibilities and in the hospital where he is emotionally and physically shaken, she only have to
contribute their self-esteem and encourage the restoration of his health.
Key-words: Hospital environment, humanization, psychomotor, toy.
Introdução
A brincadeira muito além de um momento de lazer para a criança, estimula
sua atenção, favorece o equilíbrio emocional, dá oportunidade à expansão de
potencialidades, desenvolve a inteligência, a criatividade e a sociabilidade, enfim,
oportuniza uma gama de benefícios a criança. Por vezes, quando a criança é
hospitalizada, geralmente passando por momentos de dor e sofrimento, ainda é
acometida pela solidão devido o ambiente hospitalar ser frio e sóbrio; a utilização da
brinquedoteca de maneira orientada por um profissional da psicomotricidade vem
sanar algumas lacunas, preencher-lhe esse vazio com momentos de alegria e
1
Pedagoga pela USM/SP, aluna do curso de Pós Graduação em Psicomotricidade pela UNIFAI/SP
e Professora de Classe Hospitalar na Escola Especializada da Pediatria Schwester Heine do Hospital
A. C. Camargo, SP.
2
Doutora em Ciências Sociais, Mestre em Gerontologia na PUC/SP, Psicopedagoga e
Psicomotricista Sócio Titular nº 132 S.B.P. Coordenadora do Curso de Pós Graduação em
Psicomotricidade da UNIFAI/SP.
2
descontração, além de promover sua reeducação, quando esta sofre alguns
transtornos, consequências ou sequelas decorrentes de tratamentos médicos.
O hospital é reconhecidamente um centro de referência e excelência
técnico-científica no tratamento de doenças, entretanto, o ambiente hospitalar pode
gerar consequências negativas no cotidiano de uma criança. Ela se defronta com
mudanças na sua rotina quando hospitalizada ou mesmo quando vai para consultas
ou sessão de alguma terapia, podendo vir a demonstrar medo ou ansiedade diante
do ambiente, além da dor ao passar por certos exames e tratamentos.
A estimulação oferecida pelo meio ambiente provém das condições que este
oferece à criança. Como elementos estimuladores do meio ambiente que podem ser
denominados suficientemente bons, ou seja, que proporcionam experiências
significativas à criança, inclui-se o espaço físico, os objetos e, como principal fonte
de estimulação, as pessoas, indivíduos responsáveis pela transmissão de
sensações sinestésicas, experiências sensoriais, cognitivas, motoras e sociais à
criança, por meio do relacionamento interpessoal exercido durante os cuidados
prestados (BORTOLOTE E BRETAS, 2008).
Nesse sentido, encontra-se a humanização, um conceito relativamente novo
que compreende construir relações mais afirmativas dos valores que orientam a
política pública de saúde como solidariedade, equidade e justiça social.
Dentre as diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH) estão o
reforço do conceito de clínica ampliada que quer dizer o compromisso com o sujeito
e seu coletivo e o estímulo a diferentes práticas terapêuticas; bem como a ampliação
do compromisso social e a corresponsabilização de todos os envolvidos no processo
de produção da saúde (MATOS, 2009).
Com relação à pessoa hospitalizada, o tratamento de saúde não envolve
apenas os aspectos biológicos da tradicional assistência médica à enfermidade. A
experiência de adoecimento e hospitalização implica mudar rotinas; separar-se de
familiares, amigos e objetos significativos; sujeitar-se a procedimentos invasivos e
dolorosos e, ainda, sofrer com a solidão e o medo da morte – uma realidade
constante nos hospitais (BRASIL, 2002, p. 10).
Diante do quadro acima, encontramos uma especialidade a qual caminha
entre a Neurofisiologia, Psiquiatria, Psicologia e a Educação, a Psicomotricidade que
pode atuar de maneira diferenciada, minimizando a ansiedade e o sofrimento dessas
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crianças, ao desenvolver atividades diversificadas, por vezes alegre e que
harmonizam mente e corpo.
Enfim, acredita-se ser benéfico para a recuperação da criança hospitalizada
ou em tratamento, conciliar a missão do hospital – cuidar de doenças e pacientes com ações de humanização através das práticas psicomotoras na ala infantil de uma
unidade hospitalar, portanto, constitui-se objetivo deste artigo discorrer sobre a
importância da implantação e efetiva utilização das brinquedotecas no ambiente
hospitalar, justificando que dentre as atuações do psicomotricista está a
coordenação de práticas educativas nesses ambientes alternativos, por vezes
informais.
Como metodologia utilizou-se da pesquisa bibliográfica com objetivo
descritivo tomando por base a literatura disponível em livros e artigos científicos
livros. Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 60) “a pesquisa bibliográfica procura
explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, livros,
dissertações e teses (...) buscando conhecer e analisar as contribuições culturais ou
científicas do passado sobre determinado assunto, tema ou problema”.
1. Psicomotricidade – origem, conceitos e campo de atuação
A origem da Psicomotricidade remonta à Antiguidade, quando Aristóteles
referenciava o dualismo corpo-alma. No ano de 1900, Wernick emprega pela
primeira vez o termo Psicomotricidade e Dupré, em 1907, pesquisando as relações
psíquicas e relações motoras, introduz o conceito de debilidade motora como um
estado patológico, congênito, do movimento, em geral hereditário e familiar,
caracterizado pela exaltação dos reflexos tendinosos, perturbação do reflexo plantar,
(...) que chegam à impossibilidade de realizar voluntariamente a resolução muscular
(MELLO, 2006).
Muitos outros pesquisadores realizaram importantes estudos que se refletem
até os momentos atuais no âmbito da Psicomotricidade. Dentre eles estudos de
Wallon, Ajuriaguerra e Piaget.
De acordo com Fonseca (1996) e Oliveira (2002), o termo psicomotricidade
surgiu significando um entrelaçamento entre o movimento e o pensamento, sendo
considerada uma área do conhecimento que nasceu a partir dos estudos médico-
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neurológicos do final do século XIX, onde se caracterizou a motricidade como função
do sistema nervoso pela qual se manifesta o movimento realizado a partir dos
estímulos conduzidos nas zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões
motoras.
Buscando compreender a gênese da psicomotricidade que muitos estudos
surgiram enfatizando os aspectos psicomotores para explicar o desenvolvimento
psíquico do ser humano.
Fonseca (1996) afirma que Piaget foi o teórico que mais estudou as
interrelações entre a motricidade e a percepção, através de uma ampla
experimentação; já Wallon assinalou bem a importância da motricidade, quando se
reporta à ação motriz como regulador de todo aparecimento e desenvolvimento das
funções mentais do ser humano.
O conceito atual de Psicomotricidade elevada ao nível da Ciência, se
relaciona com o desenvolvimento infantil, tanto na fase pré-escolar como
posteriormente.
Reunidos em 1982, no 1º Congresso Brasileiro de Terapia Psicomotora,
especialistas do Brasil propuseram uma definição que viabilizasse o entendimento
comum do termo Psicomotricidade, especialmente no âmbito da Sociedade
Brasileira de Terapia Psicomotora, que a partir de 1987 passou a ser denominada
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (MELLO, 2006).
Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem,
através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo
(LOUREIRO, 1983, p. 5).
De acordo com Almeida (2006, p. 17) “Psicomotricidade é um termo
empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função
das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade,
sua linguagem e sua socialização”.
A psicomotricidade ainda é uma ciência em busca de bases mais sólidas,
portanto, no entendimento de Almeida (2006) o psicomotricista ainda não tem todos
os seus papéis definidos, de todo modo, acredita que ele pode atuar em conjunto
com outras especificidades, clínica e institucionalmente.
Para Jakubovicz (2002, p. 45) é muito importante entender como essa
profissão busca conhecer e estudar o sujeito de maneira holística:
5
O psicomotricista é um profissional que cuida do processo de afetividade,
pensamento, motricidade e linguagem, onde a dinâmica psicomotora auxilia
no potencial de relação pela via do movimento, incentiva o brincar e, amplia
a possibilidade de comunicação. Interagindo e articulando durante as
atividades de grupo, a criança encontra espaço para a sua própria
expressão, permitindo transformações que resultam em uma maior
flexibilidade na relação consigo mesmo, com os amigos, os familiares e com
os diversos grupos com os quais ela se relaciona.
As áreas de atuação do Psicomotricista seriam a educação, a clínica
(reeducação e terapia), a consultoria e a supervisão, atendendo em creches,
escolas,
escolas
especiais,
clínicas
multidisciplinares,
consultórios,
clínicas
geriátricas, postos de saúde, hospitais e empresas.
Os principais campos de atuação da psicomotricidade na atualidade são:
Reeducação Psicomotora; Terapia Psicomotora e Educação Psicomotora (MELLO,
2006).
Ao profissional que atua no campo da Psicomotricidade cabe, a partir de
uma busca constante do conhecimento das necessidades e interesses das crianças,
propor-lhe experiências que produzam a adequada estimulação e que venham
ampliar o vivido corporal, que é o responsável pelos inúmeros esquemas que serão
transferidos às situações vivenciadas no futuro.
Crianças em fase de desenvolvimento; bebês de alto risco; crianças com
dificuldades/atrasos no desenvolvimento global; pessoas portadoras de
necessidades especiais: deficiências sensoriais, motoras, mentais e
psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios sensoriais, perceptivos,
motores e relacionais em consequência de lesões neurológicas; família e
pessoas da terceira idade seria a clientela atendida pelo psicomotricista
(ALMEIDA, 2006, p. 18).
Existem alguns princípios básicos que regem o desenvolvimento psicomotor
e estudiosos como Slipoi (1982), Guillarme (1983) citados por Mello (2006) indicam
duas importantes leis gerais que fundamentam uma ordem de sucessão no
aparecimento de novas funções.
A primeira lei – do desenvolvimento céfalo-caudal – permite observar e
prever a evolução psicomotora na criança, da cabeça para as partes inferiores do
corpo e a segunda lei – do desenvolvimento próximo-distal – responde pela
sequência evolutiva direcionada do eixo do corpo para as extremidades dos
membros, e dos grandes conjuntos para as menores unidades.
Segundo Mello (2006) essas leis são de grande importância para os
profissionais que trabalham com crianças e que necessitam de um referencial
teórico para o seu planejamento, sua execução e suas observações avaliativas.
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A primeira condição que deve ser desenvolvida no espaço infantil seria a
coordenação motora ampla que diz respeito à organização geral do ritmo, ao
desenvolvimento e às percepções gerais da criança, seguida da coordenação
motora fina (desenvolvimento das mãos, dos dedos com grande importância para
mãos e olhos), que vai determinar um bom traçado da letra. Lateralidade, percepção
musical, olfativa, gustativa, espacial, temporal e corporal são outras condições que o
psicomotricista pode e deve aplicar visando o desenvolvimento integral da criança.
A psicomotricidade relacional proposta por André Lapierre, uma prática
preventiva de valor terapêutico que possibilita um tempo e um espaço onde a
criança pode expressar sua liberdade e autenticidade; sua habilidade motora; seu
potencial cognitivo; sua demanda afetiva, social e relacional é uma prática muito
interessante que harmoniza e maximiza o desenvolvimento geral da criança
(LAPIERRE; VIEIRA, 2007).
De acordo com Lapierre e Vieira (2007) a psicomotricidade relacional é mais
um método, uma maneira de atuar, uma possibilidade de se estabelecer uma
comunicação mais humana, mais verdadeira com qualquer pessoa, até mesmo com
as crianças, desde a creche e a escola, passando pelo ambiente hospitalar.
A base da psicomotricidade relacional consiste em criar um espaço de
liberdade propício aos jogos e brincadeiras. O objetivo é fazer a criança manifestar
seus conflitos profundos, vivê-los simbolicamente. No âmbito educativo, esse tipo de
atuação serviria de precaução contra o surgimento de distúrbios emocionais,
motores e de comunicação que dificultem a aprendizagem e no âmbito hospitalar,
exatamente uma válvula de escape para seus medos e sentimentos de dor.
Acontece através de vivências de grupo, privilegiando a comunicação não-verbal e
utiliza-se de diversos objetos como mediadores de comunicação tais como bolas,
arcos, caixas, cordões, etc.; a atividade motora espontânea, o jogo simbólico e o
acordo tônico.
Qualquer que seja a experiência proposta e o método adotado, o educador
deverá levar em consideração as funções psicomotoras (coordenações globais,
lateralidade, equilíbrio, etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais está
trabalhando (MELLO, 2006).
Segundo Ferreira et al (2009) as funções do Psicomotricista no ambiente
hospitalar envolvem a criação, implementação e atuação em projetos ou programas,
visando à profilaxia das questões psicomotoras que podem ser acarretadas, pela
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situação de internação e/ou retornos frequentes ao hospital e pelos tratamentos,
que, embora necessários, invadem o corpo do bebê, da criança e do adolescente
interferindo no processo de constituição e/ou integração da Imagem e do Esquema
Corporal.
São situações em que a criança fica temporariamente privada de vivências
fundamentais para seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, é exposta a
experiências e estímulos que a atravessam de forma potencialmente prejudicial.
Sendo assim, o Psicomotricista tem entre suas funções identificar e intervir
sobre os efeitos dos processos de adoecimento / hospitalização / tratamentos no
desenvolvimento infantil, na relação da criança e da família com a doença, nos
recursos
disponíveis
para
a
reorganização
somatopsíquica
e
para
o
restabelecimento da saúde (FERREIRA et al, 2009).
2. O ambiente hospitalar e o processo de humanização
Hospital é parte integrante de uma organização médica e social, cuja função
básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral,
curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o
domiciliar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação de
recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de
encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os
estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente (BRASIL, 1977,
p. 3929).
Embora o espaço hospitalar seja definido pelo Ministério da Saúde como um
centro de educação, doença e hospitalização são duas condições ou circunstâncias
que no mínimo se constituem ameaça à integridade emocional da criança, podendo
constituir-se numa situação estressante e traumática diante do que ela deverá
enfrentar.
Os ambientes hospitalares impecavelmente limpos, com cores claras,
neutras e sóbrias, têm como características principais a frieza das paredes, a dor, a
tristeza, as angústias e os medos, bem como as causas variadas das internações,
os encaminhamentos médicos, as posologias dos medicamentos exalam medo e
solidão (PAULA et al, 2009).
Torna-se difícil enumerar ou antecipar todos os possíveis fatores que afetam
as reações e respostas da criança frente à hospitalização, mesmo porque existe
uma variação individual na tolerância e vulnerabilidade da mesma frente aos fatores
de estresse.
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Segundo Chiattone (1998), os fatores que devem ser considerados como
influentes e nocivos na hospitalização de crianças são: a estrutura psicoafetiva da
criança no momento do aparecimento da doença e da hospitalização e a qualidade
do relacionamento prévio com a mãe ou substituta, esse último determina mais ou
menos, o sofrimento da criança no momento da internação e cria condições para o
enfrentamento da situação.
Segundo Bortolote e Bretas (2008) a pessoa responsável pelos cuidados
diários de uma criança hospitalizada, é a principal fonte de estimulação para a
organização
motora de
base, para
o desenvolvimento
da
percepção e,
posteriormente, da cognição. Para que o ambiente hospitalar transforme-se em um
ambiente estimulador, o cuidado prestado à criança necessita ser transformado em
uma experiência significativa.
O ambiente exerce importância à criança quando há disposição adequada
do espaço físico, dos objetos, dos sons e imagens oferecidos. Contudo, o ambiente
permanece em segundo plano quando a pessoa que está ao lado da criança
personaliza o atendimento e atende suas necessidades.
Nesse sentido, a humanização no ambiente hospitalar pode ser melhor
trabalhada, oferecendo um ambiente favorável, estruturando programas dirigidos
especialmente à criança, através da inclusão do brinquedo neste ambiente. Pode-se
com isso acelerar a recuperação do paciente infantil, contribuindo para a diminuição
dos dias de permanência no hospital e, consequentemente, do custo da
hospitalização (SOARES, 2001).
A criança, durante seu desenvolvimento normal, explora e interage com seu
meio, de forma contínua, quando lhe são oferecidas oportunidades em ambientes
favoráveis. Portanto, cuidar de quem se encontra fragilizado e internamente
desorganizado em função de uma doença grave é um desafio, e cabe ao enfermeiro
promover seu desenvolvimento propiciando um espaço não ameaçador, que facilite
as trocas da criança com esse ambiente (VALLADARES E CARVALHO, 2006).
Um ambiente estimulador à criança, que se encontra em uma unidade de
internação, deve ser constituído por pessoas que tenham conhecimento sobre os
processos de desenvolvimento infantil normal e seus desvios. Os profissionais
responsáveis pelo cuidado à criança, no caso a equipe de enfermagem, precisa
oferecer um plano de cuidados tendo como base a estimulação da criança partindo
das etapas do desenvolvimento psicomotor, psicossocial e cognitivo.
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Somente a conscientização de seu papel na promoção do desenvolvimento
infantil, levará o enfermeiro a contribuir, favoravelmente, nos processos de evolução
do indivíduo.
Os objetos, as situações vivenciadas pela criança, os procedimentos e os
inter-relacionamentos podem ser experiências benéficas ou maléficas. Somente o
conhecimento, a disposição e a especialização da equipe de enfermagem poderão
tornar o ambiente estimulador, portanto benéfico à criança.
Nesse sentido, o cenário atual mostra que não são somente os enfermeiros
ou equipe de profissionais especialistas que podem ou devem interferir enquanto a
criança passa pelos cuidados de um hospital. Há evidências da importância da
presença do pedagogo e do psicomotricista, enfim de uma equipe multiprofissional
dentro do ambiente hospitalar.
Cabe a estes profissionais perceberem as intenções subjetivas das
respostas, as necessidades do paciente e tomar a iniciativa de quebrar
barreiras, transpor os muros da indiferença e deixar aflorar todo o seu afeto
já que esse é um sentimento que pressupõe interação. O processo cognitivo
também envolve o afetivo, através de relações e interações, e para
concretizá-lo é preciso ter equilíbrio emocional para agir com atenção e
tranquilidade junto aos pacientes (NASCIMENTO E HAEFFNER, 2003, p.
13).
A hospitalização pode ser uma experiência difícil, dolorida para a vida do
enfermo, principalmente se este for uma criança. Esses fatores, por sua vez,
facilitam a irritabilidade, desmotivação, estresse, entre outros. O trabalho lúdico e
educativo, desenvolvido pelo profissional pode ajudar os hospitalizados a aceitar
melhor a ideia do processo de internação ou consulta, bem como auxiliar em seu
processo de recuperação (JESUS, 2009).
3. Brinquedoteca e as necessidades psicomotoras
A Lei n. 11.104 (Santiago, 2005) que tornou obrigatória a instalação de
brinquedotecas nos hospitais representa uma conquista no processo de modificação
das estruturas hospitalares, tanto no seu aspecto físico quanto na modificação de
mentalidades.
De acordo com Paula (2009, p. 142) “as brinquedotecas hospitalares vão
muito além do sentido de diversão. O brincar no ambiente hospitalar vem como um
coadjuvante terapêutico ao alívio do estresse associado à internação”.
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Através dos brinquedos, jogos e atividades lúdicas, os participantes de
brinquedoteca vivenciam a internação e se permitem experimentar novas situações,
buscando assim mecanismos para enfrentar os seus medos e angústias. Na
brinquedoteca, as crianças têm a referência do seu espaço para a recreação, lazer e
lúdico. É o lugar onde a diferença não faz a diferença. São idades, histórias de vida,
educação, formação familiar e personalidades diferentes, mas todos se entendem,
pois o objetivo é comum – transformar pequenas intervenções em momentos de
magia sedativa, esquecendo por instantes as restrições e limitações ao redor e
vivendo o seu faz-de-conta através de jogos, leituras, colagens, montagens, ouvir o
contador de histórias e outros (PAULA et al, 2009).
Nas brinquedotecas as crianças e adolescentes precisam ter acesso a uma
variedade de brinquedos, computadores, jogos eletrônicos, materiais artísticos,
escolares, música, arte, tintas e fantasias.
A brincadeira é a oportunidade de quem dirige a atividade de captar as
reações e interpretações do que pode estar afetando ou contribuindo para o conforto
ou bem estar do paciente. A diversidade de uma brinquedoteca está justamente pela
forma que será montada e a riqueza está também na diferença. Cada participação é
única e pessoal e os momentos ali vivenciados podem transformar a ansiedade do
desconhecido que cerca o ambiente hospitalar, em ansiedade do aguardar a
brincadeira, a recreação, a novidade que por instantes transforma o medo em
alegria (PAULA et al, 2009).
A aprendizagem da criança sujeita as internações frequentes, de certa
forma, é interrompida e consequentemente comprometida, sendo esse o ponto onde
é possível cruzar a importância da brinquedoteca com a atuação do psicomotricista.
Para Coutinho e Moreira (1995), a educação psicomotora constitui um tema
polêmico entre os educadores, porque alguns acreditam que, se a criança não tiver
acesso à pré-escola, (período em que se supõe ajudarmos a criança no
desenvolvimento dos aspectos psicomotores), poderá ter sérios problemas de
aprendizagem, principalmente relacionados à leitura e à escrita. Há outras posturas
que acreditam no desenvolvimento natural e espontâneo da psicomotricidade, já
que, em qualquer circunstância social ou socioeconômica, todo indivíduo
experimenta e exercita certo controle motor sobre diferentes aspectos de seu
organismo.
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Para crianças internadas é de fundamental importância enfatizar as
atividades que se relacionam com brincar e desenhar, uma vez que estas atividades
têm uma abrangência relevante na construção do processo de aprendizagem da
criança. Há na literatura, diversos estudiosos como Le Boulch (1984), Ajuriaguerra
(1974) e De Meur e Staes (1984), entre outros, que buscaram compreender a
questão da psicomotricidade aprofundando seus estudos nos mais variados
aspectos motores.
Para De Meur e Staes (1984), o esquema corporal é considerado elemento
básico indispensável para a formação da personalidade da criança; é a partir dele
que a criança toma consciência global do corpo, permitindo o uso simultâneo de
algumas de suas partes, assim como conserva sua unidade nas múltiplas ações que
pode executar. Entretanto, à medida que a criança se desenvolve, passa a ser
consciente de seu próprio corpo e atinge, finalmente, seu adequado conhecimento,
controle e manejo.
A lateralidade, ainda de acordo com os autores referidos acima, corresponde
a dados neurológicos que naturalmente se define durante o crescimento da criança,
havendo dominância de um lado em relação ao outro, em nível de força e de
precisão. Segundo estudos realizados por Condemarín e Chadwick (1989), o
predomínio funcional de um dos lados do corpo é determinado pela supremacia de
um hemisfério cerebral sobre o outro, com relação a determinadas funções, dentre
estas, as verificadas em nível de olho, mão e pé. A lateralidade pode ser
considerada um dos aspectos de fundamental importância para se verificar se a
criança é destra, canhota, ambidestra, se possui lateralidade cruzada ou mal
definida.
De Meur e Staes (1984), definem a estruturação espacial como, a tomada de
consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar
e da orientação que pode ter em relação às pessoas e as coisas, ou seja, em
primeiro lugar a criança percebe a posição de seu próprio corpo no espaço, depois a
posição dos objetos em relação a si mesma e por fim aprende a perceber as
relações das posições dos objetos entre si. Condemarín e Chadwick (1989), diz que
estudos realizados na área da psicologia genética provaram que a noção de espaço
não é inata, mas é elaborada e construída através da ação e da interpretação de
uma grande quantidade de dados sensoriais.
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Oliveira (2002) afirma que a organização e estruturação temporal é a
capacidade de perceber e de ajustar uma ação aos diferentes componentes do
tempo; localizando os acontecimentos e se organizando no tempo, combinando seus
diversos elementos.
Diante de tais definições percebe-se que os aspectos referidos possuem
certa interdependência em relação ao outro, afinal a psicomotricidade enfatiza três
elementos indissociáveis: corpo, espaço e tempo. Para Le Boulche (1984), a
psicomotricidade não é exclusiva de um novo método, ou de uma escola, ou de uma
corrente de pensamento, nem constitui uma técnica, mas visa a fins educativos pelo
emprego do movimento humano.
Relacionando a brinquedoteca com o trabalho do psicomotricista, este pode
ajudar também no desenvolvimento da percepção musical, ou seja, muitas crianças
correm o risco de sofrer alterações auditivas em decorrência de tratamentos
antineoplásicos (ALMEIDA et al, 2008). Nesse sentido trabalhar a audição, o
reconhecimento e a prática de fala através da musicalização ajuda sobremaneira na
recuperação dessas crianças.
O desenvolvimento da coordenação viso-motora, que é uma parte da
coordenação motora fina, envolvendo o olho e as mãos, ou seja, executar a
atividade com os olhos e as mãos ao mesmo tempo, pode ser auxiliada utilizando
blocos lógicos, futebol de botão, montagem de maquetes, quebra-cabeças.
As crianças adoentadas podem ficar mais tensas, devido uma sessão de
quimioterapia ou simplesmente pelo medo de uma consulta, então, pode-se utilizar
atividades que auxiliam o desenvolvimento da coordenação motora global. Estas
atividades dizem respeito à organização geral do ritmo, ao desenvolvimento e às
percepções gerais da criança. A coordenação motora global é a condição que deve
ser desenvolvida primeiramente no espaço infantil. É o trabalho que vai apurar os
movimentos dos membros superiores (braços, ombros, pescoço e cabeça) e
também, os membros inferiores (pernas, pés, quadris, etc.). Dentre os trabalhos de
coordenação motora têm-se as danças, expressões corporais, montagem de
quebra-cabeça gigante no chão, usar tintas para fazer pinturas com o pincel, colar
pedaços de retalhos de papel em roupas para expressão corporal (ALMEIDA, 2006).
Para Rodegueri (2004, p. 100) a brinquedoteca, ao trazer o impulso lúdico,
que é um impulso de vida, oferece um meio importante para o doente, seus
familiares e amigos superarem esta situação e, desta forma, buscar consciente ou
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inconscientemente a recuperação, superando o instinto de morte que age através da
doença; portanto é um apoio terapêutico em forma de alegria, de brincar e de se
expressar criativamente para todos, pois a doença é, em última instância, o conflito
de viver. Trocar o estado de ânimo pode-se resolver este conflito.
Considerações Finais
A aprendizagem humana desenvolve-se passo a passo em um ambiente
psicológico adequado e estimulador. Para Fonseca (1989) quando o ambiente não é
adequado, o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem da criança tornase comprometido.
Cabe aos profissionais de saúde e da educação exercerem meios de
estimulação para a criança hospitalizada, com base no conhecimento científico
sobre cada fase do desenvolvimento infantil, além da conscientização sobre a
importância de seus atos em relação a assistência à criança no hospital.
Pode-se inferir que a psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a
ação, envolvendo a emoção. A psicomotricidade favorece à criança uma relação
consigo mesma, com o outro e com o mundo que a cerca, possibilitando-a um
melhor conhecimento do seu corpo e de suas possibilidades e no ambiente
hospitalar onde está emocional e fisicamente abalada, ela só tem a contribuir com
sua autoestima e favorecer o restabelecimento de sua saúde.
Quanto às brinquedotecas, podem ser consideradas uma nova instituição
que garante à criança um espaço que facilita o brincar. Como é um ambiente criado
especialmente para a criança, alegre, agradável, colorido, acaba por estimular a
criatividade, o desenvolvimento da imaginação, da comunicação e da expressão.
Encerra uma função pedagógica e social ao mesmo tempo, contribuindo nas
instituições hospitalares como amenizador do sofrimento e tensão que passa a
criança adoentada.
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