UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DO TRABALHADOR
MARCIANI DA SILVA PERES
OS PREJUÍZOS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA SAÚDE DO
TRABALHADOR
PORTO ALEGRE
2014
MARCIANI DA SILVA PERES
OS PREJUÍZOS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA SAÚDE DO
TRABALHADOR
Trabalho de Conclusão do Curso de
Especialização em Saúde do trabalhador da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
apresentado como requisito parcial à obtenção
do grau de Especialista em Saúde do
Trabalhador.
Orientador: Profª. Drª. Tatiana Reidel
PORTO ALEGRE
2014
2
APRESENTAÇÃO
Esta monografia de conclusão do Curso de Especialização em Saúde do
Trabalhador foi elaborada na forma de Artigo Científico, visando publicação em
periódicos da área de Saúde Coletiva e foi utilizada a “NBR 6022, Informação e
documentação - Artigo em publicação periódica científica impressa –
Apresentação”, de 2003, para a normalização deste trabalho.
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RESUMO
Este artigo versa sobre os prejuízos que a dependência química causa na
saúde do trabalhador e tem como base para a discussão a vivência profissional
numa instituição de saúde privada de Porto Alegre. O Estado é responsável
pela promoção, recuperação e proteção da saúde da população brasileira e foi
com a implantação do SUS que a Política de Saúde se efetivou no Brasil. O
SUS tem dentre suas atribuições à atuação em Saúde do Trabalhador. Pensar
a saúde do trabalhador significa pensar o processo saúde e doença e a relação
que se estabelece com o trabalho, bem como pensar o trabalhador para além
de suas atividades laborais. Considera-se a dependência química um grave e
complexo problema social e de saúde pública, que impacta diretamente na
saúde do dependente químico e também na de seus familiares. A metodologia
desenvolveu-se através de revisão teórica sobre o tema dependência química
e a saúde do trabalhador. Desvendar os prejuízos que a dependência química
causa na saúde do trabalhador, sendo este um dependente químico ou que
tenha um familiar nessa condição, significa analisar os prejuízos físicos,
emocionais e sociais que surgem a partir desta problemática e que
consequentemente afetam a atividade laboral deste trabalhador. O resultado
encontrado com base nesta reflexão foi a evidência e reflexão sobre quais são
os prejuízos físicos, psicológicos, financeiros, sociais que repercutem na
atividade laboral onde destaca-se a importância das empresas terem uma
atenção e intervenção voltada para esta demanda.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador; Dependência Química; Prejuízos.
ABSTRACT
The aim of this article is show the damage the chemical dependency has on
worker's health and has as a basis for discussion of professional experience in
a private health institution in Porto Alegre. The state is responsible for the
promotion, recovery and protection of the population health and it was through
the SUS emerged the Health Politic in Brazil. The SUS have between your
attributions the Worker’s health, think about the worker’s health is think about
the health and disease process and the relation with the work, well as the
employee to think beyond their professional activities. The chemical
dependency is a serious and complex social problem and public health, which
impacts the health of chemically dependent and also their familiars. The
methodology was developed through a theory review about chemical
dependency and worker’s health. The damages the chemical dependency
affecting on worker’s health, being one dependent or having a dependent in
their family, analyses the physical, emotional and social damages that emerge
this problematic and, consequently, affect in their labor activity. The results
indicate, on this reflection, the evidences about the psychological, physical,
financial and social damages that impact on labor activity where highlighting the
importance of companies having attention and intervention for this demand.
Keywords: Worker’s Health; Chemical dependency; Damages.
4
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi desenvolvido como requisito para a conclusão do Curso
de Saúde do Trabalhador e para obtenção do título de especialista em Saúde
do Trabalhador. A temática desenvolvida neste artigo surge a partir de um
assunto muito presente no cotidiano profissional da assistente social de uma
instituição privada de saúde de Porto Alegre, ainda pouco discutido no meio
acadêmico.
A Política de Saúde Pública no Brasil se consolidou a partir da
Constituição Federal de 1988, com a implantação do SUS (Sistema Único de
Saúde). A partir desta, muitas foram as mudanças na área da saúde, a
começar pelo próprio conceito de saúde, que a partir de então, passa a ser
entendido como viver bem em todos os sentidos, seja fisicamente,
mentalmente ou socialmente.
A Saúde do Trabalhador caracteriza-se como sendo uma política
pública, atribuída constitucionalmente de responsabilidade do SUS que
dispõem objetivos e diretrizes para a consolidação desta, tendo em vista a
preocupação com o processo de saúde/doença que se estabelece a partir do
trabalho. O trabalho é fator fundamental na vida do ser humano, portanto, fazse necessário compreender o processo de saúde e doença que pode se
estabelecer a partir deste.
A dependência química enquanto doença caracteriza-se como sendo
social, crônica, incurável, mas tratável e considerada democrática por atingir as
mais variadas classes sociais, idades, sexos, religiões, etc. A dependência
química tratada neste trabalho relaciona-se as drogas chamadas ilícitas e são
elas: crack, cocaína, maconha, e o álcool que é chamado de droga lícita. Tais
drogas acarretam problemas sociais, financeiros, familiares, físico, tanto para
dependentes químicos quanto para seus familiares que são atingidos de forma
indireta, mas tão gravemente quanto ao dependente.
Numa instituição de saúde privada de Porto Alegre, essa realidade se
apresenta diante dos atendimentos realizados pelo serviço social num
programa institucional voltado para o bem-estar dos funcionários. Muitos foram
5
os casos atendidos no ano de 2013 e que instigaram a autora a abordar a
discussão sobre o assunto, pois se sabe que trabalhadores dependentes
químicos ou que tenham familiares nesta condição sofrem prejuízos de cunho
emocional, financeiro, de saúde, familiar e muitas vezes sentem-se excluídos
por uma sociedade ainda preconceituosa diante da questão e por isso
possuem dificuldade de buscarem recursos.
Este trabalho, portanto, visa desvendar e evidenciar os prejuízos que a
dependência química causa na saúde do trabalhador, reconhecendo o
trabalhador como indivíduo único e trazendo para discussão um assunto ainda
pouco trabalhado cientificamente que é a questão do trabalhador que tenha
familiar dependente químico, e que sofre tanto quanto um dependente os
prejuízos desta doença.
1 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DO SUS NO BRASIL
Por muito tempo até a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde)
no Brasil o acesso aos serviços de saúde foi restrito aos que tinham condições
financeiras de pagar por este serviço, sendo que os que não detinham
condições, contavam apenas com instituições de caridade e medicina popular a
partir de benzedeiros, curandeiros, chás, ervas, e etc.
A política de saúde no Brasil se constituiu a partir de um processo de
lutas e movimentos que foram ocorrendo ao longo da década de 1980 até a
promulgação da Constituição Federal de 1988, que prevê a saúde como dever
do Estado e um direito de todos no país. Chamada por muitos de “a
Constituição Cidadã”, este foi um marco de grande importância realmente para
efetivação da cidadania do povo brasileiro, visto que também “foi um marco
fundamental para a redefinição das prioridades da política do Estado na área
da saúde pública” (EDLER; ESCOREL; NASCIMENTO, 2005, p. 61).
A “Constituição Cidadã” de 1988 representa um significativo avanço
para a sociedade brasileira. É nela e em suas leis complementares,
que podemos buscar referências e defesa da promoção da saúde
como direito do cidadão e dever do Estado com prioridade para ações
de prevenção – de doenças, danos, riscos e agravos – sem
negligenciar o tratamento, favorecendo e viabilizando o acesso
6
universal aos serviços, a atenção integral, o direito à informação, a
participação da comunidade, a igualdade da assistência à saúde sem
preconceitos ou privilégios de qualquer espécie e a integração das
ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico reforçando
princípios e diretrizes da Seguridade Social (Lei nº8.080 - LOS)
(BRAVO, 2006b, p. 48).
Foi a partir da Constituição 1988 que o conceito de saúde foi
reformulado e houve a inversão do conceito anteriormente entendido apenas
como ausência de doença, para um conceito mais abrangente de saúde que
pressupõem viver bem em todos os sentidos, seja fisicamente, mentalmente ou
socialmente, com acesso às ações de promoção e prevenção de saúde.
A saúde, em seu sentido mais abrangente, foi considerada como
resultante das condições de alimentação, habitação, educação,
renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde (BRAVO,
2007, p.88).
No Brasil com a implantação do SUS a partir da Lei 8080 de 19 de
Setembro de 1990, muitos foram os avanços para uma população que antes
dependia apenas de caridade das instituições filantrópicas ou da medicina
popular. Instaura-se então, uma política pautada pelos princípios da
universalidade, equidade e integralidade, onde a saúde é direito de todos e
dever do Estado garanti-la.
Nesta perspectiva de saúde, não basta o cidadão dizer que não está
doente para ter saúde, ele precisa de condições básicas para a sua
sobrevivência e de sua família, como por exemplo, ter um lugar para morar,
comida para se alimentar e sua família, passear, praticar um esporte, ir ao
médico como forma de prevenção de doenças, entre outras. É dever do Estado
através de suas ramificações promover ações que propiciem ao cidadão
condições de uma vida saudável.
Para que os serviços e ações na saúde sejam sistematizados a
Constituição/1988 refere em seu Art. 198 que:
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I –
descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II –
atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da
comunidade (BRASIL, 2010, p.3).
7
Os serviços prestados pelo SUS são destinados a todos os cidadãos e
são financiados por meio de impostos e contribuições pagos pela população.
Art.196: Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do
risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal
igualitários às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação (BRASIL, 2010, p.3).
Cabe ao Estado a responsabilidade para com a promoção, recuperação
e proteção da saúde da população brasileira, levando-se em consideração
todas as formas que de alguma maneira possam contribuir para o bem-estar da
população, pois saúde para além de ausência de doença é o bem-estar da
população no geral.
Pode-se dizer, “que do ponto de vista prático um dos objetivos do SUS é
reconhecer o ser humano como um ser de direitos – econômicos, sociais,
culturais, ambientais, civis e políticos” (COSTA; MAZUIM, 2004, p.12).
Paralelamente a garantia da saúde como direito de todos e dever do
estado, o SUS traz dentre seus objetivos, ações voltadas para atenção a
Saúde do Trabalhador, tendo em vista a preocupação com o processo de
saúde/doença que se estabelece a partir do trabalho.
1.1 A SAÚDE DO TRABALHADOR ENQUANTO POLÍTICA PÚBLICA
A Saúde do Trabalhador nasce no Brasil a partir da reivindicação sindical e
de trabalhadores e técnicos da área da saúde, que se uniram em organizações
e junto ao movimento pela Reforma Sanitária lutaram pela afirmação do
trabalhador como sujeito ativo no processo de saúde-doença (NARDI, 2004).
Muitas mudanças políticas e sociais marcaram as décadas de 1980 e 1990,
sendo a atenção à saúde do trabalhador uma delas, onde ficou definida a área
de Saúde do Trabalhador como de abrangência da saúde pública (BRASIL,
Ministério da Saúde, 2011).
O SUS tem entre suas atribuições constitucionais, a atuação em Saúde do
trabalhador (ST), conforme art. 200 da Constituição Federal, que prevê
executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde
8
do trabalhador e colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o
do trabalho. A Lei nº 8.080/90, que institui o SUS, no seu artigo 6º, descreve a
Saúde do Trabalhador como:
Conjunto de atividades que se destina, através das ações de
vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e
proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à
recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho (BRASIL, 1990).
Muitas são as ações que nas últimas duas décadas vêm desenvolvendo
Saúde do Trabalhador enquanto política pública. Uma delas em 2002 foi a
criação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
(RENAST) que norteia o processo saúde-doença dos trabalhadores e tem
como objetivo conforme especificado na PORTARIA Nº 2.437 “integrar a rede
de serviços do SUS, voltados à assistência e à vigilância, para o
desenvolvimento das ações de Saúde do Trabalhador” (BRASIL, 2005, s/p.).
A
construção
da
RENAST
representou
a
institucionalização
e
aprofundamento da Saúde do Trabalhador no SUS, na qual estabeleceu alguns
meios para sua execução, como foi o caso dos Centros de Referência em
Saúde do Trabalhador (CERESTs). Os CERESTs encontram-se
[...] localizados em cada uma das capitais, regiões metropolitanas e
municípios de sede de pólos de assistência, das regiões e microregiões de saúde, com a atribuição de dar suporte técnico e científico
às intervenções do SUS no campo da Saúde do Trabalhador,
integradas, no âmbito de uma determinada região, com a ação de
outros órgãos públicos (BRASIL, 2006, p.18).
A Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador – PNSST, foi
implementada em 2004, na qual definiu uma série de ações voltadas para a
melhoria e ampliação da segurança e saúde do trabalhador no país, desde
diretrizes, estudos, interface com demais políticas públicas e com demais
Ministérios, dentre outras (BRASIL, 2011).
Em âmbito mundial a OIT (Organização Internacional do Trabalho) em
2006, aprovou a Convenção n.º 187, que dispõe sobre a Estrutura de
Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho, na qual apontou a necessidade
da promoção continuada de uma cultura preventiva e de um comprometimento
9
de seus membros com uma melhoria contínua da segurança e saúde no
trabalho, na perspectiva de poder ampliar a atenção na área de saúde do
trabalhador (BRASIL, 2012).
Pensar a saúde do trabalhador significa pensar o processo saúde e
doença e a relação que se estabelece com o trabalho, bem como pensar o
trabalhador para além de suas atividades laborais, relacionando a importância
que o trabalho tem na vida do ser humano e como os processos de trabalho
podem interferir na qualidade de vida destes. Diante disso, entende-se a saúde
do trabalhador como
[...] o conjunto de conhecimentos oriundos de diversas disciplinas [...]
que, aliado ao saber do trabalhador sobre seu ambiente de trabalho e
suas vivências das situações de desgaste e de reprodução,
estabelece uma nova forma de compreensão das relações entre
saúde e trabalho e propõe uma nova prática de atenção a saúde dos
trabalhadores e intervenção nos ambientes de trabalho (NARDI apud
TITTONI, 2004, p.69).
Partindo de fatores históricos percebe-se que as exigências advindas
das diferentes formas de organização e gestão do trabalho, através dos
diferentes modelos (taylorista, fordista e toyotista), trouxeram diversas
mudanças nas vidas dos trabalhadores. Os mesmos passaram a sentir medo
de perder seu trabalho, insegurança, estresse, sofrimento mental, além da
exigência por maior escolaridade e qualificação da força de trabalho, ritmo de
trabalho acelerado, competitividade e desemprego.
Muitas transformações no mundo do trabalho têm ocorrido, entre as
quais estão as referentes à tecnologia aos estilos de gestão
organizacional, à transitoriedade do emprego e ao crescimento na
importância do setor de serviços no cenário econômico (BORGES et
al., 2002, p. 189).
Pensar em saúde do trabalhador é problematizá-la considerando o
trabalhador em sua totalidade, a partir de sua condição humana que envolve
além de sua dimensão profissional elementos da vida familiar e social
considerando o quanto situações pessoais e organizacionais podem se tornar
estressores que impactam na execução das atividades laborais e de qualidade
de vida dos trabalhadores.
10
Os benefícios que este olhar reverte à empresa são de grande
importância e justifica o crescimento do número de empresas com programas
voltados à promoção do bem-estar, qualidade de vida e prevenção do
adoecimento de seus trabalhadores. Ao mesmo tempo em que os
trabalhadores ganham com melhor qualidade de vida, maior satisfação,
motivação, as empresas ganham com inúmeros benefícios na qualidade do
serviço como: maior comprometimento, satisfação dos trabalhadores e
motivação, além de melhor qualidade no serviço desenvolvido, redução do
absenteísmo e acidentes de trabalho, dentre outros.
O trabalho significa para o homem, uma forma de existir enquanto
sujeito e se sentir digno, tendo em vista as realizações que este lhe
proporciona, indo muito além do conceito de condição básica para suprir as
necessidades básicas do ser humano.
Assim como o conceito de saúde foi reformulado a partir do
entendimento de que para se ter saúde se faz necessário um conjunto de
fatores e não apenas a ausência de doença, o conceito de trabalho
sintetizando a concepção marxiana caracteriza-se como:
[...] momento fundante de realização do ser social, condição para sua
existência; é o ponto de partida para a humanização do ser social e o
motor decisivo do processo de humanização do homem. Não foi outro
o significado dado por Marx ao enfatizar que “como criador de valores
de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso uma condição de
existência do homem, independentemente de todas as formas de
sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo
entre homem e natureza, e portanto vida humana”. Esta formulação
permite entender o trabalho como “a única lei objetiva e ultrauniversal do ser social, que é tão eterna quanto o próprio ser social,
ou seja, trata-se também de uma lei histórica, a medida que nasce
simultaneamente com o ser social, mas que permanece ativa apenas
enquanto esse existir” (PRATES apud ANTUNES, 2003, p. 123).
As transformações ocorridas no mundo do trabalho desencadearam a
precarização do trabalho onde questões como salários, condições de trabalho
precisam ser constantemente problematizadas e pautadas na luta pela garantia
de direitos e dignidade da classe trabalhadora. Além disso, atualmente um
olhar mais emergente tem se voltado para as ocorrências de adoecimentos e
doenças ocasionadas pelo trabalho e que atingem o corpo e a mente do
11
trabalhador, que tem sua a subjetividade massacrada pelo capital (ALVES,
2013).
A organização e gestão do trabalho encontram-se diretamente
relacionadas ao adoecimento dos trabalhadores, que sofrem os prejuízos de
uma lógica de acumulação flexível em que o corpo e a mente são esgotados
pelo cumprimento de metas e intensificação das atividades laborais.
Com as transformações do mundo do trabalho, ter um olhar voltado para
a saúde e o bem-estar do trabalhador, vem configurando-se como uma prática
cada dia mais desafiadora e necessária para as empresas, pois o indivíduo é
um ser único e deve ser visto de forma integral.
2 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ENQUANTO PROBLEMA SOCIAL E DE
SAÚDE PÚBLICA
A dependência química é atualmente considerada um grave e complexo
problema social e de saúde pública, mas ao contrário do que se pensa, não é
um fenômeno recente na sociedade, tão pouco encontrado apenas em uma
classe social específica e que atinge para além dos dependentes, também as
pessoas que se relacionam com este diretamente.
A dependência química tratada neste trabalho relaciona-se as drogas
chamadas ilícitas e são elas: crack, cocaína, maconha, e o álcool que é
chamado de droga lícita.
O uso de drogas constituiu-se como uma preocupação mundial no
setor da saúde, devido à compreensão da gama de fatores que o
caracterizam. O conhecimento a respeito dos riscos associados ao
uso de drogas possibilita a criação de abordagens e métodos de
prevenção e tratamento. É importante considerar a intensidade e as
complicações do uso de drogas, percebendo os danos aos usuários,
bem como aos seus grupos de convívio (SANTOS apud MARQUES;
RIBEIRO, 2006, p.27).
De acordo com a OIT, dependência química se refere a forte
dependência de uma pessoa a certa substância, onde as suas dificuldades
tornam-se explícitas para as outras pessoas e a abstinência de tal substância
pode manifestar-se apenas como um ligeiro desconforto como uma agitação
psicomotora extrema (OIT, 2008).
12
O uso de substâncias psicoativas é algo antigo na sociedade e esta
presente nas mais diversas classes sociais, religiões, culturas, sexos, onde “a
Organização das Nações Unidas (ONU) estima em até 270 milhões os usuários
de drogas ilegais (6,1% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade)”
(SENADO, 2011, p.7).
[...] o consumo de drogas sempre existiu ao longo dos tempos, desde
as épocas mais antigas e em todas as culturas e religiões, com
finalidades específicas. Isso porque, o homem sempre buscou,
através dos tempos, maneiras de aumentar o seu prazer e diminuir o
seu sofrimento (PRATTA; SANTOS apud MARTINS; CORREIA,
2005, p. 203).
A dependência química como doença, é caracterizada como sendo
crônica, progressiva, incurável, mas tratável, que afeta o cérebro e
consequentemente o comportamento. Traz problemas significativos para o
dependente tanto de natureza familiar, social, legal, físico, financeiro, além de
ser considerada uma doença democrática, pois atinge todas as classes sociais
na sociedade. Assim pode-se dizer que é “uma doença progressiva, incurável e
potencialmente fatal, como sendo uma doença multifacetada, atingindo o ser
humano em todas as suas áreas: física, psíquica e social”. (DENARC, 2014,
s/p.).
A
dependência
química
encontra-se
representada
no
Código
Internacional das Doenças (CID-10) pelo CID F10-F19, na categoria que se
refere aos transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de
substância psicoativa e traz como conceito de dependência química:
Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos
que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância
psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a
droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente
apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade
dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e
obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um
estado de abstinência física (DATA SUS, 2008,s/p.).
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) como parte do
Plano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, idealizou em parceria com
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ, uma pesquisa desenvolvida pela OBID
(Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas) realizada nas capitais
13
brasileiras e Distrito Federal, com base no ano de 2012. A estimativa que a
pesquisa apontou é que aproximadamente 370 mil pessoas são usuárias de
crack e/ou similares e aproximadamente 1 milhão de pessoas são usuárias de
drogas ilícitas em geral (exceto maconha). Com base na mesma pesquisa,
revelou-se que apenas 4,2% dos usuários de crack e/ou similares trabalham de
forma regular com carteira assinada (OBID, 2013).
Um fenômeno pouco conhecido e discutido, mas que ocorre com muita
frequência é denominado de co-dependência que se caracteriza como:
[...] conjunto de sinais e sintomas desenvolvidos por pessoas
próximas dos dependentes químicos que chegam a negar a sua
própria existência em função de viver a vida do outro. O nível de
preocupação com o futuro do familiar passa a ocupar o pensamento e
o cotidiano daquele que está ao lado e promove esta negação
paralela (OLIVEIRA, 2008, p.30).
É importante ressaltar que a co-dependência não é uma doença que
atinge somente pessoas ligadas diretamente a dependentes químicos, ela
caracteriza-se pela responsabilidade excessiva de satisfazer as necessidades
da outra pessoa, de lhe fazer ou não feliz, sempre deixando de lado as suas
necessidades e vontades em prol do outro.
A co-dependência não se restringe somente aos familiares que tem
dependentes por álcool ou drogas, como é comum se pensar. O codependente se envolve de tal forma com uma outra pessoa que
chega a perder a sua identidade pessoal. [...] O dependente se
esforça para controlar a droga e o co-dependente para controlar o
dependente. A progressão é a mesma. Se não conseguirem ajuda,
tanto o dependente químico quanto os co-dependentes ficarão cada
vez mais doentes com o tempo, devido a seus esforços inúteis e
contraproducentes (MIRANDA, 2007, s/p).
Na grande maioria dos casos, a família adoece junto com o dependente
químico, tendo em vista o impacto que esta causa na estrutura familiar. Pais,
cônjuges, irmãos, etc..., adoecidos por terem que conviver com uma doença
que não é sua diretamente, mas que lhe atinge devido ao desgaste emocional
em ter que lutar contra uma doença de ordem social, crônica e incurável que
atinge seu familiar.
Quando os trabalhadores têm problemas de abuso de substâncias, as
famílias são afectadas. Se um membro da família de um trabalhador
tiver problema de abuso de substâncias, isso terá quase certamente
um impacto no desempenho desse trabalhador (OIT, 2008, p.8).
14
Poucos são os estudos ainda hoje no Brasil no que se referem os
prejuízos na vida da família de um dependente químico. Um levantamento
realizado entre 2012 e 2013 pelo INPAD (Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas) denominado
como II LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), estima que 5,7%
da população brasileira é dependente de álcool e/ou maconha e/ou cocaína,
representando mais de 8 milhões de pessoas e que levando em consideração
que os domicílios brasileiros possuem uma média de 4 pessoas, pelo menos
28 milhões de pessoas no país vivem com um dependente químico e os que
sofrem os maiores impactos geralmente são cônjuges, pais e filhos (UNIFESP,
2013).
Os prejuízos da dependência química são muitas vezes devastadores
para o dependente químico e para sua família, que muitas vezes se deparam
com a fragilização dos vínculos familiares, vida social e financeira, situações de
vulnerabilidade e exposição a riscos, dentre outros.
Nesta perspectiva, refletir sobre os prejuízos que a dependência química
causa na saúde do trabalhador significa analisar os prejuízos físicos,
emocionais e sociais que surgem a partir desta problemática e que
consequentemente afetam a atividade laboral deste trabalhador.
3 DESVENDANDO OS PREJUÍZOS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA
SAÚDE DOS TRABALHADORES DE UMA INSTITUIÇÃO DE SAÚDE
PRIVADA DE PORTO ALEGRE
Analisar e evidenciar os prejuízos da dependência química na saúde do
trabalhador se tornou relevante a partir do exercício profissional numa
instituição de saúde privada da cidade de Porto Alegre, onde essa realidade é
conhecida não só por pacientes, mas também por funcionários, sendo esta
uma doença sua ou de um familiar, que direta ou indiretamente sofrem os
danos dessa doença.
Segundo (PRATTA; SANTOS, 2009, p. 209) “[...] os indivíduos que se
tornam dependentes vivenciam um sofrimento físico e psíquico intensos, tendo
15
sua vida afetada, bem como suas famílias, amigos e a comunidade de uma
forma geral”. Diante dos malefícios que a dependência química causa na vida
do ser humano, as famílias acabam sofrendo da mesma forma os prejuízos
dessa doença, pois se tornam impotentes muitas vezes ao se depararem com
essa situação sendo neste momento que o sofrimento e o desgaste ocorrem.
O dependente químico sofre diretamente os prejuízos desta doença em
seu organismo e sua vida social e mesmo ciente e desgastado por todos esses
malefícios, possui muita dificuldade e resistência para procurar ajuda e aderir a
tratamento. Da mesma forma, os familiares dos dependentes químicos são
atingidos de forma indireta, mas não menos impactante, onde muitas vezes
deparam-se com um filho que rouba sua casa ou assalta pessoas na rua para
sustentar o uso da droga; um irmão que prefere morar na rua do que tratar-se
contra o alcoolismo; um neto internado para desintoxicação pela 24º vez; uma
filha que aos 15 anos torna-se companheira de um traficante e a partir deste
momento não pode ter mais contato com a mãe; enfim, muitas são as
situações que envolvem as pessoas ligadas de alguma forma à dependência
química e que evidenciam os danos que essa doença causa. A dificuldade de
aceitar o problema e buscar apoio muitas vezes é uma dificuldade de ambos os
lados, tanto para dependentes quanto familiares.
Numa instituição com mais de 2.500 funcionários, através de um
programa institucional voltado para atendimento dos funcionários, o Serviço
Social
em
2013,
atendeu
muitos casos
relacionados a
funcionários
dependentes químicos ou que tenham familiares nesta condição, onde se pode
constatar o grande sofrimento de funcionários nessas duas condições.
O objetivo do programa é acolher os funcionários que apresentam um
desgaste emocional, sendo este gerado por questões institucionais e/ou por
questões pessoais, propiciando um momento de acolhimento e escuta e caso
necessário encaminhamento para as redes de apoio, interna ou externa. Nesta
perspectiva abre-se um espaço, onde funcionários dependentes químicos ou
que tenham familiar nesta condição busquem acolhimento, apoio, uma
orientação de como poder eliminar ou ao menos minimizar os prejuízos que
esta doença vem lhe causando. Cabe ao assistente social nesta perspectiva,
16
fazer uma escuta sensível e poder juntamente com o funcionário elaborar
estratégias que possam auxiliá-lo diante da situação, com vistas à diminuição
desses prejuízos em sua saúde.
Ainda existe muito preconceito no que se refere à dependência química.
As pessoas em geral, tendem a ter pensamentos e fazer julgamentos de senso
comum o que muitas vezes torna-se um inibidor no ambiente de trabalho para
que os funcionários que sofrem com esta realidade busquem apoio e
orientação, mesmo existindo programas voltados para o bem-estar do
funcionário.
Sabemos o enorme preconceito referente a esta patologia que não é
entendida como doença, mas como um desvio de conduta e falta de
postura adequada frente aos problemas da vida. Esta visão
deformada é fruto da ignorância compartilhada também por
profissionais da área da Saúde e de outros setores. As Universidades
e Faculdades não dão a atenção que a epidemiologia das drogas
requer e por ser um processo crônico vai sendo “tocado” pelos
portadores e suas famílias de forma não resolutiva (OLIVEIRA, 2008,
p.26).
Muitos são os prejuízos na saúde do trabalhador em questão e que
refletem diretamente na execução de sua atividade laboral dentro das
empresas.
Tais
trabalhadores
ficam
mais
dispostos
a
absenteísmo,
afastamentos, ausências no período da jornada de trabalho, queda na
produtividade e qualidade no trabalho, mudanças nos hábitos pessoais,
relacionamento ruim com os colegas e chefias (VAISSMAN, 2004).
Segundo a OIT (2003), alguns estudos realizados demonstram os
prejuízos que o abuso de substâncias psicoativas causa tanto para as
empresas, quanto para os trabalhadores e seus familiares. Nos trabalhadores,
identificam-se problemas relacionados à saúde, as relações interpessoais,
familiares, dificuldade financeira, bem como os de ordem legal. Já no que se
refere às empresas, os prejuízos detectadas são os acidentes de trabalho,
absenteísmo e perda da produtividade, dentre outros.
Muitos são os prejuízos identificados no trabalho e que afetam tanto o
trabalhador quanto a empresa, como: atrasos, faltas injustificadas, atestados,
afastamentos,
acidentes
de
trabalho,
advertências,
dificuldade
no
17
relacionamento com chefias e/ou colegas, desmotivação e até demissão,
dentro outros.
Por trás destes prejuízos de ordem organizacional, existem as de ordem
emocional e social muitas vezes desconhecido pela empresa. O trabalhador
em sofrimento muitas vezes retrai-se e sofre calado diante de uma situação
como a em discussão, tendo em vista o medo do preconceito, julgamentos e
desconfiança que esta pode acarretar tanto por parte dos colegas, quanto
pelas chefias e a instituição como um todo, pois se considera que:
[...] a dependência química é algo atual para se discutir, uma vez que
somente a partir da segunda metade do século passado o conceito
de dependência deixou de ser enfocado como um desvio de caráter,
ou apenas como um conjunto de sintomas, para ganhar contornos de
transtorno mental com características específicas (RIBEIRO, 2004
apud PRATTA; SANTOS, 2009, p. 208).
No II LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) identificou-se
que a família do dependente químico fica mais exposta a situações de
vulnerabilidade e de riscos e que possuem mais sintomas físicos e psicológicos
que a média da população, sendo que as mães são as que mais sofrem com
estes sintomas, sendo que na região Sul do país chega a 50%. No que se
refere à sua habilidade de trabalhar ou de estudar, 58% dos entrevistados
foram afetados tendo um familiar dependente químico (UNIFESP, 2013).
[...] as experiências cotidianas vividas pela família com parente
usuário de drogas são devastadoras nos aspectos físico, financeiro,
de relações interpessoais e sociais. O impacto também se dá na
perspectiva subjetiva, causando sentimentos negativos como tensão,
estresse, preocupação, estigma, raiva e culpa (UNIFESP, 2013, p.2).
Considerando os múltiplos aspectos que envolvem a saúde do
trabalhador a partir da concepção ampliada de saúde e os desafios que se
colocam para o enfrentamento dos prejuízos da dependência química na saúde
do trabalhador de uma instituição de saúde privada em Porto Alegre,
compreende-se que a atuação do assistente social se constitui de forma
interventiva, onde a compreensão da realidade vivida pelo trabalhador e a
articulação com os direitos e serviços existentes possibilita uma diminuição do
sofrimento deste e melhoria na sua qualidade de vida e no trabalho.
18
O assistente social vem ganhando espaço nesse cenário atual onde as
empresas tendem a ter uma atenção voltada para a melhoria da qualidade de
vida, clima organizacional e bem-estar de seus funcionários, onde lhe compete
nesta perspectiva, atuar na mediação entre a instituição e o funcionário,
garantindo aos trabalhadores o acesso aos seus direitos enquanto cidadãos,
através de orientação social e encaminhamento à rede de apoio institucional e
social, bem como o acompanhamento da situação.
O Assistente Social por ser um profissional especializado e munido
de competências que o habilita no trato das questões sociais e de
negociação com a força de trabalho, contribui imensamente para o
aperfeiçoamento da administração por proporcionar um maior grau de
satisfação e conseqüentemente produtividade aos colaboradores,
sendo fundamental na otimização do Clima Organizacional
(BORRALHO; SOUZA; OLIVEIRA, 2011, p. 6).
Trabalhar interligado a rede é uma característica dos processos de
trabalho nos quais se insere o assistente social, visto que é através da rede o
profissional pode acessar serviços para atender a demanda trazida pelos
trabalhadores. Esta rede se efetiva através de uma teia de relações interligadas
e que traz consigo a idéia de vínculos horizontais, de interdependência e
complementaridade.
No atendimento aos trabalhadores que sofrem os prejuízos da
dependência química, trabalhar em rede significa poder interligar os diferentes
serviços institucionais ou públicos, bem como buscar o apoio de outros
profissionais que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos
mesmos. No que se refere à rede interna, ou rede institucional, compreende-se
que é necessário criar canais de comunicação e articulação entre os diferentes
setores e áreas envolvendo não somente o serviço social, mas também
psicologia, medicina do trabalho, consultoria de RH, RH administrativo, bem
como os psiquiatras que atendem pelo convênio da instituição, dentre outros.
No que se refere à articulação da rede de serviços públicos, é
necessário articular os diferentes serviços como dos CAPS AD (Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), Defensoria Pública, N.A. (Narcóticos
Anônimos), Grupos de Ajuda, Farmácia Básica, CREAS (Centro de Referência
Especializado de Assistência Social), Comunidades Terapêuticas, ou seja,
19
todos os serviços que possam de alguma forma contribuir para a melhoria da
qualidade de vida do trabalhador.
No que se refere aos trabalhadores dependentes químicos, os prejuízos
são mais evidentes e explícitos em sua saúde e sua vida que passa a ser
centrada na busca e consumo da droga. Assim, pode-se mensurar como
prejuízos: interferência nas suas funções mentais como memória, atenção e
emoções; instabilidade mental, com comportamento mais impulsivo e irritadiço;
depressão; dificuldade ou limitação de realizar uma atividade considerada de
baixa complexidade; crise de abstinência; oscilação de humor; transtorno
psicótico ou de ansiedade induzido; disfunção sexual e do sono; menos
disposição física e cansaço; danos aos órgãos internos, principalmente se
tratando da dependência do álcool; dentre outros (MORAIS, 2005).
Quando se trata de trabalhadores que possuem familiares dependentes
químicos, os prejuízos se manifestam de forma mais silenciosa e estão mais
relacionados à saúde mental. Geralmente os familiares adoecidos são pais,
filhos, cônjuges, que desenvolvem transtornos em razão do efeito devastador
da dependência química, sendo os prejuízos em sua saúde identificada:
depressão; estresse; depressão; dificuldade de concentração; oscilação de
humor e emocional; alteração no sono e no apetite; co-dependência;
ansiedade; dentre outras.
Mesmo diante destes desafios, a orientação de trabalhadores que
vivenciam a problemática na instituição, vem crescendo a cada dia devido a
articulação do serviço social junto aos médicos do trabalho, a psicóloga
institucional e as chefias e lideranças, bem como o aumento da credibilidade e
confiança dos trabalhadores no serviço.
O acolhimento e a orientação dos trabalhadores diante da dependência
química tornam-se relevantes, tendo em vista os inúmeros prejuízos
identificados e mencionados na saúde do mesmo e de sua família. Assim é
possível garantir aos trabalhadores um espaço onde se torna possível acolher
estes
trabalhadores,
ouvi-los,
refletir
com
eles,
contribuir
para
seu
fortalecimento bem como orientá-lo e auxiliá-lo no acesso ao tratamento e
superação desta situação.
20
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desvendar os prejuízos que a dependência química causa na saúde do
trabalhador se torna relevante para a discussão na área de Saúde do
Trabalhador, tendo em vista a dimensão social que esta doença atinge e que
está presente na vida de milhares de trabalhadores, causando impactos para
estes e para as empresas. Pensar em Saúde do Trabalhador significa pensar o
trabalhador para além de suas atividades laborais, significa pensá-lo de forma
integral enquanto indivíduo.
A dependência química enquanto doença social, crônica e incurável,
atinge os dependentes químicos de forma direta e seus familiares de forma
indireta, sendo ambos atingidos em todos os aspectos: social, financeiro,
familiar,
profissional, etc.
Diante
disso, possibilitar
aos trabalhadores
dependentes químicos ou que tenham familiares nesta condição a ampliação
do conhecimento frente a tais prejuízos, torna-se relevante pelo fato de muitos
terem dificuldade de aceitar a situação e buscarem recursos que possam
eliminar ou ao menos diminuir o sofrimento existente e os prejuízos causados
pela dependência química.
As empresas vêm sentindo a necessidade de ampliar sua atenção sobre
a Saúde do Trabalhador e compreender o processo de saúde-doença que se
estabelece a partir da organização do trabalho, bem como a partir da sua
organização pessoal. Portanto, entende-se que identificar os danos que a
dependência química causa na saúde do trabalhador seja ele o depende ou
familiar de dependente, possibilita a empresa criar estratégias de atenção a
este público, tendo em vista os grandes prejuízos que esta lhe acarreta e a
melhoria que uma atenção maior sobre tal perspectiva pode gerar, como
melhoria do clima organizacional, na produtividade, no bem-estar e qualidade
de vida do trabalhador, redução do absenteísmo, dentre outros.
O serviço social enquanto profissão de caráter sócio-político, interventivo
e crítico, atua diante das mais variadas expressões da questão social. Sendo a
dependência química uma doença caracterizada como sendo de abrangência
social, frequentemente se apresenta enquanto demanda na prática profissional
do assistente social. Portanto, possibilitar ao serviço social a ampliação dessa
21
discussão, torna-se relevante pela ampliação do conhecimento frente os
prejuízos dessa doença na saúde do trabalhador, tendo em vista esta
discussão ainda ser pouco trabalhada.
Portanto, conclui-se a partir das análises desenvolvidas neste trabalho,
que se faz necessário refletir sobre as práticas cotidianas da atuação
profissional, levando em consideração a riqueza extraída de cada situação
atendida e da possibilidade de amenizar o sofrimento dos trabalhadores que
vivenciam tal problemática.
Destaca-se que para a elaboração deste artigo, identificou-se pouca
produção científica sobre a temática abordada, tendo em vista a dificuldade de
encontrar material científico específico sobre este que é um problema social e
de saúde pública. Isto reforça a idéia de ampliar conhecimento e discussão no
meio acadêmico sobre o assunto, tendo em vista a importância que o trabalho
tem na vida do ser humano, bem como os prejuízos que dependência química
causa nos trabalhadores e as possibilidades existentes para a melhoria da
qualidade de vida e bem-estar destes.
22
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