ID: 46854175 27-03-2013 “Reforma do mapa judiciário tem de ser feita” Tiragem: 18166 Pág: 16 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,72 x 33,15 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 João Nuno Azevedo Neves, sócio da ABBC, é o convidado desta edição do Direito a Falar. É urgente combater a litigância de má-fé, defende João Nuno Azevedo Neves. Ruben Bicho [email protected] João Nuno Azevedo Neves, sócio da ABBC, diz que Portugal precisa de pensar a reforma do mapa judiciário porque é uma reforma que está por fazer “há séculos”. Mas o convidado desta edição do Direito a Falar reconhece as dificuldades de implementar uma reforma deste calibre num país onde, diz, desde o tempo de Eça de Queiroz que não existe consensos sobre o que quer que seja. Que balanço é que faz deste Governo na área da Justiça? Eu tenho bastante consideração pela actuação da actual ministra. Em primeiro lugar é uma mulher corajosa, em segundo lugar é uma mulher que não se furta ao diálogo e lançou cá para fora projectos em pouco tempo, de códigos que poderão vir a ter grande mérito. Nalguns pode-se discutir se a discussão pública foi suficiente, noutros se efectivamente as instituições que podiam dar os seus contributos em relação a esses diplomas foram consultadas a tempo de os dar. Mas na realidade há pelo menos uma alteração radical no comportamento, tornando-se mais incisiva a actuação do Ministério da Justiça. Portanto, concordo com a maneira como tem actuado. É evidente que não concordo a 100 por cento, porque ninguém pode concordar a 100 por cento com nada. Porque todos nós temos a nossa sensibilidade. Acho que havia aspectos em que ela podia ser mais comunicativa e menos ríspida. Mas também reagiu à rispidez que lhe foi causada por outros. Mas eu gosto da actuação dela e acho que tem sido uma boa ministra. A discussão sobre o mapa judiciário ainda está… A questão do mapa judiciário é uma questão que eu penso que tem muito a ver com o regionalismo. Temos tribunais que as câmaras contestam que não podem acabar, mas que têm dois, três julgamentos por semana. Outros têm um julgamento por semana. Portanto é uma reforma que tem que se fazer… Tem que se fazer porque não é feita há séculos. É uma reforma que tem que ser feita, tem que ser pensada. E temos mais uma vez que ser cooperantes uns com os outros para que essa reforma seja eficaz e resulte em beneficio das populações e do direito, e da aplicação da justiça. Não está a ver esse consenso? Eu desde o Eça que não vejo consenso nunca nos portugueses. Não há consenso. Já disse que deveria sancionar seriamente a litigância, a má fé abusiva. Esse é um problema grave em Portugal? Eu defendo isso por duas ordens de razão. A primeira razão é que há varias acções que não deviam ser propostas senão com intuitos de dilatar a solução de um problema. Em segundo lugar, criar expectativas falsas no próprio cliente. E portanto o juiz devia ter a capaci- “ A questão do mapa judiciário é uma questão que eu penso que tem muito a ver com o regionalismo. Temos tribunais que as câmaras contestam que não podem acabar, mas que têm dois, três julgamentos por semana. Outros têm um julgamento por semana. Temos que criar condições para simplificar a forma de citação, como por exemplo, haver um domicilio obrigatório conforme há o cartão de cidadão, para cada pessoa. dade de sancionar pela litigância de má fé, mas com multas que a lei permitisse que fossem avultadas e tornassem impeditiva essa litigância de ma fé. Ponto dois, a que pode surgir num decurso de um processo que tem todas as razões para andar e ser proposto e ser contestado, mas em que a partir de certa altura o comportamento das partes, juntando e forjando documentos, forjando e alterando os depoimentos das testemunhas, permitam que o juiz detentor do processo e no controlo do processo pudesse sancionar também como litigantes de má fé. Aliás, a litigância de má fé tem que ser mais claramente fixada entre a litigação à fé do advogado e a litigação à fé do cliente. Porque nós podemos perceber se a litigância de ma fé emergiu da assunção de si- tuações que são da responsabilidade técnica do advogado, ou se surgiu da força do cliente exigindo um determinado tipo de acção. Mas sente que essa é uma preocupação dos actores da justiça? O novo projecto de Código do Processo Civil defende uma coisa que eu defendo muito: que se meça o embrião da oralidade. A oralidade é permitir que havendo um maior controlo do processo pelo juiz, possa haver despachos orais, tudo gravado. Passa a haver uma maior hipótese da rapidez processual, através desse princípio da oralidade, que torna o processo mais próximo do cidadão também, porque está a ouvir imediatamente. Está a tentar um novo projecto também para que a maioria das decisões interlocu- tórias sejam passivas de recurso. Vou lhe dar um exemplo. Há cinquenta empresas em Portugal, cada uma com cinquenta mil processos. E nós sabemos que a citação – através de um estudo que foi muito bem feito pela fundação presidida pelo professor António Barreto e coordenada pela professora Mariana Gouveia – em média atrasa um processo em 49 por cento. Temos que criar condições para simplificar a forma de citação, como por exemplo, haver um domicilio obrigatório conforme há o cartão de cidadão, para cada pessoa. Porque 49 por cento num processo é uma barbaridade. Qualquer despacho interlocutório que seja passível de recurso atrasa em mais de 20 por cento o processo. ■