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Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o
resto do país
09/01/2011 - 9:08 - Sem categoria
890 Comentários »
A Folha de S. Paulo, deste domingo, traz a informação de que a presidenta Dilma Rousseff,
em sua primeira semana de trabalho, retirou o crucifixo da parede de seu gabinete e a bíblia
de sua mesa.
Helena Chagas, ministra chefe da Secretaria de Comunicação Social, através de seu twitter,
contradisse a informação divulgada pela Folha na tarde de hoje – depois deste post já ter
sido publicado. Segundo ela, “a presidenta Dilma não tirou o crucifixo da parede de seu
gabinete. A peça é do ex-presidente Lula e foi na mudança. Aliás, o crucifixo, que Lula
ganhou de um amigo no início do governo, é de origem portuguesa”. Segundo Chagas, a
bíblia continua lá, em uma sala contígua, em cima de uma mesa. A mesma informação está
em nota da Secom.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor
em Ciência Política. Cobriu conflitos
armados e o desrespeito aos direitos
humanos em Timor Leste, Angola e no
Paquistão. Já foi professor de jornalismo
na USP e, hoje, ministra aulas na pósgraduação da PUC-SP. Trabalhou em
diversos veículos de comunicação,
cobrindo os problemas sociais brasileiros.
É coordenador da ONG Repórter Brasil e
seu representante na Comissão Nacional
para a Erradicação do Trabalho Escravo.
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A questão da retirada de crucifixos, imagens e afins de repartições públicas gerou polêmicas
ao longo da história a partir do momento em que um Estado se afirma laico (e não desde o
lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, como querem fazer crer o
pessoal do “não li, mas não gostei”). A França retirou os símbolos religiosos de sedes de
governos, tribunais e escolas públicas no final do século 19. Nossa primeira Constituição
republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos 120 anos
atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então.
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Em janeiro do ano passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançou uma nota
em que rejeitou “a criação de ‘mecanismos para impeder a ostentação de símbolos
religiosos em estabelecimentos públicos da União’, pois considera que tal medida intolerante
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A meu ver, a discussão sobre a propriedade do crucifixo é indiferente – se Dilma não
repuser a peça. O que importa é a existência de símbolos religiosos no gabinete da
Presidência da República e a sua retirada. A Secretaria de Comunicação Social afirma que
não foi uma opção dela ter tirado, mas é uma decisão não recolocar outro no lugar. Do jeito
que é o Brasil, não fazer nada, mantendo o espaço sem crucifixo, será um ato simbólico
surpreendente.
Defendo fortemente que a retirada de símbolos religiosos seja realizado por todos os que
ocupam cargos públicos no país. Dilma afirmou ser católica durante as eleições (ok, como
disse na época, eu ainda aposto que ela e José Serra são, no limite, agnósticos – mas vá
lá), mas não foi eleita para representar apenas cristãos e sim cidadãos de todas as crenças
– inclusive os que acreditam em nada.
http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/01/09/dilma-tira-crucifixo-do-gabinete-falta-o-resto-do-pais/[10/01/2011 12:32:05]
Blog do Sakamoto » Blog Archive » Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o resto do país
pretende ignorar nossas raízes históricas”.
Adoro quando alguém apela para as “raízes históricas” para discutir algo. Na época, lembrei
que a escravidão está em nossas raízes históricas. A sociedade patriarcal está em nossas
raízes históricas. A desigualdade social estrutural está em nossas raízes históricas. A
exploração irracional dos recursos naturais está em nossas raízes históricas. A submissão
da mulher como reprodutora e objeto sexual está em nossas raízes históricas. As decisões
de Estado serem tomadas por meia dúzia de iluminados ignorando a participação popular
estão em nossas raízes históricas. Lavar a honra com sangue está em nossas raízes
históricas. Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas. E isso para falar apenas
de Brasil. Até porque queimar pessoas por intolerância de pensamento está nas raízes
históricas de muita gente.
Quando o ser humano consegue caminhar a ponto de ver no horizonte a possibilidade de se
livrar das amarras de suas “raízes históricas”, obtendo a liberdade para acreditar ou não,
fazer ou não fazer, ser o que quiser ser, instituições importantes trazem justificativas fracas
como essa, que fariam São Tomás de Aquino corar de vergonha intelectual. Por outro lado,
o pessoal ultraconservador tem delírios de alegria.
Em 2009, o Ministério Público do Piauí solicitou a retirada de símbolos religiosos dos prédios
públicos, atendendo a uma representação feita por entidades da sociedade civil e o
presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro mandou recolher os crucifixos que
adornavam o prédio e converteu a capela católica em local de culto ecumênico. Algumas
dessas ações têm vida curta, mas o que importa é que percebe-se um processo em defesa
de um Estado que proteja e acolha todas as religiões, mas não seja atrelado a nenhuma
delas.
É necessário que se retirem adornos e referência religiosas de edifícios públicos, como o
Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Não é porque o país tem uma maioria
de católicos que espíritas, judeus, muçulmanos, enfim, minorias, precisem aceitar um
símbolo cristão em um espaço do Estado. Além disso, as denominações cristãs são parte
interessada em várias polêmicas judiciais – de pesquisas com célula-tronco ao direito ao
aborto. Se esses elementos estão escancaradamente presentes nos locais onde são
tomadas as decisões sem que ninguém se mexa para retirá-las, como garantir que as
decisões serão isentas?
Como já disse aqui antes, o Estado deve garantir que todas as religiões tenham liberdade
para exercer seus cultos, tenham seus templos, igrejas e terreiros e ostentem seus símbolos
(tem uma turma dodói da cabeça que diz que isso significaria a retirada do Cristo Redentor
do morro do Corcovado – afe… por Nossa Senhora!). Mas não pode se envolver, positiva ou
negativamente, em nenhuma delas. Estado é Estado. Religião é religião.
Como é difícil uma democracia respeitar suas minorias.
Atualizado às 18h30 de 9 de janeiro de 2011.
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09/01/2011 às 9:12
Natália Suzuki
Sakamoto, excelente texto! Mas quanto tempo você acha que vai levar
até os trolls de plantão, que não vão entender o seu texto, começarem
a te xingar?
Renato Rovai
Parabéns!
Responder
ileniel disse:
09/01/2011 às 9:54
é concordo contigo… mas, creio que isso será o de menos, ignorante
religioso está ” na raiz de nossa história” … ou falei merda?
http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/01/09/dilma-tira-crucifixo-do-gabinete-falta-o-resto-do-pais/[10/01/2011 12:32:05]
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