Blog do Sakamoto » Blog Archive » Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o resto do país ASSINE 0800 703 3000 BATE-PAPO E-MAIL SAC BUSCAR VOIP E-MAIL GRÁTIS SHOPPING ÍNDICE PRINCIPAL ÍNDICE PRINCIPAL Submit RSS Twitter Página Principal « Europa vai limitar ainda mais a entrada de trabalhadores Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o resto do país 09/01/2011 - 9:08 - Sem categoria 890 Comentários » A Folha de S. Paulo, deste domingo, traz a informação de que a presidenta Dilma Rousseff, em sua primeira semana de trabalho, retirou o crucifixo da parede de seu gabinete e a bíblia de sua mesa. Helena Chagas, ministra chefe da Secretaria de Comunicação Social, através de seu twitter, contradisse a informação divulgada pela Folha na tarde de hoje – depois deste post já ter sido publicado. Segundo ela, “a presidenta Dilma não tirou o crucifixo da parede de seu gabinete. A peça é do ex-presidente Lula e foi na mudança. Aliás, o crucifixo, que Lula ganhou de um amigo no início do governo, é de origem portuguesa”. Segundo Chagas, a bíblia continua lá, em uma sala contígua, em cima de uma mesa. A mesma informação está em nota da Secom. Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Já foi professor de jornalismo na USP e, hoje, ministra aulas na pósgraduação da PUC-SP. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros. É coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Arquivos janeiro 2011 novembro 2008 dezembro 2010 outubro 2008 novembro 2010 setembro 2008 outubro 2010 agosto 2008 setembro 2010 julho 2008 agosto 2010 junho 2008 julho 2010 maio 2008 junho 2010 abril 2008 maio 2010 março 2008 abril 2010 fevereiro 2008 março 2010 janeiro 2008 fevereiro 2010 dezembro 2007 A questão da retirada de crucifixos, imagens e afins de repartições públicas gerou polêmicas ao longo da história a partir do momento em que um Estado se afirma laico (e não desde o lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, como querem fazer crer o pessoal do “não li, mas não gostei”). A França retirou os símbolos religiosos de sedes de governos, tribunais e escolas públicas no final do século 19. Nossa primeira Constituição republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos 120 anos atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então. janeiro 2010 novembro 2007 dezembro 2009 outubro 2007 novembro 2009 setembro 2007 outubro 2009 agosto 2007 setembro 2009 julho 2007 agosto 2009 junho 2007 julho 2009 maio 2007 Em janeiro do ano passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançou uma nota em que rejeitou “a criação de ‘mecanismos para impeder a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União’, pois considera que tal medida intolerante junho 2009 abril 2007 maio 2009 março 2007 abril 2009 fevereiro 2007 A meu ver, a discussão sobre a propriedade do crucifixo é indiferente – se Dilma não repuser a peça. O que importa é a existência de símbolos religiosos no gabinete da Presidência da República e a sua retirada. A Secretaria de Comunicação Social afirma que não foi uma opção dela ter tirado, mas é uma decisão não recolocar outro no lugar. Do jeito que é o Brasil, não fazer nada, mantendo o espaço sem crucifixo, será um ato simbólico surpreendente. Defendo fortemente que a retirada de símbolos religiosos seja realizado por todos os que ocupam cargos públicos no país. Dilma afirmou ser católica durante as eleições (ok, como disse na época, eu ainda aposto que ela e José Serra são, no limite, agnósticos – mas vá lá), mas não foi eleita para representar apenas cristãos e sim cidadãos de todas as crenças – inclusive os que acreditam em nada. http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/01/09/dilma-tira-crucifixo-do-gabinete-falta-o-resto-do-pais/[10/01/2011 12:32:05] Blog do Sakamoto » Blog Archive » Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o resto do país pretende ignorar nossas raízes históricas”. Adoro quando alguém apela para as “raízes históricas” para discutir algo. Na época, lembrei que a escravidão está em nossas raízes históricas. A sociedade patriarcal está em nossas raízes históricas. A desigualdade social estrutural está em nossas raízes históricas. A exploração irracional dos recursos naturais está em nossas raízes históricas. A submissão da mulher como reprodutora e objeto sexual está em nossas raízes históricas. As decisões de Estado serem tomadas por meia dúzia de iluminados ignorando a participação popular estão em nossas raízes históricas. Lavar a honra com sangue está em nossas raízes históricas. Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas. E isso para falar apenas de Brasil. Até porque queimar pessoas por intolerância de pensamento está nas raízes históricas de muita gente. Quando o ser humano consegue caminhar a ponto de ver no horizonte a possibilidade de se livrar das amarras de suas “raízes históricas”, obtendo a liberdade para acreditar ou não, fazer ou não fazer, ser o que quiser ser, instituições importantes trazem justificativas fracas como essa, que fariam São Tomás de Aquino corar de vergonha intelectual. Por outro lado, o pessoal ultraconservador tem delírios de alegria. Em 2009, o Ministério Público do Piauí solicitou a retirada de símbolos religiosos dos prédios públicos, atendendo a uma representação feita por entidades da sociedade civil e o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro mandou recolher os crucifixos que adornavam o prédio e converteu a capela católica em local de culto ecumênico. Algumas dessas ações têm vida curta, mas o que importa é que percebe-se um processo em defesa de um Estado que proteja e acolha todas as religiões, mas não seja atrelado a nenhuma delas. É necessário que se retirem adornos e referência religiosas de edifícios públicos, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Não é porque o país tem uma maioria de católicos que espíritas, judeus, muçulmanos, enfim, minorias, precisem aceitar um símbolo cristão em um espaço do Estado. Além disso, as denominações cristãs são parte interessada em várias polêmicas judiciais – de pesquisas com célula-tronco ao direito ao aborto. Se esses elementos estão escancaradamente presentes nos locais onde são tomadas as decisões sem que ninguém se mexa para retirá-las, como garantir que as decisões serão isentas? Como já disse aqui antes, o Estado deve garantir que todas as religiões tenham liberdade para exercer seus cultos, tenham seus templos, igrejas e terreiros e ostentem seus símbolos (tem uma turma dodói da cabeça que diz que isso significaria a retirada do Cristo Redentor do morro do Corcovado – afe… por Nossa Senhora!). Mas não pode se envolver, positiva ou negativamente, em nenhuma delas. Estado é Estado. Religião é religião. Como é difícil uma democracia respeitar suas minorias. Atualizado às 18h30 de 9 de janeiro de 2011. Compartilhe este post março 2009 janeiro 2007 fevereiro 2009 dezembro 2006 janeiro 2009 novembro 2006 dezembro 2008 Algumas reportagens A miséria em primeiro lugar À sombra do passado As viúvas do sertão Baixas de conflito Em busca da liberdade no Sul do Pará Em comunhão com a terra Fazendas de água História acorrentada Mesma Vida Severina Nova escravidão O desafio das águas O Engenho Resiste O povo entra em cena O quilombo resiste O último brasileiro Os homens-tatu do sertão Os tuaregues da Chapada Diamantina Pobre município rico Terminal na Bahia pode colocar meio ambiente em risco Transpor é a solução? 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