Faculdade de Ciências e Tecnologia
Gestão do Ambiente nas Organizações
SISTEMA DE PRODUTOSERVIÇO: CONTEXTO E
CASOS-ESTUDO
Pedro Baptista
RESUMO
Este artigo aborda um tema em presente expansão – o Sistema de
Produto-Serviço. É contextualizada esta estratégia empresarial nos
valores prementes nas sociedades modernas. É apresentada a
importância da aplicação dos princípios da eco-eficiência para o alcance
de um estádio de desenvolvimento sustentável. São também descritos
alguns casos-estudo de Sistemas Produto-Serviço, identificando
vantagens ambientais e económicas com a sua aplicação. No final é
ainda realizada uma análise global aos Sistemas Produto-Serviço do
ponto de vista ambiental e empresarial.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
– O CONCEITO-BASE DAS
ECONOMIAS
Desde o relatório Bruntland (WCED,
1987), o desenvolvimento sustentável
tornou-se um tema bastante discutido,
muitas vezes sem seriedade dado o
subjectivismo deste conceito. Tomando a
definição original, o desenvolvimento
sustentável traduz-se na satisfação das
necessidades presentes, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras
virem a satisfazer as suas próprias
necessidades.
O desenvolvimento sustentável depende
fundamentalmente de dois factores (J.W.
Sun, 1999):
- Desintensificação do uso de energia e
materiais – emissões de poluentes;
- Crescimento económico apropriado.
Portanto, a actividade económica tem um
papel importante neste objectivo global.
Como unidades básicas dessa actividade,
as empresas têm que estabelecer
estratégias de sustentabilidade, reduzindo
a utilização de recursos (materiais e
energia) e a geração de resíduos,
emissões e efluentes.
ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS DE
SUSTENTABILIDADE
Ao contrário do que veio a ser invocado
diversas vezes pelas empresas, a
internalização das questões ambientais
associadas às suas actividades não é uma
ameaça mas sim uma oportunidade de
negócio. Na realidade, segundo Porter e
Linde (1995), com a introdução desta
componente: “aumentando a produtividade
dos recursos – melhorando a eficiência na
produção ou o valor do produto – torna as
empresas mais competitivas, trazendo
benefícios para elas e para o ambiente”.
Para tal é aconselhável que se
desenham estratégias que criem vantagens competitivas para a empresa, se
assim não for o próprio mercado
selecciona as empresas com melhor
desempenho.
ECO-EFICIÊNCIA
DeSimone e Popoff (1997) definiram um
objectivo concreto que deve ser abraçado
pelas próprias empresas – a eco-eficiência:
“fornecimento de bens e serviços, que
satisfazem as necessidades humanas e
aumentam a qualidade de vida, a preços
competitivos, reduzindo progressivamente
os impactes ecológicos e a intensidade de
recursos no seu ciclo de vida, até um nível
compatível com a capacidade de
sustentação estimada na Terra”. Por outras
palavras, a eco-eficiência traduz, em
termos práticos, o comportamento que se
deve verificar para se alcançar um
desenvolvimento sustentável. Este é
atingido quando se igualar os impactes
ecológicos e a intensidade de recursos dos
bens e serviços à capacidade de
sustentação da Terra.
Na eco-eficiência identificam-se sete
elementos fundamentais (Antunes P., s/d):
- Minimizar a intensidade de materiais
dos bens e serviços;
- Minimizar a intensidade energética de
bens e serviços;
- Minimizar a dispersão de tóxicos;
- Fomentar a reciclabilidade dos
materiais;
- Promover a utilização sustentável de
recursos renováveis;
- Estender a durabilidade dos produtos;
- Aumentar a intensidade de serviço do
sistema produtivo.
As estratégias empresariais actuam
diferenciadamente nestes elementos fundamentais. Pode-se querer melhorar o
desempenho empresarial de forma intensiva, actuando nos vários pontos apresentados, ou de forma gradual, ponto a ponto.
Independentemente de como é abordado,
é importante que sejam estabelecidas
estratégias viáveis económica e ambientalmente.
SISTEMA PRODUTO-SERVIÇO (SPS)
Seguindo o objectivo da eco-eficiência,
criou-se uma ferramenta de aplicação
baseada na transferência de oferta de
produtos para serviços. Esta abordagem
pode ser aplicada a vários níveis
(Heiskanen e Jalas, 2002):
- Na macroeconomia, dando maior
importância ao sector de serviços;
- Como estratégia empresarial;
- Como serviços oferecidos por um
produto.
O presente artigo pretende desenvolver o
contexto do Sistema Produto-Serviço
(SPS) como estratégia empresarial.
Um SPS pode ser definido como sendo
constituído por produtos tangíveis e
serviços intangíveis combinados de
maneira que, em conjunto, sejam capazes
de satisfazer determinadas necessidades
dos clientes (Tischner et al., 2002). Muitos
vêem os SPS como um excelente veículo
de desenvolvimento da competitividade e
de promoção simultânea da sustentabilidade.
Tukker (2004) propôs uma classificação
dos SPS em oito categorias, distribuídas
em três classes principais – serviços
orientados para o produto, para o uso e
para o resultado (figura 1).
Figura 1. Categorias principais e secundárias de SPS
(Tukker, 2004).
-
-
-
Na categoria principal “serviços
orientados para o produto”, o modelo
económico é ainda focado maioritariamente nas vendas de produtos,
mas alguns serviços extra podem ser
adicionados.
Na categoria principal “serviços
orientados para o uso”, os produtos
tradicionais continuam a ter um papel
central, mas o modelo económico não
é focado na venda de produtos. O
produto mantém-se na posse do
fornecedor e é tornado acessível de
forma diferente, é por vezes partilhado pelos utilizadores.
Na categoria principal “serviços
orientados para os resultado”, em
princípio o cliente e o fornecedor
concordam num resultado, e não está
envolvido um produto predeterminado.
Serviços orientados para o uso
- Aluguer de produtos. O fornecedor
mantém a posse do produto, e é
geralmente também responsável pela
manutenção, reparação e controlo.
Os utilizadores pagam uma taxa
regular para o uso do produto;
normalmente o indivíduo tem acesso
ilimitado ao produto alugado.
- Aluguer ou partilha de produtos. Aqui
também o produto pertence geralmente ao fornecedor, que também
é responsável pela manutenção,
reparação e controlo. O utilizador
paga pelo uso do produto. A diferença
principal para com a categoria
anteriormente apresentada, é o facto
de o utilizador já não ter acesso
ilimitado e individual; outros podem
usar o produto noutras alturas. O
mesmo produto é sequencialmente
usado por diferentes utilizadores.
- Product pooling. Esta categoria
assemelha-se muito ao aluguer e
partilha de produtos. No entanto, aqui
existe um uso simultâneo do produto.
No entanto, dentro de cada categoria
incluem-se
SPS
com
diferentes
características económicas e ambientais.
Identificam-se assim, oito categorias
diferentes que a seguir são descritas:
Serviços orientados para o produto
- Serviços relacionados com o produto.
Neste caso, o fornecedor não só
vende o produto, mas também dispõe
de serviços necessários durante a
fase de uso do produto. Isto pode
implicar, por exemplo, um contrato de
manutenção,
um
esquema
de
financiamento ou o fornecimento de
consumíveis, mas também um acordo
de retorno para quando o produto
chegar ao fim de vida.
- Conselho e consultoria. O fornecedor
aconselha o uso mais eficiente do
produto que vende. Isto pode incluir,
por exemplo, conselhos sobre a
estrutura organizacional da equipa no
uso do produto, ou optimização das
logísticas na fábrica onde o produto é
usado como unidade de produção.
Serviços orientados para os resultados
- Gestão da actividade/outsourcing1.
Parte de uma actividade de uma
empresa é outsourced para uma
empresa externa. Como a maioria dos
contratos de outsourcing contêm
indicadores de desempenho para
controlar a qualidade do serviço
ousourced, estes são incluídos
também nos serviços orientados para
os resultados. Isto é exemplificado
com o outsourcing de catering e
limpeza de escritórios que é agora
comum na maioria das empresas.
- Pagamento por unidade de serviço.
Esta categoria compreende vários
exemplos clássicos de SPS. Este
SPS mantém o produto convencional
1
Outsource – definição (Dictionary.com): enviar
trabalho, por exemplo, para um fornecedor ou produtor
externo de forma a cortar custos.
-
como base, o utilizador já não compra
o produto, mas apenas o output do
produto de acordo com o nível de
uso. Um exemplo bem conhecido
desta categoria de SPS é a fórmula
pagamento por impressão agora
adoptada por grande parte de
produtores de impressoras. Nesta
fórmula, o produtor dedica-se a todas
as actividades necessárias para
manter uma impressora a funcionar
num escritório (i.e. fornecimento de
papel e toner, manutenção, reparação
e substituição da impressora quando
apropriado).
Resultado funcional. O fornecedor
acorda com o cliente a entrega de um
resultado. Em contraste com a gestão
de actividade/outsourcing, esta categoria é usada para um resultado
funcional em termos ligeiramente
abstractos, o qual não está directamente relacionado com um sistema
tecnológico específico. Em princípio,
o fornecedor está completamente livre
de escolher o método de entrega do
resultado. Exemplos deste tipo de
SPS são as empresas que provêem
“conforto climático” para escritórios ao
invés de equipamentos de gás ou de
refrigeração; ou empresas que
garantem um máximo de perdas nas
colheitas em vez de venderem
pesticidas.
Partindo do primeiro tipo de SPS até ao
último aqui apresentados, nota-se um
decréscimo gradual do papel do produto
como componente central, por outro lado
as necessidades do cliente são cada vez
mais abstractas. Cada vez mais, o
fornecedor tem um pouco mais de
liberdade para satisfazer a necessidade
final real do cliente. No entanto, a procura
abstracta é por vezes difícil de se traduzir
em indicadores concretos (desempenho de
qualidade), tornando complicada a determinação quantitativa das necessidades por
parte dos fornecedores, e dificultando a
capacidade dos clientes saberem se o que
eles têm foi o que pediram.
ALGUNS CASOS-ESTUDO DE SPS
De seguida são apresentados alguns
casos-estudos divulgados pela United
Nations Environment Programme (UNEP,
2002):
- Allegrini: Casa Quick;
- Klüber:
S.A.T.E.
laboratório
ambulante;
- COVIAL:
uma
cooperativa
de
“Vinicola Aurora”;
- AMG: serviço de calor solar;
- AutoShare: serviço de partilha de
carro;
- Odin: sistema de inscrição para venda
de vegetais orgânicos;
- Greenstar: comércio electrónico e
centro comunitário solar;
- Virtual Station: sistema de serviços de
escritório virtual;
Allegrini: Casa Quick
O Casa Quick é um serviço que cria valor
acrescentado ao ciclo de vida do produto,
baseado na distribuição de detergentes
casa-a-casa. Os produtos Casa Quick são
transportados numa carrinha ambulante
que tem uma carreira regular. As famílias
compram a quantidade e qualidade de
detergentes que desejam e transportam-nos em reservatórios especiais. É fornecido aos consumidores um kit de frascos de
plástico fáceis de transportar na rua e que
podem ser enchidos mesmo sem estarem
vazios.
Este sistema incorpora o produto (o
detergente) mais um serviço (entrega a
casa), com um baixo nível de esforço do
cliente uma vez que este não precisa de se
deslocar à loja. Finalmente também é
fornecida informação aos consumidores de
como devem usar os produtos de forma a
optimizar o seu efeito e minimizar a
quantidade usada.
O Casa Quick foi implementado em
1998, em 2001 já atraía 25% de potenciais
clientes na área geográfica que servia.
Todos os meses eram entregues com
regularidade sete tipos de produtos a
quatro municípios, cada um com cerca de
3.000 famílias.
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- Optimização dos processos de distribuição (empacotamento e transporte);
- Redução de materiais (devido à
reutilização de frascos);
- Evita problemas com contaminação
de detergente residual aquando da
reciclagem das embalagens tradicionais;
- Redução de potenciais dispersões de
detergente devido ao armazenamento
e empacotamento.
A nível de benefícios económicos, para o
produtor e consumidor, deste sistema
identificamos:
- Lealdade a longo termo dos clientes;
- Reduz a procura de outros produtores
por parte do consumidor uma vez que
lhe é facultada a entrega do produto
em casa;
- Redução do custo de empacotamento;
- Diversificação de serviços (novos
nichos de mercado);
- Redução dos custos de tratamento de
resíduos;
- Entrega em casa do produto
(conforto);
- Redução da quantidade de resíduos.
Klüber: S.A.T.E. laboratório ambulante
Klüber deixou de vender comercialmente
lubrificantes e passou a prestar serviços
valorizando o uso do seu produto. Usando
o serviço S.A.T.E. analisa o comportamento das centrais de tratamento de aerossóis
e tratamento de esgotos. Para isto a Klüber
desenhou um laboratório químico ambulante, uma carrinha que permite monitorizar
directamente as máquinas industriais do
cliente, determinando o desempenho dos
lubrificantes usados e os seus impactes
ambientais. Também controla o ruído,
vibrações, fumo e outros impactes industri-
ais indesejáveis. O serviço adicional que a
Klüber oferece melhora o desempenho da
fábrica a nível da eficiência, garantia de
funcionalidade e durabilidade, e melhora a
protecção ambiental.
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- Redução da quantidade de lubrificante consumido por unidade de serviço,
e consequente redução nas emissões
de poluentes;
- Melhoramento na monitorização do
desempenho de várias máquinas de
maneira que qualquer poluição
acidental pode ser evitada;
- Maior segurança para os operadores
das máquinas.
A nível de benefícios económicos deste
sistema identificamos:
- Libertação para o cliente dos custos
da monitorização e inspecção dos
seus equipamentos;
- Benefícios no processo de produção;
- Aumento do tempo de vida das
máquinas;
- Redução dos custos da fábrica.
COVIAL: uma cooperativa de “Vinicola
Aurora”
A cooperativa COVIAL tem dez
membros: o director, três agrónomos, um
tesoureiro, um secretário e dois assistentes
sociais. Os associados participam nos
processos de tomada de decisão da
COVIAL através de treze representantes
eleitos que vão a reuniões regulares da
cooperativa.
A COVIAL proporciona plataformas
operacionais e um serviço aos seus
associados como “resultado” final. Faculta
equipamento técnico para trabalhar nas
vinhas (disponíveis para serem reservados
pelos associados) e compra plantas jovens
de Itália, França e África do Sul. Também
compra em grandes quantidades adubos,
herbicidas e vários pesticidas, arame
farpado, etc. e revende aos associados.
Em adição, existem quatro agrónomos e
dois técnicos à disposição dos associados,
organização de aulas, e formações em
gestão das vinhas, podas e vindimas. Os
associados pagam pelos serviços, equipamentos e materiais quando entregarem a
sua produção; parte da taxa final (dependendo do seu tamanho) serve para cobrir
os custos de funcionamento da cooperativa.
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- A partilha de equipamento técnico
intensifica o seu uso, e viabiliza o
investimento de equipamentos mais
caros mas mais eficientes;
- Maior conhecimento e consequente
eficiência com a assistência de agronomos e formação.
A nível de benefícios económicos deste
sistema identificamos:
- Acesso a apoio técnico e logístico da
companhia de produção “Vinicola
Aurora”;
- Obtenção de equipamento profissional e apoio de agrónomos a preços
mais baixos que no mercado;
- Redução de custos na compra de
produtos, que saem mais baratos em
grandes quantidades;
- Minimização do risco dos associados
uma vez que a compra das suas
colheitas é garantida.
AMG: serviço de calor solar
O “serviço de calor solar” proporciona um
resultado que consiste em vender calor
como um produto final. Água quente é
produzida por novos equipamentos que
combinam o Sol, energia e metano, com
poupanças económicas e energéticas. As
centrais solares são desenhadas de forma
a maximizar a contribuição da energia
solar. A água quente é medida através do
calor específico e todo o sistema é monitorizado, tanto para controlar em tempo-real
o funcionamento do sistema, como também para aplicar a Garantia de Resultados
Solares – um contrato específico através
do qual o instalador compromete-se a
alcançar um determinado nível de
eficiência.
A AMG já testou este serviço num Clube
de Ténis na cidade de Palermo (Itália),
oferecendo água quente aos balneários. A
componente inovadora deste Sistema de
Produto-Serviço é que o cliente não paga
uma factura pelo metano que consumiu
para obter água quente, ao invés disso
paga pela água quente como um serviço. A
AMG vende calor, e calcula os kilowatts
térmicos consumidos pelos seus clientes;
por exemplo, em 2001 um litro de água
quente custava 0,2 cêntimos de euro. Com
a AMG o consumidor paga para receber
um serviço compreensivo, desde a instalação, até aos medidores de energia térmica,
e até ao transporte do metano para as
caldeiras. Em conjunto com o fornecimento
de manutenção dos equipamentos, o
cliente acaba por pagar um “resultado
final”.
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- A combinação de metano e energia
solar usada para produzir de água
quente responde a 70% das necessidades;
- A empresa é motivada para inovar, de
forma a minimizar a energia consumida no uso;
- A factura baseia-se na unidade de
serviço e não por unidade de consumo de recursos;
- Redução de 100 toneladas de dióxido
de carbono por ano (estimativa da
AMG).
A nível de benefícios económicos deste
sistema identificamos:
- Melhoramento da posição estratégica
da AMG dando valor acrescentado
aos seus clientes;
- Oportunidades reais económicas em
termos de diferenciação do mercado;
- Ao final de oito anos é recuperado o
investimento inicial.
AutoShare: serviço de partilha de carro
A AutoShare, como muitos outros
sistemas de partilha de carro, é um serviço
que fornece uma plataforma operacional.
Os carros são estacionados perto das
casas dos membros da empresa (260
pessoas em 2000) e estão acessíveis 24h
por dia via sistema de reserva por telefone.
Os membros podem usar o carro por
apenas uma hora, ou o tempo que
quiserem. Para obter estes benefícios, os
membros pagam uma pequena taxa de
inscrição à AutoShare para cobrir os
custos fixos da empresa, e depois apenas
lhes são cobradas as horas de utilização
do carro. Essencialmente um membro
paga pela mobilidade que usou (ao invés
de ter que investir uma grande quantidade
de dinheiro num carro que estará a maior
parte do tempo parado).
Todos os carros da AutoShare são
estacionados próximo de um sinal stop do
sistema de transporte público de Toronto,
que consiste em metropolitanos, carros de
rua e autocarros. Isto ajuda a combinação
do transporte público com o carro.
Em 2000 (altura do estudo), a AutoShare
tinha uma parceria com uma agência local
de aluguer de carros através da qual
obtinha carros quase novos para aluguer a
curto-prazo, em troca oferece à agência
um negócio mais a longo-prazo que a
AutoShare não pode acomodar. A partilha
de carros é direccionada para pessoas que
tiram partido disso para ir às compras, e
fazer viagens distantes de fim-de-semana.
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- Redução do número de carros para
satisfazer a mesma necessidade de
mobilidade;
- Cada carro “partilhado” substitui cinco
a seis carros privados (estimativa da
AutoShare);
- Redução do uso de carro relativamente à necessidade de mobilidade – em
favor dos transportes públicos e
outros;
-
Os membros são incentivados a
conduzir menos uma vez que são
cobrados pelas horas de uso
(redução de emissões que contribuem
para o smog e para as alterações
climáticas).
A nível de benefícios económicos deste
sistema identificamos:
- Benefícios por abrir um novo mercado;
- A principal atracção deste sistema
para os membros até é mais o
benefício económico que a consciência ambiental;
- Custos mais baixos do que se
recorresse a uma agência de aluguer
de carros;
- Os clientes não necessitam de se
preocupar com a manutenção dos
carros.
Odin: sistema de inscrição para venda
de vegetais orgânicos
A Odin Holland fornece um serviço
adicional de fruta e vegetais de produção
orgânica para os consumidores. O
consumidor recebe a produção pagando
uma taxa fixa de inscrição. Uma vez por
semana é enviado ao consumidor um saco
de papel com vários tipos de fruta e
vegetais acompanhados com receitas
provenientes de uma loja orgânica da
vizinhança. Um saco de Odin provê as
necessidades de fruta e vegetais do
consumidor para cerca de quatro dias. A
selecção da melhor produção disponível é
feita pela Odin. Os clientes não pré-especificam a mistura de produtos. Onde
é possível, a Odin fornece comida produzida na região, minimizando o transporte
de longas distâncias. No entanto, alguma
comida é importada, especialmente no
Inverno.
Toda a comida é proporcionada à Odin
pelos produtores num contrato a preços
fixos, sem haver intervenção de terceiros
com as liquidações totais e leilões. A Odin
trabalha directamente com os produtores
para planear o cultivo, e efectivamente faz
de gestora das necessidades de frutas e
vegetais, baseando-se nas previsões de
procura de determinados vegetais por
parte dos consumidores.
De facto, é dada informação aos consumidores, permitindo directamente que os
agricultores satisfaçam a procura. Em
troca, os consumidores partilham a colheita
e participam no sistema. Como parte
integrante da oferta do produto-serviço,
também a Odin proporciona aos produtores conselhos de especialistas em matérias de agricultura e horticultura. Cerca de
100 produtores cultivam 500 hectares de
terra (ano do estudo: 1999). Toda a
produção orgânica de vegetais e fruta
fornecida são certificados pela organização
Alemã responsável por toda a certificação
orgânica.
Em 1999, 28.000 famílias participaram
semanalmente. É um sistema bastante
eficaz pois confere segurança aos
produtores (planeamento das culturas e
garantias de colheitas).
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- Redução dos custos de transporte
(uma vez que a produção é regional);
- Minimização de resíduos de empacotamento;
- Minimização dos resíduos de produção ao gerir a selecção de culturas
em consideração com as tendências
de produção;
- Foi estimado que com a inscrição de
10.000 famílias neste sistema se
consiga poupar: 350 kg de pesticidas
e herbicidas; 2.652 biliões de
kilojoules de energia, 23.000 kg de
materiais
de
empacotamento,
546.000 t/km de transporte;
- Redução da degradação do solo pois
não são usados pesticidas e fertilizantes artificiais.
A nível de benefícios económicos deste
sistema identificamos:
- 15% de crescimento adicional para as
lojas de comida orgânica devido à
diferenciação do mercado;
-
-
A Odin alcançou em 1998 um crescimento dos rendimentos de 50%;
A Odin controla eficazmente o fornecimento de produtos, minimizando as
perdas;
Segurança financeira para os produtores por lhes ser oferecido um preço
fixo para produzirem determinada
cultura;
As margens de lucro dos produtores
são superiores às proporcionadas no
mercado convencional;
Os consumidores beneficiam com
preços mais baixos, com a garantia
de frescura dos produtos, levando a
uma maior lealdade do cliente para
com a Odin.
Greenstar: comércio electrónico e
centro comunitário solar
A Greenstar proporciona serviços enquadrados numa plataforma operacional, fornecendo ligações wireless alimentadas por
energia solar a aldeias de países em
desenvolvimento. Como centros de comércio electrónico, permite que os residentes
em comunidades rurais remotas possam
vender os seus produtos para todo o
mundo. Através da Internet pode-se então
trazer para os mercados mundiais a arte
tradicional, música, fotografia, lendas e
contos de pequenas aldeias… Outros
produtos fornecidos pela Web podem ser o
café, frutos secos, especiarias, artesanato,
trabalhos artísticos e culturais como cerâmicas, produtos de bronze, instrumentos
musicais, tapeçarias, etc. A Greenstar
proporciona material digital de culturas
para vários mercados, tanto directamente
para o consumidor como também por
licenciamento de negócios. Os aldeões
possuem o “Greenstar Village Centre” e
tornam-se accionistas da Greenstar.
O centro aprovisiona electricidade, águas
com qualidade para abastecimento público,
uma pequena clínica, refrigerador para as
vacinas e uma sala de aulas. O centro é
uma unidade modular bastante portátil.
Cada instalação inclui um comércio
electrónico e um computador, tal como
uma clínica médica com equipamento
básico e uma sala de aulas. Tudo é
alimentado por energia fotovoltaica, e ligase à Web através de uma antena parabólica ou por um digital cellular modem para
grandes velocidades de telecomunicações.
-
Fornecimento de água potável através da destilação ou pasteurização
via energia solar.
A nível de benefícios económicos deste
sistema identificamos:
- Geração de receitas para os aldeões
e para a Greenstar, as quais são
direccionadas para a cobertura de
custos e para a implementação de
novos centros;
- O centro pode ser supervisionado
apenas por uma pessoa que garante
o suporte técnico;
- Traz outros benefícios a nível da
educação, economia local, formação,
saúde pública, e de programas
ambientais.
CONCLUSÕES
Figura 2. Unidade esquemática do “Greenstar Village
Centre” (Fonte: UNEP, 2002).
A Greenstar gere todas as transacções
na Web em nome da comunidade através
de um servidor instalado nos Estados
Unidos. Na transacção, uma porção do
rendimento sai directamente de uma conta
da Greenstar para o banco local da aldeia,
usando transferência via Visa, que inclui a
conversão de moeda usando a taxa de
câmbio mais favorável. Os representantes
autorizados da aldeia podem depois
aceder a estes fundos.
Na altura deste estudo (2000) tinham
sido implementadas instalações-piloto numa comunidade Beduína remota no Médio
Oriente, noutra pequena comunidade das
Montanhas Azuis da Jamaica, numa aldeia
do centro da Índia – Parvatapur, e numa
comunidade tradicional Ashanti em Gana.
A nível de benefícios ambientais deste
sistema identificamos:
- Desnecessidade de existência de
infra-estruturas complementares, uma
vez que o centro é autónomo;
Os modelos de negócio SPS permitem
que as empresas criem novas fontes de
valor acrescentado e competitividade, uma
vez que: (Tukker, 2004)
- Satisfazem as necessidades dos
clientes de forma integrada e pessoal,
permitindo assim que os clientes se
concentrem em actividades centrais;
- Facilitam a construção de relações
com os clientes, aumentando a sua
lealdade para com a empresa;
- Podem favorecer uma mais rápida
inovação já que acompanham melhor
as necessidades do cliente.
Em geral, pode-se concluir que a maioria
dos SPS originam algumas melhorias
ambientais, ou pelo menos não pioram o
desempenho ambiental. Como excepção
têm-se os SPS que tornam os utilizadores
menos cuidadosos no uso do produto
(aluguer). As melhorias tendem a ser
incrementadas à média. Tais melhorias
estão maioritariamente relacionadas com
os ganhos com a eficiência económica,
sendo menos relevante para os sistemas
intensivos de recursos humanos. Melhorias
radicais só podem ser expectáveis em
casos de resultados funcionais promissores. (Tukker, 2004)
As análises da SusProNet até agora não
confirmaram que os SPS são uma
estratégia win-win. Nalguns SPS não é
claro o seu carácter de sustentabilidade;
enquanto outros casos orientados especificamente para a sustentabilidade falharam. O SPS é portanto uma área com
algumas carências a nível de investigação,
de forma a se poder avaliar a verdadeira
eficácia deste instrumento.
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STB,
Delft,
www.suspronet.org
Holanda,
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