Faculdade de Ciências e Tecnologia Gestão do Ambiente nas Organizações SISTEMA DE PRODUTOSERVIÇO: CONTEXTO E CASOS-ESTUDO Pedro Baptista RESUMO Este artigo aborda um tema em presente expansão – o Sistema de Produto-Serviço. É contextualizada esta estratégia empresarial nos valores prementes nas sociedades modernas. É apresentada a importância da aplicação dos princípios da eco-eficiência para o alcance de um estádio de desenvolvimento sustentável. São também descritos alguns casos-estudo de Sistemas Produto-Serviço, identificando vantagens ambientais e económicas com a sua aplicação. No final é ainda realizada uma análise global aos Sistemas Produto-Serviço do ponto de vista ambiental e empresarial. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – O CONCEITO-BASE DAS ECONOMIAS Desde o relatório Bruntland (WCED, 1987), o desenvolvimento sustentável tornou-se um tema bastante discutido, muitas vezes sem seriedade dado o subjectivismo deste conceito. Tomando a definição original, o desenvolvimento sustentável traduz-se na satisfação das necessidades presentes, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras virem a satisfazer as suas próprias necessidades. O desenvolvimento sustentável depende fundamentalmente de dois factores (J.W. Sun, 1999): - Desintensificação do uso de energia e materiais – emissões de poluentes; - Crescimento económico apropriado. Portanto, a actividade económica tem um papel importante neste objectivo global. Como unidades básicas dessa actividade, as empresas têm que estabelecer estratégias de sustentabilidade, reduzindo a utilização de recursos (materiais e energia) e a geração de resíduos, emissões e efluentes. ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS DE SUSTENTABILIDADE Ao contrário do que veio a ser invocado diversas vezes pelas empresas, a internalização das questões ambientais associadas às suas actividades não é uma ameaça mas sim uma oportunidade de negócio. Na realidade, segundo Porter e Linde (1995), com a introdução desta componente: “aumentando a produtividade dos recursos – melhorando a eficiência na produção ou o valor do produto – torna as empresas mais competitivas, trazendo benefícios para elas e para o ambiente”. Para tal é aconselhável que se desenham estratégias que criem vantagens competitivas para a empresa, se assim não for o próprio mercado selecciona as empresas com melhor desempenho. ECO-EFICIÊNCIA DeSimone e Popoff (1997) definiram um objectivo concreto que deve ser abraçado pelas próprias empresas – a eco-eficiência: “fornecimento de bens e serviços, que satisfazem as necessidades humanas e aumentam a qualidade de vida, a preços competitivos, reduzindo progressivamente os impactes ecológicos e a intensidade de recursos no seu ciclo de vida, até um nível compatível com a capacidade de sustentação estimada na Terra”. Por outras palavras, a eco-eficiência traduz, em termos práticos, o comportamento que se deve verificar para se alcançar um desenvolvimento sustentável. Este é atingido quando se igualar os impactes ecológicos e a intensidade de recursos dos bens e serviços à capacidade de sustentação da Terra. Na eco-eficiência identificam-se sete elementos fundamentais (Antunes P., s/d): - Minimizar a intensidade de materiais dos bens e serviços; - Minimizar a intensidade energética de bens e serviços; - Minimizar a dispersão de tóxicos; - Fomentar a reciclabilidade dos materiais; - Promover a utilização sustentável de recursos renováveis; - Estender a durabilidade dos produtos; - Aumentar a intensidade de serviço do sistema produtivo. As estratégias empresariais actuam diferenciadamente nestes elementos fundamentais. Pode-se querer melhorar o desempenho empresarial de forma intensiva, actuando nos vários pontos apresentados, ou de forma gradual, ponto a ponto. Independentemente de como é abordado, é importante que sejam estabelecidas estratégias viáveis económica e ambientalmente. SISTEMA PRODUTO-SERVIÇO (SPS) Seguindo o objectivo da eco-eficiência, criou-se uma ferramenta de aplicação baseada na transferência de oferta de produtos para serviços. Esta abordagem pode ser aplicada a vários níveis (Heiskanen e Jalas, 2002): - Na macroeconomia, dando maior importância ao sector de serviços; - Como estratégia empresarial; - Como serviços oferecidos por um produto. O presente artigo pretende desenvolver o contexto do Sistema Produto-Serviço (SPS) como estratégia empresarial. Um SPS pode ser definido como sendo constituído por produtos tangíveis e serviços intangíveis combinados de maneira que, em conjunto, sejam capazes de satisfazer determinadas necessidades dos clientes (Tischner et al., 2002). Muitos vêem os SPS como um excelente veículo de desenvolvimento da competitividade e de promoção simultânea da sustentabilidade. Tukker (2004) propôs uma classificação dos SPS em oito categorias, distribuídas em três classes principais – serviços orientados para o produto, para o uso e para o resultado (figura 1). Figura 1. Categorias principais e secundárias de SPS (Tukker, 2004). - - - Na categoria principal “serviços orientados para o produto”, o modelo económico é ainda focado maioritariamente nas vendas de produtos, mas alguns serviços extra podem ser adicionados. Na categoria principal “serviços orientados para o uso”, os produtos tradicionais continuam a ter um papel central, mas o modelo económico não é focado na venda de produtos. O produto mantém-se na posse do fornecedor e é tornado acessível de forma diferente, é por vezes partilhado pelos utilizadores. Na categoria principal “serviços orientados para os resultado”, em princípio o cliente e o fornecedor concordam num resultado, e não está envolvido um produto predeterminado. Serviços orientados para o uso - Aluguer de produtos. O fornecedor mantém a posse do produto, e é geralmente também responsável pela manutenção, reparação e controlo. Os utilizadores pagam uma taxa regular para o uso do produto; normalmente o indivíduo tem acesso ilimitado ao produto alugado. - Aluguer ou partilha de produtos. Aqui também o produto pertence geralmente ao fornecedor, que também é responsável pela manutenção, reparação e controlo. O utilizador paga pelo uso do produto. A diferença principal para com a categoria anteriormente apresentada, é o facto de o utilizador já não ter acesso ilimitado e individual; outros podem usar o produto noutras alturas. O mesmo produto é sequencialmente usado por diferentes utilizadores. - Product pooling. Esta categoria assemelha-se muito ao aluguer e partilha de produtos. No entanto, aqui existe um uso simultâneo do produto. No entanto, dentro de cada categoria incluem-se SPS com diferentes características económicas e ambientais. Identificam-se assim, oito categorias diferentes que a seguir são descritas: Serviços orientados para o produto - Serviços relacionados com o produto. Neste caso, o fornecedor não só vende o produto, mas também dispõe de serviços necessários durante a fase de uso do produto. Isto pode implicar, por exemplo, um contrato de manutenção, um esquema de financiamento ou o fornecimento de consumíveis, mas também um acordo de retorno para quando o produto chegar ao fim de vida. - Conselho e consultoria. O fornecedor aconselha o uso mais eficiente do produto que vende. Isto pode incluir, por exemplo, conselhos sobre a estrutura organizacional da equipa no uso do produto, ou optimização das logísticas na fábrica onde o produto é usado como unidade de produção. Serviços orientados para os resultados - Gestão da actividade/outsourcing1. Parte de uma actividade de uma empresa é outsourced para uma empresa externa. Como a maioria dos contratos de outsourcing contêm indicadores de desempenho para controlar a qualidade do serviço ousourced, estes são incluídos também nos serviços orientados para os resultados. Isto é exemplificado com o outsourcing de catering e limpeza de escritórios que é agora comum na maioria das empresas. - Pagamento por unidade de serviço. Esta categoria compreende vários exemplos clássicos de SPS. Este SPS mantém o produto convencional 1 Outsource – definição (Dictionary.com): enviar trabalho, por exemplo, para um fornecedor ou produtor externo de forma a cortar custos. - como base, o utilizador já não compra o produto, mas apenas o output do produto de acordo com o nível de uso. Um exemplo bem conhecido desta categoria de SPS é a fórmula pagamento por impressão agora adoptada por grande parte de produtores de impressoras. Nesta fórmula, o produtor dedica-se a todas as actividades necessárias para manter uma impressora a funcionar num escritório (i.e. fornecimento de papel e toner, manutenção, reparação e substituição da impressora quando apropriado). Resultado funcional. O fornecedor acorda com o cliente a entrega de um resultado. Em contraste com a gestão de actividade/outsourcing, esta categoria é usada para um resultado funcional em termos ligeiramente abstractos, o qual não está directamente relacionado com um sistema tecnológico específico. Em princípio, o fornecedor está completamente livre de escolher o método de entrega do resultado. Exemplos deste tipo de SPS são as empresas que provêem “conforto climático” para escritórios ao invés de equipamentos de gás ou de refrigeração; ou empresas que garantem um máximo de perdas nas colheitas em vez de venderem pesticidas. Partindo do primeiro tipo de SPS até ao último aqui apresentados, nota-se um decréscimo gradual do papel do produto como componente central, por outro lado as necessidades do cliente são cada vez mais abstractas. Cada vez mais, o fornecedor tem um pouco mais de liberdade para satisfazer a necessidade final real do cliente. No entanto, a procura abstracta é por vezes difícil de se traduzir em indicadores concretos (desempenho de qualidade), tornando complicada a determinação quantitativa das necessidades por parte dos fornecedores, e dificultando a capacidade dos clientes saberem se o que eles têm foi o que pediram. ALGUNS CASOS-ESTUDO DE SPS De seguida são apresentados alguns casos-estudos divulgados pela United Nations Environment Programme (UNEP, 2002): - Allegrini: Casa Quick; - Klüber: S.A.T.E. laboratório ambulante; - COVIAL: uma cooperativa de “Vinicola Aurora”; - AMG: serviço de calor solar; - AutoShare: serviço de partilha de carro; - Odin: sistema de inscrição para venda de vegetais orgânicos; - Greenstar: comércio electrónico e centro comunitário solar; - Virtual Station: sistema de serviços de escritório virtual; Allegrini: Casa Quick O Casa Quick é um serviço que cria valor acrescentado ao ciclo de vida do produto, baseado na distribuição de detergentes casa-a-casa. Os produtos Casa Quick são transportados numa carrinha ambulante que tem uma carreira regular. As famílias compram a quantidade e qualidade de detergentes que desejam e transportam-nos em reservatórios especiais. É fornecido aos consumidores um kit de frascos de plástico fáceis de transportar na rua e que podem ser enchidos mesmo sem estarem vazios. Este sistema incorpora o produto (o detergente) mais um serviço (entrega a casa), com um baixo nível de esforço do cliente uma vez que este não precisa de se deslocar à loja. Finalmente também é fornecida informação aos consumidores de como devem usar os produtos de forma a optimizar o seu efeito e minimizar a quantidade usada. O Casa Quick foi implementado em 1998, em 2001 já atraía 25% de potenciais clientes na área geográfica que servia. Todos os meses eram entregues com regularidade sete tipos de produtos a quatro municípios, cada um com cerca de 3.000 famílias. A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - Optimização dos processos de distribuição (empacotamento e transporte); - Redução de materiais (devido à reutilização de frascos); - Evita problemas com contaminação de detergente residual aquando da reciclagem das embalagens tradicionais; - Redução de potenciais dispersões de detergente devido ao armazenamento e empacotamento. A nível de benefícios económicos, para o produtor e consumidor, deste sistema identificamos: - Lealdade a longo termo dos clientes; - Reduz a procura de outros produtores por parte do consumidor uma vez que lhe é facultada a entrega do produto em casa; - Redução do custo de empacotamento; - Diversificação de serviços (novos nichos de mercado); - Redução dos custos de tratamento de resíduos; - Entrega em casa do produto (conforto); - Redução da quantidade de resíduos. Klüber: S.A.T.E. laboratório ambulante Klüber deixou de vender comercialmente lubrificantes e passou a prestar serviços valorizando o uso do seu produto. Usando o serviço S.A.T.E. analisa o comportamento das centrais de tratamento de aerossóis e tratamento de esgotos. Para isto a Klüber desenhou um laboratório químico ambulante, uma carrinha que permite monitorizar directamente as máquinas industriais do cliente, determinando o desempenho dos lubrificantes usados e os seus impactes ambientais. Também controla o ruído, vibrações, fumo e outros impactes industri- ais indesejáveis. O serviço adicional que a Klüber oferece melhora o desempenho da fábrica a nível da eficiência, garantia de funcionalidade e durabilidade, e melhora a protecção ambiental. A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - Redução da quantidade de lubrificante consumido por unidade de serviço, e consequente redução nas emissões de poluentes; - Melhoramento na monitorização do desempenho de várias máquinas de maneira que qualquer poluição acidental pode ser evitada; - Maior segurança para os operadores das máquinas. A nível de benefícios económicos deste sistema identificamos: - Libertação para o cliente dos custos da monitorização e inspecção dos seus equipamentos; - Benefícios no processo de produção; - Aumento do tempo de vida das máquinas; - Redução dos custos da fábrica. COVIAL: uma cooperativa de “Vinicola Aurora” A cooperativa COVIAL tem dez membros: o director, três agrónomos, um tesoureiro, um secretário e dois assistentes sociais. Os associados participam nos processos de tomada de decisão da COVIAL através de treze representantes eleitos que vão a reuniões regulares da cooperativa. A COVIAL proporciona plataformas operacionais e um serviço aos seus associados como “resultado” final. Faculta equipamento técnico para trabalhar nas vinhas (disponíveis para serem reservados pelos associados) e compra plantas jovens de Itália, França e África do Sul. Também compra em grandes quantidades adubos, herbicidas e vários pesticidas, arame farpado, etc. e revende aos associados. Em adição, existem quatro agrónomos e dois técnicos à disposição dos associados, organização de aulas, e formações em gestão das vinhas, podas e vindimas. Os associados pagam pelos serviços, equipamentos e materiais quando entregarem a sua produção; parte da taxa final (dependendo do seu tamanho) serve para cobrir os custos de funcionamento da cooperativa. A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - A partilha de equipamento técnico intensifica o seu uso, e viabiliza o investimento de equipamentos mais caros mas mais eficientes; - Maior conhecimento e consequente eficiência com a assistência de agronomos e formação. A nível de benefícios económicos deste sistema identificamos: - Acesso a apoio técnico e logístico da companhia de produção “Vinicola Aurora”; - Obtenção de equipamento profissional e apoio de agrónomos a preços mais baixos que no mercado; - Redução de custos na compra de produtos, que saem mais baratos em grandes quantidades; - Minimização do risco dos associados uma vez que a compra das suas colheitas é garantida. AMG: serviço de calor solar O “serviço de calor solar” proporciona um resultado que consiste em vender calor como um produto final. Água quente é produzida por novos equipamentos que combinam o Sol, energia e metano, com poupanças económicas e energéticas. As centrais solares são desenhadas de forma a maximizar a contribuição da energia solar. A água quente é medida através do calor específico e todo o sistema é monitorizado, tanto para controlar em tempo-real o funcionamento do sistema, como também para aplicar a Garantia de Resultados Solares – um contrato específico através do qual o instalador compromete-se a alcançar um determinado nível de eficiência. A AMG já testou este serviço num Clube de Ténis na cidade de Palermo (Itália), oferecendo água quente aos balneários. A componente inovadora deste Sistema de Produto-Serviço é que o cliente não paga uma factura pelo metano que consumiu para obter água quente, ao invés disso paga pela água quente como um serviço. A AMG vende calor, e calcula os kilowatts térmicos consumidos pelos seus clientes; por exemplo, em 2001 um litro de água quente custava 0,2 cêntimos de euro. Com a AMG o consumidor paga para receber um serviço compreensivo, desde a instalação, até aos medidores de energia térmica, e até ao transporte do metano para as caldeiras. Em conjunto com o fornecimento de manutenção dos equipamentos, o cliente acaba por pagar um “resultado final”. A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - A combinação de metano e energia solar usada para produzir de água quente responde a 70% das necessidades; - A empresa é motivada para inovar, de forma a minimizar a energia consumida no uso; - A factura baseia-se na unidade de serviço e não por unidade de consumo de recursos; - Redução de 100 toneladas de dióxido de carbono por ano (estimativa da AMG). A nível de benefícios económicos deste sistema identificamos: - Melhoramento da posição estratégica da AMG dando valor acrescentado aos seus clientes; - Oportunidades reais económicas em termos de diferenciação do mercado; - Ao final de oito anos é recuperado o investimento inicial. AutoShare: serviço de partilha de carro A AutoShare, como muitos outros sistemas de partilha de carro, é um serviço que fornece uma plataforma operacional. Os carros são estacionados perto das casas dos membros da empresa (260 pessoas em 2000) e estão acessíveis 24h por dia via sistema de reserva por telefone. Os membros podem usar o carro por apenas uma hora, ou o tempo que quiserem. Para obter estes benefícios, os membros pagam uma pequena taxa de inscrição à AutoShare para cobrir os custos fixos da empresa, e depois apenas lhes são cobradas as horas de utilização do carro. Essencialmente um membro paga pela mobilidade que usou (ao invés de ter que investir uma grande quantidade de dinheiro num carro que estará a maior parte do tempo parado). Todos os carros da AutoShare são estacionados próximo de um sinal stop do sistema de transporte público de Toronto, que consiste em metropolitanos, carros de rua e autocarros. Isto ajuda a combinação do transporte público com o carro. Em 2000 (altura do estudo), a AutoShare tinha uma parceria com uma agência local de aluguer de carros através da qual obtinha carros quase novos para aluguer a curto-prazo, em troca oferece à agência um negócio mais a longo-prazo que a AutoShare não pode acomodar. A partilha de carros é direccionada para pessoas que tiram partido disso para ir às compras, e fazer viagens distantes de fim-de-semana. A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - Redução do número de carros para satisfazer a mesma necessidade de mobilidade; - Cada carro “partilhado” substitui cinco a seis carros privados (estimativa da AutoShare); - Redução do uso de carro relativamente à necessidade de mobilidade – em favor dos transportes públicos e outros; - Os membros são incentivados a conduzir menos uma vez que são cobrados pelas horas de uso (redução de emissões que contribuem para o smog e para as alterações climáticas). A nível de benefícios económicos deste sistema identificamos: - Benefícios por abrir um novo mercado; - A principal atracção deste sistema para os membros até é mais o benefício económico que a consciência ambiental; - Custos mais baixos do que se recorresse a uma agência de aluguer de carros; - Os clientes não necessitam de se preocupar com a manutenção dos carros. Odin: sistema de inscrição para venda de vegetais orgânicos A Odin Holland fornece um serviço adicional de fruta e vegetais de produção orgânica para os consumidores. O consumidor recebe a produção pagando uma taxa fixa de inscrição. Uma vez por semana é enviado ao consumidor um saco de papel com vários tipos de fruta e vegetais acompanhados com receitas provenientes de uma loja orgânica da vizinhança. Um saco de Odin provê as necessidades de fruta e vegetais do consumidor para cerca de quatro dias. A selecção da melhor produção disponível é feita pela Odin. Os clientes não pré-especificam a mistura de produtos. Onde é possível, a Odin fornece comida produzida na região, minimizando o transporte de longas distâncias. No entanto, alguma comida é importada, especialmente no Inverno. Toda a comida é proporcionada à Odin pelos produtores num contrato a preços fixos, sem haver intervenção de terceiros com as liquidações totais e leilões. A Odin trabalha directamente com os produtores para planear o cultivo, e efectivamente faz de gestora das necessidades de frutas e vegetais, baseando-se nas previsões de procura de determinados vegetais por parte dos consumidores. De facto, é dada informação aos consumidores, permitindo directamente que os agricultores satisfaçam a procura. Em troca, os consumidores partilham a colheita e participam no sistema. Como parte integrante da oferta do produto-serviço, também a Odin proporciona aos produtores conselhos de especialistas em matérias de agricultura e horticultura. Cerca de 100 produtores cultivam 500 hectares de terra (ano do estudo: 1999). Toda a produção orgânica de vegetais e fruta fornecida são certificados pela organização Alemã responsável por toda a certificação orgânica. Em 1999, 28.000 famílias participaram semanalmente. É um sistema bastante eficaz pois confere segurança aos produtores (planeamento das culturas e garantias de colheitas). A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - Redução dos custos de transporte (uma vez que a produção é regional); - Minimização de resíduos de empacotamento; - Minimização dos resíduos de produção ao gerir a selecção de culturas em consideração com as tendências de produção; - Foi estimado que com a inscrição de 10.000 famílias neste sistema se consiga poupar: 350 kg de pesticidas e herbicidas; 2.652 biliões de kilojoules de energia, 23.000 kg de materiais de empacotamento, 546.000 t/km de transporte; - Redução da degradação do solo pois não são usados pesticidas e fertilizantes artificiais. A nível de benefícios económicos deste sistema identificamos: - 15% de crescimento adicional para as lojas de comida orgânica devido à diferenciação do mercado; - - A Odin alcançou em 1998 um crescimento dos rendimentos de 50%; A Odin controla eficazmente o fornecimento de produtos, minimizando as perdas; Segurança financeira para os produtores por lhes ser oferecido um preço fixo para produzirem determinada cultura; As margens de lucro dos produtores são superiores às proporcionadas no mercado convencional; Os consumidores beneficiam com preços mais baixos, com a garantia de frescura dos produtos, levando a uma maior lealdade do cliente para com a Odin. Greenstar: comércio electrónico e centro comunitário solar A Greenstar proporciona serviços enquadrados numa plataforma operacional, fornecendo ligações wireless alimentadas por energia solar a aldeias de países em desenvolvimento. Como centros de comércio electrónico, permite que os residentes em comunidades rurais remotas possam vender os seus produtos para todo o mundo. Através da Internet pode-se então trazer para os mercados mundiais a arte tradicional, música, fotografia, lendas e contos de pequenas aldeias… Outros produtos fornecidos pela Web podem ser o café, frutos secos, especiarias, artesanato, trabalhos artísticos e culturais como cerâmicas, produtos de bronze, instrumentos musicais, tapeçarias, etc. A Greenstar proporciona material digital de culturas para vários mercados, tanto directamente para o consumidor como também por licenciamento de negócios. Os aldeões possuem o “Greenstar Village Centre” e tornam-se accionistas da Greenstar. O centro aprovisiona electricidade, águas com qualidade para abastecimento público, uma pequena clínica, refrigerador para as vacinas e uma sala de aulas. O centro é uma unidade modular bastante portátil. Cada instalação inclui um comércio electrónico e um computador, tal como uma clínica médica com equipamento básico e uma sala de aulas. Tudo é alimentado por energia fotovoltaica, e ligase à Web através de uma antena parabólica ou por um digital cellular modem para grandes velocidades de telecomunicações. - Fornecimento de água potável através da destilação ou pasteurização via energia solar. A nível de benefícios económicos deste sistema identificamos: - Geração de receitas para os aldeões e para a Greenstar, as quais são direccionadas para a cobertura de custos e para a implementação de novos centros; - O centro pode ser supervisionado apenas por uma pessoa que garante o suporte técnico; - Traz outros benefícios a nível da educação, economia local, formação, saúde pública, e de programas ambientais. CONCLUSÕES Figura 2. Unidade esquemática do “Greenstar Village Centre” (Fonte: UNEP, 2002). A Greenstar gere todas as transacções na Web em nome da comunidade através de um servidor instalado nos Estados Unidos. Na transacção, uma porção do rendimento sai directamente de uma conta da Greenstar para o banco local da aldeia, usando transferência via Visa, que inclui a conversão de moeda usando a taxa de câmbio mais favorável. Os representantes autorizados da aldeia podem depois aceder a estes fundos. Na altura deste estudo (2000) tinham sido implementadas instalações-piloto numa comunidade Beduína remota no Médio Oriente, noutra pequena comunidade das Montanhas Azuis da Jamaica, numa aldeia do centro da Índia – Parvatapur, e numa comunidade tradicional Ashanti em Gana. A nível de benefícios ambientais deste sistema identificamos: - Desnecessidade de existência de infra-estruturas complementares, uma vez que o centro é autónomo; Os modelos de negócio SPS permitem que as empresas criem novas fontes de valor acrescentado e competitividade, uma vez que: (Tukker, 2004) - Satisfazem as necessidades dos clientes de forma integrada e pessoal, permitindo assim que os clientes se concentrem em actividades centrais; - Facilitam a construção de relações com os clientes, aumentando a sua lealdade para com a empresa; - Podem favorecer uma mais rápida inovação já que acompanham melhor as necessidades do cliente. Em geral, pode-se concluir que a maioria dos SPS originam algumas melhorias ambientais, ou pelo menos não pioram o desempenho ambiental. Como excepção têm-se os SPS que tornam os utilizadores menos cuidadosos no uso do produto (aluguer). As melhorias tendem a ser incrementadas à média. Tais melhorias estão maioritariamente relacionadas com os ganhos com a eficiência económica, sendo menos relevante para os sistemas intensivos de recursos humanos. Melhorias radicais só podem ser expectáveis em casos de resultados funcionais promissores. (Tukker, 2004) As análises da SusProNet até agora não confirmaram que os SPS são uma estratégia win-win. Nalguns SPS não é claro o seu carácter de sustentabilidade; enquanto outros casos orientados especificamente para a sustentabilidade falharam. O SPS é portanto uma área com algumas carências a nível de investigação, de forma a se poder avaliar a verdadeira eficácia deste instrumento. REFERÊNCIAS World Commission on Environmental and Development (WCED) 1987. Our Common Future. Oxford University Sun, J. W. 2000. Dematerialization And Sustainable Development. Sustainable Development 8: 142–145 Porter M., van der Linde C. 1995. Green and competitive: ending the stalemate. Harvard Business Review 73(5): 120–137 DeSimone L. D., Popoff F., com World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) 1997. Eco-efficiency: the Business Link to Sustainable Development Heiskanen E., Jalas M. 2003. Can Services Lead to Radical Eco-efficiency Improvements? – A Review of the Debate and Evidence. Corporate Social Responsibility and Environmental Management 10: 186–198 Antunes P. s/data. Estratégias Empresariais – slides da cadeira de Gestão do Ambiente nas Empresas United Nations Environment Programme (UNEP) 2002. Product-Service Systems and Sustainability. Opportunities for Sustainable Solutions Tuker A. 2004. Eight Types of ProductService System: Eight Ways to Sustainability? Experiences From SusProNet. Business Strategy and the Environment 13: 246–260 Tischner U., Verkuijl M., com Tukker A. 2002. First Draft PSS Review. SusProNet Report, draft 15 December. Disponível da Econcept, Cologne, Alemanha; TNO- STB, Delft, www.suspronet.org Holanda, ou