Análise da imagem: A SERENA MORTE DE SANTA ELISABETH DA TURÍNGIA ___________________ Jean Lucas de Campos Silva 4º Semestre História Taubaté-SP 2014 Análise da imagem: A SERENA MORTE DE SANTA ELISABETH DA TURÍNGIA ___________________ Jean Lucas de Campos Silva 4º Semestre História Trabalho apresentado à disciplina de Burguesia e cultura Medieval ministrada pela professora Doutora Suzana Ribeiro, curso Licenciatura em História, Departamento Ciências sociais e letras, Universidade de Taubaté. Taubaté-SP 2014 1 1 http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/repository_data//SESIeduca/ENS_FUN/ENS_FUN _F09_HIS/170_HIS_ENS_FUN_F09_02/leitura_mundo.html.A serena morte de Santa Elisabeth da Turíngia (1207-1231). Introdução A imagem analisada neste trabalho foi a: A serena morte de Santa Elisabeth da Turíngia, produzido no século XIII por autor desconhecido. A ilustração esta contida no Les Grandes Chroniques de France, uma compilação de crônicas francesas tidas como símbolo da autoridade e prestígio da soberania. Hoje esta compilação se encontra na Biblioteca Real da França, local que permanece desde o século XVII. Para melhor entender a análise, achou-se necessário dividir a pesquisa em duas: A História do sujeito em questão na imagem, ou seja, vida e morte da Princesa Elisabeth da Turíngia e em seguida contextualizar o momento registrado na imagem, isto é, a morte da Princesa, com os aspectos do imaginário que acercavam o medievo em relação ao momento último da vida. O trabalho foi feito por meio de pesquisas bibliográficas dentro das áreas de mentalidade medieval e Hagiografia. Uma observação deve ser feita em relação o primeiro capítulo correspondente à vida de Elisabeth. Devido sua complexa procura, o primeiro capítulo tem a base teórica quase que por completa na dissertação de mestrado de Viviane Rummler da Silva, sob o título: Pintores Fundadores da Academia de Belas Artes da Bahia: João Francisco Lopes Rodrigues (1825-1893) e Miguel Navarro y Cañizares (1834-1913), em que a então mestranda, em um dos seus capítulos, discorre da relação do seu tema com a vida da Santa estudada aqui. Elisabeth: da Lenda a Santidade Elisabeth de Turíngia ou Isabel da Hungria como é chamada pelos Húngaros, nasceu em Bratislava2 (1207), hoje capital da Eslováquia, foi criada dentro da realeza, seu pai era o Imperador Andreas II da Hungria e sua mãe Gertrud Von Andechs da Baviera. Como de costume religioso e estratégica política da época, Elisabeth, aos 14 anos casou-se com o filho de Hermann I da Turíngia, Ludovico IV em 1221, este assumiu a regência após a morte de seu pai. A Turíngia era um dos feudos do Sacro Império Romano-Germânico3, no período em que o marido de Elisabeth regeu. O antigo feudo foi contemplado com uma lenda, que permanecera viva até os dias de hoje, a qual tornou a vida de Elisabeth um exemplo de santidade, para as pregações católicas da época. A lenda narrada neste período, conta que Elisabeth na sua curta vida, dedicou-se à caridade, e isto provocou alguns conflitos na sua nobre família. A futura santa doava alimentos, dinheiro, ferramentas e roupas aos necessitados, como fala o autor Lehmann citado por Rummler: “[...] em pessoa visitava as choupanas, distribuía mantimentos e roupas feitas pelas próprias mãos, rezava com os agonizantes, preparava os mortos para o enterro.”4 com o descontentamento já acumulado de sua família, Elisabeth foi posta para fora do castelo onde morava, Wartburg localizado em Eisenach, centro do ducado da Turíngia. Segundo Bultler (autor pesquisado por Rummler), Elisabeth após perder seu marido no movimento das cruzadas renunciou solenemente ao mundo5, entrando para a ordem terceira Franciscana onde permaneceu até sua morte. 2 SILVA, Viviane Rummler da. Pintores fundadores da academia de belas artes da Bahia. p 172.Salvador- BA, 2006- 2008. 3 SILVA, Viviane Rummler da. Pintores fundadores da academia de belas artes da Bahia. p 170.Salvador- BA, 2006- 2008. 4 LEHMANN, op. Cit, p414. APUD SILVA, Viviane Rummler da. Pintores fundadores da academia de belas artes da Bahia. p 173.Salvador- BA, 2006- 2008. 5 BUTLER, op. Cit, p. 192. APUD SILVA, Viviane Rummler da. Pintores fundadores da academia de belas artes da Bahia. p 173.Salvador- BA, 2006- 2008. Após analisar os artigos estudados para este primeiro capítulo, não foi possível encontrar os motivos de sua morte ocorrida em novembro de 1231 aos 24 anos, a não ser pela livre especulação de que a sujeita teve alguma enfermidade fatal, como visto na imagem. Apesar dos motivos de seu fim não serem confirmados aqui, o seu legado afinal, oque a tornaria santa três anos mais tarde6 com sua canonização, são neste momento da análise mais pertinentes e por isso serão aqui descritos. 6 http://www.dw.de/tur%C3%ADngia-e-hessen-lembram-800-anos-de-isabel-da-hungria/a-2845682 Ações e imaginário Moribundo: Os últimos dias de vida do medievo Na imagem aqui analisada, Elisabeth se encontra em uma cama, no que se pode perceber, está fadada a morte, e esta fúnebre amiga do destino preenchia o imaginário daquele período. O medo da morte, tal como a preparação para ela, a mentalidade e a cultura que acercam este tema são tão imprescindíveis para esta análise, que se dedica aqui um capítulo específico para eles, sem é claro, desprender do tema o qual a análise faz parte. É impossível desvincular a morte do misticismo que acerca o tema. A proximidade do fim da vida do medievo leva à sua reflexão cada vez mais constante da luta entre o bem e o mal7, isto é, que Deus irá julgar a conduta daquele homem durante toda sua vida para condena-lo ou salva-lo. Na imagem vemos Elisabeth em uma cama, aguardando o momento de sua morte. De certa forma, este momento simboliza o leito de muitos outros medievos que aguardaram por esse momento em seus respectivos leitos. Philippe Ariès faz esta ligação entre a misticidade do imaginário, com este momento: O céu e o inferno desceram ao quarto; de um lado o Cristo, a Virgem e todos os Santos; de outro, os demônios segurando as vezes, o livro de contas, onde são registradas as boas e más ações. 8 Desta forma, segundo Ariès, o medo é parte efetiva deste último momento, que apesar de ser tido como uma possível passagem ao paraíso, pode ser também a entrada para o inferno. Porém, apesar deste medo aqui narrado, no que se refere ao semblante de Elisabeth na imagem, não está transparecido o temor pelo fim, ou menos ainda algum tipo de pavor pelo mal que Ariès descreve. A moribunda está calma, e serena como o próprio título da imagem diz. Nota-se uma auréola em volta de sua cabeça, oque o autor se preocupou em personifica-la já como uma santidade. Devido a estes apontamentos, evoco o Doutor em Literatura Portuguesa Marcio Ricardo Coelho Muniz, que analisa a obra Ars Moriendi, que em tradução literal seria: A arte do bem morrer9, para explicar este momento. A arte do bem morrer corresponde aos métodos que foram registrados na idade média, para mostrar aos devotos católicos as formas de se prepararem para o último momento. 7 CAETANO, D. O medo da morte na idade média: Uma visão coletiva do ocidente, p 38. Belém-PA, 2012. 8 ARIÉS P. História da morte no Ocidente, p 110. Editora Nova fronteira. Rio de Janeiro- RJ, 2012. 9 MUNIZ, M. Sobre a arte de morrer no Outono Medieval. Feira de Santana-BA. Sem data. O perdão dos pecados junto a unção do padre, por exemplo, trazem a tranquilidade ao medievo já que ele estaria abençoado por um membro da Igreja, podendo então descansar em paz. Considerações finais A imagem aqui analisada teve como questão principal de análise o imaginário do medievo com relação à morte, porém foi imprescindível que também fosse observado que o sujeito da imagem não era apenas um simples camponês ou um nobre medievo, mas, uma santa, e quando se trata de religião dentro do contexto medieval a mensagem ganha talvez outro significado. O sentido desta nova mensagem ao invés de transmitir o medo, com imagens de demônios e anjos disputando a alma do moribundo como escreveu Ariès, é na verdade de uma moral, ou seja, da santidade de uma mulher nobre que venceu o medo da morte por ter sido boa em vida segunda a caridade que mandava a Igreja católica. Por fim, a imagem traz a reflexão de diversos fatores que deviam causar o questionamento de quem a analisava na idade média e até mesmo aos dias de hoje: o semblante tranquilo da princesa santa que levou nesta análise a leitura da arte do bem morrer, sua única companhia era uma provável ajudante perto de sua cama, fazendo jus ao que se registrou sobre o abandono de sua família, já que não era costume daquele tempo morrer sozinho, mas, segundo Ariès com a presença dos familiares. Fontes da internet http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/repository_data//SESIeduca/ENS _FUN/ENS_FUN_F09_HIS/170_HIS_ENS_FUN_F09_02/leitura_mundo.html.A serena morte de Santa Elisabeth da Turíngia (1207-1231). http://www.dw.de/tur%C3%ADngia-e-hessen-lembram-800-anos-de-isabel-dahungria/a-2845682 http://www.theeuropeanlibrary.org/tel4/record/2000061252754 Bibliografia ARIÉS P. História da morte no Ocidente. Editora Nova fronteira. Rio de Janeiro- RJ, 2012. CAETANO, D. O medo da morte na idade média: Uma visão coletiva do ocidente. Belém-PA, 2012. CUNNINGHAM, Lawrence S. Uma breve História dos Santos. Editora José Olympio Ltda. Rio de Janeiro- RJ, 2011. MUNIZ, M. R. C. Sobre a arte de morrer no Outono Medieval. São Luís- MA, 2009. SILVA, Viviane Rummler da. Pintores fundadores da academia de belas artes da Bahia. Salvador- BA, 2006- 2008.