USINAS HIDRELÉTRICAS DO SÉCULO XXI: EMPREENDIMENTOS COM
RESTRIÇÕES À HIDROELETRICIDADE
Pedro José da Silva(1)
Professor Associado da Escola de Engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia /IMT
Engenheiro Civil – Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes/UNISANTA
Mestre em Saneamento Ambiental – Universidade Presbiteriana Mackenzie/UPM
Doutor em Engenharia Civil – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo/EPUSP
Pós-doutorado – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/IPEN
Engenheiro Consultor – Obras Hidráulicas Fluviais e Marítimas.
e-mail: [email protected]
RESUMO
Brasil, sexta potência econômica do planeta, manter e avançar esse desenvolvimento econômico exige enorme
quantidade de energia elétrica. O objetivo desse trabalho é questionar o novo enfoque dado à construção de
usinas hidrelétricas com pequenos reservatórios, ou seja, com pequena reserva de energia elétrica. A
metodologia para o desenvolvimento da pesquisa fundamenta-se em um estudo descritivo/correlacional, pois
consiste da observação e registro de eventos nas obras de construção de usinas hidrelétricas. Apresenta-se
como resultado a identificação da necessidade de se desenvolver projetos que contemplem simultaneamente os
grandes reservatórios e o atendimento às seguintes sustentabilidades: técnica, econômica, financeira, política,
social, jurídica e ambiental, considerando-se que a principal matriz de energia elétrica é função da quantidade
de água armazenada, nos reservatórios das usinas hidrelétricas.
PALAVRAS-CHAVE: Hidrelétricas, Reservatórios, Energia Elétrica, Matriz Energética, Hidroeletricidade.
INTRODUÇÃO
De acordo com Müller (1995) uma barragem é uma construção destinada a barrar um curso d’água e
proporcionar a formação de um reservatório, criando com isso um desnível entre montante e jusante, para o
acionamento de turbinas hidráulicas.
Segundo Cruz (1996) as décadas de 60 e 70 permitiram registar um aumento equitativo de barragens/obras
hidrelétricas, permitindo ao Brasil o seu desenvolvimento em diferentes setores.
A construção de uma barragem ligada a uma usina hidrelétrica nos permite entender melhor esse
desenvolvimento, pois ela poderá assumir três finalidades, a saber: a concentração do desnível de um rio para
produzir uma queda, a criação de um grande reservatório capaz regularizar o deflúvio, e simplesmente o
levantamento do nível d’água para possibilitar a entrada num canal, num túnel ou numa tubulação que a
aduza para a casa de força.
Uma barragem pode ser construída para atender a mais de uma finalidade, simultaneamente, ou seja, pode
apresentar usos múltiplos, isto é, atender diversos fins, como por exemplo: a navegação, o controle de cheias, a
irrigação, etc.
Na construção de uma barragem em geral duas situações se fazem bem distintas, a primeira corresponde ao
cenário que junto a uma barragem construída para criar condições de calado para a navegação, muitas vezes,
constrói-se uma usina hidrelétrica para se aproveitar queda criada pela barragem, a segunda indica a
ocorrência do cenário contrário, isto é, ao lado de uma barragem erguida para um aproveitamento hidrelétrico
pode ser construída uma eclusa para navegação (SCHREIBER, 1978).
A década de 80 assistiu a redução dos investimentos em usinas hidrelétricas, e os reflexos devastadores dessa
medida, se fazem repercutir nos dias atuais sobre a forma da crise energética e consequentemente no abalo
pelas raízes de uma das dez primeiras economias mundiais.
1
JUSTIFICATIVA
As barragens durante muito tempo foram utilizadas para irrigação, para controlar o rio, para pescar e para a
dessedentação dos humanos e dos animais. Diante da necessidade de energia e progresso, a humanidade
descobriu há quase dois séculos, a possibilidade de gerar energia elétrica através da construção de barramentos
que começaram a surgir em beira de despenhadeiros, ao lado de cachoeiras, corredeiras e cânions. Muitos rios
acabaram se transformando numa sucessão de lagos.
O aproveitamento dos cursos d’água deu certo, e atualmente o Brasil conta com um dos maiores parques
hidrelétrico de todo o mundo, dispondo de um potencial hidrelétrico de 150 milhões de quilowatts. Segundo
Schreiber (1978) nas regiões centro-sul e sul, com base em estudos energéticos, verificou-se o potencial de 80
milhões de quilowatts e avaliaram-se outros 70 milhões de quilowatts. Segundo Tundisi (2003) o Brasil é
responsável por 10% da produção hidrelétrica mundial, utilizando somente 35% de seu potencial hidrelétrico.
De acordo com Miranda (2004) a potência total instalada no país é da ordem de 65.000 MW, o que representa
79% de toda energia elétrica produzida no Brasil, e ainda existe um grande potencial hidrelétrico não
explorado na Amazônia, principalmente no Rio Xingu.
As usinas hidrelétricas permitem o levantamento do nível d’água, possibilitando a entrada d’água num canal,
num túnel ou numa tubulação que a aduza à casa de forças (SCHREIBER, 1978), de modo a permitir o uso da
energia hidrelétrica, indispensável à vida social e econômica do Brasil. Os primeiros estudos apresentados, não
permitiram identificar em situações especificas as necessidades de manutenção, conservação e preservação das
bacias hidrográficas na qual se constrói os barramentos, que deram origem aos reservatórios e as usinas
hidrelétricas. Entendida atualmente como um empreendimento de extrema relevância econômica, as usinas
hidrelétricas têm merecido especial atenção do mundo científico acadêmico, pois a ocorrência do
assoreamento dos reservatórios além de dar origem a alguns impactos ambientais, também compromete
significativamente a vida útil desse empreendimento.
A ausência dessas necessidades permitiu o assoreamento de muitos reservatórios de usinas hidrelétricas,
sobretudo nas regiões sudeste, nordeste e centro-oeste, resultado de uma erosão, que segundo Miranda (2004)
é filha bastarda do desmatamento e do uso irracional das terras, baixando os “tirantes” dos reservatórios a
níveis alarmantes.
Ao se dar início ao um estudo de viabilidade de um empreendimento, tem-se que levar em conta diversos
fatores, dentre eles, os ligados ao meio ambiente.
HIDROELETRICIDADE, UMA NECESSIDADE SOCIAL E ECONÔMICA
À medida que melhora a qualidade de vida das pessoas, aumenta o consumo de água, pois se tem hábitos de
higiene mais intensos, maior número de eletrodomésticos (máquinas de lavar roupa, pratos, etc.) e,
consequentemente o aumento do consumo de energia elétrica.
Esse aumento no consumo de água e de energia elétrica justifica o crescente aumento do número de usinas
hidrelétricas no Brasil.
No quesito eletricidade, de acordo com Hinrichs e Kleinbach (2003), o Brasil possui um potencial de geração
semelhante à posição de países como a Arábia Saudita e o Iraque, em relação ao petróleo, porém com a
vantagem de mais de 90% da capacidade de geração de energia ser baseada em dois elementos gratuitos, isto é
a água e a força da gravidade.
A tabela 1 permite identificar em síntese a capacidade brasileira de geração de energia por tipo de unidade
geradora.
2
Tabela 1 – Tipos de unidade geradora X Capacidade instalada até 31/12/2012
Tipo
Central Geradora
Hidroelétrica (CGH)
Central Geradora
Eolielétrica (EOL)
Pequena Central
Hidroelétrica (PCH)
Central Geradora Solar
Fotovoltaica (SOL)
Usina Hidrelétrica de
Energia (UHE)
Usina Termelétrica de
Energia (UTE)
Usina Termonuclear
(UTN)
Total
Quantidade
407
Potência (kW)
239.855
%
0,20
84
1.886.382
1,51
452
4.301.753
3,52
11
7.578
0,01
205
79.752.660
65,96
1.648
32.909.108
27,15
2
2.007.00
1,66
2.809
121.104.336,00
100,00
Fonte: Marcato (2008)
O Brasil possui um total de 2.766 empreendimentos em operação, ver tabela 2, gerando 122.315.039 kW de
potência. Está previsto para os próximos anos uma adição de 42.989.002 kW na capacidade de geração do
país, proveniente dos 164 empreendimentos atualmente em construção e mais 543 outorgadas.
Tabela 2 – Empreendimentos em Operação e Construção
Tipo
Quantidade
Central Geradora
Hidroelétrica
(CGH)
Central Geradora
Eolielétrica (EOL)
Pequena Central
Hidroelétrica (PCH)
Central Geradora
Solar
Fotovoltaica (SOL)
Usina Hidrelétrica
de Energia (UHE)
Usina Termelétrica
de Energia (UTE)
Usina Termonuclear
(UTN)
Total
Em Construção
Quantidade
Potência
Outorgada
(kW)
Potência
Outorgada
(kW)
Potência
Fiscalizada
(kW)
%
401
239.707
238.077
0,19
1
848
0
86
1.888.534
1.888.538
1,54
79
1.950.296
7,76
436
4.305.297
4.258.968
3,48
47
552.459
2,20
11
11.578
7.578
0,01
-
-
-
204
82.486.844
79.910.808
65,33
11
18.370.400
73,13
1.626
35.895.090
34.004.070
27,8
25
2.896.690
11,53
2
1.990.000
2.007.000
1,64
1
1.350.000
5,37
2.766
126.817.050
122.315.039
100,00
164
25.120.693
100,00
%
Fonte: Marcato (2008)
3
O Brasil, dentro do planeta, segundo Sperling (1999), teve a sua primeira usina hidrelétrica em operação no
ano de 1883, construída no município de Diamantina, Minas Gerais, e denominada de Ribeirão do Inferno. Em
1889, ano da Proclamação da República, entrou em funcionamento a primeira usina hidrelétrica brasileira,
pertencente ao serviço público, implantada no Rio Paraibuna, município de Juiz de Fora, Minas Gerais,
recebendo a denominação de Marmelos. Ainda na época do império foi iniciada na região nordeste a
construção de diversas barragens, denominadas especificamente de Açudes, com o objetivo primordial de
armazenamento de água para combate a seca.
Segundo Müller (1995), a história das grandes barragens brasileiras é relativamente recente, podendo ser
dividida nos seguintes períodos:





Até 1950, só havia no Brasil 67 barragens, das quais 31 atendiam à regularização de vazão e
abastecimento de água do nordeste, 26 para geração de energia e 10 para outras finalidades;
A década de 1950 registrou um aumento equitativo do número de empreendimentos entre o setor
elétrico e os demais, com 21 barragens para fins energéticos e de 22 para usos do Departamento
Nacional de Obras Contra Secas – DNOCS;
Entre 1960 e 1980, mais 66 barragens hidrelétricas foram levantadas, enquanto que para outros usos
se registravam 101 empreendimentos. A partir de 1963, com a construção da Usina de Furnas, as
barragens brasileiras ultrapassaram a marca dos 100 m de altura, da fundação à crista. Poucas outras
represas possuem alturas superiores a 100m;
Em 1990, do total de 343 aproveitamentos hidráulicos cadastrados pelo Comitê Brasileiro das
Grandes Obras – CBGB, 124 destinavam-se à geração hidrelétrica, 04 à navegação, 72 ao
abastecimento de água, 37 à irrigação, 02 à piscicultura, 76 à regularização, 12 ao controle de cheias e
mais barragens destinadas aos usos diversos como a proteção ambiental;
Atualmente a região hidrográfica do Paraná é a maior geradora de energia hidrelétrica do país,
correspondendo a 59,3% da produção nacional. São 176 usinas, com destaque para Itaipu.
A década de 1990 é o marco na redução dos investimentos para a construção de enormes usinas hidrelétricas;
aliados à preocupação ambiental decorrente do alagamento de grandes áreas, existem ainda projetos de
implantação de várias usinas de grande porte, notadamente nas regiões Norte e Centro-Oeste, segundo
Sperling (1999). Apesar disso, não é mais possível construir grandes hidrelétricas, apenas pequenas centrais
hidrelétricas, incentivadas por linha de crédito do governo federal. Os agentes financeiros internacionais
aumentaram suas exigências antes de financiar a construção de hidrelétricas; além disso, em todas as bacias, o
uso de água para gerar eletricidade compete com a irrigação da agricultura e o abastecimento da população. A
captação necessita ser controlada para atender a todos os setores.
REJEIÇÃO AOS GRANDES RESERVATÓRIOS DAS USINAS HIDRELÉTRICAS
A rejeição às grandes barragens é produto de um histórico de erros no setor. Como exemplos podem ser
citados:

A Usina Hidrelétrica de Tucuruí, ver figura 1, onde a floresta submersa, ao se deteriorar pelo
alagamento passou a liberar substâncias tóxicas, que além de corroer as turbinas, também, passou a:
produzir metano e gerar condições para a ocorrência da metalização do mercúrio; a decomposição da
vegetação provocou, ainda, a emissão de gás carbônico, que juntamente com o metano, cria um
impacto significativo, contribuindo para o agravamento do efeito estufa; a presença de mosquitos do
gênero Anopheles, vetor principal da malária, e uma praga de mosquitos da espécie Mansonia,
bastante resistente e capazes de darem até 600 picadas por hora, transmissores da elefantíase,
tornando a vida intolerável nas áreas onde se encontram, provocando a mudança dos residentes na
região;

A Usina Hidrelétrica de Balbina, ver figura 2, erguida nos anos 80 no Rio Uatumã, no Amazonas; a
barragem que inundou 2360 km2 (mais de quatro vezes Belo Monte) deu origem a inúmeros impactos
ambientais, entre eles: inundação de uma extensa área de floresta nativa; o reservatório da usina
hidrelétrica alterou a composição química d´água e consequentemente sua acidez, e até recentemente
as turbinas apresentavam problemas de corrosão e depósito de material orgânico; interrupção do ciclo
biológico de várias espécies de fauna e flora (Silva, 2005).
4
Figura 1 - Usina Hidrelétrica de
Figura 2 – Usina Hidrelétrica de Balbina – Formação do
Tucuruí: Visão parcial do reservatório. reservatório com inundação de uma área de floresta.
Fonte: Arquivo próprio.
Fonte: Arquivo próprio.
O problema apresentado, em grande parte, tem sua culpa atribuída aos planejadores do passado, que não
apresentavam percepção ambiental. As gerações futuras receberam uma herança de práticas infelizes e
contraproducentes, que agora assombram os sonhos onde habitam a perspectiva de futuros projetos hídricos.
A seguir apresenta-se a tabela 3, com referência aos grandes reservatórios de usinas hidrelétricas. A maioria
dos ambientes lênticos brasileiros é constituída por represas.
Tabela 3 – Usinas Hidrelétricas X Área dos Reservatórios
Usinas Hidrelétricas
Sobradinho
Tucuruí
Balbina
Porto Primavera
Serra da Mesa
Itaipu
Furnas
Ilha Solteira
Três Marias
Peixe
Itaparica
Três Irmãos
Itumbiará
São Simão
Água Vermelha
Promissão
Samuel
Capivara
Emborcação
Jurumirim
Nova Ponte
Marimbondo
Xavantes
Manso
Boa Esperança
Orós
Jupiá
Barra Bonita
Paraitinga
Paraibuna
Peixotos
Passo Real
Volta Grande
Estado
BA
PA
AM
SP/MS
GO/TO
PR
MG
SP/MS
MG
GO
BA/PE
SP/MS
MG/GO
MG/GO
MG/SP
SP
RO
SP/PR
MG/GO
SP
MG
MG/SP
SP
MT
PI/MA
CE
SP/MS
SP
SP
SP
MG/SP
RS
MG/SP
Área (km2)
4214
2430
2360
2140
1784
1350
1340
1260
1142
940
834
817
760
722
642
605
560
513
455
446
440
438
400
387
352
350
335
334
255
254
250
226
222
Tipo
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
5
Rosana
Nova Avanhandava
Salto Santiago
A. R. Gonçalves
Pedra do Cavalo
Piratininga
Passo Fundo
Itá
Porto Colômbia
Foz da Areia
Billings
Ibitinga
Fonte: Sperling (1999)
SP/PR
SP
PR
RN
BA
SP
RS
SC
MG/SP
PR
SP
SP
218
217
208
195
186
177
151
141
140
139
127
122
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
IMPACTOS AMBIENTAIS DOS RESERVATÓRIOS – USINAS HIDRELÉTRICAS
O projeto de uma usina hidrelétrica compreende diversas fases, mas o estudo preliminar merece relevante
destaque, pois se constitui na estrutura para o desenvolvimento das demais fases. O desenvolvimento desse
estudo abrange vários ramos da engenharia, a saber: hidrologia, hidráulica, geologia aplicada, mecânica dos
solos e das rochas, estática, mecânica, eletricidade, etc. e, a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972,
ocorreu à valorização das ciências ambientais, tendo por origem os alertas do mundo científico acadêmico,
tendo-se como resultado a necessidade da formação de equipes multidisciplinares para o desenvolvimento do
estudo de uma usina hidrelétrica.
A Resolução CONAMA No 01 de 23 de setembro de 1986, no Art. 2 o, identifica como atividade modificadora
do meio ambiente as obras de construção civil, como por exemplo, as usinas hidrelétricas. A partir dessa
resolução o estudo preliminar de uma usina hidrelétrica será tão mais completo quanto maior o número de
atendimento de viabilidades: técnica, econômica, financeira, social, jurídica, política e ambiental, também
entendidas como sustentabilidades ou dimensões. Em países da Europa, as sustentabilidades são entendidas
como domínios de estudos compostos por: ecologia e ambiente, economia, direito, saúde, sócio-cultura e
relações internacionais.
Segundo Tundisi (2003), o reservatório oriundo do barramento do curso d’água, representa uma das grandes
alterações do ciclo hidrológico e de impactos ambientais nas diferentes porções do meio ambiente, quanto ao
tipo: Positivo (Benéfico) e Negativo (Adverso), a saber:
A. Impacto Ambiental – Quanto ao Tipo: Positivo (Benéfico)
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
Produção de energia – hidroeletricidade;
Criação de purificadores de água com baixa energia;
Retenção de água no local;
Fonte de água potável e para sistemas de abastecimento;
Representativa diversidade biológica;
Maior prosperidade para setores das populações locais;
Criação de oportunidades de recreação e turismo;
Proteção contra cheias das áreas a jusante;
Aumento das possibilidades de pesca;
Armazenamento de água para períodos de seca;
Navegação;
Aumento do potencial para irrigação;
Geração de empregos;
Promoção de novas alternativas econômicas regionais;
Controle de enchentes;
Aumento de produção de peixes por aquacultura.
B. Impacto Ambiental – Quanto ao Tipo: Negativo (Adverso)
1.
2.
3.
4.
Deslocamento das populações;
Emigração humana excessiva;
Deterioração das condições da população original;
Problemas de saúde pela propagação de doenças hidricamente transmissíveis;
6
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
Perda de espécies nativas de peixes de rios;
Perda de terras férteis e de madeira;
Perda de várzeas e ecótonos terra/água – estruturas naturais úteis. Perda de terrenos alagáveis e alterações
em habitats de animais;
Perda de biodiversidade (espécies únicas); deslocamento de animais selvagens;
Perda de terras agrícolas cultivadas por gerações, como arrozais;
Excessiva imigração humana para a região do reservatório, com os consequentes problemas sociais,
econômicos e de saúde;
Necessidade de compensação pela perda de terras agrícolas, locais de pesca e habitações, bem como
peixes, atividades de lazer e de subsistência;
Degradação da qualidade hídrica local;
Redução das vazões a jusante do reservatório e aumento em suas variações;
Redução da temperatura e do material em suspensão nas vazões liberadas para jusante;
Redução do oxigênio no fundo e nas vazões liberadas (zero em alguns casos);
Aumento do H2S e do CO2 no fundo e nas vazões liberadas;
Barreira à migração de peixes;
Perda de valiosos recursos hídricos e culturais;
Perda de valores estéticos;
Perda da biodiversidade terrestre em represas da Amazônia;
Aumento da emissão de gases do efeito estufa, principalmente em represas em que a floresta nativa não
foi desmatada.
Segundo Silva et al. (2005), os impactos ambientais do reservatório, compreendem:
A. Impacto sobre a sociedade
1.
2.
3.
Desativação da atividade agrícola;
Diminuição de empregos;
Aumento do valor da terra.
B. Impacto sobre a infraestrutura rural e urbana
1.
2.
3.
Rodovias;
Serviços;
Infraestrutura urbana.
C. Impacto sociocultural
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Diminuição do número de empregos;
Aumento de endemias;
Inundação de povoados;
Inundação de áreas de lazer;
Impactos sobre a paisagem;
Cultural.
D. Impacto sobre o meio físico
1.
2.
3.
4.
Sismicidade;
Erosão;
Deslizamento;
Microclima.
E. Impacto no meio biológico
1.
2.
3.
4.
5.
Perda do ecossistema (inundação, perda da floresta, etc.)
Alterações na qualidade d’água;
Plantas aquáticas;
Novos ambientes aquáticos;
Pesca.
TURBINAS TIPO BULBO - TECNOLOGIA SUSTENTÁVEL
7
Basicamente trata-se de uma unidade geradora composta de uma turbina Kaplan de eixo horizontal acoplada a
um gerador, também horizontal, envolto por uma cápsula metálica (bulbo), ver figuras 3 e 4. A cápsula por sua
vez fica imersa no fluxo d'água, isto acarreta um equipamento que exige uma vedação mais minuciosa, o que
implica num espaço menor para o acesso de manutenção. Opera em quedas abaixo de 20 m. Essas turbinas
possibilitam a exploração do potencial hidríco da Amazônia, com menores impactos ambientais, por permitir o
aproveitamento de baixas quedas e altas vazões. Como o fluxo é axial, ou seja, paralelo ao eixo, as passagens
hidráulicas das unidades bulbo são mais simples. Foram inventadas na década de 30. As primeiras foram
construídas pela empresa Escher Wyss em 1936. A maior unidade tipo Bulbo construída encontra-se no Japão,
na usina de Tadami, que possui 65,8 MW de potência, queda de 19,8 m e rotor com diâmetro de 6,70 m. No
Brasil o planejamento da construção das Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau indicam no projeto de
cada usina a instalação de 44 turbinas do tipo Bulbo com potência unitária igual a 73 MW e 75 MW,
respectivamente. As turbinas tipo Bulbo a serem instaladas nestas usinas serão as maiores do mundo (Silva,
2011).
Figura 3 – Esquema de uma turbina tipo Bulbo Usina Hidrelétrica de Santo Antônio.
Fonte: Arquivo próprio.
Figura 4 – Vista das pás de uma turbina tipo bulbo
Usina Hidrelétrica de Santo Antônio.
Fonte: Arquivo próprio.
IMPACTOS DE USINAS HIDRELÉTRICAS: PÓS-IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO
Os estudos apresentados por Tundisi (2003) e Silva et al (2005) referem-se basicamente a um cenário que
corresponde aos impactos ambientais oriundos da construção de reservatórios de usinas hidrelétricas.
Tem-se creditado às usinas hidrelétricas a produção de alterações desfavoráveis ao meio ambiente, em
especifico as suas porções físicas. Como impactos ambientais desfavoráveis podem ser citados:




A transformação dos desapropriados em indivíduos sem terra ou indigentes urbanos, em virtude da
inapropriada compensação, que se configura através da transferência de residência;
A inundação de hectares de terra, causando o afogamento de inúmeras espécies de fauna e flora;
A transformação dos rios em reservatórios de águas estagnadas e poluídas;
Fontes de diversas doenças de veiculação hidríca.
O presente estudo apresenta um novo cenário, no qual se faz destacar os impactos ambientais da bacia
hidrográfica no reservatório de uma usina hidrelétrica.
8

Percepção da Bacia Hidrográfica
O meio ambiente que constitui a bacia hidrográfica, ver figura 5, de um rio é composto por duas porções, uma
biogeofísica e outra sócio-econômico-cultural, embora o homem seja parte destas porções, normalmente,
coloca-se como se não o fosse e continuamente tenta mantê-las sobre seu domínio.
Figura 5 – Usina Hidrelétrica de Santo Antônio – Percepção do empreendimento na bacia hidrográfica.
Fonte: http://www.google.com.br
O uso do solo pelo homem, tem resultado na escassez de terras. Segundo Silva, Schulz e Camargo (2003), essa
escassez vem forçando o homem a adotar dois tipos de atitudes, a saber:


A busca de novas terras que naturalmente são capazes de produzir quantidades suficientes de alimentos de
modo a manter o sustento humano;
Emprego de tecnologias que permitam a produção de matéria-prima - alimentos e utensílios (fibra, couro,
madeira, etc.) para a manutenção da sua vida e, de modo a gerar possibilidades que permitam o
atendimento das suas atividades, favorecendo, assim, a sua permanência em um mesmo local.
O uso do solo bom ou mal, ver figura 6, está intimamente ligado ao avanço da tecnologia gerada pelo homem
(Vink, 1975). Os recursos naturais apresentados na bacia hidrográfica são finitos e, o entendimento das suas
limitações dentro do domínio econômico (juros altos, prazos curtos, financiamentos viciosos, arrendamentos
por períodos breves, maus salários), dentro do domínio físico (solos, topografia, precipitações, estiagens e
ventos) e, dentro do domínio social (estado de educação do lavrador, relações entre o homem e a terra,
densidade demográfica, uso e posse da terra) são parâmetros que nos permitem identificar o bom ou mau uso
dos recursos naturais.
De acordo com Figueiredo (1994), existem outros parâmetros que são apontados como possíveis causas do
mau uso e consequente desgaste do recurso solo, a saber:
1. Má distribuição de rendas: a elevada concentração de rendas de uma reduzida parcela da população é a
causa mais perversa que permite a implantação do ciclo da miséria em uma nação;
2. Crescimento (Explosão) Industrial: o cenário de acelerada industrialização dos centros urbanos, no final da
década de 1950 e início da década de 1960, deu origem a um fluxo migratório intenso em sua direção até o
início da década de 1980, gerando um acréscimo na população dessas cidades sem a contrapartida de
investimentos nos instrumentos urbanos;
3. Planejamento urbano/rural “deturpado”: a falta de integração entre as várias esferas governamentais
associadas a interesses casuísticos e a uma visão distorcida de desenvolvimento das cidades colaborou, por
muitos anos, para a elaboração de inúmeros “Planos Diretores” inexpressivos e desgarrados da realidade;
4. Ocupação desordenada: consequência direta dos itens anteriores, este tópico traduz a omissão histórica do
poder público no sentido de coibir a presença humana, seja aquela referente à habitação ou a indústria, em
encostas, baixadas e várzeas, com o intuito de impedir a formação e proliferação de áreas de risco, bem como
evitar a degradação do meio ambiente;
5. Clandestinidade das favelas: outro erro histórico e sem a perspectiva de correção em curto prazo é o fato das
favelas serem consideradas, isto é, não serem enfocadas como existentes, de fato e de direito, pelos órgãos
públicos e pela sociedade em geral. Assim, todos os cadastros e registros são aproximados, não havendo uma
sistemática adequada para tratar a questão;
9
6. Legislação: pode-se afirmar que algumas leis sobre o assunto, tanto do ponto de vista jurídico como do
técnico (diretrizes para ocupação, execução de obras de terra, fiscalização, penalidades, multas, entre outras), a
legislação específica tem se mostrado ineficaz e anacrônica para enfrentar com determinação e em sua
totalidade tão grave problema.
Figura 6 – Usina Hidrelétrica de Santo Antônio – Percepção da bacia hidrográfica com a identificação
de alterações.
Fonte: http://www.google.com.br
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os prejuízos ambientais e sociais podem ser evitados com programas de mitigação, que compreendem:
relocação de infraestrutura, relocação de propriedades e povoados, mitigação da previsão sobre o mercado de
trabalho, riscos à saúde, atividade mineraria, desmatamento, recuperação do canteiro de obras, recuperação de
ecossistemas, manejo da fauna: terrestre (mamíferos) e aquáticos (peixes), manejo das bacias hidrográficas:
uso desordenado das bacias, assoreamento, atividades agrícolas, etc., conservação da emergia; e medidas
compensatórias, que compreendem: implantação de áreas de conservação, projetos de desenvolvimento
sustentável e programas decentes de benefícios para a população afetada.
O conceito de sustentabilidade se faz verificar principalmente quando se estuda a relação área alagada e
potência, ver tabela 4, considerando-se que a principal matriz de energia elétrica é função da quantidade de
água armazenada, nos reservatórios das usinas hidrelétricas, e a utilização da tecnologia de turbinas tipo bulbo
que possibilitam a exploração do potencial hídrico, principalmente na Amazônia, com menores impactos
ambientais, por permitir o aproveitamento de baixas quedas e altas vazões, nos faz repensar a viabilidade de
projetos de usinas hidrelétricas sem reservatórios.
O maior impacto de uma usina hidrelétrica independe do tamanho do reservatório, ele vem do desmatamento e
dos conflitos gerados pela chegada de milhares de pessoas atraídas pelas obras. O polo de devastação ilegal é o
entorno das obras da usina hidrelétrica.
Tabela 4 – Área alagada, potência firme e fator de capacidade das maiores usinas hidrelétricas conectadas ao
Sistema Interligado Nacional Brasileiro (SIN)
Usina
Hidrelétrica de
Energia
(UHE)
Sobradinho
Três Marias
Tucuruí I e II
Porto Primavera
Balbina
Serra da Mesa
Furnas
Itaipu
Área Alagada
km2
Potência MW
4.380,8
4.059,0
3.014,2
2.977,0
2.360,0
1.254,1
1.406,3
1.350,0
1.050,3
1.980
8.370
1.540
250
1.275
1.216
14.000
Relação entre
km2/MW
Potência
Firme
MW
f.c.%
4,17
2,05
0,36
1,93
9,44
0,98
1,16
0,10
531
4.140
1.017
671
598
11.620
51
49
66
53
49
83
(Brasil e Paraguai)
10
Ilha Solteira
Luiz Gonzaga
(Itaparica)
Itumbiara
São Simão
Água Vermelha
(José Ermírio de Moraes)
Belo Monte
Marimbondo
Embarcação
Jupiá
1.357,6
3.444
0,39
1.949
57
839,4
749,1
716,2
1.479,6
2.082,0
1.710,0
0,57
0,36
0,42
959
1.015
1.281
65
49
75
673,6
516,0
452,4
403,9
321,7
1.396,2
11.200,0
1.440,0
1.192,0
1.551,2
0,48
0,046
0,31
0,34
0,21
746
4.600
726
497
886
53
41
50
42
57
271,0
258,0
3.150,0
3.300,0
0,086
0,078
2.200
2.184
70
66
(Eng. Souza Dias)
Santo Antônio
Jirau
Fonte: Marcato (2008)
CONCLUSÃO
O plano decenal da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão do Ministério de Minas e Energia, que
planeja a expansão do sistema, indica que das 47 novas usinas hidrelétrica (Rio Madeira: Jirau, Santo Antônio;
Rio Ji-Paraná: Tabajara; Rio Comemoração: Rondon II; Rio Aripuanã: Dardanelos; Rio Jari: Santo Antônio
do Jari; Rio Araguaia: Cachoeira Caldeirão, Ferreira Gomes; Rio Xingu: Belo Monte; Rio Tapajós: São Luiz
do Tapajós, Jatobá, Chacorão; Rio Jamanxin: Cachoeira do Caí, Jamanxim, Jarim Ouro; Rio Juruena: São
Simão Alto, Salto Augusto Baixo, Cachoeirão, Juruema; Rio Teles Pires: São Manoel, Teles Pires, Colider,
Sinop, Magessi. Rio Tocantins: Marabá, Serra Quebrada, Estreito, Tupiratins, Tocantins (Ipueiras), Porteiras,
Maranhão Baixo; Rio Tocantinzinho: Mirador; Rio Paranã: Paranã, São Domingos; Rio do Sono: Novo
Acordo, Brejão; Rio Perdida: Perdida; Rio Araguaia: Araguanã, Torixoréu, Diamantino, Couto Magalhães;
Rio das Mortes: Toricoejo, Água Limpa) na região norte, onde se encontra o maior potencial inexplorado do
Brasil, e desse total, 30 usinas hidrelétricas não terão barragens.
O resultado disso é a perda/redução na capacidade de armazenar/gerar energia. O cenário que se descortina
para uma nação que até 2015 será a 5ª Potência Econômica do planeta não é dos mais promissores, pois nos
anos 70 a água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas assegurava mais de 20 meses de energia,
mesmo sem uma gota de chuva; no presente o armazenamento aguenta cerca de 5 meses, e a previsão para o
futuro, isto é, 2019 é de apenas 3,5 meses.
RECOMENDAÇÕES
Torna-se relevante destacar no encerramento desse trabalho que apenas 50% da Amazônia foi prospectada
geologicamente. Até o momento, pelo que se tem conhecimento, somos a sexta maior reserva de urânio do
planeta. No caso da hidroeletricidade estamos aproveitando somente 1/3 dos 260 mil MW, estimados no país.
A hidroeletricidade é a fonte que apresenta maior eficiência a conversão da energia (potencial) d’ água em
eletricidade, sendo superior a 90%. Na outras fontes, a que avança mais, chega a pouco mais de 40%, as
turbinas a gás. As usinas térmicas também se incluem nesse leque, porém apresentam limitações, poluem.
A decisão de se construir novas usinas hidrelétricas com pequenos reservatórios, ou até mesmo sem
reservatório, necessita ser repensada, pois a projeção econômica e tecnológica da nação está diretamente
vinculada a sua quantidade de energia armazenada.
Não se pode com olhos do presente, olhar para o passado e identificar, com critérios do presente, erros na
construção de hidrelétricas do século XX, de modo a impedir no futuro, século XXI, a construção de usinas
hidrelétricas com reservatórios. A ausência de reservatórios em usinas hidrelétricas constitui-se numa
promissória em branco, a ser paga no futuro.
Somente o envolvimento de engenheiros pesquisadores com a produção de conhecimentos, em obras do tipo
usinas hidrelétricas com reservatórios, nos afastará do enorme atraso que se descortina.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Revista: Revista Engenharia
Publicado: março 2014
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Usinas Hidrelétricas do século XXI