Página 4 São Paulo, sábado a segunda-feira, 19 a 21 de dezembro de 2015 Política www.netjen.com.br governo federal quer aprovar no Congresso Nacional um conjunto de normas bem próximo ao pensamento bolivariano de alguns regimes de viés autoritário na América Latina. Se conseguir, será um golpe às nossas instituições democráticas. Pretende a administração federal que seus burocratas substituam a Justiça e conduzam as execuções fiscais com métodos como penhorar bens sem ordem judicial, permitir à Fazenda acesso a dados e patrimônio de devedores, reter valores e indispor bens particulares. Ao elevar seus cobradores à condição de vice-reis do fisco, o governo rebaixa o Judiciário em evidente atentado ao Estado Democrático de Direito, como denunciam a OAB, Associação Comercial de São Paulo, CNI, Fecomércio-SP, SESCON-SP, e integrantes do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor. A proposta está no Congresso desde 2009. A intenção inicial, dentro do Segundo Pacto Republicano do governo Lula, era “modernizar a prestação jurisdicional”. Na verdade, pretende reinstituir a figura dos coletores de impostos. A ideia do governo era terceirizar a cobrança a instituições financeiras. Mas diante da resistência o Palácio do Planalto alterou os planos. O governo Dilma, por meio da Advocacia Geral da União, encampou a ideia de conceder à Procuradoria Geral da Fazenda plenos poderes sobre a dívida ativa, de R$ 1,42 trilhão - 40% em impostos atrasados e 60% de multas aplicadas pelo atraso. Ao defender o projeto no Congresso, o advogado Geral da União, Luiz Adams, disse ter negociado com a OAB, mas a entidade nega. Primeiro, o governo manda projetos paralelos ao Congresso e tenta um pedido de urgência. Se aprovado, fica isento da Comissão de Constituição e Justiça, que provavelmente o vetaria. Assim, basta aprovação em plenário com ajuda da base O aliada. Além disso, a Justiça se omite diante da obrigação de mediar conflitos. Batizado de Quarto Pacto Republicano, a proposta do governo está diluída nos PLs 2412/2007, 469/2009, 5080/2009, 5081/2009 e 5082/2009. O ataque às normas começa com o PL 469, apresentado pela Advocacia Geral da União alterando o Código Tributário Nacional para atribuir responsabilidade patrimonial aos gestores pelas dívidas de pessoas jurídicas. A OAB foi contra. O conjunto de proposições normativas encaminhado pelo Poder Executivo configura medidas abusivas e inconstitucionais ao Estado Democrático de Direito. Para o SESCON-SP, a OAB e entidades que defendem a livre iniciativa, a proposta do Executivo choca porque pretende transferir, sem a intermediação salutar e constitucional determinada ao Poder Judiciário e sem o devido processo legal, patrimônio jurídico de particulares e da Fazenda Pública. No conjunto de absurdos, o PLP 469/2009 simplesmente inverte a presunção de inocência consagrada no Artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal, criando a necessidade de provar a boa-fé, que a própria Constituição já presume. Em suma, Fazenda e Advocacia Geral da União querem impor um conjunto de arbitrariedades: • criar sistema de investigação patrimonial com acesso a dados financeiros e patrimoniais dos cidadãos; • autorizar que as constrições sejam por Oficiais da Fazenda Pública, sem interferência do Poder Judiciário; • equiparar a fé pública dos Oficiais de Justiça à dos novos Oficiais da Fazenda Pública; • determinar que o Poder Judiciário autorize aos Oficiais de Fazenda Pública poderes de arrombamento; • sujeitar as medidas apenas a um posterior crivo do Poder Judiciário. (*) - É presidente do SESCONSP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo). Professor poderá vir a lecionar em mais de um turno Ag.Câmara Coutinho: O deslocamento para outro estabelecimento de ensino tem afetado a qualidade de vida destes profissionais. A Comissão de Trabalho da Câmara aprovou proposta que permite aos professores lecionarem por mais de um turno em um mesmo estabelecimento, desde que não ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente. Pelo texto, não será computado o intervalo de uma hora para refeição. Atualmente, de acordo com a CLT, os professores não podem dar, por dia, mais de quatro aulas consecutivas, nem mais de seis intercaladas. O assunto está no projeto do deputado Otavio Leite (PSDBRJ). O relator na comissão, deputado Augusto Coutinho (SD-PE), argumentou que atualmente, dado o elevado custo de vida, muitos professores acabam assumindo várias res- ponsabilidades, tendo muitas vezes que se deslocar a outro estabelecimento de ensino para lecionar. “Esse deslocamento tem afetado a qualidade de vida destes profissionais que exercem a profissão mais digna do mundo”, disse. O relator, no entanto, propôs um substitutivo para melhorar a redação do projeto original – para deixar clara a exclusão do recreio como tempo de serviço. “Muito embora não seja esta a intenção, se for mantida, trará considerável prejuízo, tanto para o contrato de trabalho dos professores, como para o processo de aprendizagem”, explicou. O projeto será ainda analisado em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça (Ag.Câmara). Depois da decisão do STF, que invalidou a eleição da chapa avulsa formada por deputados de oposição ao governo, o presidente da Casa, Eduardo Cunha, convocou os líderes partidários para uma reunião nesta segunda-feira ssessores não descartam que Cunha já tenha iniciado algumas conversas, mas afirmam que nada será definido antes da reunião de líderes. Um dos acertos entre as lideranças será a lista de deputados indicados para compor a comissão especial que vai analisar o processo. Nos últimos dias, foi esta composição das listas que motivou um racha no PMDB na Câmara. Insatisfeitos com os nomes apresentados pelo líder, Leonardo Picciani (RJ), para a comissão, uma ala do partido reuniu as assinaturas necessárias para tirar o parlamentar do cargo e conseguiu manter na liderança, durante oito dias, o deputado Leonar- A Empresa de advocacia composta por sócio único As empresas de advocacia poderão ser compostas por um único sócio. A proposta que modifica o Estatuto da Advocacia foi aprovada no Senado e seguiu para sanção presidencial. O projeto cria a “sociedade unipessoal de advocacia”. O Estatuto do Advogado, atualmente, prevê apenas a possibilidade de sociedade com pelo menos dois advogados. Não há autorização para o registro de sociedades individuais aos profissionais que atuam como pessoas físicas. O projeto estabelece que a sociedade unipessoal terá os mesmos benefícios e tratamento jurídico das empresas compostas por vários advogados. Além disso, nenhum profissional de advocacia poderá fazer parte de mais de uma sociedade, formar mais de uma sociedade unipessoal de advocacia, ou integrar, simultaneamente, uma sociedade de advogados e uma sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional. Outra exigência prevista no projeto é que a denominação da sociedade unipessoal de advocacia deverá ser obrigatoriamente formada pelo nome do seu titular, completo ou parcial e com a expressão “Sociedade Individual de Advocacia”. Não podem ser registradas as sociedade individuais que apresentem forma ou características de sociedade empresária, que adotem denominação de fantasia, que realizem atividades estranhas à advocacia. Vedadas também as sociedades que incluam como sócio ou titular pessoa não inscrita como advogado ou totalmente proibida de advogar (Ag.Senado). Eduardo Cunha convocou os líderes partidários para uma reunião nesta segunda-feira. do Quintão (MG). Em uma reviravolta na última quinta-feira, Picciani conseguiu o apoio dos 36 deputados do PMDB e foi reconduzido ao cargo. O retorno do parlamentar fl uminense Levy: impeachment tem poucas chances de prosperar A possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff é pequena e não tem chance de prosperar, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em café da manhã com jornalistas. Ele repetiu que a economia reagirá bem, assim que acabarem as incertezas políticas, mas reiterou que são necessárias reformas estruturais e comprometimento com o ajuste fiscal para que o país recupere o crescimento sustentável. “Superando as incertezas políticas, acho que nossa economia vai reagir bem. No momento, a perspectiva de impeachment é pequena. As pessoas não querem mais incertezas. Na medida em que governo puder articular, apontar com clareza o que se espera nos próximos três anos, as incertezas vão diminuir”, afirmou. Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Levy fez uma brincadeira e comparou o apoio da Fiesp ao impeachment de Dilma, ao engajamento da entidade com o modelo do setor elétrico. “Vejo o apoio da Fiesp ao impeachment da mesma forma que o apoio que ela deu às mudanças do setor elétrico em 2012, até teve um papel inspirador [nas mudanças]. É sempre importante ver quem paga o pato depois”, ressaltou. A Fiesp foi uma das grandes apoiadoras ao modelo de subsídios para as empresas de energia, que reduziu os preços em 2013 e 2014. O sistema deixou de vigorar este ano, depois que o Tesouro informou não ter mais dinheiro para bancar a Conta de Desenvolvimento Energético (ABr). Zavascki: decisões sobre Lava Jato serão as mais justas possíveis O ministro do STF, Teori Zavascki, disse que as decisões a serem tomadas com relação à Operação Lava Jato e ao pedido de afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, procurarão ser as mais justas possíveis. “Pode esperar isso: decisões responsáveis, decisões que procurarão ser as mais justas possíveis. Essa é a missão do Supremo”, afirmou aos jornalistas ao responder sobre o que espera das decisões importantes que precisará tomar em 2016. Teori Zavascki é relator dos casos da Lava Jato e também do pedido de afastamento do presidente da Câmara do mandato, feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A análise do pedido será feita apenas em fevereiro. Como o Judiciário entrou em recesso e o pedido tem quase 200 páginas, Site pirata de filmes recebeu verba de publicidade A CPI dos Crimes Cibernéticos ouviu o delegado federal Valdemar Latance Neto, responsável pela Operação Barba Negra, que prendeu os responsáveis pelo site Megafilmes HD, que pirateava filmes e séries de TV. O portal tinha quase 150 mil arquivos e 60 milhões de visitas por mês, 15% delas de outros países, principalmente Portugal e Japão. Era o maior site pirata da América Latina e, pelo caráter internacional, foi investigado pela Polícia Federal na operação deflagrada em novembro. O delegado Latance informou à CPI que um dos administradores do site, preso temporariamente, declarou à polícia ter recebido remuneração de até R$ 80 mil em um mês normal de operação do site: “Ele falou que recebeu verbas de publicidade à liderança foi conseguido depois que três deputados manifestaram mudança de opinião – Jéssica Sales (AC), Vitor Valim (CE) e Lindomar Garçon (RO) – e pelo retorno à bancada de alguns filiados que ocupavam cargos executivos no estado do Rio de Janeiro, entre eles, Marco Antonio Cabral, que era secretário de Estado de Esporte do estado, e Pedro Paulo Carvalho, que era secretário municipal da Casa Civil do Rio de Janeiro. A recondução de Picciani à liderança ainda pode ter desdobramentos. Peemedebistas que criticam a proximidade do líder com o governo afirmam que não são representados pelo parlamentar. O impasse pode respingar na votação da comissão em plenário. Como o STF definiu que as indicações serão feitas por líderes, a lista será submetida a voto, mas, dividido, o PMDB pode reunir forças para não aprovar os nomes do colegiado (ABr). Paulo Giandalia/AE No conjunto de absurdos, o projeto simplesmente inverte a presunção de inocência da empresa UOL e a UOL confirmou que pagou quase meio milhão de reais em publicidade para esse pessoal envolvido na operação Barba Negra”. Latance disse que faltam esclarecimentos a respeito do financiamento dessa atividade. “Quem participou? Se há alguma pessoa que efetivamente participou da negociação ou se era uma forma automática de cadastro no site da UOL para passar a receber dinheiro por essa publicidade. São vários esclarecimentos que estão por vir ainda nesta segunda fase da investigação, cujo sigilo é imprescindível”, explicou. A PF segue investigando o caso. O delegado Latance disse que ainda não é possível afirmar se os financiadores do site sabiam do conteúdo criminoso (Ag.Câmara). Valter Campanato/ABr Sérgio Approbato Machado Júnior (*) Impeachment será discutido em reunião de líderes Arquivo/ABr Golpe baixo chamado Execução Fiscal Ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. não haveria tempo hábil para a análise do relator. Os trabalhos serão retomados no dia 1º de fevereiro. Para o ministro Marco Aurélio Mello, ao ser perguntado sobre o que espera do julgamento do pedido de afastamento de Cunha, respondeu: “Aguardar, porque em fevereiro talvez estejamos apreciando o recebimento ou não da denúncia. É oportunidade ótima para se apreciar também esse pedido do procurador-geral da República” (ABr). Teori autoriza investigação de Negromonte na Lava Jato O ministro Teori Zavascki, do STF, autorizou a abertura de investigação sobre o deputado federal Mário Negromonte Júnior (PP-BA) em um dos inquéritos da Operação Lava Jato que tramitam na Corte. Zavascki atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para ampliar apuração sobre o suposto recebimento de propina por parlamentares do PP. O deputado é filho do ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte, que também é investigado na Lava Jato. De acordo com a PGR, na campanha eleitoral de 2010 para deputado estadual, Mário Negromonte Júnior recebeu doação oficial de R$ 85 mil da empresa Jaraguá Equipamentos Industriais. Segundo a procuradoria, o doleiro Alberto Youssef, condenado por atuar como operador do partido no esquema de desvios da Petrobras, afirmou que as doações oficiais da empresa se tratavam de propina, fato que era de conhecimento dos deputados do partido. Com a abertura da nova investigação, o STF passa a processar 69 investigados na Lava Jato, entre eles 24 deputados federais, 14 senadores, um ministro de Estado e um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Os demais não têm foro por prerrogativa de função, mas são processados pela Corte por ligações diretas com parlamentares. A assessoria do deputado informou que ele vai se pronunciar somente após tomar conhecimento da decisão (ABr).