VIII SOBER Nordeste Novembro de 2013 Parnaíba- PI - Brasil FATORES DETERMINANTES DO ENDIVIDAMENTO DOS ESTADOS BRASILEIROS UMA ANÁLISE DE 2000 A 2010 Adrícia Cabral Ferreira (UFRPE/UAST) - [email protected] Graduanda em Economia UFRPE/UAST Jevuks Matheus de Araujo (UFRPE/UAST) - [email protected] Professor de Economia da UFRPE/UAST Rebeca Gomes Barros (UFRPE/UAST) - [email protected] Estudante de Graduação em Economia UFRPE/UAST Rosilene Ferreira da Cruz Viana (UFRPE/UAST) - [email protected] Estudante de Graduação em Economia UFRPE/UAST Felipe Alves Reis (UFRPE/UAST)Professor de Economia da UFRPE/UAST. VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Fatores determinantes do endividamento dos estados brasileiros uma análise de 2000 a 2010. Determinants of indebtedness of the Brazilian states an analysis from 2000 to 2010. RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar o comportamento dos governos estaduais na gestão de suas receitas e despesas, e sua influência sobre o nível de endividamento dos estados brasileiros no período de 2000 a 2010. Foram realizadas estimações da razão Dívida Consolidada Líquida e Receita Corrente Líquida, do Resultado Primário e do Resultado Nominal em função da Receita Tributária, Transferências Correntes, Despesa com Pessoal e Gastos com Investimentos, identificando a influência dessas variáveis sobre os indicadores de endividamento. Os resultados obtidos mostram que essas variáveis são significativas para explicar o comportamento do endividamento estadual. A técnica econometrica utilizada para as estimações foi a de dados em painel. Para controlar o endividamento estadual expresso pela razão Dívida Consolidada Líquida e à Receita Corrente Líquida será necessário que o governo volte sua atenção para as Transferências Correntes (Constitucionais e Legais) que vão influenciar de forma mais expressiva na redução do nível de endividamento estadual e também atue no controle das despesas com pessoal que tendem a elevar o nível endividamento. Com os resultados estimados, podemos concluir que os estados brasileiros que apresentam a relação DCL/RCL elevada hoje, possivelmente terão no futuro uma relação consideravelmente maior. Daí a importância de um aparato institucional bem formulado para cobrar das administrações maior comprometimento com as finanças públicas. Palavras-chaves: Endividamento Estadual; Dívida Pública; Lei de Responsabilidade Fiscal. ABSTRACT The objective of this work is to analyze the behavior of state governments in managing your income and expenses, and its influence on the level of indebtedness of the Brazilian states in the period 2000-2010. Estimates were made of the ratio Consolidated Net Debt and Net Current Revenue, Income and Net Primary Nominal function of Tax Revenue, Current Transfers, Expenses and Personal Expenses Investments, identifying the impact of these variables on debt ratios. The results show that these variables are significant in explaining the behavior of the state debt. Econometric technique was used for the estimations of the panel data. To control the state debt expressed by the ratio Consolidated Net Debt and Net Current Revenue will require the government to turn his attention to the Current Transfers 1 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / (Constitutional and Legal) that will influence more significantly in reducing the level of debt and the state also acts control personnel expenses that tend to raise the level endividamento.Com the estimated results, we conclude that the Brazilian states that present the relationship DCL / RCL high today, possibly in the future will have a ratio considerably higher. Hence the importance of a well formulated institutional apparatus to collect administrations greater commitment to public finances. Key words: State Debt, Public Debt, Fiscal Responsibility Law. 1. INTRODUÇÃO O Brasil é caracterizado como um país de estrutura federalista1, sendo o seu sistema dividido em governo central e governo subnacional (estados e municípios), em que o primeiro exerce um maior controle sobre os demais. Assim, a adoção do federalismo como forma de organização do país permite que cada nível de governo execute funções que serão mais adequadas a sua estrutura visando à eficiência na oferta de serviços públicos e na arrecadação de tributos, ou seja, com a finalidade de obter uma alocação eficiente das receitas e despesas geradas por entes federados (MENDES, 2004). De acordo com Mendes (2004) é atribuído ao governo subnacional, no caso aos estados, certo grau de autonomia, competências legais e áreas próprias de atuação. Mora e Giambiagi (2005) destacam que a heterogeneidade da Federação brasileira tanto em termos econômicos quanto em termos políticos, geram possíveis conflitos que venha a acentuar o endividamento dos entes da federação. Os trabalhos de Nascimento e Debus (2002) e Piancastelli e Boueri (2008) defendem que para realizar o cálculo da dívida estadual deve-se utilizar como base a Receita Corrente Líquida (RCL), sendo este um parâmetro recomendado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) como indicador do endividamento. O resultado obtido da razão Dívida Consolidada Líquida (DCL) e Receita Corrente Líquida (RCL) permite identificar se os estados estão obedecendo ao limite de endividamento2 estabelecido. Conforme Mello e Slomski (2009, p. 81) “[...] o limite da dívida dos estados não deve ultrapassar duas vezes as suas receitas correntes líquidas”. 1 Em que foi instituída pela Constituição de 1891 de acordo com a organização federativa no Brasil. Ver a respeito na Resolução do Senado Federal nº 40/2001, atendendo a determinação do Art. 30 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que vem tratar das questões referentes à renegociação das dívidas estaduais e de controle fiscal. 2 2 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / A formação da dívida estadual pode ser explicada pelas diversas crises de endividamento que conduziram os estados a processos de renegociação de suas dívidas. Em 1980 foi dado o primeiro passo para a organização das finanças estaduais, com a renegociação da dívida externa brasileira. Houve uma nova demanda de renegociação da dívida dos níveis de governo subnacionais em 1990. Já em 1994, a implantação do plano real piorou a situação financeira dos estados, pois a maior parte das dívidas estaduais permanecia em domínio do setor privado o que levou ao auge do endividamento, como foi abordado nos trabalhos de Silva e Souza (2002), Mora e Giambiagi (2005) e Piancastelli e Boueri (2008). Desta forma, buscou-se através desta pesquisa identificar como a falta de controle sobre as finanças estaduais atua sobre o aumento do endividamento dos estados brasileiros. Diante desse problema o trabalho apresenta como objetivo analisar a influência de variáveis fiscais (Receitas Tributárias, Transferências Correntes, Despesas com Pessoal e Despesas com Investimentos) no comportamento dos indicadores de endividamento dos Estados. Além desta introdução o trabalho apresenta as seguintes seções: na seção 2 apresenta os conceitos de dívida e demais variáveis que vão influenciar o endividamento estadual; na seção 3 apresenta a metodologia e os dados utilizados e na seção 4 serão discutidos os resultados obtidos com a estimação do modelo e por fim na seção 5 apresenta as conclusões do trabalho. 2. ASPECTOS TEÓRICOS 1.1 Dívida Pública Para Blanchard (2011) a dívida pública é formada a partir do acúmulo de déficits orçamentários decorrentes das ações realizadas pelo governo no passado, isto é, as dívidas do governo que provém de cortes de impostos ou aumento nos gastos. A ocorrência de déficits, onde as despesas efetuadas pelos entes superam a sua capacidade de geração de receitas levam ao surgimento das dívidas, logo, “a dívida é uma obrigação de determinada entidade com terceiros, gerada pela diferença entre despesas e receitas dessa entidade”. (SILVA; CARVALHO; MEDEIROS, 2009, p. 102). De acordo com Lopes e Vasconcellos (2011) a restrição orçamentária do governo é utilizada como base para a análise do real impacto da variação da dívida pública e da ocorrência de déficits orçamentários sobre a atividade econômica. Tal idéia defendida pela equivalência ricardiana também conhecida como proposição de Ricardo – Barros ressalta que a dívida e o déficit apresentam efetivamente um impacto menor sobre a atividade econômica, logo, “no curto prazo, déficits maiores provavelmente levam a uma demanda maior e a um 3 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / produto maior. No longo prazo, a dívida pública maior diminui a acumulação de capital e consequentemente, diminui o produto”. (BLANCHARD, 2011, p. 509). Segundo Nascimento e Debus (2002) o déficit público pode ser financiado através de duas fontes: recorrendo a recursos de terceiros e ao aumento da arrecadação dos recursos próprios estaduais, portanto, a utilização da primeira fonte de financiamento do déficit prever como consequência o aumento do endividamento dos entes da federação. 2.1 Endividamento Lopes e Vasconcellos (2011, p. 360) definem o endividamento público como: “[...] uma nova categoria de gastos públicos: a rolagem e o pagamento dos serviços da dívida. Os juros sobre a dívida entram na categoria de gastos com transferências”. Nos estudos realizados por Silva e Sousa (2002), Piancastelli e Boueri (2008) e Blanchard (2011) utilizaram variáveis distintas que permitem identificar a evolução do endividamento dos entes da federação. No trabalho de Silva e Sousa (2002) foi utilizada a relação da dívida total e a receita corrente líquida para identificar o nível de endividamento. Piancastelli e Boueri (2008) destacam no seu trabalho a utilização da relação da dívida consolidada e a receita líquida real e também a relação da dívida consolidada e a receita corrente líquida, onde através dos resultados primários gerados pelos estados é possível verificar como as finanças estaduais se recuperam ao longo do tempo, isto é, verificar o desempenho dos governos estaduais na gestão de suas finanças. Blanchard (2011) considera não só a trajetória da dívida ao longo do tempo, mas como ela se comporta considerando também o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ao longo do tempo, assim, utilizou a razão dívida e PIB como coeficiente de endividamento. De acordo com a Resolução nº 40/01 do SF é determinado para os entes da federação o limite máximo de endividamento que estes podem suportar, dada a sua Receita Corrente Líquida que permite verificar se os entes estão dentro desse limite ou não. Logo, quando os entes ultrapassam o limite legal cabe a estes adotarem medidas para eliminação do excesso de endividamento durante o período estabelecido legalmente. 1.2 Déficit Público Segundo Nascimento e Debus (2002) o déficit público pode ser financiado através de duas fontes recorrendo a recursos de terceiros que por consequência leva ao aumento do endividamento das entidades e por meio do aumento dos recursos próprios dos estados. O déficit público é uma medida de fluxo que deve acontecer em um período de tempo, sendo entendido como a diferença entre todos os gastos ou dispêndios (compras de bens e 4 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / serviços, transferências, investimentos, pagamentos de juros etc.) e todas as receitas (financeiras e não-financeiras).3 Os conceitos de déficit e dívida são combinados para captar e separar efeitos de variáveis econômicas, e podem ser calculados por dois critérios. O primeiro é o critério acima da linha, no qual são explicitados os principais fluxos de receitas e despesas. O segundo é o critério abaixo da linha, que observa o déficit com base na variação da dívida pública pela necessidade do seu financiamento. 1.3 Resultado Primário e Resultado Nominal A utilização do resultado primário e resultado nominal para acompanhar o desempenho dos entes no controle da dívida (consolidada e mobiliária), são relevantes para garantir que estes não ultrapassem os limites de endividamento estabelecido na Resolução n° 40 do SF. [...] o Resultado Primário corresponde à diferença entre as receitas não financeiras e as despesas não financeiras (Lei 9.496/97). É considerado um dos melhores indicadores da saúde financeira dos entes públicos. A análise do Resultado Primário demonstra o quanto o ente público (União, Estados e Municípios) dependerá de recursos de terceiros para a cobertura das suas despesas (no caso do déficit primário). (DEBUS; NASCIMENTO, 2002, p. 77). Desta forma a utilização do resultado primário como um indicador se faz necessária, pois possibilita aos entes federados avaliar o desempenho da administração pública, ou seja, identificando se os estes conseguem controlar suas receitas e despesas. Silva, Carvalho e Medeiros (2009, p. 127) apresentam as duas formas de cálculo do resultado primário: 1. Pela diferença entre receitas (exceto aplicações financeiras) e despesas (exceto juros), a qual é denominada “acima da linha” e é calculada e divulgada mensalmente pelo Tesouro Nacional; 2. Pela variação da Dívida Fiscal Líquida – resultado nominal calculado pelo Banco Central segundo o conceito “abaixo da linha” – descontada dos valores referentes aos juros nominais. Outra forma de acompanhar o desempenho dos entes públicos (União, Estados e Municípios) no controle da dívida é por meio do resultado nominal que “[...] corresponde à diferença entre o resultado primário e a conta de juros líquidos [...] são encargos financeiros calculados pelo critério de competência, a partir do estoque da dívida líquida nominal no mês anterior [...]”. (DEBUS; NASCIMENTO, 2002, p. 78). Em outras palavras o resultado 3 Ver a respeito em Rezende (2011). 5 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / nominal demonstra a variação da dívida dos entes públicos (União, Estados e Municípios) em um determinado período. 1.4 Instrumentos Institucionais 1.4.1 Programa de Reestruturação Financeira e Fiscal Giambiagi (2008) destaca a relevância do processo de renegociação da dívida onde as ações dos governos subnacionais passaram a ser mais controladas, devido às regras estabelecidas em contrato para a renegociação das dívidas e os instrumentos que exigem uma condução consciente das finanças públicas: Os acordos de renegociação implicaram a federalização das dívidas, em troca de que os Estados e municípios beneficiados se tornassem devedores da União, de tal modo que esta fosse ressarcida ao longo de 30 anos, mediante pagamento de prestações mensais com um juro real implícito de 6%, na forma de uma Tabela Price, sujeitas a um teto de 13% da receita das unidades devedoras. (GIAMBIAGI, 2008, p.560). Durante o período de 1989 a 1997 foram realizados diversos processos de refinanciamento da dívida dos estados dando a estes a possibilidade de renegociar suas dívidas, pois os estados conduziam suas finanças sem nenhuma responsabilidade transferindo os problemas de uma má administração das finanças estaduais no presente para os governos futuros criando uma situação insustentável. Mesmo com os diversos refinanciamentos das dívidas os estados os governantes permaneciam com uma postura irresponsável para com a condução das finanças estaduais, pois sabiam que poderiam contar com a ajuda do governo federal quando estivessem em uma situação de crise financeira (PIANCASTELLI; BOUERI, 2008). Piancastelli e Boueri (2008) citam os processos de refinanciamentos4 pela União da dívida dos estados, Distrito Federal e municípios, discorrendo sobre a dívida externa, o estabelecimento de diretrizes para a estabilidade e a determinação de novo prazo para pagamento das dívidas internas. Nascimento e Debus (2002, p. 8) mencionam no seu trabalho as metas do Programa de Reestruturação Financeira e de Ajuste Fiscal: Controle e redução da despesa de pessoal, nos termos da Lei Complementar nº 82 de 1995 – a chamada Lei Camata I; Privatização, concessão de 4 Ver a respeito nos trabalhos Mora e Giambiagi (2008); Silva e Sousa (2002). 6 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / serviços públicos, reforma patrimonial e controle de estatais estaduais; Aumento da receita, modernização e melhoria de sistemas de arrecadação, de controle do gasto e de geração de informações fiscais, buscando explorar plenamente a base tributária e desenvolver esforços para incrementar a arrecadação tributária própria; Compromisso de resultado fiscal mínimo, traduzidos neste caso, em metas de resultado primário trimestral; Redução e controle do endividamento estadual. Essas metas estabelecidas no programa de reestruturação e ajuste levaram os governos subnacionais a estreitaram relações com a União, sendo exigida uma atuação mais responsável no controle de gastos e na contratação de crédito por parte dos governantes. 1.4.2 Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF A Lei Complementar n° 101/2000 conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal que a partir de suas disposições exige dos governantes uma gestão mais responsável das finanças públicas, isto é, maior fiscalização das ações tomadas pelos governantes no que abrange o controle de despesas e receitas, a adequação aos limites de endividamento, a contratação de crédito entre outros pontos. A aprovação da LRF veio solidificar as medidas tomadas anteriormente de renegociação da dívida financeira e a busca pelo ajuste fiscal dos governos subnacionais (NASCIMENTO; DEBUS, 2002). A Lei de Responsabilidade Fiscal tem como objetivos garantir o estabelecimento de regras para as finanças públicas induzindo os governos a desenvolverem uma gestão fiscal responsável5 baseada em: [...] ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. (Art. 1°, § 1° da LC n° 101/2000). Desta forma a LRF é um aparato institucional que faz uso de instrumentos que asseguram o cumprimento de metas e limites para controlar a atuação dos entes federados, ou 5 Ver a respeito da responsabilidade na gestão fiscal nos trabalhos de Nascimento e Debus (2002); Mello e Slomski (2009). 7 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / seja, visando a responsabilidade na gestão fiscal através do planejamento das ações realizadas pelos governantes. 1.5 Estudos empíricos aplicados ao Brasil Silva e Sousa (2002) verificam os determinantes do endividamento dos estados brasileiros, utilizando observações mensais dos estados de dezembro/1997 a junho/2001 organizadas na estrutura de dados em painel, sendo retirados os dados referentes ao Distrito Federal, pois a estrutura de gastos e receitas que este apresenta é diferente dos demais estados o que segundo as autoras pode levar a ocorrência de erros nos resultados obtidos. Os resultados encontrados demonstram que partindo de uma análise da versão baseada na renda per capita dos estados, ou seja, na classificação dos estados como ricos e pobres foi observado que a determinação do nível de endividamento estadual apresenta resultados significativos para as variáveis gastos com pessoal e com investimento para os estados ricos, já para os estados pobres os resultados são significativos para as variáveis transferências intergovernamentais e despesas com pessoal. Observando o grau de endividamento dos estados na versão diferenciada os estados ricos apresentam esse grau bem abaixo daquele que seria possível, pois esses apresentam as condições necessárias para elevar o seu endividamento, isto é, mais facilidade de acesso ao mercado de crédito e uma base fiscal forte. E os estados pobres encontram-se acima do grau compatível com a sua atuação econômica. Piancastelli e Boueri (2008) fazem uma análise das finanças estaduais expondo quais os mecanismos necessários para alcançar o ajuste fiscal, após o término do processo de renegociação da dívida financeira dos estados junto ao governo federal. O período de análise é de 1995 a 2006 para boa parte das informações, pois a disponibilidade dessas torna esse período mais restrito e também mais abrangente em alguns momentos. A estimação foi realizada com a utilização do método de organização de dados em painel, sendo estimado por meio do efeito fixo, que visa preservar as características individuais de cada estado analisando quais os fatores determinantes dos resultados primários estaduais. A principal conclusão do trabalho é que a evolução notória dos resultados primários que compõe a região Nordeste e Sudeste, demonstra o comprometimento desses governos para promover o ajuste fiscal, após o período de renegociação da dívida, sendo o nível de participação no resultado primário consolidado mais expressivo que aqueles apresentados pelos estados que compõem as regiões Centro - Oeste, Sul e Norte. 8 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Mora e Giambiagi (2007) fazem uma análise da dívida subnacional, abordando os instrumentos de ajuste utilizados para traçar metas e impor limites de endividamento para os entes federados. Em seu trabalho fez uma análise do cenário econômico e os problemas que levaram a desequilíbrios das contas dos estados, onde esses foram submetidos ao processo de renegociação da dívida, estando sujeito ao Programa de Reestruturação Fiscal e Financeira e também a Lei de Responsabilidade Fiscal. O aparato institucional citado acima garante o cumprimento de exigências determinadas pela União para que a dívida fosse renegociada. Os resultados indicam parâmetros que influenciam a redução da dívida ao longo dos anos, o controle da taxa real de juros, estabilidade das taxas de crescimento da economia, do índice de preços, crescimento da receita estadual, e assim, a combinação desses levaria ao pagamento dos juros da dívida e consequentemente a redução do estoque da dívida. Concluindo-se que mesmo com a ocorrência de mudanças na trajetória do endividamento os estados têm que se ajustar para conseguir liquidar os contratos de refinanciamento da dívida no prazo de trinta anos. Sendo possível efetuar o pagamento das prestações referentes ao refinanciamento da dívida estadual, através de superávits primários cada vez maiores e da elevação dos recursos próprios. 2. METODOLOGIA 2.1 Modelo de Dados em Painel O benefício de utilizar os dados em painel envolve a resolução de dois problemas como: o conhecimento da heterogeneidade individual e a reduzida dimensão temporal da amostra, portanto, a utilização de dados em painel garante a preservação das características dos indivíduos e possibilita a utilização de uma aumentada dimensão temporal, onde tais problemas não seriam resolvidos somente com uso dos dados de séries temporais ou de corte transversal. Ou seja, a utilização das duas análises através do painel de dados apresenta uma maior área de atuação captando efeitos que não podiam ser observados anteriormente (ANDRADE, 2004). Os dados em painel são utilizados por tornarem a análise mais rica com a combinação de dados de séries temporais e de corte transversal, ou seja, fornecem uma análise de tempo e de espaço, onde o número de variáveis utilizadas oferece ao modelo mais informações dos dados, a redução da colinearidade das variáveis, mais graus de liberdade e estimadores mais eficientes (GUJARATI; PORTER, 2011). 2.2 Modelo Dinâmico em Dados em Painel 9 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / A utilização do modelo de dados em painel6 é importante por combinar dados de séries temporais e de corte transversal e também conseguir captar efeitos de variáveis não observadas. Wooldridge (2010) destaca a importância da utilização de variáveis defasadas de comportamento nas estimações, pois estas fornecem uma análise das variáveis após determinado espaço tempo. A realização da estimação do modelo dinâmico em dados em painel é indicada quando as variáveis analisadas possuem um caráter ininterrupto, isto é, considerando uma relação dinâmica entre a dívida pública do período anterior e a dívida pública do período atual. Segundo Greene e Baltagi (2003; 1996. apud ARAÚJO; et all, 2007, p. 14): “[...] a estimação de modelos dinâmicos é o método indicado para se captar o mecanismo de ajustamento”. O modelo geral para dados em painel dinâmico pode ser escrito da seguinte forma7: Onde; • é um vetor de coeficientes; • é um vetor 1 x K, de variáveis explicativas; • é um vetor K x 1, de parâmetros. A estimação mais adequada do modelo dinâmico em dados em painel é através do Método dos Momentos Generalizados em primeira diferença, com a utilização do estimador de Arellano e Bond que fornece estimadores consistentes para todas as condições de momentos. [...] Arellano e Bond (1991) propõem um modelo que utiliza as condições de ortogonalidade [ângulo reto] existentes entre os valores defasados de yit e os erros vit, para a formação de instrumentos e posterior estimação por GMM (Método dos Momentos Generalizados). (ARAÚJO; et all, 2007, p. 14). Blundell e Bond (1998) demonstraram que para T = 3 o estimador Método dos Momentos Generalizados (MGM) em primeira diferença se reduz ao estimador IV devido à simplificação das condições de ortogonalidade. Acrescentam que o estimador MGM perde poder de precisão quando é próximo de 1 ou quando a variância de é grande. Os autores, como forma de melhorar o desempenho do estimador MGM, sugerem novas restrições usando 6 Ver Marques (2000); Andrade (2004); Wooldridge (2010); Gujarati e Porter (2011). 7 Ver Baltagi (2005); Bond (2002); Wooldridge (2005); Greene (2000). 10 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / com defasagem como instrumento para equação em nível e adicionam defasado como instrumento para equação em primeira diferença. 2.3 Estratégia empírica O modelo de regressão com dados em painel é o ideal para verificar o nível de endividamento dos estados brasileiros de acordo com os trabalhos de Piancastelli e Boueri (2008) e Silva e Sousa (2002), pois a utilização de dados em painel permite analisar o comportamento de uma unidade de corte transversal, no caso os estados, que é acompanhada ao longo do tempo. A diversidade das regiões do país ressalva a importância da utilização do método de painel de dados, sendo mais ajustados para preservar essas características. Os modelos a serem estimados apresentam as seguintes formas: Os 27 (vinte e sete) estados são representados por i = 1, 2,..., N; t = 1, 2,..., T é o tempo da análise, no caso, de 11 anos e µi,t são os resíduos do modelo. Para a estimação dos determinantes do endividamento estadual utilizamos como variável dependente a relação da dívida consolidada líquida e receita corrente líquida e, como variáveis independentes, que afetam negativamente: as transferências correntes e receita tributária, e que afetam positivamente: as despesas com investimentos e as despesas com pessoal. Sendo também analisado o comportamento do resultado primário e resultado nominal e como estes influenciam na determinação da dívida estadual. O software utilizado na estimação da regressão de dados em painel foi o STATA 12, que facilita a compreensão de operações estatísticas e matemáticas com um nível mais elevado de complicação. Os dados da execução orçamentária dos estados, ou seja, os balanços anuais de receitas e despesas estaduais tiveram como fonte a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), já os dados relativos ao indicador do nível de endividamento dos estados, foram obtidos nos relatórios fiscais homologados no SISTN8 em cumprimento à portaria STN nº 683/11. A estrutura de dados em painel consiste em observações anuais dos estados, no período de 2000 a 2010 foi utilizado esse período devido a disponibilidade das informações referentes a variável dependente (DCL/ RCL) do modelo. 8 Sistema de Coletas de Dados Contábeis dos Entes da Federação – SISTN é um sistema informatizado e desenvolvido pela Caixa Econômica Federal, para operacionalizar o convênio firmado entre esta instituição e a União representada pela Secretaria do Tesouro Nacional. 11 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Nesta seção do trabalho são discutidos os resultados econométricos obtidos a partir das estimações demonstradas na Tabela 1 para razão Dívida Consolidada Líquida e à Receita Corrente Líquida, na Tabela 2 para o Resultado Primário, na Tabela 3 para o Resultado Nominal e na Tabela 4 para as elasticidades do modelo Blundell/Bond. 3.1 Resultados Econométricos Os resultados das estimações das equações da razão Dívida Consolidada Líquida e a Receita Corrente Líquida, para o Resultado Primário e para o Resultado Nominal são apresentados respectivamente nas tabelas 1, 2 e 3. As tabelas são dispostas da seguinte forma: observa-se na primeira coluna as variáveis explicativas, os testes e as demais características do modelo; na segunda coluna os coeficientes obtidos a partir da estimação dos dados por meio do modelo de efeitos fixos; e na terceira coluna são apresentados os coeficientes obtidos com a estimação do modelo de efeitos aleatórios; e por fim na quarta coluna observa-se os resultados do estimador Blundell/Bond. Para a primeira e segunda estimação o Teste de Hausman indica a utilização do modelo de efeitos fixos como sendo mais adequada para a análise dos resultados com estimadores consistentes e significativos, visto que a probabilidade de aceitar a hipótese nula do teste é muito pequena nas duas estimações sendo respectivamente de 0, 0001 e 0, 0436. Desta forma, o resultado da estatística do Teste de Hausman rejeita o modelo de efeitos aleatórios e escolhe o modelo de efeitos fixos. Porém, a terceira estimação apresentou resultados inconsistentes a respeito do Teste de Hausman, não sendo possível escolher o melhor modelo. Entretanto, os resultados encontrados após estimação do modelo com estimador Blundell/Bond demonstram que os dados possuem uma forte adequação ao modelo dinâmico, haja vista a significância estatística do coeficiente da variável defasada em um período. Desta forma, a discussão será voltada para observar os coeficientes do estimador de Blundell/ Bond e dos estimadores de efeito fixo. A força dos resultados encontrados pela estimação do modelo dinâmico é realizada pelos testes de autocorrelação (Abond) e de especificação das variáveis (teste Sargan). A hipótese nula do primeiro é de ausência de autocorrelação de segunda ordem e a hipótese nula do segundo é de que os instrumentos utilizados na regressão são válidos. Em todos os modelos estimados verificou-se a aceitação das hipóteses nulas. 12 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / A tabela 1 apresenta o resultado para a estimação da relação da Dívida Consolidada Líquida e da Receita Corrente Líquida. Com a estimação do modelo de efeitos fixos os resultados não apresentam os sinais esperados, com exceção para as transferências correntes que apresenta o sinal esperado e é significativa. As demais variáveis não possuem os coeficientes significativos do ponto de vista estatístico, mas ao analisar a quarta coluna que apresenta os resultados defasados a partir do estimador de Blundell/ Bond as variáveis defasadas se mostraram altamente significativas do ponto de vista estatístico e os sinais são os esperados. Assim, a utilização do estimador de Blundell/ Bond indica que a defasagem das variáveis promoveu um ajustamento correto dos resultados. Os resultados do nível de endividamento dos estados representado pela relação da DCL/RCL demonstram que a sua expansão é influenciada pela elevação das despesas com investimento e com pessoal. Tabela 1 – Estimação para a DCL/ RCL. Variáveis Explicativas Efeitos Fixos Receita Tributária 1, 723e-11* Efeitos Aleatórios 1,149e-11 Despesa Investimento Despesa com Pessoal Transferências Correntes L. DCL/RCL Constante -1, 341e-11 -2, 363e-11 -1,825e-10*** -6, 731e-12 6, 950e-12 -1, 990e-10*** 1, 5544574*** 1, 4895543*** Teste Hausman Prob > chi2 Teste Abond Prob > Z Teste Sargan Prob > chi2 Blundell/Bond -8, 231e-12*** 1, 032e-11*** 2, 857e-11*** -6, 373e-11*** 0, 82604961*** 0, 19701145*** 0, 0001 0, 7141 1, 0000 Nº de observações Nº de grupos Prob > F Prob > chi2 R2 (within) 297 27 0, 0000 0, 3838 297 27 270 27 0, 0000 0, 3757 0, 0000 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa. O nível de significância do coeficiente de 10%, 5% e 1%, é representado respectivamente *, **, ***. A tabela 2 apresenta o resultado para a estimação do resultado primário dos estados. Analisando a estimação por meio do modelo de efeitos fixos todos os coeficientes se mostram 13 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / significativos do ponto de vista estatístico e os sinais apresentados por estes são os esperados, logo, qualquer elevação da arrecadação das receitas tributárias e das transferências destinadas aos estados impacta positivamente na determinação do resultado primário. Tabela 2 – Estimação para o Resultado Primário. Variáveis Efeitos Fixos Efeitos Aleatórios Blundell/Bond Receita Tributária 0, 05138438*** 0, 04868085*** 0, 039995659*** Despesa -0, 02327356* -0, 00724437 -0, 01875217*** com -0, 06390458* -0, 00785368 -0, 04470547*** 0, 09298867*** 0, 08128996*** Explicativas Investimento Despesa Pessoal Transferências 0, 15076839*** Correntes L. Resultado 0, 31900771*** Primário Constante 2, 35e+07 -8, 23e+07 7, 36e+07*** Teste Hausman Prob > chi2 0, 0436 Teste Abond Prob > Z 0, 0901 Teste Sargan Prob > chi2 Prob > F 0, 9998 0, 0000 Prob > chi2 R2 (within) 0, 0000 0, 2664 0, 0000 0, 2506 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa. O nível de significância do coeficiente de 10%, 5% e 1%, é representado respectivamente *, **, ***. A tabela 3, abaixo, apresenta o resultado da estimação para o resultado nominal, onde os coeficientes estimados por meio do modelo de efeitos fixos se mostraram significativos, com exceção da despesa com investimento. Assim, analisando os resultados das variáveis defasadas com o estimador de Blundell/ Bond essas se mostraram altamente significativas do ponto de vista estatístico e apresentaram os sinais esperados. Portanto, a utilização do 14 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / estimador de Blundell/ Bond indica que a defasagem das variáveis promoveu um ajustamento da variável despesa com investimento que apresentava um coeficiente insignificante. Tabela 3 – Estimação para o Resultado Nominal. Variáveis Explicativas Efeitos Fixos Efeitos Aleatórios Blundell/Bond Receita Tributária 0, 04276509*** 0, 05490576*** 0, 03828651*** Despesa Investimento -0, 01434297 -0, 01468118* -0, 03455239*** Despesa com Pessoal -0, 08680392*** -0, 11821583*** -0, 09515997*** Transferências Correntes 0, 12080701*** 0, 11255822*** 0, 16748774*** L. Resultado Nominal Constante 0, 03749498** -1,60e+08*** -7,96e+07** -1,98e+08*** Teste Hausman Prob > chi2 Teste Abond Prob > Z 0, 0908 Teste Sargan Prob > chi2 Prob > F 1, 0000 0, 0000 Prob > chi2 R2 (within) 0, 0000 0, 1925 0, 0000 0, 1830 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa. O nível de significância do coeficiente de 10%, 5% e 1%, é representado respectivamente *, **, ***. Os resultados da estimação para a razão Dívida Consolidada Líquida e da Receita Corrente Líquida apresentados na tabela 1 do presente trabalho destacam a relevância da utilização das variáveis explicativas defasadas com o estimador de Blundell/ Bond em um período para explicar a evolução do endividamento com o passar dos anos. Sendo incorporada na análise uma variável explicativa defasada em um período, da relação DCL/RCL do período anterior que vem explicar a relação DCL/RCL do período atual, ou seja, o endividamento anterior dos estados brasileiros explica em um percentual de 0,82604961% o endividamento atual. Com base nessa variável, podemos concluir que os estados brasileiros que apresentam essa relação elevada hoje, possivelmente terão no futuro uma relação consideravelmente alta. Portanto, se faz necessário que os estados adotem medidas que busquem a redução da relação DCL/RCL. 15 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / Os resultados obtidos das estimações das elasticidades do modelo Blundell/ Bond com um período de defasagem são apresentados na tabela 4, a partir desses podemos interpretar os resultados da segunda coluna para a DCL/RCL que apresenta os coeficientes obtidos, logo, um aumento de 1% na receita tributária e nas transferências correntes leva a uma redução de respectivamente 0,0568191% e 0,166328% da relação DCL/RCL. Comparando os coeficientes obtidos no presente trabalho com os apresentados por Silva e Sousa (2002) verificamos que a variável explicativa transferências correntes é respectivamente de 0,166328% e 0,12%. Para Silva e Sousa (2002) essa variável vai influenciar positivamente o grau de endividamento, pois levam em consideração que quanto mais elevadas as transferências destinadas para os estados menor será o comprometimento desses para um bom desempenho fiscal. Os resultados obtidos das estimações indicam que elevadas transferências levam a redução do endividamento dos estados, pois essas podem ser destinadas para atender as despesas correntes e compensar a falta de arrecadação tributária dos estados pequenos. Tabela 4 - Estimação das elasticidades do modelo Blundell/Bond. Variáveis DCL/RCL Explicativas Resultado Resultado Primário Nominal Receita Tributária -0, 0568191 0, 5869427 7, 283817 Despesa Investimento 0, 0130994 -0, 0506464 -1, 208596 Despesa com Pessoal 0, 1295025 -0, 4312361 -11, 88816 Transferências Correntes -0, 166328 0, 4514932 12, 04768 L. DCL/ RCL 0, 8905491 L. Resultado Primário 0, 2924942 L. Resultado Nominal 0, 0272731 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa. O aumento de 1% nas despesas com pessoal e nos gastos com investimentos impacta positivamente na relação DCL/RCL, em respectivamente 0,1295025% e 0,0130994%. Esses resultados indicam que as despesas com pessoal devem ser controladas com o objetivo de promover o ajuste fiscal dos estados brasileiros e os gastos com investimento são provenientes da contratação de crédito efetuada normalmente em condições de longo prazo. Para Silva e Sousa (2002) a despesa com pessoal impacta positivamente na determinação do grau de endividamento, sendo o percentual bem mais elevado de 0,94%. O sinal apresentado por a variável gastos com investimentos é considerado errado, mas as autoras consideram que um aumento dos gastos com investimentos em 1% reduz o grau de endividamento em 0,58%, 16 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / pois os recursos destinados para o investimento estão disponíveis para os estados que apresentaram um baixo nível de endividamento. No trabalho de Piancastelli e Boueri (2008) a estimação foi realizada por meio do efeito fixo para preservar as características individuais de cada estado, onde os resultados das estimações demonstram o impacto positivo e negativo das variáveis explicativas sobre a determinação do resultado primário. Assim, percebe-se que um aumento de 1% nas transferências constitucionais eleva o resultado primário em 9,8%. Ao considerar uma elevação de 1% nas despesas com pessoal e nos gastos com investimentos, o resultado primário se reduz respectivamente em 3,2% e 7,8%. Mas os autores destacam ainda que essa redução do resultado primário proveniente do aumento dos gastos com investimento é relevante quando os estados brasileiros conseguem combinar os investimentos com significativos resultados primários. A tabela 4 apresenta os resultados obtidos das estimações das elasticidades do modelo Blundell/ Bond com um período de defasagem para o resultado primário, verificado na terceira coluna. Assim, percebe-se que uma elevação de 1% nas despesas com pessoal e nos gastos com investimento reduz os resultados primários dos estados, respectivamente em torno de 0,4312361% e 0,0506464%. Ao considerar um aumento das transferências correntes em 1%, o resultado primário eleva-se em 0,4514932%, assim como, um aumento da receita tributária em 1% impacta na elevação do resultado primário em 0,5869427%. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos últimos tempos os níveis de governo nacional e subnacional voltam sua atenção para um problema: a dívida pública, sendo esta formada por uma condução irresponsável das receitas e despesas dos entes públicos. Logo, a adoção dessa conduta vem a influenciar a determinação do nível de endividamento dos governos. Este trabalho buscou identificar os fatores que vão impactar sobre o nível de endividamento dos estados brasileiros, sendo analisado durante o período de 2000 a 2010. A análise compreende o período após ser sancionada a Lei de Responsabilidade Fiscal que tem como objetivo garantir que os estados apresentem um bom desempenho na gestão fiscal, sendo possível alcançá-lo com o estabelecimento de normas de finanças públicas. D e acordo com os dados utilizados na pesquisa os estados que se encontram acima do limite de endividamento durante o período de 2000 a 2010 foram os seguintes: Rio Grande do Sul, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Maranhão e Mato Grosso que apresentou apenas um ano de endividamento elevado. Sendo possível notar que 17 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / dentre esses se encontram estados caracterizados como ricos e pobres, ou seja, o motivo para o elevado nível de endividamento pode ter sido tanto para realizar o pagamento de despesas correntes quanto para gastos com investimentos. Assim conclui-se que o elevado nível de endividamento não pode ser explicado apenas pela renda per capita dos estados podendo este ser elevado nos dois extremos, mas destinados para objetivos distintos. A idéia apresentada pela equivalência ricardiana observa a variação da dívida e a ocorrência de déficits sobre a atividade econômica, em outras palavras, estuda como o governo se comporta quando decide utilizar uma política expansionista promovendo a redução dos impostos e/ou elevações de gastos. Essa ação tende a ser repassada posteriormente para os indivíduos, pois o governo gera déficit equivalente a sua ação e deve ser eliminado. Quanto mais demorado esse processo de eliminação de déficit mais elevado será o estoque da dívida e o pagamento de juros sobre dívida a serem quitados pelo governo, logo, o endividamento se elevará ao longo do tempo. Com se sabe o déficit público pode ser financiado por recursos de terceiro e aumento da arrecadação própria. Essa trajetória escolhida pelo governo para eliminar o déficit impacta no estoque da dívida, podendo decidir por efetuar o pagamento imediatamente ou efetuar o pagamento no ano X ou manter a dívida constante ao longo dos anos. Esses fatores dependem de como o governo vai controlar as suas receitas e despesas. Com base nos resultados obtidos a partir das estimações das elasticidades do modelo Blundell/Bond defasado em um período, nota-se que para o controle do endividamento estadual expresso pela razão Dívida Consolidada Líquida e à Receita Corrente Líquida será necessário que o governo volte sua atenção para as transferências correntes (Constitucionais e Legais) que vão influenciar de forma mais expressiva na redução do nível de endividamento estadual e também atue no controle das despesas com pessoal que tendem a elevar o nível endividamento. Outro instrumento utilizado para reduzir o nível de endividamento estadual é o Resultado Primário que permite verificar a saúde financeira dos estados durante determinado período de tempo, logo, quanto maior o resultado primário dos estados menor será o nível de endividamento. Com base nos resultados para que os estados obtenham resultados primários maiores e assim reduzam o nível de endividamento, o governo estadual deve utilizar medidas que visem o aumento da arrecadação própria. 18 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / O comportamento passado do endividamento dos estados é um importante indicativo para a avaliação e a previsão de seu comportamento futuro, mas deve ser avaliado em conjunto com as variáveis: Receita Tributária, Transferências Correntes, Despesa com Pessoa e Despesas com Investimentos que influenciam o nível de endividamento estadual. Conclui-se que o problema de endividamento dos estados pode ser controlado com a combinação de dois fatores: uma política que contenha os gastos com pessoal e aumente a arrecadação dos recursos próprios que vão influenciar mais expressivamente na determinação do endividamento estadual, sendo possível alcançar o tão objetivado equilíbrio fiscal (receitas e despesas). 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, João Sousa. Apontamentos de Econometria Aplicada. Texto Editora: 2004. ARAÚJO, Taiana Fortunato; OLIVEIRA, Alessandra Coelho de; RESENDE, Marco Flávio da Cunha; MORO, Sueli. Considerações Teóricas e Empíricas acerca da Relação entre Déficit Público e Déficit Externo. Belo Horizonte: Cedeplar - UFMG, 2007 (Texto para Discussão, n. 314). BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. 5ª edição. São Paulo: Pearson, 2011. BREGMAN; Daniel. A orientação fiscal dos estados brasileiros. Brasília: Esaf, 2009 (Texto para Discussão, n. 7). FERRER, Walkiria Martinez Heinrich. 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Portugal, 2000. 19 Parnaíba, 06 a 08 de novembro de 2013, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VIII SOBER Nordeste VIII SOBER Nordeste Pluralidades Econômicas, Sociais e Ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural Parnaíba – PI / MELLO, Gilmar Ribeiro de; SLOMSKI, Valmor. Fatores que influenciam o endividamento dos estados brasileiros. Revista de Contabilidade e Organizações - RCO, São Paulo, v. 3, n. 7, set.- dez. 2009. MENDES, Marcos. Federalismo fiscal. In: ARVATE, Paulo Roberto; BIDERMAN, Ciro. Economia do setor público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. MENDONÇA, Helder Ferreira de; VIVIAN, Viviane Santos. Gestão da dívida pública: a experiência do Brasil. Revista CEPAL número especial em português, p. 245-264, maio de 2010. MORA, Mônica; GIAMBIAGI, Fabio. Federalismo e endividamento subnacional: uma discussão sobre a sustentabilidade da dívida estadual e municipal. 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