HRAS- Hospital Regional da Asa Sul Departamento de Pediatria Perfil Socioeconômico e Nosológico dos Pacientes Internados no HRAS em Agosto de 2008 Marília Aires de Oliveira Brasília, outubro de 2008 www.paulomargotto.com.br 29/10/2008 HRAS- Hospital Regional da Asa Sul Departamento de Pediatria Perfil Socioeconômico e Nosológico dos Pacientes Internados no HRAS em Agosto de 2008 Trabalho apresentado à Residência Médica em Pediatria do Hospital Regional da Asa Sul,SES Brasília-DF, como requisito parcial para a conclusão da mesma. Orientador: Dr. Fabrício P. Monteiro Área de atuação: Alergista e imunologista pediátrica Marília Aires de Oliveira Brasília, 29 de outubro de 2008 1. Introdução Características sociais de uma população e o nível de desenvolvimento humano interferem no estado de saúde e nas morbidades mais freqüentes.14,23 Processo saúde e doença não é quantitativamente comparável, porém o estudo das morbidades e hospitalizações em determinado seguimento da população é importante para indicar a qualidade da assistência a saúde. Fatores de risco associados à hospitalização apontados: ◦ baixa renda familiar, ◦ número de crianças menores de cinco anos no domicílio, ◦ local de residência, ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ exposição ao tabagismo, desnutrição, característica do cuidador , fatores maternos: escolaridade, idade e residência com o companheiro presença de doenças crônicas condições de gestação e parto acesso ao serviço de saúde nutrição estatura Nota-se assim o componente multifatorial no processo saúde-doença e conseqüentemente no número de hospitalizações, motivando a necessidade de estudos que tracem o perfil de alguns setores de usuários do sistema de saúde. 2. Objetivo Observar o perfil socioeconômico e nosológico dos pacientes internados no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), Brasília, DF, em agosto de 2008, visando facilitar o planejamento futuro de estratégias de atenção a saúde mais adequadas à população em questão. 3. Materiais e Métodos Caracterização : ◦ Realizado no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), Brasília-DF, Brasil em agosto de 2008 ◦ Estudo transversal, ◦ Aplicado questionário e ficha de consentimento esclarecido ao cuidador presente pela pesquisadora ◦ Os pacientes não foram identificados por nome, número de registro ou qualquer outra forma. ◦ Os dados foram colhidos do prontuário e de informações fornecidas pelo cuidador ◦ O projeto de pesquisa foi previamente submetido à avaliação do comitê de ética do Distrito Federal Amostra: ◦ Inicialmente pesquisados todos os pacientes internados no HRAS, em agosto de 2008, ◦ Critérios de inclusão: pacientes internados no HRAS em agosto de 2008, acesso à internação hospitalar através do atendimento no pronto socorro infantil, o que totalizou 415 pacientes. ◦ Critérios de exclusão: pacientes primariamente cirúrgicos; permaneceram menos de 24 horas internados; pacientes neonatais (menos de 27 dias de vida) aqueles internados desde o nascimento cuidadores se recusaram a participar da pesquisa, desacompanhados no momento da mesma, tinham menos que 30% das informações questionadas no estudo. Medidas de interesse: ◦ Idade ◦ Estatura: classificada por percentis considerando o gráfico do National Center for Health Statistics – NCHS, ◦ Peso: ◦ Diagnóstico na internação, agrupado na Classificação Internacional de Doenças (CID-10). ◦ Antecedentes da criança: peso ao nascer, imunização adequada ou não (considerando-se o calendário recomendado pelo ministério da saúde), número de consultas, nos últimos 12 meses, em serviços de urgência pediátricos, ambulatório e número de internações. ◦ Perfil familiar: escolaridade tipo de trabalho materno e paterno. mãe e a criança residirem com o companheiro materno. ◦ Dados socioeconômicos: renda familiar per capita, o número de moradores da residência, número de crianças menores de 5 anos que residem na casa. Análise de dados: ◦ Computados no programa EPi Info® versão 3.5.1, ◦ informações foram analisadas estatisticamente e comparadas, segundo valores de média e freqüências simples, e agrupados em gráficos e tabelas, segundo os objetivos do trabalho. 4. Resultados e Discussão Internados 415 pacientes, Excluídos: ◦ 102 (24,5%) pacientes foram internados por menos de 24 horas ◦ 11(2,6%) transferidos para a equipe de cirurgia; ◦ 35 (8,4%) que possuíam idade menor que 27 dias; ◦ 17 (4%) não autorizaram a participação na pesquisa ◦ 24 (5,7%) cujos acompanhantes presentes não sabia responder mais de 30% das perguntas feitas. ◦ Assim sendo, 189 (45%) pacientes foram excluídos, restando 226(55%) pacientes 4.1 Perfil do paciente na internação Sexo: 115 (50,7%) eram do sexo feminino e 112 (49,3%) do sexo masculino. ◦ Diferentemente da literatura: Mathias (1994), verificou que o sexo masculino foi responsável por 62,7%27 das internações; Needleman et al. (1981) por 60,4%29 , Costa et al. (1985) por 54,6% . Idade: variou de 0,2 anos a 13 anos, com média de 3,7 anos ◦ Literatura: Mathias (1994), observou um maior percentual de internações de crianças de um a quatro anos (42,3%)24. • Peso • Baixo peso x desnutrição: dificuldade diagnóstica •anamnese, exame físico e provas laboratoriais • Literatura: incidência de baixo peso na população em estudo é menor do que a encontrada da população brasileira. • Fernandes et al33 apontou taxas nacionais de desnutrição em torno de 30 a 40% da população de menores de 5 anos, ◦ Prevalências elevadas são indicadoras dos baixos níveis de vida e de saúde da população brasileira e situam a desnutrição protéico-calórica como uma das prioridades em termos de saúde coletiva. ◦ Necessidade de estudos mais específicos. Estatura: ◦ Falta de informação na internação atual ◦ Falta de dados no acompanhamento ambulatorial ◦ Perda de parâmetros para avaliação a longo prazo. Diagnósticos Diagnósticos mais freqüentes: ◦ o grupamento do CID-10 mais freqüente foi o das doenças infecciosas e parasitárias (34,4%) ◦ Morbidades mais freqüente, neste grupo: diarréia e desidratação com 14,2% A patologia isolada mais freqüente: pneumonia, com 22,6% dos casos e diarréia e desidratação 14,2% O grupamento com menor número de internações: lesões, envenenamento e outras conseqüências de causas externas (intoxicação exógena) com 5% Literatura: ◦ Países das Américas, as IRA são responsáveis por cerca de 20 a 40% de todas as hospitalizações em crianças com idade inferior a 5 anos, englobando causas como pneumonia, bronquite, bronquiolite e outras afecções do aparelho respiratório 5 (Benguigui 1997). ◦ No Brasil, em 1999, 8,1% de todas as internações foram ocasionadas por pneumonia, ◦ Em crianças menores de 5 anos, 26,7% de todas as internações7(DATASUS 1999) DATASUS16 de 2006, faixa etária: 1 a 4 anos: ◦ doenças infecciosas e parasitárias 27,11%, ◦ neoplasias 1,85%, ◦ transtornos mentais e comportamentais 0,03%, ◦ doenças do aparelho circulatório 0,31%, ◦ doenças do aparelho respiratório 42,16%, ◦ doenças do aparelho digestivo 6,46%, ◦ doenças do aparelho geniturinário 3,24%, ◦ causas externas 4,15%, ◦ demais causas 14,68%, Alta incidência de doenças infecciosas e parasitárias reflete o baixo desenvolvimento sócio-econômico 4.2 Perfil Familiar Materno: ◦ Idade materna foi de 27,9 anos, variando de 15 a 48 anos; ◦ Desemprego X trabalho do lar ◦ Caetano, 2002 aponta baixa escolaridade materna se relacionada com o maior número de internações hospitalares infantis.8,13,18 Perfil Paterno: ◦ Idade paterna variou de 16 anos a 62 anos com média de 31,8 anos. Ausência de informações paternas: ocupação em 23,1% e escolaridade em 20,8% ◦ o acompanhante de pacientes durante internação geralmente é a mãe ou outros familiares maternos (Carvalhaes, 2002)11. ◦ residência materna da criança com um companheiro em 64,6% dos casos Literatura: Benguigui et al, 1997 Cuidadores não especializadosem mais da metade do dia aumenta o risco de desnutrição (Carvalhaes, 2002) 11, Fato não foi pesquisado neste trabalho. Renda familiar per capita média: 325,7 reais, variando de 20 reais a 2333 reais. ◦ dado choca-se com a renda familiar per capita média do município de Brasília, 2,6 salários mínimos, segundo o IPEADATA16 - incluído apenas Brasília Densidade habitacional: 4,1 habitantes Número de crianças menores de 5 anos: em média de 1 criança, variando de 0 a 4 crianças menores que 5 anos. Vários estudos comprovam que a alta densidade habitacional familiar e o maior número de crianças menores de 5 anos, aumentam o risco de internação, a presença de desnutrição e morbimortalidade por doenças infecciosas 26,9,22,13. Este estudo teve como limitação, a não avaliação da relação entre densidade familiar e número de crianças menores que 5 anos com o número de internação, restringindo-se a descrever o padrão comum na população em questão. 4.3 Antecedentes médicos Peso ao nascimento, variou entre 880g a 5340g com média de 2866g. ◦ não verificada a idade gestacional: cartão antigo; cultura de referir idade gestacional em meses ◦ assim, não serve como parâmetro confiável número de consultas anuais: ◦ ambulatoriais: média de 2,2 consultas (0 e 8 consultas). ◦ serviços de urgência: com média de 2,6 consultas (0 a 10). ◦ internações hospitalares: média 1,3 internações por paciente (1 a 4). ◦ média de consultas em serviços de urgência ligeiramente maior que o número que consultas ambulatórias. ◦ saúde ainda deficiente em todo país ◦ dificuldades para a marcação de consultas e acompanhamento ambulatorial, ◦ Assim contato entre a criança e o serviço de saúde se faz na maioria das vezes através dos serviços de urgência8. Imunização: 83,2% possuem imunização adequada ◦ concordante com literatura, Cesar et al (2006) : 81,8% 5. Conclusões Pesquisa transversal com objetivos descritivos Maioria dos pacientes é do sexo feminino com idade média de 3,7 anos Peso adequado foi mais freqüente que na literatura O grupamento diagnóstico mais freqüente foi a das doenças infecciosas e parasitária e a morbidade foi a pneumonia Falta de informação sobre estatura da criança em 46% dos casos Escolaridade materna e paterna sofrível Falta de informação paterna Renda familiar maior que a Brasileira porém menor que a de Brasília Dados coincidentes com literatura - negligência com a saúde básica Fatores sociais e não vigilância Necessidade de estudo que correlacione parâmetros estudados com morbidades Temos, portanto, que revisar nossa estratégia política de saúde a fim de conceber crianças mais saudáveis. 6. Referências Bibliográficas 1. Abrantes M.M. lamounier J.A., Faria JF, Diniz CM, Cunha FAF. 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