PROFESSOR: ALAN LEAL
FILOSOFIA
2S1/2S2/2S3
Liberdade, livre-arbitrio, vontade e determinismo?
O determinismo.
O determinismo foi adotado pelas ciências humanas por falta de um método próprio e assim
baseava-se nos métodos das ciências naturais. Segundo o determinismo científico, tudo que existe
tem uma causa. O mundo explicado pelo princípio do determinismo é um mundo da necessidade, e
não o da liberdade. Necessário significa tudo aquilo que tem de ser e não pode deixar de ser.
Exemplificando: se aqueço uma barra de ferro, ela se dilata; a dilatação é necessária, no sentido de
que é um efeito inevitável que não ode deixar de ocorrer. A corrente positivista irá afirmar que a
escolha livre é mera ilusão. Pois estamos determinados pelos seguintes fatores:
- Raça ou espécie, que é a grande força biológica dos caracteres hereditários determinantes do
comportamento do indivíduo.
- O meio, pelo qual o indivíduo se acha submetido aos fatores geográficos, bem como ao ambiente
sócio-cultural.
- O momento histórico, pelo qual o individuo é fruto da época em que vive, e determinado pelos
fatores históricos.
- A psicologia, pelo qual os instintos (id) comandam a vontade e são controlados pela sociedade na
formação moral (super-ego) segunda a teoria de Freud.
- Ainda há o determinismo mítico-religioso que considera a vida humana sujeita totalmente ao
destino, à uma vontade absoluta, superior aos homens, isentando os homens da responsabilidade
das ações.
Livre-arbítrio
No sentido ético, livre-arbítrio é liberdade de indiferença. Isso significa que o sujeito age pela
força de sua vontade, independente dos constrangimentos que sofre . Ou seja, a se a razão conhece,
é a vontade que decide e escolhe.
O livre-arbítrio segundo Agostinho de Hipona.
Segundo Agostinho a liberdade é entendida pelo o livre-arbítrio que é a possibilidade ilimitada da
vontade poder escolher. O liberdade é própria da vontade e não da razão, no sentido em que a
entendiam os gregos. E assim se resolve o antigo paradoxo socrático de que é impossível conhecer
o bem e fazer o mal. A razão pode conhecer o bem e a vontade pode rejeitá-lo, porque, embora
pertencendo ao espírito humano, a vontade é uma faculdade diferente da razão, tendo uma
autonomia própria em relação à razão, embora seja a ela ligada. A razão conhece e a vontade
escolhe, podendo escolher até o irracional, ou seja aquilo que não está em conformidade com a reta
razão.
Consequentemente, o homem não ode ser autárquico em sua vida moral: ele necessita de tal
ajuda divina, ou seja da graça divina. Portanto, quando o homem procura viver retamente valendo-se
unicamente de sua próprias forças, sem ajuda da graça divina libertadora, então ele é vencido pelo
pecado.
Ideologia e alienação
Karl Marx (1818-1883), filósofo e economista alemão, elaborou o marxismo dialético com
Friedrich Engels. A análise política desenvolvida por eles se baseia na luta de classes, que em seu tempo
se configurava pelo confronto do proletariado com a elite econômica burguesa. Quando esteve na
Inglaterra, Marx conheceu de perto a situação deplorável do operariado, obrigado a trabalhar por longas
jornadas em oficinas insalubres e com baixa remuneração.
Segundo a teoria marxista, as ideias predominantes em uma sociedade devem ser compreendidas a
partir do contexto histórico em que surgem, porque derivam das condições materiais – no caso, das
forças produtivas dessa sociedade. As concepções filosóficas, jurídicas, éticas, políticas, estéticas e
religiosas da burguesia (super-estrutura) aparecem como universais e absolutas, mas são de fato parciais
e relativas, porque representam as ideias da classe dominante.
Marx chama de ideologia esse conhecimento que aparece de forma distorcida, ou seja, um
conhecimento ilusório que tem por finalidade mascarar os conflitos sociais e garantir a dominação,
impedindo que a classe submetida desenvolva uma visão de mundo mais universal e lute pela autonomia
de todos. Subjacente a essa teoria está a concepção de que o trabalho é a instância de liberdade do ser
humano, porque, na medida em que produz, o indivíduo se transforma. No entanto, para Marx, quando há
divisão de classes, há exploração, já que o trabalhador (infra- estrutura) sempre perde mais do que
ganha, porque ao produzir para outro a posse do produto lhe escapa. Nesse caso, é ele próprio quem
deixa de ser o centro de si mesmo. Não escolhe o salário, nem o horário, nem o ritmo de trabalho. É
comandado de fora, por forças que não controla. Com isso, passa a se estranhar, fica alheio a si próprio.
A esse fenômeno dá-se o nome de alienação.Com a ideologia dominante e a alienação, os indivíduos
tornam-se meios, mercadorias, e por isso perdem a dignidade. Acomodados em uma condição
subalterna, de início não percebem a força da ideologia que lhes é imposta. Surgem, então, grupos de
trabalhadores que chamam a atenção dos colegas para esse quadro e para a necessidade de mudá-lo.
O EXISTENCIALISMO
O existencialismo ou Filosofia da existência se impõe na Europa no período entre as duas
guerras que está dilacerada física e moralmente, e se expande por consequência disto, por vezes até se
tornar moda, nos dois decênios sucessivos à Segunda Guerra Mundial.
Diversamente das filosofias otimistas (como o idealismo, positivismo e o marxismo), o
existencialismo dirige sua atenção sobre um homem finito, ou seja, jogado no mundo, imerso e
dilacerado em situações problemáticas ou absurdas.
O existencialismo trata do homem em sua individualidade. É a existência é um modo de ser do
homem: é um poder-ser, um sair fora de si (do latim ex estire) para a decisão própria e
autodeterminação. Todas as coisas e os animais são aquilo que são por essência, mas o homem será o
que decidiu ser. Portanto: a possibilidade é o modo de ser constitutivo da existência. Esta existência é
aberta à transcendência, que, nas diferentes propostas dos pensadores existenciais, se configurará como:
Deus ou o mundo, a liberdade, ou o nada.
A raiz mais recente do existencialismo é a fenomenologia e mais remota é o pensamento de
Kierkegaard:
O existencialismo e a angústia de Sören Kierkegaard (1813-1855)
No século XIX, o filósofo dinamarquês Kierkegaard foi o primeiro a descrever a angustia como
experiência fundamental do ser livre ao se colocar em situação de escolha. Ele parte da perspectiva
cristã, porém diz que a fé não pode ser demonstrada e sim testemunhada.
Kierkegaard inova ao tratar do individuo considerado um ser único e irrepetível, não pode ser
eliminado ou anulado por nenhum sistema, e nem reduzido por nenhum conceito. O individuo (homem
enquanto espírito) é superior a espécie ou a essência. O animal tem uma essência e é determinado por
natureza. Mas o ser do individuo é a existência: o homem é aquilo que escolhe ser, existência é
possibilidade.
A existência é possibilidade, possibilidade é inclinação para o nada, por este motivo
possibilidade é angustia. A angustia caracteriza a situação humana frente ao mundo que se percebe fraco
e indeciso frente as possibilidades infinitas de autodeterminação. Kierkegaard afirma que quem vive no
pecado se angustia pela possibilidade do arrependimento, ou quem vive, tendo-se libertado do pecado,
vive na angustia de nele recair. Mas o importante é compreender que a anguistia forma pois ela destrói
todas as finitudes e ilusões.
Assim Kierkegaard afirma que o importante é aprender na escola da angustia saberá exaltar a
realidade tal como ela é em suas contradições.
A fé e a angustia se exemplificam nha história de Abraão, que em nome da fé em Deus, levanta o punhal
sobre o seu prório filho. Mas como faz Abraão para estar certo de que era realmente Deus que lhe
ordenava matar o filho Issac? Se aceitarmos a fé, como Abraão, então a autêntica vida religiosa aparece
em todo o seu paradoxo, já que a fé em Deus, que ordena matar o próprio filho, e o princípio moral, que
impõe amar o próprio filho, entram em conflito e levam o crente a ser posto diante de uma escolha trágica.
A fé é paradoxo e angustia diante de Deus como possibilidade infinita.
MATIN HEIDEGGER
Martin Heidegger (1889-1976), na obra Ser e o tempo usa o método fenomenológico para discutir e
elaborar uma teoria do Ser. Para tal, Heidegger parte da análise do ser do homem, que ele denomina
Dasein. Esta expressão alemã significa justamente o “ser-aí”, ou seja, o homem é um ser lançado no
mundo. O ser-aí não é a consciência separada do mundo, mas está numa situação dada, toma
conhecimento do mundo que ele próprio não criou e ao qual se acha submetid num primeiro instante.
Assim, além da herança biológica, o homem recebe a herança cultural que depende do tempo e do lugar
em que nasceu.
A partir do “ser-aí”, Heidegger demonstra a especificidade do ser do homem, que é a existência. Se o
homem é lançado no mundo de maneira passiva, pode tomar iniciativa de descobrir o sentido da
existência e orientar suas ações em direções as mais diversas. A isso se chama transcendência. No
processo, o homem descobre a temporalidade, pois, ao tentar compreender o seu ser, dá sentido ao
passado e projeta o futuro.
Tal passagem, porém, não é feita sem dificuldade, pois o homem, mergulhado na facticidade, tende a
recusar seu próprio ser, cujo sentido se anuncia, mas ainda se acha oculto. A angustia retira o homem do
cotidiano e o reconduz ao encontro de si mesmo. A angustia surge da tensão entre o que o homem é e
aquilo que virá a ser, como dono de seu próprio destino.
Do sentido que o homem imprime à sua ação, decorre a autenticidade ou inautencidade da sua vida. O
homem inautêntico é o que se degrada vivendo de acordo com verdades e normas dadas, a
despersonalização o faz mergulhar no anonimato, que anula qualquer originalidade. Ao contrário, o
homem autêntico é aquele que se projeta no tempo, sempre em direção do futuro. A existência é o lançarse contínuo às possibilidades sempre renovadas. Entre as possibilidades, o homem vislumbra uma,
privilegiada e inexorável: a morte. O ser-aí é um ser-para-a-morte. A máxima situação limite, que é a
morte, ao aparecer no cotidiano possibilita ao homem o olhar crítico sobre sua existência. É característica
de inautenticidade abordar a morte enquanto morte dos outros, evitando tematizar a própria finitude e,
portanto, nunca questionando a própria existência.
JEAN- PAUL SARTRE
Essência e Existência
A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA. Eis a frase fundamental do existencialismo
O que é essência? A essência segundo a tradição filosófica é o que faz que uma coisa seja o que é, e
não outra coisa.
Se concebermos a natureza humana diferente de outras coisas e animais, podemos dizer portanto que a
essência precede, ou existe antes da nossa existência concreta.
Não é essa posição de Sartre, posto que sendo ateu, não aceita a concepção de criação divina a partir de
um modelo. Por isso específica que o homem ao contrário das coisas e animais a existência precede a
essência.
Qual é a diferença entre o homem e as coisas? É que só o homem é livre. O homem nada mais do que o
seu projeto. A palavra pro-jeto significa, etimologicamente, ser lançado adiante, assim como sufixo ex da
palavra existir significa “fora” . Ora, só o homem existe porque o existir do homem é um “para-si” , ou
seja, sendo consciente, o homem é um ser-para-si pois a consciência é auto-reflexiva, pensa sobre si
mesma, é capaz de pôr-se fora de si. Portanto, a consciência do homem o distingue das coisas e dos
animais, que são em-si, ou seja como não são capazes de se colocar do lado de fora para se autoexaminarem.
O que acontece ao homem quando se percebe para-si, aberto à possibilidade de construir ele
próprio a sua existência? Descobre que, não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho,
seu futuro se encontra disponível e aberto, estando portanto irremediável condenado a ser livre. É o
próprio Sartre que cita a frase de Dotoiévski em Os irmãos Karamazov: “Se Deus não existe, então tudo
é permitido” , para relembrar que os valores não são dados nem por Deus nem pela tradição: só ao
próprio homem cabe inventá-los.
Se o homem é livre, é consequentemente responsável por tudo aquilo que escolhe e faz. A
liberdade só posui significado na ação, na capacidade do homem de operar modificações no real.
Sartre salienta que quando nos abstemos da responsabilidade por nossas escolhas, estamos agindo
segundo aquilo que denominou “má fé” da consciência, ou seja, estamos nos isentando de atentar para a
liberdade que temos à nossa inteira disposição, de graça. A má fé consiste em fingirmos não ser livres e
podermos então, debitar nossa infelicidade ou fracasso à causas externas a nós (os pais, o “inconsciente
freudiano”, o ambiente, a personalidade indômita etc). Sartre chama isso de covardia. Não sendo livres
para deixar de ser livres, estamos pois “condenados à liberdade”.
Esse “ser”, construído através daquilo que se escolhe (até mesmo quando não se escolhe já está se
escolhendo) pode ser explicitado também através da relação com os outros. Essa relação se dá pela
experiência do olhar, do corpo. O olhar do outro me objetiva, me torna real. O outro atesta minha
existência e isso instiga e inquieta. Desencadeia uma crise de aceitação pois só desejo ver refletido no
outro o melhor de mim mesmo. Porém, o outro enxerga mais do que gostaríamos, desconhece nossas
motivações interiores. Por isso afirma que “o inferno são os outros”.
Com base no que foi dito a respeito do existencialismo, poderíamos supor que Sartre defende o
Mas pelo
contrario o existencialismo é um humanismo porque em cada escolha livre do individuo ele
insere toda humanidade em sua escolha.
individualismo, em que cada um se preocupa somente com sua própria liberdade e ação.
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