Publicado no Jornal Cidade Viva em Abril de 2009 SER AUTÊNTICO Na sociedade moderna, cada vez mais impessoal e formatada por convencionalismos, perguntamo-nos: quem somos realmente? Compreende-se que, sem os efeitos educativos, fossemos uma pedra por lapidar, e entregues estaríamos às nossas pulsões primárias e actos irreflectidos e impulsivos. É por isso que, no decorrer do desenvolvimento humano, são gradualmente integradas as regras da educação e do ajustamento social, moldando a nossa personalidade e definindo o que poderá ser expresso, para com quem e onde. Tal resulta num abafar do nosso self verdadeiro, sem porém se pretender anulá-lo. Adoptamos um personagem ajustado ao contexto social, mas teríamos a capacidade de entrar e sair deste quando nos apetecesse. Mas nem sempre é assim. As pressões nas relações interpessoais, quer sejam familiares, profissionais ou sociais, invocam medos da espontaneidade, da expressão de uma vontade ou opinião próprias, de desagradar aos outros, e tornam-se coletes de força para muitas pessoas. Clinicamente, definem-se por graus os níveis de falso self, sendo o primeiro aquele que anulou por completo a representação do que é verdadeiro na personalidade da pessoa. Esta não conhece as suas referências ou identificações, os seus desejos, as suas características, porque não ousa pensar sobre isso, pelo que faz um ajustamento total ao que os outros determinam como certo ou aceitável. Em seguida, surgem os indivíduos que, apesar de saberem como são e que sentimentos produzem face ao mundo, fizeram uma promessa secreta de nunca o darem a conhecer, pelo pânico do que os outros possam fazer com isso, desde distorcer o seu verdadeiro significado, à incompreensão ou chacota. Depois situam-se aqueles que mantêm a autenticidade interiorizada e a deslocam para um futuro qualquer, noutro tempo ou lugar, onde seria possível ser livre e autêntico. Por fim, os falsos selfs derivados de identificações com grupos, algo frequente na adolescência, ou da educação e socialização. Consegue situar-se nesta escala? Paula Barbosa Psicóloga Clínica [email protected]