A IMPORTANCIA DAS SOCIOINTERAÇÕES FAMILIARES NA CONSTRUÇÃO DE TEXTOS ORAIS E NÃO-VERBAIS INFANTIS NO CONTEXTO ESCOLAR Ângela Maria Rodrigues Garcia, Bruna Kelly Mello Silva, Sara Aparecida da Silva, Anézio Cláudio Bernardes (Orientador) 1 UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba/FEA – Faculdade de Educação e Artes, Rua Tertuliano Delphin Júnior, nº 181, Jardim Aquarius, e-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo – Esta pesquisa tem como objetivos observar crianças de três a seis anos de idade, a fim de tecer considerações relativas às suas faixas etárias, para verificar a importância das sociointerações familiares na construção de textos orais e não-verbais, considerando a qualidade das interações sociais realizadas no âmbito familiar e o reflexo destas quando as crianças estão inseridas no contexto escolar. Foram observadas, por intermédios de questionamentos orais e sociointerações, oito crianças com idade entre três e seis anos, de uma escola da rede de ensino particular do município de São José dos Campos. Construiuse o referencial teórico a partir dos pressupostos de Vygotsky, Luria, Ferreiro e Teberosky, dentre outros autores. Palavras-chave: Sociointerações, família, textos orais, textos não-verbais, contexto escolar. Área do Conhecimento: Ciências Humanas (Educação) Introdução Metodologia A Teoria interacionista de Vygotsky (2002) aponta a importância das interações sociais, para a construção do conhecimento infantil, e, a partir dessa Teoria, Luria e Ferreiro (apud AZENHA, 1995), teceram considerações relativas a imagens e letras, Piaget (apud Azenha, 1995) estabeleceu os estágios de desenvolvimento, bem como as características infantis, de acordo com as faixas etárias da criança, conforme cada estágio em que ela se encontra. Já, Ferreiro e Teberosky (1985), embasadas nos pressupostos de Piaget apresentaram a Psicogênese da língua escrita. A partir dessas teorias, esta pesquisa delineou como objetivos observar crianças de três a seis anos de idade, a fim de tecer considerações relativas às suas faixas etárias, para verificar a importância das sociointerações familiares na construção de textos orais e não-verbais, considerando a qualidade das interações sociais realizadas no âmbito familiar e o reflexo destas quando as crianças estão inseridas no contexto escolar. Foram observadas - em uma das escolas da rede de ensino particular de São José dos Campos -, oito crianças, - por ocasião de seus ingressos no contexto escolar –, situadas em diferentes faixas etárias, conforme Tabela 1: CRIANÇAS FAIXA ETÁRIA 2 3 2 4 2 5 2 6 TABELA 1 – Crianças e respectivas faixas etárias Ressalta-se que esses alunos possuíam total capacidade de desenhar e de se expressar verbalmente. As entrevistas realizadas a partir da teoria proposta por Ferreiro e Luria no texto de Maria da Graça Azenha (1995). Posicionadas em um círculo, após as crianças relatarem os seus nomes e as suas idades, estabeleceu-se um diálogo, partindo-se de suas hipóteses relacionadas a desenho (texto nãoverbal), ocasião em que lhes foram propostos os seguintes questionamentos: XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 12345678- O que é desenho? O que pode aparecer nos desenhos? Com quem você desenha? Onde você desenha? Você desenha todos os dias? O que você gosta de desenhar? Você gosta de desenhar? Você tem vontade de copiar o desenho do seu amiguinho? Após esses questionamentos, foram lhes oferecidos folhas sulfites, lápis de cor, giz de cera e canetinhas de cores variadas e lápis grafite, e lhes solicitado, sem lhes apresentar nenhum modelo, que produzissem um desenho, livremente. Foi-lhes solicitado, a seguir, que comentassem as suas produções, e se haviam copiado algo de seus colegas para subsidiar essas suas produções. Resultados Dos oito alunos pesquisados, foi possível constatar que as crianças com três anos de idade apresentaram rabiscos, garatujas, desenhos animados, vistos na televisão; ou, então, desenham a mãe e/ou o pai; e gostam de desenhar deitadas no chão, com guache ou caneta hidrocor. Copiam desenhos dos colegas. As com quatro anos de idade declararam que gostam de desenhar o Sol e a sua família. Apontaram que preferem desenhar com a presença da mãe, no quarto ou na cozinha. As crianças com cinco anos de idade disseram que desenham do que gostam, e que gostam de fazer isso com a presença da mãe, pai e o(a) irmão (s). Acrescentaram que gostam de desenhar na escola, no quarto, ou na casa da sua avó (uma delas afirmou que a sua mãe não a deixa desenhar em sua casa, para manter o ambiente limpo). Utilizam caneta hidrocor, guache, ou lápis de cor. Têm autonomia, não se baseiam nos desenhos do colega, e apresentam uma produção mais variada, em que constam Sol, chuva, e “matinho”, dentre outros. Gostam que apreciem e elogiem as suas produções. Já, as crianças com seis anos de idade, preferem se isolar para produzir os seus desenhos; gostam de desenhar sobre a mesa/ disfarçadamente, olham os desenhos dos colegas, mas não os copiam; mantêm, em voz baixa, um intenso monólogo enquanto desenham; e como as com cinco anos de idade, também esperam elogios. É interessante citar que, em todas essas faixas etárias, as meninas as desenham com as suas respectivas mães e se preocupam com detalhes, os quais podem ser considerados característicos “do mundo feminino”, como, por exemplo: “laçinhos”, “florzinhas”, e “vestidinhos ornamentados”, dentre outros. Já, os meninos se atêm a protagonistas de desenhos animados, veiculados pela televisão, e desvinculados dos seus vínculos familiares. Das oito crianças observadas, cinco (três meninos e duas meninas), ao citarem que gostam de desenhar com a presença das mães, acrescentarem, em segundo plano, os seus pais; e apenas uma delas (uma menina) citou o seu irmão, mas deve-se considerar que desses oito alunos, apenas três possuem irmãos, os demais são filhos únicos. Discussão As pesquisas de Ferreiro e Lúria (apud AZENHA, 1995) foram realizadas com crianças pré-escolares que ainda não haviam sofrido influência escolar para que pudesse observá-las no seu estado mais puro. O caminho que a criança percorre desde que começa a deixar de ser bebê, por volta dos dois anos, até começar a se transformar em adulto, está relacionado a suas condições biológicas, assim como aquelas proporcionadas pelo ambiente em que vive. Durante seu processo de desenvolvimento, uma criança passa por etapas, e cada uma dessas etapas se caracteriza por diferentes aspectos, por exemplo, sua relação com o mundo físico e social, formas de agir e pensar e diferentes ritmos de desenvolvimento. No período de 2 a 6 anos, uma parte da identidade física, social e intelectual se constrói. Esse período é extremamente importante e decisivo para a sua relação com os adultos, com outras crianças e com o meio em geral. Essas relações são diferentes em cada momento do desenvolvimento infantil e em cada cultura e época. Por intermédio da relação com os outros, a personalidade vai se construindo pouco a pouco. Quando ainda bebê e não sabe falar, a criança tem seus pais e outros familiares como intérpretes dos seus desejos e necessidades. Aos adultos cabe descobrir essas necessidades e desejos, considerando os sons verbais, choros e inquietações do bebê. À medida que cresce, a criança aprende a falar, produzindo palavras que têm significado para ela e para as pessoas que a cercam. A produção dos vocábulos e os seus significados, bem como a dos objetos já conhecidos compõem a expressão e a capacidade que as crianças estão adquirindo de manifestar e representar os seus pensamentos por meio de símbolos. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 A imaginação, a palavra, o desenho, o brincar são novos instrumentos que a criança tem para se relacionar com o mundo físico e social. Eles permitem, por exemplo, que ela use suas experiências passadas para lidar com o presente e o futuro, criando suas próprias justificativas. Essa nova capacidade adquirida dota a criança de mais recursos intelectuais, mas essa nova capacidade não permite ainda formulação de conceitos mais amplos, mais abstratos e reais como conceitos de tempo, espaço, e casualidade que caracterizam o pensamento e a realidade dos adultos. Assim, as “teorias”, “crenças” e “filosofias” com que a criança procura compreender e explicar o mundo em que vive são produtos de um modo próprio da criança pensar, e, conforme a criança vai crescendo, sua relação com o mundo físico e social vai se transformar, deixando, assim, gradativamente, a atitude egocêntrica. Sendo assim, considerando as crianças que apontaram, nesta nossa pesquisa, que gostam de desenhar com a presença de suas respectivas mães - quer seja na sala, no quarto e/ou na cozinha de suas casas -, durante as sociointerações, produziam textos orais e nãoverbais com proficiência, não temiam se expor e respondiam aos questionamentos sem nenhum constrangimento, e até mesmo os garotos, atendose a desenhos de protagonistas televisivos, apresentavam tais características. Uma das meninas, a que declarou só poder desenhar na casa da avó, demonstrou que a presença desta supre, sem restrições, o que não lhe é concedido em seu lar, uma vez que essa criança demonstra autonomia, imaginação e criatividade, em suas produções textuais. de suas ações -, subjetividade, afetividade e, principalmente, autenticidade. Referências - AZENHA, Maria da Graça. Imagens e letra, os possíveis acordos de Ferreiro e Luria. São Paulo: Ática, 1995. DANIELS, Harry. Uma introdução a Vygotsky São Paulo: Ed. Loyola, 2002. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. Vol. 17, Coleção Polêmicas do nosso tempo. Universidade do Texas:Cortez, 1985. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2002. Conclusão Durante a realização desta pesquisa, estabelecemos diálogos com crianças de três a seis anos de idade, em um mesmo círculo, e, nesse contexto – espaço composto por crianças com idades diferentes -, pudemos propor questionamentos e atividades que nos subsidiaram - a partir dos pressupostos teóricos dos autores selecionados para a realização deste trabalho – a apontar que as interações familiares na construção de textos orais e não-verbais, dessas crianças, no âmbito familiar, são importantes para as sociointerações infantis quando as crianças são inseridas no contexto escolar, pois essas interações lhes propiciam agir com criticidade e autonomia em suas produções textuais orais e não-verbais, uma vez que, foi possível constatar que todas as crianças apresentam - tanto no processo quanto no produto XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3