1 DESCONSTRUÍNDO VELHAS ARMADILHAS: O QUE SABEM AS FAMÍLIAS DAS PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO. Lenise Maria Ribeiro Ortega Warlei Torezani Centro Universitário Newton Paiva Apoio: Centro Universitário Newton Paiva / Funadesp Esta pesquisa, realizada no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, objetivou identificar o conhecimento que as famílias das pessoas com necessidades especiais têm sobre as políticas públicas inclusivas. A hipótese de que as famílias das pessoas com deficiência não participam dos espaços de fomento dessas políticas de inclusão, logo desconhecem, na totalidade, a rede de atendimento e serviços que o Poder Executivo Municipal disponibiliza, se confirmaram nos dados coletados. Em conseqüência, há um comprometimento na garantia e na melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência. Nesta perspectiva, é essencial que o exercício social dos gestores de políticas públicas esteja sustentado por uma rede de ações, com foco na divulgação dos serviços oferecidos e na conscientização da participação das pessoas nos espaços de fomento. Palavras-chaves: Política de Inclusão; Educação Inclusiva; Política Pública. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO Ao pensar nas diferenças entre os homens, Bobbio (1997, p.25), relata que Rousseau, em seu “Discurso sobre as desigualdades entre os homens”, estabelece que existe, (...) uma diferenciação entre as desigualdades naturais (produzidas pela natureza) e as desigualdades sociais (produzidas pelas relações de domínio econômico, espiritual, político). Para alcançar os ideais igualitários seria necessário eliminar as segundas, não as primeiras, pois estas são benéficas ou mesmo moralmente indiferentes. No cenário onde estas diferenças se manifestam, o Brasil, em sua Carta Magna, Constituição Federal de 1988, estabelece que o social tenha primazia sobre o econômico. No entanto, ao observar a política praticada pelo Poder Executivo, percebe-se que são as políticas econômicas que vem tentando eliminar as desigualdades sociais. De uma forma geral, vemos no Estado (prefeitura, estado ou união) o representante legal da política, pois é este que tem a responsabilidade de garantir a ordem e a sobrevivências dos sujeitos que o compõe. Sendo assim, quando o Estado age para cumprir o seu papel, ele tem na política pública a forma de concretizar suas intervenções. Daí a importância da participação popular na fomentação destas políticas, pois a ação política tem momentos distintos: (...) o momento do consenso e o momento do conflito. No primeiro caso, o que está em jogo é a capacidade dos homens de estabelecerem acordos, através da fala, reforçando pontos de 2 identidade e assim traçando objetivos comuns. (...) No segundo caso, a ação visa à prevalência de alguns valores sobre outros. (ROCHA, 2001) Seguindo esta linha de pensamento, a política pode ser vista como tudo aquilo que envolve o poder, a tomada de decisões, com ações bem distintas ora para eliminar o diferente (momento do conflito), ora para conciliar os interesses (momento do consenso), tudo isto visando o viver em comunidade, numa relação entre o Estado e a Sociedade. Sendo assim, identificar o nível de participação das famílias das pessoas com deficiência nos espaços de discussão e elaboração das políticas públicas de inclusão é primordial para a diminuição ou até mesmo a eliminação das desigualdades sociais e garantir o cumprimento do direito de acesso e suprimento das necessidades sociais básicas do sujeito. Góes e Laplane (2004) apontam para a importância de se considerar o momento atual de transição de paradigmas, sem descartar as conquistas já consolidadas pelas pessoas com necessidades educacionais especiais e seus familiares, como o direito à educação escolar, à reabilitação e à assistência social. As autoras explicam que as estruturas existentes, frutos de investimentos anteriores, devem ser respeitadas porque representam um valor histórico indiscutível na complexa rede de relações que constituem o sujeito social. Isto significa dizer que é necessário um enfoque amplo e abrangente, com a implementação de políticas e desenvolvimento de novas ações que sejam capazes de ultrapassar os níveis atuais dos recursos institucionais. No entanto, as políticas sociais básicas, não podem cristalizar-se, tornando-as apenas em políticas sócio-econômicas, onde de forma compensatória, subsidia a inclusão, num formato assistencialista, tornando os sujeitos acomodados até onde podem ir (MAZZOTTA, 2001). Desta forma, ao contrário de diminuir as desigualdades sociais e a exclusão, as políticas públicas inclusivas estabelecem uma dinâmica social que apenas mantém tais desigualdades. No processo de manutenção da política pública de inclusão se faz necessário, não somente o conhecimento, mas também a participação da população. Além destes, há a necessidade do estabelecimento de indicadores qualitativos, pois a realidade das pessoas com deficiência não muda apenas com números. A participação da população, bem como dos usuários dos serviços específicos para o deficiente, é fundamental para a criação de controles sociais. Entende-se que a participação é local, assim como os problemas são locais, e o que é bom para uma esfera administrativa brasileira pode não funcionar muito bem em outra. Pensando na democracia como “a gestão das diferenças”1 e que a “busca de novos horizontes, firmados nas diferenças é que faz o carro da democracia andar”2 é importante ressaltar que, “A população não é homogênea, nem nas suas necessidades nem nas suas aspirações. A intervenção da prefeitura em seu território deverá respeitar as singularidades da população e do esforço onde 1 MANSUR, Márcia. Ex-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente; Professora PUC Minas, em Palestra “Políticas Públicas de Apoio Sócio-Familiar”. 2 MANSUR, Márcia. Idem. 3 vive e/ou trabalha. Para isso, é necessário estabelecer critérios que permitam formular, a partir de prioridades, objetivos e metas que promovam a qualidade de vida da população, mediante o acesso a bens materiais e imateriais disponíveis”.(JUNQUEIRA, 1998, p.11) Ao observar o cenário nacional, percebe-se que os municípios, de forma crescente, vêm contribuindo significativamente para a construção de um conjunto de políticas sociais e econômicas visando reverter um quadro de desigualdades e exclusão social. Sendo assim, para formular, propor e implementar uma política de atendimento eficaz, faz-se necessário a articulação da sociedade civil e das organizações de representação, uma vez que o poder executivo e seus servidores, são incapazes de implementar serviços que visam de forma integral a garantia e a efetivação dos direitos de cidadania das pessoas com deficiência. Segundo Sassaki (1999, p.12), (...) as pessoas portadoras de deficiência (com deficiência) e/ou suas organizações nos níveis local, nacional, regional e internacional, devem ser incluídas no processo decisório em todas as etapas de planejamento, implementação, monitoramento (supervisão) e avaliação de políticas e programas de atendimento à pessoa deficiente. A definição e apropriação do termo inclusão no fomento das políticas públicas “É sugerir à sociedade, juntamente com o Poder Público, adotar medidas que viabilizem o acesso, ingresso e manutenção das pessoas com deficiência aos/nos bens e serviços disponíveis. Tratase de uma mudança de atitude, por parte dos governos e da sociedade, no sentido de criar respostas adequadas às necessidades específicas de seus cidadãos”. (Planejando as Ações Públicas, 1998, p. 40) Ao definir a política pública, Melchior (2006, p.133) diz que, essa “pode ser definida como o conjunto das decisões ou não decisões, de ações ou omissões, destinadas à resolução dos problemas políticos, originários de demandas que brotam do meio social ou do próprio sistema político”. Neste contexto Rocha (2001, p.8) define que, “O princípio básico da política é o fato de que os homens são diferentes e necessitam uns dos outros para viver. É dessa constatação básica que a política surge como problema: se o homem é um ser social, se necessita relacionar-se com outros homens para viver e, ao mesmo tempo, difere de qualquer outro [...] O objetivo da política é, assim, o de processar as diferenças entre as pessoas e possibilitar uma vida comum”. Nesse sentido, é possível observar a importância da política na conciliação e garantia dos direitos básicos para a preservação do humano, na intenção de diminuir as desigualdades e a exclusão social. 4 A PESQUISA DESENVOLVIDA Com o objetivo de identificar o conhecimento que as famílias das pessoas com necessidades especiais têm sobre as políticas públicas inclusivas, mediante hipótese de que essas famílias não participam dos espaços de fomento de políticas públicas de inclusão do deficiente e por isso desconhece, na totalidade, a rede de atendimento e serviços que o Poder Executivo Municipal disponibiliza, os pesquisadores foram a campo coletar dados para análise. Primeiramente, antes de ir a campo, os pesquisadores fizeram um levantamento bibliográfico e estudo teórico e documental. Logo após esta etapa inicial, foi realizado um mapeamento dos serviços disponibilizados pelo município de Belo Horizonte, tendo em vista identificar um centro de atendimento que oferecesse condições de coleta de dados. Desse modo, elegeram-se as famílias atendidas pelo Centro Geral de Reabilitação, em Belo Horizonte, porque este é um centro de referência, gratuito e que atende pessoas das nove regiões administrativas do município. Do total de aproximadamente 100 famílias atendidas nesse centro, foram aplicados 30 questionários anônimos e aleatórios, composto apenas de questões fechadas. Os dados coletados foram tabulados e inicialmente analisados sob a perspectiva quantitativa. OS RESULTADOS OBTIDOS A tabela abaixo revela a idade dos deficientes atendidos no Centro Geral de Reabilitação de Belo Horizonte e a porcentagem correspondente de acordo com a faixa etária. Faixa Etária 0 a 2 anos e 11 meses 3 a 5 anos e 11 meses 6 a 11 anos Total Percentual Entrevistado 33,30% 20% 46,70% 100% O perfil sócio econômico das famílias beneficiárias dos serviços perfaz um universo de 46,65% com renda de um salário mínimo, sendo que 56,70% dos entrevistados têm o benefício continuado de um salário mínimo para o deficiente, amparado pela Lei Orgânica de Assistência Social, e que apenas 6,70% destas famílias tem renda entre três a cinco salários mínimos. Renda Familiar Mensal 60,00% 56,70% 40,00% 46,65% 46,65% 20,00% 6,70% 0,00% Benefício continuado INSS 1 salário mínimo 2 a 3 salários mínimo 3 a 5 salários mínimo 5 Na educação, apesar dos significativos avanços registrados em 2006 na Política Municipal de Educação, chamamos a atenção para o Programa Primeira Escola (crianças até 5 anos e 8 meses). Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Doxa3, esse Programa recebeu a aprovação de 95% das famílias dos usuários. Na Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, alunos com deficiência vêm sendo inseridos gradativamente nesse programa. Atualmente, são atendidos cerca de 1.500 alunos com deficiência4, com destaque para as matrículas na Educação Infantil e 1º Ciclo. Em relação à amostra dessa pesquisa, os pesquisadores, identificaram que apenas 46,70% das famílias pesquisadas têm seus filhos matriculados na escola. No entanto, chama-se a atenção para um dado significativo de 92,85% dos alunos com deficiência estão matriculados no ensino regular e destes 57,15% na Rede Municipal de Ensino, com apenas 14,30% na escola particular. Mantoan (2006) diz que fazer valer o direito à educação para todos não se limita a cumprir o que está na lei, mas que esse assunto merece um entendimento mais profundo da questão de justiça e que a escola justa e desejável não se sustenta apenas no fato dos homens serem e nascerem iguais. Para a autora é necessário igualar as condições de oportunidades e que, “a inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela deficiência/e ou dificuldade de aprender. Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada um.” (MANTOAN, 2003 p. 67) Inseridos na Escola 100,00% 92,85% 80,00% 57,15% 60,00% 28,55% 40,00% 14,30% 20,00% 0,00% Regular 3 4 Municipal Estadual BELO HORIZONE, Prefeitura Municipal. Principais Ações de Governo 2006 Idem Particular 6 No entanto, a inclusão da pessoa com deficiência, através de políticas públicas que visam à prática esportiva são restritas a aplicação de 0,34%5 do orçamento municipal ao desporto e ao lazer, sendo o Programa Superar, que visa incentivar a prática esportiva e estimular a participação de pessoas com deficiência em eventos esportivos, com destaque para o CRE-PPD (Centro de Referência Esportiva para Pessoas Portadoras de Deficiência), a única ação do município no atendimento desse público alvo específico. Devido à limitação dos recursos aplicados no ano de 2006 foram atendidos apenas 412 alunos no CRE-PPD e 2.200 pessoas em eventos, razão pela qual, possivelmente, 100% das famílias pesquisas desconhecem qualquer iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte na inclusão da pessoa com deficiência por meio da prática esportiva. Esta realidade se agrava ao se deparar com os resultados em que apenas 16,70% das pessoas com deficiências pesquisadas praticam esportes e mesmo assim, 80% desse público em instituições particulares e 20% em Ong’s ou projetos de escolas de ensino superior. Outro dado que merece consideração é uma das principais ações da Prefeitura de Belo Horizonte, desenvolvido pela Secretaria Adjunta de Assistência Social, o Programa Muriki. Este programa tem como objetivo buscar a inclusão social de crianças e adolescentes com deficiência, por meio de acompanhamento sócio-familiar, articulação da rede de atendimento, qualificação das famílias e dos profissionais da instituição, a fim de possibilitar o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Apenas 13,30% da população pesquisada têm conhecimento desse programa, sendo que destes somente 6,70% participou do programa e atualmente não participa mais. Segundo dados do próprio município, no ano de 2006 foram atendidas pelo Programa Muriki 2.016 famílias, numa capital que tem 14,5% (339.000) da população de pessoas com deficiência (Censo de 2000). Sendo que 32% dessa população são crianças e adolescentes, num total de aproximadamente 108.000 crianças e adolescentes. Na perspectiva da hipótese da pesquisa, um dos quesitos pesquisados é o dos direitos de cidadania, em que ao se aplicar os instrumentos de coletas de dados nas famílias pesquisadas, procurou-se descobrir a participação das famílias em alguma entidade organizada que discutiam ou defendiam os direitos das pessoas com deficiência. Como resultado a este item, 100% das famílias não participam de nenhuma entidade, apesar de manifestarem o desejo de se integrarem a alguma delas, julgando ser importante esse exercício de cidadania. Ao procurar saber quantas famílias conheciam o Conselho Municipal da Pessoa Portadora de Deficiência, apenas 10% dessas famílias haviam ouvido falar. Este é um órgão colegiado de caráter deliberativo e permanente que foi criado em 1995 pela Lei Municipal 6953 e é formado por 20 conselheiros efetivos e 20 suplentes, composto por representantes governamentais e da sociedade civil organizada. Tem como competência, conforme disposto em seu regimento interno, definir diretrizes e prioridades da política municipal da pessoa com deficiência, exercer o controle e a fiscalização da execução da política municipal de atendimento à pessoa com deficiência, entre outras. Logo, é um importante espaço de fomento e de controle das políticas públicas 5 Idem 7 implementadas no município, em que deveriam ser mais difundido a sua existência e atuação, junto à sociedade civil e poder executivo. Da mesma forma, os pesquisadores procuram saber junto às famílias, se elas sabiam da existência da Coordenadoria Municipal de Direitos da Pessoa com Deficiência, órgão que tem por competência elaborar, propor e coordenar as políticas municipais de direitos das pessoas com deficiência, implementando programas, serviços e ações afirmativas que visam à promoção e defesa dos direitos deste segmento da população, a superação das desigualdades, a eliminação da discriminação e a plena inserção na vida econômica, política, cultural e social do Município6. Além das competências acima citadas, a Coordenadoria de Direitos da Pessoa com Deficiência tem a responsabilidade de articular uma rede de entidades parceiras, integrando-as a diferentes esferas do Poder Público, organizações não governamentais e movimentos da sociedade civil organizada, com o objetivo de aprimorar as iniciativas voltadas para as pessoas com deficiência em Belo Horizonte. No entanto, após a tabulação dos dados coletados detectou-se que 100% das famílias pesquisadas desconhecem a existência desse órgão na estrutura administrativa de Prefeitura de Belo Horizonte. Da mesma forma procurou-se saber das famílias o que elas conheciam do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgão deliberativo, composto por representantes da sociedade civil e do poder executivo local. A sua principal função é a de definir diretrizes para a formulação das políticas públicas de atenção à criança e ao adolescente, construindo parâmetros que orientam a criação de projetos e programas pelo governo municipal. Do mesmo modo, procurou-se verificar se as famílias conheciam o Conselho Tutelar, órgão que atua na defesa e em casos de ameaça ou violação dos direitos das crianças e adolescentes, além de fiscalizar o cumprimento Estatuto da Criança e do Adolescente. A análise dos resultados mostrou que apenas 13,30% das famílias sabem da existência do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, enquanto que 96,65% conhecem o Conselho Tutelar. Nível de Conhecimento 100% 96,65% 80% CMPPD 60% CMDPD 40% 20% 0% 13,30% 10% 0% CMDCA CT's Estes dados permitem refletir sobre o nível de representatividade dos órgãos de fomento e fiscalização das políticas públicas municipais, bem como, 6 BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal de. Conforme disponível no portal www.pbh.gov.br 8 até onde eles estão inseridos na sociedade, uma vez que o Conselho Tutelar, devido a sua função, é eleito pela comunidade e atua diretamente junto ao seu público alvo. Portanto, ao se investigar sobre os serviços que estas famílias tinham acesso e se eles garantiam a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência, 93,30% responderam que sim, e 80% dos entrevistados classificaram como bom os serviços prestados. Mediante os resultados revelados pelas famílias de que houve melhoria na qualidade de vida da pessoa com deficiência e que essas famílias estavam satisfeitas com os serviços prestados, não se pode negar a existência de uma rede de atendimento para a população com deficiência. Entretanto, percebemse poucos investimentos na divulgação desses espaços, bens e serviços prestados, bem como a possibilidade de melhorar ainda mais a qualidade de vida do seu público alvo. CONSIDERAÇOES FINAIS O acesso à rede de atendimento e a participação das famílias nos espaços de fomentos faz com que as políticas sociais básicas, não venham cristalizar-se, tornando-as apenas em políticas sócio-econômicas. Caso contrário os serviços disponibilizados serão de caráter compensatório, subsidiando a inclusão, num formato assistencialista, tornando os sujeitos acomodados até onde podem ir (MAZZOTTA, 2001). Desta forma, ao invés de diminuir as desigualdades sociais e a exclusão, as políticas públicas inclusivas estabelecerão uma dinâmica social que apenas manterá tais desigualdades. A participação popular é fundamental para o estabelecimento de indicadores que visam à melhoria da qualidade de vida dos sujeitos público alvo do atendimento, uma vez que para as pessoas com deficiência a realidade não se muda apenas com dados estatísticos. No município de Belo Horizonte, para aqueles que têm acesso, a rede de atendimento é satisfatória e os resultados da pesquisa indicaram melhoria na qualidade de vida dos sujeitos, assim como, uma satisfação e aprovação dos familiares quanto aos serviços prestados pelo município. Porém, levando em consideração o perfil sócio-econômico das famílias pesquisadas, em que, 43,30% das pessoas possuem o ensino fundamental e 53,30% o ensino médio, com uma renda mensal de um salário mínimo para 46,65% dos pesquisados, pode-se perceber uma visão muito restrita da rede de atendimento. Na maioria dos casos, observou-se que o conhecimento dos serviços prestados se restringia apenas aos serviços de saúde. A não participação das famílias que participaram da pesquisa nos espaços de fomento e de fiscalização contribui para uma visão restrita dos direitos de cidadania, da assistência social numa perspectiva de garantia de atendimento às necessidades básicas do sujeito, bem como ao exercício pleno da cidadania, visando os direitos individuais e coletivos das pessoas com deficiência. Percebe-se que o investimento na divulgação dos bens, serviços e espaços de discussão política, fará com que a população venha ter acesso e conhecimento da rede de atendimento de forma integral, bem como, possibilitará uma democracia participativa e não apenas representativa. A inclusão precisa acontecer de fato, caso contrário, as pessoas com deficiências 9 excluídas sempre serão dependentes, vivendo uma vida pela metade (MANTOAN, 2005). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELO HORIZONTE, Prefeitura Municipal de. Principais Ações de governo 2006. Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação, Gráfica da Prefeitura, 2007. BOBBIO, N. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 3ª ed, 1997. BRASIL. MJ. SNDH. Planejando as Ações Públicas. Política Municipal para a Pessoa Portadora de Deficiência. Volume 4. Brasília: CORDE, 1998. GÓES, Maria Cecília Rafael de: LAPLANE, Adriana Lia Friszman. Políticas e práticas de educação inclusiva. Campinas: Autores Associados, 2004. JUNQUEIRA, Luciano A. Prates. Descentralização e Intersetorialidade: A construção de um modelo de gestão municipal. IN Revista de Administração Pública, v.32, nº. 2, pp 11-22. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1998. MAZZOTTA, Marcos J.S. Educação especial no Brasil: histórias e políticas públicas. 3ª edição. São Paulo: Cortez, 2001. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por que? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. __________.Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. Revista Nova Escola. Edição 182 / Maio, 2005. __________. Inclusão escolar: pontos e contrapontos / Maria Teresa Eglér Mantoan, Rosângela Gavioli Prieto; Valéria Amorim Arantes, organizadora. São Paulo: Summus, 2006. ROCHA, Carlos Vasconcelos. Idéias dispersas sobre o significado de políticas sociais. In: CASTRO, Maria da Consolação Gomes de, e MARQUES, Maria Elizabeth. Políticas públicas de apoio sociofamiliar. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2001, 7-41p. SASSAKI, Romeu Kazumi. 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