SOLUÇÕES PWC Luiz Albino Barbosa e Lara Moraes PRODUTIVIDADE: NA COMPETIÇÃO POR TERRAS, UMA SAÍDA PARA A PECUÁRIA A Luiz Albino Barbosa é Bacharel em Relações Internacionais pela FAAP, Mestre em Agroenergia pela Esalq-USP/Embrapa/FGV associado ao Nupri-USP, e Coordenador do Centro de Inteligência em Agronegócios da PwC Lara Moraes é Bacharel e Mestre em economia pela UNESP/ Araraquara e Analista do Centro de Inteligência em Agronegócios da PwC 90 disponibilidade de terras é um grande diferencial brasileiro no setor do agronegócio. A capacidade de expandir a área agricultável por meio do desenvolvimento das novas fronteiras agrícolas faz com que o Brasil tenha vantagens comparativas no mercado internacional. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil possui cerca de 106 milhões de hectares inexplorados e disponíveis para a agropecuária. No entanto, essa disponibilidade de espaço não exclui a concorrência por terras no Brasil. Segundo o Informa Economic FNP, o preço da terra no Brasil vem sofrendo valorizações, registrando um aumento de 227% nos últimos dez anos. É bastante visível a disputa entre empresas, produtores e investidores e, entre os setores do agronegócio, grãos, pecuária e outras culturas pelas melhores terras, localizadas próximas às plantas industriais e com fácil acesso às infraestruturas de escoamento. Neste contexto, grandes empresas de capital aberto, controladas por fundos estrangeiros ou por empresários nacionais de outros segmentos da economia estão se tornando importantes protagonistas no cenário de concorrência por terras no Brasil. De acordo com a pesquisa realizada pelo Valor Econômico, dez empresas com esse perfil já detém 1 milhão de hectares na nova fronteira agrícola brasileira, conhecida como MAPITOBA (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). Outro fator que fomenta a concorrência por terras é a obrigatoriedade do cumprimento das legislações ambientais. Com parte das propriedades sendo destinada para FEEDFOOD.COM.BR preservação permanente, a área produtiva diminui e a terra ganha ainda mais valor. Assim, a tendência é que a concorrência por terras impulsione, cada vez mais, os setores do agronegócio a buscarem ganhos de eficiência para alcançarem uma maior produção sem aumentar na mesma proporção área produtiva. Na pecuária extensiva, por exemplo, a introdução da Brachiaria nas pastagens foi um marco na atividade e no país. Esta forrageira impulsionou a pecuária no Cerrado e, entre 1975 e 2011, as áreas de pastagens foram reduzidas em 6%, passando de 166 milhões de hectares para 150 milhões. Neste mesmo período, o rebanho efetivo de bovinos dobrou, saindo de 102 milhões de cabeças para 204 milhões, sendo 180 milhões destinadas à bovinocultura de corte. A pecuária intensiva também ajudou nesse processo. Os confinamentos são resultado de uma maior tecnificação do setor e uma tentativa de obter mais carne por animal em uma menor área produtiva. A prática de confinar foi iniciada no Brasil na década de 60, com os animais sendo alimentados com os restos culturais das fazendas. Hoje, segundo a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon, Goiânia/ GO), mais de 3 milhões de cabeças estão confinadas no País. A competição por terras e as exigências do mercado, portanto, acabaram promovendo uma maior utilização de tecnologia pelos pecuaristas, como melhoramento genético, novas técnicas de manejo, vacinação, mineração e uso de forrageiras mais produtivas. O produtor tornou-se mais consciente sobre a importância do uso da tecnologia para melhorar o desempenho dos animais e o mercado consumidor mais rigoroso, exigindo segurança dos alimentos, com rebanhos mais saudáveis e bem tratados. No entanto, ainda há grandes desafios na busca por uma maior produtividade por hectare. Hoje, a estimativa é que 70% das pastagens brasileiras estejam degradadas, sendo que 35% apresentam um alto grau de degradação. Além disso, a taxa de renovação das pastagens, que gira em torno de 5%, ao ano é considerada baixa. Do lado da pecuária intensiva, a falta de gestão financeira e mão de obra qualificada prejudicam a rentabilidade dos produtores. Adicionalmente, ainda há muito espaço para o crescimento desta atividade, uma vez que ela representa menos de 2% da bovinocultura de corte no País. Técnicas de recuperação de solos degradados, introdução de pastejo rotacionado e sistemas integrados como “lavoura e pecuária”, “lavoura em função da pecuária” e “lavoura, floresta e pecuária”, podem ser a saída para o aumento da produtividade e da sustentabilidade do negócio. A melhor gestão operacional e de custos também são ferramentas fundamentais nesse processo. Por fim, a disponibilidade de terras é, sem dúvida, uma vantagem comparativa para o Brasil. No entanto, o aumento da produção apenas por meio da expansão da área em produção não é suficiente para manter a competitividade do Brasil no mercado internacional. A incorporação de novos conhecimentos, tecnologias, profissionalização e desenvolvimento de atitudes empresariais nos pecuaristas são igualmente importantes para aumentar a produtividade e a eficiência da pecuária brasileira, e do agronegócio como um todo. ■