Página 03
Página 04
Projeto Pecuária Integrada de Baixo
Carbono completa um ano
Conheça os participantes do projeto
Pecuária Integrada de Baixo Carbono
informativo
PECUÁRIA INTEGRADA
IN S T I T UT O C E N T R O D E V I D A ( I C V ) - A L T A F L O R E S T A / M T, A N O 0 1 , N Ú M E R O 0 1 , O U T U B R O D E 2 0 1 3 - W W W . I C V. O R G . B R
Boas práticas
são saída para
aumentar a
produtividade
na pecuária
Mais da metade dos pastos brasileiros sofre com algum grau
de degradação, mas técnicas de manejo simples e já bastante
conhecidas podem virar este jogo e ainda ajudam a conservar
florestas e rios
Uma fazenda em Minas Gerais dobrou seu rebanho sem aumentar o tamanho da propriedade; um pequeno
produtor de leite de Mato Grosso do
Sul triplicou a sua produção de leite
em apenas um ano; em Carlinda, 130
produtores melhoraram tanto sua produção que dobraram os ganhos por litro
de leite. Separados por muitos quilômetros de distância, estes pecuaristas têm
duas coisas em comum: recuperaram
suas pastagens e melhoraram a gestão
de suas propriedades. E ainda tiveram
um bônus: tudo isso feito com menos
impactos no ambiente.
Em Inocência, em Mato Grosso do Sul,
o produtor de leite Diorande Leal relata que
até 2012 a produção de sua propriedade
era de 80 litros de leite por dia. Atualmente, após a recuperação e melhoria das pastagens, ele chega a registrar 250 litros ao
dia, com o mesmo rebanho. Ele participa do
programa Mais Inovação, do Senar/MS, que
envolve mais 20 produtores de leite naquele estado. Entre os resultados do programa
também está o aumento da lotação animal
nas pastagens, que pulou de uma média de
0,4 cabeça por hectare para 1,5 a 2 cabe-
Seyr Rueles - Chapéu de Couro
2
ano 01 • outubro 2013 • nº 01
ças por hectare.
No município mato-grossense de Carlinda, uma
iniciativa que já dura oito anos, envolvendo dezenas
de pequenas propriedades, é um dos mais emblemáticos casos de sucesso de Mato Grosso. Partindo da
organização comunitária e da implantação de melhores técnicas de gestão da produção, a comunidade
criou o Centro Comunitário de Gestão Ambiental Integrada e conseguiu que os produtores passassem de
um rendimento de R$ 0,29 por litro de leite em 2005
para valores entre R$ 0,50 e R$ 0,70 em 2012.
Técnicas como divisão das pastagens em piquetes e
controle biológico de cigarrinhas melhoraram tanto a
qualidade das pastagens que foi possível recuperar as
nascentes e beiras de córregos sem afetar a produtividade do rebanho.
Em Minas Gerais, a Fazendo do Flor foi mais longe na inovação e adotou o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, sob orientação da Embrapa.
Entre junho de 2008, quando começou a implantar o
sistema, até dezembro de 2012, o rebanho pulou de
201 animais para 431 e a produção de leite passou
de 585 litros/dia para 1.562 litros/dia. E o mais impressionante é que eles conseguiram este resultado
reduzindo a área de pastagens destinada à produção
Mato Grosso tem
o maior rebanho
de gado bovino
do país. São
aproximadamente
29 milhões de
cabeças, quase
todas espalhadas
por cerca de
25 milhões de
hectares de
pastagens – o
sistema de criação
em confinamento
ainda é pouco
explorado no
Estado.
leiteira, o que possibilitou a diversificação da produção, com a inclusão de atividades de cria e recria e
mais a lavoura de milho, sorgo e soja além de uma
plantação de eucalipto.
Os três são exemplos inspiradores de que a pecuária
brasileira pode alcançar um patamar de produtividade
muito superior ao atual apenas recuperando as pastagens já existentes e melhorando as práticas de manejo
e gestão. A Embrapa calcula que mais da metade dos
180 milhões de hectares de pastagens do Brasil está
em algum estágio de degradação – e, numa boa parte
disso, o estágio de degradação está bem avançado.
Mato Grosso tem o maior rebanho de gado bovino
do país. São aproximadamente 29 milhões de cabeças, quase todas espalhadas por cerca de 25 milhões
de hectares de pastagens – o sistema de criação em
confinamento ainda é pouco explorado no Estado.
Parece um ótimo desempenho, mas a realidade do
campo mostra outro cenário. Em 2011, o Instituto
Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea)
divulgou uma análise sobre a morte súbita de pastagens com números assustadores. Naquele ano, mais
da metade dos produtores entrevistados pelo Imea
tiveram problemas com morte súbita de pastagens.
O prejuízo foi calculado em R$ 3 bilhões para a economia do Estado.
Virando o jogo
A degradação das pastagens e a baixa produtividade da pecuária – a lotação média é de 0,97 unidade
animal por hectare, mas em muitos lugares, não chega
a 0,50 – são fonte de preocupação com o futuro da
pecuária brasileira e em Mato Grosso. Mas a estratégia
para virar este jogo já existe e não exige nenhuma nova
tecnologia altamente sofisticada – bastam adotar as
boas práticas agropecuárias e melhorar a gestão dos
recursos disponíveis nas propriedades.
É isso que mostra o projeto Pecuária Integrada de
Baixo Carbono, realizado pelo Instituto Centro de Vida
e parceiros em Alta Floresta, território Portal da Amazônia. A inciativa envolve 10 proprietários rurais que
toparam implementar as boas práticas em suas propriedades tendo como base técnica o Manual de Boas
Práticas Agropecuárias da Embrapa Gado de Corte. Foram implantadas Unidades de Referência Tecnológica
de recuperação e manejo de pastagens, com intuito de
mostrar na prática o funcionamento de um sistema de
pecuária intensificado a pasto.
A ideia é aplicar e ajustar as práticas de acordo
com o ambiente e perfil dos produtores de Alta Floresta e, a partir disso, divulgar os resultados através de
oficinas, seminários e dias de campo na região. Para
completar, técnicos locais e regionais estão sendo capacitados para aplicar as tecnologias que envolvem as
boas práticas agropecuárias, com apoio da Embrapa.
informativo pecuária integrada
Dentro desse conjunto, a questão ambiental, como a recuperação de nascentes e de
áreas degradadas também é importante, pois a água é um elemento fundamental
para a boa manutenção desse sistema.
“A grande mensagem em torno da pecuária integrada de baixo carbono é melhorar o uso e ocupação do solo com menos impacto sobre os recursos naturais, principalmente, florestas, solo e água, buscando o aumento da produtividade e renda”,
explica Vando Telles, coordenador do projeto no ICV.
O projeto começou em 2012 e já realizou várias atividades de capacitação e mobilização dos produtores. Foi realizado um minucioso diagnóstico de cada propriedade, uma radiografia identificando aspectos relacionados a pastagem, instalações
rurais, infraestrutura, maquinário, funcionários, rebanho, suplementação alimentar,
entre muitos outros. O diagnóstico serve para orientar a adaptação das técnicas para
o perfil e a necessidade de cada produtor. Também foi feito um projeto de viabili-
ano 01 • outubro 2013 • nº 01
3
dade técnico-econômica de todas as 10 propriedades
para os próximos três anos. Ao longo deste primeiro
ano, já é possível colher alguns bons resultados que
serão conhecidos nas próximas edições deste boletim.
Seyr Rueles, mais conhecido como Chapéu de
Couro, que mora em Alta Floresta há 37 anos, diz que
a pecuária está vivendo um momento em que é preciso decidir: ou melhoram as práticas ou a atividade
será sinônimo de prejuízo ano após ano. “Não dá mais
para fazer as coisas como há 20, 30 anos atrás. A
realidade mudou e precisamos evoluir com ela”, diz o
pecuarista, proprietário da Fazenda Peniel, onde está
uma das unidades de referência do projeto, com área
de 33 hectares.
Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono completa um ano
Em julho deste ano o Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono completou um ano. O feito foi celebrado com um dia de campo na Fazenda Paraíso, de
Aldo Danetti, em Alta Floresta. Lá foram apresentados os primeiros resultados da
Unidade de Referência Tecnológica (URT) em recuperação e manejo de pastagem
da propriedade.
Durante o dia de campo, foram apresentados dados sobre o desempenho da
URT neste primeiro ano e abordados temas como a importância de se fazer um
planejamento para suplementação alimentar durante o período de seca, quando o
capim tem uma queda significativa de produção e proteína.
Eduardo Florence, analista de pecuária sustentável do ICV, e os consultores
Fabiano Alvim Barbosa e Filipe Lage Bicalho, expuseram vários indicadores da
produtividade alcançada em seis meses de aplicação
das BPAs nessa propriedade.
“Com o trabalho efetuado e os esforços para aplicar as boas práticas, a produtividade da URT está em
crescimento e, em pouco tempo, poderá amortizar o
investimento efetuado”, disse Fabiano Alvim.
Outro objetivo complementar do dia de campo,
segundo Eduardo foi a integração dos parceiros e
equipe do projeto. Nessa forma de rodízio das visitas
nas propriedades, é possível ampliar a percepção de
desenvolvimento do projeto de forma coletiva, fortalecer essa visão de grupo e possibilitar que cada um
dos produtores possam ver como estão os avanços
nas outras propriedades. Ver na prática as soluções
encontradas para problemas comuns, é a conversa
informal dentro da propriedade.
Olhando para as pastagens ainda verdes em plena estação seca, o pecuarista Aldo disse que está
muito satisfeito com os resultados alcançados. “O
gado está mais tranquilo, mais saudável e continua
ganhando peso em período de seca. Isso graças aos
conselhos dos técnicos e aos esforços que fizemos”,
disse. Ele explica que a experiência realmente vale
a pena, mas que é necessário um investimento sério
e muito trabalho.
Resultados
De janeiro a junho 2013, a taxa de lotação na URT da Fazenda Paraíso teve uma
média de 3,22 Unidade Animal (UA) por
hectare (ha), com uma produtividade de 10
arrobas por hectare no período de 156 dias.
Isso corresponde a uma média de ganho de
peso diário de mais de meio quilo por animal,
somente a pasto e sal mineral. O resultado é
três vezes maior do que a média estadual,
que tem uma taxa de lotação de 0,76 UA/ha
com uma produtividade de 3,36 arrobas/ha/
ano (dados do Instituto Mato-grossense da
Economia Agropecuária – Imea).
Já, em outra propriedade parceira do projeto que desenvolve a atividade leiteira, a situação é similar: no mesmo período avaliado
foram produzidos na URT do Sítio Santa Luzia 4.151 litros (L) por hectares e uma taxa
de lotação média de 3,11 UA/ha, enquanto
a média de Mato Grosso é de 1.143 L/ha/ano
e a taxa de lotação é de 0,76 UA/ha (dados
da Federação da Agricultura e Pecuária do
Mato Grosso – Famato). A meta estabelecida
no projeto é atingir uma produtividade de 20
arrobas por hectare ao ano nas propriedades
de corte e 7 mil litros por hectare ao ano nas
propriedades de leite.
informativo pecuária integrada
4
ano 01 • outubro 2013 • nº 01
O Projeto
O projeto Pecuária Integrada de Baixo
Carbono tem como objetivo contribuir para
desenvolver uma agenda de municípios
sustentáveis por meio da implantação de
um programa de Boas Práticas Agropecuárias com ênfase em uma economia de baixa
emissão de carbono. O projeto é desenvolvido pelo ICV, com apoio do Fundo Vale e
da Fundação Moore e tem como parceiros
a Embrapa, o Sindicato Rural e a Prefeitura
Municipal de Alta Floresta.
A estrutura do projeto é composta por
seis grandes eixos de atividades:
• seleção de 10 propriedades onde serão
propostas ações de Boas Práticas e implantadas Unidades de Referência Tecnológica
em recuperação e manejo de pastagens
• sistematização e divulgação dos resultados através de oficinas, seminários e dias
de campo
• capacitação de técnicos locais e regionais
na adoção das Boas Práticas Agropecuárias,
realizado em parceria com a EMBRAPA
• recuperação de Áreas de Preservação Permanente degradadas com a sistematização
dos resultados e a proposição de um modelo comum de monitoramento
• fomentar o acesso às fontes de financiamento do Plano de Agricultura de Baixo
Carbono (ABC), através de apoio para elaboração de projetos
• fortalecimento da cadeia produtiva buscando a valorização dos produtos
Conheça os participantes do projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono
Vilson Wittmann
Ailton Piloni
Melhorar a lucratividade da pecuária. Foi com esse objetivo que
Ailton Piloni ingressou no projeto. Depois de trabalhar muito tempo
no vermelho, o pecuarista conseguiu adequar o manejo da propriedade, melhorar a pastagem e reflorestar áreas de sua propriedade.
Há 13 anos o paranaense deixou para trás uma pequena indústria de plásticos em Curitiba, no Paraná, e se mudou para Mato
Grosso para dar aos dois filhos, ainda pequenos na época, uma vida
longe dos problemas das grandes cidades. Com o que economizou
no Paraná, Piloni investiu na criação de gado de corte.
Com auxílio do projeto, Piloni conseguiu melhorar a eficiência
produtiva de sua propriedade, na área onde foi implantada a URT
foi possível colocar na média 115 cabeças do rebanho total de 500
cabeças. Outra estratégia adotada pelo produtor é a suplementação
do gado no período da seca, nessa época o capim perde o vigor e
essa técnica contribui para que os animais não percam peso.
O projeto tem ajudado o pecuarista a se adaptar melhor à atividade. “Tenho conseguido aumentar a produção sem desmatar áreas
e inclusive realizando o seu reflorestamento”, ressalta.
Tudo anotado na ponta do lápis. Depois de começar a participar
do projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono, do ICV, a gestão da
propriedade de Vilson Wittmann passou a ser assim, com tudo mais
organizado e registrado. ”Antes a gente não anotava nada, comprava
sem programar, agora tem orientação”.
Dos atuais 50 hectares de sua propriedade, seis são utilizados na
Unidade de Referência Tecnológica (URT) do projeto. Em sua propriedade familiar, vivem e trabalham sua a mulher, os dois filhos do casal,
o pai e a mãe de Vilson.
Há 27 anos Vilson saiu de Capitão Leônidas Marques, no Paraná,
para trabalhar no garimpo em Paranaíta, em Mato Grosso. A liberdade
de ser seu próprio patrão foi o que o motivou a comprar, em 1990, um
pedaço de terra para plantar café. Três anos mais tarde mudou para
o gado leiteiro, mais lucrativo. Com a atividade, trabalha em família e
consegue estar em casa todos os dias.
Depois de um ano participando do projeto, tem conseguido a mesma produção o ano todo, mesmo no período da seca. A sombra para
o gado veio do eucalipto, plantado com a orientação do projeto, que
também incentiva a integração pecuária-floresta.
Expediente
Informativo Pecuária Integrada - Textos: Gisele Neuls e Raíssa De Deus Genro. Edição: Daniela Torezzan. Projeto Gráfico e Editoração: Robson Macedo. Distribuição Gratuita
Realização
informativo pecuária integrada
Apoio
Parceiros
Download

Boas práticas são saída para aumentar a produtividade na pecuária