IX Taller Internacional de Software Educativo TISE 2004 O ensino de Matemática a Distância: usando tecnologia para motivar os alunos Rosana Giaretta Sguerra Miskulin, IGCE/UNESP Universidade do Estado de São Paulo, Rio Claro, SP, Brasil [email protected] Mariana da Rocha Corrêa Silva, Mauro Sérgio Miskulin, Joni de Almeida Amorim Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil [email protected], [email protected], [email protected] ABSTRACT An all-purpose delivery service, the Internet may soon become a universal globalized low-cost system for delivering all kinds of information to every connected person. The everomnipresent Internet is shaping the way we will lifelong learn creating, enabling, delivering and/or facilitating the learning process. In the case of Brazil, the Information Society Program has started in December of 1999 with a huge initial investment in order to insert the Brazilian society in the globalized information era. In reality, just recently Brazil started to define how distance education and computer-based learning should work. The SEED distance education office represents the intent of the Brazilian government of investing in new technologies for distance education as a possible way to increase the quality of education while democratizing the access to it. Some of the projects developed by SEED are PROFORMAÇÃO, PROINFO, TV ESCOLA and PAPED. Projects like the ones developed by SEED are already affecting the way Mathematics, Science and other disciplines are taught in many Brazilian schools like the American School of Campinas (EAC - “Escola Americana de Campinas”). Focusing on the K-12 interaction with Engineering Education, this paper initially describes some relevant Brazilian initiatives. Later, the paper describes how technology is being used in the over mentioned school to motivate students in their classes to pursue careers in areas like Mathematics, Science and Engineering. Index Terms e-Learning, Internet, K-12, Mathematics RESUMO A Internet pode transformar-se em pouco tempo em um sistema universal globalizado para entregar todo o tipo de informação às pessoas conectadas. Hoje a Internet está delineando novas formas de aprender, criar, ensinar e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. No Brasil, iniciouse em dezembro de 1999 um grande investimento para inserir a sociedade brasileira neste sistema globalizado. Na realidade, somente recentemente o Brasil vem definindo a melhor forma de trabalho no campo da educação a distância via Internet. A Secretaria de Educação a Distância (SEED) está investindo em novas tecnologias para e-learning como um possível caminho para a democratização da educação de qualidade. Alguns dos projetos desenvolvidos pela SEED são PROFORMAÇÃO, PROINFO, TV ESCOLA and PAPED. Projetos como este já estão causando efeito no ensino de Matemática e Ciências, entre outras disciplinas, como por exemplo o trabalho que foi realizado na Escola Americana de Campinas – EAC. Tendo como foco o Ensino Fundamental e Médio, este artigo inicialmente descreve algumas iniciativas Brasileiras relevantes e posteriormente descreve como a tecnologia está sendo utilizada na EAC para motivar os alunos a se interessarem e pesquisarem sobre carreiras nas áreas de Matemática, Ciências e Engenharia. Palavras-chave Educação a Distância, Internet, Ensino Fundamental e Médio, Matemática INTRODUÇÃO Educar em uma Sociedade da Informação é muito mais do que “treinar” indivíduos no uso das novas tecnologias; trata-se de formá-los para “aprender a aprender” de forma a prepará-los para a contínua e acelerada transformação do conhecimento tecnológico (MISKULIN, 1999). A convergência do conhecimento tecnológico que o Brasil e o mundo experimentam neste momento decorre do fato de se poder representar e processar qualquer tipo de informação de uma única forma, a digital. A educação via Internet compatibilizase com esta convergência, seja através do oferecimento de uma educação com materiais de ensino, totalmente dirigidos à Internet, seja como apoio aos cursos presenciais. O uso crescente de computadores no trabalho e o crescimento cada vez mais rápido das funções relacionadas ao uso de tecnologia faz com que a alfabetização em computação (literate computer1) se torne prioritária na formação educacional do cidadão. Simonson et al. (1997), buscam as palavras de Luehrmann (1984) quando este esclarece que: MEMORIAS TISE 2004 167 Santiago, Chile • 1, 2 y 3 Diciembre 2004 “Para dizer a um computador o que você quer que ele faça, você deve ser capaz de se comunicar com ele. Para fazer isso, você necessitará aprender uma linguagem de programação para escrever suas idéias então você pode revê-las, mostrá-las a outros e melhorálas. (…) Se você pode dizer ao computador como fazer as coisas que você quer, você é “literate computer”. Se você não pode, você terá que depender de outros para comunicar suas necessidades para a máquina.” (Luehrmann2, citado por Simonson et al., 1997, p.106) Assim, uma exposição precoce às tecnologias de informação e comunicação é hoje vista como fundamental para a preparação de uma força de trabalho integrada à realidade da era da informação. Como se caracteriza um trabalhador na era da informação? Os trabalhadores da era da informação são os cientistas de computação, os administradores de bancos de dados, os engenheiros de computação, os analistas de sistema, profissionais de saúde que operam computadores dedicados ao diagnóstico de doenças, cientistas que utilizam a Internet e os computadores em suas pesquisas, professores que utilizam as novas tecnologias para ensinar, fazendeiros que utilizam recursos de sensoriamento remoto para prever as condições do tempo, entre outros. Enfim, os trabalhadores da era da informação são aqueles que utilizam os recursos das tecnologias de informação e comunicação (TICS)3 em seu trabalho cotidiano. Sabe-se que, com a introdução, disseminação e apropriação das tecnologias de informação e comunicação (TICS) em nossa sociedade, tem havido uma utilização maior da Informática e da automação nos meios de produção e de serviços, gerando novos comportamentos e novas ações humanas. Tal cenário exige e necessita um novo perfil de trabalhador. Nesse sentido, pode-se ressaltar o processo cada vez mais disseminado da automação nas linhas de montagens de automóveis; da automação nos processos de fabricação de aparelhos O termo “literate computer” traduzido para a Língua Portuguêsa significa uma pessoa alfabetizada em computação. 1 2 LUEHRMANN, A. (1984) The best way to teach computer literacy. Eletronic Learning, 3 (3), 37-42, 44. 3 TICS – Tecnologias da Informação e Comunicação – Essa terminologia passa a ter um significado abrangente, popularizado na década de 90, utilizado para referenciar as tecnologias requeridas para o processamento, conversão, armazenamento, transmissão e recebimento de informações, bem como, o estabelecimento de comunicações pelo computador. A terminologia: TICS resulta da fusão das tecnologias de informação, antes referenciadas como Informática e as Tecnologias de Comunicação, referenciadas anteriormente como telecomunicações e mídia eletrônica. As TICS envolvem a aquisição, o armazenamento, o processamento e a distribuição da informação por meios eletrônicos e digitais, como rádio, televisão, telefone e computadores, entre outros. – Essas concepções foram obtidas através de sites sobre o tema na Internet e também da pesquisa de Doutorado de Maria Cecília Martins a ser publicada e que está sendo realizada no Núcleo de Informática Aplicada à Educação – NIED /UNICAMP. 168 MEMORIAS TISE 2004 eletrônicos; da informatização dos sistemas bancários; dos sistemas informatizados das companhias aéreas, em seus mais variados serviços, entre outros. Tais ambientes exigem uma nova formação do cidadão, um novo perfil do trabalhador com um nível qualificado de informação, com conhecimento crítico, criativo e mais amplo, resultando em condições que lhe permitam integrar-se plena e conscientemente nas tarefas que, possivelmente, desempenhará em sua profissão e em sua vida. Nessa perspectiva, qual seria a função da Educação e da escola nesse contexto? A Educação deveria proporcionar a formação plena e integral do sujeito, formar indivíduos críticos, conscientes e livres, possibilitando-lhes o contato com as novas tecnologias, para que eles não percam a dimensão do desenvolvimento tecnológico que perpassa o país. Além disso, deveria procurar estratégias que minimizassem a fragmentação acadêmica que aceita o desvinculo entre o trabalho e a produção, o cognitivo e o afetivo, entre o individual e o social, buscando um novo paradigma educacional. Assim sendo, os educadores, devem estar abertos para essas novas formas do saber humano, novas maneiras de gerar e dominar o conhecimento, novas formas de produção e apropriação do saber científico, isto se não quiserem ficar estagnados em métodos de ensino e teorias de trabalho obsoletos (MISKULIN, 1999). Neste contexto, o educador matemático assume um papel fundamental, na medida em que compatibiliza os métodos de ensino e teorias de trabalho com as tecnologias de informação e comunicação, tornando-as partes integrantes da realidade do aluno. Com essas perspectivas, esse artigo aborda aspectos teóricometodológicos sobre a inserção da tecnologia no processo educacional, apresentando uma pesquisa que está sendo realizada em uma escola de Campinas, a qual investiga as possibilidades pedagógicas de um ambiente computacional para Educação à Distância – TelEduc4, além de outros ambientes específicos para Matemática, na exploração, disseminação e representação de conceitos de Matemática, Ciências e Engenharia, ressaltando dimensões como: a interatividade dos alunos inseridos em uma plataforma de educação à distância, a “presença social” - o aluno sentirse socialmente integrado em uma comunidade virtual de aprendizagem matemática e a aprendizagem colaborativa e sua potencialidade na constituição do conhecimento, incentivando os alunos a conhecerem melhor as carreiras relacionadas à Matemática, Ciência e Engenharia. Justifica-se essa pesquisa pela pequena quantidade de trabalhos realizados em Educação Matemática no Brasil e suas inter-relações com as tecnologias de informação e comunicação. A EDUCAÇÃO EM MATEMÁTICA E ENGENHARIA E AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS) ERNEST (1991), ao discorrer sobre novas tecnologias, postula que o mais importante desenvolvimento dos anos 80 para o ensino da Matemática tem sido o avanço e a disseminação dos IX Taller Internacional de Software Educativo TISE 2004 novos produtos produzidos pela Tecnologia. Esses produtos incluem calculadoras eletrônicas, microcomputadores e sistemas de vídeos interativos, assim como, gravadores, robôs programáveis, como a tartaruga, e outros dispositivos. A influência desses produtos no currículo de Matemática pode ser avaliada tanto no conteúdo quanto nas maneiras pelas quais se processam o ensino e a aprendizagem. Assim, o impacto de novas tecnologias no conteúdo do currículo de Matemática, através da adoção universal de novos produtos, especialmente da calculadora eletrônica e do computador, faz com que a Educação dos tempos modernos exija uma nova dimensão do conhecimento e da competência dos alunos na utilização desses recursos, especialmente nas aulas de Matemática. As funções desses novos recursos tornam o currículo tradicional de Matemática obsoleto e ultrapassado. Com calculadoras eletrônicas e softwares computacionais, números inteiros, frações e cálculos decimais não precisam ser “tratados à mão”. novas formas de atuação que levem em conta a inserção e disseminação das tecnologias da informação e comunicação (TICS) no processo educativo. Nessa perspectiva, recorre-se a D’AMBROSIO (1990), quando ele explicita a importância da utilização de computadores no contexto educacional. Conforme suas palavras: As novas tecnologias requerem uma nova ênfase no currículo. Este deve oferecer condições para que os alunos se sintam capazes de interpretar e verificar resultados numéricos, tabelas e gráficos, de pensarem “proceduralmente”, de descrever e depurar programas. O outro aspecto relacionado às novas tecnologias, enfatizado pelo referido autor, diz respeito às maneiras de ensinar e aprender Matemática. Com a calculadora e o computador na sala de aula, o professor transforma-se em mediador do processo educativo. Embora esses equipamentos possam ser usados de diferentes maneiras, esses novos recursos eletrônicos encorajam uma abordagem exploratória para a aprendizagem da Matemática. Os melhores exemplos de softwares e de vídeos interativos são projetados para propiciar o desenvolvimento da criatividade e do raciocínio. Programar computadores em Basic, Logo, Prolog, ou outra linguagem computacional é uma atividade que requer diferentes estratégias de resolução de problemas. Ernest, em defesa da utilização das novas tecnologias em Matemática, conclui, dizendo que: “A escola, em particular a sala de aula de Matemática, é o lugar no qual as crianças precisam ser preparadas para o mundo de amanhã, especialmente nos aspectos tecnológicos.” (ERNEST, 1991, p.13). Analisando as palavras acima, constata-se que muitas escolas brasileiras não têm cumprido a função de preparar os alunos para o mundo tecnológico, que não é mais uma abstração intelectual, mas uma realidade que se impõe, cada vez mais intensamente, e que se deve enfrentar, refletindo e remodelando as formas de se ensinar Matemática, adequandoas às exigências da sociedade informatizada. Assim, deve-se procurar criar ambientes de aprendizagem, com recursos tecnológicos disponíveis aos alunos, e, acima de tudo, com uma proposta pedagógica atualizada que leve em conta os avanços da tecnologia. Nesse sentido, a função do professor torna-se extremamente importante, ou seja, mediar o processo ensino/aprendizagem no contexto tecnológico, requer Assim, a Matemática deve ser mediada, não por modelos obsoletos, que não contribuem de modo significativo para o desenvolvimento e transformação do indivíduo, mas por metodologias alternativas em que o ser em formação vivencie novos processos educacionais, que façam sentido e tenham relação com a sua integração na sociedade. Sem uma educação matemática, com qualidade, a criança ou o jovem talvez não tenha oportunidade de crescer no saber matemático, saber esse, importante para sua qualificação profissional em qualquer área. Desse modo, o saber matemático deve ser vivenciado no contexto tecnológico, se assim não for, inferese que a exploração, pelos alunos, das possibilidades inerentes ao desenvolvimento científico e tecnológico que perpassam a sociedade estará cada vez mais restrita. 4 http://teleduc.nied.unicamp.br/~teleduc/ “Creio que um dos maiores males que a escola pratica é tomar a atitude de que computadores, calculadoras e coisas do gênero não são para as escolas dos pobres. Ao contrário: uma escola de classe pobre necessita expor seus alunos a esses equipamentos que estarão presentes em todo o mercado de futuro imediato. Se uma criança de classe pobre não vê na escola um computador, como jamais terá oportunidade de manejá-lo em sua casa, estará condenada a aceitar os piores empregos que se lhe ofereçam. Nem mesmo estará capacitada para trabalhar como um caixa num grande magazine ou num banco. É inacreditável que a Educação Matemática ignore isso. Ignorar a presença de computadores e calculadoras é condenar os estudantes a uma subordinação total a subempregos.” ( p.17). Explorar as possibilidades tecnológicas, no âmbito do contexto ensino/aprendizagem deveria constituir necessariamente uma obrigação para a política educacional, um desafio para os professores e, por conseguinte, um incentivo para os alunos descobrirem, senão todo o universo que permeia a Educação, pelo menos o necessário, nesse processo, para sua formação básica, como ser integrante de uma sociedade que se transforma a cada dia. Nessa mesma linha de raciocínio, NOSS, et al. (1996), referem-se à importância da utilização da Tecnologia na Matemática, enfatizando que: “… o computador tem desempenhado uma parte central em nossa estória. Ele tem oferecido uma “janela” em direção aos caminhos pelos quais o aprendizado matemático, pode se tornar descentralizado e apreciado como uma parte da realidade social e cultural, mais do que somente, habilidades isoladas “desconectadas” da vida real. O computador tem acrescido as possibilidades de raciocínios de ambientes matemáticos de aprendizagem, nos quais a interação e a compreensão são mutuamente construtivos. Mudança real envolverá uma mudança em culturas, uma “reconexão” dos papéis funcionais e culturais da Matemática. Acreditamos que o computador possa ser um agente de “reconexão”, não um determinante de mudanças em si mesmo.” (Noss, et al., 1996, p.256). MEMORIAS TISE 2004 169 Santiago, Chile • 1, 2 y 3 Diciembre 2004 Caberia, então aos professores-educadores da área de Educação Matemática proporcionar contextos favoráveis para que o processo educativo tomasse uma outra dimensão, uma dimensão atual, mais inovadora compatível com os avanços da ciência e da tecnologia. Decorre daí a importância da pesquisa que ora apresentamos no presente artigo, que fez parte de uma pesquisa mais ampla, denominada: “Ambientes Computacionais na Exploração e Construção de Conceitos Matemáticos no Contexto da Formação Reflexiva de Professores”5, desenvolvida no LAPEMMEC/CEMPEM/ FE/UNICAMP6 e apoiada pela FAPESP7, a qual investigou a formação de professores no contexto das tecnologias de informação e comunicação (TICS). Assim, o presente artigo aborda aspectos teórico-metodológicos sobre a inserção da tecnologia no processo educacional, apresentando uma pesquisa que está sendo realizada em uma escola de Campinas, a qual investiga as possibilidades pedagógicas de um ambiente computacional para Educação à Distância – TelEduc8, além de outros ambientes específicos para Matemática, na exploração, disseminação e representação de conceitos de Matemática, Ciência e Engenharia, ressaltando dimensões como: a interatividade dos alunos inseridos em uma plataforma de educação à distância, a “presença social” - o aluno sentir-se socialmente integrado em uma comunidade virtual de aprendizagem matemática e a aprendizagem colaborativa e sua potencialidade na constituição do conhecimento, incentivando os alunos a conhecerem melhor as carreiras relacionadas à Matemática, Ciência e Engenharia. Justifica-se essa pesquisa pela pequena quantidade de trabalhos realizados em Educação Matemática no Brasil e suas interrelações com as tecnologias de informação e comunicação. O aporte teórico refere-se a tendências atuais sobre as relações entre a educação e as tecnologias de informação e comunicação (TICS), como acima delineado e sobre Cenários de Aprendizagem Baseados na Tecnologia, ressaltando a importância da comunicação mediada por computador (CMC) no processo de construção de conceitos das áreas de Matemática, Engenharia e Ciências. CENÁRIOS DE APRENDIZAGEM BASEADOS NA TECNOLOGIA No contexto, acima delineado, uma questão se torna necessária – Como utilizar de forma crítica e consciente 5 Para um maior aprofundamento, visitar o Site: http:// www.cempem.fae.unicamp.br/lapemmec . 6 LAPEMMEC/CEMPEM/FE/UNICAMP – Laboratório de Pesquisa em Educação Matemática Mediada por Computador/ Círculo de Estudo, Memória e Pesquisa em Educação Matemática/ Faculdade de Educação/Universidade Estadual de Campinas. 7 FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 8 http://teleduc.nied.unicamp.br/~teleduc/. 170 MEMORIAS TISE 2004 a tecnologia no processo educacional, de modo a propiciar cenários de aprendizagem compatíveis com as tendências atuais do processo educativo e com os anseios e necessidades dos aprendizes? Tentando responder, faz-se necessário tecer algumas reflexões sobre as dimensões importantes que permeiam a criação e a utilização de cenários de aprendizagem baseados na tecnologia. Mas, o que são cenários de aprendizagem? Concebe-se cenários de aprendizagem, nessa pesquisa, como um contexto educacional no qual fazem parte dimensões como: ambientes computacionais que apóiam o ensino presencial e ambientes computacionais de educação a distância; além de uma proposta educacional implícita, condizente com os objetivos a serem alcançados; os alunos e a atuação do professor ao mediar o processo educativo. Na presente pesquisa, utiliza-se essas concepções relacionando-as com cenários de aprendizagem baseados na tecnologia, com objetivos implícitos ao processo educativo. Um outro questionamento se faz necessário, nesse contexto. Assim, como criar e/ou escolher um ambiente computacional para que faça parte do cenário de aprendizagem? Acredita-se que a criação e/ou a escolha de um ambiente computacional devem estar vinculados a uma filosofia educacional em que se acredita e se postula, a uma metodologia educacional e ainda aos objetivos que se quer alcançar no desenvolvimento de assuntos relacionados a diferentes áreas do conhecimento (Miskulin, 1999). Nessa perspectiva, buscam-se, na literatura, dimensões relacionadas à escolha de ambientes computacionais que podem ser utilizados no processo educativo, tanto como apoio ao ensino presencial quanto no desenvolvimento do ensino “online”. Assim, reporta-se ao projeto: “Star Schools: The New Millenium Improving Math and Science in Middle Schools”9, desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Universidade do Novo México – UNM, nos Estados Unidos, o qual enfatiza, em um dos seus aportes teóricos, que para criarse e utilizar-se um ambiente efetivo de aprendizagem faz-se necessário refletir sobre os elementos básicos constituintes do processo de aprendizagem, isto é, como o processo de aprendizagem será focalizado e ainda, como o ambiente de aprendizagem será concebido. Assim, os pesquisadores do projeto citado, definem um ambiente de aprendizagem como um lugar ou uma comunidade especificamente concebida com propósitos educacionais baseados em idéias e concepções sobre conhecimento, objetivando propiciar uma organização social no processo ensino/aprendizagem. Nessa perspectiva, o projeto, acima citado, faz referência a Bransford et al. (2000), os quais preconizam que ambientes efetivos de aprendizagem devem ser centrados no aprendiz, resgatando seus conhecimentos, habilidades e crenças; centrados no conhecimento, tornandoos compatíveis com o desenvolvimento cognitivo dos alunos; IX Taller Internacional de Software Educativo TISE 2004 centrados no processo avaliativo, oferecendo avaliação formativa, a qual propicia aos alunos oportunidades de enriquecimento de seus raciocínios e aprendizagem significativa e centrados na comunidade, estabelecida através dos aprendizes, professores e ambiente computacional, com o objetivo de incentivar o conhecimento compartilhado e a aprendizagem colaborativa. No Brasil, iniciou-se em dezembro de 1999 um grande investimento para inserir a sociedade brasileira neste sistema globalizado. Na realidade, somente recentemente o Brasil vem definindo a melhor forma de trabalho no campo da educação a distância via Internet. A Secretaria de Educação a Distância (SEED) está investindo em novas tecnologias para e-learning como um possível caminho para a democratização da educação de qualidade. Alguns dos projetos desenvolvidos pela SEED são PROFORMAÇÃO, PROINFO, TV ESCOLA and PAPED. Em treinamentos de 3200 horas de duração, PROFORMAÇÃO oferece aos professores aulas presenciais e a distância e material para estudo. PROINFO é um projeto que instala computadores e oferece treinamento aos professores. TV ESCOLA busca usar as possibilidades pedagógicas da educação a distância, oferecendo aos professores de escolas públicas uma formação continuada; uma das atividades propostas é o programa “Salto para o Futuro” no qual as práticas pedagógicas são discutidas de modo interativo por meio de Internet, fax, telefone, material impresso, etc. Juntamente com a CEPES, a SEED iniciou em 1997 um projeto denominado PAPED que financia programas de graduação que se dediquem ao uso da educação a distância. Projetos como esses já estão causando efeito na maneira de ensinar Matemática e Ciências com o apoio de universidades brasileiras, como a UNICAMP, por meio de projetos como a pesquisa que foi desenvolvida no LAPEMMEC10, denominada: “Ambientes Computacionais na Exploração e Construção de Conceitos Matemáticos no Contexto da Formação Reflexiva de Professores”11 e apoiada pela FAPESP12, a qual investiga a formação de professores no contexto das tecnologias de informação e comunicação (TICS). Como parte desta pesquisa trabalhamos com a Escola Americana de Campinas – EAC, tendo como foco o Ensino Fundamental e Médio, afim de motivar os alunos a se interessarem e pesquisarem sobre carreiras nas áreas de Matemática, Ciências e Engenharia. Assim sendo, como já mencionado acima, a escolha de um ambiente computacional relaciona-se a diversos aspectos tanto teóricos, quanto metodológicos. Porém, um dos aspectos fundamentais consiste na interatividade do cenário 9 O referido projeto é coordenado por Gunawardena, 2003. Site: http://www.unm.edu 10 LAPEMMEC/CEMPEM/FE/UNICAMP – Laboratório de Pesquisa em Educação Matemática Mediada por Computador/ Círculo de Estudo, Memória e Pesquisa em Educação Matemática/ Faculdade de Educação/Universidade Estadual de Campinas. de aprendizagem, constituído pelo ambiente computacional, com suas características pedagógicas e computacionais; pelos alunos; pela mediação do professor e pela proposta educacional. Interatividade essa que propicia diversas formas de comunicação e colaboração na constituição do conhecimento compartilhado. APRENDIZAGEM COLABORATIVA, CONHECIMENTO COMPARTILHADO E INTERATIVIDADE O projeto desenvolvido pelo professor tem como objetivo a aprendizagem colaborativa e a interação entre os alunos. Para tanto, uma questão importante no processo de formação do professor seria como proporcionar ambientes de aprendizagem nos quais a interatividade propicie aos nossos alunos a construção de um conhecimento reflexivo e criativo? Existem muitas maneiras de se propiciar cenários de aprendizagem colaborativa e conhecimento compartilhado no contexto educacional. Aprendizagem colaborativa apoiada por computador consiste em uma área de estudos que trata de estratégias metodológicas pelas quais a tecnologia pode apoiar os processos de aprendizagem desenvolvidos em tarefas compartilhadas ou colaborativas. O suporte da tecnologia à aprendizagem colaborativa objetiva dinamizar o processo, através de sistemas que implementem um ambiente de cooperação e possuam um papel ativo e um controle desta cooperação. As tecnologias interativas permitem a construção de formas comuns de ver, agir e conhecer. São ambientes que proporcionam aos alunos um envolvimento significativo na produção do conhecimento compartilhado (Santoro, et al, 1999). O conceito de ambiente de aprendizagem colaborativa, baseado na tecnologia, implica em ferramentas e metodologias nas quais a comunicação se realiza de forma dinâmica entre várias pessoas, com independência de ritmo, no qual o aprendizado pode acontecer em qualquer tempo e em qualquer lugar, estando implícito um processo de interatividade total entre os vários usuários ou alunos. A finalidade de se trabalhar com um ambiente computacional de aprendizagem colaborativa consiste em permitir a troca de informações e experiências entre os participantes, com o objetivo de se construir um conhecimento mais elaborado, de maneira conjunta e coordenada. Reforçando essas idéias, Lévy (1996) assinala que um ambiente computacional que proporciona aos alunos a produção de hipertexto ou multimídia interativa adapta-se às tendências modernas da aplicabilidade educacional da tecnologia no ensino, conforme suas palavras: 11 Para um maior aprofundamento, visitar o Site: http:// www.cempem.fae.unicamp.br/lapemmec . 12 FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. MEMORIAS TISE 2004 171 Santiago, Chile • 1, 2 y 3 Diciembre 2004 “É bem conhecido o papel fundamental do envolvimento pessoal do aluno no processo de aprendizagem. Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um conhecimento, mais ela irá integrar e reter aquilo que aprender. Ora, a multimídia interativa, graças à sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao material a ser assimilado. É, portanto, um instrumento bem adaptado a uma pedagogia ativa” (pág. 40). tendo como suporte materiais como textos, referências, etc.. Dessa forma foram criadas ferramentas como, por exemplo, Material de Apoio, Leituras, Perguntas Freqüentes. Além disso, pensando-se na necessidade de comunicação entre os participantes de um curso a distância, foram desenvolvidas as ferramentas: Correio Eletrônico, Fóruns de Discussão, Mural, Portfólio, Diário de Bordo e Bate-Papo. Ainda nessa mesma abordagem torna-se necessário refletirmos sobre a aprendizagem colaborativa versus cooperativa. Existe na literatura uma grande discussão sobre o que seria mais apropriado, aprendizagem colaborativa ou/e cooperativa, já que os significados destas palavras são semelhantes, porém com características próprias. A seguir, temos o conceito de colaboração e cooperação, segundo alguns autores: Assim, o ambiente TelEduc possui três grupos de funcionalidades, nos quais são divididas suas ferramentas: ferramentas de coordenação, ferramentas de comunicação e ferramentas de administração, sendo que cada curso poderá estar utilizando qualquer conjunto de ferramentas, e ficará a critério do formador e da metodologia utilizada estar alterando este conjunto durante o curso “Colaboração significa trabalho em comum com uma ou mais pessoas; cooperação; auxílio; contribuição.” Ferreira (1986, apud Barros,1994); “Colaborar (co-labore) significa trabalhar junto, que implica no conceito de objetivos compartilhados e uma intenção explícita de somar algo - criar alguma coisa nova ou diferente através da colaboração, se contrapondo a uma simples troca de informação ou passar instruções.” Kaye (1991, apud Barros 1994); Colaboração: está relacionada com contribuição. Cooperação: além de atingir o significado de Colaboração, envolve o trabalho comum visando alcançar um objetivo comum”. Barros (1994 ). Outras características do ambiente importantes para o desenvolvimento deste tipo de pesquisa são a facilidade de uso por pessoas não especialistas em computação e a flexibilidade quanto ao modo de utilização. Assim sendo, acredita-se que a postura cooperativa é a dimensão mais importante para possibilitar a aprendizagem colaborativa, assim, a interação é o elemento básico e inicial do processo de colaboração, em uma comunidade mediada pela tecnologia, pois possibilita a comunicação, devendo estar presente ao longo de todo o trabalho em grupo, possibilitando uma negociação constante entre os sujeitos envolvidos e, dessa forma, contribuindo para a constituição do conhecimento compartilhado. AS POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS DO AMBIENTE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – TELEDUC Desde Junho de 2002 ocorre uma colaboração entre o LAPEMMEC/CEMPEM/UNICAMP e o NIED/UNICAMP13, a qual permitiu um acesso mais facilitado a escolas, como a escola utilizada no desenvolvimento da presente pesquisa, a recursos tecnológicos até então incomuns a maioria das escolas da região. Uma destas tecnologias é a do ensino baseado pela Internet, uma modalidade de ensino que em muito se beneficia de ambientes como o TelEduc14. O TelEduc vem sendo desenvolvido como software livre pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) e pelo Instituto de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sendo que todas as ferramentas para criação, participação e administração de cursos na Web são desenvolvidas segundo as necessidades relatadas por seus usuários, tendo como elemento central a ferramenta Atividades, partindo do pressuposto de que o aprendizado de conceitos é gerado a partir da resolução de problemas, 172 MEMORIAS TISE 2004 CENÁRIOS DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA – A UTILIZAÇÃO DO TELEDUC PELAS CRIANÇAS Como já ressaltado anteriormente, esta pesquisa está sendo desenvolvida em uma escola de Campinas, a qual conta tanto com alunos estrangeiros como brasileiros. Oferece dois programas de estudo, um americano e outro brasileiro. Apresenta-se o desenvolvimento dessa pesquisa, na referida escola, enfatizando alguns aspectos relacionados com o trabalho desenvolvido por um professor no uso da informática em suas aulas, visando incentivar os alunos a conhecerem melhor as carreiras relacionadas à Matemática, Ciência e Engenharia. Várias atividades estão sendo desenvolvidas nessa implementação, uma delas relaciona-se à elaboração compartilhada de histórias em quadrinhos pelas crianças, envolvendo conceitos matemáticos15, cujo objetivo consistia em criar uma história em quadrinhos para explorar um determinado conceito matemático e depois disponibilizála no TelEduc, para que os colegas pudessem comentar e interagir em uma comunidade on-line sobre os diferentes conceitos matemáticos trabalhados nas diversas historinhas disponibilizadas. Nessa pesquisa, objetivou-se familiarizar os alunos no uso das 13 Núcleo de Informática Aplicada à Educação – Unicamp (http://www.nied.unicamp.br/) 14 http://teleduc.nied.unicamp.br 15 Ressalta-se que essa atividade faz parte do artigo - As Possibilidades Pedagógicas do Ambiente Computacional TelEduc na Exploração, Disseminação e Representação de Conceitos Matemáticos, escrito pelos autores dessa pesquisa, que foi publicado nos Anais do XI CIAEM - XI Conferência Interamericana de Educação Matemática, 2003, Blumenau – SC - Brasil. 16 http://spacelink.nasa.gov/ IX Taller Internacional de Software Educativo TISE 2004 tecnologias de informação e comunicação (TICs) dentro de uma comunidade virtual que fomentasse a colaboração, além de motivar o interesse pela Matemática, Ciências e Engenharia. O professor em formação, por meio de mecanismos de busca como www.google.com e www.yahoo.com pesquisou na Internet atividades relacionadas a temas de interesse para os alunos. Uma das atividades implementadas no laboratório de informática da escola, refere-se à leitura e interpretação de texto sobre a importância da Matemática na vida futura dos alunos, buscando favorecer a aprendizagem colaborativa na constituição do conhecimento compartilhado e a interatividade dos alunos no ambiente TelEduc. Nesta atividade os alunos trabalharam com o site da NASA (“National Aeronautics and Space Administration”)16, que oferece recursos relacionados ao espaço e à aeronáutica para a educação desde 1988 e possui publicações eletrônicas, um guia para os recursos educacionais da NASA, disponíveis via Internet, relativos a diversos assuntos. Com o intuito de se preparar uma atividade em Inglês que fosse de interesse tanto para alunos do “7th grade” como para o “9th grade”, optouse por uma adaptação de uma atividade relativa à busca de empregos na NASA e intitulada “When I Grow Up...”. Nesta atividade os alunos foram orientados a pesquisar informações que lhes permitissem identificar empregos na NASA e demonstrassem a relação da profissão escolhida com a Matemática. Inicialmente, os alunos selecionariam entre 2 ou 3 profissões e buscariam informações adicionais sobre cada uma. Essa atividade foi adaptada de forma a relacionar tais profissões à Matemática, Ciências e Engenharia, com o objetivo de criar um contexto favorável no qual os alunos pudessem perceber a importância da Matemática e Ciências em suas vidas futuras e ao mesmo tempo favorecer o uso do TelEduc enquanto ambiente propício à comunicação e à interatividade. Dessa forma, criou-se no TelEduc um ambiente de aprendizagem colaborativa, pois os alunos iniciaram essa atividade em grupo, presencialmente no laboratório de informática e foram motivados a discutir alguns aspectos das instruções recebidas por meio da ferramenta “Atividades” do ambiente. A etapa seguinte foi a busca das informações pedidas na atividade, realizada individualmente, seguida da disponibilização das respostas de cada aluno na ferramenta “Portfólio”. Neste processo, os alunos mais novos tiveram algumas dificuldades na compreensão da atividade e na leitura dos textos. Assim, o professor, mediando o processo educativo, sugeriu aos alunos que lessem e inserissem comentários e observações nas atividades dos alunos da série mais avançada, por meio da ferramenta “Comentário” disponível no ambiente, de forma a propiciar um contexto favorável à interpretação dos textos inerentes às atividades. Dessa maneira, os alunos mais novos puderam encontrar subsídios para implementarem suas atividades nos respectivos portfólios. Percebe-se nesse processo a interatividade proporcionada pelo cenário de aprendizagem colaborativa, constituída pelo TelEduc, pela proposta pedagógica e pela mediação do professor. As trocas de idéias e dicas entre os alunos assumiram uma fundamental importância no desenvolvimento das concepções e conhecimentos inerentes à atividade, caracterizando um contexto rico para o compartilhamento de informações e a constituição da aprendizagem colaborativa. Apresentam-se, abaixo, fragmentos de atividades propostas, com o objetivo de elucidar dimensões importantes na concepção de cenários de aprendizagem colaborativa. Abaixo, segue a mediação do professor, expressa por: “Como sabem, a Matemática é fundamental para profissionais como físicos, engenheiros, analistas de sistemas, economistas etc.. Dessa forma, vocês irão perceber por que a Matemática pode ser importante para seu futuro, especialmente se forem trabalhar na NASA. O objetivo dessa a atividade consiste em escolher uma profissão, uma das decisões mais importantes que um jovem deve tomar. Vocês tentarão responder: Como encontrar o melhor trabalho para mim? Meu trabalho irá me render o dinheiro suficiente para que possa fazer todas as coisas que eu gostaria? Faça estas pesquisas de emprego e descubra se a NASA é o lugar para você. Atenção, você não precisa ser um cientista especializado em foguetes para trabalha lá”. Ainda nessa interação, o professor disponibilizou no TelEduc as seguintes orientações: Atividade 1: O que as pessoas fazem na NASA? A primeira coisa que precisa fazer é encontrar que tipo de trabalho as pessoas fazem na NASA. Claro que os primeiros que nos vem a cabeça são cientistas especializados em foguetes, engenheiros e astronautas. Mas você sabia que a NASA não poderia existir sem advogados, técnicos, motoristas de ônibus, secretárias, contadores, analistas de sistemas e até mesmo cozinheiras? Depois de ler sobre os diferentes tipos de trabalho listados, selecione 2 ou 3 que te interessem. Anote as seguintes informações sobre eles: título do trabalho (nome da profissão, por exemplo “piloto de teste”, escreva as coisas que você deverá fazer se estiver neste trabalho, que tipo de habilidades e conhecimentos é preciso para este trabalho e por que você acha que gostaria deste trabalho?). Atividade 2: Pessoas reais: Leia as informações dos jornais e biografias. Escolha uma que lhe pareça interessante e escreva uma breve descrição sobre o que estas pessoas fazem em seus trabalhos. Coloque ainda o nome da profissão e o motivo pelo qual você a escolheu. Ressalta-se os alunos serão referidos pelas iniciais de seus nomes, com o intuito de preservar suas identidades 17 MEMORIAS TISE 2004 173 Santiago, Chile • 1, 2 y 3 Diciembre 2004 Atividade 3: Lideres da NASA: Você gostaria de ser o presidente de sua própria empresa algum dia? Abaixo você encontrará uma lista de pessoas que ocupam ou ocupavam cargos de liderança na NASA. Escolha uma das “homepages” e estude seu conteúdo. Quais são as características dessas pessoas que as tornam lideres? Atividade extra: O que faz de você um bom profissional. Quais das características descrevem você? Crie a profissão perfeita: Se você pudesse criar uma profissão perfeita para você, como seria? Pense sobre isso e elabore a profissão de seus sonhos: O que faria todos os dias?; Onde iria morar?; Quantas horas trabalharia?; Quais as habilidades e conhecimentos precisaria?; Quanto gostaria de ganhar?; Você seria o chefe? Gostaria de viajar? Questionamento final: Pense em uma profissão que utilize muito a matemática (engenheiro, economista, físico, etc.). Agora escreva um texto de no mínimo 100 palavras no qual você descreva como a Matemática é utilizada nesta profissão. Tente lembrar das diversas possibilidades de uso da Matemática que você estudou. Você pode pesquisar outras informações na Internet, ou conversar com colegas e professor para ter novas idéias. Apresentam-se abaixo algumas respostas dos alunos, a interação gerada pelos questionamentos fornecidos pelo professor e a troca de idéias entre os alunos por meio dos comentários. Inicialmente, temos a aluna E.O. e, em seguida, o aluno D.P., como autoras das respostas: Resposta da aluna E.O.17 à atividade 1: Cozinheira. Se fosse fazer este tipo de trabalho na NASA, iria cozinhar para todos, limpar, assegurar que a comida estaria boa e se seria suficiente, manter a cozinha em ordem e possivelmente supervisionar e acompanhar os outros cozinheiros e demais pessoas que trabalham na cozinha. Aparentemente é simples, mas é preciso saber matemática para medir os ingredientes, provavelmente será preciso fazer algum curso de culinária para aprender algumas técnicas especiais e o que é o que. Deverá ser capaz de ensinar as outras pessoas que trabalham na cozinha sobre o que fazer quando precisarem de ajuda e deverá saber trabalhar em grupo. Eu gostaria deste trabalho pois adoro cozinhar e gosto de ver as pessoas apreciando a comida que faço. Gosto de fazer principalmente sobremesas, e isso seria a melhor parte do trabalho. Respostas da aluna E.O. ao questionamento final: Profissão: Consultor financeiro / Contador: Este tipo de trabalho requer grandes conhecimentos de Matemática. Um contador é uma pessoa que trabalha no campo financeiro, dinheiro e bancos. É possível contratar um contador para acompanhar e orientar o cliente com contas bancárias, taxas, aplicações, etc.. Se eles trabalham para uma empresa particular, também podem cuidar das despesas com empregados, salários, contas 174 MEMORIAS TISE 2004 da empresa, gastos da empresa e prestar assistência aos novos assuntos financeiros. Os contadores fazem os pagamentos, recebem e controlam todo o dinheiro da empresa. Por todas estas questões, um contador deve saber somar, subtrair, dividir e multiplicar grandes quantias de dinheiro. O contador realmente deve saber aplicar todos os conceitos matemáticos, pois existem diferentes questões para resolver. Nessa interação, destacam-se alguns comentários dos alunos em relação aos trabalhos dos colegas: Comentário de M. B. relativamente às respostas da aluna E.O: Eu gostei do trabalho dela. Tem varias informações que são interessantes e importantes. Ela fez de um jeito que a gente entenda e aprenda. Eu gostei muito da parte quando ela fala que queria ser cozinheira e as razões e quando falou um pouco sobre os trabalhos das pessoas da NASA. Eu não gostei muito do final, porque estava ficando um pouco mais sem graça. Ela devia arranjar um jeito de fazer um pouco mais interessante. O único problema é a gramática. Ela precisa colocar mais ponto final e revisar a gramática. Comentário de I. R. relativamente às respostas da aluna E.O.: Eu gostei do jeito que ela escreveu o trabalho dela. Foi bem trabalhado e com muito cuidado. Eu só não gostei do segundo parágrafo porque ela foi muito confusa. Para melhorar eu acho que ela devia chegar mais ao ponto. Ela escreveu muita coisa que podia ser uma resposta curta. Resposta do aluno D.P. à atividade 1: Astronauta utiliza a Matemática para calcular a distância entre os lugares no espaço. Ele também calcula coisas como o combustível necessário para chegar nos lugares e quanto tempo ele poderá permanecer no espaço. Para conseguir esta profissão é preciso saber física, química e álgebra. Este trabalho seria legal porque eu poderia ir para o espaço. Também gostaria de ser um controlador de missão, que controla tudo o que os astronautas vão fazer. Também utiliza a Matemática da mesma forma que o astronauta, medindo distâncias no espaço e calculando quantidade de combustível. Segue um comentário de outra aluna: Comentário de M. H. relativamente às respostas do aluno D.P.: Ser um astronauta deve ser muito excitante e interessante, mas eu ficaria apavorada! Eu gostaria de ir até o espaço, mas sem ter que lidar com todos esses cálculos matemáticos e todos os botões da nave. Você precisa terminar seu trabalho. Pesquisa mais sobre essa profissão e veja no site o depoimento de um astronauta de verdade! Portanto, essa atividade criou um cenário de aprendizagem baseado em um objetivo, o qual possibilitou aos alunos identificarem e assumirem certos papéis na NASA, e depois disponibilizarem seus trabalhos no TelEduc, para que os colegas pudessem comentar e interagir em uma comunidade IX Taller Internacional de Software Educativo TISE 2004 “online” sobre os diferentes conceitos trabalhados nas diversas produções disponibilizadas. Deste modo, o ambiente TelEduc associado à Internet favoreceu a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem, a troca de idéias e experiências entre os participantes além de tornar possível a discussão em grupo e o trabalho cooperativo/ colaborativo. Os comentários dos colegas e a mediação do professor aliados à dinâmica do TelEduc permitiram a cada aluno repensar seus pontos de vistas, o que motivou muitos deles a alterarem suas respostas originais, com base nesta interação dentro da comunidade criada. Pode-se afirmar, portanto, que a experiência em questão deu ao professor a oportunidade de repensar os paradigmas educacionais que normalmente vinham sendo utilizados: ensino livresco e expositivo, com base quase que exclusivamente no livro didático da disciplina e em alguns materiais manipulativos. Tais questionamentos deram margem a uma possível inovação de seu projeto pedagógico, o qual já incorporava a informática. Assim como essa outras atividades foram desenvolvidas nesta pesquisa, mostrando que o projeto desenvolvido pelo professor proporcionou a familiaridade com ambientes tecnológicos pelas crianças, tornando-se cada vez mais necessária e proveitosa no processo ensino/aprendizagem. Além disso, podemos dizer que as crianças se tornaram motivadas perceberam as inter-relações da Matemática com outras áreas como Engenharia. RESULTADOS CONCLUSIVOS Algumas considerações ou inferência conclusivas podem ser delineadas nesta pesquisa. Os avanços constantes da ciência e da tecnologia pressupõem novas formas de conceber o mundo, acarretando mudanças e transformações profundas em seus diversos contextos, sociais, educacionais, entre outros. Desse mundo, em mudanças e transformações, decorre uma sociedade que, de acordo com Toffler (1990), pode ser caracterizada como a sociedade do conhecimento, na qual as inovações e as informações serão processadas de uma maneira rápida e contínua. Assim, a convergência do conhecimento tecnológico que o Brasil e o mundo experimentam nos dias atuais decorre do fato de se poder representar e processar qualquer tipo de informação de uma única forma, a digital. A educação via Internet compatibiliza-se com esta convergência, seja através do oferecimento de uma educação com ambientes de ensino, totalmente dirigidos à Internet, ou seja, através da utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) como apoio aos cursos presenciais. Como mencionado anteriormente, as tecnologias da informação e comunicação (TICS) pressupõem uma nova maneira de gerar e dominar o conhecimento Com o avanço da ciência e da tecnologia, através de pesquisas no campo da inteligência artificial produzindo robôs interativos e pesquisas sobre realidade virtual, torna-se inconcebível que a educação seja tratada de forma tradicional. Sabe-se que o desenvolvimento tecnológico proporciona uma nova dimensão ao processo educacional, uma dimensão que transcende os paradigmas ultrapassados do ensino tradicional, pontuado pela instrução programada, pela transmissão de informações e pelo “treinamento” do pensamento algoritmo e mecânico. Essa nova dimensão prioriza um novo conhecimento, um conhecimento que considera o desenvolvimento do pensamento criativo como aspecto fundamental da cognição humana. Neste contexto, o educador matemático assume um papel fundamental, tornando as tecnologias de informação e comunicação partes integrantes da realidade do aluno. Com essas perspectivas, esse artigo abordou aspectos teóricometodológicos sobre a inserção da tecnologia no processo educacional, apresentando uma pesquisa que foi realizada em uma escola de Campinas, estado de São Paulo, Brasil, a qual investigou as possibilidades pedagógicas de um ambiente computacional para Educação à Distância – TelEduc, na exploração, disseminação e representação de conceitos de Matemática, Ciências e Engenharia. Nesta pesquisa, através das entrevistas realizadas com os alunos, através da interação – professor, pesquisador e ambientes computacionais, foi possível ressaltar dimensões como: a interatividade dos alunos, inseridos em uma plataforma de educação à distância, a “presença social” - o aluno sentirse socialmente integrado em uma comunidade virtual de aprendizagem matemática e a aprendizagem colaborativa e sua potencialidade na constituição do conhecimento matemático. Dimensões como interatividade e aprendizagem colaborativa estão sendo percebidas, na presente pesquisa, através da participação das crianças nas diversas formas de utilização do TelEduc, nas interações entre os grupos sobre a elaboração das profissões assumidas nos cenários de aprendizagem e disponibilizadas no TelEduc, nas discussões sobre os conceitos trabalhados, nas trocas de significados e compartilhamento de idéias e concepções. Essa concepção da utilização de cenários de aprendizagem baseados na tecnologia permitiu integrar as atividades propostas e desenvolvidas pelas crianças em um contexto, que lhes possibilitou interagirem com os diversos elementos constituintes do tema abordado, através da elaboração e criação de textos, nos quais as crianças criaram estratégias próprias, reavaliaram constantemente os objetivos a serem alcançados, transpuseram conhecimentos anteriores na composição de suas concepções e idéias, enfim, recorreram a hipóteses e conjecturas sobre a realidade em que estão inseridos. Essas dimensões elucidam a importância da utilização de cenários de aprendizagem baseados na tecnologia, nos quais a troca e o compartilhamento de idéias e concepções relacionadas às produções das crianças pesquisadas propiciaram um contexto interativo na constituição do conhecimento compartilhado no processo da aprendizagem colaborativa. MEMORIAS TISE 2004 175 Santiago, Chile • 1, 2 y 3 Diciembre 2004 Além disso, a dimensão - “presença social” - o aluno sentirse socialmente integrado em uma comunidade virtual de aprendizagem matemática, foi sentida nessa pesquisa, uma vez que os ambientes de comunicação online, tanto síncrono, quanto assíncrono do TelEduc, possibilitam a perfeita integração do aluno em uma comunidade compartilhada. Assim, os alunos reagiram de forma bastante motivadora ao uso do TelEduc, identificando-se com o ambiente e considerando-o “amigável”, de fácil utilização e “motivador”para se aprender Matemática. Essas constatações mostram as potencialidades pedagógicas de ambientes computacionais, como o TelEduc, na exploração, disseminação e representação de conceitos matemáticos, tornando possível a compatibilidade entre as TICS e a Matemática. Além disso, esta pesquisa constatou que a influência das novas tecnologias pode ser bastante positiva; em especial, o uso da Internet parece ter aumentado o interesse dos alunos pela Matemática, algo que por si só já justificaria novas pesquisas nesta direção. Ademais, os pais dos alunos também aprovaram essa nova abordagem teóricometodológica na exploração, disseminação e representação de conceitos matemáticos, participando dos chats, registrando a importância da utilização de ambientes computacionais no processo ensino/aprendizagem da Matemática. Enfim, esta pesquisa espera contribuir para que exista uma maior reflexão sobre a importância da inter-relação da Matemática, Ciências e Engenharia através da plena adequação de seus métodos de ensino e teorias de trabalhos às necessidades e aos anseios dos alunos no contexto da sociedade tecnológica atual. REFERÊNCIAS 1. D’ambrosio, U. (1997) Transdisciplinaridade. São Paulo: Editora Palas Athenas. 2. D’ambrosio, U. 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