Dinâmica Político-Eleitoral em São Luís (1982-1992) Andréa Bianca Gonçalves Ferreirai Resumo: A política municipal com ênfase nos processos eleitorais e na dinâmica político-partidária da Câmara de Vereadores de São Luís entre 1982 e 1992, período que compreende processos de especial relevância política: a eleição de 1982, última do período ditatorial, ainda regida pela lógica (mas não pela lei) bipartidária e a de 1992, primeira eleição municipal sob plena vigência da Constituição de 1988, que reintroduziu o Estado de direito e o fortalecimento dos municípios, do Poder Legislativo e da pluralidade partidária. Analisa-se a dinâmica político-partidária e eleitoral em São Luís, destacando os partidos presentes nas disputas, a força relativa de cada um deles e os alinhamentos e desalinhamentos dos agentes (vereadores) em relação aos mesmos. Apresenta-se o debate sobre o Legislativo Municipal enquanto locus de estruturação de carreiras políticas, ou não. Discute-se a política maranhense a partir de processos político-eleitorais ocorridos na capital ao longo desta década. Palavras-chave: Eleições. Câmara de Vereadores. Partidos políticos. São Luís. Résumé: La politique municipale en mettant l'accent sur les élections et les partis politiques dans la dynamique de la Mairie de Saint-Louis entre 1982 et 1992, la période que les processus politiques présentant un intérêt particulier: l'élection de 1982, la dernière période de la dictature, toujours régi par logique (mais pas par la loi) et de 1992 bipartisan, la première élection municipale en vertu de la force de la Constitution de 1988, qui réintroduit la règle de droit et le renforcement des municipalités, le législateur et le parti majoritaire. Nous analysons la partie dynamique politique et l'élection à Saint-Louis, mettant en évidence les parties dans les litiges, la force relative de chacun, et les alignements et les désalignements des agents (conseil) à leur égard. Il présente le débat sur la salle législative en tant que lieu de la structure des carrières politiques, ou non. Il traite de la politique de Maranhão des processus politiques et électoraux qui se produisent dans la capitale au cours de la prochaine décennie. Mots-clés: Élections. Conseil des Echevins. Les partis politiques. Saint-Louis Introdução O processo de redemocratização brasileira a partir de 1980 trouxe significativas mudanças de ordem político-institucional para o país principalmente após a promulgação da Constituição de 1988, que consolidou essa transformação política através de novo arranjo democrático. A introdução de novos mecanismos políticos conferia ao sistema político brasileiro as seguintes características: Sistema Federativo, assumindo a forma presidencial e bicameral com fortalecimento das unidades federativas (União, estados e municípios); sistema eleitoral com ampla liberdade partidária e eleições em todos os níveis, observando-se o princípio proporcional e de lista aberta para os cargos legislativos e princípio majoritário para as disputas dos Executivos e do Senado (BRAGA, 1997). Além disso, a Constituição de 1988 introduziu diversos mecanismos de participação da sociedade civil e de controle social. Este novo desenho institucional buscou aproximar-se dos princípios do moderno modelo de democracia representativa que, entre outros elementos, supõe a livre escolha dos governantes por aqueles que serão governados e a eleição como método que, simultaneamente, seleciona governantes e legitima o poder político (MANIN, 1995). Antes da redemocratização do Brasil, os principais avanços relacionados ao processo eleitoral ocorreram nos anos de 1930 com a criação da Justiça Eleitoral e o registro prévio dos candidatos e partidos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Neste período, vigorou um Código Eleitoral que estendia o direito de voto às mulheres; adotou-se a redução da idade, que antes era de 21 anos, passando a ser aos 18 e a obrigatoriedade do voto para os homens e funcionárias públicas. Em 1946 além da retomada das eleições diretas (então proibidas pelo Estado Novo) houve um crescimento do eleitorado da ordem de 329% (apesar da proibição do voto aos analfabetos) decorrente da obrigatoriedade geral do alistamento, possibilidade do alistamento exofficio1 e previsão de multas para não alistados (as) e não votantes. Também houve significativo reforço da Justiça Eleitoral. Em 1985, através da Emenda Constitucional nº. 25, sancionada pelo presidente José Sarney foi garantido o direito de voto aos analfabetos e assegurada a liberdade de organização partidária, iniciada com a reforma de 1979, que pôs fim ao bipartidarismo imposto durante o regime militar (NICOLAU, 2002). Com a promulgação da Constituição de 1988, foi confirmado o princípio da soberania popular exercida por meio do voto direto e secreto, tornando-o obrigatório para maiores dezoito anos. O voto do analfabeto foi acolhido como facultativo e igual 1 Alistamento por iniciativa dos interventores estaduais e por sindicatos. Vigente até 1950. procedimento foi adotado para os maiores de dezesseis e menores de dezoito e aos maiores de setenta anos (NICOLAU, 2002). Nas questões referentes ao município, a partir de 1988 sua condição foi redefinida e estes se tornaram entes federativos, ao lado da União e dos estados, alcançando relativa autonomia, através da descentralização política e fiscal (LEAL, 2008). Os municípios passaram a ter nova legislação (Lei Orgânica municipal), eleição direta para prefeito, vice-prefeito e vereadores para mandatos de quatro anos, eleitos em pleito simultaneamente realizado em todo país. Neste cenário, as eleições para as Câmaras de Vereadores ganham relevância tanto no plano do debate sobre a política local como do papel e funcionamento do Poder Legislativo. A propósito deste último aspecto, importa não perder de vista às atribuições formais dos legisladores municipais, a Lei Orgânica Municipal de São Luís estabelece, entre outras prerrogativas, o direito de legislar sobre matérias orçamentárias. Adicionalmente, a Câmara possui algumas atribuições privativas, entre as quais se destaca a fiscalização sobre o Poder Executivo. A atual Lei Orgânica (1990) não alterou as regras de composição da Câmara, vigentes desde as eleições de 1982. O Legislativo de São Luís é composto por 21 vereadores, eleitos para um mandato de quatro anos; o período compreendido entre a posse e o fim do mandato é denominado legislatura e para seu funcionamento interno, a Câmara possui os seguintes órgãos: Mesa Diretora, Plenário e Comissões. A Mesa Diretora dirige os trabalhos legislativos e as funções administrativas da Câmara. O Plenário é o espaço maior de discussão e deliberação sobre os assuntos legislativos. As Comissões são encarregadas de oferecer suporte técnico aos procedimentos legislativos. Com base nessas considerações, o objetivo desta exposição é analisar a dinâmica político-partidária no Legislativo Municipal de São Luís (MA) destacando os partidos presentes nas disputas, a força relativa de cada um deles e os alinhamentos e desalinhamentos dos agentes (os vereadores) em relação aos mesmos. Analisa-se também o Legislativo Municipal enquanto locus de estruturação de carreiras políticas, ou não. Para a realização deste estudo partimos da compreensão de que as mudanças ocorridas na política nacional durante o processo de redemocratização foram decisivas para a construção de um novo panorama político que se estendeu a todo país. Sendo assim, nossas observações terão como foco os seguintes pleitos: as eleições municipais de 1982 porque representaram uma “abertura” democrática que assumiu caráter plebiscitário, demonstrando a crescente insatisfação popular com a atuação dos governos militares; e as eleições de 1988 e 1992, pois com a promulgação da Constituição de 1988 e a introdução de novos mecanismos jurídicos de fortalecimento dos municípios o cenário político municipal assumiu nova configuração, e estas eleições foram significativas para a consolidação da Constituição no âmbito municipal. Processos Político-Partidários no Contexto da Transição Democrática Para a compreensão dos processos político-eleitorais a partir de 1982, impõe-se a necessidade de contextualizar o período da chamada transição democrática ainda marcado pela adoção de medidas autoritárias implantadas no país a partir da ditadura militar instalada em 1964. Neste sentido, a esfera partidária foi uma das mais afetadas pela herança autoritária, pois mesmo nos anos de 1980, quando já havia ocorrido à criação de novos partidos, as disputas eleitorais ainda eram organizadas conforme a lógica bipartidária ou plebiscitária, oriundo do bipartidarismo imposto em 1965. A esse respeito, importa lembrar que a instalação do bipartidarismo, originado do Ato Institucional nº 2 e consubstanciado pelo Ato Complementar nº 04, ensejou inicialmente a formação de organizações “com atribuições partidárias” para a disputa do pleito de 1966; estas, sequer poderiam ser denominadas enquanto partidos, título ao qual tiveram direito a partir do ano seguinte (SCHIMITT, 2005, p. 31-32). Após esta reforma partidária (1965-1966), o panorama político se estruturou em torno das seguintes organizações, ARENA e MDB, que representavam, respectivamente, governo e oposição. A ARENA era composta principalmente por egressos da UDN, partido com tendências autoritárias que conspirou junto com setores das forças armadas para instalação do golpe de 64; enquanto as fileiras do MDB eram engrossadas majoritariamente pelos egressos do PTB, partido de influência varguista. No período anterior ao golpe de 1964, a UDN e o PSD eram grandes adversários, possuíam importante destaque nacional e forte representatividade. Após a implantação do sistema bipartidário, a ARENA reunia o maior número de filiados oriundos do PSD e UDN, trazendo uma estrutura organizacional já implantada em experiências passadas de perfil conservador e, ao mesmo tempo, as contradições internas verificadas entre estas organizações. Por sua vez, o MDB reunia desde liberais até comunistas, fazendo com que nele também, as contradições e a falta de coesão fossem marcantes, contribuindo para que a oposição não lograsse bom desempenho nos primeiros anos da Ditadura Militar, situação que começou a ser modificada em 1974. No rastro de um processo mais amplo de enfraquecimento do domínio militar, em 1974 o MDB desenvolveu uma campanha vitoriosa, das 22 vagas oferecidas ao senado ele conseguiu ocupar 16, esse quadro representou um crescimento expressivo, que não se restringiu a esta eleição. A oposição passou a adotar neste período uma postura mais crítica em relação à ditadura, estabelecendo alianças com sindicatos e entidades estudantis (MOTTA, 1999). A crescente insatisfação da sociedade e de grupos organizados, como o novo sindicalismo, novos movimentos sociais, e instituições representativas como a OAB e a ABI pressionavam o governo para o fim da ditadura. Este, por sua vez, buscava conter os movimentos através de atos como a revogação do AI-5, que dava amplos poderes ao regime e o fim do bipartidarismo, visando apresentar uma imagem “mais democrática” do regime, além de tentar enfraquecer a oposição, que crescia consideravelmente desde 1974. Em 1980, a política partidária brasileira assumiu nova configuração com a criação de cinco novos partidos: PDS, PMDB, PDT, PTB e PT. Dentro desta nova estrutura partidária, o PDS e PMDB compõem majoritariamente suas bases a partir das legendas constituídas anteriormente, ARENA e MDB. O PDS é praticamente uma continuação da ARENA, assim como o PMDB representou uma estratégia de continuidade do MDB, enquanto o PDT e PT surgiram a partir de cisões desse partido. O antigo trabalhismo de Vargas, historicamente associado ao PTB foi disputado por dois herdeiros do líder gaúcho, mas por decisão judicial, ficou com Ivete Vargas, restando a Leonel Brizola a criação do PDT (SCHIMITT, 2005). O PT é um fenômeno à parte, pois apesar de incluir em sua formação parlamentares oriundos do MDB, contou principalmente com bases sociais extraparlamentares, ligadas ao sindicalismo (destacando-se a figura de Luís Inácio “Lula” da Silva), intelectuais marxistas, militantes dos movimentos sociais e da chamada ala progressista da Igreja Católica (MOTTA, 1999). Feitos estes esclarecimentos sobre o contexto da transição democrática nos deteremos na análise dos partidos e representantes que tiveram passagem pela Câmara Municipal de São Luís entre 1982 e 1992, apontando os partidos de maior destaque, os índices de migrações partidárias efetuadas nesse período e a estruturação ou não de carreiras políticas. Representantes e Partidos na Câmara Municipal Para se compreender a dinâmica de funcionamento do Legislativo Municipal, é importante considerar os sistemas partidários e suas bases, os partidos. Eles são considerados pilares da democracia representativa e assumem contornos variáveis, de acordo com o contexto e o conjunto de regras vigentes em cada sistema político. A moderna democracia representativa implicou no surgimento dos partidos e a adoção das eleições como forma de escolha dos governantes em que, através do voto, o cidadão escolhe seus representantes para defenderem os interesses da população na esfera governamental. Epstein resumiu essa ideia nos seguintes termos “não existe democracia moderna sem partidos” (apud BRAGA, 1997, p.32). Destaque-se que embora o termo “partido” figure no universo pesquisado (Câmara de Vereadores) quase como um truísmo, algo dado, naturalizado, é importante especificar o sentido com que está sendo abordado neste estudo, o qual parte de um entendimento de que essas organizações ao longo das transformações que vem sofrendo (Manin) resguardam o sentido original, e sintetizado em termos minimalistas e atuais por Schmitt (2005, p.11) que os define como “associações de indivíduos com a finalidade de disputar as eleições e, por esse meio vir a colocar os seus membros no poder”. Reconhecer, porém, a força dessa dimensão eleitoral - e poderíamos acrescentar, nos termos de Manin, personalista, profissionalizada e distanciada das classes / grupos e questões sociais - que os partidos não abandonaram de todo, a dimensão ideológica, conforme descrita por Motta que os considera como “produto tanto da motivação ideológica quanto de ambição pelo poder, as duas coisas se combinam e, na verdade não são contraditórias” (1999 p.11). No Brasil, vários sistemas partidários já foram adotados. Nesta fase mais recente, assistiu-se, em 1965, a imposição do bipartidarismo. Em 1980, foi restabelecido o sistema pluripartidário, que possibilitou nova configuração às eleições municipais de 1982, com a introdução dos novos partidos. Ao lado de outras mudanças a maior liberdade partidária apontava que embora estas eleições ainda se realizassem sob a vigência da ditadura militar, elas sinalizavam o fim deste regime. Com a promulgação da Constituição de 1988, houve o aprofundamento da liberdade de organização partidária, com a livre criação, fusão, incorporação e extinção de partidos, reafirmandose, deste modo, o sistema pluripartidário. A introdução destes novos instrumentos jurídicos marcou as eleições municipais de 1988 e 1992, expressando-se principalmente pelo elevado número de novos partidos na disputa, já observável desde 1982. Considerando as especificidades das eleições realizadas em 1982, 1988 e 1992, é importante observar como se processou a dinâmica partidária no Legislativo Municipal durante este período, marcado por características distintas. Neste sentido, a Tabela 01 permite analisar a distribuição dos partidos a partir de 1982 até 1992. TABELA 01 Partidos na Câmara Municipal de São Luís, 1982 - 1992 Nº. PARTIDOS 1982 1988 1992 01 PDS 11 04 01 02 PMDB 10 01 03 PFL 07 03 04 PDT 02 04 05 PDC 02 06 PL 02 07 PSDB 01 02 08 PT 01 01 09 PCB 01 10 PRN 02 11 PSC 02 12 PTR 02 13 PST 02 14 PMN 02 Fonte: dados Oficiais do TRE. Eleições 82, 88 e 92. Conforme demonstrado na Tabela 01, embora as eleições de 1982 não tenham se realizado sob o bipartidarismo (lei), vigorou a lógica bipartidária. Entre os cinco partidos que participaram das disputas, apenas o PDS e PMDB tiveram êxito, dividindo as vinte e uma vagas do Legislativo Municipal. Isto se deve principalmente, ao fato desses partidos terem herdado a estrutura das organizações partidárias do regime militar, ARENA e MDB; o PDS incorporou grande número de integrantes da antiga ARENA e o PMDB representou uma tentativa de continuidade do MDB. Em relação aos demais partidos criados em 1980, o PDT e o PT iniciaram sua participação na Câmara Municipal somente a partir de 1988. No entanto é importante considerar que suas trajetórias foram distintas, apontando nítido crescimento do PDT em relação ao PT no Legislativo. Em 1988 o PDT conseguiu eleger dois vereadores, enquanto o PT elegeu somente um. Em 1992 o PDT foi maioria na Câmara Municipal, conseguindo eleger quatro vereadores, enquanto o PT continuou com uma vaga. Por sua vez, o PTB durante o período estudado não elegeu candidatos para a Câmara de Vereadores. Do pleito municipal de 1982 ao de 1992 dois novos partidos iniciaram com destaque sua participação no Legislativo Municipal. O PFL2, criado em 1985, participou pela primeira vez das disputas para a Câmara Municipal em 1988, conquistando o maior número de vagas. O PSDB mesmo tendo sido fundado em 1988 disputou as eleições deste ano e conseguiu compor a Câmara de Vereadores. Ao longo dessa década estudada, o número de partidos presentes na Câmara Municipal tem variado significativamente, saindo de dois em 1982 para nove em 1988 e 2 Partido criado a partir da Frente Liberal, movimento fundado em 1985 por integrantes do PDS (José Sarney, Marco Maciel e Aureliano Chaves) contrários à candidatura de Paulo Maluf à presidência da República. Este movimento passou a apoiar a chapa do PMDB, liderada por Tancredo Neves, que teve como vice-presidente José Sarney. atingindo dez em 1992, com nítida tendência ao crescimento. Em relação aos partidos que cresceram e decresceram nesse processo, temos um quadro bem representativo das transformações pelas quais o sistema político brasileiro vinha passando. Com a promulgação da constituição em 1988 e a incorporação de novos partidos nas disputas eleitorais, o Brasil ganhou características mais democráticas tornando as eleições mais competitivas e elevando os índices de participação política3. Além disso, o aumento do número de partidos nas disputas tornou os resultados eleitorais menos previsíveis intensificando a competição. Neste contexto, o PDS foi o único partido que participou da composição da Câmara Municipal em todas as legislaturas estudadas, no entanto ele não conseguiu manter o bom desempenho das eleições de 1982 nas demais legislaturas. Ressalte-se que este partido desde a sua criação tinha sido beneficiário da chamada máquina política4, mas perdeu esse “incentivo” após a criação do PFL em 1985, esta legenda passou a contar com o apoio do presidente da república e todos os “benefícios” provenientes desta relação. Na eleição de 1982 o PDS conquistou onze vagas e se destacou por assumir as principais funções (presidente e vice-presidente) em todas as composições da Mesa Diretora da Câmara5. Em 1988 conseguiu quatro vagas, apesar de ser o segundo em número de cadeiras e ter ocupado cargos na Mesa Diretora, perdeu espaço para o PFL que conquistou sete. Em 1992 conquistou apenas uma vaga e, apesar de ter se verificado um quadro de grande fragmentação partidária, este resultado refletiu um mau desempenho, pois partidos como PDT e PFL conquistaram o maior número de vagas. 3 De acordo com Kinzo (2003) houve um crescimento expressivo do eleitorado brasileiro com inclusão dos analfabetos em 1985, somada à redução da idade mínima para votar que saiu de 21 para 16 anos, após a promulgação da Constituição de 1988. 4 “Organização partidária que se baseia no poder de atração de recompensas materiais. Tais recompensas incluem o acesso a empregos e cargos na administração pública pela manipulação da influência política dos dirigentes e quadros partidários, a obtenção de privilégios de diferentes tipos, desde contratos de fornecimento de bens e serviços para órgãos governamentais, até a maximização das oportunidades de realização de negócios particulares através da utilização de contatos políticos e tráfico de influência, ou ainda a concessão de licenças para diversas finalidades, isenções fiscais e outros tipos de benefícios e vantagens, freqüentemente irregulares ou ilegais” (WILSON apud DINIZ, 1982, p.27). 5 A Mesa Diretora é composta por sete vereadores eleitos entre os pares para mandatos de dois anos. De acordo com Regimento Interno disponível na página eletrônica da Câmara de Vereadores de São Luís, entre as atribuições da Mesa Diretora está o julgamento das contas do prefeito, a direção dos trabalhos em Plenário, a proposição de projetos de decretos legislativos, assinatura de projetos de lei submetidos à sanção e promulgação do prefeito. Ressalte-se que na legislatura de 1982 foram constituídas três Mesas Diretoras e não duas como de praxe. Isto ocorreu porque os diplomados exerceriam mandatos com duração de seis anos para que fosse possível regularizar a ordem de todos os pleitos, com intervalos de dois anos para as eleições à presidência. Regularizada a situação, os mandatos voltaram a ter duração de quatro anos. O PMDB que em 1982 era o segundo partido mais forte, tendo conquistado dez vagas e ter ocupado postos na Mesa Diretora, em 1988 elegeu apenas um vereador, embora tenha ocupado cargo nas duas composições da Mesa. Nas eleições de 1992 não conquistou nenhuma vaga. Ressalte-se que o presidente da república, eleito em 1985, era o maranhense José Sarney6 que integrava o PMDB, mas no Maranhão ele apoiava o PFL7. Deste modo, a perda de predominância do PMDB na política estadual pode está associada a dois fatores: ao apoio que o PFL recebia do presidente, tornando-se um dos partidos mais importantes do estado desde sua fundação; assim como pode estar relacionada às consequências do fracasso do governo Sarney. O PFL, partido ligado ao governo, desde a sua criação passou a contar com o apoio da máquina governamental8. Em sua primeira disputa para o Legislativo Municipal obteve a maioria das vagas, sete, e acumulou as funções de presidente e vicepresidente da Mesa Diretora. Nas eleições de 1992, conforme viemos anunciando, registrou-se um quadro de intensa fragmentação partidária com dez partidos na composição da Câmara Municipal. Neste cenário, o PFL obteve o segundo lugar em conquista de vagas, três, sendo superado pelo PDT que conquistou uma a mais. O PDT dobrou o número de vagas entre 1988 e 1992, e embora esses números fossem reduzidos- dois e quatro, em 1992 foi o que conquistou maior bancada e o cargo de segundo vice-presidente da Mesa Diretora. Em relação aos demais partidos que obtiveram vagas em 1988 - PDC, PL, PSDB, PT e PCB – o PDC e o PL 6 A inserção de Sarney na política estadual tem início com sua vinculação ao grupo do senador Vitorino Freire que esteve no comando da política maranhense por vinte anos (1946/1965), mas com quem veio a romper. Apesar de ter se desvinculado do PSD, partido sobre o qual Vitorino Freire exercia controle, e se filiado a UDN junto com o grupo de deputados dissidentes do PSD, a carreira política de Sarney foi marcada por idas e vindas entre governo e oposição até a década de 1960 (COSTA, 2006). Apesar da instabilidade inicial quanto ao posicionamento político entre governo e oposição foi na UDN, partido integrado às Oposições Coligadas e principal frente de oposição vitorinista no estado, reunindo um grupo bastante heterogêneo, que Sarney foi eleito governador do Maranhão em 1965 com o aval da ditadura militar, recém instalada. Essa vitória não foi suficiente para que ele pudesse consolidar claro um domínio na política estadual, possibilidade alcançada a partir do final do anos 1970 quando ele conseguiu eleger João Castelo indiretamente para o governo do estado, os senadores e a maioria dos deputados (COSTA, 1997). 7 A Emenda Constitucional nº25 de 1985, aboliu a fidelidade partidária. Compreendida aqui com base nas interpretações de Diniz (1982, p.32) “as máquinas são caracterizadas como uma espécie particular de partido político, cujo funcionamento baseia-se principalmente na utilização de incentivos materiais específicos, implicando dispêndio de recursos monetários, ou alocação de bens e prestação de serviços traduzíveis em termos monetários. Tais recompensas podem ser concebidas tanto aos quadros e militantes, quanto a pessoas não integrantes da organização partidária, porém que fazem parte de seu círculo de apoio, tais como eleitores de zonas eleitorais específicas, cidadãos influentes, proprietários de jornais, homens de negócios, entre outros”. 8 conquistaram cargos na Mesa Diretora. Nas eleições de 1992 o PDC, PL e PCB perderam as vagas conquistadas; o PT conservou sua única vaga e o PSDB passou de uma para duas. É importante observar que o PT e o PSDB, também participaram das legislaturas de 1988 e 1992. Observando a participação desses partidos na Câmara Municipal, embora não haja diferenças significativas em relação ao número de vagas conquistadas por ambos, o PSDB tem tido uma força adicional no âmbito da Câmara de Vereadores, visto que, além das vagas, tem obtido cargos na Mesa Diretora, fato ainda não verificado em relação ao PT. Ressalte-se que a análise sobre os partidos políticos não pode prescindir de considerações sobre o sistema eleitoral vigente e sua maior ênfase nos partidos ou nos candidatos. No Brasil, utilizamos para o Poder Legislativo (excetuando o Senado) eleições proporcionais com lista aberta, neste sistema, vota-se em um nome (voto nominal) ou partido (voto de legenda). Segundo Nicolau (2006, p. 692) “este voto nas legendas é contado apenas para a distribuição das cadeiras entre os partidos, mas não tem nenhum efeito na distribuição das cadeiras entre os candidatos”, lançando os concorrentes em disputa não apenas com adversário de outros partidos, mas também com os demais candidatos do seu próprio partido; nesse contexto, o partido deixa de ser o diferencial mais importante, pois os candidatos passam a super valorizar suas características pessoais. Assim, a adoção da representação proporcional com lista aberta enfraquece a atuação dos partidos, uma vez que personaliza a escolha eleitoral, os eleitores tendem a votar em uma pessoa e não em um partido. Desta independência parcial dos eleitos em relação aos partidos não se pode concluir que estes sejam irrelevantes. Sintetizando visões de diversos teóricos dos partidos políticos, Borges (2005) aponta três dimensões a partir das quais é possível avaliar a importância destas organizações, definidas a partir da esfera onde atuam, no caso, a eleitoral, a governamental e a de mobilização/canalização de interesses sociais específicos. Olhando para o caso brasileiro à luz desses critérios é possível constatar que no plano eleitoral, a personalização enfraquece os partidos, porém a candidatura só pode ser viabilizada através dos mesmos, sendo comum que as possibilidades de êxito de um candidato decorra de alianças partidárias (coligações), principalmente para o Legislativo. No plano governamental, baseando-se em evidências sobre os partidos no interior do Legislativo Federal, Figueiredo e Limongi (1998), demonstram a importância dos mesmos a partir do elevado grau de disciplina interna, suficiente para tornar a ação do plenário previsível, ou seja, os partidos funcionando como estruturadores das atividades parlamentares no interior da Casa Legislativa. Faz parte dessa importância no Legislativo o fato de que no Brasil predomina o presidencialismo de coalizão, ou seja, sendo a composição desses dois poderes originada de eleições distintas, o chefe do Executivo precisa conquistar apoio no legislativo e isto, geralmente se dá pela formação de ampla aliança partidária que resulta na composição de uma base de apoio a partir da qual o Legislativo (que tem poder de veto sobre o Executivo) dá apoio ao presidente e este, em troca, distribui seletivamente entre seus aliados, cargos, benesses, prestígio, etc) (FIQUEIREDO e LIMONGI, 1998). Como, as chances de eleição, reeleição e manutenção de bases de apoio dependem muito desses recursos, pode-se inferir que o abrigo em partidos “bem posicionados” em relação aos recursos governamentais pode ser um trunfo valioso para a edificação de carreiras políticas, caracterizadas pela capacidade de atendimento às bases eleitorais. Por outro lado, o posicionamento continuado em partido que tem identidade ideológica mais definida (caso dos partidos de esquerda) pode ser um diferencial importante na construção de reputação e, consequentemente, de uma carreira política, esta, caracterizada pela imagem de compromisso com determinado projeto político. No tocante à mobilização social dos partidos, este talvez seja o ponto mais fraco, pois tem sido cada vez menor a capacidade dessas organizações representarem segmentos e interesses específicos da sociedade, tendo em vista que a identidade programática e ideológica dos partidos vem sendo crescentemente substituída pela personalização da representação política, pela lógica da propaganda e da mídia, por especialistas e ativistas contratados (BORGES, 2005). Partindo desse debate sobre a importância dos partidos políticos e o personalismo do sistema eleitoral, na Tabela 02, relativo à movimentação dos vereadores ao longo do período estudado, introduz importantes elementos para a discussão sobre reeleição, migração partidária, fornecendo elementos para análise tanto dos partidos políticos quanto do papel da Câmara Municipal enquanto locus de estruturação, ou não, de carreiras políticas9. Tabela 02 Movimentação Político-Partidária dos Vereadores de 1982 – 1992 até as Eleições de 2008* Nº. 9 VEREADORES ELEITOS 1982 1988 1992 Destino x Suplente de vereador em 1996 Vereador em 1996 01 Ademar Danilo 02 Aldionor Salgado x 03 Ana Rita Botão x 04 Ananias Neto x 05 Antônio Francisco Santos x 06 Antônio José dos Santos x 07 Benedito Pires 08 Carlos Magno x 09 Cordeiro Filho x 10 Costa Ferreira x 11 Deco Soares x 12 Eliézer Costa x 13 Elizeu Adalto x 14 Francisco Carvalho 15 Gabriel Ramos 16 George Abdalla 17 Hélcio Silva x 18 Hilton Rodrigues x 19 Hugo Reis 20 x x Vereador em 1996 Deputado Federal x x x Vereador (1996, 2000, 2008) x x x Empresário (Pres. Da FIEMA) Ivan Sarney x Vereador (1996, 2000,2004) 21 Jayron Guimarães x 22 João Bentivi x 23 João Evangelista 24 José Cosmo Frazão x x x Dep.Est. (1994,1998,2002,2006) x Em termos bem simples a carreira política pode ser entendida a partir da distinção weberiana entre político ocasional e político por vocação, sendo este último aquele que se dedica intensa e prioritariamente para a atividade política, vivendo da mesma (economicamente falando) e para a mesma (defesa de um a causa, um ideal, um projeto), ainda que a ênfase numa ou noutra dessas dimensões possa variar de um agente para o outro. A carreira política expressa a situação em que o político se mantém nessa atividade por longo tempo, exercendo cargos (eletivos ou partidários) e acumulando experiências que lhes permitem assimilar as regras, as habilidades e a racionalidade próprias a essa atividade e que fazem do agente político que domina tais códigos um profissional da política ou um político profissional. 25 José de Arimatéia x 26 José Joaquim 27 José Mário Lauande x 28 Juarez Pereira Damasceno x 29 Kleber Gomes 30 Lia Varella 31 Luís Sabóia 32 Manoel Ribeiro 33 Manuel dos Santos 34 Marcelo Bezerra x 35 Murilo Gomes x 36 Nazaré Bezerra 37 Nonato Cassas 38 Pavão Filho 39 Pedro Fernandes 40 Philipe Camarão x 41 Raimundo Assub x 42 Raimundo Jairzinho 43 Rubem Moreira Brito 44 Samuel Sá x x 45 Sebastião Costa x x 46 Simone Andrade Macieira x 47 Tadeu Palácio x 48 Ubyrajara Rayol x Vereador(1996,2000,2004,2008) x x x x x x Dep.Est. x (1990,1994,1998,2002,2006) x x x x x x x Vereador (1996 ) e Dep. Est. (1998 e 2002.) Dep. Est. (1994), Candidato a prefeito (1996),Dep. Fed. (1998) x x Vice-prefeito x x Vereador (1996 e 2000) Vereador (1996), Vice-Prefeito (2000), Prefeito (2004) x *Embora este estudo se restrinja ao período de 1982 a 1992, esta tabela reúne informações dos pleitos de 1994, 1996, 1998, 2000, 2002, 2004, 2006 e 2008, em razão de que o período de uma década é muito pouco para se tirar conclusões sobre carreiras políticas. Os dados apresentados na última coluna não incluem os que concorreram, mas não se elegeram, nem os eleitos deputados estaduais e federais em 1990. Fonte: Dados oficiais do TRE. Eleições 1982, 1988 e 1992. Conforme demonstrado na Tabela 02, entre os vereadores eleitos em 1982, cinco conseguiram se reeleger em 1988: José Mário Lauande, Lia Varella, Manoel Ribeiro, Marcelo Bezerra e Deco Soares, destes apenas os dois primeiros foram reeleitos pelo mesmo partido ao qual pertenciam em 1982, PMDB e PDS, respectivamente. Em relação aos demais, Manoel Ribeiro trocou o PDS pelo PFL; Marcelo Bezerra saiu do PMDB e foi para o PDT; Deco Soares trocou o PDS pelo PFL. A migração partidária não ocorre somente de uma eleição pra outra, podendo acontecer no curso de uma mesma legislatura ou mandato. Na legislatura correspondente as eleições de 1982, nove vereadores mudaram de partido: Manoel Ribeiro (PDS/PTB/PFL), Deco Soares (PDS/PFL) e Marcelo Bezerra (PMDB/PDT), que já haviam sido citados; e os vereadores que não conseguiram a reeleição em 1992, Murilo Freitas (PDS/PFL), Raimundo Assub, Ubirajara Rayol (PMDB/PFL/PDS), Costa Ferreira (PDS/PFL), Hélcio de Jesus Silva (PMDB/PDS) e Aldionor Salgado (PMDB/PT). Ressalte-se que as migrações PDS/PFL, neste contexto, podem estar refletindo consequências relativas a rupturas no interior do próprio partido, visto que o PFL surgiu do PDS. Não é sem propósito que os casos observados de saídas do PDS ocorreram em 1985 (mesmo ano de fundação do PFL). Entre as eleições de 1988 e as de 1992 se destacaram os seguintes vereadores por conseguirem a reeleição: Raimundo Assub, George Abdalla, João Evangelista, Francisco Carvalho, Sebastião Costa, José Joaquim, Tadeu Palácio, Samuel Sá e Pavão Filho. Comparativamente a eleição anterior, constata-se que houve um número maior de reeleitos, somando nove vereadores. Entre os nove vereadores reeleitos em 1992, mais uma vez verificou-se as mudanças partidárias entre uma eleição e outra. Dos nove reeleitos, apenas três se mantiveram no mesmo partido de 1988: George Abdalla, Francisco Carvalho e Sebastião Costa, o PFL. Em relação aos demais, João Evangelista e José Joaquim trocaram o PDS pelo PRN; Tadeu Palácio deixou o PL e foi para o PMN; Samuel Sá saiu do PDC e foi para o PMN; Pavão Filho trocou o PL pelo PSC. Em relação à migração partidária, repetiu-se em 1988 fato semelhante ao ocorrido em 1982, alguns vereadores mudaram de partido não entre uma eleição e outra, mas no curso da mesma legislatura. Esta situação envolveu onze vereadores: João Evangelista (PDS/PRN), José Joaquim (PDS/PRN), Tadeu Palácio (PL/PSC/PMN), Samuel Sá (PDC/PSC/PMN), Pavão Filho (PL/PSC), Raimundo Assub (PFL/PSC), José Mário Lauande (PMDB/PDC), Nazaré Bezerra (PDT/PRN/PFL), Simone Macieira (PCB/PPS), Luís Sabóia (PSDB/PDT/PT) e Hugo Reis (PDC/PTB). Em relação aos casos de migração partidária correspondente às eleições de 1992, o número de migrantes foi menor que os observados nas legislaturas anteriores, registrando-se apenas três casos: Tadeu Palácio (PMN/PDT), Raimundo Assub (PSC/PFL) e Ivan Sarney (PST/PP/PMDB). Conforme observado, o número de migrações partidárias na Câmara Municipal entre 1982 e 1992 é considerável. Esses números refletem mudanças conjunturais como o fim da ditadura militar e a reacomodação das elites políticas locais em decorrência disso. No que se refere à Câmara Municipal enquanto locus de estruturação de carreiras políticas. Ressalte-se que entre os 48 vereadores que passaram por esta Casa Legislativa no período estudado, 14 (29,16%) se mantiveram em atividades parlamentares, seja no nível municipal ou em outros. O destaque em relação a este ponto tem a ver com o fato de que a maioria dos vereadores, 34 (70,83%), não tentou e/ou não conseguiu consolidar carreiras políticas, tendo em vista que seus nomes não aparecem em nenhuma lista de eleitos nos pleitos (de São Luís, estaduais e federais) realizados entre 1996 e 2008. Entre os 14 vereadores que continuaram exercendo atividades parlamentares, sete limitaram sua carreira política à vereança: Ademar Danilo (suplente), Antônio Francisco dos Santos, Benedito Pires, Francisco Carvalho, Ivan Sarney, José Joaquim e Sebastião Costa. Em relação aos demais vereadores, quatro foram para a Assembléia Legislativa (João Evangelista, Manoel Ribeiro, Pavão Filho e Pedro Fernandes), dois foram para a Câmara Federal (Costa Ferreira e Pedro Fernandes), e dois foram vice-prefeito (Raimundo Jairzinho e Tadeu Palácio), e um foi eleito prefeito de São Luís (Tadeu Palácio). Considerando o papel da Câmara Municipal de São Luís como espaço de iniciação ou estruturação de carreiras políticas, os números obtidos mostram que apenas 24 (50%) dos vereadores conquistaram um mandato. Merecem destaque, por outro lado, os vereadores que fizeram da Câmara Municipal um trampolim para suas carreiras políticas, caso de José Joaquim (vereador por seis mandatos), Ivan Sarney (vereador por quatro mandatos), Francisco Carvalho (vereador por cinco mandatos), Manoel Ribeiro (vereador por dois mandatos, deputado estadual por cinco mandatos e cinco vezes presidente da Assembléia Legislativa por cinco mandatos), Pavão Filho (três mandatos de vereador e dois mandatos de deputado estadual), João Evangelista (dois mandatos de vereador, quatro mandatos como Deputado Estadual e presidente da Assembleia Legislativa por dois mandatos), Pedro Fernandes (um mandato de vereador, um mandato de deputado estadual e outro de deputado federal), Jairzinho (um mandato de vereador e outro de vice-prefeito), e Tadeu Palácio (três mandatos de vereador, um mandato de vice-prefeito e um mandato de prefeito). Conclusão A dinâmica político-partidária em São Luís entre 1982 e 1992, se caracterizou por processos de especial relevância política. As eleições de 1982 possuíram caráter plebiscitário, sinalizando o fim do governo dos militares, com o restabelecimento do pluralismo partidário e o surgimento de novos partidos. Embora estas eleições tenham se realizado após o fim do bipartidarismo, prevaleceu a lógica bipartidária, apenas dois partidos conseguiram eleger candidatos para a Câmara Municipal, PDS e PMDB, que representavam respectivamente governo e oposição, além de herdarem a estrutura organizacional dos partidos que atuaram durante a ditadura, ARENA e MDB. As eleições de 1988 e 1992 ocorreram após a promulgação da Constituição de 1988 que deu nítida ênfase a dimensão municipalista, reintroduziu o Estado de Direito, com fortalecimento dos municípios, do poder Legislativo e do pluralismo partidário. O pleito de 1988 levou nove partidos à Câmara Municipal e o PFL despontou como principal força política, elegendo a maior bancada e assumindo a presidência das duas Mesas Diretoras referentes a esta legislatura. Em 1992, dez partidos integraram o Legislativo Municipal, demonstrando um quadro bastante fragmentado, nenhum partido conquistou maioria absoluta, mas o PFL e o PDT foram os que alcançaram individualmente, o maior número de vagas. Ressalte-se que o PDT apresenta relativo crescimento desde 1988 quando conseguiu eleger dois vereadores e o prefeito da capital e em 1992 foi maioria na Câmara com quatro vereadores diplomados. Durante o período estudado (1982- 1992) foi observados os seguintes casos de reeleição: cinco, entre 1982 e 1988; nove, entre 1988 e 1992. Embora se trate de uma série histórica de curta duração, os números apontam crescimento da reeleição na Câmara Municipal de São Luís. Tal crescimento foi mais significativo em 1992, quando praticamente metade do Legislativo Municipal (composto por 21 integrantes) foi reeleito para o mesmo cargo. Em relação à migração partidária, verificou-se que entre 1982 e 1988 esta foi bastante intensa. No primeiro ano ocorreram nove casos e no segundo onze vereadores mudaram de partidos. Em 1992, observou-se que houve redução nos casos de migração entre os partidos, ocorrendo apenas três casos. Parte importante desses processos é associada aos casos de divisão verificadas dentro de alguns partidos que se dividiram em dois (PDS/PFL; PMDB/PSDB; PCB/PPS) e outros casos de fusões partidárias. No tocante à questão da carreira política e da Câmara Municipal enquanto espaço de iniciação e estruturação dessas carreiras, observou-se que a grande maioria (70,83%) dos vereadores eleitos no período não seguiram carreira política. Outro pequeno número (29,16%) permaneceu na política, mas não galgou patamares mais elevados na carreira, permanecendo como vereadores. Finalmente, há um grupo ainda mais reduzido (10,41%) que consolidou uma carreira política em cargos estaduais e federais, apenas um vereador de São Luís tornou-se prefeito desta cidade. Estes números apontam em conformidade com outros estudos que a vereança não é um canal prioritário de viabilização de carreiras políticas. BIBLIOGRAFIA BOBBIO, Noberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: UESP, 1995. BORGES, Arleth Santos. A construção do Partido dos Trabalhadores no Maranhão. Campinas: UNICAMP/ IFCH, 1998. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. BORGES, Arleth Santos. Conexão eleitoral: conceitos e práticas. In: Conexão eleitoral e atuação parlamentar: representantes e bases eleitorais no Maranhão. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2005. Tese de Doutorado. 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ANEXO 01 ARENA - Aliança Renovadora Nacional ABI- Associação Brasileira de Imprensa MDB - Movimento Democrático Brasileiro OAB- Ordem dos Advogados do Brasil PCB - Partido Comunista Brasileiro PCdoB - Partido Comunista do Brasil PDC - Partido Democrata Cristão PDS - Partido Democrático Social PDT - Partido Democrático Trabalhista PFL - Partido da Frente Liberal PL - Partido Liberal PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMN - Partido da Mobilização Nacional PMR - Partido Municipalista Renovador PP – Partido Popular PPS - Partido Popular Socialista PRN - Partido da Reconstrução Nacional PRP - Partido de Representação Popular PSB - Partido Socialista Brasileiro PSC - Partido Social Cristão PSD - Partido Social Democrático PSDB - Partido da Social Democracia PST - Partido Social Trabalhista PT - Partido dos Trabalhadores PTB - Partido Trabalhista Brasileiro PTR - Partido Trabalhista Reformador PV - Partido Verde UDN - União Democrática Nacional i Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão