Proc. Interamer. Soc. Trop. Hort. 47:114-118.
Fruit/Frutales - October 2003
Desenvolvimento de Tecnologia para Conservação Pós-colheita de Ata (Annona squamosa)
José Luiz Mosca, Ebenezer de Oliveira Silva, Priscila Santos Mendonça, Adriano da Silva Almeida, Ricardo Elesbão
Alves, Maria Raquel Alcântara de Miranda, Embrapa Agroindústria Tropical, CP 3761, 60511-110, Fortaleza, CE, Brasil,
[email protected]
Daniel Vidal, Asfruta, Fortaleza, CE, Brasil.
Resumo. Atas colhidas "de vez" foram expostas ao 1-MCP (800ppb)
por 12 horas e em seguida armazenadas a 15ºC por 7 dias. No 1º, 3º,
5º e 7º dia de armazenamento, foram retiradas amostras que foram
mantidas em temperatura ambiente por 9 dias para simular as
condições de comercialização do fruto. Determinou-se a taxa
respiratória, evolução de etileno, aparência externa, firmeza da polpa,
perda de massa, acidez total titulável, sólidos solúveis totais, pH e
relação SST/ATT. Os dados demonstraram que independentemente
do tempo de refrigeração, os frutos após serem retirados da
refrigeração se conservaram por 2 dias.
Abstract. Sugar apples were harvested at physiological maturity
and exposed to 1-MCP (800ppb) for 12 hr and then stored at 15ºC
for 7 days. Fruit were removed after the 1st , 3rd , 5th and 7th day
of cold storage and kept at ambient temperature for nine days to
simulate commercial conditions. Physical and chemical
characteristics plus ethylene and CO2 production were evaluated.
Results show that independent of the cold storage period, fruit
kept well for two days at ambient temperatures.
____________________________
Apesar da inexistência de estatísticas oficiais, é notória a demanda crescente por frutos de anonáceas, tanto no mercado
interno brasileiro como no mercado externo. Prova disso é o crescente interesse por publicações sobre produção, colheita e póscolheita de pinha e graviola. Esse incremento na procura tem motivado os fruticultores e empresários brasileiros,
principalmente da região Nordeste. A ata, fruta-do-conde ou pinha (Annona squamosa L.), poderia ter seu cultivo incrementado
em termos técnicos e empresariais. Porém, a dificuldade de conservação e transporte ainda limita os investimentos, posto que,
devido às grandes distâncias dos principais centros consumidores do país, a fruta produzida no Nordeste ainda tem pouca
competitividade em relação à produzida em Minas Gerais e São Paulo. Esse trabalho teve como objetivo avaliar o uso de 1MCP para prolongar a vida útil e simular as condições de comercialização da ata.
Material e Métodos
Frutos provenientes de plantio comercial da Asfruta na Chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, CE, foram colhidos no
estádio “de vez” e transportados para o Laboratório de Fisiologia e Tecnologia Pós-Colheita da Embrapa Agroindústria
Tropical, em Fortaleza, CE. Ao chegarem ao Laboratório, os frutos foram submetidos a aplicação de 23,84 mg de Smartfresh®,
de 0,27% de i.a, para a concentração de 800 ppb de 1-MCP. Tanto durante como após a aplicação de 1-MCP, os frutos foram
armazenados à 15,5 ± 0,5ºC. Ao 1o , 3o , 5o e 7o dia de armazenamento refrigerado frutos foram retirados e postos em
condições ambientes de temperatura e atmosfera (28oC e 60 ± 5% U.R.) e avaliados a cada dias, simulando as condições de
mercado.
A perda de peso foi determinada tendo como parâmetro o peso no dia da colheita, em balança semi-analítica e o resultado foi
expresso em %. Sólidos solúveis totais (SST) foram avaliados em refratômetro digital ATAGO PR 101 e o resultado expresso
em °Brix (AOAC, 1992). O pH foi determinado em titulador automático e a firmeza através de um penetrômetro digital
computadorizado da marca Stable Micro Systems modelo TA.XT2i com sonda de 2 mm de ponta. A aparência externa dos
frutos foi avaliada através de escala subjetiva (0-4), considerando como nota 4- frutos firmes sem injúrias, 3- frutos menos
firmes sem injúrias, 2- perda intermediária de firmeza sem injúrias, 1- perda acentuada de firmeza e presença de manchas ou
injúrias e 0- perda completa de firmeza com manchas escuras e sintomas de podridão.
Frutos foram avaliados para produção de CO2 e etileno no dia da colheita e a cada dia de armazenamento. As análises
começaram no dia da colheita e utilizaram amostras de 5ml de gás, que foram processadas em cromatógrafo CG, modelo
DANI 8610, equipado com coluna Porapak-N de quatro metros de comprimento e 1/8” de espessura, com detectores de
condutividade térmica e ionização de chama para análise de CO2 e etileno em série, respectivamente.
115
1-M CP 800 ppb
1-MCP 0 ppb
14
12
12
uL Etileno Kg-1 . h-1
uL Etileno Kg-1 . h-1
1-MCP 0 ppb
14
A
10
B
10
8
6
4
2
8
6
4
2
0
2
3
4
0
5
4
Dias após a colheita
1 -M C P 0 p p b
5
6
7
Dias após a colheita
1-M CP 0 ppb
1 -M C P 8 0 0 p p b
1-M CP 800 ppb
16
8
6
D
14
uL Etileno Kg-1 . h-1
C
7
uL Etileno Kg-1 . h-1
1-MCP 800 ppb
5
4
3
2
1
12
10
8
6
4
2
0
0
1
2
3
4
5
6
0
1
2
3
D ia s a p ó s a c o lh e ita
4
5
6
7
8
9
Dias após a colheita
Figura 1. Produção de etileno de atas tratadas ou não com 800 ppb de 1-MCP e postas em condição ambiente (28oC e 60 ± 5% U.R.)
após 1 (A), 3 (B), 5 (C) e 7 (D) dias de armazenamento a 15o C.
1 -M C P 0 p p b
1 -M C P 8 0 0 p p b
1-MCP 0 ppb
600
A
500
mg CO2 . Kg-1 . h-1
mg CO2 . Kg-1 . h-1
500
400
300
200
100
400
300
B
200
100
0
2
3
4
5
0
6
4
D ia s a p ó s a c o lh e ita
1-M CP 0 ppb
5
6
7
Dias após a colheita
1-M CP 800 ppb
1-MCP 0 ppb
500
450
450
400
400
1-MCP 800 ppb
350
mg CO2 . Kg-1 . h-1
mg CO2 . Kg-1 . h-1
1-MCP 800 ppb
600
350
300
250
200
D C
150
300
250
200
150
100
100
50
50
0
0
1
2
3
4
5
6
0
Dias após a colheita
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Dias após a colheita
Figura 2. Produção de CO2 de atas tratadas ou não com 800 ppb de 1-MCP e postas em condição ambiente (28oC e 60 ± 5% U.R.)
após 1 (A), 3 (B), 5 (C) e 7 (D) dias de armazenamento a 15o C.
116
Testemunha
1-MCP 800
Testemunha
A
400
350
350
300
300
250
Firmeza (N)
Firmeza (N)
1-MCP 800ppb
B
400
200
150
250
200
150
100
100
50
50
0
0
1
2
3
4
5
6
7
0
Dias após a colheita
0
1
2
3
4
5
6
Dias após a colheita
Testemunha
1-MCP 800ppb
Testem unha
C
350
350
300
300
250
250
200
150
1-M CP 800ppb
D
400
Firmeza (N)
Firmeza (N)
400
200
150
100
100
50
50
0
0
0
0
1
2
3
4
5
1
2
3
6
4
5
6
7
Dias após a colheita
Dias após a colheita
Figura 3. Firmeza de atas tratadas ou não com 800 ppb de 1-MCP e
postas em condição ambiente (28oC e 60 ± 5% U.R.) após 1 (A), 3
(B), 5 (C) e 7 (D) dias de armazenamento a 15o C.
Testemunha
Testemunha
1-MCP 800ppb
A
4,5
4,5
1-MCP 800ppb
4,0
4,0
3,5
3,5
Aparência externa (0-4)
Aparência externa (0-4)
B
3,0
2,5
2,0
1,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
1,0
0,5
0,5
0,0
0
0,0
0
1
2
3
4
1
2
3
4
5
6
7
Dias após a colheita
5
Dias após a colheita
Testemunha
1-MCP 800ppb
Testemunha
4,5
1-MCP 800ppb
4,5
4,0
4,0
Aparência externa (0-4)
Aparência externa (0-4)
3,5
C
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
D
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,5
0,0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0,0
Dias após a colheita
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Dias após a colheita
Figura 4. Aparência de atas tratadas ou não com 800 ppb de 1-MCP e postas em condição ambiente (28oC e 60 ± 5% U.R.) após 1 (A), 3
(B), 5 (C) e 7 (D) dias de armazenamento a 15o C.
117
Testemunha
1-MCP 800ppb
Testemunha
A
1-MCP 800ppb
B
30
25
25
20
20
SST (oBrix)
SST (oBrix)
30
15
15
10
10
5
5
0
0
0
0
1
2
3
4
5
6
1
2
3
7
Testemunha
1-MCP 800ppb
Testemunha
C
25
25
20
20
15
5
6
1-MCP 800ppb
D
30
SST (oBrix)
SST (oBrix)
30
4
Dias após a colheita
Dias após a colheita
15
10
10
5
5
0
0
0
0
1
2
3
4
5
1
2
3
6
4
5
6
7
Dias após a colheita
Dias após a colheita
Figura 5. Sólidos solúveis totais de atas tratadas ou não com 800 ppb de 1-MCP e postas em condição ambiente (28oC e 60 ± 5%
U.R.) após 1 (A), 3 (B), 5 (C) e 7 (D) dias de armazenamento a 15o C.
Testem unha
1-M CP 800ppb
Testem u n h a
A
7
1-M C P 800p p b
B
7
6
5
5
4
4
pH
pH
6
3
3
2
2
1
1
0
0
0
1
2
3
4
5
6
0
7
1
2
Testem un ha
3
4
5
6
D ias ap ó s a co lh e ita
Dias após a colheita
1-M C P 800p pb
T e s te m u n h a
1 -M C P 8 0 0 p p b
7
6,6
6
6,4
5
6,2
pH
pH
4
6
C
5,8
D
3
2
5,6
1
5,4
0
0
1
2
3
4
5
0
6
D ias ap ós a colheita
1
2
3
4
5
6
7
D ia s a p ó s a c o lh e ita
Figura 6. pH de atas tratadas ou não com 800 ppb de 1-MCP e postas em condição ambiente (28oC e 60 ± 5% U.R.) após 1 (A), 3
(B), 5 (C) e 7 (D) dias de armazenamento a 15o C.
Resultados e Discussão
A produção de etileno se manteve independente da aplicação de 1-MCP e do armazenamento refrigerado (Figuras
1A,B,C,D). Diferentemente do esperado, a produção de etileno em atas tratadas com 800ppb de 1-MCP foi maior do que nos
frutos não tratados, tanto durante a refrigeração como em ambiente (Fig. 1C,D). Como antagonista do etileno, o 1-MCP,
compete pelo mesmo sítio de ligação nos receptores das membranas (Sisler e Serek, 1997), evitando a ligação do etileno, que é
considerado o hormônio do amadurecimento e está intimamente associado às alterações fisiológicas e bioquímicas que ocorrem
durante essa etapa do desenvolvimento dos frutos climatéricos (Chitarra e Chitarra, 1990). No entanto, esse não foi o
comportamento observado nesse experimento, O pico respiratório foi inibido pela aplicação de 1-MCP somente quando os
frutos ficaram armazenados a 15o C por um período maior que três dias, antes de ir para o ambiente (Fig. 2C,D). Em frutos
como a ata (Worrel et al., 1994), o climatério ocorre de maneira acelerada, devido a sua alta atividade respiratória. A taxa de
118
respiração é um índice para determinação da longevidade de um fruto pois mede a taxa no qual o metabolismo está se
realizando, por isso é de grande significado para o manejo e o armazenamento pós-colheita dos frutos (Phan et al., 1979).
Assim, o uso da refrigeração em frutos e hortaliças com alta atividade respiratória é essencial para melhor conservação e
manutenção da qualidade, e quando se deseja alcançar mercados distantes do centro de produção.
A firmeza das atas decresce a partir do 3o dia independente da aplicação de 1-MCP e do armazenamento em ambiente ou
refrigerado (Fig. 3A,B,C,D). No entanto, os frutos tratados com 1-MCP apresentam maior firmeza aos quatro dias após a
colheita. Outros trabalhos com 1-MCP mostram que este tem efeitos satisfatórios na manutenção da firmeza da polpa, como
Argenta et al. (2000) que estudaram a aplicação de 1-MCP em Kiwi da cultivar ‘Fuyu’ e observaram uma maior firmeza dos
frutos tratados. De modo geral, a aparência externa dos frutos tratados com 1-MCP se manteve melhor do que os não tratados
(Figuras 4A,B,C,D). A refrigeração também afetou positivamente, mantendo a aparência dos frutos não tratados quando
comparados com os que os mantidos em ambiente. A perda de qualidade dos frutos em relação aparência externa, caracterizouse, principalmente pelo surgimento de manchas escuras na superfície do fruto. O conteúdo de sólidos solúveis totais aumentou
durante o armazenamento, para valores acima de 20 oBrix (Figuras 5A,B,C,D). O alto conteúdo de sólidos solúveis, maior que
20o Brix, foram encontrados por Gutierrez et al. (1994). Um máximo no conteúdo de sólidos solúveis coincidente com o
máximo na acidez titulável também foi observado por Paull et al. (1983), assim como um decréscimo no pH. O pH decresceu
em todos os tratamentos (Fig. 6A,B,C,D), sendo mais acentuado nos frutos armazenados por 5 sob refrigeração (Fig. 6C).
Referências
Association of Official Analytical Chemistry-AOAC, 1992, Official methods of analysis of the association of official
chemistry. Washington:. 1115p.
Argenta, L.C.; Matheis, J.P.; Fan, X. Controle do amadurecimento de frutas–manipulação da ação do etileno com 1metilciclopropeno para preservação pós-colheita de maçãs e peras. In: XVI Congresso Brasileiro de Fruticultura, 2000,
Fortaleza-CE. Palestras do XVI Congresso Brasileiro de Fruticultura. Fortaleza-CE: Embrapa Agroindústria
Tropical/SBF2000. CD-ROM,(1):236-242.
Chitarra, A.B.; Chitarra, M.I.F. 1990, Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio, Lavras: ESAL/FAEPE, 293p.
Phan, C. T.; Pantastico, E. B.; Ogata, K.; Chachin, K. 1979, Respiracion y periodo climaterico respiratorio. In: Pantastico, E. B.
Fisiologia de la postrecoleccion manejo y utilizacion de frutas y hortalizas tropicales y subtropicales. Mexico: Continental,.
p.111-128.
Sisler, E.C.; Serek, M. 1997, Inhibitors of ethylene responses in plants at the receptor level: Recent developments. Physiology
Plantarum, 100:577-582.
Worrell, D.B.; Sean, C.C.M.; Huber, D.J. 1994, Growth, maturation and ripening of soursop (Annona muricata L.) fruit.
Scientia Horticulturae, 57:7-15.
119
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