Interpretação de análises estatísticas e seus impactos nos resultados de pesquisa em doenças de melão pós-colheita. Adroaldo Guimarães Rossetti1; Daniel Terao1 1 Embrapa Agroindústria Tropical, Caixa Postal 3761, CEP 60511-110, Fortaleza – CE. RESUMO A estatística é importante instrumento na pesquisa, principalmente quanto ao planejamento de experimentos, à análise dos dados e à interpretação dos resultados. O uso de análises e testes inapropriados leva à perda de informações e às vezes, à conclusões erradas. O objetivo deste trabalho foi discutir as análises, testes estatísticos e a interpretação dos resultados de um experimento com frutos de melão em pós colheita. A aplicação da análise de regressão aos dados dos tratamentos quantitativos permitiu obter estimativas eficientes dos parâmetros, para os níveis utilizados e para os intervalos entre eles. Permitiu, ainda, obter pontos de mínima severidade e as dosagens ótimas referentes a esses pontos, o que representa uma vantagem da aplicação da análise apropriada aos dados. Compararam-se esses resultados com os de um teste considerado pouco adequado a dados desse tipo. Palavras-chave: Cucumis melo L., análise estatística, testes de comparação de médias, regressão, tratamentos quantitativos. ABSTRACT Interpretation of statistical analysis and its impacts on research results in postharvest diseases in fruits of melon. Statistics is an important tool in research, especially concerned to experimental planning, data analysis and interpretation. The use of unsuitable tests can drive to loss of information and sometimes mistaken conclusions. This work aimed to discuss the analysis, statistical tests and the result interpretation of a post-harvest experiment with melon fruits. The application of the regression analysis to quantitative data permitted to get efficient parameter estimation, to levels and intervals used. It was possible to estimate minimum points of severity and the best dosages correspondent to this points using an appropriate data analysis. The impact of the use of a low suitable test to the experiment data was shown too. Keywords: Cucumis melo L., statistical analysis, tests of means, regression, quantitative treatments. A Estatística é instrumento importante na pesquisa científica, principalmente no tocante ao planejamento dos experimentos, à análise dos dados e à interpretação dos resultados. Nota -se, contudo, certo crescimento do uso de análises e testes estatísticos pouco adequados a determinados tipos de tratamentos avaliados nos experimentos, acarretando perda de informações, de qualidade de alguns trabalhos publicados e, por vezes, permitindo conclusões que não refletem as verdadeiras respostas dos materiais biológicos. Petersen (1977), analisando diversos autores que utilizaram testes de comparação de médias (TCM) em seus trabalhos, constatou que 40% deles os utilizaram de maneira totalmente inapropriada para o tipo de dados envolvidos, visto que os TCM são aplicáveis a experimentos cujos tratamentos são de caráter qualitativo e não relacionados. Santos et al. (1998), analisando os trabalhos publicados na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira, no período 1980 a 1994, quanto ao uso de testes de comparação de médias, verificaram 33,4% de uso inadequado do teste de Tukey, 19,8% do teste de Duncan, 33,3% do teste LSD, 85,7% do teste t, entre outros. Os mais prejudicados nesse contexto, parecem ser os experimentos cujos tratamentos são de natureza quantitativa, com dois ou mais fatores, ou aqueles cujos tratamentos são, um de natureza qualitativa e outro quantitativa, com mais de dois níveis, que exigem desdobramento da interação, envolvem estudos de regressão, e aplicação de TCM, cuja interpretação é, por vezes, mais complexa. As prováveis causas do emprego inadequado de análise estatística e TCM, podem estar associadas ao desconhecimento, por parte do pesquisador, da adequabilidade dos testes aos tipos de dados estudados e ao uso, cada vez mais freqüente, dos “softwares interativos”, que passam a falsa impressão de que certos conhecimentos, como o da natureza dos tratamentos, tão importante na decisão dos tipos de estimação e comparação dos efeitos, a serem realizados, são dispensáveis. É evidente que existem trabalhos que são excelentes exemplos de uso adequado de análises e testes estatísticos. Para dar uma idéia dos dois lados da questão, levantaram-se dados de artigos publicados por vários autores, entre os quais, por Borges et al. (2002), Carlos Neto et al. (2002) e Crisóstomo et al. (2001). O objetivo deste trabalho foi discutir as análises, testes estatísticos e a interpretação dos resultados de um experimento com frutos de melão em pós colheita. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido pelo pesquisador Daniel Terao, com frutos de melão orange, provenientes da fazenda Dinamarca em Mossoró-RN, colhidos em período quente e seco (outubro a novembro), que após desinfestados com álcool etílico 70% foram colocados em caixas de papelão com 5 frutos, cada uma delas constituindo uma unidade experimental. Os 4 tratamentos, constituídos pelas dosagens 0, 150, 300 e 600 ppb de 1-MCP (1metilciclopropeno), com 5 repetições, foram dispostos em delineamento inteiramente casualizado. Em seguida foram inoculados com uma suspensão de conídios de Fusarium pallidoroseum com concentração de 1x107 conídios/mL, em quatro pontos eqüidistantes, na superfície dos frutos, previamente feridos, sendo incubados durante 36 horas em câmara úmida. Após esse período, os frutos foram armazenados em temperatura ambiente (29o+1o C) e umidade relativa (65+2%). Avaliaram-se a incidência da doença, pela contagem do número de lesões em cada fruto, cinco dias após à colheita e a severidade, a cada dois dias, durante 16 dias após a inoculação, utilizando-se escala de notas de 0 a 5, sendo 0: ausência de lesão; 1: lesão com até 10mm; 2: de 11 a 20mm; 3: de 21 a 40mm; 4:de 41 a 60mm e 5: lesões maiores que 60mm. Os dados de severidade da doença foram submetidos à análise estatística considerando-se as concentrações de 1-MCP e o período de avaliação como fatores de tratamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO A interação altamente significativa entre dosagens de 1-MCP e período de avaliação (α<0,0001) indica que o controle da doença depende da dosagem do produto e do tempo (número de dias) após à inoculação. Estudando o comportamento da lesão em função das dosagens de 1-MCP, em cada avaliação (16 dias após à inoculação), verifica-se, pelo sinal negativo (-) dos coeficientes de primeiro grau, nas equações de regressão, da Tabela 1, que houve diminuição da lesão, na medida que aumentaram as concentrações, até 407 a 416 ppb, com exceção do período de 14 dias, que esse valor foi de 393; pontos de mínima severidade, identificados pelo sinal positivo (+) do coeficiente do termo quadrático. Em seguida, o novo crescimento da lesão indica, que a partir de 407 ppb, o produto contribuiu para maior severidade da doença. Resta saber, para que concentrações, o controle de mínima severidade é econômico, o que é plenamente possível estimar-se com essas equações, o que não constituiu o objetivo deste trabalho. É importante mencionar que todos os parâmetros dessas regressões são altamente significativos ao nível α<0,0005 de probabilidade pelo teste t. Isso indica que o efeito do aumento das concentrações de 1-MCP foi positivo no controle da doença, até o nível mínimo obtido, como negativo, a partir dele. Caso essas comparações tivessem sido feitas pelo teste de Tukey, como é comum encontrar-se na literatura, onde só a dosagem zero diferiu significativamente das demais, ter-se-ia concluído que o aumento da concentração de 1-MCP, a partir de 150 ppb, controlaria a doença e que qualquer delas efetivaria bem o controle, inclusive a maior, de 600 ppb, o que seria uma conclusão errada. Estes resultados dão uma idéia da importância que tem o uso adequado de análises e testes estatísticos na obtenção de valiosas conclusões que se pode tirar dos dados de um experimento. Tabela 1. Equações de regressão das dosagens de 1-MCP para severidade da doença, 16 dias após à inoculação. Após a inoculação Aos 2 dias Aos 4 dias Aos 6 dias Aos 8 dias Aos 10 dias Aos 12 dias Aos 14 dias Aos 16 dias Equação de regressão Y=1,168727-0,007122m+0,000008727m2 Y=2,758909-0,016610m+0,000020242m2 Y=3,423273-0,019838m+0,000024162m2 Y=3,650545-0,018728m+0,000022990m2 Y=4,176727-0,017629m+0,000021172m2 Y=4,527273-0,015358m+0,000018828m2 Y=4,780727-0,012816m+0,000016283m2 Y=4,899636-0,011692m+0,000014303m2 R2 0,9377 0,9617 0,9806 0,9366 0,8708 0,7620 0,6956 0,7571 Concentração 408,06 410,27 410,52 407,32 416,33 407,83 393,53 408,73 m: Concentrações de 1-MCP. LITERATURA CITADA BORGES, A. L.; SILVA, T. O. da; CALDAS, R. C.; ALMEIDA, I. E. de. Adubação nitrogenada para bananeira - 'Terra' (Musa sp. 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