SOFTWARES EDUCATIVOS DE LÍNGUA PORTUGUESA: NOVAS POSSIBILIDADES PARA A APRENDIZAGEM DE LÍNGUA MATERNA Waldir Cosmo da Silva1 (UPE) Ana Cristina Barbosa da Silva2 (UPE) Resumo: Este trabalho apresenta o uso de softwares educativos (SE) de língua portuguesa por estudantes dos últimos anos do ensino fundamental de duas escolas particulares, de Pernambuco, contemplando duas turmas de cada escola e três estudantes de cada turma, cujo objetivo foi averiguar as potencialidades pedagógicas desses materiais, em suas atividades e interface, a partir do ponto de vista dos alunos. Durante a aplicação dos SE, os pesquisadores observaram os acontecimentos, realizando anotações. Após as atividades, houve aplicação de um questionário aos participantes, contemplando questões sobre o uso de computador pelos estudantes no cotidiano e na escola, sobre as interfaces dos SE e seu uso nesta pesquisa. Como resultado, constatou-se que os estudantes estão sempre em contato com tecnologias digitais; o uso do SE pelos professores de língua portuguesa ocorre de maneira tímida ainda. Quanto aos softwares usados na pesquisa, os estudantes julgaram ser de fácil uso e que ajudam na aprendizagem; as questões de língua portuguesa sempre empregavam textos e questões a serem respondidas; grande parte dos estudantes não precisou da ajuda do professor para o uso do SE e relataram que o emprego deste recurso deixa as aulas mais interessantes e interativas. Palavras-chave: softwares educativos, interface, interatividade, leitura, compreensão textual. Abstract: This work using educational software (ES) Portuguese-speaking students in their final years of primary education in two private schools in Pernambuco, comprising two classes from each school and three students from each class, whose aim was to examine the pedagogical potential of these materials and activities in their interface, from the point of view of students. During the application of the SE, the researchers observed the events, making notes. After the activities, there was a questionnaire to participants, addressing issues about computer usage by students daily at school, on the interfaces of SE and its use in this research among other issues. As a result, it was found that students are always in touch with digital technologies, the use of SE teachers of English is still so shy. As for the software used in the survey, students felt it was easy to use and help in learning; issues always employed the Portuguese language texts and questions to be answered, most students did not need the help of the teacher to use the IF and reported that the use of this feature makes the lessons more interesting and interactive. Keywords: Portuguese language educational software, language learning, interaction. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -1- Introdução As transformações ocorridas na cultura dos povos ao longo da história atreladas aos avanços tecnológicos nos fazem perceber que sempre as tecnologias estiveram presentes nas sociedades, provocando mudanças nas atividades humanas. Atualmente não acontece diferente, pois se constata que há a emergência de novos modos de interação e produção de conhecimento a partir das tecnologias digitais. Como principal produto derivado da evolução tecnológica digital, em especial dos computadores e seus artefatos tecnológicos destinados à interação com o homem, têm-se as interfaces. A definição de interface, no âmbito da informática, segundo Lévy (1993, p. 176), consiste no “conjunto de programas e aparelhos materiais que permitem a comunicação entre um sistema informática e seus usuários humanos”. Num outro sentido, agora não considerando a noção de informática, o autor complementa que as tecnologias intelectuais podem ser entendidas como redes de interfaces, citando, a exemplo, os livros e as redes contidas neste como a escrita e suas formas de representação em distintos suportes. Complementando, afirma que “a interface contribui para definir o modo de captura da informação oferecido aos atores da comunicação. Ela abre, fecha e orienta os domínios de significação, de utilização possíveis de uma mídia” (p. 180). Com a disseminação das tecnologias digitais a partir do avanço da microeletrônica, foram ampliados os modos de interação e comunicação. Marco Silva (2012) coloca que estamos ante a emergência de uma cultura da interatividade histórica, citando que esta decorre da combinação de fatores, como principais, há o progresso da infoeletrônica que vem gerando “autênticos media interativos”, o financiamento de tecnologias informacionais pelo mercado de Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -2- negócios globalizado e o social “em rede”, que trata com maior acuidade as diferenças, a liberdade de escolha, e oferece do emissor de informações e de seu produto personalização e atendimento às especificidades dos clientes. Essa cultura emergente “... é um fenômeno da ‘sociedade da informação’ e manifesta-se nas esferas tecnológica, mercadológica e social” (MARCO SILVA, 2012, p. 12) No que se refere às contribuições/influências nas formas como interagimos com a interface da tela do computador e com as novas maneiras dela se apresentar, o autor coloca que a passagem dos velhos computadores movidos por complicadas linguagens de acesso alfanuméricas para as atuais, onde se “clica” com um mouse e abrem-se “janelas” múltiplas, moveis, “em cascata” na tela do monitor, permitindo ao usuário adentramento e manipulação fáceis, foi, certamente, determinante para a formulação do termo interatividade. O desenvolvimento técnico que garante esse salto qualitativo no campo da informática permite o processamento da informação e da comunicação como hipertexto, isto é, como teia de conexões de um texto com inúmeros textos (MARCO SILVA, 2012, p.17-18). Nesta perspectiva, essa interface que contempla hipertextos requer do usuário uma nova maneira de interação com os discursos, o que significa dizer que o usuário precisa saber lidar com tudo o que diz respeito ao manuseio da máquina e no que se refere “às especificidades dos enunciados manifestos em textos verbais e não verbais apresentados na tela, bem como com os ícones e as maneiras desses enunciados aparecerem na tela, tais como as manifestações hipertextuais e hipermodais” (SILVA, 2012, p. 108). Desta forma, após o manuseio da máquina para fazer aparecer o texto na tela, o usuário vai interagir com “o layout do que está sendo projetado, considerando seus conhecimentos prévios da língua e das linguagens da informática viabilizadas pela sua interface e, assim, construir sentidos a partir das enunciações proferidas pela máquina” (SILVA, 2012, p. 108). Considerando essas especificidades da tela do computador e seu uso no processo de ensino e aprendizagem, no caso da prática didático-pedagógica com a leitura e a compreensão textual, objeto de estudo desta pesquisa, Braga (2007, p. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -3- 186) afirma que “muitos professores, que já enfrentavam dificuldades no ensino da leitura e escrita tradicional, confrontam-se hoje com a necessidade de preparar seus alunos para práticas digitais cada vez mais presentes em contextos cotidianos”. Completando Vieira (2007, p. 244 ) afirma que “a escola, contudo, ainda não se apropriou plenamente dessas inovações, seja no uso da tecnologia para ler/escrever em suporte eletrônico, seja no conhecimento do perfil do novo leitor”. Surgem, então, novos desafios para as práticas de ensino e aprendizagem no ensino de leitura e compreensão textual, recaindo no docente a responsabilidade de empregar recursos hipermidiáticos que corroborem tanto para o ensino de práticas leitoras como para a construção do conhecimento no que concerne ao letramento digital. Como instrumentos que podem auxiliar no trabalho do docente da área em questão, ante às novas necessidades, mencionam-se os softwares educativos que podem representar uma boa alternativa para a prática docente. Dessa forma, o presente trabalho apresenta um estudo sobre o uso de dois softwares educativos (SE) de língua portuguesa, com especificidade em leitura, realizado com estudantes de duas escolas particulares de Pernambuco, contemplando duas turmas de cada escola e três estudantes de cada turma, do 8º ano do ensino fundamental, cujo objetivo foi averiguar as potencialidades pedagógicas desses novos instrumentos de ensino e aprendizagem, considerando as atividades e a interface dos SE. Durante a aplicação dos SE, os pesquisadores observaram os acontecimentos, realizando anotações. Após as atividades, houve aplicação de um questionário aos participantes, contemplando questões sobre o uso de computador pelos estudantes no cotidiano e na escola, sobre as interfaces dos SE e seu uso nesta pesquisa. O software Educativo e Aprendizagem de Leitura e Compreensão Textual Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -4- As transformações no ensino da língua portuguesa começaram a acontecer desde que o processo de escolarização brasileiro fora instituído por volta dos anos 1920 (SANTOS, 2006). As concepções de ensino naquela época eram praticamente baseadas na ideia de língua padrão, enfatizando-se o ensino da gramática normativa. A partir dos anos 1970 com a chegada de um novo olhar sobre a educação formal, esse tipo de educação passa a ser encarado como um fator de desenvolvimento e começa a ser organizada com base na política de desenvolvimento de cada Estado, esse processo acabou por “tomar a aprendizagem da língua como, essencialmente, aprendizagem de instrumentos de comunicação” (SANTOS, 2006, p. 14). Foi a partir dessa concepção que se desenvolveram os “gêneros escolares”, denominação de Dolz e Schneuwly (1995), definidos como “descrição-narração-dissertação” e a aprendizagem desses gêneros devia se dar em progressões numa perspectiva de ensino prescritivo e normativo (DOLZ e SCHNEUWLY, 1995, p. 15). Mais tarde, com as mudanças nos princípios orientadores do ensino de uma forma geral, houve uma revisão nas abordagens do ensino de língua, o que acarretou na elaboração de diferentes propostas. Segundo Santos(2006) a nova ideia de ensino de língua baseou-se na noção de interação, com isso o texto passou a assumir um papel relevante no ensino não só para a leitura mais também para a escrita, deixando a gramática, que antes era o foco no ensino e aprendizagem da língua com papel secundário. Nisso toma-se a diversidade de textos e as situações em que estes acontecem como condição indispensável para sua produção e compreensão. Assim, o foco passa a ser o desenvolvimento das habilidades de leitura e compreensão e produção textual baseadas nos gêneros textuais, considerando a língua como um mecanismo de interação social, como afirma Santos (2006, p. 21-22) a perspectiva de ensino baseada no conceito de gênero está pautada num conceito de língua como interação, compreende a escrita como prática social e reconhece todo texto (oral e escrito) realiza um propósito Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -5- particular em uma situação específica. A noção de gêneros vem descrever a relação entre o propósito social do texto e sua estrutura linguística. De fato, essa nova percepção de ensino de língua portuguesa requer novas formas de se vê, pensar e fazer tal ensino. Como descrito acima, as mudanças na forma como se percebia e estudava tanto os textos como os gêneros textuais correspondem aos processos pelos quais passaram o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa. Hoje, vê-se a necessidade de coadunar tais perspectivas de ensino de língua com as novas apresentações textuais surgidas com o advento da informática e seus artefatos. Desta forma, espera-se uma maior possibilidade de aulas que propiciem a análise tanto dos aspectos linguísticos do texto como os socioculturais, a partir das tecnologias digitais. Entendendo a leitura como “... o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc” (PCN, 1998, p. 69). Nisso outros elementos também são colocados como necessários para o êxito desse processo e contribuem para construção do significado do texto escrito: o conhecimento prévio (linguístico, textual e de mundo), a postulação de objetivos e expectativas de leitura, as estratégias de processamento de texto e a interação na leitura de textos (KLEIMAN, 2008). A compreensão de textos envolve vários “processos cognitivos” além de ser encarada como uma ação de interação social entre dois sujeitos – leitor e autor – os quais agem com reciprocidade e obedecem a objetivos e necessidades determinados socialmente (KLEIMAN, 2008). Assim, o ensino de língua deve seguir uma perspectiva sociointeracionista de língua, considerando-se que o indivíduo tem acesso à língua socialmente numa interação verbal entre sujeitos, onde ele utiliza-se da variedades de gêneros textuais. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -6- Além de se considerar a perspectiva sociointeracionista, as práticas de ensino de língua materna devem contemplar também, no contexto atual de educação, os meios de comunicação e os artefatos digitais trazidos pela informática, os quais acabaram por mudar a forma como nos relacionamos com o texto e com os gêneros textuais, e configuram práticas de promoção do letramento digital. Esse letramento vai proporcionar lidar como o hipertexto que é algo que está numa posição superior à do texto, que vai além do texto. Dentro do hipertexto existem vários links, que permitem tecer o caminho para outras janelas, conectando algumas expressões como novos textos, fazendo com que estes se distanciem da linearidade da página e se pareçam mais com uma rede (RAMAL, 2000, p.5). No contexto da prática pedagógica, considerando-se as potencialidades trazidas pela introdução da Web e dos softwares educativos, além da emergência de um contexto social cada vez mais informatizado, as práticas educacionais formais devem ter uma nova postura para o desenvolvimento de atividades pedagógicas, principalmente o desenvolvimento do letramento digital e das habilidades leitoras. O avanço tecnológico ocorrido nas últimas décadas vem modificando significativamente a forma como realizamos nossas atividades cotidianas, principalmente no que se referee aos modos como nos informamos e nos comunicamos, influenciando também as práticas educacionais formais. Segundo Kenski (2007, p. 21) a evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela também altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinadas tecnologias impõem-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social. Dessa forma, torna-se iminente para os indivíduos o desenvolvimento de novas habilidades comunicativas para atender e ter proficiência nos propósitos de Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -7- interação no meio social. Araújo (apud LIMA e LIMA-NETO, 2009) afirma que uma das competências necessárias para os indivíduos atuarem criticamente como cidadãos na sociedade atual é sendo letrados digitalmente, considerando-se a inserção destes indivíduos em um contexto informatizado e digitalizado. Assim, é visível a necessidade de possibilitar aos estudantes práticas comunicativas que ocorrem nos ambientes digitais e propiciando-lhes a habilidade de desempenharem seus papéis sociais nesses novos espaços de interação social, bem como serem capazes de construir conhecimentos nesse espaço. Sendo assim, o ensino da leitura em ambiente digital vai além do simples domínio funcional de códigos ou dos conhecimentos em informática, como afirma Carvalho (2009). O letramento em ambientes digitais deve voltado para a aplicação das ferramentas tecnológicas trazidas pela informática de maneira prática para que possamos entendê-las plenamente e ter domínios de suas possibilidades sociais em situações reais do cotidiano. O uso do computador para fins educativos deve ser visto pelos docentes como um recurso a ser usado de forma responsável no intuito de potencializar as oportunidades pedagogias que o mesmo oferece e não apenas seja visto como instrumento de distração (VIEIRA, 2000). Segundo Oliveira et al (2001, p. 46) o ambiente digital tem potencial “para viabilizar estratégias interativas de ensinoaprendizagem, podendo contribuir, quem sabe, para o repensar da prática nas escolas”. No que concerne aos SE, são instrumentos oportunos nas práticas de ensino e aprendizagem. Silva (2012, p. 80) define este recurso como um dispositivo digital, simbólico e cultural, que é planejado e elaborado para fins didáticos/pedagógicos, sendo, portanto, mediador de conteúdos curriculares da esfera escolar e viabilizador do processo de ensino e de aprendizagem, necessitando da mediação de um profissional da área para o uso eficiente do material. Acrescenta-se ainda que se trata de um instrumento imbuído de linguagem e aportado no ambiente digital, o que o faz ser um instrumento com especificidades peculiares em detrimento aos materiais do ambiente impresso. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -8- Os SE devem permitir a construção de sentido dos textos e o desenvolvimento das habilidades de leitura e compreensão. Espera-se que os SE, produzidos para o ensino da língua portuguesa contemple o trabalho com o texto na perspectiva do gênero, considerando a inserção das novas configurações textuais advindas com o desenvolvimento tecnológico. As possibilidades de ensino de leitura nos softwares educativos Nesta seção serão apresentadas as análises e os resultados da pesquisa realizada nas escolas com os estudantes. Foram investigados as aplicações de dois softwares presentes em portais educacionais distintos. O primeiro dos SE é chamado de “Aprendizagem Digital” que desenvolve atividades propostas de forma multi e interdisciplinar envolvendo as disciplinas de história, ciências, matemática, português e artes, baseando-se na leitura e compreensão textual. Acentua-se o trabalho com textos, o que serviu de critério para este software se encaixar no contexto da pesquisa. Este SE destina-se ao desenvolvimento de atividades em turmas do 8º ano do ensino fundamental. Apresenta 14 questões, todas relacionadas com textos, no entanto, mesmo o enunciado das questões mencionar o texto nem sempre as respostas dependem de informações presentes nos mesmos. O SE Aprendizagem Digital pode ser entendido como um software para trabalhar conteúdos das disciplinas supracitadas, a partir das temáticas: Abertura dos Portos do Brasil em 1808; Bloqueio Continental; Democracia e Cidadania; Economia e Globalização dos anos 1800; Necessidades vitais do organismo humano; Porcentagem e Ângulos; Complemento nominal e adjunto adnominal; Compreensão de informações implícitas e explícitas; Interpretação da pintura de um autor. Este software apresenta atividades onde o aluno vai somando pontos à medida que acerta as questões. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação -9- Fig. 01: Interface do SE Aprendizagem Digital O outro software analisado é denominado “Praticando a Concordância”. Dedica-se exclusivamente ao trabalho com conteúdos pertinentes à língua portuguesa abordando o estudo e o emprego da concordância verbal e nominal. Desenvolve as atividades baseadas na compreensão de textos, adequando-se ao critério de escolha de SE para o contexto deste trabalho. A figura a seguir ilustra uma das interfaces do programa investigado. Fig 02: Capa do software “Praticando a Concordância” Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 10 - A aplicação dos deu-se nos laboratórios de informática das escolas, considerando a distribuição demonstrado no quadro abaixo: Quadro 1: Aplicação dos Softwares Instituição Particular A Instituição Particular B Turma 1 Turma 2 Turma 1 Turma 2 Software Aprendizagem Digital Software Aprendizagem Digital Software Praticando a concordância Software Praticando a concordância Para a coleta dos dados, usou-se um questionário semi-estruturado respondido por três alunos de cada turma após o uso dos softwares. Com isto, se objetivou investigar dados sobre o acesso a computadores no dia a dia e na escola, bem como nas aulas de língua portuguesa e também sobre a utilização dos softwares da pesquisa. Escola A – SE Aprendizagem Digital A investigação iniciou-se analisando pontos referentes à utilização do computador no dia a dia na escola, o que foi possível constatar que três estudantes das duas turmas (1 e 2) da escola A não fizeram nenhum curso de informática e os demais aprendem a usar as tecnologias digitais na escola ou quando fazem algum curso, este trata sobre conteúdos mais específicos como manutenção de computadores. Quando questionados sobre a utilização de computadores no dia a dia, a maioria afirmou que usam frequentemente o recurso em casa para pesquisar, realizar trabalhos escolares, acessar redes sociais e jogar. No que se refere ao trabalho do professor de português no laboratório de informática, constatou-se que as atividades desta disciplina são desenvolvidas geralmente em outros espaços que têm tecnologias digitais como sala de projeção Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 11 - 3D e salas de vídeo com lousa digital, mas não usam com frequência o laboratório de informática. Os estudantes também afirmaram que o uso da informática nas aulas de língua portuguesa torna a aprendizagem mais interessante e dá para aprender mais. No entanto, a utilização deste recurso ainda é pouco presente nas atividades desenvolvidas pelas professoras de língua portuguesa. Posteriormente procurou-se investigar, nas duas turmas da escola, a percepção dos estudantes quanto ao uso do SE “Aprendizagem Digital”. Percebe-se que o software foi considerado de fácil uso por todos os estudantes, interessante e atrativo, além de ter ajudado na aprendizagem. Alguns perceberam a presença de dicas para a utilização de ícones, assim como recursos de hipertexto, som e efeito sonoro. Numa análise geral na visão dos alunos/usuários, o software caracterizouse como um recurso positivo para ser utilizado nas aulas com maior frequência. Os resultados podem ser analisados no gráfico abaixo Quantitativo de Estudantes Gráfico 1: Aspectos técnicos Aprendizagem digital. Turma 1 Turma 2 3 2 1 0 No que diz respeito às atividades de língua portuguesa, especificamente das atividades de leitura e compreensão textual, o software apresentou mais deficiência em relação aos aspectos técnicos, pois se percebe que nem todos os estudantes consideraram as atividades fáceis de fazer, e sempre apresentavam textos com questões a serem respondidas. O SE demonstrou-se com pouco texto, Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 12 - Numa análise do uso do software pelos alunos, percebe-se a presença de atividades que se assemelham à atividades dispostas em livros impressos, como a disposição de texto a serem lidos e posteriormente questões a serem respondidas. O resultado pode ser visto no gráfico abaixo. Gráfico 2: Atividades de Língua Portuguesa no software Aprendizagem Digital. Turma 1 Turma 2 Quantitativo de Estudantes 3 2 1 0 Eram fáceis de fazer Às vezes tinham texto Apresentavam apenas textos sem questões para serem respondidas Apresentavam perguntas e respostas Para as respostas das perguntas precisava de informações além do texto No que se refere à ajuda do professor durante a utilização do software Aprendizagem Digital, verificou-se que a maioria dos estudantes não solicitou a ajuda do professor e quando este foi solicitado conseguiu ajudar e geralmente a ajuda foi necessária para responder questões de como usar o software ou questões específicas do conteúdo tratado. Escola B – SE Praticando a Concordância Com este SE, as investigações aconteceram com as turmas 1 e 2 da escola B, que utilizaram o SE Praticando a Concordância. Procurou-se inicialmente apontar como se dá a utilização do computador pelos estudantes no cotidiano e na escola. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 13 - Constatou-se que a maior parte dos estudantes também não faz curso para poder utilizar o computador, apenas um estudante das duas turmas declarou que fez curso básico de informática e os demais são usuários frequentes de computadores mas não fizeram nenhum curso para desempenhar as habilidades no computador. O uso se dá diariamente e em casa, fato apontado por todos os estudantes das duas turmas. Dentre as atividades desenvolvidas pelos mesmos estão jogos online, pesquisas gerais e escolares, acesso a redes sociais, aprender informática e acessar notícias na web. Quanto do professor de português desenvolver alguma atividade no laboratório de informática, os alunos da turma 1 afirmaram que aquela era a primeira vez que estavam indo ao laboratório nas aulas de língua portuguesa. Os alunos da turma 2, que tinham outro professor, já tinham ido outras vezes ao laboratório e utilizado e visto conteúdos da disciplina. Sobre os benefícios das aulas de informática, 5 estudantes das duas turmas apontaram ser uma atividade interessante e prazerosa, principalmente por estarem em contato com recursos hipermídias. Sobre a utilização de, constatou-se que apenas o professor que já havia usado o laboratório de informática tinha empregado estes recursos e os mesmos foram apontados como facilitadores da aprendizagem por 2 estudantes. No que se refere à percepção dos estudantes no uso do software educativo, verificou-se que a maioria entendeu o software como de fácil uso, facilitadores da aprendizagem e atrativos. A análise das respostas dos estudantes ao questionário apresentou, que recursos como dicas para uso, ícone, imagens e efeitos sonoros aparecem de forma mínima no SE, implicando a necessidade de melhor implementação desses recursos. Gráfico 3: Aspectos técnicos do software Praticando a Concordância. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 14 - Quantitativo de Estudantes Turma 1 Turma 2 3 2 1 0 No que se refere às atividades de língua portuguesa de leitura e compreensão textual, as atividades eram fáceis de serem realizadas, de acordo com os estudantes. Apresentaram um número considerável de textos, sempre com perguntas a serem respondidas, sendo necessária também a busca de respostas para as questões para além dos textos. Gráfico 2: Atividades de Língua Portuguesa no software Praticando a Concordância. Turma 1 Turma 2 Quantitativo de Estudantes 3 2 1 0 Eram fáceis de fazer Às vezes tinham texto Apresentavam apenas textos sem questões para serem respondidas Apresentavam perguntas e respostas Para as respostas das perguntas precisava de informações além do texto Sobre a ajuda do professor durante a utilização do software, percebeu-se um número maior de chamadas ao professor neste software e o professor conseguiu ajudar todas as vezes que fora solicitado. Um aluno da turma 2 afirmou que sem a Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 15 - ajuda do professor não seria possível realizar as atividades. Verificou-se também que os motivos para as chamadas ao docente eram para questionamentos sobre como utilizar o software, três alunos, e esclarecer dúvidas sobre o conteúdo tratado pelo software, 4 alunos. Considerações Finais Diante do exposto, é possível depreender algumas questões sobre a utilização dos SE investigados para o ensino e aprendizagem de habilidades em leitura e compreensão textual. O software educativo investigados neste trabalho, podem agregar inúmeros recursos hipermidiáticos sendo potenciadores na aprendizagem de língua materna. No entanto, faz-se necessário fazer uso crítico desses recursos, definindo bem seus efeitos sobre objetivos pedagógicos e nos processos de ensino e de aprendizagem. Constata-se que os estudantes investigados têm contato frequente com as tecnologias digitais dentro e fora da escola. A maioria dos estudantes não fez curso, mas sabe usar sem dificuldades os softwares e vê seu emprego como algo positivo nas atividades escolares e são instrumentos que ajudam no aprendizado, principalmente devido ao seu caráter hipermidiático. Mesmo não utilizando com frequência os softwares e a informática nas atividades da escola os estudantes o fazem em casa de acordo com os resultados. Apesar de o uso desses recursos serem incipientes ainda pelos professores de língua materna, espera-se que com estudos como este venham contribuir para que os docentes tenham maior subsídio para planejar suas aulas e passar a utilizar mais esses recursos. Sobre a aprendizagem de língua materna com uso de softwares educativos, detaca-se a importância de a escola fazer uso desses recursos visando o letramento digital e competências leitoras, habilidade indispensável para os cidadãos de nosso tempo, e considerando o que afirmam Almeida e Valente (2011, p. 08) “mais do que as concepções educacionais subjacentes ao pensamento dos idealizadores de Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 16 - determinado software, é a atividade com seu uso que explicita a abordagem pedagógica que a sustenta”. Sobre os softwares utilizados é possível afirmar que estes se enquadram na definição apresentada por Silva (2012), no entanto, é necessário uma maior implementação de recursos hipermidiáticos, de acordo com os objetivos pedagógicos pretendidos por cada software, afim de que estes possam ser elaborados tendo em vista a consideração das possibilidades que o meio digital oferece, não se caracterizando apenas como mera reprodução das práticas de escrita e leitura nos suportes impressos. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de; VALENTE, José Armando. Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes ou divergentes? 1.ed. São Paulo: Paulus, 2011. BRAGA, Denise Bértoli. Práticas Letradas Digitais: Considerações sobre Possibilidades de Ensino e Reflexão Social Crítica.In ARAÚJO, Júlio César (org.). Internet e Ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucena, 2007. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 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