1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA TRANSTORNO MENTAL: A VULNERABILIDADE DA DINÂMICA FAMILIAR Por: Yamara Borges Alves Orientadora Professora Naura Americano Niterói 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA TRANSTORNO MENTAL: A VULNERABILIDADE DA DINÂMICA FAMILIAR Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em.TERAPIA FAMILIAR Por: Yamara Borges Alves 3 AGRADECIMENTOS Ao meu marido e filhos que me apoiaram e ajudaram a chegar até aqui, aos mestres que generosamente transmitiram seus conhecimentos e incentivaram a pesquisa e a dedicação. 4 DEDICATÓRIA A Deus porque, na sua infinita misericórdia, Ele nos instrumentaliza, nos abençoa, nos faz mais que vencedores. A minha mãe, uma mulher valente, guerreira, que nos conduziu, cuidou, corrigiu e exigiu muito de nós. Ensinounos a cuidar, respeitar e amar nosso pai. Ao meu pai, que amava minha mãe, a pegava no colo, e nos envolvia, como crianças, nas risadas que davam juntos – numa nossas inominável crises - e superação de aparentemente intransponíveis-dificuldades... Eles já partiram, mas diante das experiências da infância, desse amor que nos uniu durante tantos anos, hoje recordo, mais do que nunca, das suas lições, muito mais em suas ações do que apenas em suas palavras: de seu exercício e prática de amar, perdoar, lutar, questionar, superar e amadurecer. Quem conhece nossa história, entende homenagem dedicatória. e a verdade profunda dessa 5 RESUMO Com a evolução no cuidar de pacientes com transtorno mental no final do último século, o paciente deixou de ser alguém com um comportamento estranho que precisa ser afastado de sua família para tratamento. A Reforma Psiquiátrica surgiu no Brasil em 1970, com influência do modelo de Franco Basaglia e desinstitucionalizando os pacientes em sofrimento mental, oferecendo uma esperança de integração ou reintegração social. Este desenvolvimento científico e farmacológico que prove a melhora do paciente é acompanhado de um olhar para a família que tem seus vínculos fragilizados dos diante da presença de um familiar portador transtorno mental. Os custos psicológicos, financeiros e sociais fazem que muitas vezes com que um familiar fique sobrecarregado e estes vínculos se rompam, pela vergonha, ignorância e preconceito. A família que cuida é também aquela que inspira cuidados. Hoje, os cuidados profissionais estão voltados a uma integração ou reintegração do portador de transtorno mental de maneira global, isto inclui principalmente as relações familiares. Um paciente em remissão é aquele que encontra na família o apoio vindo da compreensão de sua doença e na forma de lidar com o sofrimento mental, encontra ajuda para lembrar-se de tomar sua medicação e sabe como proceder num momento de crise. É neste momento que a atuação do psicólogo se faz importante, o apoio para a condição de equilíbrio familiar. O caminho apenas teve início, pois a quantidade de casos ainda está muito além daquela suportada pela rede pública. Assim como a retomada da conquista da cidadania e do equilíbrio biopsicossocial do portador de transtorno mental é feita passo a passo, também o setor de atendimento caminha lentamente. 6 METODOLOGIA O presente trabalho pretende, através de revisão bibliográfica de autores como Amarante, Luiz Carlos Osorio, Jairnilson Silva Paim, Melman, e outros, fazendo um resumo da complexidade da influência do transtorno mental nos vínculos familiares, mostrando sua vulnerabilidade com os custos emocionais, sociais, financeiros e físicos no cuidado do familiar portador de doença mental, apontando as dificuldades do paciente e da família na reinserção biopsicossocial do individuo, analisando as limitações, conflitos e desejos que afetam os familiares diante doa situação do possuir no núcleo familiar o portador de transtorno mental. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - FAMILIA E ASSISTENCIA AO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL CAPÍTULO II 10 - O CONVÍVIO FAMILIAR COM O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL 19 CAPÍTULO III A FAMÍLIA ENQUANTO TITULAR DE CUIDADOS E TAMBÉM COMO A QUE RECEBE AJUDA 24 CONCLUSÃO 30 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31 ÍNDICE 34 FOLHA DE AVALIAÇÃO 36 8 INTRODUÇÃO A partir da reformulação da assistência psiquiátrica, a família torna-se um importante elo para o cuidado e a inserção do portador de transtorno mental. O presente trabalho pretende, através de revisão bibliográfica, fazer um resumo da complexidade da influencia do transtorno mental nos vínculos familiares, mostrando os custos emocionais, sociais, financeiros e físicos no cuidado do familiar portador de doença mental, apontando as dificuldades do paciente e da família na reinserção biopsicossocial do individuo, analisando as limitações, conflitos e desejos que afetam os familiares diante da situação de possuir no núcleo familiar o portador de transtorno mental. Este estudo, em sua conclusão, através do apanhado de técnicas e recursos terapêuticos em uso, pretende apontar sugestões daquilo que pode ser feito para que o convívio entre a família se torne melhor e mais fácil e o pretendese demonstrar que é possível a construção de um alicerce sólido de respeito e preservação de individualidade na família, de maneira que o familiar não fique sobrecarregado e o doente possa resgatar sua cidadania e autonomia através da relação terapêutica. 9 CAPÍTULO I FAMILIA E A ASSISTÊNCIA AO PORTADOR DE DOENÇA MENTAL O CONCEITO “A família não morreu. Ela continua sendo sonhada e amada por todos os homens, mulheres e crianças de todas as idades, cultura e condição social. A família não morreu, mas está sendo reinventada no cotidiano social”. Elizabeth Roudinesco A palavra família origina-se do termo latino “famulus” e significa escravo doméstico e surgiu para nomear um novo grupo entre as tribos romanas diante da escravidão legalizada. Predominava, então, a família patriarcal, com um chefe que tinha sob sua proteção muitas pessoas. A partir da Idade Média as pessoas passaram a estar ligadas através do matrimonio formando novas famílias, que ainda, patriarcal, formava o que, hoje, chamamos de clã. A estrutura familiar vem se transformando através dos tempos. A partir da Revolução Industrial os casamentos dos plebeus que migravam para os grandes centros geravam a parentela (famílias) paterna e materna, gerando grandes famílias que podem neste contexto serem confundidas com o entendimento do que é um clã. O conceito básico de Família, no contexto atual é a união de indivíduos social, consensual, jurídica e consanguineamente, e, a família nuclear é aquela formada por pai, mãe e filhos. Os pais têm responsabilidade na introdução dos filhos na sociedade, educando-os para a sua socialização, dando-lhes as primeiras noções de valores e conceitos. Assim, a família torna-se responsável 10 pela apresentação do filho na sociedade e esta socialização poderá ter um resultado positivo ou não. 1 1.1 Os Novos Laços Familiares uma das características deste novo século baseia-se na noção de rapidez e mudança tecnológica aplicada ao universo dos relacionamentos afetivos. uma das características deste novo século baseia-se na noção de rapidez e mudança tecnológica aplicada ao universo dos relacionamentos afetivos.2 Família, hoje, não pode e não deve ser vista para fins sociológicos e terapêuticos apenas como aquela formada tradicionalmente por um jovem casal que se une com a finalidade de constituir um prole. A família é um organismo dinâmico que vem sofrendo as modificações ao longo dos tempos, Se no início foi constituída para preservar a riqueza e a propriedade, a partir de movimentos como o feminismo na década de 60, o surgimento da AIDS nos anos 80, a legalização do divórcio, a concepção in vitro, a adoção e família homo afetivas, novas relações de convivência vem se formando. 1 http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/6610/1/Dissert_%20Miguel%20Angelo.pdf 2 GOMES, Isabel Cristina e Maria Lucia de Souza Campos Paiva Casamento e família no século XXI: possibilidade de holding? http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141373722003000300002&lng=pt&nrm=is o 11 1.2. Histórico da Assistência Psiquiátrica ao Portador de Doença Mental Inicialmente apenas os manicômios respondiam pelas necessidades dos pacientes, que ficavam em lugares distantes, muitas vezes estranhos denunciando o afastamento familiar, sendo considerada somente a doença, deixando o indivíduo de lado e seu contexto de histórico familiar era ignorado, A partir da década de quarenta, principalmente após o término da segunda guerra mundial, com as mudanças sociais ocorridas, o olhar para os transtornos psiquiátricos, também mudou na assistência psiquiátrica, quando passou a existir o interesse mais profundo pela família e o contexto social do paciente. Com os movimentos ocorridos na área da psiquiatria, mormente na década de sessenta, nos países ocidentais, surgiram modelos que tinham a intenção de reduzir ou eliminar a utilização dos hospitais psiquiátricos, trazendo, então para o foco da assistência psiquiátrica as relações familiares. No Brasil, a Reforma Psiquiátrica surgiu em 1970, com influência do modelo de Franco Basaglia, procurando substituir os manicômios por iniciativas sociais, culturais, políticas, científicas e jurídicas, com a meta de mudar o conceito da sociedade com relação ao paciente portador de transtorno mental. Ainda hoje não se encontra uma aplicação efetiva deste modelo, pois os papéis da família, comunidade e Estado não estão bem definidos nas propostas deste modelo.3 Em 1978 o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental foi “um elemento fundamental para o projeto de reforma psiquiátrica brasileira, pois a partir dele surgem propostas crítico do sistema assistencial onde se consolida o pensamento do saber psiquiátrico.”4 3 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996 4 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996 pg 94 12 A Divisão Nacional de Saúde Mental (Dinsam), órgão do Ministério da Saúde, encarregado de administrar as instituições e hospitais públicos para o tratamento de doenças mentais que com seu quadro defasado, a partir de 1974 passou a contratar “bolsistas” que eram profissionais de saúde, universitários, assistentes sociais, dando-lhes cargos até mesmo de chefia com salários irrisórios e oferecendo condições precárias de segurança e trabalho. A partir de uma denuncia de três médicos do Hospital Psiquiátrico Pedro II, registrada no livro de ocorrência da unidade de Pronto Socorro surge o movimento que reivindica melhores salários e condições de trabalho, debate e encaminha propostas de transformação da assistência psiquiátrica. Basicamente estas propostas têm os seguintes pontos chaves: - regularização trabalhista; - aumento salarial; - redução do número excessivo de consultas por turno de trabalho; - critica à condição de trabalho no manicômio; - crítica ao uso do eletrochoque; - melhores condições de atendimento à população; - humanização dos serviços. O conjunto destas propostas demonstra preocupação em organização corporativa e a transformação psiquiátrica. Contudo, somente em 1989 após o fechamento da Casa de Saúde Anchieta em Santos, no estado de São Paulo, único hospital psiquiátrico daquela cidade, implanta-se um sistema substitutivo de acolhimento e cria-se o Núcleo De Atenção Psicossocial (Naps) que, segundo Amarante 5 , é a mais importante experiência da psiquiatria pública nacional, tornando-se mais um marco da atual reforma psiquiátrica brasileira. 5 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996 13 Foi no rastro do escândalo que o deputado Paulo Delgado apresenta o Projeto de Lei 3657⁄ 89, regulamentando os direitos do doente mental e a extinção progressiva dos Manicômios Públicos, consolidando as discussões sobre loucura, doença mental, psiquiatria e as instituições psiquiátricas de forma que a sociedade brasileira nunca vira. Amarante, para fins metodológicos, divide em três momentos o processo da reforma psiquiátrica brasileira: 1º - Trajetória Alternativa – começa nos últimos anos de ditadura militar. Com o crescimento da insatisfação popular diante de suas perdas financeiras, padrão social e falta de liberdade, o governo instituído inicia um processo de “abertura” política, abrindo espaço para a organização de partidos políticos, sindicatos, associações e outros movimentos e entidades da sociedade civil que demandam por serviços e melhorias de condição de vida. São, então, apresentadas a primeiras denuncias de violência, negligencia, falta de recursos, de utilização da psiquiatria como instrumento técnico-científico de controle social e por projetos alternativos do modelo asilar dominante. Forma-se, então, um pensamento crítico sobre a função das praticas médicas e psiquiátricas-psicológicas 6 , quando as obras de Foucault, Goffman, Bastide, Castel, Izasz, Basaglia, Illich e tantos outros passam a ter importância e é também quando acontece a crise Dinsam e surge o MTSM. Como no após guerra da Europa, onde a violência das instituições psiquiátricas gerou perplexidade na sociedade civil com respeito à forma como as instituições públicas tratam seus enfermos e carentes de recursos. 2º - Trajetória Sanitarista – iniciou na década de 1980 quando o movimento da Reforma Sanitária incorpora-se ao aparelho do Estado a fim de introduzir mudanças no sistema de saúde numa renovação das lideranças e de por parte deste mesmo Estado, absorver o pensamento e o pessoal critico dandolhes legitimidade, como também os custos de uma política de saúde privatizante, 6 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996 14 custosa e elitista. Neste momento sobressaem os planos de Medicina comunitária preventiva ou de atenção primária, por influencia das diretrizes da Organização Panamericana de Saúde com destaques em aspectos como universalização, regionalização, hierarquização, participação comunitária, a integralidade e a equidade. Um consenso aparente de qual se parte do principio de que “a ciência médica e a administração podem e devem resolver o problema das coletividades”. 7 Criando, assim, a necessidade do saber administração e planejamento em saúde, a fim de colocar ordem nos recursos humanos e financeiros, como usar cada recurso e em que lugar ele é mais útil para resolver os dilemas da saúde pública. Para tanto é implantada uma co-gestão entre a Previdência Social e o Ministério da Saúde que reestruturam os hospitais geridos pela Dinsam. Neste intervalo de tempo o MTSM conduziam iniciativas de gerenciamentos de serviços e⁄ou serviços públicos de Saúde Mental em muitos locais do país. Este período é consolidado com o Plano de Reorientação da Assistência Psiquiátrica da Previdência Social, do Conasp, numa participação efetiva da Previdência Social. No período de 1986 a 89, na Nova República, o movimento sanitarista se confunde com o próprio Estado acontece a 8ª Conferencia Nacional de Saúde que possibilita que pela primeira vez a representação e a participação de entidades da sociedade civil. É neste momento que a expressão Reforma Sanitária toma força e se transforma num lema para a mobilização social em torno da reestruturação do setor de saúde. Ao mesmo tempo acontecem outras manifestações regionais e em 1987 a I Conferência Nacional de Saúde Mental que marca o início do declínio da trajetória sanitarista, pois não atingia o “âmago da questão”: não desconstruiu o paradigma psiquiátrico. 7 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996 15 3ª – Trajetória desinstitucionalização ou da desconstrução⁄ invenção – é uam retoamada ao movimento original, quando surge o Centro de Atenção Psicossocial (Caps). A partir deste momento começa a “construção de um novo projeto de saúde Mental.” 8 Surgem, então, as associações de familiares e usuários, quando a loucura deixa de ser um problema apenas dos profissionais da saúde e passa a alcançar a sociedade, principalmente aqueles que vivem o problema. Com isso termos com louco e loucura passam a ser questionados em seu significado como pejorativos e estigmatizantes, pretendento criar uma nova cultura onde o transtorno mental possa ter um valor positivo Neste contexto o lema é desinstitucionalizar, desconstruir e construir nas instituições uma nova maneira de lidar com a loucura e o sofrimento psíquico, inventando novas formas de lidar com estas questões, transcendendo os modelos médicos existentes e indo de encontro às pessoas, às comunidades. 1.3 A Posição do SUS na Relação com a Família Portador de Transtorno Mental O SUS é o Sistema Único de Saúde que tem por finalidade e reunir em agências e agentes que tem por “objetivo principal garantir a saúde das pessoas e das populações”.9 A Constituição da República de 1988 garante em seu texto de criação do SUS o “acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”10 pretende desenvolver uma atenção integral à saúde. 8 Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1996 9 Paim, Jairnilson Silva. O que é o SUS. Pag.81 a 83– Rio de Janeiro: Editora Fiocruz 2009 10 Idem, idem 16 Assim, o controle da saúde no Brasil se estende à prevenção, ao controle de riscos e à promoção da saúde. Com relação à Saúde Mental, até outubro de 2008 o SUS possuía mais de 1290 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), com condições de atender pessoas com transtorno mental próximo de sua residência a fim de evitar internação em hospital psiquiátrico. O acompanhamento de um morador deverá ser feito mesmo que ele mude seu endereço, ou seja, hospitalizado. Este processo de Reabilitação Psicossocial visa a inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais, sendo o inicio de um longo processo de reintegração e/ou reabilitação que deverá promover a progressiva interação social do morador.11 Pretende a integração ou reintegração do paciente com transtorno mental num espaço social seu de direito e não isolá-lo em um local de tratamento, clinica, exclusão, internação, contenção ou enclausuramento. Os Serviços Residenciais Terapêuticos pretendem ser um espaço de reconstrução dos laços afetivos e sociais para aqueles que se encontravam restritos ao universo hospitalar. Através da supracitada Reforma Psiquiátrica, os ex-internos passam a conviver com suas famílias as quais passaram a receber bolsas do programa “de volta para casa” que fornece um auxilio reabilitação psicossocial, para uma integração ou reintegração fora de uma unidade hospitalar, dando assistência, acompanhamento e integração social das pessoas acometidas de transtorno mental com longa história de internação psiquiátrica, atendendo à lei 10.216/01: “determina que os pacientes há longo tempo hospitalizados, nos quais se caracterize situação de grave dependência institucional, sejam objetos de política especificada de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida”12 11 ibdem 12 Paim, Jairnilson Silva. O que é o SUS.pag 81 a 83 – Rio de Janeiro: Editora Fiocruz 2009 17 Mais de dois mil e quinhentos pacientes, que ficaram anos internados em hospitais psiquiátricos e, por isso, afastados de suas famílias passaram a morar em mais de quinhentos Serviços Residenciais Terapêuticos (definição dada pelo Ministério da Saúde), que enumera as seguintes diretrizes: - O número de usuários pode variar de 1 a 8 indivíduos que deverão sempre contar com suporte profissional. - O suporte profissional deve ter caráter interdisciplinar, com uma equipe de atenção básica, e outros profissionais e que seja centrada nas necessidades individuais dos usuários. - Ter como objetivo central contemplar os princípios da reabilitação psicossocial com programas amplos de reinserção ao trabalho, mobilização de recursos comunitários, de autonomia para atividades domesticas e pessoais, de estímulo a fomentação de associação de usuários e familiares, respeitar como paciente de transtorno mental como cidadão e sujeito em condição de desenvolver uma vida de qualidade e integrada ao ambiente comunitário, observando as necessidades individuais de cada paciente e não a coletividade dos objetivos.13 13 idem 18 CAPÍTULO II O CONVÍVIO FAMILIAR COM O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL Segundo Amarante, em seu livro Saúde Mental, Território e Fronteiras, a saúde mental não pode se restringir somente a psicopatologia ou a semiologia, mas um campo “polissêmico e plural” uma vez que se refere ao estado mental de sujeitos e coletividades em condições de alta complexidade. Em nossa sociedade, educar uma criança e formá-la até a idade adulta traz muitas exigências e deveres aos quais os pais são submetidos, o que torna a tarefa de amar e cuidar dos filhos, difícil e complexa, gerando insegurança e impotência para resolver as dificuldades domésticas. Por sermos seres tribais, a nossa programação nos projeta para a convivência e o aprendizado dentro da comunidade familiar, e, ainda, para nos ajudarmos e protegemos das forças que possam ameaçar os integrantes do grupo familiar unido pelos elos de sangue. Um transtorno mental ameaça e desafia este poder do grupo, gerando tensão e estimulando sentimentos de impotência e vitimização, e, também, alimentando amarguras. 2.1 O Aparecimento de Caso de Transtorno Mental No Convívio Familiar ... psiquiatria tudo é muito diferente. Não há sinal objetivo algum, e a patologia mental, como regra, se 19 inscreve em distúrbio de comportamento em relação a uma norma. Mas qual o padrão de referencia?14 Quando um quadro de transtorno mental num membro da família surge, representa um forte abalo no seio familiar, agravando o quadro de desconforto e insegurança.15 Isto representa a desestruração da maneira habitual de enfrentar e resolver os problemas. Não existe uma família igual à outra, cada integrante do grupo familiar tem sua própria identidade, contudo algumas características comuns podem ser observadas nos grupos familiares onde um de seus integrantes apresenta transtorno mental. A família mergulha num estado de confusão, uma vez que ninguém sabe lidar com a doença, surgindo o sentimento de culpa, o isolamento social, rejeição, indiferença, que geram sobrecarga nas relações familiares, aumentando cobranças e exigências no núcleo familiar. 2.2 Os Custos do Processo de Cuidar “...independentemente do tipo de parentesco entre o familiar responsável pelo cuidado, o padrão característico desses vínculos envolve uma intensificação das relações. As vivências em torno da doença mental refletem um investimento e um envolvimento maciços no vínculo.”16 14 Paoliello, Gilda. Revista Latinoan, Psicopatologia Fundamental, IV, 1, 2000 pag 86 15 Melman, Jonas; Família e Doença Mental. São Paulo. Ed. Escrituras 2001 – 1ª edição 16 Melman, Jonas; Família e Doença Mental. São Paulo. Ed. Escrituras 2001 – 1ª edição pg37 20 A presença de qualquer surto de transtorno mental faz com que os parentes mais próximos, principalmente os pais, sintam-se culpados, responsabilização da qual não podem escapar mediante seus papéis sociais. Desta culpa, o medo e a vergonha de apresentar “falha” na sua estrutura familiar diante dos outros familiares, vizinhos e amigos pode gerar um estado de negação, omissão e distanciamento do membro da família que apresenta o transtorno mental. O rompimento da rotina comportamental familiar gera custos que afetam a família e o seu relacionamento interpessoal e social. 2.2.1. Custos Físicos Os custos físicos no processo de cuidar de qualquer familiar que apresenta alteração em seu estado de saúde, seja mental ou fisiológico, sempre aparecem no decurso da doença. No caso de uma família que apresenta um caso de transtorno mental este processo de desgaste pode aparecer sob a forma de sobrecarga de um indivíduo em particular do grupo familiar que apresente maior afinidade ou disponibilidade com o membro da unidade portador do transtorno. 2.2.2. Custos Emocionais e Psicológicos Através de alguns relatos de três casos no primeiro capitulo do livro “Família e Doença Mental” de Melman, observam-se os principais custos emocionais e psicológicos dos familiares no trato com o portador de transtorno mental. São narrativas de parentes que demonstram que a ignorância de saber lidar com o problema gera a vergonha, a culpa e o medo, muitas vezes agravados por pessoas próximas e profissionais de saúde despreparados. Isto podendo gerar, ainda, negação e impotência. 21 2.2.3. Custos Sociais Os custos sociais podem ser elencados começando pelo isolamento da família que por medo ou sentimento de defesa de mostrar à comunidade a “falha” de sua capacidade de proteger e cuidar de seus membros isola-se, ou quando seu grupo social por estes mesmo motivos afastam-se e apontam e discriminam o grupo familiar. 2.2.4. Custos Financeiros Embora o sistema público tenha a previsão e garanta o atendimento do paciente portador de transtorno mental, dê o direito ao recebimento de proventos para a subsistência do paciente, ainda assim muitos precisam de cuidados especiais que principalmente as famílias de baixo poder aquisitivo não conseguem suprir. 2.3 A Convivência da Família no Processo de Cuidar Paula Boechat17 cita o trabalho de Wynne e seus colaboradores que afirmam que as relações familiares poderiam ser classificadas como: - Mutual – relação familiar ode existe negociação e eventualmente troca de papéis, onde as diferenças ou divergências são aceitas como estimulantes e enriquecedoras. - Não-Mutual – não existe envolvimento emocional, podendo evoluir para uma relação mutual ou pseudo-mutual. 17 Boechat, Paula. Terapia Familiar: Mitos, Símbolos Arquétipos ed. Wak 2007 22 - Pseudo-Mutual – relação familiar onde as diferenças individuais não são aceitas e a participação emocional é no sentido de cumprir as expectativas do grupo e manter sua existência. Qualquer diferença ou movimento de independência é considera uma grande ameaça à relação familiar, pois não existe negociação ou troca de papéis. Wynnne e Boechat reafirmam, o primeiro como resultado de seus estudos e a segunda por sua vivência clínica, a predominância de maior contingência de famílias pseudo-mutual em seus atendimentos com pacientes identificados, o que denuncia o grau de impedimento ao crescimento individual em cada uma destas famílias,18 sendo o paciente com sofrimento mental aquele que representa o elo de união desta relação familiar, segundo a teoria sistêmica:“...um sistema continuo que produz definições conflituosas das relações e subsequente desconforto subjetivo.” (Baleson apud Boechat).19 18 Boechat, Paula Terapia Familiar: Mitos, Símbolos Arquétipos ed. Wak 2007 19 idem 23 CAPÍTULO III A FAMÍLIA ENQUANTO TITULAR DE CUIDADOS E TAMBÉM COMO A QUE RECEBE AJUDA Num paralelo com a Família Mitológica de Deuses gregos, Boechat expõe que são as qualidades e defeitos individuais integrados ao ego conscientemente possibilita a individualização e ao crescimento.20 Outra condição é desenvolvimento farmacológico e o envolvimento da família no tratamento do paciente com transtorno mental pode permitir que ele seja inserido na sociedade de forma mais segura e responsável. 21 Ele pode então assumir sua retomada como cidadão, suas implicações sociais, uma vez que informado de sua doença e de sua responsabilidade pessoal ser o sujeito e o instrumento para a cura familiar. 3.1 Suportes Efetivos que a Família Pode Contar A Lei 10.216/01em seu artigo 3º prevê os deveres do Estado em seu texto: “É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.” 20 21 Boechat, Paula Terapia Familiar: Mitos, Símbolos Arquétipos ed. Wak 2007 Paoliello, Gilda O Problema do Diagnóstico em Psicopatologia. Revista Latinoan, Psicopatologia Fundamental, IV, 1, 2000 24 Com vista a isto a SUBPAV, através da Coordenação de Saúde Mental Saúde do Estado do Rio de Janeiro e em conjunto com o SUS e a Fundação Fiocruz, estabeleceu um protocolo com o objetivo de orientar gestores e profissionais que define o atendimento e orienta as unidades de referencia para o acolhimento de usuários com história de sofrimento mental e uso de drogas no que deve ser o atendimento primário, secundário e terciário, demonstrando o que seria o atendimento a nível de assistência social, psicológica e médica. O Estado oferece atendimento em unidades conforme texto abaixo: Unidades de Referência para acolhimento e acompanhamento de usuários com história de sofrimento mental e uso de drogas: Atenção Primária - Clínica da Família (CF) – serviço com equipe básica composta por médico generalista, enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Funciona com base em territórios adscritos, constituindo porta de entrada para o sistema de saúde. Deve garantir acompanhamento longitudinal dos usuários de seu território de responsabilidade bem como o acesso aos serviços especializados de saúde. As equipes terão o apoio do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), equipe composta por conhecimento, profissionais profissionais que das atuarão equipes de em de diferentes conjunto Saúde da áreas de com os Família, compartilhando e apoiando as práticas em saúde/saúde mental, dentro da lógica do matriciamento. Caberá à CF/NASF o acompanhamento das situações de baixa e média complexidade Atenção Secundária - Policlínica ou Centro Municipal de Saúde (CMS) - serviço com diferentes especialidades na área da saúde, dentre elas, a saúde 25 mental. Oferece acompanhamento dos casos graves e moderados que não exigem intensividade de cuidado. - Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) – serviço comunitário responsável pelo acompanhamento de pessoas em sofrimento mental grave e persistente, e pessoas com problemas mentais em uso prejudicial de álcool e outras drogas. O CAPS é dividido nas modalidades adulto (CAPS); infanto-juvenil (CAPSi); álcool e drogas (CAPSad). Funcionamento de 2ª a 6ª feira, de 08 às 17h (CAPS II) e funcionamento 24h (CAPS III). OBS: Os serviços da atenção secundária obedecem às divisões territoriais estabelecidas pelas Áreas Programáticas. Atenção Terciária - Emergência Psiquiátrica – serviço com avaliação psiquiátrica 24h. Acolhe situações de urgência e emergência psiquiátrica. Realiza pronto- atendimento e encaminhamento para tratamento em serviço territorial, ou, em situação de maior gravidade, faz o acolhimento em leito de observação, podendo apresentar resolutividade no próprio atendimento ou direcionar a situação para internação em hospital psiquiátrico. - Instituto Municipal/Hospital Psiquiátrico – serviço para internação em leito psiquiátrico de curta e média permanência. No momento da alta clínica encaminha o usuário para continuidade do tratamento no CAPS, Policlínica ou CF. 22 22 Fiocruz Protocolo Para Atenção À Demanda Espontânea De Pessoas Em Sofrimento Mental Nos Serviços De Atenção Primária À Saúde, 2011 26 Contudo, a família se depara com longas filas de espera por conta de grande número de necessitados de atendimento, poucas unidades de atendimento em vista da população, equipes reduzidas e não especializadas nos atendimentos da rede pública. Juridicamente o doente possui recurso junto ao Ministério Público que é: ...possível acompanhar não só as pessoas com internação involuntária, mas também voluntária, internação compulsória, acompanhar os hospitais, acompanhar se a pessoa recebe um benefício, se alguém recebe por ela, se ela tem um tutor, se o tutor presta contas, se o paciente está há muito tempo internado, se foi internado muitas vezes. Esse mapa de cada paciente vai acenar para o promotor público se há um problema no tratamento ou na resposta institucional, falta de recursos institucionais ou não hospitalares para que ela seja tratada regularmente, entre outros.23 3.2 A Vulnerabilidade dos Vínculos Familiares na Interação com o Portador de Transtorno Mental O transtorno mental é, na maior parte das vezes, facilmente percebido já na infância, quando os relatos dos familiares afirmam que o indivíduo com sofrimento mental era “diferente”, nervoso, distraído e outros adjetivos que o distancia do seu grupo social. 23 Amarante, Paulo D Informe ENSP FIOCRUZ http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3716&sid=3 27 ... nas unidades dos discursos, este estranho é apresentado como aquele que faz coisas diferentes que as pessoas normais não costumam fazer, por exemplo não se comporta de acordo com as normas sociais e familiares; não é responsável; não avisa onde vai; falta ao trabalho ou não quer trabalhar; não cuida de suas coisas e de si mesmo; muitas vezes envolve – se com actividades ilícitas; expressa ideias que estão fora da realidade; isola-se e não interage adequadamente com as pessoas que a cerca24 A doença por seus contextos sociais não é entendida pelo grupo social e torna-se estigmatizante, E a estigmatização do paciente com sofrimento mental o segrega da sociedade e, portanto faz com que ele e sua família sofram com preconceitos. A família o define como o que tem comportamento diferente e muitas vezes quando procuram por atendimento médico foi porque um surto causou danos físicos, emocionais a si ou a outrem. E aí o que poderia ser um distúrbio que tratado preventivamente, vem agravado por uma série de sintomas e paradigmas já instituídos dentro da família e na própria comunidade ao seu entorno. ...a família do paciente mental define-o como aquele que tem um comportamento diferente, e isso indicam padrões de comportamentos não aceitos por eles mesmos; ainda refere-se ao paciente como aquele que faz “criancices” e a doença como meio de vida, tentando normalizar o estranho.25 • • 24 Colvero et al apud Rodrigues, Liudmila Lopes Sequeira Mendes in Representação social da doença mental: o olhar da família do portador de esquizofrenia http::⁄⁄bdigital.unipiaget.cv:8080/dspace/bitstream/123456789/103/1/Liudmila%20Rodrigues.pdf · 25 Rodrigues, Liudmila Lopes Sequeira Mendes in Representação social da doença mental: o olhar da família do portador de esquizofrenia http:⁄⁄bdigital.unipiaget.cv:8080/dspace/bitstream/123456789/103/1/Liudmila%20Rodrigues.pdf · 28 Os familiares têm dificuldade de entender sobre a doença mental, como não entendem que fatores como instabilidade emocional e afetiva que interferem na convivência com o indivíduo com transtorno mental, embora possam entender que o sofrimento mental seja crônico e incurável. Acrescentando-se a isto os custos financeiros, físicos, psicológicos e sociais, a família torna-se necessidade de apoio terapêutico, orientações jurídicas e sociais. Isto é previsto no Protocolo para Atenção à Demanda Espontânea de Pessoas em Sofrimento Mental nos Serviços de Atenção Primária à Saúde: 2- Para qualidade e continuidade do cuidado em saúde mental, o acolhimento da pessoa em sofrimento mental deve envolver a família e a comunidade, caracterizando uma forma ampliada de cuidado para fortalecimento da rede social de apoio. 3- O acompanhamento da clientela usuária dos serviços de saúde mental deve ser o mais interdisciplinar possível, sendo indicado que a equipe da Atenção Primária (CF/NASF) participe de reuniões periódicas para discussão de caso, se articulando também com outros setores que compõem a rede de cuidado... 8-... A equipe do serviço de Atenção Primária deve acolher o familiar e conhecer a situação de saúde mental relativas à infância e adolescência.26 26 COORDENAÇÃO DE SAÚDE MENTAL – SAP – SUBPAV - Protocolo Para Atenção À Demanda De Pessoas Em Sofrimento Mental Nos Serviços De Atenção Primária À Saúde – Fiocruz. 2011 29 CONCLUSÃO A reforma psiquiátrica veio demonstrar que o convívio familiar com o paciente com transtorno precisa estar solidamente alicerçado para que haja respeito, afim de que a individualidade seja preservada na família de forma que o familiar não fique sobrecarregado e o doente resgate sua cidadania e autonomia na relação terapêutica. Com isso termos com louco e loucura passam a ser questionados, em seu significado, como pejorativos e estigmatizantes, pretendendo criar uma nova cultura onde o transtorno mental possa ter um valor positivo. O tratamento e a assistência social e psicológica estendida ao familiar garante a melhora, pois a desinformação, o preconceito que levam ao isolamento social são desmistificados e a família e o paciente tem sua reinserção biopsicossocial . Contudo, o conhecimento público das deficiências do Sistema de Saúde Pública, tais como falta de pessoal especializado, pequeno número de unidades assistenciais, a consequente superlotação das unidades existentes aumenta a carência nas unidades primárias e secundárias de atendimento, fazendo com que o paciente retorne para casa muitas vezes apenas com a medicação emergencial, aguardando vaga no Caps de sua comunidade. Isto pode fazer com que o processo de tratamento seja interrompido e o paciente de transtorno mental volte depois de algum tempo novamente em crise. Como conclusão, deduz-se, através do exposto, que o paciente com sofrimento mental hoje encontra melhores condições e que o Estado, embora aquém da necessidade da população com transtorno mental, fornece alguns instrumentos para que a família possa acessar seus direitos sociais, jurídicos e psicológicos. Embora o Governo tenha elaborado bons planos assistencialistas, a realidade da falta de recursos das famílias carentes, a deficiência de profissionais que possam esclarecer e dar assistência à estas famílias para que elas possam superar e agregar seu familiar, fortalecendo seus vínculos e dando ao portador de 30 transtorno mental o suporte para sua inserção ou reinserção biopsicossocial em sua comunidade, podendo tornar-se um cidadão produtivo dentro de sua capacidade, mostra o longo caminho a percorrer na Saúde Mental brasileira. Esta dificuldade pública, seja ela por desgoverno ou falta de recursos, faz ressaltar, ainda mais, a vulnerabilidade dos vínculos familiares, que por ignorância, preconceitos e sobrecarga pessoal se tornam no geral, mais frágeis, tornando a família também doente, necessitada de atenção terapêutica. 31 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AMARANTE, Paulo. PSIQUIATRIA SOCIAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA. Rio de Janeiro; Fiocruz; 1989 AMARANTE, Paulo Junior, Benilton Bezerra (Organizadores) PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIOS: CONTRIBUIÇÕES A REFORMA PSIQUIÁTRICA. São Paulo. Relume Dumara. 1981 AMARANTE, P. ASILOS, ALIENADOS, ALIENISTAS, UMAPEQUENA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL. I N AMARANTE, P (org) Psiquiatria social e reforma psiquiÁtrica. pp 73 – 84. Rio de Janeiro Fiocruz, 1994 BASAGLIA, Franco. PSIQUIATRIA ALTERNATIVA: CONTRA O PESSIMISMO DA RAZÃO O OTIMISMO DA PRÁTICA.São Paulo. Brasil debates 1982 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Legislação em saúde mental: 1990 - 2004. 5a ed. 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Pesquisador comenta mudanças e perspectivas para a saúde mental em 2011 http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3716&sid=3 34 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - FAMILIA E ASSISTENCIA AO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL 09 1.1. 10 Os Novos Laços Familiares 1.1.2. Histórico da Assistência Psiquiátrica ao Portador de Doença Mental 11 1.1.3. A posição do sus na relação com a família do portador de transtorno mental 15 CAPÍTULO II - O CONVÍVIO FAMILIAR COM O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL. 2.1 18 O aparecimento de caso de transtorno mental no convívio familiar 18 2.2. Os custos do processo de cuidar 19 2.2.1. Custos Físicos 20 35 2.2.2. Custos Emocionais e Psicológicos 20 2.2.3. Custos Sociais 21 2.2.4. Custos Financeiros 21 2.3 21 A convivência da família no processo de cuidar CAPÍTULO III – A FAMÍLIA ENQUANTO TITULAR DE CUIDADOS E TAMBÉM COMO A QUE RECEBE AJUDA 23 3.1 Suportes efetivos que a família pode contar 23 3.2 Os vínculos familiares na interação com o portador de transtorno mental 26 CONCLUSÃO 29 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31 WEBGRAFIA 33 ÍNDICE 34 FOLHA DE AVALIAÇÃO 36 36 FOLHA DE VALIAÇÃO